COMPORTAMENTO DA PRODUÇÃO DE LEITE E EXPORTAÇÃO DE
LÁCTEOS DO PARANÁ ENTRE 1996 E 2006
Área: Ciências Econômicas
Alessandra Bragantine Tessaro
Pesquisadora Sênior do Curso de Economia da UNIOESTE, Rua Universitária, 2069 - CEP:
85.819-110, Jardim Universitário, Cascavel-PR. E-mail: [email protected]
Eliziane Fregolin Torres
Graduanda em Economia na UNIOESTE, Rua Universitária, 2069 - CEP: 85.819-110, Jardim
Universitário, Cascavel-PR. E-mail: [email protected]
Ronaldo Bulhões
Professor do Curso de Economia da UNIOESTE/Cascavel, membro do Grupo de Pesquisa em
Economia Aplicada (GPEA). Endereço: Rua Universitária, 2069 - CEP: 85.819-110, Jardim
Universitário, Cascavel-PR. E-mail: [email protected]
Resumo
O presente trabalho analisa as transformações ocorridas na atividade leiteira no que se refere à
produção de leite e a participação no mercado externo de lácteos, após a desregulamentação
do setor ocorrida no Brasil em 1990. O trabalho privilegia a análise do estado do Paraná e da
região Oeste paranaense através de análise descritiva, contando com o apoio de dados
fornecidos pelo IBGE, MDCI/SECEX e CEPEA. Conclui-se que após a desregulação do setor
houve um aumento expressivo da produção de leite no Brasil e nas principais regiões
produtoras. Além disso, o Brasil passou de importador a exportador de produtos lácteos. A
exemplo do Brasil, o estado do Paraná equilibrou sua balança comercial de lácteos, bem
como, conquistou o segundo lugar na produção de leite do país. Entre as principais regiões
produtoras de leite do Paraná destaca-se a região Oeste em primeiro lugar com 29,0% na
produção estadual. Os principais municípios produtores de leite na região Oeste do Paraná são
Marechal Cândido Rondon, Toledo, Santa Helena e Cascavel.
Palavras-chave: Leite; Produção; Oeste do Paraná.
1. INTRODUÇÃO
O leite é um dos alimentos mais importantes na dieta da população. Frente a este fato
nota-se a relevância deste segmento em todo o mudo. No Brasil, a produção de leite é
praticada em todo território e tem grande representatividade no valor da produção
agropecuária nacional.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
O mercado do leite brasileiro foi marcado por forte intervenção do governo federal,
que mantinha tabelado os preços do leite desde 1946 e permaneceu dessa forma por 45 anos.
A partir de 1990 a cadeia agroindustrial do leite sofreu várias mudanças devido às
transformações que ocorreram no cenário nacional, como a abertura comercial, a
desregulamentação do mercado do leite e a estabilização da economia (WILKINSON, 1993).
O fim do controle estatal sobre os preços do leite proporcionou um ambiente de
competitividade acirrada entre as empresas, o que contribuiu para o lançamento de novos
produtos com melhor qualidade (JANK e GALAN, 1998). Segundo os mesmo autores, o
primeiro efeito da estabilização da economia foi o aumento do consumo por derivados lácteos
pelas classes de menor poder aquisitivo. Isso gerou um estímulo aos produtores que já
atuavam na atividade leiteira bem como a novos produtores que ingressaram nesse ramo.
Assim como na produção brasileira, houve a expansão da produção também nas
principais bacias leiteiras do Brasil, merecendo destaque o estado do Paraná que hoje ocupa a
posição de segundo maior produtor de leite do país, ficando atrás apenas do estado de Minas
Gerais. Dentre as principais regiões produtoras do Paraná encontra-se a Região Oeste, que
conta com o maior volume de leite produzido no Estado.
Após alguns anos, o governo passou a intervir novamente com a implantação, em
1999, da Portaria 56 e em 2002 da Instrução Normativa 511. Entrou em vigor em 01 de julho
de 2005 um regulamento que estabelece critérios para a comercialização de leite, para as
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Esta medida foi adotada pelo governo com a
finalidade de vigiar a produção de leite comercializado visando atender às exigências
impostas pelo setor. Neste caso, o produto só poderá ser comercializado se estiver conforme
os requisitos mínimos estabelecidos pela portaria que constitui o chamado “Regulamento
Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru Refrigerado”, que refere-se ao leite
produzido nas propriedades rurais do território nacional e destinados à obtenção de leite
pasteurizado para o consumo humano direto ou para transformação em derivados lácteos.
Apesar da importância da Normativa 51 para a melhoria da qualidade do leite e seus
derivados, há uma preocupação com os pequenos produtores (geralmente menos
tecnificados), que muitas vezes não tem capital para investir na adequação ao novo padrão de
produção, o que pode culminar no abandono da atividade. De certa forma, pode haver um
processo de exclusão dos pequenos produtores e permanência na atividade leiteira apenas
daqueles que se especializarem na produção.
Portanto, o objetivo deste trabalho consiste em fazer um breve histórico da produção,
exportação e importação de leite e derivados no Brasil e no estado do Paraná, dando maior
ênfase à produção primária. A escolha deste segmento da cadeia agroindustrial do leite
justifica-se dada a importância que tem no desenvolvimento e geração de renda nas regiões
produtoras do Estado, em especial à região Oeste do Paraná.
A metodologia utilizada consiste em levantamento bibliográfico e de estudos já
realizados sobre o tema em questão. Foram utilizados como base de pesquisa dados de
instituições como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), MDIC/SECEX no
Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (ALICE-Web), Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).
1
Sobre Instrução Normativa 51 consultar Portal do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no site:
<http://www.agricultura.gov.br>.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
2. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE LEITE NO BRASIL
A produção mundial de leite de vaca chegou a aproximadamente 550 bilhões de
toneladas em 2006. O Brasil destaca-se neste contexto sendo apontado como o maior produtor
na América Latina. A produção brasileira de leite foi de 25,4 bilhões de litros em 2006,
ficando entre os seis maiores produtores do mundo (FAO, 2008).
De acordo com IBGE (2008), a produção de leite no Brasil vem apresentando uma
crescente evolução desde 1990, exceto em 1993 quando houve uma leve redução, conforme
pode ser visualizado no Gráfico 1. Isso se deve às várias transformações ocorridas no setor e,
principalmente, pelo aumento da demanda por leite e derivados que estimulou a produção no
país. Pode-se constatar esta expansão a partir do Gráfico 1, que mostra o comportamento da
produção de leite no Brasil de 1990 a 2006.
Nota-se que a produção em 1990 girou em torno de 15 bilhões de litros e em 2006 foi
de 25,4 bilhões de litros, ou seja, um aumento de aproximadamente 70,0%. Em 15 anos a
produção de leite no Brasil quase dobrou e a tendência é que esse aumento continue, tanto
pela ocupação de novas áreas, quanto pelos ganhos de produtividade que é um dos principais
fatores responsáveis pelo aumento da produção no país.
30.000.000
Produção de leite (mil litros)
25.000.000
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000.000
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ano
Gráfico 1 – Produção de leite no Brasil (1990 – 2006).
Fonte: IBGE (2008) – Pesquisa Pecuária Municipal (1990 – 2006).
Apesar dos ganhos no decorrer dos anos, a produtividade ainda se encontra muito
aquém do que pode ser conquistado pelo Brasil. Se na produção o Brasil ocupa o sexto lugar
no ranking mundial, na produtividade ocupa o décimo sétimo lugar com a marca de 1.219
litros/vaca/ano, perdendo espaço para países como a Argentina, por exemplo, que tem
produtividade de 4.050 litros/vaca/ano (FAO, 2008).
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
Pode-se verificar através da Tabela 1 que a quantidade de vacas ordenhadas não sofreu
mudança significativa ao longo dos anos. A produtividade, porém passou de 755 para 1.213
litros/vaca/ano entre os anos 1991 e 2006, um aumento de aproximadamente 60,0%. Fica
claro, portanto, que o aumento da produtividade não se deve ao aumento do rebanho leiteiro,
mas sim às novas técnicas de manejo e modernização do sistema produtivo.
Nota-se, então, a importância que o aumento da produtividade tem para o aumento da
produção de leite. Mesmo não havendo a expansão do rebanho leiteiro ou a utilização de
novas áreas na produção de leite, o Brasil pode conseguir melhores ganhos de produtividade
se investir de maneira intensiva na atividade leiteira, seja através de melhoramento genético
para as vacas em lactação ou pelas técnicas de manejo de solo, pastagens e alimentação para o
rebanho.
Tabela 1 - Produção de leite, vacas ordenhas e produtividade no Brasil (1991 - 2006)
Produção de leite (mil
Vacas Ordenhadas (mil
Produtividade
Ano
litros/ano)
cabeças)
(litros/vaca/ano)
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
15.079.000
15.784.000
15.591.000
15.783.000
16.474.000
18.515.000
18.666.000
18.694.000
19.070.000
19.767.000
20.510.000
21.643.000
22.254.000
23.475.000
25.000.000
25.398.000
19.964
20.476
20.023
20.068
20.579
16.274
17.048
17.281
17.396
17.885
18.194
18.793
19.256
20.023
20.820
20.943
755
771
779
786
801
1.138
1.095
1.082
1.096
1.105
1.127
1.152
1.156
1.172
1.201
1.213
Fonte: IBGE (2008) - Pesquisa Pecuária Municipal (1991 - 2006).
A pequena expansão do rebanho é explicada, principalmente, pela inserção de novas
fronteiras de produção e pelos aumentos da capacidade de suporte das pastagens que passam a
comportar um maior número de animais por hectare. A Tabela 2 mostra a evolução da
produção nas regiões brasileiras. Constata-se que nas regiões Norte, Sul, Sudeste e CentroOeste a produção apresentou um aumento significativo, merecendo maior atenção as regiões
Norte, Centro-Oeste e Sul. O aumento da produção na região Sul entre os anos de 1990 (3,26
bilhões de litros) e 2006 (7,03 bilhões de litros) foi de 53,7%. Na região Centro-Oeste o
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
aumento foi de 54,4% e na região Norte a produção passou de 555 milhões de litros em 1990
para 1,6 bilhões em 2006, ou seja, um aumento de 67,3%.
Fazendo uma comparação entre as Tabelas 1 e 2 pode-se verificar a participação de
cada região na produção brasileira de leite em 2006. A maior produtora é a região Sudeste
com 38,3% (9,7 bilhões de litros), em seguida está a região Sul com 27,7% (7,03 bilhões de
litros) da produção doméstica. Logo após estão as regiões Centro-Oeste com 14,7% (3,7
bilhões de litros), a região Nordeste com 12,6% (3,19 bilhões de litros) e por fim a região
Norte que em 2006 participava com 6,7% (1,7 bilhões de litros) da produção de leite no
Brasil. As regiões Sul e Sudeste representam juntas 66,0% de todo leite produzido no país, um
montante de 16,7 bilhões de litros em 2006.
Tabela 2 - Produção de leite por Região no Brasil (1990 - 2006)
Produção por Região (mil litros)
Ano
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
1990
555.215
2.045.268
6.923.301
3.262.254
1991
684.353
2.174.499
6.990.638
3.389.354
1992
725.497
2.266.926
7.216.493
3.585.639
1993
715.132
1.682.911
7.344.116
3.685.566
1994
651.981
1.772.817
7.351.888
3.830.620
1995
706.696
1.886.613
7.539.463
4.102.597
1996
770.788
2.355.009
8.338.197
4.241.531
1997
840.882
2.389.061
8.395.743
4.345.132
1998
903.426
2.069.958
8.465.197
4.410.592
1999
958.381
2.041.819
8.540.202
4.606.120
2000
1.049.768
2.159.230
8.573.731
4.904.356
2001
1.236.607
2.266.111
8.573.152
5.187.765
2002
1.566.783
2.362.973
8.745.553
5.507.640
2003
1.498.265
2.507.793
8.933.782
5.779.489
2004
1.662.888
2.704.988
9.240.957
6.246.135
2005
1.743.253
2.972.130
9.535.484
6.591.503
2006
1.699.467
3.198.039
9.740.310
7.038.521
Centro-Oeste
1.698.374
1.840.341
1.989.454
2.163.156
2.176.249
2.238.993
2.809.864
2.695.190
2.844.739
2.923.523
3.080.121
3.246.318
3.459.832
3.534.533
3.619.725
3.778.490
3.721.881
Fonte: IBGE (2008) - Pesquisa Pecuária Municipal (1990 - 2006).
Dentro das principais regiões produtoras de leite encontram-se também os maiores
Estados produtores deste alimento. Através da Tabela 3 verifica-se que o estado de Minas
Gerais é o maior produtor do país, produzindo em 2006 um total de 7,09 bilhões de litros de
leite, com participação de 27,9% na produção doméstica. O Paraná ocupa a segunda posição
com 10,6% da produção do país, produzindo em 2006 1,7 bilhões de litros. Em seguida estão
os estados de Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo e Santa Catarina, com representatividade
na produção doméstica de 10,3%, 10,3%, 6,9% e 6,7%, respectivamente.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
Tabela 3 - Maiores Estados brasileiros produtores de leite (2006)
Estado
Minas Gerais
São Paulo
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Goiás
Produção de leite (mil litros)
Participação na produção
doméstica (%)
7.094.111
1.744.008
2.703.577
1.709.812
2.625.132
2.613.622
27,9
6,9
10,6
6,7
10,3
10,3
Fonte: IBGE (2008) - Pesquisa Pecuária Municipal (2006). Elaborado pelos autores.
2.1 Exportações e importações de lácteos no Brasil
A importação de produtos lácteos no Brasil ganhou força na década de 1980 devido a
crise pela qual passava o país naquele período. As conseqüências da crise foram a retração da
demanda e diminuição de recursos para a atividade leiteira. Isso estimulou as importações e
estagnou a modernização do setor. Nos primeiros anos da década de 1990 a abertura
comercial, liberação dos preços do leite e conseqüentemente a integração regional do Brasil
com outros países e blocos econômicos, como o Mercosul, criou um ambiente favorável e
elevou drasticamente as importações de derivados lácteos pelo país (WILKINSON, 1993).
A implementação do Plano Real em 1994 configurou um novo cenário para a
economia nacional. A estabilização da economia viabilizou o aumento do mercado
consumidor e conseqüentemente, aumento na produção (VILELA et al, 2002). Conforme o
Gráfico 2, a partir de 1996 observa-se uma tendência a redução das importações de leite e
derivados e uma elevação da receita com a exportação desses produtos.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
600
510
504
454
436
370
400
274
244
177
112
200
Milhões de US$
19
8
9
7
14
25
41
46
130
94 83
11
120138 154
150
124
10
0
(16)
(66)
-200
(152)
-400
(203)
(356)
(491) (445)
(496) (429)
-600
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Ano
Exportações
Importações
Saldo da Balança Comercial
Gráfico 2 – Evolução da balança comercial de lácteos no Brasil (1996 – 2007).
Fonte: MDCI/SECEX (2008), Base de dados Aliceweb (1996 – 2007) – Elaborado pelos autores.
Historicamente, o Brasil não tem tradição na produção e exportação de lácteos.
Entretanto, esta situação está mudando, conforme se verifica no Gráfico 2. Desde 1998 o
saldo a balança comercial de lácteos no Brasil apresenta-se descendente e no ano de 2006
passou a apresentar desempenho positivo. Está em 2007, porém, o melhor resultado alcançado
nos últimos tempos, com saldo positivo em US$ 162.988.300.
De acordo com Cepea (2008), em 2007 os exportadores conseguiram quase dobrar a
receita das exportações de lácteos, embarcando apenas 8,0% a mais que em 2006. O principal
fator responsável foi a valorização de 60,0% dos preços dos derivados de leite exportados. O
Índice de Preços de Exportação de Produtos Lácteos (IPE-L), do Cepea, teve média de R$
5,94/kg em 2007 contra R$ 3,70/kg em 2006. Os principais produtos exportados pelo Brasil
no decorrer do ano foram o leite em pó e o leite condensado, sendo que o primeiro
representou 66,5% do faturamento das vendas do país em 2007 e o leite condensado, 15,1%
(vide Gráfico 3).
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
Q ueijos
9%
F luidos e
M anteiga cremes
O utros
5%
3%
2%
Leite
condensado
15%
Leite em pó
66%
Gráfico 3 – Lácteos brasileiros exportados em 2007.
Fonte: MDCI/SECEX (2008), Base de dados Aliceweb (1996 – 2007) – Elaborado pelos autores.
A tendência de aumento do faturamento com a receita com exportações de lácteos está
se concretizando nos primeiros meses de 2008. Segundo Cepea (2008), nos meses de Janeiro
e Fevereiro o faturamento obtido com as exportações de derivados de leite foi de US$ 57,7
milhões em 2008, resultado 129,0% maior que o obtido no mesmo período de 2007.
Os produtos que representam a maior parcela no faturamento das exportações do
Brasil, no segmento lácteo, continuam sendo o leite em pó (70,0%) e o leite condensado
(13,0%). A receita do leite em pó obtida nos meses de Janeiro e Fevereiro deste ano foi de
US$ 40,3 milhões, valor 219,0% maior que o mesmo período de 2007. Um fator que explica o
faturamento expressivo deste produto é o seu preço de exportação, visto que em Fevereiro de
2008 houve um aumento de 5,0% em relação à Janeiro de 2007 (CEPEA, 2008).
O Brasil está ganhando espaço no mercado externo de lácteos, mas estudos do Cepea
(2008) mostram que o mercado interno também vive um bom momento. Os recordes de
preços pagos ao produtor nos primeiros meses de 2005 foram quebrados nos três primeiros
meses de 2008. A média de preços pagos ao produtor nos primeiros meses deste ano é 13,0%
maior que a do mesmo período de 2005, conforme o Gráfico 4. Os preços altos do leite têm
estimulado os produtores a aumentar o volume de produção. O Índice de Captação de Leite
(ICAP-L/Cepea) de Fevereiro esteve 23,0% superior ao do mesmo mês de 2007, mostrando
que mesmo com o aumento da produção os preços mantêm-se altos.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
0,8000
0,7500
R$/litro
0,7000
0,6500
0,6000
0,5500
0,5000
0,4500
0,4000
Jan
Fev Mar Abr Mai Jun
2004
2005
Jul
Ago Set
2006
2007
Out Nov Dez
2008
Gráfico 4 – Série de preços médios pagos ao produtor – deflacionados pelo IPCA (média de
RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA).
Fonte: CEPEA (2008). Elaborado pelos autores.
2.2 – Panorama da produção de leite no Estado do Paraná
Da mesma forma que a produção nacional, a produção no Paraná vem aumentando
desde 1996, conforme se observa na Tabela 4. Em 2006 o estado produziu 2.703.577 bilhões
de litros de leite, ou seja, 78,2% a mais que o montante produzido em 1996 (1.514.481
bilhões de litros). Nota-se também que em relação ao ano de 1996 a quantidade de leite
produzida apresenta-se sempre ascendente, isso mostra a importância que a pecuária leiteira
representa para o estado do Paraná.
Tabela 4 - Produção e variação da produção no Paraná (1996 - 2006)
Ano
Produção (mil litros)
Variação (mil litros)*
1996
1.514.481
1997
1.579.837
65.356
1998
1.625.226
110.745
1999
1.724.917
210.436
2000
1.799.240
284.759
2001
1.889.627
375.146
2002
1.985.343
470.862
2003
2.141.455
626.974
2004
2.394.537
880.056
2005
2.568.251
1.053.770
2006
2.703.577
1.189.096
Fonte: IBGE (2008) - Pesquisa Pecuária Municipal (1996 - 2006). Elaborado pelos autores.
* Variação calculada no ano atual em relação ao ano base 1996.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
Variação (%)*
4,3
7,3
13,9
18,8
24,8
31,1
41,4
58,1
69,6
78,5
Além do bom momento vivido pelo mercado de lácteos no Brasil, um dos motivos que
impulsionou o aumento da produção de leite no Paraná foi o Programa Leite das Crianças.
Este Programa do Governo do Estado do Paraná lançado em 2003, tem como o objetivo
atender crianças de 6 a 36 meses de idade como apoio a diminuição da desnutrição, através da
distribuição de leite fluído pasteurizado, com teor mínimo de gordura de 3,0% e enriquecido
com Ferro e vitaminas A e D (SETP, 2008).
Tal programa, entre outros, tem dupla função, além de atender o leite das crianças
foca-se também, nas propriedades produtoras de leite, as quais de acordo com estudos
realizados pelo CEPEA (2008) mostram que as propriedades leiteiras localizadas na região
Sul e do Brasil, em especial, no Paraná costumam ser pequenas, com área média de 24
hectares destinada à produção de leite.
Dessa forma, o Programa também tem o intuito de fomentar o desenvolvimento das
bacias produtoras de leite do Estado, a partir da demanda do Programa, bem como, pelas
exigências de qualidade e articulação com os investimentos na produção e beneficiamento do
produto. Hoje o programa atende os 399 municípios do Paraná e beneficia aproximadamente
161 mil crianças (SETP, 2008).
Entre as principais regiões produtoras de leite no Estado destaca-se a região Oeste
Paranaense. Em 2006 a produção desta região representou 29,0% de toda produção do estado,
ou seja, dos 2.703.577 bilhões de litros produzidos no Paraná naquele ano, 813.882 milhões
de litros referem-se à região Oeste. Em seguida vem a região Sudoeste, com representação de
19,0% da produção estadual, conforme o Gráfico 5.
7% 3% 3%
19%
8% 3%
9%
5%
14%
29%
N o ro este
N o rte C entral
C entro O riental
S ud o este
S ud este
C entro O cid ental
N o rte P io neiro
O este
C entro - S ul
M etro p o litana d e C uritib a
Gráfico 5 – Participação das mesorregiões geográficas do Paraná na produção de leite do
Estado (2006).
Fonte: IBGE (2008) - Pesquisa Pecuária Municipal (2006). Elaborado pelos autores.
Os principais municípios na atividade leiteira no Paraná são Castro, Marechal Cândido
Rondon e Toledo. Segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE, 2006), o município
de Castro ocupa a primeira colocação em quantidade de leite produzida com 134 milhões de
litros em 2006. Em seguida estão os municípios de Marechal Cândido Rondon e Toledo, com
produção de 104 milhões de 102 milhões respectivamente.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
Além de apresentar o maior volume de leite produzido, Castro tem também os
melhores números em produtividade. Enquanto a média das propriedades típicas de leite do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo variou de 1.388 a 3.764 litros/ha/ano no final
de 2007, o município de Castro/Pr obteve média de 14.542 litros/ha/ano. A grande diferença
deve-se a composição do capital investido, que em Castro é bem maior que nas demais
regiões. Para se ter uma idéia, em Castro, 13,2% do capital total das propriedades refere-se a
vacas em lactação, enquanto que nas regiões menos produtivas apenas 3,3% a 9,8% do
patrimônio está alocado em vacas em lactação (CEPEA, 2008).
A indústria de transformação também tem contribuído para o aumento da produção de
leite no Paraná. Conforme a Tabela 5, o faturamento com as exportações de lácteos vem
aumentando, apesar de ter sofrido uma significativa redução em 2006. Em 2007 o Paraná
obteve faturamento de US$ 18,5 milhões com as exportações de derivados de leite,
participando com 13,0% do faturamento nacional do segmento que foi de US$ 138 milhões.
Tabela 5 - Evolução da balança comercial de lácteos no Paraná (1996 - 2007)
Exportação
Importação
Saldo da balança
Ano
(US$ FOB)
(US$ FOB)
(US$ FOB)
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
20.816
906.226
232.218
112.255
3.269.440
3.891.690
2.576.382
3.296.720
8.984.073
21.401.478
6.099.529
18.443.631
14.761.957
25.622.455
27.828.601
23.887.377
24.388.463
13.232.207
18.764.260
10.055.658
7.573.468
14.891.326
21.683.351
20.353.547
(14.741.141)
(24.716.229)
(27.596.383)
(23.775.122)
(21.119.023)
(9.340.517)
(16.187.878)
(6.758.938)
1.410.605
6.510.152
(15.583.822)
(1.909.916)
Fonte: MDCI/SECEX (2008), Base de dados Aliceweb (1996 – 2007) – Elaborado pelos autores.
O saldo da balança comercial de lácteos no Paraná apresentou-se negativo em quase
todo o período compreendido entre 1996 a 2007, exceto nos anos de 2004 e 2005, a exemplo
da balança comercial de lácteos do Brasil. Apesar de 2007 ter apresentado saldo negativo na
balança comercial no Paraná, nota-se a recuperação do mercado externo, uma vez que em
2006 o saldo foi de US$ -15.583.000 enquanto que em 2007 foi de US$ -1.909.916, uma
variação de 87,0%.
Como já foi visto anteriormente, a região Oeste do Paraná é a maior bacia leiteira do
Estado, representando 29,0% da produção estadual. Esta região também comporta o segundo
e o terceiro maiores produtores de leite do Paraná: Marechal Cândido Rondon e Toledo.
Observa-se na Tabela 6 que os dois primeiros municípios respondem por 26,0% do total
produzido no Oeste paranaense, seguidos por Santa Helena e Cascavel, que representam
juntos com 8,0% do total da produção estadual.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
Tabela 6 - Maiores produtores de leite da região Oeste do Paraná (2006)
Quantidade produzida
Participação na produção do
Município
(litros)
Oeste paranaense (%)
Marechal C. Rondon
Toledo
Santa Helena
Cascavel
104.098
102.711
36.300
34.857
13,0
13,0
4,0
4,0
Fonte: IBGE (2008) - Pesquisa Pecuária Municipal (2006). Elaborado pelos autores.
Em 2006 o Paraná registrou 118.884 estabelecimentos na produção de leite de vaca e
um rebanho de vacas ordenhadas de 1.383.374 cabeças. Na região Oeste, a maior produtora
de leite do estado, as vacas ordenhadas em 2006 foram 301.318 cabeças e o número de
estabelecimentos na atividade leiteira foi 21.207, ou seja, 17,8% dos estabelecimentos
destinados a produção de leite no estado encontram-se na região Oeste (vide Tabela 7).
Tabela 7 – Vacas ordenhadas, nº de estabelecimentos e quantidade produzida (2006)
Número de
Quantidade
Vacas Ordenhadas
Localidades
estabelecimentos
produzida (mil
(cabeças)
(unidade)
litros)
Paraná
Mesorregião Oeste
Microrregião de Toledo
Microrregião de Cascavel
1.383.374
301.318
123.321
116.090
118.884
21.207
9.171
6.940
2.703.577
813.882
424.608
221.706
Fonte: IBGE (2008) – Censo Agropecuário, resultados preliminares (2006). Elaborado pelos autores.
As microrregiões de Toledo e Cascavel, pertencentes a mesorregião Oeste do Paraná,
se destacam na atividade leiteira, onde se encontram os principais municípios produtores de
leite do estado. A microrregião de Toledo tem o segundo maior volume de leite (424 milhões
de litros) e o terceiro maior número de estabelecimentos (9.171) que se dedicam à produção
de leite do Paraná, bem como, representa 41,0% do total de vacas ordenhadas na região Oeste
paranaense. A microrregião de Cascavel é a quinta maior produtora de leite (211 milhões de
litros) e registra o quarto maior número de estabelecimentos na atividade leiteira do estado,
bem como, representa 38,0% das vacas ordenhadas na região Oeste do Paraná (Vide Tabela
7).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme apresentado neste trabalho, a pecuária leiteira passou a ter um papel
importante na produção do país, revertendo a condição de importador para exportador. No
cenário nacional, o Paraná, com 10,6%, é o segundo maior produtor de leite. A produção
paranaense em seu processo de crescimento favoreceu também sua balança comercial de
lácteos, a qual passou de US$ 14,7 milhões negativos em 1996 para US$ 2,0 milhões
negativos em 2007. Ou seja, as exportações paranaenses passaram de US$ 20,8 mil para US$
18,4 milhões, enquanto as importações passaram de US$ 14,8 milhões para US$ 20,4 milhões
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
entre 1996 e 2007. A região Oeste do Paraná é a maior produtora de leite do estado com
29,0% do total produzido em 2006 (813 milhões de litros), contendo, assim, uma importante
contribuição para a produção paranaense.
A regulamentação de um setor da economia pode trazer várias conseqüências para o
desenvolvimento de um país. Quando se fala em tabelamento de preços tais conseqüências
podem ser muito ruins para o setor em questão. A regulamentação do mercado do leite
implantada no Brasil por 45 anos revela os problemas sofridos pelo setor no período. Devido
a rigidez do setor a produção mantinha-se estacionada e não havia interesse de incorporação
de novas áreas para a produção de leite pelos produtores.
Após a desregulamentação do setor ocorrida a partir de 1990 a produção de leite no
Brasil teve um aumento expressivo na quantidade produzida, a ponto de o país passar a ser
exportador de produtos lácteos alcançando valores positivos e significativos na balança
comercial desses produtos. O mesmo aconteceu com as maiores bacias leiteiras do país, como
é o caso de Minas Gerais e Paraná.
O mercado externo cada vez mais presente no setor de lácteos brasileiro exige uma
preocupação maior com a qualidade do produto, desse modo, as ações implantadas para
melhorar e assegurar esta qualidade são extremamente importantes para a permanência do
país no mercado internacional. Preocupado com o mercado e visando melhorar a qualidade o
governo, em 2002, implantou a Instrução Normativa 51 com vistas a aprimorar o sistema
produtivo de leite e derivados no país.
A Instrução Normativa 51 visando melhoria na qualidade do leite, via modernização,
produzido no Brasil é de fundamental importância, contudo, alerta-se para as conseqüências
desse programa. Uma delas é que no processo de modernização do setor possa ocorrer a
exclusão daqueles produtores com menor capacidade de adequação por falta de recursos para
os investimentos necessários. Nota-se, portanto, a importância de políticas de investimentos e
incentivos para a pecuária leiteira, principalmente, para os pequenos produtores, a fim de
mantê-los na atividade de forma que o país consiga seus objetivos de permanecer crescendo
no mercado externo.
Apesar de estar se desenvolvendo há pouco tempo, a produção de leite no país e, em
particular na região Oeste do Paraná, merece ser olhada como mais atenção por parte das
autoridades governamentais. Portanto, faz-se necessário um estudo mais aprofundado da
situação da atividade leiteira no Paraná.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MDIC/SECEX. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior/Secretaria de
Comércio Exterior. Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior. Base de
Dados Aliceweb. Disponível em <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em 05
mai. 2008.
CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Disponínel em
<http://www.cepea.esalq.usp.br/leite/>. Acesso em 05 mai. 2008.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Disponível em
<http://www.fao.org/>. Acesso em 04 mai. 2008.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
IBGE.
Instituto
Brasileiro
de
Geografia
e
<http://www.sidra.ibge.gov.br/>. Acesso em 02 mai. 2008.
Estatística.
Disponível
em
JANK, M. S; GALAN, V.B. Competitividade do sistema agroindustrial do leite. In: FARINA;
ZYLBERSZTAJN (coord). Competitividade no agribussiness brasileiro. São Paulo:
PENSA/FIA/FEA/USP, 1998.
SETP. Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social. Disponível em
<http://www.sine.pr.gov.br/setp/enfPob/index.php?id=8>. Acesso em 06 mai. 2008.
VILELA, D.; LEITE, J. L. B.; RESENDE, J. C de. Políticas para o leite no brasil: passado,
presente e futuro. In: SANTOS, G. T dos; et all. Anais do Sul – Leite: Simpósio sobre
sustentabilidade da pecuária leiteira na região Sul do Brasil. Maringá: UEM/CCA/DZO –
NUPEL, 2002. p. 1 – 26.
WILKINSON, J. Competitividade da Indústria de Laticínios. Nota Técnica Setorial do
Complexo Agroindustrial. In: COUTINHO, L.; FERRAZ, I. C. Estudo da Competitividade
da Indústria Brasileira. Campinas: IE/UNICAMP – IEI/UFRJ – FDC – FUNCEX, 1993.
Cascavel – PR – 17 a 19 de junho de 2008
Download

comportamento da produção de leite e exportação de lácteos do