SERÁ A CLONAGEM DE SERES HUMANOS MORALMENTE ACEITÁVEL? Um dos problemas mais controversos da actualidade é a moralidade da clonagem humana. Será aceitável a criação artificial de seres humanos que sejam cópias genéticas de outros? Ao longo deste ensaio tentarei provar que a utilização desta técnica científica como método reprodutivo não é moralmente aceitável. Apesar disso, através da clonagem podem ser geradas células estaminais que são manipuláveis de modo a tornarem-se em qualquer tipo de outras células. Alguns cientistas consideram que isto permitirá curar uma série de doenças e desenvolver órgãos para transplante com o mesmo ADN da pessoa em que vão ser implantados, tornando o risco de rejeição praticamente nulo. Como veremos os argumentos contra a clonagem não conseguem apontar qualquer tipo de objecção a esta técnica. Uma das objecções à clonagem humana é o argumento da identidade que defende que a clonagem priva as pessoas de uma identidade própria, o que ferirá a sua dignidade. Este argumento é facilmente derrubado visto que a clonagem não produz cópias exactas da pessoa, mas sim seres humanos com o mesmo ADN, tal como os gémeos idênticos. Quem usa este argumento pretende provar que os clones são privados de uma identidade própria por partilharem do mesmo ADN. Para aceitarmos este argumento também teríamos que considerar os gémeos idênticos um mal, o que é absurdo. Muitos condenam a clonagem humana apelando à aparente confusão em saber quem são os pais biológicos do clone, visto que se um casal estéril clonasse o marido, o bebé seria filho biológico dos pais do marido. Os defensores deste argumento defendem que isto causaria confusões nas relações familiares. Não parece que este argumento seja aceitável para condenar a clonagem humana, visto que o modelo tradicional de família deixou há muito de ser considerado o único aceitável; como prova disso temos os divórcios, adopções, segundos casamentos, mães ou pais que criam os seus filhos sozinhos, e até uniões entre pessoas do mesmo sexo. Alguns defendem o argumento do apelo à natureza, afirmando que a artificialidade dos clones é um mal por si só. Afirmam que a clonagem humana como modo de reprodução vai contra a natureza. Mas a definição de natureza não é clara. Não é possível definir exactamente a fronteira entre o natural e o anti-natural. Será natural a existência de siameses? Se sim, será então errado separá-los através de uma operação? E a racionalidade humana? Se sim, então parece que utilizar a racionalidade para tentar aperfeiçoar o trabalho da natureza não pode ser um mal. Este argumento não me parece ser aceitável, visto que a clonagem pode ser usada como uma técnica de melhoramento da reprodução, tal como a fertilização in vitro e os abortos em caso de malformação do bebé. Outro problema da clonagem é o perigo da instrumentalização visto que a liberalização da clonagem poderia permitir que fossem criados clones para a satisfação de simples caprichos. Poderiam ser criados clones para substituir pessoas que sofriam acidentes mortais (o que obviamente seria um erro visto que a nova pessoa teria apenas o mesmo ADN do primeiro, mas provavelmente uma personalidade completamente diferente). Pensando ainda numa pior hipótese, a banalização da clonagem poderia levar à criação em série de seres humanos com o objectivo único de desempenhar determinada missão, tal como combater em guerras ou mesmo praticar crimes. Apesar de isto poder ser contrariado por leis restritivas à clonagem, a divulgação da ciência é inevitável e num futuro próximo surgiriam laboratórios clandestinos. A isto junta-se o perigo da eugenia, ou seja, a manipulação da reprodução para gerar seres com determinadas características. Isto permitiria gerar exércitos de clones com as características físicas e mentais que fossem mais convenientes aos seus criadores. Este argumento parece-me irrefutável, e leva-me a crer que a clonagem com o objectivo da reprodução humana pode levar a grandes atrocidades. Por estes argumentos podemos concluir que não deve ser permitida a clonagem humana como modo de gerar crianças que venham a crescer e a tornar-se adultos, com a possibilidade de serem criados de modo a satisfazer os interesses ou caprichos egoístas de outras pessoas. Apesar disso, a clonagem de embriões com vista apenas à criação de células estaminais para tratamento médico é perfeitamente aceitável do ponto de vista moral. Apenas é necessário um desenvolvimento das técnicas científicas que permita tornar isto possível. Miguel Sousa Ferreira - Nº17 - 11.º G - Junho/2005 Escola Secundária de Alberto Sampaio