Geometria em 4 dimensões Tensores 27 Espaço de Minkowski e Transformações de Lorentz 4 dimensões – 3 coordenadas espaciais x = (x 1, x 2, x 3 ) e uma coordenada temporal x 0 ≡ ct . Os quatro números x µ ; µ = 0, 1, 2, 3 formam o quadrivetor x: µ 0 1 2 3 x = (x , x , x , x ) • Índices gregos sub ou sobrescritos denotam índices que vão de 0 a 3. µ O espaço de todos os pontos x é chamado de espaço de Minkowski e (em ausência da gravidade) é um bom candidato para o Universo. Define-se a distância nesse espaço utilizando-se a métrica: a distância entre dois pontos x µ e y µ é: 3 s 2 (x, y ) = (x 0 − y 0 )2 − ∑ (x i − y i )2 Ou, em termos de diferenciais µ µ i =1 x − y → dx : ds 2 = (dx 0 )2 − (dx idx i ) Reescrevendo em termos de uma métrica: ds 2 = dx µdx νgµν Onde a convenção de somatória é que todo índice grego repetido soma de 0 a 3. Tensores 28 O tensor métrico gµν pode ser escrito, portanto, como: g µν É convenção usar gµν ou 1 0 0 0 0 −1 0 0 = 0 0 −1 0 0 0 0 − 1 −g µν como a métrica. No último caso, ds 2 = dx idx i − (dx 0 )2 Para a escolha que fizemos, intervalos do tipo tempo tem ds 2 > 0 e intervalos do tipo espaço tem ds 2 < 0 . Esta é a chamada métrica de West Coast, e é utilizada por J.D. Jackson. A outra escolha inverte os sinais de eventos do tipo espaço e tempo e é conhecida como a métrica de East Coast. As Transformações de Lorentz (T.L.) tem o mesmo papel com respeito ao tensor métrico g que as rotações em espaços Euclidianos tridimensionais. µν As T.L. foram definidas para deixar por T.L. Tensores ds 2 inalterado em referenciais associados 29 Escrevendo Onde Λµν x 'µ = Λµ νx ν é a matriz usual das Transformações de Lorentz: Λµ ν cosh φ − sinh φ − sinh φ cosh φ = 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 Aqui usamos a notação de rapidez (cosh φ ≡ γ; sin φ ≡ βγ ) e a T.L. particular que escrevemos corresponde de uma mudança de um referencial K para outro K’ se movendo com velocidade +βc na direção x 1 . A invariância de ds 2 coloca uma restrição fundamental em Λµ : ν (ds ')2 = (ds )2 gµλdx 'µ dx 'λ = g νσdx νdx σ g µλ Λµ ν Λλ σdx νdx σ = g νσdx νdx σ O que requer Λµ ν Λλ σgµλ = g νσ Isso é o análogo de Rij Rik = δjk , e diz que as T.L. são ortogonais com respeito à métrica g como as rotações são ortogonais com respeito à métrica δ . Tensores 30 Note que as rotações são um subconjunto das Transformações de Lorentz. Uma rotação mistura as coordenadas espaciais mas deixa a coordenada temporal sozinha: 0 0 dx ' = dx dx 'i = Ri jdx j Como R deixa a distância Euclidiana inalterada, a expressão preserva ds 2 . T.L. que transformam para um referencial em movimento sem rotação são chamadas de boost. No quadriespaço uma rotação em torno do eixo x 3 é escrita como: 1 0 0 0 0 cos θ sin θ 0 Λµ ν (ROT ) = 0 − sin θ cos θ 0 0 0 0 1 A T.L. mais geral possível sempre pode ser escrita como uma rotação seguida de um boost seguido de uma nova rotação. As reflexões também estão inclusas entre as T.L., e são diferenciadas das outras por terem det Λ = −1. Em 4 dimensões, introduz-se também reflexão no tempo. Uma reversão temporal pura tem det Λ = −1 e uma reflexão nas 4 coordenadas tem det Λ = 1 . Uma T.L. própria é aquela que não tem reflexões no espaço e/ou tempo, já que para uma T.L. própria (exceto no caso x µ = −x µ ) det Λ = 1. As T.L. impróprias incluem reflexões e reversões temporais e tem det Λ = −1 , com exceção do caso já citado, que tem o determinante positivo. Tensores Quadrivetores e Tensores µ Quadrivetor: qualquer conjunto de 4 números v que, sob Transformações de Lorentz, se transforma como a coordenada diferencial dx µ : dx 'µ = Λµνdx ν v 'µ = Λµν v ν – Exemplos: Quadrimomento: p = (E / c, P ) Quadricorrente: J = (cρ, J ) Potenciais Eletromagnéticos: A = (φ / c, A) Um quadrivetor é definido em analogia a tensores no espaço tridimensional. Seja T µν um quadritensor, então, no referencial transformado: T 'µν = Λµ σ Λν τT στ As componentes de um quadritensor ou quadrivetor se misturam umas com as outras exatamente como vetores e tensores ordinários o fazem sob rotações. Tensores 32 Índices Covariantes e Contravariantes Como no caso de 3 dimensões, podemos formar tensores de ordens mais baixas contraindo com o tensor métrico. – Exemplo: Considere os quadritensores de ordem 2:S µν e T λσ. Então V µσ = S µν g νλT λσ é um tensor de ordem 2 novamente. Prova: V 'µσ = S 'µν g νλT 'λσ = Λµ αΛνβS αβg νλ Λλ γ Λσ τT γτ = Λµ αΛσ τ (Λν β Λλ γg νλ )S αβT γτ g βγ = ΛµαΛσ τV ατ Tensores 33 Notação de contração com a métrica acordo com as regras: g µν : Introduzindo os índices subescritos de vµ = g µν v ν Tαβ = g αγT γβ T α1 ...β...αn = g βx T α1...αj ...αn j O único efeito computacional de “abaixar um índice” é introduzir um pacote de sinais menos. Se v µ = (v 0 , v 1, v 2 , v 3 ) Então vµ = (v 0 , −v 1, −v 2, −v 3 ) – Exemplo: O produto de dois quadrivetores não muda sob T.L.: µ ν ν 0 0 g µν w v ≡ wν v = w v − w ⋅ v Definindo g αβ = g αβ ⇒ g αβg αγ = δαγ com δαγ matriz unitária 4x4. ⇒ g λµvµ = g λµg µν v ν = δλ ν v ν = vλ Tensores 34 Pode-se, agora, abaixar e levantar índices à vontade. – Exemplo: T µ ν = g µαg νβTαβ β Se Tα está na forma: Tα β T 0 T j 0 0 = 0 Ti Ti j aqui j e I vão de 0 a 3: uma notação compacta para essa matriz 4x4. Então: T αβ T 0 −T j 0 0 = −Ti 0 Ti j Um vetor com índice acima é chamado de vetor contravariante. Com índice abaixo, é chamado de covariante. O mesmo se aplica para tensores: T µν é contravariante e Tµν é covariante. Um tensor com alguns índices acima e outros abaixo é chamado de tensor misto. Tensores 35 Ao discutir rotações, definimos vetores contravariantes como aqueles que transformam como coordenadas diferenciais: ∂x 'i vj ∂xj vi ' = E vetores covariantes como aqueles que se transformam como gradientes: wi ' = ∂x j ∂x 'i wj Estudando Relatividade Especial, definimos vetor contravariante como aqueles que se transformam sob L.T. como as coordenadas diferenciais: v 'µ = Λµ ν v ν Vetores covariantes foram definidos pela relação: vµ = g µν v ν Agora mostraremos que as definições são equivalentes. Da definição das T.L., µ Λ ν = ∂x 'µ ∂x ν µ ⇒ v' = ∂x 'µ ∂x ν vν A correspondência seria completa se mostrássemos que: v 'µ = Para mostrá-la, multiplicando ν → g νλvλ : Tensores v ∂x ν µ ∂x ' vν por g σµ e somando em µ , e substituindo 36 ∂x 'µ g νλv g σµv ' = v 'σ = g σµ λ ∂x ν µ Começando com µ λ Λ ν Λ σgµλ = g νσ e lembrando que ∂ x 'µ ∂ x 'λ ∂x Multiplicando por ∂x 'µ τ ∂x ' = ∂x ∂x σ Λ ν ≡ ∂x 'µ ∂x ν : g µλ = g νσ ∂x ν 1 e usando a regra da cadeia para derivadas parciais: ∂x 'τ 2 ∂x 'µ ∂x ν ν ν µ τ ∂x ' =δ µ τ para obter ∂x 'λ ∂x Finalmente, multiplicando ambos os lados por ∂x α τ ∂x ' =g ασ ∂x 'λ ∂x σ σ g τλ = g νσ ∂x ν ∂x 'τ g ασ e somando em σ : g τλ Que é justamente o que gostaríamos de provar, se renomearmos os índices α → λ; τ → σ; σ → ν; λ → µ Tensores 37 Resumindo e Recapitulando… – Vetores Contravariantes: Transformam sob T.L. como coordenadas diferenciais: µ µ ν v ' = Λ νv = ∂x 'µ ∂x ν vν – Vetores Covariantes: Transformam sob T.L. da maneira oposta: v 'µ = g µσ Λσ ν g νλvλ = Λµλvλ = – Abaixando e Levantando Índices: ∂x λ µ ∂x ' vλ Vetores covariantes e contravariantes são relacionados através do tensor métrico: vµ = g µν v ν vλ = g λµvµ – Contração: Índices relacionados pelo tensor g µν não mais se transformam: T µν g νλS λα = T µνSν α ≡ W µα Tensores 38 Gradiente em Relatividade Especial O protótipo do vetor covariante é o gradiente de um escalar. Considere onde x µ ∂φ ∂x µ = (x , +x ) é a coordenada do vetor contravariante. Considere dois 0 referenciais S e S’ relacionados por T.L. e use a regra da cadeia: ∂x µ ∂φ = ∂x 'µ ∂x µ ∂φ ∂x µ Comparando com σ νλ v 'µ = gµσ Λ ν g vλ = Λµλvλ ∂φ é covariante e o escrevemos como: ∂x µ ∂φ ∂φ ∂ µφ ≡ ∂x µ = ∂x λ µ ∂x ' vλ conclui-se que = , ∇φ ∂x µ Podemos definir uma derivada contravariante diferenciando com respeito às coordenadas covariantes: ∂φ ∂φ ∂ φ≡ = , −∇φ ∂x µ ∂x µ µ Tensores 39 Invariantes em Relatividade Especial Qualquer objeto totalmente contraído é um invariante (i.e., um escalar) sob Transformações de Lorentz. Introduzimos contração usando o tensor métrico, mas podemos usar levantamento e abaixamento de índices para tornar mais simples: • contrar dois índices = levantar um, diminuir o outro e somar. – Exemplo: Tαβ e S γδ são dois tensores, um tensor de ordem dois pode ser formado pela contração: Tαβs βα = TαβS γδg βγ Um escalar pode ser formado contraindo ainda α e δ : TαβS βα = escalar = TαβS γδg βγg αδ Para provar que é um escalar, faça T.L. em ambos os lados: Tαβ 'S αβ ' = Λαγ Λβ δ Λµ αΛν βTγδS µν = (Λαγ Λµα )(Λβ δ Λν β )TγδS µν = δµ γ δν δTγδS µν = TµνS µν Tensores 40 Alguns Invariantes Importantes: – O produto escalar de dois vetores: v µwµ = (v 0w0 + v 1w1 + v 2w2 + v 3w3 ) = (v 0w 0 − v 1w 1 − v 2w 2 − v 3w 3 ) 0 0 = (v w − v ⋅ w ) – O traço do produto de dois tensores: (F ⋅ G ) = FµνG µν = F µνG λσg µλg νσ – A quadridivergência: O sinal menos que causa problemas: Considere um vetor contravariante v µ = (v 0, v ). Então ∂ µv µ é um invariante. Mas ∂v µ µ ∂ µv = , ∇ ⋅ v µ ∂x Note a diferença: wµv µ 0 0 = (w v − w ⋅ v ) Esse sinal menos é essencial no entendimento das propriedades de transformações de muitos objetos em eletromagnetismo. Tensores 41 Propriedades das Transformações de Lorentz –εµνλσ é o análogo de εijk . ε0123 = 1 e troca de sinal sob qualquer permutação de seus índices. Fica +1 sob permutações cíclicas e é nulo se dois índices são iguais. εµνλσ é um pseudotensor de ordem 4 e é numericamente o mesmo em todos os sistemas de coordenadas. Explicitamente: εµνλσ = Λαµ Λβ ν Λγλ Λδ σ (det Λ)ε αβγδ ; ε0123 = −ε0123 = −1 – O elemento de volume d 4x . d 4x ≡ dx 0dx 1dx 2dx 3 é invariante, mas um pseudoescalar: d 4x ' = (det Λ)d 4x – O quadrirotacional. O objeto ∂ µvν − ∂ ν vµ = Fµν onde antisimétrico de ordem 2. vµ é um vetor covariante, é um tensor Fµν ' = ΛµαΛν βFαβ Tensores 42