A CHARGE COMO ÍNDICE DE OPINIÃO NO
JORNALISMO
Prof. Dra. Adriana Kurtz – Coordenadora do Núcleo de Estudos em Jornalismo (ESPM-Sul)
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OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS
O presente estudo tem por objetivo abordar o papel da
charge como índice de opinião no jornalismo brasileiro, a
partir do cenário gaúcho. Num primeiro momento, a
pesquisa teve como foco a produção chargística do
principal jornal do Rio Grande do Sul, Zero Hora, veículo
do grupo Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS). Os dois
chargistas de ZH, Marco Aurélio e Iotti, explicitam a
profunda relação da charge com a linha editorial do
veículo e iluminam involuntariamente as contradições
inerentes ao formato em análise.
A charge - gênero opinativo que conjuga imagens gráficas
e textuais e que atinge um público superior aquele que
efetivamente se dedica a leitura atenta dos textos
jornalísticos -, segue sendo um formato pouco explorado
no âmbito dos estudos voltados à produção jornalística, o
que justifica a pesquisa em curso.
Objetivando minimizar esta lacuna, buscou-se avaliar
diversos aspectos relacionados à produção chargística, nos
artigos “A Charge Ideológica de Marco Aurélio em Zero
Hora” e “As charges de Zero Hora sob a ótica da Indústria
Cultural e do Mundo – e Jornalismo – Administrado”
(2012); “O julgamento do Mensalão nas charges de Zero
Hora (ou a opinião ilustrada como componente do
Agenda-Setting)” e “Charges a um Jovem jornalista (ou
uma reflexão destinada aos nossos alunos sobre o poder
persuasivo da charge)” (2013). A partir de 2014, a análise
é ampliada objetivando uma reflexão sobre os limites da
charge e seus interditos diante de agendas traumáticas.
Desta reflexão resultaram os textos “Morrer em Santa
Maria: as charges de Marco Aurélio sobre a tragédia da
Boate Kiss” e “As (im)possibilidades da charge diante da
tragédia de Santa Maria”.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A charge é vista como um formato que, usando os recursos
do humor e da ironia, cumpre um papel de crítica e de
reflexão, ostentando assim um potencial libertador. A partir
de autores da Teoria e da Sociologia do Jornalismo, bem
como pensadores da história, sociologia, crítica cultural,
estudos da linguagem e filosofia, tal dimensão
contestatória da charge tem sido testada e refutada nas
pesquisas. Diversos ângulos de abordagem são possíveis,
numa perspectiva metodológica qualitativa, exploratória,
com uso de técnicas de coleta bibliográfica e documental e
tendo como corpus de análise as charges de profissionais
gaúchos e brasileiros.
RESULTADOS ESPERADOS
Conforme a hipótese inicial, as charges de ZH mostraram
uma faceta contraditória em relação às potencialidades
críticas e reflexivas do humor gráfico: sintetizando e/ou
radicalizando a linha editorial do veículo, os chargistas
denotam uma opinião conformista, elitista, preconceituosa
e, no limite, reacionária. Como as pesquisas transcenderam
o âmbito do jornalismo gaúcho e se abrem para outros
veículos ou para chargistas independentes, espera-se
mapear e analisar produções que confirmem as melhores
potencialidades do gênero. A rigor, no âmbito da grande
imprensa não parece haver espaço para uma charge crítica
e reflexiva: o formato apenas endossa as posições da linha
editorial dos veículos, reforçando as agendas em pauta. A
significativa quantidade de bons profissionais trabalhando
à margem da mídia tradicional sugere que a prerrogativa
contestatória do gênero charge encontra-se de alguma
forma censurada e em busca de espaços alternativos para
encontrar seu público.
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