2302 Personalização de conteúdos e soluções cross-media X Salão de Iniciação Científica PUCRS Ana Maria Bicca1, Ana Cecília Bisso Nunes1, Cínthia Barbosa1, Thales Barreto1, Eduardo Campos Pellanda1 (orientador) 1 Faculdade de Comunicação Social, PUCRS Introdução A palavra personalização surgiu na área da publicidade com o objetivo de diferenciar produtos. Após a forte produção em massa, o conceito surge como uma estratégia para fazer algo exclusivo ao cliente. No contexto atual, a personalização chega ligada à participação. Para conhecer as preferências dos leitores, é necessário que eles interajam e estejam incluídos no processo: eles devem indicar os assuntos que querem receber, como e em qual suporte. Assim como é importante a união entre o usuário e o meio em que ele vai receber a informação, também é interessante a perspectiva de união das mídias, denominada na área da comunicação, Crossmedia ou ainda, Convergência. Segundo Henry Jenkins 1, o conceito do termo é: “palavra que define mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura (...) uma situação em que múltiplos sistemas midiáticos coexistem e em que o conteúdo passa por eles fluidamente.” (JENKINS, 2008, p. 332) É esta transformação que permite aos usuários maiores possibilidades de satisfação, já que, além de escolher o suporte, ele ainda faz parte, sendo assim um usuário ativo no processo comunicativo. Os “consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos.” (Ibdem) Hoje, frente a uma sociedade que corre contra o tempo e que não permite a leitura da exorbitância de conteúdos que cercam as pessoas todos os dias, um desafio para as empresas de comunicação é encontrar formas de atrair os leitores e despertar o interesse pelos conteúdos oferecido. Segundo Noam Chomsky (apud Jorge Campos), “é muito impressionante o contraste entre a quantidade de informação 1 Henry Jenkins – professor de Ciências Humanas, fundador e diretor do Programa de Estudos de Mídia Comparada do MIT (Massachusetts Institute of Technology.) X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2303 sobre um evento em particular que atinge as pessoas, e sua ignorância sobre o mesmo evento”. Ou seja, estamos cada vez mais informados e, ao mesmo tempo, mais perdidos nestas informações. Diante desta situação, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em parceria com HP (Hewlett Packard) realizou um estudo sobre a personalização de conteúdos e a crescente união entre as mídias - internet, impressa e de dispositivos móveis. Foi produzida, então, uma revista personalizada, chamada Unique, que possui diferentes edições de acordo com as preferências de cada cliente. Além da revista, foi criado um site, como forma de complementar os conteúdos registrados no papel e convergir as diferentes plataformas de comunicação. Através da pesquisa, o grupo buscou entender o processo da personalização e a aceitação das pessoas diante desta proposta. A parceria com a HP foi encerrada no começo deste ano (2009), mas o estudo sobre a personalização e a convergência de mídias continua na Universidade sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Campos Pellanda. A pesquisa “Personalização de conteúdos e soluções crossmedia” se propõe a aprofundar esta investigação de forma a compreender cada vez mais as necessidades do contexto em que vivemos. Novos questionários estão sendo aplicados em indivíduos da mesma faixa etária da etapa anterior deste trabalho (25 a 35 anos). Todos os entrevistados são alheios à área da comunicação. O foco são os hábitos de consumo dos veículos midiáticos. Desta forma, a pesquisa pretende continuar a investigação sobre a personalização de conteúdos e a integração entre os meios de comunicação, tendo em vista que as rotinas das pessoas em relação às mídias diz muito sobre suas necessidades e ajuda a entender o que o elas buscam . Metodologia Na primeira etapa, realizada ainda em parceria com a HP, foi aplicado um questionário qualitativo e quantitativo. No total, participaram da pesquisa 50 pessoas entre 25 e 35 anos que não tinham funções diretamente ligadas à comunicação ou à PUCRS. Além disso, foram realizados grupos focais para que as respostas pudessem ser aprofundadas. Aliado à personalização dos conteúdos no papel, a equipe trabalhou com outros meios (convergência), a fim de propiciar aos leitores a possibilidade de uma abordagem mais detalhada das matérias. Foi criado, assim, um site para complementar o conteúdo oferecido na revista. Além de texto, foram incluídos vídeos e galerias de fotos, de modo que o tema fosse apresentado em múltiplas formas, facilitando a compreensão e o aprofundamento do assunto. Foram X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2304 disponibilizados aos leitores outras duas possibilidades de acesso: um endereço eletrônico escrito ao final de cada reportagem e um sistema de “tags” (um código de barras 2D no formato QR). Neste último, uma decodificação icônica, permite ao usuário a leitura imediata através de um dispositivo móvel. A mesma ideia foi utilizada no ano de 2009 em um anúncio da Citroën. Também o jornal The New York Times utilizou o sistema para mediar a matéria impressa e “links” relacionados. Na segunda etapa, já tendo encerrado a parceria com a HP, um novo questionário foi aplicado em pessoas da mesma faixa etária da etapa anterior (25 a 35 anos). São indivíduos formados em profissões alheias à área da comunicação e que foram questionados quanto aos seus hábitos de consumo de mídia (rádio, televisão, internet, jornais impressos, revistas e também quanto ao uso dos recursos de internet em celulares). Resultados e Discussão Desde o início desta pesquisa, realizada anteriormente em parceira com a HP, foi possível fazer muitas constatações. O primeiro estudo realizado com a Unique percebeu que as pessoas necessitavam de conteúdos semelhantes para ter o que conversar em locais públicos (no ônibus, na praça, na rua...). Numa segunda etapa, detalhada neste trabalho e que se estende até o presente momento, verificou-se que a personalização pode ter sucesso no mercado. Foi constatado que 50% dos entrevistados têm como preferência uma revista com conteúdos escolhidos por eles e também com matérias comuns. Assim, pode-se afirmar que há espaço para o material personalizado sem que este substitua a mídia tradicional. Apesar do conceito de personalização ser ainda recente, a ideia da Unique foi muito bem aceita pelos entrevistados e 74% afirmaram que a assinariam se houvesse a possibilidade. Os dados do novo questionário sobre os hábitos de consumo dos veículos de comunicação ainda estão sendo computados e serão apresentados quando da apresentação oral deste trabalho, juntamente com maiores detalhes dos resultados constatados sobre a revista Unique. Conclusão Assim como o digital não acabou com o impresso como se pensava no início dos anos 90, a personalização também não dá fim à mídia tradicional, pelo contrário, a complementa. O conceito de personalização, aliado à união das mídias com o fenômeno da Convergência é um caminho que pode ser buscado para melhor informar e satisfazer os leitores. A interação entre cliente, informação e suporte midiático contribui não apenas para o futuro do jornalismo, mas também para as novas e velhas formas de comunicação. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2305 Referências CAMPOS, Jorge. Brazilian mass culture through three visionary thinkers. Revista Famecos (Porto Alegre), n.31, 2006. Porto Alegre. p. 54-56. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008. MARTINS, Francisco Menezes; Silva, Juremir Machado da (org.). Para navegar no Século 21. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009