Reanimação Cardiorrespiratória da Criança KAREN CRISTINA KADES ANDRIGUE 2015/01 Diferenças no atendimento ao adulto são mínimas exceto neonatos PCR na criança é menos comum que no adulto Em lactentes e crianças raramente é um evento súbito, e geralmente não é resultado de causa cardíaca primária A maioria dos treinamentos são voltados a assistência ao adulto Diferenças PCR – Adulto e Criança Diferente do que ocorre no adulto, a PCR em crianças raramente é um evento súbito, pois predominam as causas não cardíacas. Muitas das causas de PCR em crianças são preveníveis, como a asfixia por corpo estranho e o trauma. O ritmo elétrico cardíaco de parada mais comum em crianças é a Assistolia, um ritmo muito difícil de ser revertido. Mesmo quando a PCR é revertida, a criança tem grandes chances de sofrer danos neurológicos. Definição de PCR A parada cardíaca é a interrupção súbita da atividade bombeadora cardíaca eficaz, levando à interrupção circulatória (HUDAK;GALLO, 2007). Atendimento à PCR em crianças Na criança a causa da parada cardíaca tem menos probabilidade de ser de origem cardíaca sendo mais relacionada a uma hipoxemia prolongada, resultante de oxigenação, ventilação e circulação inadequadas: frequentemente representando um evento terminal de choque progressivo ou da falência respiratória (Wong, 2006; SBP, 2014). As causas também variam com a idade, a condição basal de saúde da criança e o local do evento. Em locais fora do cenário hospitalar, condições como trauma, afogamento, intoxicação, sufocamento, asma grave e pneumonia, representam as causas mais comuns de parada. Nos anos 80, a sobrevivência intra-hospitalar de crianças e bebês com problemas cardíacos era de 9%. No ano 2000, a mesma taxa já atingia 17% Em 2006, esses níveis já atingiam 27% Em ambiente extra-hospitalar, as taxas praticamente não mudaram, continuam aproximadamente 6% Sinais • Aumento da frequência respiratória, com sinais de anormalidade: esforço, ruídos etc. • Frequência respiratória inadequada, especialmente se a consciência estiver rebaixada. • Cianose com respiração anormal. Consequências da Progressão do Choque Perfusão sistêmica inadequada devido a um insuficiente fluxo sanguíneo: hipóxia, dano celular, necrose. Em crianças, o tipo mais comum é o hipovolêmico. (hemorragias, queimaduras, desidratação). Progressão do choque :Estado compensado x Estado descompensado. Estado compensado Mecanismos compensatórios ainda funcionando: Sinais: *Taquicardia *Extremidades frias e pálidas *Tempo de enchimento capilar prolongado (>2s), apesar de ambiente quente *Pulsos periféricos fracos se comparados aos centrais. Estado Descompensado Falha/exaustão de mecanismos compensatórios, perfusão torna-se inadequada: Sinais: *Estado de consciência rebaixado*Diurese diminuída *Acidose metabólica *Taquipneia *Pulsos centrais fracos *Hipotensão Suporte Básico de Vida - SBV Consiste em iniciar imediatamente manobras que restituam a circulação em órgãos nobres (coração e cérebro) e a oxigenação. CABD Primário: Assistência circulatória; Abertura das vias aéreas; Respiração/ ventilação; Desfibrilação. Descrição do Atendimento a PCR Materiais Necessários: Carro de emergência; Desfibrilador; Aspirador portátil ou a vácuo; Ressuscitador manual pediátrico; Lâminas de laringoscópio; Nº 00 a 05; Cilindro O² ou O² central; Látex; Cabo de laringoscópio (com pilhas); Compressas; Monitor de oximetria; Gel; Biombo; Luvas de procedimento. Traçados em PCR 1. Taquicardia ventricular sem pulso (TV) o ECG mostra complexos QRS alargados e regulares em uma frequência maior que 120 batimentos por minuto; 2. Fibrilação ventricular (FV), na qual se observam ao ECG deflexões caóticas e irregulares que variam em tamanho e forma, mas não há contração ventricular coordenada; 3. Assistolia, na qual não há presença de atividade cardíaca; 4. Atividade elétrica sem pulso (AESP), é visível ao ECG, mas o pulso está ausente. TV e FV são ritmos chocáveis . Assistolia e AESP são ritmos não chocáveis. Suporte Básico de Vida - SBV Consiste em iniciar imediatamente manobras que restituam a circulação em órgãos nobres (coração e cérebro) e a oxigenação. CABD Primário: Assistência circulatória; Abertura das vias aéreas; Respiração/ ventilação; Desfibrilação. BLS Irresponsivo Ausência de respiração ou respiração anormal (ofegante) Acione serviço de emergência Pegue o desfibrilador Inicie RCP Cheque o ritmo/ aplique choque se indicado. Repita a cada 2 minutos Pressione Rápido e Firme • Pressionar o tórax em uma frequência de 100 compressões por minuto, permitindo o completo recuo do tórax após cada compressão (permitindo ao coração o seu preenchimento por sangue). • Minimizar interrupções nas compressões torácicas. A aplicação de compressões torácicas de boa qualidade é essencial para uma efetiva ressuscitação cardiopulmonar. Para a AHA 2010 para RCP foi trazida uma grande modificação: a indicação de DEA para bebês com menos de 01 ano de idade. Muitos DEA podem detectar com precisão FV em crianças de todas as idades e diferenciar ritmos chocáveis de não chocáveis com alto grau de sensibilidade e especificidade. Alguns modelos são equipados com sistemas de atenuação de cargas pediátricas que reduzem a energia liberada para uma dose adequada para crianças(CAMPOS et al., 2012). Para bebês menores de 1 ano de idade indica-se preferencialmente a utilização de desfibrilador manual (convencional). Caso não seja possível um desfibrilador manual, um DEA equipado com atenuador de carga pediátrica pode ser utilizado (CAMPOS et al., 2012). Protocolo de Outubro de 2010 ACLS As modificações no tratamento da Parada Cardiorrespiratória foram idealizadas para minimizar as interrupções das compressões torácicas. Minimizar o intervalo entre a pausa nas compressões e os choques. A avaliação da respiração "Ver, ouvir e sentir” foi removida do algoritmo de SBV. As novas diretrizes minimizam a importância de checar o pulso por profissionais de saúde treinados. Quando for executada, a checagem do pulso não pode levar mais que 10 segundos. ATENDIMENTO CARDÍACO DE EMERGÊNCIA EM HOSPITAL No atendimento a PCR de 3 a 4 profissionais são suficientes. Deve-se utilizar equipamentos de biossegurança. Para efeitos de manobras de ressuscitação, as crianças podem ser classificadas em quatro categorias: 1) Recentemente nascido: o recém nascido ainda na sala de parto; 2) Lactente: até 1 ano de idade; 3) Crianças: 1 a 8 anos de idade; 4) Adultos: maior do que 8 anos ou com sinais de puberdade. Medidas básicas de reanimação cardiorrespiratória 1º Avaliação da segurança do socorrista Avaliar se o ambiente onde está a vítima não oferece risco de vida para o socorrista. Se o ambiente for perigoso, deve-se chamar socorro e aguardar. No ambiente da saúde, atenção para o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). 2º Confirmação da inconsciência O socorrista deve se colocar ao lado da vítima, bater levemente no ombro e chamá-la em voz alta. 3. Avaliar presença de ventilação: Enquanto está chamando pela vítima, observar se a vítima está ventilando adequadamente. Não confundir respiração agônica com ventilação normal. Se a vítima não estiver ventilando ou estiver com uma ventilação agônica deve ser considerada em PCR. Não perder tempo para avaliar se está ventilando. Ainda enquanto está chamando pela vítima e observando a ventilação, palpar pulso central (braquial em lactentes, carotídeo em maiores de 1 ano de idade). Não dispender mais do que 10 segundos para verificar pulso. Na dúvida da presença de pulso, considerar a vítima em PCR. Se o socorrista estiver sozinho deve primeiro realizar 5 ciclos de manobras de reanimação cardiorrespiratória e depois sair para ativar o socorro avançado, voltando e retomando as manobras rapidamente. Se houver mais de uma pessoa, um socorrista chama socorro e vai buscar um Desfibrilador Automático (DEA) se disponível - e o outro inicia imediatamente as manobras de ressuscitação. 4º Posicionar a vítima Posicionar a vítima em decúbito dorsal, sobre superfície plana e dura, com a cabeça no mesmo plano do tórax. C -Lactente • Colocar dois dedos no meio do tórax da criança, sobre o esterno, logo abaixo da linha intermamilar, e comprimir o tórax aproximadamente quatro cm. • Após, a compressão deixar a parede torácica retornar; • Se apenas um socorrista estiver presente, realizar 30 compressões e intercalar com duas ventilações; se dois socorristas estiverem presentes, realizar 15 compressões e intercalar com duas ventilações. As compressões devem ser rápidas e fortes, com uma velocidade de no mínimo 100 compressões/minutos. C- Criança Colocar o dorso de uma das mãos no meio do tórax, sobre o esterno, de forma que os dedos não toquem no tórax. Com o braço estendido e perpendicular ao corpo da vítima, o socorrista deve deixar que seu próprio peso comprima o tórax, comprimindo-o aproximadamente 5 (cinco) cm. Se um socorrista estiver presente, realizar 30 compressões e intercalar com duas ventilações; se dois socorristas estiverem presentes, realizar 15 compressões e intercalar com duas ventilações. As compressões devem ser rápidas e fortes, com uma velocidade de no mínimo 100 compressões/minuto. A - Desobstrução de Via Aérea Em posição supina, a musculatura da língua obstrui a via aérea. Com uma das mãos na testa, posicionar a cabeça para trás, enquanto o dedo indicador e médio da outra mão tracionam a parte óssea do queixo para cima. Em lactentes deve-se tracionar suavemente e pouco a cabeça para trás, evitando a hiperextensão (manobra headtilt-chin lift). A- Boca a boca: Lactentes – colocar os lábios sobre o nariz e a boca (manobra boca a boca e nariz) da vítima e expirar ar suficiente para expandir o tórax desta. Realizar essa manobra duas vezes, durando cada uma aproximadamente 1 (um) segundo. No ambiente de saúde deve-se usar um ressuscitador máscara-balão; A - Crianças Com os dedos polegar e indicador da mão que está sobre a testa, deve-se pinçar o nariz para fechá-lo e assim evitar o escape de ar. Em seguida o socorrista inspira, coloca seus lábios ao redor dos lábios da vítima e expira ar suficiente para expandir a caixa torácica. Realizar essa manobra duas vezes, durando cada uma aproximadamente 1 (um) segundo. Prioridade não interromper massagem *Se um socorrista, realizar ciclos de 30 (trinta) compressões para duas ventilações até a chegada do socorro avançado, sem realizar pausas, exceto para aplicação do DEA. **Se dois socorristas, realizar ciclos de 15 (quinze) compressões para duas ventilações; estes devem alternar a realização das compressões trocando a cada dois minutos ou cinco ciclos. Referencias AMERICAN HEART ASSOCIATION [site de Internet]. Highlights of the 2010. American Heart Association guidelines for cardiopulmonary ressuscitation and emergency cardiovascular care. CAMPOS, JF; SILVA, RF; DAVID, HMSL; SANTOS, MSS. Terapias elétricas em crianças e neonatos: novidades nas Diretrizes da American Heart Association 2010 [Electrical therapies in children and infants: news in the American Heart Association 2010 Guidelines]. Revista Enfermagem UERJ. Out. 2012. GUILHERME, F.J. de A, et al. Atualizações no atendimento a vitima pediátrica em parada cardiorrespiratória. Revista Rede de Cuidados em Saúde, v. 7, n. 1, 2013. HCPA. Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Reanimação Cardiorrespiratória Básica da Criança: Orientações para profissionais. Educação em Saúde. Volume 53. Porto Alegre- RS. SBP. Sociedade Brasileira de Pediatria. Reanimação Pediátrica e Neonatal. 2014. Disponível em: TAMEZ, R.N. Enfermagem na UTI Neonatal: assistência ao recém-nascido de alto risco. 5 ed. Rio de janeiro. Guanabara Koogan.2013. WONG, D.L.; HOCKENBERRY, M.J. Wong fundamentos de enfermagem pediátrica. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. xxxi, 1303 p.