Sociedade Portuguesa de Matemática Av. da República 37, 4º, 1050–187 Lisboa Tel. 21 795 1219 / Fax 21 795 2349 www.spm.pt [email protected] 25 de Maio de 2007 Parecer sobre as provas de aferição do primeiro e segundo ciclos - Matemática Depois da análise preliminar tornada pública sobre as provas de aferição, que foi feita ainda sem acesso aos critérios de classificação, gostaríamos de esclarecer e acrescentar alguns aspectos que após uma análise mais profunda, são para a SPM importantes. Em primeiro lugar, sublinhamos que as provas são elementares, nomeadamente no 2º ciclo, em que as questões não focam devidamente o domínio dos conceitos e algoritmos correspondentes ao programa deste ciclo, e incidem essencialmente sobre aptidões gerais. De facto, parece-nos que a prova do 2º ciclo é bem menos exigente do que a prova do 1º ciclo. Não se trata dos conteúdos matemáticos testados, mas sim, de questões de interpretação das perguntas. Por exemplo na prova do 1º ciclo, no item 5.3 “Calcula o número de alunos que têm inglês à quinta-feira…”, os examinandos têm que calcular primeiro o total dos alunos. Para tal têm que saber interpretar muito bem o pictograma que aparece no início do item 5, depois fazer a soma dos alunos que frequentam as actividades de música, informática e ginástica através da interpretação do gráfico de barras apresentado neste item e subtrair ao total. Em contraposição deparamo-nos na prova do 2º ciclo com uma questão muito semelhante, item 4, mas que se limita a perguntar quantos alunos existem no total na turma da Bela. Para além da questão da interpretação, parece-nos que o item 5 da prova do 1º ciclo está mal estruturado, porque se os alunos não entendem o pictograma que aparece no início, não conseguem responder a nenhuma das três questões deste item. O mesmo acontece no item 11, onde os alunos são questionados sobre duas alíneas. Ainda comparando as duas provas relativamente ao grau de dificuldade temos uma mesma questão colocada da mesma maneira para os dois ciclos, que é o item 4 do 1º ciclo e o item 11 do segundo ciclo. No item 8 do primeiro ciclo – 8.1 “Para unir os tubos uns aos outros, o Nuno usou encaixes. Quantos encaixes usaram?” e 8.2 – “Quantos metros de tubo utilizou o Nuno na sua construção?”, o que na realidade se está a pedir é para os alunos contarem o número de vértices e o número de arestas, no entanto a pergunta não é feita directamente. Já no 2º ciclo no item 2 pergunta-se “Quantos vértices, arestas e faces tem…” – uma pergunta directa para alunos mais velhos! Relativamente aos critérios de classificação, que mais se deveriam chamar critérios de aferição, temos a apontar os seguintes problemas na prova do 2º ciclo: É pedida a diferença entre a temperatura registada às 16h e a registada às 20h, e não a diferença entre a temperatura registada às 20h e a registada às 16h. Por isso, em rigor, só existe uma resposta correcta que é 0,5ºC. A diferença é o resultado da operação subtracção que não goza da propriedade comutativa. Não se deveria admitir -0,5ºC como resposta certa. Mais, sendo indiferente saber qual é o aditivo e o subtractivo, não se percebe o que se afere nesta pergunta quando os alunos podem usar a calculadora. Nesta pergunta o aluno tem de fazer pressupostos sobre o que não está explícito no enunciado. Não existe para esse número uma resposta única. Mas mais uma vez o código da resposta correcta é o mesmo de uma resposta incorrecta (“pequenos erros de cálculo”), conforme o exemplo apresenta. Mais, se verifica que se o aluno conseguir fazer o raciocínio e os cálculos correctos mas se se enganar na contagem das tais caixas tem o código correspondente à penúltima graduação. A capacidade de uma caixa é uma medida exacta. Não pode variar de 53,9cm3 a 70cm3. Isto denota falta de rigor na formulação do item. Aqui mais está um exemplo incompreensível. Não se entende como o código é o mesmo para uma resposta correcta ou para uma resposta onde se pode cometer uns “pequenos” erros de cálculo, ou seja para uma resposta incorrecta. Relativamente aos critérios de classificação das provas do primeiro ciclo, parecem-nos bem elaborados. Não temos portanto questões a levantar quanto a estes. Comparando estas provas com as de anos anteriores, nota-se uma tentativa de progresso no abandono de formulações vagas, mas ainda se verifica uma lamentável falta de rigor derivada da existência de pressupostos escondidos. Em matemática, os pressupostos devem ser explicitados de forma a educar o estudante no rigor do raciocínio. A Sociedade Portuguesa de Matemática