ÍNDICE DE CLOROFILA DURANTE O DESENVOLVIMENTO DA MAMONEIRA SOB ADUBAÇÃO NITROGENADA E SILICATADA Silvia Capuani2, João Paulo Gonsiorkiewicz Rigon1; José Félix de Brito Neto3; Napoleão José Esberard de Macedo Beltrão4 e Dalva Almeida5 1. Eng. Agr. Mestrando em Agricultura, Faculdade Ciências Agronômicas UNESP, Botucatu. ([email protected]) 2. Eng. Agr. Mestranda em Agricultura, Faculdade Ciências Agronômicas UNESP, Botucatu. 3. Eng. Agr. Msc. Pesquisador CNPA, Embrapa Algodão, PB 4. Eng. Agr. Dr. Pesquisador CNPA, Embrapa Algodão, PB 5. Eng. Agr. Mestranda Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande – PB. Brasil. Data de recebimento: 07/10/2011 - Data de aprovação: 14/11/2011 RESUMO Diversos estudos têm demonstrado que o teor de clorofila pode ser utilizado como variável para avaliação do estado nutricional do nitrogênio nas plantas, pois correlaciona-se com a eficiência fotossintética. Objetivou-se com este trabalho, analisar o índice relativo de clorofila durante o crescimento e desenvolvimento da cultura da mamona, por meio das doses de adubação nitrogenada de 0; 50; 100 e 150 Kg.ha-¹, e a adubação silicatada sob a forma de escória de siderúrgica (0; 1; 2; 3 t.ha-¹). No final do ciclo, foi determinado o conteúdo foliar dos pigmentos fotossintetizantes. O trabalho foi conduzido em casa de vegetação no Centro Nacional de Pesquisa de Algodão, no município de Campina Grande no ano de 2010. Apesar de não constatada interferência da utilização do silício sobre as variáveis estudadas, observou-se aumento nos índices de clorofila com as crescentes doses de nitrogênio, assim como aos pigmentos fotossintetizantes. PALAVRAS-CHAVE: clorofila, Ricinus communis, nitrogênio CHLOROPHYLL INDEX DURING THE DEVELOPMENT OF CASTOR OIL IN NITROGEN AND SILICATES ABSTRACT Several studies have shown that chlorophyll can be used as a variable to assess the nutritional status of nitrogen in plants, it correlates with the photosynthetic efficiency. The objective of this work, analyzing the relative chlorophyll content throughout the growth and development of the culture of castor oil, by doses of nitrogen fertilization of 0, 50, 100 and 150 kg ha-¹, and Silicon fertilization under the form of steel slag (0, 1, 2, 3 t.ha-¹). At the end of the cycle, we determined the leaf content of photosynthetic pigments. The work was conducted in a greenhouse at the National Research Center of Cotton, in Campina Grande in 2010. Despite the lack of interference of the use of silicon on the variables studied, we observed an increase in chlorophyll index values with increasing doses of nitrogen, as well as the photosynthetic pigments. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 656 KEYWORDS: chlorophyll, Ricinus communis, nitrogen INTRODUÇÃO Dentre as diversas culturas potenciais para a produção de biodiesel, a mamona se destaca por ser cultivada em todo o Brasil. Além disso, apresenta alta rusticidade por carecer de poucos insumos quando comparada as demais culturas oleaginosas. Outra característica relevante da espécie é a versatilidade industrial do óleo, conferindo demanda promissora no mercado mundial (VAZ et al., 2008). Nas culturas, a concentração de nitrogênio tem relação direta com a eficiência fotossintética. Isto se deve ao fato das clorofilas absorverem quantas de luz e serem responsáveis pela conversão desta energia luminosa à química, sendo mediada por fotorreceptores específicos (LARCHER, 2000). O processo ocorre devido ao metabolismo dos cloroplastos decorrerem da incorporação deste elemento nas folhas pela dependência de enzimas, constituídas basicamente de proteínas, havendo assim, uma interdependência com o nitrogênio (SMEAL & ZHANG, 1994; LARCHER, 2000). Além disso, este elemento, modifica a resistência estomática na difusão do CO2, alterando a taxa fotossintética das plantas (COSTA, et al., 1988). Os pigmentos clorofilianos nos cloroplastos são constantemente destruídos e sintetizados, dependendo das condições ambientais e da própria planta. Neste caso, um dos fatores determinantes do conteúdo além da luminosidade, é a nutrição mineral, pois além de integrarem a estrutura molecular das planas, atua diretamente na própria síntese dos pigmentos fotossintéticos (TAIZ & ZEIGER, 2004). A eficiência fotossintética pode ser estimada através da concentração de pigmentos clorofilianos presente nas folhas, podendo predizer a real necessidade de adubação nitrogenada, auxiliando na tomada de decisão. Na determinação clássica dos pigmentos clorofilianos, são necessários grande aporte de reagentes, além da destruição das amostras, impossibilitando estudos ontogênético (SALLA et al., 2007). Entretanto, também é possível a quantificação do índice de clorofila por meio de equipamentos portáteis, os quais possibilitam estudos sem a destruição dos tecidos foliares. A quantificação do índice de clorofila é calculada pelo conteúdo de luz transmitida pela folha, por meio de dois ou três comprimentos de ondas e diferentes absorbâncias, dependendo do equipamento a ser utilizado, fornecendo leitura única proporcional às clorofilas a, b e carotenóides (MINOLTA, 1989; FALKER, 2008). Neste sentido, objetivou-se com este trabalho, avaliar os índices de clorofila durante o crescimento e desenvolvimento da cultura da mamona, além da quantificação dos pigmentos clorofilianos no final do ciclo, submetida a diferentes doses de nitrogênio e silício. METODOLOGIA O trabalho foi conduzido no Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (CNPAEmbrapa), no município de Campina Grande – PB, entre os meses de setembro e dezembro de 2010, em casa de vegetação. O delineamento experimental utilizado foi blocos casualisados com quatro repetições, em arranjo fatorial 4 x 4, sendo representado pelas doses de adubação nitrogenada (0; 50; 100 e 150 Kg.ha-¹), realizada aos 20 DAE e da adubação silicatada em fundação, sob fonte de escória de siderúrgica [(12 % Si) 0; 1; 2 e 3 t.ha-¹)], comportando 64 unidades experimentais, por meio de vasos com capacidade de 25 litros. Foi utilizada a cultivar de mamona BRS Energia, de ciclo de até 120 dias. Foram realizadas ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 657 determinações semanais dos índices de clorofila, a partir do 30º ao 65º dia após a emergência da mamona, utilizando clorofilômetro portátil CloroFILOG 1030®. Em laboratório, no final do ciclo da cultura, foram realizadas as determinações dos pigmentos fotossintetizantes, por meio da retirada de seis discos foliares por planta, com área de 113 mm², em triplicata, nas folhas do terço superior. Os discos foram colocados em tubos de ensaio com 5 ml do reagente Dimetilsulfóxido, para posteriormente serem determinados por espectrometria, por meio dos comprimentos de onda de 663 nm, 645 nm e 480 nm. Para a quantificação dos pigmentos clorofila a, b, total e carotenóides, utilizou-se os modelos matemáticos propostos por WELLBURN (1994). Os dados foram submetidos a análise de variância e análise de regressão polinomial, utilizando o software estatístico Genes (CRUZ, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÕES A utilização do clorofilômetro possibilitou a mensuração ontogenético dos índices de clorofila, demonstrando sua evolução semanalmente nas doses de nitrogênio e silício utilizadas. Os dados dos quadrados médios para cada avaliação são demonstrados na tabela 1. Observa-se, que na primeira determinação, não foi constatada qualquer significância entre os índices de clorofila, tanto sob as doses de nitrogênio, bem como na adubação com silício. Diferentemente, a partir da segunda avaliação na cultura da mamona, foi observado significância para o índice de clorofila. Este resultado procedeu até a última avaliação, realizada no 65º dia após a emergência, sendo as influencias ocasionadas pelas doses de adubação nitrogenada, enquanto que a adubação silicatada, bem como na interação, não foi observado qualquer efeito em relação ao índice de clorofila. TABELA 1. Quadrados médios dos índices de clorofila conforme as adubação nitrogenada e silicatada na cultura da mamoneira. Grande, 2010). Adubação GL 30 DAE 37 DAE 44 DAE 51 DAE 58 DAE Nitrogênio (N) 3 28,69 75,58** 78,04** 91,017** 266,68** Silício (Si) 3 4,79 12,89 5,23 1,82 23,48 N X Si 8 20,38 26,6 27,71 21,02 13,95 MEDIA 66,42 64,55 65,97 64,64 58,62 CV (%) 7,32 8,47 7,31 5,81 8,96 *Significativo a 5% de probabilidade de erro. doses de (Campina 65 DAE 186,16** 49,41 31,3 58,7 10,11 Na figura 1, são observados os valores para os índices de clorofila, conforme os períodos das avaliações e as doses de nitrogênio na mamoneira. Pode-se observar que logo na segunda avaliação (aos 37 dias após a emergência), foi constatada distinção nos valores entre as adubações. Conforme as doses eram crescentes, houvera maior índice de clorofila. Percebeu-se distinção entre as dosagens, principalmente na ausência do nitrogênio em relação às demais. Além disso, nota-se decréscimo dos valores, independente da dosagem de nitrogênio, mesmo sendo mais significativa a ausência do nutriente. GUIMARÃES et al., (1999), trabalhando com tomate, cultivado em dois solos e doses de N, também observaram aumento linear do Índice Relativo de Clorofila com o aumento das doses de Nitrogênio, assim como FURLANI JÚNIOR (1996) em feijão, GODOY et al. (2008) em cafeeiro. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 658 Índice Relativo de Clorofila (IRC) 70 68 66 64 62 60 58 56 54 52 50 30 37 44 51 58 Dias Após a Emergência 65 0 Kg.ha-¹ de N 50 Kg.ha-¹ de N 100 Kg.ha-¹ de N 150 Kg.ha-¹ de N FIGURA 1. Índice Relativo de Clorofila conforme doses da adubação nitrogenada na cultura da Mamona (Campina Grande 2010). No tocante aos pigmentos fotossintetizantes, descritos na tabela 2, a análise de regressão polinomial referente as doses de nitrogênio, são observados os valores significativos em grau linear dos quadrados médios. TABELA 2. Análise de Regressão polinomial dos pigmentos fotossintetizantes na cultura da mamona, conforme adubação nitrogenada e silicatada. Fator GL Clorofila a Clorofila b Carotenoides Clorofila Total Regressão 3 49564.61 1405.11 15903.78 67606.68 Grau 1 116551.04* 3411.20* 39398.43* 159846.49* Grau 2 5870.2 262.47 840.18 8614.86 Grau 3 26272.59 541.66 7472.73 34358.69 Desvio 60 8430.06 493.23 3250.64 12264.54 *Significativo a 5% pelo teste t. Conforme os dados dos pigmentos fotossintéticos, na figura 2, observam-se as dosagens da adubação nitrogenada, tanto para o conteúdo da clorofila a como em b. Averigua-se que independente do pigmento analisado, ambos apresentaram maiores valores, conforme o acréscimo das doses de nitrogênio. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 659 60 240 56 220 52 200 48 180 44 160 Clorofila b (µmol.m-²) Clorofila a (µmol.m-²) 260 40 0 50 100 150 Doses de Nitrogênio (Kg.ha-¹) Clorofila a (µmol.m-²) y = 178,89 + 0,48x R² = 0,92 Clorofila b (µmol.m-²) y = 45,36 + 0,07x R² = 0,80 FIGURA 2. Teores de Clorofila a e clorofila b ( mol.m-²), conforme dose de nitrogênio na mamoneira. Quanto aos valores referentes aos carotenóides (Figura 3), da mesma forma que os demais pigmentos fotossintéticos, obteve-se os maiores teores conforme o acréscimo da utilização do Nitrogênio. Conforme TAIZ & ZEIGER (2004), os carotenóides, desempenham um papel fundamental na proteção dos fotossistemas, pois dissipam o excesso energético impedindo a foto-oxidação das clorofilas. Para clorofila total, foi observado o mesmo comportamento. 200 180 280 160 260 240 140 Clorofila Total (µmol.m-²) Carotenóides (µmol.m-²) 300 220 120 200 0 50 100 150 Doses de Nitrogenio (Kg.ha-¹) Carotenóides (µmol.m-²) y = 132,54 + 0,27x R² = 0,93 Clorofila Total (µmol.m-² y = 224,83 + 0,55x R² = 0,92 FIGURA 3. Teores de Carotenóides e Clorofila Total (µmol.m-²), conforme dose de nitrogênio na mamoneira. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 660 CONCLUSÃO Houve aumento nos índices de clorofila com as crescentes doses de nitrogênio, assim como aos pigmentos fotossintetizantes. Não foi constatada influência da utilização do silício sobre as variáveis estudadas. REFERÊNCIAS COSTA, R.C.L. da; LOPES, N.F.; OLIVA, M.A.; BARROS, N.F. de. Efeito da água e do nitrogênio sobre a fotossíntese, respiração e resistência estomática em Phaseolus vulgaris. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.23, p.1371-1379, 1988. CRUZ, C.D. 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