Projeto PIBIC/CNPEM 2015 Título: Tratamento de bagaço de cana-de-açúcar empregando hidratação limitada à saturação da parede celular Pesquisador responsável: Carlos Driemeier Unidade do CNPEM: Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol Introdução A humanidade tem o desafio de prover conforto material em conciliação com preservação do meio ambiente e dos recursos naturais para uma população de atuais 7 bilhões de pessoas, e crescente! Para enfrentar esse desafio, é crítico fazer o melhor uso possível dos recursos naturais renováveis, dentre os quais se destaca a biomassa vegetal. Em particular, um tipo chave de biomassa é a assim chamada biomassa lignocelulósica, ou simplesmente lignocelulose, compreendendo principalmente as paredes celulares das plantas, que são elementos estruturais e não comestíveis. A lignocelulose é uma matéria prima renovável, de baixo custo e abundante. No Brasil, há especial interesse na lignocelulose da cana-de-açúcar, constituída do bagaço e da palha da cana. Além de abundante, a biomassa da cana-de-açúcar está associada às atuais usinas que produzem de maneira integrada açúcar, bioeletricidade e etanol (Cortez 2010). O desafio é desenvolver processos para agregar novos produtos às usinas. Em particular, a lignocelulose pode ser convertida em etanol (dito etanol de segunda geração) e em outros produtos químicos. Estado da arte Tratamento em meio aquoso é uma etapa comum no processamento de lignocelulose a etanol e coprodutos (Wyman 2013). Quando é utilizada apenas água, sem adição de ácido ou base, os tratamentos são usualmente denominados de tratamentos hidrotérmicos (Ruiz et al. 2013). Os tratamentos hidrotérmicos são realizados em temperaturas de 150-220°C, hidrolisam e solubilizam principalmente a fração de hemiceluloses da biomassa (Ruiz et al. 2013) e promovem alterações na sua nanoestrutura (Nishiyama et al. 2014; Driemeier et al. 2015). Os tratamentos são usualmente feitos com presença de água líquida no reator. No entanto, as paredes celulares, onde as reações ocorrem, são hidratadas apenas até seu limite de saturação (Skaar 1988; Maziero et al. 2013). A água excedente não participa diretamente das reações na parede, embora participe dos transportes de massa e de calor, bem como na solubilização de componentes. Este projeto pretende compreender melhor o papel dessa água excedente no meio reacional. Objetivos Este projeto buscará os seguintes objetivos: Desenvolver metodologia para tratamentos de bagaço de cana com quantidade de água limitada à saturação da parede celular. Nesse tipo de tratamento espera-se eliminar a presença de água líquida, permanecendo no reator apenas água no estado vapor e na hidratação de parede celular. Caracterizar o bagaço tratado por esse novo método, tendo como comparação o bagaço tratado pelo método convencional, no qual o reator contém excedente de água líquida. Proporcionar ao bolsista intenso aprendizado sobre processamento de biomassa lignocelulósica em etanol de segunda geração e produtos químicos, considerando aspectos da nanoestrutura da biomassa. Metodologia Primeiramente, bagaço de cana-de-açúcar será submetido a tratamentos hidrotérmicos convencionais, em condições semelhantes às empregadas em estudos anteriores (Driemeier et al. 2015). Serão utilizados reatores de 200 mL, razão sólidoágua de 1:10 e aquecimento em banho de glicerina a 160-190 °C. Esses primeiros esforços produzirão os materiais tratados pelo método de referência e permitirão ao bolsista dominar a operação dos reatores. Posteriormente, os procedimentos serão modificados para alterar a quantidade de água nos reatores, de modo a realizar os tratamentos com hidratação limitada à saturação das paredes celulares, sem excedente de água líquida. É importante notar que essa alteração de procedimentos é crítica para o sucesso do projeto. Será necessário garantir efetivo transporte de calor e homogeneidade na hidratação da biomassa na ausência de água líquida. Essa garantia é um dos principais desafios do projeto. Caracterizações preliminares serão conduzidas para avaliar se os procedimentos de reação estão caminhando na direção desejada. Por fim, depois de dominar os procedimentos para reação sem excedente de água líquida, será feita caracterização dos bagaços tratados nessa condição, tendo como comparação a condição de referência (tratamento com excedente de líquido). Os bagaços tratados serão caracterizados quanto à fração mássica solubilizada pelos tratamentos, à composição química, à estrutura fina dos cristais de celulose (Driemeier et al. 2015) e à porosidade nanométrica (Driemeier et al. 2012). Referências Cortez LAB, editor (2010) Sugarcane bioethanol – R&D for productivity and sustainability, Blucher, São Paulo Driemeier C, Mendes FM, Oliveira MM (2012) Dynamic vapor sorption and thermoporometry to probe water in celluloses. Cellulose 19:1051–1063 Driemeier C, Mendes FM, Santucci BS, Pimenta MTB (2015) Cellulose co-crystallization and related phenomena occurring in hydrothermal treatment of sugarcane bagasse. Cellulose. doi: 10.1007/s10570-015-0638-7 Maziero P, Jong J, Mendes FM, Gonçalves AR, Eder M, Driemeier C (2013) Tissue-specific cell wall hydration in sugarcane stalks. J Agric Food Chem 61:5841–5847 Nishiyama Y, Langan P, O’Neill H, et al. (2014) Structural coarsening of aspen wood by hydrothermal pretreatment monitored by small- and wide-angle scattering of X-rays and neutrons on oriented specimens. Cellulose 21:1015–1024 Ruiz HA, Rodríguez-Jasso RM, Fernandes BD, Vicente AA, Teixeira JA (2013) Hydrothermal processing, as an alternative for upgrading agriculture residues and marine biomass according to the biorefinery concept: A review. Renew Sustain Energy Rev 21:35–51 Skaar C (1988) Wood-water relations. Springer-Verlag, Berlin Wyman CE, editor (2013) Aqueous pretreatment of plant biomass for biological and chemical conversion to fuels and chemicals. Wiley, Chichester