Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 Caracterização da Matéria Orgânica Sedimentar na Baía de Guanabara Através de Marcadores Moleculares Renato S. Carreira1 & Angela L.R.Wagener 2 1 Departamento de Oceanografia e Hidrologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã – Rio de Janeiro – 20550-013. [email protected] 2 Departamento de Química, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea – Rio de Janeiro – 22453-900 Resumo O presente trabalho tem como objetivo investigar o efeito do aumento da eutrofização e do uso e ocupação do solo sobre a estocagem de carbono na baía de Guanabara. As concentrações de esteróis ao longo do perfil sedimentar foram usadas para caracterizar a origem da matéria orgânica. O dinosterol foi o esterol mais abundante, representando o máximo de 64,7 % do total. O coprostanol, um esterol de origem fecal, foi encontrado me concentrações máximas de 40 µg g -1 em áreas de intenso aporte de esgotos. Os resultados encontrados são condizentes com a alta produtividade primária da baía e as condições extremas de eutrofização no local. De acordo com as concentrações de carbono orgânico e as taxas locais de sedimentação, foi calculado que o fluxo de carbono orgânico para o sedimento aumentou de 50 g C m-2 ano -1 para 500 g C m -2 ano-1 ao longo dos últimos 100 anos. Palavras-chave: Baía de Guanabara, sedimento, marcadores moleculares, eutrofização Abstract The present work aimed at investigating the effects of growing eutrophic conditions and soil occupation on the carbon storage in Guanabara Bay. Sterols in dated sediment cores were used to characterize the sources of organic matter to the bay. Dinosterol was the most abundant amongst the measured sterols reaching 64.7 % of the total. Coprostanol, a fecal sterol, was present in concentrations as high as 40 µg g-1 in areas of intensive sewage discharge. These results are in agreement with the known elevated primary production in the bay and with the severe eutrophic conditions. The calculated carbon fluxes using the organic carbon content and the sedimention rates range between 50 g C m-2 year-1 and 500 g C m-2 year-1 during the last 100 years. Key-words: Guanabara Bay, sediment, molecular markers, eutrophication 1 Introdução A zona costeira pode ser definida como a faixa entre +200 m de altitude no continente até -200 m de profundidade na plataforma continental (Pernetta & Milliman, 79 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 1995). Embora ocupe apenas cerca de 7 a 10% da área total dos oceanos (26x106 a 36x106 km2) (Ver et al., 1999), a zona costeira representa a área de transição entre continentes e oceanos e funciona, simultaneamente, como filtro e armadilha para os materiais e energia provenientes desses dois reservatórios. A ação antrópica tem sido responsável por alterações significativas nos fluxos de materiais na zona costeira, devido a quatro principais fatores (Ver et al., 1999): (i) queima de combustíveis fósseis, com a conseqüente emissão de C, N e S; (ii) mudanças no uso do solo, resultando em aumentos no transporte de carbono orgânico, sedimento e nutrientes para a zona costeira; (iii) aplicação de fertilizantes contendo N e P; e (iv) descarga de esgotos domésticos. A investigação sobre o ciclo da matéria orgânica na zona costeira tem estimulado o desenvolvimento de conceitos multidisciplinares, envolvendo a integração de informações sobre a composição atômica (elementar e isotópica) e molecular da matéria orgânica (Saliot et al., 1991; Dachs et al., 1999). O conceito de marcador molecular está associado à produção de compostos específicos por organismos, cuja identificação em ambientes naturais permite inferências sobre a origem e os processos de evolução da matéria orgânica (Zimmerman & Canuel, 2000; Canuel, 2001; Jaffé et al., 2001; Saliot et al., 2002). A Baía de Guanabara sofre alterações na sua bacia de drenagem desde o início do século XIX que resultaram em acentuada degradação ambiental. Algumas das principais consequências das atividades antrópicas na bacia de drenagem são: o estabelecimento de condições eutróficas, a incidência de elevadas taxas de sedimentação, altas concentrações de metais pesados e hidrocarbonetos no sedimento e as mudanças na distribuição de comunidades bênticas e pelágicas (Hamacher, 1996; Ribeiro, 1996; Feema, 1998; Godoy et al., 1998; Valentin et al., 1999). Como um dos resultados das alterações ambientais na Baía de Guanabara, Wagener (1995) identificou o aumento na estocagem de carbono nos sedimentos locais, sem, no entanto, identificar a natureza (autóctona ou alóctona) do material depositado. Desta forma, o Departamento de Química da PUC-Rio, em conjunto com o Departamento de Oceanografia e Hidrologia da UERJ, implementou um programa de investigação para caracterizar o material orgânico sedimentar através das ferramentas citadas 80 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 anteriormente, para entender com maior detalhamento os efeitos das alterações antrópicas sobre a geoquímica da matéria orgânica na Baía de Guanabara. No atual trabalho serão apresentados alguns dos principais resultados até agora obtidos por este projeto. 2 Material e Métodos As amostragens de sedimento foram realizadas em 1996 em oito estações na Baía de Guanabara (Figura 1; Tabela 1), utilizando-se um testemunhador por gravidade e tubos de alumínio de 80 cm de comprimento e 4,7 cm de diâmetro interno. Os testemunhos foram seccionados (0-3 cm, 3-10 cm e a cada 15 cm até 60-80 cm) em atmosfera de nitrogênio e posteriormente liofilizadas. A determinação de carbono orgânico (C ) e nitogênio total (N ) foi realizada org total em amostras descarbonatadas (HCl 1M) através do método de combustão à seco, segundo Hedges e Stern (1984), no aparelho Carlo Erba 1110 e usando cistina como padrão de referência. A precisão do método foi de ± 1,7 % para C e de ± 2,8 % para org N , e o limite de detecção de 0,06 % para C e de 0,01 % para N (percentuais em org total total massa). A metodologia para determinação dos esteróis é apresentada em detalhes em Carreira (2000). Em resumo, os esteróis foram extraídos do sedimento em Soxhlet usando mistura de diclorometano:metanol (2:1, v/v). Os extratos brutos foram lavados com solução saturada de NaCl e resíduos de enxofre e água foram removidos com cobre ativado e sulfato de sódio anidro, respectivamente. A fração de esteróis foi isolada através de cromatografia em coluna usando sílica-gel e alumina. A quantificação foi realizada em cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrômetro de massa, usandose androstanol como padrão interno. A identificação dos compostos baseou-se no tempo de retenção de padrões autênticos e no espectro de massa de cada composto segundo publicado na literatura. Foram seguidos protocolos de controle de análise que consistiram na análise de brancos e no controle da resposta do instrumento. 3 Resultados e Discussão 3.1Composição elementar e fluxo de matéria orgânica para os sedimentos A variação vertical de C e N é apresentada na Figura 2. Em geral, há org total tendência para maiores concentrações nas camadas superiores do sedimento, mas com 81 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 Estação Data Lati tude (S) Longi tude (W) Profundi dade (m ) 1s 12/ 06/ 96 22º43, 7' 43º04, 3' 2, 0 2s 12/ 06/ 96 22º43, 5' 43º07, 7' 2, 6 3s 12/ 06/ 96 22º44, 2' 43º11, 4 2, 0 4s 12/ 06/ 96 22º45, 5' 43º13, 2 1, 8 5s 24/ 07/ 96 22º46, 9' 43º06, 7 8, 0 6, 2 6s 24/ 07/ 96 22º48, 3' 43º09, 6 7s 24/ 07/ 96 22º51, 1' 43º11, 6' 6, 3 8s 24/ 07/ 96 22º50, 7' 43º08, 0' 12, 9 Tabela 1 Posicionamento das estações de coleta Fig. 1 Localização das estações de coleta de testemunhos de sedimento na Baía de Guanabara 82 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 uma distribuição espacial heterogênea. Na estação 1s, localizada na parte menos contaminada da baía, os valores de C e N são constantes com a profundidade. O mesmo padrão é observado na estação 4s, embora ela esteja em área que recebe mais de 130 t dia1 de DBO (cerca de 30 % do total estimado para toda a baía; Feema, 1998). Provavelmente, o resultado na estação 4s decorre da ‘diluição’ da matéria orgânica causada pelo aumento da carga de partículas inorgânicas. Nesta região, a taxa de sedimentação é da ordem de 2,2 cm ano-1 (Godoy et al., 1998). O mesmo efeito pode explicar os resultados na estação 8s. A deposição de matéria orgânica nas estações 3s, 6s e 7s está de acordo com o crescente aumento do nível de eutrofização da baía ao longo das últimas décadas (Feema, 1998). Na estação 2s, há um aumento de três ordens-de-grandeza das concentrações de C e N entre as décadas de 80 e 90 (Figura 2). Confirmando os dados de Wagener (1995), os efeitos antrópicos na baía são evidenciados pelo expressivo aumento no fluxo de carbono para os sedimentos, em algumas áreas, ao longo dos últimos 30 anos. Pelos cálculos realizados considerando-se a taxa de sedimentação local, a densidade média dos sólidos, a porosidade do sedimento e a concentração de carbono orgânico, o valor de background para o fluxo de carbono situa-se entre 50 g C m-2 ano-1 e o máximo de 500 gC m-2 ano-1 na estação 4s. Na estação 7s, embora haja evidência de crescimento da concentração de carbono orgânico (Figura 2), o fluxo de carbono permanece relativamente constante (100-150 gC m-2 ano-1), controlado fundamentalmente pela manutenção das taxas locais de sedimentação [em 0,49 cm ano-1; Godoy et al., 1998). 3.2 Matéria orgânica de origem autóctona A origem autóctona da matéria orgânica foi verificada através dos seguintes esteróis: o dinosterol (4α-23,24-trimetil-5α-colestan-3β-ol), derivado essencialmente de dinoflagelados; o colesterol (colest-5-em-3β-ol), produzido por zooplâncton; e o colestanol (5α-colestan-3β-ol), produto da redução microbiana do colesterol (Nishimura, 1982; Volkman et al., 1998). O dinosterol é o esterol mais abundante nos sedimentos da Baía de Guanabara, representando em média 64,7 % do total de esteróis. O enriquecimento mais expressivo ocorreu na estação 2s (Figura 3). Isto demonstra que o aumento no fluxo de carbono nessa estação (Figura 2) ocorreu pela extensiva deposição de material autóctone. A 83 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 N total (% ) 0,2 0,3 0,4 0,5 0,7 0,1 1 98 8 10 20 0,4 prof (cm) 19 22 estação 1s 1 2 3 4 5 6 80 7 0,3 0,4 0,5 0,7 ~ 19 00 30 prof (cm) 19 58 40 ~1 90 0 50 60 ~ 18 40 70 es tação 4s 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 0,2 0,3 0,4 0,3 0,4 0,5 estação 3s 1 2 3 4 0,5 0,7 0,0 30 40 50 70 es taç ão 5s 6 7 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 1 99 2 19 85 19 70 19 22 60 5 0,2 50 70 4 0,1 40 60 3 7 N tot al (% ) 0,6 20 2 6 C or g (% ) 30 1 5 80 ~ 18 50 es tação 6s 1 2 3 4 5 6 7 C org ( % ) N total (% ) 0,6 0,7 0,1 0,2 0,3 0,4 10 prof (cm) ~ 19 25 50 60 0,7 1 98 4 30 ~ 18 80 0,6 19 90 20 19 57 0,5 19 93 1 983 1 97 0 40 80 7 C or g (% ) 10 30 6 20 19 93 20 5 10 N tota l (% ) 0,2 ~ 19 00 70 es tação 2s C org (% ) 0,1 1 97 4 50 10 80 7 0,7 60 0,1 1 98 4 20 0,6 40 N tota l ( % ) 0,6 0,5 1 98 6 C org (% ) 19 92 10 0,4 1 99 2 30 prof (cm) 0,2 0,3 20 1 97 4 50 0,2 10 40 N t otal (% ) prof (cm) 0,1 70 0,1 prof (cm) N tota l (% ) 0,7 1 99 2 C or g (% ) 19 56 40 ~ 1 88 0 50 60 70 70 estaç ão 7s 80 0,6 60 ~ 18 50 70 80 0,5 1 98 3 30 1 96 6 50 80 0,3 20 40 60 0,2 10 1 97 4 30 prof (cm) N total (% ) 0,6 prof (cm) 0,1 1 2 3 4 5 6 estaç ão 8s 7 80 1 2 3 4 5 6 7 C or g (% ) C or g (% ) Figura 2 Distribuição de Corg (%) e Ntotal (%) em sedimentos. Anos de deposição das camadas segundo taxas de sedimentação publicadas (Godoy et al., 1998); a estação 5s não tem medidas de taxas de sedimentação 84 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ µg gCorg 0 0 300 600 -1 µ g gC org 900 1200 1500 1 988 prof (cm) 10 0 0 -1 µ g gCorg 500 1000 1500 2000 2500 3000 1 992 10 0 0 300 600 -1 900 1200 1500 19 92 10 20 1 974 20 198 3 20 19 86 30 19 66 30 1 974 30 197 4 40 40 1 922 50 60 1 850 estação 1s µg gCorg 0 300 600 50 60 60 70 estação 2s -1 µ g gCorg 900 1200 1500 1 992 10 190 0 1 900 50 80 80 0 40 70 70 prof (cm) Volume 26 / 2003 0 0 300 600 estação 3s 80 -1 µ g gC org 900 1200 1500 0 10 10 0 300 600 -1 900 1200 1500 19 92 20 19 84 20 20 198 5 30 19 58 30 30 1 970 40 40 50 50 60 60 70 70 40 192 2 19 00 50 60 18 40 70 estação 4s 80 µ g gC org 0 0 300 600 -1 900 µg gCorg 1200 1500 19 93 19 83 10 prof (cm) estação 5s 80 197 0 0 300 600 19 57 20 30 19 25 30 40 188 0 40 50 50 60 60 1200 1500 19 93 19 90 dinosterol 1 956 1 880 70 estação 7s 80 estação 6s -1 900 10 20 70 0 80 18 50 estação 8s 80 Figura 3 Distribuição de dinosterol (em µg gC org-1) e épocas de deposição (linhas tracejadas) segundo taxas de sedimentação publicadas (Godoy et al., 1998), menos para a estação 5s. 85 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 maior produção primária local estaria associada à disponibilidade de nutrientes e ao padrão de circulação da baía, que leva à maior transparência relativa das águas no local (Kjerfve et al., 1997). As estações 5s, 6s e 7s também apresentam crescimento ao longo dos últimos 20-30 anos, confirmando o aumento geral na eutrofização em boa parte da baía. O colesterol e o colestanol apresentam enriquecimento menos acentuado (Figura 4) do que a do dinosterol. O valor extremamente alto da razão colestanol/colesterol (média de 1,7, em oposição à faixa normal entre 0,1 a 0,5 - (Canuel & Martens, 1993) aponta para a forte ação microbiana na transformação desses esteróis, com reflexos sobre as informações relacionadas à origem da matéria orgânica. 3.3 Matéria orgânica de origem alóctona As plantas superiores contêm grandes quantidades de campesterol (24metilcolest-5-en-3β-ol; C ), estigmasterol (24-etilcolest-5,22(E)-dien-3β-ol; C ) e β28 29 sitosterol (24-etilcolest-5-en-3β-ol; C ) e, assim, a presença destes esteróides em sedi29 mentos marinhos é freqüentemente associada ao aporte de matéria orgânica de origem continental (Volkman, 1986; Volkman et al., 1998; Saliot et al., 2002). No entanto, o maior enriquecimento desses esteróis (Figura 5) no sedimento foi encontrado em algumas das estações com grande aporte de marcadores autóctones (Figura 5). Este resultado levanta dúvidas em relação à especificidade desses marcadores de fontes alóctonas de matéria orgânica, levando à necessidade de determinação de outras moléculas, como a lignina e outros compostos fenólicos. 3.4 Poluição fecal na camada superior (0-3 cm) dos sedimentos O coprostanol (5ß-colestan-3ß-ol), um esterol de origem fecal (Huang & Meinschein, 1976; Readman et al., 1986) , pode ser usado para avaliar o aporte de esgotos domésticos para ambientes aquáticos (Takada & Eganhouse, 1998; Isobe et al., 2002; Jaffe et al., 2003, entre outros), com a vantagem de serem marcadores mais conservativos do que os indicadores biológicos tradicionais (como os coliformes). No caso da Baía de Guanabara, a distribuição de coprostanol nos sedimentos indica a seguinte segmentação da baía em função da contaminação por esgotamentos (Carreira et al., 2001): (i) porção noroeste (estações 3s e 4s): altos níveis de contaminação por 86 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ µg gCorg 0 0 30 60 -1 µ g gC org 90 120 150 19 88 10 prof (cm) Volume 26 / 2003 0 0 50 100 150 µg gCorg -1 200 300 1 992 10 0 0 50 100 150 -1 200 250 300 19 92 10 20 19 74 20 198 3 20 19 86 30 196 6 30 1 974 30 1 97 4 40 40 19 22 50 60 18 50 70 40 1 900 50 60 60 70 estação 1s µg gCorg 0 estação 2s 80 0 -1 µg gCorg 50 100 150 200 250 300 350 400 199 2 10 1 90 0 50 70 80 prof (cm) 250 0 0 50 100 150 estação 3s 80 -1 µ g gC org 200 250 300 0 10 10 0 50 100 150 -1 200 250 300 19 92 20 1 984 20 20 1 98 5 30 1 958 30 30 19 70 40 40 50 50 60 60 70 70 40 1 92 2 1 900 50 60 1 840 70 estação 4s 80 µ g gCorg 0 0 50 100 150 -1 µ g g Corg 200 250 300 1 993 1 983 10 prof (cm) estação 5s 80 19 70 0 50 100 150 1 957 20 30 1 925 30 40 18 80 40 50 50 60 60 250 300 19 93 19 90 1 956 colestanol colesterol 1 880 70 estação 7s 80 estação 6s -1 200 10 20 70 0 80 18 50 estação 8s 80 Figura 4 Distribuição de colestanol (triângulo cheio) e colesterol (quadrado vazio), em µg gCorg-1; épocas de deposição (linhas tracejadas) segundo taxas de sedimentação publicadas (Godoy et al., 1998), menos para a estação 5s. 87 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ µ g gC org 0 0 30 60 -1 µ g gCo rg 90 120 150 19 88 prof (cm) 10 50 100 -1 µ g gC org 150 200 250 19 92 10 0 0 30 60 -1 90 120 150 19 92 10 19 74 20 1 983 20 19 86 30 1 96 6 30 19 74 30 19 74 40 40 19 22 60 18 50 estação 1s 80 µ g gC org 0 40 19 00 50 60 0 30 60 70 estação 2s 80 -1 µg gCorg 90 120 150 19 92 10 0 19 00 50 60 70 70 prof (cm) 0 0 20 50 0 30 60 estação 3s 80 -1 µ g gCorg 90 120 150 0 0 30 60 90 -1 120 150 19 92 10 10 20 1 98 4 20 20 19 85 30 1 95 8 30 30 1 97 0 40 40 50 50 60 60 70 70 40 1 90 0 50 60 1 84 0 70 estação 4s 80 µg gCorg 0 0 30 60 90 estação 5s 80 -1 µ g gC org 120 150 1 99 3 1 98 3 10 prof (cm) Volume 26 / 2003 19 70 0 30 60 20 20 30 1 92 5 30 40 18 80 40 50 50 60 60 18 50 estação 6s -1 120 150 199 3 199 0 β -sitosterol 19 56 estigmasterol cam pesterol 18 80 70 estação 7s 80 90 10 1 95 7 70 0 80 19 22 estação 8s 80 Figura 5 Distribuição de esteróides com C29 (β-sitosterol e estigmasterol) e C28 (campesterol), em µg gCorg -1; épocas de deposição (linhas tracejadas) segundo taxas de sedimentação publicadas (Godoy et al., 1998), menos para a estação 5s 88 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 esgotos, com concentrações de coprostanol de até 40 µg g-1; (ii) porção central e nordeste (estações 1s, 2s e 5s): concentrações relativamente baixas de coprostanol, e possível baixa contaminação fecal devido à ausência de fontes próximas significativas e ao padrão geral de circulação da baía, que favorece a renovação eficiente da água nesses locais (Kjerfve et al., 1997); (iii) porção intermediária (estações 6s, 7s e 8s): níveis médios de coprostanol (4,9 a 9,4 µg g-1), indicando um processo de contaminação fecal dos sedimentos em decorrência do aporte local de esgotos não tratados. Nas camadas mais profundas, a concentração de background de coprostanol (normalizadas para C ) está na faixa entre 1-10 µg g C org org , que é comparável àquela de -1 sedimentos costeiros não contaminados em outras áreas do globo (Venkatesan e Kaplan, 1990; Jeng e Han, 1996). 4 Referências Canuel, E. A. 2001. Relations between river flow, primary production and fatty acid composition of particulate organic matter in San Francisco and Chesapeake Bays: a multivariate approach. Organic Geochemistry, 32: 563-583. Canuel, E. A. & Martens, C. S., 1993. Seasonal variations in the sources and alteration of organic matter associated with recently-deposited sediments. Organic Geochemistry, 20: 563-577. Carreira, R.; Wagener, A. L. R.; Fileman, T. & Readman, J. 2001. Distribuição de coprostanol (5b(H)-colestan-3b-ol) em sedimentos superficiais da Baía de Guanabara: indicador da poluição recente por esgotos domésticos. Química Nova, 24: 37-42. Carreira, R. S. 2000. Investigação sobre o acréscimo da estocagem de carbono em ambientes fertilizados pela ação antropogênica: a Baía de Guanabara como modelo. Tese de Doutorado, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 200 p. Dachs, J.; Bayona, J. M.; Fillaux, J.; Saliot, A. & Albaiges, J., 1999. Evaluation of anthropogenic and biogenic inputs into the western Mediterranean using molecular markers. Marine Chemistry, 65: 195-210. FEEMA. 1998. Qualidade da água da Baía da Guanabara - 1990 a 1997. Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente, Rio de Janeiro, 180 p. 89 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 Godoy, J.; M., Moreira, I.; Bragança, M. J.; Wanderley, C. & Mendes, L. B. 1998. A study of Guanabara Bay sedimentation rates. Journal of Radioanaytical Nuclear Chemistry, 227: 157-160. Hamacher, C., 1996. Determinação de hidrocarbonetos em amostras de água e sedimento da Baía de Guanabara. Dissertação de Mestrado, PUC, Rio de Janeiro, 147 p. Hedges, J. I. & Stern, J. H. 1984. Carbon and nitrogen determinations of carbonatecontaining solids. Limnology and Oceanography 29: 657-663. Huang, W. Y., & Meinschein, W. G., 1976. Sterols as source indicators of organic materials in sediments. Geochimica et Cosmochimica Acta 40: 323-330. Isobe, K. O.; Tarao, M.; Zkaria, M. P.; Chiem, N.; Minh, L. Y. & Takada, H., 2002. Quantitative application of fecal sterols using gas-chromatography - mass spectrometry to investigate fecal pollution in tropical waters: western Malaysia and Mekong Delta, Vietnam. Environmental Science & Technology, 36: 4497-4507. Jaffé, R.; Gardinali, P. R.; Cai, Y.; Sudburry, A.; Fernandez, A.; & Hay, B. J., 2003. Organic compounds and trace metals of anthropogenic origin in sediments from Montego Bay, Jamaica: assessment of sources and distribution pathways. Environmental Pollution, 123: 291-299. Jaffé, R.; Mead, R.; Hernandez, M. E.; Peralba, M. C.; & Diguida, O. A., 2001. Origin and transport of sedimentary organic matter in two subtropical estuaries: a comparative, biomarker-related study. Organic Geochemistry, 32: 507-526. Jeng, W.-L. & Han, B. C.; 1996. Coprostanol in a sediment core from the anoxic TanShui estuary, Taiwan. Estuarine, Coastal and Shelf Science, 42: 727-735. Kjerfve, B.; Ribeiro, C. A.; Dias, G. T. M.; Filippo, A. & Quaresma, V. S. 1997. Oceanographic characteristics of an impacted coastal bay: Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, Brazil. Continental Shelf Research, 17: 1609-1643. Nishimura, M. 1982. 5β-isomers of stanols and stanones as potential markers of sedimentary organic quality and depositional paleoenvironments. Geochimica et Cosmochimica Acta, 46: 423-432. Pernetta, J. C. & Milliman, J. D. 1995. Land-ocean interactions in the coastal zone implementation plan. Netherlands Institute for Sea Research, Estocolmo, 257p. Readman, J. W.; Preston, M. R. & Mantoura, R. F. C., 1986. An integrated technique to quantify sewage, oil and PAH pollution in estuarine and coastal environments. Marine Pollution Bulletin, 17: 298-308. 90 Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ Volume 26 / 2003 Ribeiro, C. H. D. A. 1996. Uma análise da qualidade de água da Baía de Guanabara entre 1980 e 1993. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, 143 p. Saliot, A.; Laureillard, J.; Scribe, P. & Sicre, M. A. 1991. Evolutionary trends in the lipid biomarker approach for investigating the biogeochemistry of organic matter in the marine environment. Marine Chemistry, 36: 233-248. Saliot, A.; Parrish, C. C.; Sadouni, N.; Bouloubassi, I.; Fillaux, J. & Cauwet, G. 2002. Transport and fate of Danube Delta terrestrial organic matter in the Northwest Black Sea mixing zone. Marine Chemistry, 79: 242-259. Takada, H. & Eganhouse, R. P. 1998. Molecular markers of anthropogenic waste. In R A MEYERS (ed.), Encyclopedia of Environmental Analysis and Remediation. John Wiley & Sons, Inc., New York, p. 2883-2940. Valentin, J. L. Tenenbaum, D. R.; Bonecker, A. C. T.; Bonecker, S. L. C.; Nogueira, C. R. & Villac, M. C., 1999. O sistema planctônico da Baía de Guanabara: síntese do conhecimento. In: Silva, S. H. G. & Lavrado, H. P. (eds.), Ecologia de Ambientes Costeiros do Estado do Rio de Janeiro, PPGE-UFRJ, Rio de Janeiro, p.35-59. Venkatesan, M. I. & Kaplan, I. R. 1990. Sedimentary coprostanol as an index of sewage addition in Santa Monica Basin, southern California. Environmental Science & Technology, 24: 208-214. Ver, L. M. B.; Mackenzie, F. T. & Lerman, A. 1999. Carbon cycle in the coastal zone: effects of global pertubations and change in the past three centuries. Chemical Geology, 159: 283-304. Volkman, J. K. 1986. A review of sterol markers for marine and terrigenous organic matter. Organic Geochemistry, 09: 83-99. Volkman, J. K.; Barret, S. M.; Blackburn, S. I.; Mansour, M. P.; Sikes, E. L. & Gelin, F.; 1998. Microalgal biomarkers: a review of recent research developments. Organic Geochemistry, 29: 1163-1179. Wagener, A. L. R. 1995. Burial of organic carbon in estuarine zones - estimates for Guanabara Bay, Rio de Janeiro. Química Nova, 18: 534-535. Zimmerman, A. R. & Canuel, E. A. 2000. A geochemical record of eutrophication and anoxia in Chesapeake Bay sediments: anthropogenic influence on organic matter composition. Marine Chemistry, 69: 117-137. 91