RELATÓRIO PROJETO EDUCAÇÃO INTEGRAL NA REGIÃO DAS VERTENTES São João del-Rei Dezembro 2014 Ficha técnica Coordenador e vice-coordenadora do Projeto Levindo Diniz de Carvalho Larissa Medeiros Marinho dos Santos Professores coordenadores de macro-campos Abimael Gomes da Silva – Horta Ana Carolina Capellini Rigoni – Esportes André Luiz Lopes Magela – Teatro Carlos Frederico Bustamante Pontes – Teatro Débora Andrade – Música Fabíola Moreira Resende - Música Kleber José da Silva – Artes Maria Aparecida Arruda – Acompanhamento Pedagógico Paulo Frederico Medeiros Clementino – Educomunicação Tatiana Cury Pollo - Acompanhamento Pedagógico Bolsistas de extensão Pâmella Silva Alves Thaís Parreira Silva Tutores Alice Aldina Silva Dias Ana Maria Paiva Guimarães Bárbara Bruna Moreira Ramalho Lídia Mara Fernandes Lopes Rafaella Naves Lopes Rosilene Maria da Silva Gaio Wanessa de Cássia Netto Professoras Formadoras Cristina de Freitas Castilho Rogéria Freire de Figueiredo Sheila Ferreira Miranda Índice I - INTRODUÇÃO: EDUCAÇÃO INTEGRAL NO CONTEXTO BRASILEIRO.....................................04 II - O PROJETO “MAIS EDUCAÇÃO NAS VERTENTES”..............................................................07 III – RESULTADOS E DISCUSSÕES...........................................................................................09 3.1 – Seminários Regionais.......................................................................................09 3.2 – Visitas periódicas às escolas participantes do Projeto......................................12 3.3 – Formação de Gestores.....................................................................................14 3.4 – Formação Professores e Monitores..................................................................15 3.5 – Orientação dos alunos de graduação à execução das oficinas..........................17 IV –(IN) CONCLUSÕES: OS AVANÇOS E DESAFIOS PRÁTICOS DA EDUCAÇÃO INTEGRAL.............................................................................................................................23 REFERÊNCIAS........................................................................................................................27 RELATÓRIO PROJETO EDUCAÇÃO INTEGRAL NA REGIÃO DAS VERTENTES DADOS DO PROJETO: Macro-campos atendidos Oficinas ofertadas Número de visitas no campo realizadas pelos orientadores Escolas Atendidas Carga-horária mensal de orientação às oficinas 7 24 60 41 90 horas PÚBLICO: Número de professores e gestores atendidos Número de estudantes universitários e agentes culturais atendidos Número de dirigentes de Educação atendidos Total 400 74 24 498 I - INTRODUÇÃO: EDUCAÇÃO INTEGRAL NO CONTEXTO BRASILEIRO A necessidade de ampliação das funções da escola fundamental tem sido visibilizada em nosso país nos últimos anos, através da implementação de políticas que buscam universalizar o acesso à educação, garantir a permanência dos alunos e implementar formas de aprendizagem que associem a integração social e comunitária às práticas cotidianas escolares (GUARÁ, 2006). Neste sentido, o debate se pauta pela ideia de um currículo integrado e a associação de novas concepções e práticas educativas, tendo como consequência imediata a ampliação da jornada escolar que entremeie turno e contraturno (GABRIEL & CAVALIERE, 2012), em contraponto à ideia cristalizada de uma pedagogia tradicional voltada primordialmente para a transmissão bancária de conhecimentos , a priori sistematizados. As proposições curriculares de Educação Integral no contexto brasileiro, já esboçadas como concepções teóricas na primeira metade do século XX, trazem, portanto, uma nova visão do espaço gerador de conhecimento, na qual a reestruturação das propostas didático metodológicas educacionais intenciona construir uma nova identidade para a escola fundamental, reestruturando -a para responder aos desafios de nosso tempo (BRASIL, 2009). 4 Atuando como uma das vertentes do PDE (Plano de Desenvolvimento da Escola), o Programa Mais Educação, fundado a partir da Portaria Intersetorial nº17 de 24 de Abril de 2007 e firmado entre os Ministérios da Educação, do Desenvolvimento Social, dos Esp ortes, da Ciência e Tecnologia, da Cultura e do Meio Ambiente ; tem como objetivo a implementação da Educação Integral a partir de projetos e programas que agreguem todos os ministérios envolvidos, a família, comunidade escolar e seu território de abrangência (em nível local, regional e global) bem como diversos setores societários de interesse (BRASIL, 2007). Sabemos que a realidade das escolas que utilizam a pedagogia tradicional, baseia-se num sistema no qual são privilegiadas atividades repetitivas, mecânicas e com tendências repressoras, mostrando-se aquém da necessidade de uma formação democrática e contextualizada ao “mundo-da-vida” (HABERMAS, 2002) dos educandos. Assim, o fortalecimento da concepção de Educação Integral e sua implementação como política pública surge por uma “urgente imposição da realidade” contemporânea (CAVALLIERE, 2002). Esta última, prima por ações socialmente integradoras e inclusivas, as quais possam conjugar atividades de aprendizagem a ações de proteção social, tendo em vista os grandes índices de fracasso escolar e evasão na educação pública básica de nosso país, estatisticamente atrelados a situações de vulnerabilidade e risco social ( BRASIL, 2009). Entretanto, situações de carência e pobreza não são os únicos fatores desencadeantes destes índices. As desigualdades brasileiras no contexto educacional também têm sua origem nos históricos investimentos públicos desordenados para expansão da oferta de vagas nas esco las de ensino fundamental. Tais investimentos não foram planejados com eficiência de forma a proporcionar condições igualitárias e necessárias a uma oferta de qualidade do ensino, agregando problemas que se refletem no cotidiano de nossa escola contemporânea, tais como: degradação do espaço físico, aumento de turnos, descontinuidade nas ações governamentais e orientação e formação docente inadequadas ou insuficientes (BRASIL, 2009). Buscando corrigir este disparate, a concepção de Educação Integral ampara-se na ideia de que a formação não está somente adstrita ao as pecto temporal, ou seja, ao período em que o aluno dispõe em sala de aula, mas também à responsabilidade da escola fundamental em propiciar condições para que os processos de aprendizagem possam ser mais democráticos, inclusivos e amplos, vislumbrando o en tendimento da “educação como vida e não como preparação para a vida” (CAVALLIERE, 2002). 5 Neste ínterim, o foco está nos processos de aprendizagem e não em seus produtos, de maneira que esta concepção de educação firma -se como um processo de reconstrução e reorganização reflexiva da realidade, no qual as práticas escolares não representam ações qualitativamente diferentes das práticas educativas do cotidiano dos sujeitos, mas podem ser vistas como continuidades do fenômeno global de “vida/experiência/aprendizagem”, caracterizando a própria condição humana (CAVALLIERE, 2002). Desta forma, surge a proposição de uma prática escolar na qual as relações sociais e experiências reais também sejam privilegiadas nos processos de aprendizagem, de forma que o aprend izado científico e o aprendizado para a vida pública e privada ocorram de maneira integrada (CAVALLIERE, 2002; GABRIEL & CAVALIERE, 2012) . Para que isto aconteça é imprescindível o diálogo entre a escola a comunidade, pois é dele que emergem possibilidad es de experiências significativas e reflexivas de aprendizagem, de forma que conquistem a adesão significativa de crianças e jovens através da contextualização dos conteúdos com a sua realidade sociocultural, a partir de atividades reflexivo-educativas que não sejam desconectadas de sentidos sociais (GUARÁ, 2006). Como princípio fundamental destas ações, Liblik e Branco (2009) afirmam que: A Educação Integral de hoje, para ser real precisa desenvolver -se em territórios mais amplos e em múltiplos espaços e lugares: na escola e também nas praças, nas ruas, nas bibliotecas, nos museus e nos teatros; mais além: na horta, na construção e no galinheiro da vizinhança. De tal forma que locais com potencial educativo até hoje ignorado pela s escolas possam ser utilizados pelo grupo de aprendizes para suas explorações e descobertas, porque se estes locais e equipamentos fazem parte da vida social desses grupos, estão plenos de significados e valores para serem apreendidos (p.391). A partir destes parâmetros teóricos e com o intuito do desenvolvimento integral contextualizado, o Programa Governamental “Mais Educação” organiza-se institucionalmente com base nos seguintes macro-campos de atividades: acompanhamento pedagógico, educação ambiental, esporte e lazer, direitos humanos em educação, cultura e artes, cultura digital, promoção da saúde, comunicação e uso de mídias, investigação no campo das ciências da natureza e educação econômica . Todas estas áreas focam o desenvolvimento das atividades em 6 experiências, competências, habilidades, saberes através da operacionalização de pesquisas, análises, desenvolvimento de hipóteses, estabelecimento de relações, discussões, questionamentos e descoberta s, saindo de uma prática pedagógica tradicionalista e levando os educandos a serem autores das próprias descobertas e reflexões na construção de saberes (BRASIL, 2007). Neste contexto, a Educação Integral tem tomado força e sido um ideal na construção de um projeto mais democrático para a escola fundamental brasileira. Tem sido aprimorada como prática e vem conquistando o seu espaço, na medida em que passa a fazer parte do projeto político pedagógico das escolas e discute a participação da família e da comunidade local e global nos processos educativos (BRASIL, 2007), além de reunir novas categorias de análise aos debates sobre educação,dentre as quais se destacam: intersetorialidade, ações integradas e proteção social. II - O PROJETO “MAIS EDUCAÇÃO NAS VERTENTES” Na atualidade, a educação integral se faz co nsigna na sociedade brasileira, entretanto, a expansão de programas de educação integral no país ainda ocorre por vias essencialmente pragmáticas, dando-se pouca atenção aos significados e intencionalidades que lhe dão sentido. Acompanhando este quadro de novas tendências e necessidades na conjuntura da escola fundamental brasileira, o Projeto “Educação Integral na Região das Vertentes”, desenvolvido pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), localizada no estado de Minas Gerais, vem, desde 2013 se propondo a atuar na formação de agentes culturais, monitores, universitários e professores envolvidos no atendimento da Educação Integral, visando contribuir para articulação entre educação , cultura e proteção social com políticas públicas intersetoriais que demandam a participação de diversos atores. Além disto, tais ações também intencionaram articular as atividades do Fórum Regional de Educação Integral na Região das Vertentes , e acompanhar a implantação do programa “Mais Educação” como estratégia indutora das políticas públicas de Educação Integral nos Municípios desta região. Como objetivos específicos, buscamos: Contribuir na formação do fórum regional de Educação Integral na Região das Vertentes; 7 Promover um processo formativo que valorize a diversidade cultural, reconheça as desigualdades de oportunidades educacionais e contribua com a participação social; Atuar na formação dos diferentes sujeitos envolvidos nas ações do programa Educação Integral na Região das Vertentes; Discutir a educação integral e a formação int egral nos diferentes cursos da UFSJ, produzindo conhecimento acerca do tema, através da produção de artigos científicos, apresentações de trabalhos em congressos, orientação de dissertações de mestrado e a organização de um livro (no prelo) com as experiências e debates realizados durante o projeto; Fomentar as ações do programa Mais Educação em uma concepção de educação integral que contemple as diferentes dimensões da formação humana, a intersetorialidade e que considere as cidades como espaços educativos; Localizar avanços, dificuldades e desafios do PME como estratégia indutora de políticas públicas de educação (em tempo) integral nos municípios da região das Vertentes. A presente etapa deste trabalho foi financiada via descentralização de recursos (Ação 20RJ), com financiamento do Ministério da Educação . Desenvolvido pelo Departamento de Ciências da Educação (DECED) e Departamento de Psicologia (DPSIC) da UFSJ, o projeto contou com o envolvimento de 19 municípios da região das Vertentes em 2013 e em 2014 tivemos a participação de aproximadamente 43 alunos de graduação atuando nas escolas, 05 de Pós -Graduação e 08 professores das licenciaturas da UFSJ. A equipe do projeto foi composta por diversos atores como: coordenador geral, coordenador adjunto, supe rvisores de área, tutores e formadores. As ações realizadas para o desenvolvimento do projeto foram as seguintes: Coordenação de três seminários regionais de Educação Integral com vistas à sistematização das experiências de educação e m tempo integral nos municípios; Encontros de formação de professores e monitores da Educação Básica das escolas nas quais o programa foi implantado; 8 Acompanhamento às escolas que atendem ao Programa Mais Educação, através de visitas periódicas ; Encontro de formação dos gestores de escolas do Programa Mais Educação; Orientação dos alunos das licenciaturas em Pedagogia, Música, Teatro, Letras, Psicologia, Matemática e Educação Física, que atuaram nos trabalhos das seguintes oficinas devidamente circunscritas aos macro-campos do Programa Mais Educação: acompanhamento pedagógico; corporeidade, esporte e lazer; educomunicação e cultura digital; educação patrimonial; educação musical; teatro e educação; artes visuais e educação e a de horta escolar e educação ambiental. Durante toda a execução do Projeto, a equipe realizou reuniões semanais com os atores envolvidos, nas quais foram discutidas e avaliadas as ações. Trabalhamos com o referencial teórico já existente sobre o Programa Mais Educação, além de pesquisas recentes sobre Educ ação Integral no Brasil. III – RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 – Seminários Regionais Foram realizados três Seminários Regionais de Educação Integral contando com a participação de 600 professores da Educação Básica dos municípios abrangidos pelo projeto, ciclos de formação de professores comunitários e alunos de graduação da UFSJ e acompanhamento da implantação do Programa Mais Educação nas escolas. 9 Cartaz do Seminário 10 Folder do Seminário Nestes seminários, foram concretizadas diversas ações, incluindo atividades culturais, mesas-redondas, palestras, relatos de experiências e grupos de discussões com temas vinculados às oficinas realizadas nas escolas da região, tais como: acompanhamento pedagógico, artes plásticas, cidade e escola, corporeidade, esporte e lazer, novas tecnologias, teatro, musicalização, educação ambiental, contação de histórias, horta escolar e currículo na Educação Integral. Os seminários foram avaliados pelos participantes como espaços de interações profícuos, com destaque para a importância das trocas de experiências e produção de conhecimento reflexivo acerca da prática entre professores de cidades diferentes. Neste ínterim, os relatos de experiência foram considerados essenciais para a contribuição nas práticas dos participantes envolvidos diretamente com a execução do projeto. Dentre os aspectos positivos do seminário mais mencionados, estão :o fato do conteúdo apresentado ter sido considerado de relevante importância pelos participantes, o esclarecimento de dúvidas e questões do público -alvo durante as palestras, relatos de experiências e grupos de discussões; o uso criativo de diversas linguagens para captar a atenção dos participantes, tais como: vídeos, apresentações de slides, dinâmicas de grupo e fóruns de debates, tornando a construção conjunta de conhecimento mais interessante , rica e com alto potencial reflexivo. 11 Dentre os aspectos a serem revisto s para as próximas ações, tiveram destaque a questão do tempo, considerado restrito para os diversos relatos de experiência, palestras, participação do público e grupos de discussões, sendo que nestes últimos, o público-alvo aferiu que os temas poderiam ter um maior aprofundamento teórico. Também foi ressaltada importância de que um representante de cada escola participante tivesse espaço nos fóruns de debates para relatarem suas experiências e que sejam criados espaços para que as escolas apresentem trabal hos em curso, além da sugestão da participação de alunos e pais de alunos que são atendidos pelo Programa. Apesar do alcance ainda pequeno desses debates – levando-se em conta as amplas ações do Programa Mais Educação em termos nacionais – acreditamos que as ações realizadas em nível regional são extremamente necessárias, gerando trabalhos reflexivos e colaborativos entre os diferentes atores envolvidos diretamente com a temática. De forma que as ações dos Seminários propiciaram espaços reflexivos de apren dizagem e trocas de experiências proveitosas, face aos diversos desafios a serem alcançados no cotidiano da Educação Integral na região das Vertentes. 3.2 – Visitas periódicas às escolas participantes do Projeto O trabalho de visitas periódicas às oito escolas da rede municipal de São João del-Rei que aderiram ao Programa Mais Educação, visou o acompanhamento da execução de todas as oficinas oferecidas por estas instituições, buscando construir uma ponte entre as escolas atendidas e a universidade, também com o objetivo de propiciar a integração dos diversos saberes nas ações realizadas pelo projeto. Nestas visitas, sempre agendadas com antecedência, foram priorizadas a observação, o contato com os professores comunitários e com os monitores, buscando estabelecer uma relação dialógica e democrática, além de um mapeamento das atividades e cronogramas de cada escola, que variam de acordo com as oficinas que são oferecidas. A princípio foram feitas entrevistas com o s professores de dedicação exclusiva de quarenta horas semanais, conhecidos como professores comunitários. Estes são responsáveis pelas questões administrativas do programa na escola e também são encarregados pelo andamento das oficinas e intermédio entre os monitores, escola e a comunidade. Também na perspectiva de conhecer a realidade de cada escola, foram realizados levantamentos de dados, inclu indo a quantidade de 12 alunos do programa Mais Educação em cada instituição bem como os critérios de seleção desses alunos. Neste sentido, o número dos alunos envolvidos nestas ações tem se mostrado crescente, o qual inclui também crianças e adolescentes que não participam do Programa Mais Educação. Durante as conversas com as professoras comunitárias, foi destacada a representação das atividades do programa pelos professores do horário regular, que ainda é bastante complexa. Os monitores, reais executores do PME, acabam por ter pouco contato com os professores da escola, seja pela visão errônea do trabalho deles, que ainda é tido como “complementar” e “voluntário” ou pela falta de compreensão do real objetivo do programa, que neste processo de implantação ainda está caminhando para deixar de ser fragmentado em relação ao turno regular. Em relação aos principais desafios encontrados, destacam -se a limitação do PME em não atender todos os alunos matriculados na escola, o que pode gerar, caso não seja bem trabalhada a integração entre os turnos, uma visão equivocada, segrega ndo os alunos participantes do programa. É preciso destacar ainda que o levantamento destas discussões preliminares tenha potencial para contribuir ao aprofundamento de estudos e debates a respeito do tema Educação Integral, o qual, em função de sua importância, merece destaque tanto em relação aos estudos quanto às políticas e sua implementação no contexto brasileiro. 3.3 – Formação de Gestores A Universidade Federal de São João del-Rei, por meio do Observatório de Políticas de Educação Integral elaborou um plano de formação, especialmente para os municípios da Região do Campo das Vertentes e outros que compõem a Superintendência Regional de Ensino da jurisdição de São João del-Rei, para subsidiar a implementação do Programa Mais Educação nos respectivos municípios e contribuir no debate da importância da Política de Educação Integral . Para tanto, a proposta foi a participação nas reuniões mensais da UNDIME Regional e o acompanhamento inicial à Secretaria de Educação de São João del-Rei na implementação das ações referentes à Educação de Tempo Integral. Nessa perspectiva, o trabalho t eve como objetivo subsidiar as discussões sobre o lugar da formação docente e de gestores municipais na implementação e desenvolvimento da Política de Educação 13 Integral. Também utilizamos a estratégia de visitas nos territórios, bem como participação em encontros formativos, compreendendo que a educação integral em jornada ampliada no Brasil é uma política em construção e, tem no seu horizonte, desafios, especialmente, para gestores educacionais e municipais. A partir deste trabalho, observamos que em rela ção à utilização dos espaços, a prioridade que os governos dão a educação pode ser questionada. Temos estruturas físicas precárias e com condições mínimas de utilização; refeitórios improvisados e espaço reduzido de cozinha; quadras sem cobertura obrigando os estudantes a ficarem debaixo do sol. Esta estruturação precária se reflete em uma visão restrita de muitos gestores quanto às possibilidades de utilização e ressignificação de espaços físicos na escola, gerando uma cultura institucional que circunscreve os espaços educacionais somente à sala de aula . Entretanto, podemos observar que em algumas escolas, a chegada dos recursos do “Mais Educação”gerou uma incipiente reestruturação e ressignificação dos espaços educativos. Essas ações foram efetivadas a partir do olhar dos gestores quanto às possibilidades emancipatórias dos investimentos governamentais a partir do Programa. A partir deste movimento é unânime a ideia de que o “Mais Educação” tem permitido a entrada de um novo debate no espaço escolar, apontando para a mudança paradigmática da formação parcial ofertada pelas escolas públicas, tendo suas ressonâncias demarcadas no cotidiano escolar a partir do envolvimento e compromisso de vá rios educadores com o bem comum e da criação de novas parcerias na s escolas, quer sejam com associações de moradores, igrejas, exército (para utilização de piscina e área de lazer) e universidades. Por outro lado, muitos desafios ainda pairam no processo de gestão das escolas da região das Vertentes. Observamos que a ge stão escolar, de maneira geral, ainda encontra -se enfraquecida, necessitando de formação e informações sobre o Programa, demandas às quais, as respectivas Secretarias ainda não encontram condições de suprir. Como ressonância desta falta de informação, m uitos professores não aceitam o Programa na escola e por sua vez não se articulam com os monitores, considerando sua participação pontual e complementar, excluindo possibilidades de comunicação, parceria e planejamento conjunto das ações educacionais. Diante deste quadro, como um dos desdobramentos da Educação Integral, temos como meta futura a organização de comitês na região. Isso 14 tem ocorrido de forma induzida e as representatividades garantidas ainda se resumem a cargos institucionais de secretarias e escolas. As discussões ainda são muito incipientes, entretanto, estamos caminhando para nos apropriarmos da temática de modo a viabilizar discussões profícuas quanto à gestão e operacionalização emancipatória dos recursos e possibilidades geradas pelo Programa. 3.4 – Formação Professores e Monitores A experiência de encontros de formação de professores comunitários e monitores do Programa Mais Educação (PME) dos municípios da região das Vertentes/MG visou propiciar ações de capacitação e trocas de experiências das práticas vividas por esses sujeitos, além de contribuir com a implementação do PME na região. Consideramos a formação em serviço uma alternativa viável e eficiente para incrementar a qualidade da formação do educador, às trocas, ao trabalho em equipe, à avaliação processual, enfim, a uma mudança de atitudes pessoais que refletem também em uma mudança de mentalidade. De maneira que os encontros formativos preocuparam -se essencialmente, com a capacitação do educador -aprendiz e contribuíram para o desenvolvimento das competências necessárias para a convivência, a técnica específica e o exercício de uma cidadania ativa e responsável. Através de técnicas específicas e pedagógicas, pretendeu -se desenvolver a competência para trabalhar em equipe, a cap acidade de autonomia, a escuta e o respeito à diversidade de costumes e opiniões. Durante o ano de 2014, foram realizados 11 encontros, sendo que desses, quatro foram destinados a professores comunitários, quatro a monitores e três encontros reuniram todo o público-alvo. Cada um dos encontros teve a duração de uma hora e meia e foram mediados por duas tutoras, tendo, em alguns momentos, a presença de convidados palestrantes sobre temas de interesse do público-alvo. A formação de professores contemplou os professores comunitários e os monitores das escolas participantes do PME na região das Vertentes. Apesar de o convite abranger todas as escolas, percebemos que os representantes de São João del-Rei não tiveram uma presença expressiva. Entretanto, houve considerável participação de professores e monitores das cidades de Barroso, Itutinga e Ritápolis, contando inclusive com participantes que tiveram 100% de presença nos encontros. 15 Os temas abordados durante os encontros foram: gestão de tempo e espaço na educação integral, direitos da criança, ludicidade, diversidade, inclusão, diferenças de aprendizagem, interdisciplinaridade, sexualidade e participação da família na escola. No encontro final houve a atividade de avaliação da prática nas escolas e das própr ias ações de formação, viabilizando uma análise critica e reflexiva, tanto do públi co-alvo, quanto dos propositores, tutores e palestrantes convidados para os trabalhos de formação. Durante os encontros, os agentes refletiram sobre suas dificuldades, tais como a conceituação, gestão e a prática da Educação Integral, a diferenciação entre turno e contraturno, debates sobre o espaço físico da escola, material didático, dúvidas sobre a viabilização da aprendizagem significativa no cotidiano escolar e técnicas para a condução de um trabalho criativo e potencialmente prazeroso durante o processo de aprendizagem dos alunos. Na atividade final de avaliação, os monitores e professores comunitários ressaltaram a importância dos encontros como momentos de aprendizagem e também como forma de aproximação da comunidade com a universidade, abrindo espaços para que o público-alvo sanasse suas dúvidas, apresentasse as atividades realizadas nas escolas, realizasse trocas de experiências e tivesse contato com construções teóricas de diferentes naturezas relacionadas ao tema da Educação Integral , inclusive no âmbito multidisciplinar. Folder dos encontros de formação 16 3.5 – Orientação dos alunos de graduação à execução das oficinas O trabalho de Orientação aos alunos das licenciaturas de Pedagogia, Música, Teatro, Letras, Psicologia, Matemática e Educação Física, foi realizado semanalmente por oito professores supervisores , responsáveis pela condução e orientação de oficinas nos seguintes macro-campos: Acompanhamento Pedagógico. Corporeidade, Esporte e Lazer. Educomunicação e Cultura Digital. Educação Musical. Teatro e Educação. Artes e Educação. Horta Escolar e Educação Ambiental. As oficinas de Acompanhamento Pedagógico foram realizadas num total de oito escolas da região das Vertentes, incluindo os municípios de São João del-Rei (zona urbana e rural), Tiradentes e Barroso. Os alunos acompanhados tiveram entre seis e doze anos, sendo que o critério de seleção dos mesmos, adotado pelas escolas deu-se em função da situação de vulnerabilidade social das famílias e da necessidade dos pais em trabalharem fora do lar. Este macro-campo recebeu a demanda de oficinas para as áreas de Leitura e Escrita, Literatura, Alfabe tização e Letramento, Língua Inglesa e Xadrez. No apoio pedagógico, a leitura e a escrita são habilidades ditas como prioridades a serem trabalhadas com os alunos. No entanto, entendemos que a leitura e a escrita não podem ser um processo mecânico, imposto, descontextualizado e sim um processo social e cultural do sujeito. Desta forma, a leitura e a escrita foram trabalhadas por meio de jogos e brincadeiras, buscando um resgate da motivação dos alunos através do lúdico, visto como possibilidade de expressão , comunicação e elaborações da realidade. 17 E. M. Domingos Horta E. M. Celso Raimundo O campo de Corporeidade, Esporte e Lazer atendeu oito escolas da região, incluindo as cidades de São João del -Rei, Conceição da Barra de Minas e Coronel Xavier Chaves.As oficinas desenvolvidas foram de Atletismo, Xadrez, Esportes, Futebol, Tênis de Mesa e Capoeira. Os monitores utilizaram vídeos e histórias como estratégias pedagógicas, de maneira que o planejamento das oficinas foi realiz ado levando-se em conta o número de alunos de cada turma, seu perfil social, os espaços e materiais disponíveis na escola e as atividades desenvolvidas (ou não) nas aulas de Educação Física do ciclo regular. Os trabalhos realizados nestas oficinas visaram a apropriação crítica da “Cultura Corporal de Movimento”, o que significa levar em consideração o conceito de cultura e a diversidade entre os alunos, bem como os sentidos e significados do mover-se em contextos distintos, em contraste a uma visão biologicista e homogeneizadora dos sujeitos. As oficinas buscaram, portanto, ensinar desde os fundamentos básicos de cada modalidade até suas implicações socioculturais , demonstrando a importância das práticas corporais ao longo da história e os sentidos diversos atribuídos pelo homem nos diferentes contextos tais como: relações de gênero e esportes, influência da mídia no fenômeno esportivo, a atividade física e saúde e a desconstrução de padrões de beleza normatizantes. 18 E. M. Celso Raimundo E. M. Goiabeiras No campo da Educomunicação e Cultura Digital, as oficinas oferecidas foram: Rádio Escolar e Educação Patrimonial , Robótica Educacional, Jornal Escolar e Ambiente de Redes Sociais . Foram cinco as escolas atendidas, incluindo as cidades de Lagoa Dourada, Madre de Deus de Minas e São João del-Rei. As oficinas tiveram como objetivo a estruturação de um núcleo de comunicação com finalidade pedagógica, desenvolvendo habilidades e competências específicas nos participantes, além de promover a interação destes com os demais presentes no contexto escolar e na comunidade. Visaram ainda incentivar a apropriação de temas relevantes ao contexto atual, abordando-os de maneira transversal e interdisciplinar. As atividades foram adequadas à realidade dos das escolas e dos alunos, tanto em relação ao seu espaço físico, equipamentos, quanto em relação ao conhecimento da clientela acerca dos recursos utilizados. Os monitores relatavam semanalmente as atividades oc orridas nas oficinas, apresentando resultados bons e ruins, na busca de aprimorar e transformar de acordo com o contexto atendido, as propostas contidas nos planos de aula. E. M. Pio XII Visita ao Laboratório de Robótica UFSJ 19 Em relação ao campo de Educação Musical, as oficinas foram ministradas em quatros escolas municipais, sendo duas do município de São João del-Rei, uma de Tiradentes e uma de Madre de Deus de Minas. As oficinas foram: banda fanfarra, aulas de percussão e canto coral. Durante as oficinas, conceitos básicos da linguagem musical e acerca dos instrumentos utilizados foram abordados, além de atividades de musicalização improvisação rítmica, batimentos corporais e a utilização de coreografias, no caso da oficina de canto coral. Conteúdos como ritmo, pulsação, dinâmica, fraseado, forma musical, estilos musicais e práticas em conjunto fizeram parte do planejamento das oficinas e tiveram o objetivo de sensibilizar os alunos para a importância da vivência musical, ao desenvolver habilidades rítmicas e de memória, buscando a formação de repertórios a serem executados individualmente e em grupo. Através das orientações pedagógicas semanais os monitores construíram planos de aula que considerassem as especificidades das diferentes oficinas e realidades escolares, discuti ram dificuldades em relação ao aprendizado musical, à participação das crianças e adolescentes e intervenções pedagógicas. Algumas reuniões foram feitas especificamente com professoras comunitárias, a fim de esclarecê -las acerca da didática da educação musical e a questão da “disciplina” durante as oficinas, uma vez que as escolas entendiam a ludicidade própria das atividades musicais como “bagunça” e “indisciplina”. E. M. Domingos Horta E. M. Maria Teresa As atividades do macro-campo de Teatro e Educação tiveram a participação de dois orientadores da UFSJ e foram desenvolvidas num total de 10 escolas, incluindo as cidades de São João del-Rei, Tiradentes e Coronel Xavier Chaves com o objetivo de manter uma atitude de espreita para que o teatral da vida recrudescesse junto ao público -alvo. 20 Para isso, as ferramentas usuais da docência teatral foram uti lizadas pelos monitores, de modo que deixassem sempre uma porosidade para que as propostas, vivências e experiências dos alunos d as escolas fossem contempladas. As atividades realizadas nas escolas envolveram exercícios de concentração, jogos teatrais e dramáticos, contação de histórias, improvisação teatral, exercícios de adaptação de objetos e transposição de uso, experiências cênicas diversas, brincadeiras tradicionais adaptadas e cantigas. Em relação às orientações continuadas neste macro-campo, é preciso frisar que os alunos orientados estavam participando de disciplinas lecionadas pelos seus Orientadores no curso de teatro na UFSJ. Isto f ez com que a orientação tanto fosse enriquecida pelas atividades das disciplinas universitárias como pelas questões encontradas na prática do “Mais Educação das Vertentes”, de forma que estas últimas pudessem ser abordadas nas aulas do curso de graduação em teatro. E. M. Pio XII E. M. Goiabeiras Os trabalhos de Artes e Educação foram realizados em duas escolas: uma localizada em São João del-Rei e outra em Tiradentes. As atividades realizadas foram: oficina de cerâmica com produção de peças, oficina de desenho, experimentações fotográficas e criação de roteiros e storyboard para fotonovela. Estas oficinas visam a autonomia criativa do aluno, de forma que ele é o autor e ator de suas produções artísticas, se reconhece como indivíduo capaz de utilizar a artes para se expressar, elaborar conteúdos/informações diversas e construir suas próprias reflexões sobre a realidade. Desde o início dos trabalhos, a falta de materiais nas escolas para o desenvolvimento adequado das oficinas criou situações de precariedade . Neste sentido, os monitores precisaram adaptar as propostas inicialmente planejadas para o desenvolvimento das atividades práticas. Esta situação culminou na impossibilidade de continuidade do desenvolvimento das oficinas na escola de São João del-Rei. Entretanto, na escola da cidade de Tiradentes, a proposta de valorização dos saberes do público-alvo norteou 21 o desenvolvimento das atividades, propiciando o desenvolvimento do conhecimento contextualizado, tanto em momentos de trabalho individual como na sua produção coletiva, além de promover um espaço profícuo às manifestações artísticas e reflexões sobre a arte e seu processo de criação. E. M. Celso Raimundo E. M. Pio XII Finalmente, em relação ao macro-campo Horta e Educação Ambiental, foram atendidas um total de quatro escolas em São João del Rei, com o objetivo de desenvolver aos educandos uma leitura crítica do ponto de vista ambiental, além do ensino de alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem, aplicando-os no dia-a-dia. Nestes trabalhos, foram realizadas atividades de educação ambiental e a construção de uma horta localizada dentro das escolas atendidas. As atividades de educação ambiental foram realizadas de forma lúdica e incluíram reciclagem de papel da escola, oficina de papel machê, oficina de histórias, ioga e atividades de reconhecimento do ambiente escolar. Já a construção prática da horta foi devidamente articulada aos aspectos didáticos da educação ambiental, ao ensino de ciências e à construção de conhecimentos acerca dos vegetais, na relação alimento saúde, na problematização do lixo no ambiente, reciclagem, consumismo, na socialização, dentre outros aspectos relevantes às vivências teóricas e cotidianas do educandos. 22 E. M. Domingos Horta E. M. Domingos Horta IV –(IN) CONCLUSÕES: OS AVANÇOS E DESAFIOS PRÁTICOS DA EDUCAÇÃO INTEGRAL Durante a realização do projeto, diversas discussões acerca da teoria e prática em Educação Integral foram levantadas pelas dife rentes frentes de ação na região das Vertentes. Os seminários deram espaço para que os monitores e professores discutissem suas diferentes experiências e correlacionassem suas vivências à produção acadêmica sobre Educação Integral, permitindo também momentos de reflexão sobre as ações realizadas , com a possibilidade de sanarem dúvidas e compartilharem suas principais inquietações sobre as ações educativas. As visitas às escolas levantaram dados preli minares sobre a implantação do Programa, o delineamento de sua condução pelos gestores e monitores e também acerca da representação social dos trabalhos e do público-alvo no âmbito escolar. Verificamos que a adesão ao programa é crescente na região e que o critério de escolha dos alunos das escolas para participar das atividades oferecidas muitas vezes foi distorcido em relação aos objetivos da Educação Integral. Assim, alguns gestores e professores indicaram alunos que apresentassem – de acordo com suas próprias concepções – “problemas” de aprendizagem ou de “disciplina”. Desta forma, um dos grandes desafios à execução deste trabalho talvez seja a conscientização dos gestores e professores acerca dos objetivos do Programa, sua epistemologia e métodos de seleção do público-alvo. Este diagnóstico aponta a necessidade de um longo treinamento e esclarecimento dos envolvidos na administração das escolas sobre o “Mais Educação”. As orientações aos monitores de oficinas abriram oportunidades para que o grupo de trabalho refletisse sobre a criação de novos espaços aos alunos de ensino fundamental. A execução do Programa Mais Educação 23 e seu acompanhamento através do Projeto Mais Educação na Região das Vertentes, gerou nas escolas uma necessidade de se apropriarem de outros ambientes e adaptá-los, conformando os objetivos de diversificação de espaços educacionais vislumbrados através dos alicerces teóricos que amparam a ideia de Educação Integral. A apropriação de novos ambientes ger ou, portanto, uma inovação que demanda a todo o tempo a construção de uma nova identidade para a escola fundamental. Dentro desta perspectiva, a Educação Integral tornase o lócus de excelência para lidar com saberes adquiridos através de novas e diferentes experiências no âmbito escolar. Estas pedem uma reestruturação da escola fundamental, não só em relação ao espaço físico, mas que leve em consideração em suas propostas didático -metodológicas o contexto cultural dos alunos, bem como as demandas e as possibilidades da escola para a programação das atividades. Este fenômeno pode ser visualizado durante a execução de todas as oficinas, em momentos nos quais as propostas de intervenção precisaram ser modificadas em função do interesse dos alunos e dos recursos materiais obtidos pelas escolas. Outra questão essencial debatida nas reuniões e observada durante os trabalhos foi a necessidade de se buscar a apropriação crítica dos alunos nas ações educativas, levando -se em consideração suas peculiaridades e os diversos pontos de diversida de cultural e psicossocial. Isto porque em situações nas quais a atividade não se tornou atraente aos alunos, muitos monitores relataram dificuldades em conduzir a tarefa proposta. Nestes casos, a proposta didático-metodológica sustentada foi a associação das atividades com vivências cotidianas do público-alvo, buscando a produção de sentidos no processo educativo. Os alunos foram incentivados a desenvolverem produções originais durante as oficinas, produções que atendessem aos seus interesses e que trouxe ssem como conteúdos, não só os conceitos acadêmicos, mas elementos de suas vidas e de seu cotidiano. Nesse sentido, os monitores buscaram não intervir diretamente na organização e escolha dos elementos para a realização das tarefas, permitindo aos alunos maior apropriação e autonomia ao desenvolvimento de suas atividades. Temas como relações de gênero, corporeidade e educação física, educação ambiental ampliada ao cotidiano, produções artísticas, diferentes influências musicais, jogos e ludicidade, mapeame nto e apropriação do entorno da escola, dentre outros, foram abordados como estratégias de integração entre conteúdos formais e saberes sociais . Por esta via, 24 percebemos na prática que educação não precisa ocorrer no âmbito tradicionalista da opressão e pode efetivamente tornar-se um espaço associado ao lazer, atividades prazerosas e produções criativas e contextualizadas à realidade vigente. A prática e orientação das oficinas, fez com que percebêssemos avanços em relação ao nível das atividades proposta s pelos monitores, à percepção das escolas sobre o Programa e também em relação à aprendizagem e socialização dos alunos envolvidos no projeto. Os monitores, movidos pelo interesse relacionado à Educação Integral, passaram a investir em pesquisas e trabalh os práticos que gerassem maior interesse ao público-alvo e com potencial de aprendizagem reflexiva mais eficiente. Quanto aos alunos, houve relatos de um progressivo envolvimento nas atividades, gerando momentos de maior desenvoltura, interatividade e sociabilidade entre eles. Uma das discussões mais demarcadas durante as reuniões da equipe e visualizadas na prática das oficinas diz respeito ao fato das experiências em Educação Integral demandarem veementemente um esclarecimento à comunidade escolar sobre os objetivos do Programa, para que se possa contribuir à quebra de resistências, representações deturpadas e preconceitos acerca da realização das atividades. Em muitos momentos, percebemos que ainda ocorre a uma separação entre o Programa e as demais a tividades da escola, ou seja, uma fragmentação nas relações entre as atividades realizadas durante turno e contraturno, que incide de forma prejudicial à demanda de visibilidade do aluno como um sujeito integral. Esta fragmentação ocorre tanto em relação aos aspectos espaciais e estruturais, quanto em relação à necessidade de um maior apoio destinado à execução das oficinas , contribuindo para a cristalização do estereótipo de que a Educação Integral é apenas um complemento às atividades escolares, ou seja, uma educação “extraclasse”. Esta situação evidenciou-se também através da inadequada compra de material pelas escolas, realizada sem a consulta dos monitores/oficineiros, despendendo a verba com equipamentos pouco úteis à realização dos trabalhos e deixa ndo faltar materiais sobremaneira importantes. Algumas escolas proibiram o uso de determinados espaços para a execução das atividades e muitas não se preocuparam em fornecer suporte humano ao acompanhamento das crianças durante as oficinas. Em relação à estruturação do Programa, o maior desafio encontrado foi a forma de contratação dos monitores. A ajuda de custo despendida pelo Programa não cria vínculo real com o monitor/oficineiro, gerando alta rotatividade e/ou a contratação de pessoas sem preparo téc nico para a 25 execução das oficinas. A alta rotatividade dificultou a criação de vínculo das crianças e adolescentes para com os monitores e consecutivamente a realização de um trabalho contínuo e articulado nas escolas, gerando evasão e um nível de avanços no processo ensino-aprendizagem abaixo do esperado. Também percebemos que alguns monitores comunitários contratados pelas escolas não tinham formação suficiente para gerir os processos educativos, contribuindo para que os estereótipos fossem perpetuados e afastando ainda mais a chance de uma educação crítica e compromissada com as mudanças contemporâneas . Apesar das dificuldades encontradas nesta primeira etapa de execução do Projeto, percebemos que existe uma demanda premente de continuidade aos trabalhos de extensão, uma vez que as políticas de Educação em Tempo Integral em nossa região ainda se revelam incipientes. Diferentemente de outros métodos de ensino, esta nova política educacional oportuniza atividades que desenvolva m a criança de maneira integral, buscando uma interação profícua entre os conteúdos acadêmicos, a cultura local e a realidade social. As escolas da região das Vertentes estão se conscientizando acerca da importância do desenvolvimento da criatividade, da curiosidade, do questionamento e da proposição de um espaço educativo de autonomia aos alunos do ensino fundamental, para que eles possam transitar por diferentes segmentos teórico-metodológicos, desenvolvendo uma visão crítica da sociedade e tornando-se atuantes perante seus direitos e deveres. Neste contexto, as dificuldades na implementação do projeto Mais Educação não podem ser vistas por nós como obstáculos, mas como desafios a serem refletidos, transpostos e solucionados no cotidiano deste processo de reconstrução da identida de da escola fundamental na Região das Vertentes. 26 REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Educação. Programa Mais Educação. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16690& Itemid=1115 > Acesso em: 20 Nov. 2014. __________. Educação Integral: texto referência para o debate nacional. Brasília: MEC/SECAD, 2009. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 25 Nov. 2014. CAVALLIERE, A. M. Educação integral: uma nova identidade para a escola brasileira? Educação & Sociedade, v. 23, n. 81, p. 247-270, dez. 2002. GABRIEL, Carmen Teresa; CAVALIERE, Ana Maria. Educação integral e currículo integrado – quando dois conceitos se articulam em um programa. 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