F ASCÍCULO 1 “Este texto foi preparado como um curso de extensão “Influência dos Harmônicos nas Instalações Elétricas Industriais”. Trata-se de harmônica, iniciando com correções passivas, passando para as ativas, como os pré-reguladores de fator de potência e os filtros ativos”. um curso voltado para profissionais atuantes no setor elétrico e interessados em acompanhar as inovações tecnológicas decorrentes da evolução da Eletrônica de Potência, especialmente as possibilidades do em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas – condicionamento de energia elétrica visando aprimorar a qualidade do UNICAMP (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor junto à produto Energia Elétrica. Inicialmente, no capítulo 1, que será publicado Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP desde em duas partes (Parte I e II), faz-se uma discussão sobre Fator de Potência 1984. Participou do Grupo de Eletrônica de Potência do Laboratório e Harmônicas, vinculando-os em termos da influência das harmônicas Nacional de Luz Síncrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe do sobre o fator de potência de um sistema. A seguir, no capítulo 2, Grupo entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós –doutoramento são apresentadas algumas normas e regulamentações que limitam a junto ao Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de contaminação harmônica de um sistema ou a emissão de uma carga. Pádua (1993/1994) e ao Departamento de Engenharia Industrial da No capítulo 3 são apresentados os componentes semicondutores de Terceira Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi “Liaison” potência que são utilizados em conversores estáticos que, em última da IEEE Power Electronics Society para a Região 9 (América Latina) instância, são os responsáveis pelo aumento da distorção presente na em 1998/1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE rede. Paradoxalmente, são estes mesmos conversores que permitem Power Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista a compensação das distorções quando adequadamente empregados. Eletrônica de Potência e editor associado das revistas IEEE Trans. on No capítulo 4 são apontados os efeitos sobre os componentes de um Power Electronics e Controle & Automação (SBA). Foi presidente sistema elétrico e as causas da distorção harmônica. Nos capítulos da Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência (2000 –2002) e é 5, 6 e 7 são apresentadas soluções para a minimização da distorção membro de sua diretoria e Conselho Deliberativo. José Antenor Pomilio – Engenheiro Eletricista, Mestre e Doutor FATOR DE POTÊNCIA E DISTORÇÃO HARMÔNICA PARTE I 1.1 - Energia Elétrica como “bem comum” É sob esta perspectiva que serão abordados os diversos tópicos desta apostila. conceitos estabelecidos desde o início do século. Novos conceitos foram criados, os quais servem a melhor explicitar o comportamento A energia distribuída aos usuários do sistema elétrico interligado é um “bem comum”. Ou 1.2 - Teorias de Potência Elétrica seja, todos que estão conectados a um dado sistema compartilham de suas vantagens e de intensa discussão sobre as teorias de potência de tensão e, principalmente, de corrente. seus problemas. Mais do que isso, os problemas elétrica, Nos últimos 20 anos tem havido uma substituindo ou reinterpretando da rede na situação atual em que não mais se podem considerar senoidais as formas de onda Poucos conceitos se mantêm consensuais criados por um único usuário têm reflexo em todos os demais. Desta forma, a preservação da qualidade da energia elétrica é responsabilidade coletiva, de fornecedor e de consumidores. Esta noção de “bem comum” é muito importante pois é a base para a imposição de normas que garantam a preservação da qualidade da energia, de modo a proteger o adequado funcionamento de todos os processos e equipamentos alimentados. 28 O SETOR ELÉTRICO Fevereiro 2006 Figura 1.1 - Circuito genérico utilizado nas definições de FP e triângulo de potência. A figura 1.2 mostra sinais deste tipo, sistema simétrico e equilibrado, estão o com defasagem nula. O produto das de potência ativa média e o de potência senóides dá como resultado o valor aparente, o que permite definir o Fator de instantâneo da potência. O valor médio Potência. Já em situações desbalanceadas deste produto é a potência ativa (de ou desequilibradas pode haver discordância acordo com a eq. 1.1), e também está até mesmo nestas definições. indicada na figura. Em torno deste Nas Referências Bibliográficas, no final valor médio flutua o sinal da potência deste capítulo, estão indicadas recentes instantânea. O valor de pico deste publicações que abordam estas definições e mostram a atualidade do debate. No Figura 1.2 - Potência com sinais senoidais em fase. H a r m ô n i cos mas, dentre estes, quando se tem um sinal é numericamente igual à potência aparente. Quando a defasagem é nula, entanto, o objetivo deste capítulo é apenas o produto (potência instantânea) será o de realçar a importância das distorções sempre maior ou igual a zero. harmônicas no cômputo do fator de potência e são usados, como exemplo, na figura, os valores de pico das ondas circuitos monofásicos. senoidais são de 200 V e 100 A, o que Considerando os valores utilizados conduz a valores eficazes de 141,4 1.3 - Fator de Potência V e 70,7 A, respectivamente. O valor Fator de potência é uma propriedade calculado da potência aparente é de 10 de uma carga elétrica (ou de um conjunto kW. Estes resultados são consistentes de cargas). Consideremos, para efeito com os obtidos pela figura 1.2. das definições posteriores o esquema da figura 1.1. Figura 1.3 - Potência em sinais senoidais defasados de 90 graus. A figura 1.3 mostra situação semelhante mas com uma defasagem de 90 graus entre os sinais. A potência 1.3.1 - Definição de Fator de Potência instantânea Fator de Potência (FP) é definido potência ativa) nulo, como é de se como a relação entre a potência ativa esperar. A amplitude da onda de e a potência aparente consumidas potência é numericamente igual à por um dispositivo ou equipamento, potência aparente. apresenta –se com um valor médio (correspondente à independentemente das formas que as Na figura 1.4 tem –se uma situação ondas de tensão e corrente apresentem. intermediária, com uma defasagem Os sinais variantes no tempo devem ser de 45 graus. Neste caso a potência periódicos e de mesma freqüência. instantânea assume valores positivos 1 çvi (t ) ii (t ) dt P T� F P S VRMS I RMS e negativos, mas seu valor médio (que Figura 1.4 - Potência em sinais senoidais. corresponde à potência ativa) é positivo. Utilizando a equação (1.2), a potência ativa será de 7,07 kW, o que eqüivale ao valor indicado na figura. 1.3.2 - Caso 1 - Tensão e corrente senoidais Em um sistema com formas de onda 1.3.3 - Caso 2 - Tensão senoidal e corrente distorcida senoidais, a equação 1.1 torna –se igual Quando apenas a tensão de entrada for ao cosseno da defasagem entre as ondas senoidal, o FP é expresso por - de tensão e de corrente (). Analisando FPV em termos das componentes ativa, reativa sen o e aparente da potência pode –se, a partir de uma descrição geométrica destas componentes, mostrada na figura 1.1, determinar o fator de potência como - FPsen o = kW kVAr = cos arctg = cos φ kW kVA Figura 1.5 - Potência em sistema com tensão senoidal e corrente não –senoidal = I1 I RMS ⋅ cos φ1 A figura 1.5 mostra uma situação em que se tem uma corrente quadrada (típica, por exemplo, de retificador monofásico com filtro indutivo no lado CC). Observe O SETOR ELÉTRICO Fevereiro 2006 29 F ASCÍCULOS / h a r m ô n i c o s que a potência instantânea não é mais uma onda senoidal com o dobro da freqüência da senóide. Neste caso específico ela aparece como uma senóide retificada. Neste caso, a potência ativa de entrada é dada pelo produto da tensão (senoidal) por todas as componentes harmônicas da corrente (não –senoidal). Este produto é nulo para todas as harmônicas exceto para a fundamental, devendo –se ponderar tal produto pelo cosseno da defasagem Figura 1.6 Decomposição harmônica (série de Fourier) de onda quadrada entre a tensão e a primeira harmônica da corrente. Desta forma, o fator de potência é expresso como a relação entre o valor RMS No entanto, a potência média é de 12,7 da componente fundamental da corrente e a kW. Este valor corresponde ao produto onda quadrada, indicando as componentes corrente RMS de entrada, multiplicado pelo do valor eficaz da tensão pelo valor eficaz harmônicas (até a de sétima ordem). A figura 1.6 mostra uma decomposição da cosseno da defasagem entre a tensão e a da componente fundamental da onda de Note que se for feito o produto da onda primeira harmônica da corrente. corrente, já que a defasagem é nula. O fundamental por qualquer das harmônicas, Os valores eficazes de tensão e de corrente valor de pico da componente fundamental o valor médio será nulo, uma vez que se são, respectivamente, 141,4 V e 100 A. é de 127,3 A, correspondendo a um valor alternarão intervalos positivos e negativos de Logo, a potência aparente é de 14,14 kW. eficaz de 90 A. mesma área. SE1 100 (continua no próximo número) 30 O SETOR ELÉTRICO Fevereiro 2006