UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICA PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Fabíola Pacheco Araujo Orientador: Vilson Sérgio Fevereiro/2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICA PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre – como requisito à conclusão da Pós-Graduação “Lato sensu” – Curso de Orientação Educacional e Pedagógica. Por: Fabíola Pacheco Araújo RESUMO Atualmente, não se encontra a elaboração de planejamentos que visem o desenvolvimento do aluno em sua totalidade. Os planejamentos são vistos, em geral, apenas como preenchimentos de papéis que não levam em consideração a sua real possibilidade de execução e não são realizadas avaliações constantes para que sejam verificados os pontos que devem ser continuados e os que devem ser modificados para atingirem a sua eficiência e, principalmente, a sua eficácia. Sendo assim, o presente estudo monográfico busca enfatizar a importância do planejamento pedagógico na educação infantil, levando em consideração a eficácia do planejamento participativo e a ação conjunta do orientador pedagógico com o professor contribuindo neste processo de planejamento, tendo em vista que este deve contemplar todos os eixos de trabalho desenvolvendo as habilidades do aluno, tendo como foco a sua formação holística. Palavras-chave: Planejamento pedagógico. Planejamento participativo. Orientador pedagógico. Educação infantil. Plano de curso. METODOLOGIA A metodologia utilizada para este trabalho foi a pesquisa bibliográfica, a fim de serem apresentadas opiniões e estudos a respeito do tema que contribuam para a compreensão de que o processo de planejamento é um processo educativo e, por isso, deve ser realizado com responsabilidade e em parceria entre professores e orientadores pedagógicos para que seja um trabalho abrangente e produtivo, tendo sempre em mente a importância de um planejamento e de uma prática que vislumbre a formação integral do aluno. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO I Planejamento Pedagógico e Planejamento Participativo 3 CAPÍTULO II A Atuação do Orientador Pedagógico no Cotidiano Escolar 11 CAPÍTULO III Sugestões para a Construção de um Plano de Curso na Educação Infantil 17 CONCLUSÃO 26 BIBLIOGRAFIA 29 INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho monográfico é salientar a importância da ação conjunta do orientador pedagógico e professores para elaboração de um planejamento pedagógico na educação infantil que esteja comprometido com a formação holística1 dos alunos. A opção por este tema deve-se ao fato de não ser verificada, atualmente, a elaboração de planejamentos que visem o desenvolvimento do aluno em sua totalidade. São vistos, em geral, apenas preenchimentos de papéis que não levam em consideração a sua real possibilidade de execução e não são realizadas avaliações constantes para que sejam verificados os pontos que devem ser continuados e os que devem ser modificados para atingirem a sua eficiência e, principalmente, a sua eficácia. Assim, a relevância deste assunto justifica-se por ser o planejamento pedagógico de suma importância para o desenvolvimento de um trabalho comprometido, que contemple as diversas habilidades que devem ser desenvolvidas em um aluno, principalmente, no aluno de educação infantil que está iniciando sua vida escolar e necessita de uma série de estímulos que ampliem seu crescimento como um todo, em diversas áreas do conhecimento. Desta forma, este estudo, em um primeiro momento, pretende pesquisar o que é planejamento pedagógico e planejamento participativo, tendo em vista a necessidade de uma participação ativa e democrática, que vise, além da técnica, a transformação da realidade numa direção escolhida. 1 Holístico – que dá preferência ao todo ou a um sistema completo, e não à análise, à separação das respectivas partes componentes. Em seguida, propõe-se discutir a importância do trabalho do orientador pedagógico junto aos professores no cotidiano escolar, apresentando suas atribuições e enfatizando o processo de planejamento. E, por fim, objetiva-se sugerir aspectos importantes na construção de um plano de curso na educação infantil que vislumbre a formação holística do aluno, ou seja, priorizando a formação do indivíduo em sua totalidade. CAPÍTULO I PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO E PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO Planejamento não pode ser confundido com uma ficha preenchida formalmente ou com uma lista do que se pretende fazer na sala de aula. Mais do que ser um papel preenchido, ele deve ser uma atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente, envolvendo todas as ações e situações no diaa-dia do seu trabalho pedagógico. VIEIRA (apud MAUÁ JÚNIOR, 2007), em um levantamento detalhado sobre o termo, constatou que: “O Dicionário de Sinônimos, de Fonseca e Roquete, impresso em 1848, não agasalhou o verbo substantivo ou adjetivo derivado de ‘plano’, com o sentido de liso. Na segunda metade deste mesmo século, o romancista e mestre da língua portuguesa, Camilo Castelo Branco (1825-1890), ao escrever o romance ‘Amor de Perdição’, deu origem ao verbo planizar, que jamais vingou. José Maria Latino Coelho (1825-1891), escritor, professor e político português, profundo conhecedor do latim e do grego, também não obteve êxito quando tentou extrair do adjetivo ‘plano’ o verbo planear, mas ofereceu a Castilho a oportunidade de sugerir em seus escritos como sinônimo de planear, o verbo planejar e deste, vai se formar mais tarde, meio século depois, a palavra planejamento. O dicionário didático da língua inglesa, assinado pelo professor Leonel Villandro, deu equivalências ao termo ‘planning’, ingresso nos dicionários dos Estados Unidos da América em 1933 e Inglaterra em 1934, como sendo: ‘planejar, projetar, idear, tencionar, traçar plano, planta, diagrama’. Na 4ª edição do clássico dicionário de Cândido de Figueiredo, impresso em 1925, foram anotados, pela primeira vez, o verbo ‘planificar’ e o substantivo ‘planificação’. Já em 1928, o dicionário enciclopédico luso brasileiro, de Jayme de Séguler, registra os verbos ‘planear’ e ‘planificar’. Em plena metade do século XX, ou seja, em 1949, na 15ª edição do referido Cândido Figueiredo, novos derivados do arcaico ‘plano’ (com sentido de liso, referido há cem anos, 1848, pelo dicionário de Fonseca e Roquete) são lembrados e anotados: planificar e planificável.” (p.19/20) Atualmente, planejar é traçar, delinear, programar, elaborar um roteiro na tentativa de desenvolver conhecimentos, de interação, de experiências múltiplas e significativas para com os alunos. Por isso não é algo que se encontre pronto, como uma receita. Ao contrário, o planejamento é flexível e, como tal, permite ao educador repensar, revisando e buscando novos significados para sua prática pedagógica. Ninguém diria que não é necessário planejar, pois esta ação marca a intencionalidade do processo educativo, e não se pode ficar apenas na intenção, ou melhor, só na imaginação. A intencionalidade traduz-se no traçar, programar, documentar a proposta de trabalho do educador. Documentando o processo, o planejamento é instrumento orientador do trabalho docente. O planejamento pedagógico deve ser um planejamento educativo, concebido, assumido e vivenciado no cotidiano da prática social docente como um processo de reflexão. Segundo SAVIANI (1987): “A palavra reflexão vem do verbo latino 'reflectire' que significa 'voltar atrás'. É, pois um (re)pensar, ou seja, um pensamento em segundo grau. (...) Refletir é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar numa busca constante de significado. É examinar detidamente, prestar atenção, analisar com cuidado. E é isto o filosofar.” (p.23) Entretanto, não é qualquer tipo de reflexão que se pretende e sim algo articulado, crítico e rigoroso. Ainda segundo SAVIANI (1987), para que a reflexão seja considerada filosófica, ela tem de preencher três requisitos básicos, ou seja, ser: • "radical" - o que significa buscar a raiz do problema; • "rigorosa" - na medida em que faz uso do método científico; • "de conjunto" - pois exige visão da totalidade na qual o fenômeno aparece. (p.24) Pode-se, assim, afirmar que o planejamento do ensino é o processo de pensar, de forma "radical", "rigorosa" e "de conjunto", os problemas da educação escolar, no processo ensino-aprendizagem. Consequentemente, planejamento do ensino é algo muito mais amplo e abrange a elaboração, execução e avaliação de planos de ensino. Como afirma GANDIN (1983): “Planejar é: Elaborar – decidir que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação educacional é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final que se pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir essa distância e para contribuir mais para o resultado final estabelecido; Executar – agir em conformidade com o que foi proposto; e Avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das ações, bem como cada um dos documentos deles derivados.” (p.23) O planejamento, nesta perspectiva, é, acima de tudo, uma atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. E ainda segundo GANDIN (1983) “o processo de planejamento é concebido como uma prática que sublinhe a participação, a democracia, a libertação. Então, o planejamento é uma tarefa vital, união entre vida e técnica para o bem-estar do homem e da sociedade”. (p.18) Para que ocorra esta democracia citada por Gandin, é necessário que haja a participação de toda a equipe escolar no planejamento pedagógico, desta forma, tem-se o planejamento participativo que não dispensa uma coordenação, a qual vai exercer um papel de liderança que é o de articular e catalisar os diferentes interesses e potenciais, no sentido de que cada parte envolvida tenha uma forma de participação nas decisões e se responsabilize pelos resultados. A liderança é incentivadora, dinamizadora, facilitadora do processo, tendo como principal instrumento a informação e a formação nos mais diferentes níveis. O Planejamento participativo permite coordenar ideias, ações, perspectivas e compartilhar preocupações e utopias, em vez de priorizar a conformação de interesses formais e estáticos, tendo em vista ser este um procedimento altamente democrático, um processo que evolui, que avança. Não se pode dizer que haja um "modelo" para isso. De acordo com as características próprias de cada coletivo, encontrar-se-á o mais adequado. Em todo caso, deve contribuir para maior eficácia, clareza e profundidade no que se faz. Para que o planejamento pedagógico aconteça de forma participativa e satisfatória, deve-se ter em mente que todos os setores da escola precisam ser planejados. Deve haver o planejamento da direção, da supervisão, da orientação, dos professores, e até mesmo dos alunos, desta forma todos os serviços existentes na escola devem ser planejados para que sejam executados de forma eficiente e eficaz. Tendo em vista o planejamento do professor, ele é de suma importância para que professores e alunos desenvolvam uma ação eficaz de ensino e aprendizagem. Nesta direção, MENEGOLLA (2009) afirma que: “Se o professor planejar o seu ensino é para ele e para seus alunos, em primeiro lugar. E este plano passa a ser um instrumento de uso pessoal entre professores e alunos. E só em segundo lugar o plano poderá servir a outros setores da escola, para cumprir certas obrigações e exigências administrativas ou burocráticas. Mas o importante é que professores e alunos façam o seu planejamento, a fim de que possam trabalhar eficazmente na sala de aula. (...) Dessa forma, quem deveria exigir dos professores o planejamento são os alunos.” (p.45) Desta forma, o planejamento ocorre para que seja montado um plano que seja utilizado como um roteiro de uso diário na sala de aula; que seja um guia de trabalho; um manual de uso constante para que o professor não se perca nos seus objetivos, na sua linha de pensamento e de ação. Por isso, ainda segundo MENEGOLLA (2009): “Planejar para depois não trabalhar com o plano, é uma incoerência pedagógica. (...) Pois o que dizer de alguém que faz uma planta para construir uma casa, toda sofisticada, mas que, durante a construção, tal planta não é consultada, nem examinada pelos construtores e trabalhadores? Em vez de uma mansão poder-se-á ter um amontoado de tijolos e pedras fadados ao desmoronamento.” (p.46) Mas para que o plano seja realizado, é necessário que este seja pensado de acordo com os objetivos dos alunos, do professor e com as possibilidades de executá-lo numa determinada turma, considerando a sua realidade. Sendo assim, demonstra-se inviável planejar uma mesma disciplina, de uma forma única, para várias turmas de uma mesma série, pois as turmas não são uniformes, homogêneas e idênticas, pelo contrário, cada turma apresenta uma realidade distinta, com suas grandes diversidades. Nesta perspectiva, cada turma deve participar do planejamento de suas aulas juntamente com professor, para que o aluno seja, de fato, um instrumento orientador para o educador. Então, o plano deve ser muito bem explícito e claro para que os alunos possam se orientar através dele. E necessitam tê-lo em mãos para manusearem e consultarem aprendendo assim, a trabalhar seguindo um planejamento que precisa ser útil e funcional. Até mesmo em turmas de educação infantil torna-se necessário e muito interessante que habitualmente os alunos participem do planejamento diário, pois assim, eles terão consciência do que será proposto no dia e poderão avaliar ao término do mesmo se todas as atividades planejadas foram executadas e de que maneira foram realizadas, podendo opinar e dar sugestões do que pode ser melhorado e o que pode ser mantido da mesma forma em sua rotina diária. É extremamente necessário que o supervisor ou coordenador pedagógico tenha a clareza a respeito da importância do planejamento participativo e queira acompanhar e ajudar o educador no desenvolvimento deste planejamento e o auxilie a colocá-lo em prática, pois desta forma, havendo cumplicidade entre esses profissionais haverá maior segurança para que esta linha de trabalho pedagógico tenha êxito. As modificações que este tipo de planejamento provoca são muito significativas e modificam a cultura e o senso comum existente entre os professores, os alunos e outras pessoas que tenham contato com a escola. Porém, essa cultura não é modificada de uma hora para outra, necessitando de tempo para que as práticas há muitos anos utilizadas sejam transformadas. Para que tudo isto ocorra, é preciso que estejam bastante claros os objetivos que se pretende atingir, que haja conhecimento do grupo com que se trabalha, que seja construída uma relação afetiva sincera entre os integrantes deste grupo e que se domine e persista na metodologia proposta no planejamento. É importante também que se respeite a liberdade das pessoas, pois os professores não podem ser obrigados a mudar por uma exigência da coordenação pedagógica. Essa mudança deve ser assumida como uma necessidade para seu trabalho e realização pessoal. Concomitantemente, o orientador pedagógico precisa propiciar aos professores instrumentos para que estes possam assumir o projeto político-pedagógico que é construído em conjunto com toda comunidade escolar. Para que haja maior credibilidade ao planejamento pedagógico, inclusive por parte dos responsáveis pelos alunos, é preciso que haja nos comunicados e circulares enviados para eles justificativas referentes ao plano global da escola. Com esta presença constante nas comunicações, ocorre a contribuição para que todos percebam que o plano não foi escrito para ficar no papel, mas está sendo vivenciado nas atividades proposta pela escola. Para contribuir com nosso entendimento sobre o assunto, os artigos 12, 13 e 14 da Lei 9.394/96 deixam transparecer, no texto, circunstâncias alicerçadas em atividades de planejamento, primordialmente: Artigo 12 – Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; (...) Artigo 13 – Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; (...) Artigo 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Tendo em vista que o planejamento não deve ser realizado somente pelo professor e que o orientador pedagógico deve participar ativamente deste processo, GANDIN (1995) descreve que o supervisor pedagógico precisa “incentivar os progressos que forem sendo conseguidos. Ficar atento pois, às vezes, quando professores pedem sugestões, na realidade, necessitam confirmações pelo avanço que conseguiram e não sugestão para aspectos que podem ser melhorados.” (p.108) Assim, serão apresentadas no próximo capítulo as atribuições do orientador pedagógico, enfatizando o processo de planejamento e discutindo a importância do trabalho deste profissional junto aos professores no cotidiano escolar. CAPÍTULO II A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR PEDAGÓGICO NO COTIDIANO ESCOLAR "Coordenação Pedagógica é assim: quando tudo vai bem, ninguém lembra que existe; quando algo vai mal, dizem que não existe; quando faz cobranças, acha-se que não é preciso que exista; porém, quando realmente não existe, todos concordam que deveria existir.” (Autor desconhecido) O orientador pedagógico tem uma atuação muito ampla dentro da escola e sua presença é fundamental na composição da equipe pedagógica da instituição, além de sua imagem estar se firmando positivamente cada vez mais. Antigamente, este profissional não possuía um campo de atuação e sua função era apenas ser fiscal, supervisionando e checando tudo que ocorria nas salas de aula, inclusive era chamado de supervisor educacional, desta forma não era bem visto pelos professores. Ao longo dos anos, diante de várias conquistas, o papel do orientador pedagógico passou a ser visto como o principal fator para o sucesso e essencial para o crescimento do ambiente educacional. Ele precisa ter visão, enxergar além do horizonte. Primeiramente, esse profissional é responsável pelo desenvolvimento de um Projeto Político Pedagógico e por colocar essa proposta em ação, não as mantendo resumidas apenas em um papel. Para a elaboração desse P.P.P., o orientador deve contar com a participação de toda a comunidade escolar, ou seja, docentes, discentes, funcionários, responsáveis e direção, com a intenção de solucionar problemas e tendo como objetivo colocar em prática a proposta elaborada, contribuindo assim para o desenvolvimento de todos. Como afirma ORSOLON (2000): “O coordenador em sua atuação na escola deve ser um agente transformador e agente formador, ou seja, sua atuação vai muito além do convívio e relacionamento com os professores, significa ser formador, ouvinte de opiniões, planejando e pondo em execução o dever da escola que é exercer um papel social; e transformador quando está disposto a inovar e enfrentar desafios capazes de desencadear um processo de mudança. Assim, as mudanças são significativas para toda a comunidade escolar.” (p.21) Outra função do orientador pedagógico é de mediador, desta maneira ele vai facilitar o avanço do professor quanto à elaboração da proposta pedagógica e seu planejamento. Para isto, é necessário que ele tenha um olhar atento a perceber as dificuldades do momento e um olhar amplo que venha a projetar os objetivos e anseios que deseja alcançar. Ele também precisa saber ouvir antes de julgar, diagnosticar, apreciar e avaliar. Tanto o olhar atento, como o ouvir ativo são de extrema importância para que o orientador desenvolva um excelente trabalho junto a equipe de professores pois, agindo assim é mais fácil para ele diagnosticar as necessidades existentes. Nesta direção FERREIRA (1999) acredita que: “O trabalho dos profissionais da educação em especial da supervisão educacional é traduzir o novo processo pedagógico em curso na sociedade mundial, elucidar a quem ele serve, explicitar suas contradições e, com base nas condições concretas dadas, promover necessárias articulações para construir alternativas que ponham a educação a serviço do desenvolvimento de relações verdadeiramente democráticas.” (p.34) Para desenvolver o trabalho idealizado por Ferreira, o orientador pedagógico precisa ser um constante pesquisador, é necessário que ele antecipe conhecimentos para o grupo de professores, lendo muito, não só sobre conteúdos específicos, mas também livros e diferentes jornais e revistas. Pois além de elaborar e aplicar o projeto da escola e dar orientação em questões pedagógicas, ele deve, principalmente, atuar na formação continuada dos professores. Este orientador precisa fazer a adaptação da teoria para a prática escolar, refletir sobre o trabalho em sala de aula, estudar e usar as teorias para fundamentar o fazer e o pensar dos docentes. Para desenvolver esta função de forma eficaz é esperado que o orientador apresente algumas características, como: inovador, integrador, cooperativo, facilitador, criativo, interessado, colaborador, seguro, incentivador, atencioso, atualizado, com conhecimento, amigo, ética, objetividade, interatividade e respeito, dentre outras. A orientação pedagógica torna-se, portanto, uma ferramenta de atuação e tem como princípio o fazer, o agir, o movimentar, o envolver-se, o modificar, logo CUNHA (2006) apresenta o seguinte: “É imperioso que o profissional da educação contribua decisiva e decididamente para melhor fluir os projetos propostos para a resolução de problemas e enfrentamentos de desafios na escola.” (p.271) Outra característica que deve ser desenvolvida pelo orientador pedagógico é a liderança, tendo em vista que toda instituição, necessariamente, precisa ter um líder que a impulsione dando novas sugestões e novas expectativas para o grupo. No contexto escolar, o orientador é considerado um dos líderes de extrema eficácia, pois o mesmo está ligado diretamente com os demais componentes da escola. Entretanto, para ser um líder, não basta apenas ter vontade, mas também é necessário o saber ser líder, conhecer e entender os liderados. Um grupo é resultado de seu líder; o tipo de liderança é extremamente decisivo nos resultados finais de qualquer atividade, mas sem perder a objetividade do processo. Assim, o bom orientador não é aquele que apenas delega atividades, ao contrário esse seria o menos indicado, na atualidade percebemos que o bom orientador deve ser dinâmico em sua práxis. E o caminho, para que este profissional se torne um bom líder educacional, não é fácil, mas tão pouco impossível basta querer e ter determinação para prosseguir, liderança não significa observar de longe, entretanto estar inteirado, trabalhando junto, participando de todo o processo. Cabe também, ao orientador estar sintonizado com as necessidades da comunidade e propor projetos que atendam aos anseios de todos que almejam um futuro melhor. Muita coisa pode ser feita no contexto escolar, pode-se desenvolver atividades que aproximem a comunidade da escola, da família e dos objetivos para a qual ela existe. A escola como espaço social deve ter esta característica de servir a todos os que a procuram, bem como envolver outros segmentos da sociedade em suas atividades. Desta forma, somente sendo um profissional atento a estas características e as necessidades de todos os envolvidos, além de ter um forte senso de responsabilidade e de iniciativa é que se consegue ser um profissional de sucesso. Por tudo isto, a orientação pedagógica é entendida como um processo dinâmico, contínuo e sistemático, estando integrada em todo o currículo escolar sempre encarando o aluno como um ser global que deve desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os aspectos: intelectual, físico, social, moral, estético, político, educacional e vocacional. Para que todo este trabalho seja considerado um sucesso é necessário que durante todo o processo seja feito, avaliado e refeito o planejamento. Este planejamento engloba a organização do plano de ação, responsabilidade do orientador pedagógico em parceria com participantes da comunidade escolar e o plano de ensino, também chamado de plano de aulas, responsabilidade do professor em parceria com o orientador pedagógico. Neste aspecto, o plano de trabalho do orientador pedagógico deve manter a organização e a estruturação da ação pedagógica, pressupondo-se que este profissional elabore um plano de trabalho, prevendo as ações a serem levadas à frente; o período em que cada uma delas deverá se realizar; os recursos necessários para esta realização; e os responsáveis por cada atividade. O plano de trabalho, no entanto, não é definitivo, está aberto a mudanças, devendo ser um instrumento orientador de suas ações. Este plano deve sofrer avaliações durante todo o processo para que sejam feitas as mudanças necessárias para sua eficácia, dependo da realidade de cada cotidiano escolar. Torna-se indispensável destacar que a produção deste plano de trabalho deve ser compartilhada, discutida e vivenciada com todos os setores escolares. Pois, cada vez que o orientador pedagógico compartilha as experiências do seu trabalho, ele agrega informações e comportamentos grupais que certamente poderão ser utilizados em outras situações educativas. Em relação à construção do plano de ensino, ou plano de aulas, do professor, essa elaboração pode e deve ser compartilhada com o orientador pedagógico, através de discussões e sugestões, para que haja uma visão mais ampla dos conteúdos que serão desenvolvidos e das habilidades a serem construídas ou que necessitam de mais intervenções junto aos alunos, de maneira a atingir os objetivos propostos. Com isso, retomamos a importância do planejamento participativo, abordado no capítulo anterior deste trabalho, pois desta forma estabelecem-se conexões necessárias ao bom andamento do trabalho na escola, ao se considerar o processo de ensino e de aprendizagem cooperativo e transformador. Assim, o orientador pedagógico deverá despertar nos professores o desejo de mudar posturas tradicionais, de aprofundar seus conhecimentos e de refletir sobre novas alternativas para o encaminhamento de suas práticas. Enfim, o orientador pedagógico deve executar no âmbito do sistema de ensino ou na escola as funções de planejamento, organização, acompanhamento e avaliação das atividades pedagógicas, assim como participar da elaboração da proposta pedagógica da escola, atuando como articulador, formador e transformador das práticas escolares. A responsabilidade formadora está pautada na formação continuada dos profissionais da escola, devendo ainda estar aberta ao saber adquirido no diaa-dia, que deve ser refletido e incorporado ao desenvolvimento pedagógico dos educadores. E para que todas essas funções sejam realizadas é preciso que o orientador pedagógico entenda que: “Lidar com planejamento, com desenvolvimento profissional e a formação do educador, com as relações sociais e interpessoais existentes na escola é lidar com a complexidade do humano, com a formação de um ser humano que pode ser sujeito transformação de si e da realidade, realizando, ele mesmo, resultado de sua intencionalidade.” (PLACCO, 2003, p.59). Desta forma, será garantida a eficiência e eficácia de um trabalho proposto e realizado com êxito. Retomando a importância da ação conjunta do orientador pedagógico e do professor no planejamento escolar e no plano de ensino ou plano de aula, será proposta para o próximo capítulo a abordagem de sugestões para construção de um plano de curso na educação infantil, considerando aspectos relevantes que vislumbrem a formação holística (integral) dos alunos. CAPÍTULO III SUGESTÕES PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PLANO DE CURSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Apesar de os educadores em geral utilizarem, no cotidiano escolar, os termos "planejamento" e "plano" como sinônimos, estes não o são. É preciso, portanto, apontar as diferenças entre os dois conceitos, bem como a relação entre eles. Enquanto o planejamento é o processo que abrange "a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre os educadores e entre os próprios educandos" (FUSARI, 1989, p.10), o plano é um momento de documentação do processo educacional escolar como um todo. É, portanto, um documento elaborado pelo docente, contendo suas propostas de trabalho, numa área e/ou disciplina específica. Este documento é utilizado para o registro de decisões do tipo: o que se pensa fazer, como, quando, com que e com quem fazer. E para que exista um plano é necessária a discussão sobre seus fins e seus objetivos, culminando com a definição dos mesmos, pois somente desse modo é que se podem responder as questões indicadas acima. Um plano é considerado um guia, tendo a função de orientar a prática, partindo da própria prática e, por isso, não pode ser um documento rígido e absoluto. Ele é a formalização dos diferentes momentos do processo de planejar que envolve desafios e contradições. Existem diversos tipos de planos, porém no âmbito escolar encontrarmos o plano escolar, o plano de curso e o plano de ensino. O primeiro é onde são registrados os resultados do planejamento da educação escolar. "É o documento mais global; expressa orientações gerais que sintetizam, de um lado, as ligações do projeto pedagógico da escola com os planos de ensino propriamente ditos" (LIBÂNEO, 2001, p.225). O plano de curso é a organização de um conjunto de matérias que vão ser ensinadas e desenvolvidas em uma instituição educacional, durante o período de duração de um curso. Segundo VASCONCELLOS (1995, p.117), esse tipo de plano é a "sistematização da proposta geral de trabalho do professor naquela determinada disciplina ou área de estudo, numa dada realidade". E o plano de ensino "é o plano de disciplinas, de unidades e experiências propostas pela escola, professores, alunos ou pela comunidade". (SANT'ANNA, 1993, p.49). Localiza-se no nível bem mais específico e concreto em relação aos outros planos, pois define e operacionaliza toda a ação escolar existente no plano curricular da escola. O plano de ensino deve ser percebido como um instrumento orientador do trabalho docente, tendo-se a certeza e a clareza de que a competência pedagógico-política do educador escolar deve ser mais abrangente do que aquilo que está registrado no seu plano. A ação consciente, competente e crítica do educador é que transforma a realidade, a partir das reflexões vivenciadas no planejamento e, consequentemente, do que foi proposto no plano de ensino. A ausência de um processo de planejamento do ensino nas escolas, aliada às demais dificuldades enfrentadas pelos docentes no exercício do seu trabalho, tem levado a uma contínua improvisação pedagógica nas aulas. Em outras palavras, aquilo que deveria ser uma prática eventual acaba sendo uma "regra", prejudicando, assim, a aprendizagem dos alunos e o próprio trabalho escolar como um todo. É importante, portanto, que os docentes discutam a questão da "forma" e do "conteúdo" no processo de planejamento e elaboração de planos de ensino, buscando alternativas para superar as dicotomias entre fazer e pensar, teoria e prática, tão presentes no cotidiano do trabalho dos professores. Retomando, porém, ao plano de curso na educação infantil, assunto principal do presente capítulo, deve-se ressaltar que este plano é anual, não dispondo, portanto, de uma divisão bimestral dos conteúdos, visto tratar-se, como o próprio nome diz, de um plano, e não de um planejamento. Dessa forma, ocorre que o professor, após o período de conhecimento de seu grupo de alunos, o que compreende os diferentes procedimentos diagnósticos, precisa estudar o plano e as orientações didáticas que o precedem, a fim de construir, com autonomia, o melhor percurso pedagógico junto a seus alunos, ou seja, elaborar o planejamento propriamente dito. O Plano de Curso da Educação Infantil deve apresentar a seguinte estrutura: • Objetivos gerais da Educação Infantil que apontam o que se espera que a criança domine em longo prazo; • Objetivos específicos de cada eixo de trabalho; • Conteúdos dos eixos de trabalho, distribuídos em três categorias: - Conteúdos Conceituais: que dizem respeito ao conhecimento de conceitos, fatos e princípios; - Conteúdos Procedimentais: referem-se ao saber fazer; - Conteúdos Atitudinais: que estão associados a valores, atitudes e normas. O trabalho na Educação Infantil está centralizado em conteúdos procedimentais devido às especificidades da faixa etária; portanto, depende muito da postura e das situações didáticas utilizadas pelo professor para que as competências infantis sejam estimuladas e as habilidades desenvolvidas. Um elemento que merece destaque é o aspecto lúdico, tão presente e necessário no universo infantil. Uma prática pedagógica que muito favorece o referido desenvolvimento é o brincar, pois se trata de um instrumento pedagógico que atende as necessidades tanto de aprendizagem como de ensino. Como apresentam as ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: “O brincar é o principal modo de expressão da infância. É uma linguagem, por excelência, para a criança aprender, se desenvolver, explorar o mundo, ampliar a percepção sobre ele e sobre si mesma, organizar seu pensamento, trabalhar suas emoções, sua capacidade de iniciativa e de criar e se apropriar da cultura. Assim, garantir na Educação Infantil um espaço de brincar é assegurar uma educação numa perspectiva criadora e que respeita a criança e seus modos de estar no mundo.” (p.17) Cabe ainda colocar que, em razão dos conteúdos conceituais, deve-se manter a divisão por eixos de trabalho, o que, no entanto, não invalida a abordagem interdisciplinar do trabalho em sala de aula. Resguardadas as especificidades de cada área do conhecimento, o que, em sua maioria, constrói-se por meio dos conteúdos conceituais, é por intermédio da aprendizagem dos outros conteúdos – os procedimentais e os atitudinais – que a interdisciplinaridade ocorre. Certos procedimentos também se aplicam com exclusividade a um eixo de trabalho, porém, em sua maioria, assim como as atitudes a serem desenvolvidas pelas crianças, esses perpassam todas as áreas do conhecimento, em maior ou menor escala, durante certa etapa de sua aprendizagem. É nesse sentido, portanto, que o professor precisa orientar o seu planejamento, buscando garantir a construção dos saberes próprios de cada eixo de trabalho, concomitantemente à dos que se apreendem de uma forma transversal. Para que essa estrutura do plano de curso seja mais bem compreendida, deve-se recorrer ao REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL, onde se destaca os objetivos gerais da educação infantil afirmando que: “A prática da educação infantil deve se organizar de modo que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades: • desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; • descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bemestar; • estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; • estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; • observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação; • brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades; • utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva; • conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade.” (p.63) Tendo em vista os objetivos específicos para a educação infantil, o citado Referencial apresenta que: “Desses objetivos específicos decorrem os conteúdos que possibilitam concretizar as intenções educativas. O tratamento didático que busca garantir a coerência entre objetivos e conteúdos se explicita por meio das orientações didáticas. Essa estrutura se apoia em uma organização por idades — crianças de zero a três anos e crianças de quatro a seis anos — e se concretiza em dois âmbitos de experiências — Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo — que são constituídos pelos seguintes eixos de trabalho: Identidade e autonomia, Movimento, Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e sociedade, e Matemática.” (p.43) A construção da identidade e autonomia refere-se ao progressivo conhecimento que as crianças vão adquirindo de si mesmas, a auto-imagem que através deste conhecimento se vai configurando e à capacidade para utilizar recursos pessoais de que disponha a cada momento. É necessário, portanto, criar um ambiente conhecido e seguro para elas, no qual todas as pessoas são chamadas pelos nomes e pouco a pouco se tornam referências. O trabalho com o movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo um reflexo acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para ampliação da cultura corporal. As artes visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gravetos, pedras...), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das artes visuais para expressar experiências sensíveis. As crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas experiências, construindo significações a respeito do fazer artístico. A música é a linguagem que se traduz em forma sonora capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música no contexto da educação infantil é um excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação Infantil, dada sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento. O eixo de trabalho denominado natureza e sociedade reúne temas pertinentes ao mundo social e natural. A intenção é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo em que são respeitadas as especificidades das fontes, abordagens e enfoques advindos dos diferentes campos das ciências humanas e naturais. Fazer matemática na Educação Infantil é expor ideias próprias, escutar as dos outros, formular e comunicar procedimentos de resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar validar seu ponto de vista, antecipar resultado de experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas, contribuindo para formação de cidadãos autônomos e capazes de pensar criticamente. No que diz respeito aos conteúdos dos eixos de trabalho, o Referencial Curricular coloca que: “Os conteúdos conceituais referem-se à construção ativa das capacidades para operar com símbolos, idéias, imagens e representações que permitem atribuir sentido à realidade. Desde os conceitos mais simples até os mais complexos, a aprendizagem se dá por meio de um processo de constantes idas e vindas, avanços e recuos nos quais as crianças constroem idéias provisórias, ampliam-nas e modificam-nas, aproximando-se gradualmente de conceitualizações cada vez mais precisas. Os conteúdos procedimentais referem-se ao saber fazer. A aprendizagem de procedimentos está diretamente relacionada à possibilidade de a criança construir instrumentos e estabelecer caminhos que lhes possibilitem a realização de suas ações. Longe de ser mecânica e destituída de sentido, a aprendizagem de procedimentos constitui-se em um importante componente para o desenvolvimento das crianças, pois se relaciona a um percurso de tomada de decisões. Desenvolver procedimentos significa apropriar-se de ‘ferramentas’ da cultura humana necessárias para viver. Os conteúdos atitudinais tratam dos valores, das normas e das atitudes. Conceber valores, normas e atitudes como conteúdos implica torná-los explícitos e compreendê-los como passíveis de serem aprendidos e planejados. As instituições educativas têm uma função básica de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os valores impregnam toda a prática educativa e são aprendidos pelas crianças, ainda que não sejam considerados como conteúdos a serem trabalhados explicitamente, isto é, ainda que não sejam trabalhados de forma consciente e intencional. A aprendizagem de conteúdos deste tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam presentes desde as relações entre as pessoas até a seleção dos conteúdos, passando pela própria forma de organização da instituição. A falta de coerência entre o discurso e a prática é um dos fatores que promove o fracasso do trabalho com os valores. Nesse sentido, dar o exemplo evidencia que é possível agir de acordo com valores determinados. Do contrário, os valores tornam-se vazios de sentido e aproximam-se mais de uma utopia não realizável do que de uma realidade possível.” (p.50-51) É importante ressaltar que, na educação infantil, todos os conhecimentos trabalhados com as crianças podem ser trabalhados ao longo da EI. No entanto, é imprescindível que o nível de complexidade das investigações, brincadeiras, discussões, conversas e atividades acompanhem o desenvolvimento, crescimento, demanda e interesses das crianças. Sendo que, considerando que a educação tem por função criar condições para o desenvolvimento integral de todas as crianças e que estas desenvolvem suas capacidades de maneira heterogênea, a escola precisa propor-se a um trabalho baseado nas diferenças individuais e na consideração das peculiaridades das crianças na faixa etária atendida pela Educação Infantil. Enfim, essas são algumas sugestões de aspectos importantes para a construção de um plano de curso na educação infantil que vislumbre a formação holística do aluno, não esquecendo as diferenças individuais de cada criança e suas peculiaridades. E todo este processo será mais bem elaborado se houver uma ação conjunta do professor com o orientador pedagógico, visto que as experiências de cada um e as variadas visões sobre os temas em questão enriquecem a elaboração de um plano e contribuem para que o planejamento do mesmo seja realizado de forma a facilitar que a prática seja mais eficaz e eficiente, contribuindo para que o processo ensino-aprendizagem perpasse pelos diversos eixos da educação e realize o que se propõe. CONCLUSÃO O presente trabalho buscou contribuir para a verificação da importância da ação conjunta do orientador pedagógico e professores para a elaboração de um planejamento pedagógico na educação infantil que esteja comprometido com a formação holística dos alunos. Desta forma, procurou-se neste estudo monográfico apresentar em que consiste um planejamento pedagógico, levando em consideração ser este um elemento fundamental de toda prática pedagógica bem sucedida. A todo instante, o ser humano planeja suas ações, suas decisões, seu trabalho, sua vida. Com o exercício docente não é diferente, as boas práticas em sala de aula mostram-se eficientes e eficazes no cenário educacional justamente porque foram planejadas, a partir de uma postura reflexiva sobre a prática a ser empreendida. Foi mostrada também a relevância do planejamento participativo, visto que é com a participação de toda a comunidade escolar que se pode realizar um planejamento que contemple todos os eixos de trabalho que precisam ser desenvolvidos com os alunos, pois cada membro desta comunidade tem uma visão e uma participação diferente nela e pode, desta forma, contribuir bastante para este processo. A partir desta consciência da eficácia do planejamento participativo, buscou-se definir a atuação do orientador pedagógico no cotidiano escolar, tendo em vista ser esta atuação bastante ampla e fundamental na constituição da equipe pedagógica. Sendo assim, esse profissional além da responsabilidade de desenvolver o Projeto Político Pedagógico da escola, precisa ser o mediador junto ao professor para que seu planejamento esteja de acordo com o desenvolvimento do PPP, e também contribuir para a elaboração do plano de ensino do professor, através de adaptações entre a teoria e a prática. Neste sentido, pensando na importância da construção de um plano de curso na educação infantil que contemple todas as áreas de conhecimento da criança, foram propostas sugestões para a construção deste plano, apresentando as diferenças entre planejamento e plano e a relação entre eles para que desta forma, sendo bem entendido o assunto haja uma maior facilidade de elaborá-los e colocá-los em prática. Pode-se concluir com este trabalho que é a partir do planejamento que o professor, o orientador, o coordenador, o educador podem pensar em sua atuação e possibilitar ao aluno um resultado eficaz e eficiente, e que esse planejamento deve ser realizado também na educação infantil e precisa ser entendido como o primeiro passo do processo ensino-aprendizagem. Isto deve ocorrer, pois ao pensarmos na educação infantil, percebe-se o quão importante é uma concepção onde a criança possa ser percebida como um sujeito em plena construção pessoal e social, e que precisa ser respeitado em cada época de sua vida. E ao professor desta fase tão significativa cabe o despertar deste processo educativo, onde a escola atual necessita buscar uma proposta recriadora e transgressora para uma escolarização que proporciona desvincular-se de uma visão tradicional, tecnicista e descontextualizada. Quando se pensa e se percebe a necessidade de mudar o planejar, entende-se a real dimensão do grau de complexidade desta transformação, bem como, a importância desta conscientização. As ideias se enraízam a partir da tentativa de colocá-las em prática, se ganha clareza à medida que se faz a mudança e se reflete sobre isso, coletiva e criticamente. Portanto, afirma-se que repensar o planejamento na educação infantil implica sanar as lacunas existentes entre o planejar e a prática efetiva do docente. Significa reimaginar e recriar as práticas pedagógicas aliadas às teorias educacionais numa convergência de significados. E o orientador pedagógico tem um papel bastante significativo neste planejamento, e não deve deixar apenas nas mãos do professor esta responsabilidade. Enfim, penso que a elaboração de planejamentos que visem o desenvolvimento do aluno em sua totalidade seja de suma importância para que a educação cumpra o seu papel formador, transformando o educando, desde a educação infantil, em cidadãos conscientes que cumpram seus deveres e conheçam seus direitos para que desta forma possam alçar grandes voos e que contribuam para a existência de um país mais igualitário e justo. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 dez. 1996. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. CUNHA, Aldeneia S. da; OLIVEIRA, Ana Cecília de; ARAÚJO, Leina A. (Org). A supervisão no contexto escolar: reflexões pedagógicas. Manaus, UNINORTE, 2006. FERREIRA, N. S. C. (org.). Supervisão educacional. Para uma escola de qualidade: da formação a ação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. 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