Campinas, São Paulo, Brasil ECOCAMP ULTRASSONOGRAFIA CRÍTICA PEDIÁTRICA Pediatric & Neonatal Critical Ultrasound PNCU Program BL1P Campinas (SP), Brasil / 2013 Course Director: STEPHANIE DONIGER, MD RDMS Director of Emergency Ultrasound Children’s Hospital Oakland Hospital & Research Center [email protected] Lecturers, Hands-On Instructors: LAURA HURTADO ELMO PEREIRA JR. UMBERTO MORELLI PAULA NOCERA ANDERSON RODRIGUES MANUAL CONTRIBUTORS: LALEH GHARAHBAGHIAN, MD STEPHANIE DONIGER, MD RDMS BRITA ZAIA, MD STEVE CRANDALL, MD TRADUÇÃO DO MANUAL PARA O PORTUGUÊS: Revisor Geral ELMO PEREIRA JR. Tradutores ALEXANDRE DA SILVA DALL’ACQUA FABIO JOLY CAMPOS HELOISA GASPAR LUCIO WALFRIDO ALEIXO DA SILVEIRA ROBERTA VACARI DE ALCANTARA Additional Resources: www.sonoguide.com www.slredultrasound.com 2 PEDIATRIC & NEONATAL CRITICAL ULTRASOUND COURSE Course Syllabus: 1. PRINCÍPIOS GERAIS DO ULTRASSOM E INSTRUMENTAÇÃO 5 2. E-FAST: AVALIAÇÃO NO TRAUMA 9 3. ULTRASSONOGRAFIA PULMONAR 14 4. ECOCARDIOGRAMA BÁSICO 19 5. ECOCARDIOGRAMA AVANÇADO 25 6. VEIA CAVA INFERIOR 29 7. ULTRASSONOGRAFIA CRANIANA NEONATAL 32 8. ULTRASSONOGRAFIA RENAL 36 9. IMAGENS ABDOMINAIS PEDIÁTRICAS: APENDICITE & INTUSSUSCEPÇÃO 41 10. PROCEDIMENTOS GUIADOS POR ULTRASSONOGRAFIA 46 11. ACESSO VASCULAR 48 12. TECIDOS MOLES: CELULITE, ABSCESSO, CORPO ESTRANHO 52 3 1. PRINCÍPIOS GERAIS DO ULTRASSOM E INSTRUMENTAÇÃO 4 PRINCÍPIOS GERAIS E FUNCIONAMENTO DO EQUIPAMENTO DE ULTRASSOM Teoria do som e da onda: O som é uma energia mecânica transmitida através de um meio: ar, líquido ou sólido, o que leva à vibração/oscilação das moléculas. Essa oscilação repetida é chamada ciclo e a frequência reflete ciclos por segundo, ou Hertz (Hz). O ultrassom é definido como um som com frequência maior que 20.000 Hz. A ultrassonografia diagnóstica utiliza-se de frequências entre 2,5 e 10 MHz. A velocidade do som é constante e resulta do produto entre a frequência e o comprimento de onda. Portanto, quando a frequência aumenta, o comprimento de onda diminui. Na prática, a ondas sonoras “interrogam” os tecidos para que a imagem seja criada. Efeito piezoelétrico: É o fenômeno através do qual um material cristalino com um momento dipolo gera uma corrente elétrica quando submetido a determinada vibração. O inverso também pode ocorrer, e este chamamos efeito piezoelétrico reverso. A vibração é a contração e a expansão do material. O cristal age tanto como “microfone” quanto como “alto-falante”. Na ultrassonografia diagnóstica, os cristais são colocados em um transdutor (também chamado sonda ou probe), que entra em contato com o paciente para a aquisição da imagem. Modo contínuo: quando uma corrente contínua passa através dos cristais. Ex.: ultrassonografia com Doppler para detectar e medir o fluxo sanguíneo. Modo pulsado: utilizado para todas as demais aplicações da ultrassonografia. O cristal gera um sinal por um determinado período de tempo e, então, funciona como um receptor do sinal. Transmissão do ultrassom: O sinal de ultrassom precisa atravessar algum meio para que a imagem seja criada. Muitos componentes do som, do transdutor, do meio e dos artefatos resultantes interferem na qualidade da imagem. Impedância é a resistência à propagação do som. À medida que as ondas sonoras atravessam um meio com determinada impedância para outro de impedância diferente, ocorre mudança de interface. A reflexão do som ocorre nessa interface e a quantidade é dependente da diferença entre as impedâncias acústicas dos meios. O osso é muito denso, tem impedância acústica alta e reflete todo o som, produzindo uma imagem hiperecogênica)( na tela do monitor. O fígado, tecido de densidade menor, reflete parte do som e transmite o restante, produzindo uma imagem ecoica (cinza). A habilidade em se discernir a imagem depende da variação da impedância acústica dos vários tecidos. O ar não reflete nada, motivo porque a imagem não pode ser vista. Apenas o som que retorna/reflete para o transdutor se traduz em uma imagem. Se todos os tecidos tivessem a mesma impedância acústica, não haveria a produção da imagem. Vísceras, fáscia, osso, água e ar têm impedância acústica diferentes, o que permite a aquisição da imagem. O transdutor recebe a maior proporção do som refletido quando perpendicular à interface. Refração: flexão do som à medida que atravessa a interface dos dois meios a um ângulo oblíquo. Atenuação: diminuição da intensidade do sinal à medida que atravessa um meio. Dispersão: reflexão do som a partir de objetos que são irregulares ou menores do que o feixe do ultrassom (ex.: gás). Minimizar todos os acima para um determinado meio gerará melhor qualidade de imagem. Resolução: Dois objetos próximos precisam ser diferenciados entre si. A resolução é a separação mínima necessária para a produção de reflexões independentes no modo eco pulsado (resolução axial x lateral). Quanto maior a frequência de transmissão, melhor a resolução para objetos próximos devido à menor capacidade de penetração através dos tecidos. Quanto menor a frequência de transmissão, melhor a resolução de objetos localizados longe do transdutor. Diferentes transdutores permitem variar a frequência e a penetração: 5 Transdutores (sondas, probes): Contêm os elementos piezoelétricos para a transmissão do ultrassom. O tipo de transdutor a ser utilizado depende da aplicação desejada. Para estruturas superficiais são usados os transdutores de alta frequência; e para estruturas profundas, os de frequência baixa. Transdutor de sequência linear: os elementos piezoelétricos são agrupados de forma linear e sequencialmente ativados para produzir a imagem. Transdutor linear: uma imagem plana ou retangular é produzida. Transdutor convexo: uma imagem curvilínea é visualizada. Transdutor setorial: os elementos piezoelétricos são agrupados em uma superfície menor e são ativados com diferença de tempo, o que permite que o sinal ultrassonográfico seja conduzido. Isto faz com que sejam conseguidas imagens de difícil acesso, como nos espaços intercostais. Esses são os utilizados para ecocardiografia. Produção da imagem/posicionamento do transdutor: É necessário conhecimento geral de anatomia quando há interesse particular em uma estrutura/parte do corpo. Cada transdutor tem um marcador/indicador de referência em uma das extremidades da matriz, que coincide com o marcador observado na tela. Isso ajuda a orientar o ultrassonografista. Por convenção, o marcador do transdutor é posicionado cefálico e para a direita. Dependendo da posição do transdutor no corpo, podem ser conseguidas vistas longitudinal, transversal e coronal. Objetos próximos ao transdutor e localizados no ápice da tela são chamados near-field. Os objetos mais distantes, de far-field. O corre atenuação, dispersão e reflexão à medida que o sinal atravessa um meio, o que torna mais difícil a visualização de estruturas mais profundas (far-field) devido à perda da energia do sinal. Vários controles permitem a modificação e otimização do sinal: Poder acústico (Power): modifica a quantidade de energia gerada pelo Transdutor. Esse ajuste não é conseguido em todas as máquinas. Ganho (Gain): regula o sinal recebido. Aumentar o ganho tornará a imagem mais clara (hiperecóica), mas também aumentará a dispersão do sinal. Compensação de ganho por tempo (Time Gain Compensation - TGC): controla a amplificação do sinal em diferentes profundidades. Modo B (B-Mode ou B-scan): imagem seccional em escala de cinza em tempo real. Modo M (M-Mode): exibição bidimensional de movimento a partir de uma imagem em modo B. O marcador é posicionado sobre a imagem em modo B e há a exibição da imagem unidirecional (linear) ao longo de um período de tempo. 6 Artefatos: ocorrem devido à distorção acústica ou à deturpação do sinal. Alguns artefatos são úteis para auxiliar na ultrassonografia diagnóstica. Sombra acústica posterior (Shadowing): é um artefato de atenuação que ocorre quando uma estrutura de densidade aumentada (ex.: cálcio, osso) bloqueia a transmissão do sinal. A área situada abaixo/atrás dessa estrutura aparece menos ecóica ou anecóica. Reforço (Enhancement): à medida que o sinal entra em contato com uma estrutura cística, uma parte do sinal atravessa a estrutura, enquanto outra passa ao redor dessa estrutura (essa última sujeita à maior atenuação do sinal). O sinal que passa através da estrutura cística atravessará, então, um tecido de maior densidade; essa área aparecerá hiperecóica. Artefato de borda (Edge artifact): tipo de refração resultante da flexão do sinal à medida que este entra em contato com uma estrutura arredondada. Reverberação (Reverberation): artefato que resulta de múltiplas reflexões em uma interface. Ocorre quando o ganho é aumentado. Cauda de cometa (Comet Tails): ocorre quando múltiplas reflexões ressoam em uma pequena superfície altamente reflexiva. Reference: Rose JS: Ultrasound Physics and Knobology: In Simon B, Snoey E ed: Ultrasound in Emergency and Ambulatory care; CV Mosby, St Louis, 1996. 7 2. E-FAST: AVALIAÇÃO NO TRAUMA 8 AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA FOCALIZADA NO TRAUMA (FOCUSED ASSESSMENT WITH SONOGRAPHY IN TRAUMA - FAST) O FAST estendido (E-FAST) inclui também pesquisa de pneumotórax e hemotórax – veja também as seções de ultrassonografia pulmonar. Background Altas sensibilidade e especificidade para a detecção de liquido livre abdominal e pélvico Em pacientes traumatizados, qualquer liquido livre é considerado sangue O sangue se apresenta preto (anecóico) na tela do ultrassom O FAST é utilizado apenas como ferramenta de triagem O FAST não identifica a área ferida A realização do FAST de modo seriado aumenta a acurácia do exame Melhor para pacientes instáveis e TC indisponível para a detecção de liquido livre logo antes do paciente ser submetido à cirurgia Indicações clínicas Trauma fechado pélvico-abdominal Dor abdominal Paciente hipotenso Paciente inconsciente Técnica Probe – Transdutor curvilíneo de 2-5 MHz Posição do paciente – supina, a 10° em Trendelenburg Sequência da avaliação Quatro regiões são avaliadas no FAST: 1-Espaço de Morrison (espaço hepatorrenal) 2-Espaço esplenorrenal 3-Suprapúbico (transverso e longitudinal) 4-Subxifóide (Cardíaco) Em todas as regiões: a profundidade e o ganho podem ser ajustados para a aquisição de uma imagem melhor Espaço hepatorrenal Espaço esplenorrenal Suprapúbica Subxifóide Espaço de Morrison: impossibilidade de se visualizar completamente o rim devido à sombra de costelas Recesso esplenorrenal: o conteúdo gástrico pode simular falso-positivos; e o mesmo acima Subxifóide: a gordura epicárdica pode ser interpretada como sangue livre na cavidade pericárdica 9 Bexiga: rotura vesical dificulta a visualização desta Vista do Espaço de Morrison: O marcador/indicador do transdutor é posicionado em direção à cabeça do paciente (cefálico) O transdutor é posicionado na linha axilar média da caixa torácica inferior O transdutor é movimentado em leque anterior e posteriormente para a complete visualização do rim (polos superior e inferior) FAST negativo: não há visualização de líquido livre entre o fígado e o rim ou atrás do diafragma, na cavidade torácica FAST positivo: imagem anecóica (preta) linear ou em cunha de liquido livre é visualizada entre o fígado e o rim; imagem anecóica de líquido livre é vista atrás do diafragma, na cavidade torácica (hemotórax) Recesso hepatorrenal normal Líquido livre no espaço de Morrison Vista Subxifóide: O indicador é posicionado em direção ao lado direito do paciente O transdutor é colocado na região subxifóide na parede torácica anterior e movimentado posteriormente de forma a se obter uma vista do coração na tela O transdutor é movimentado em leque anterior e posteriormente para que todo o coração possa ser visualizado FAST negativo: não se visualiza líquido livre na cavidade pericárdica FAST positivo: líquido livre anecóico (preto) é visualizado na cavidade pericárdica Vista subxifóide normal Efusão pericárdica: vista subxifóide 10 Recesso esplenorrenal: O indicador é posicionado em direção à cabeça do paciente O transdutor é posicionado entre as linhas claviculares média e posterior da caixa torácica inferior O transdutor é movimentado em leque anterior e posteriormente para que todo o rim seja visualizado (polos superior e inferior) FAST negativo: não se visualiza líquido livre entre o baço e o rim; não se visualiza líquido livre atrás do diafragma na cavidade torácica FAST positivo: líquido livre anecóico (preto) linear ou em cunha pode ser visualizado entre o baço e o rim; líquido livre anecóico é visualizado na cavidade torácica, atrás do diafragma (hemotórax) Recesso esplenorrenal normal Líquido livre em espaço esplenorrenal Vista perivesical: O indicador inicialmente é posicionado em direção ao lado direito do paciente O transdutor é posicionado na parede abdominal anterior, perpendicular ao corpo O transdutor é movimentado em leque em direção cefálica e caudal de tal forma que toda a bexiga é visualizada O indicador é então posicionado em direção à cabeça do paciente (cefálica) O transdutor é posicionado na parede abdominal anterior, perpendicular ao corpo O transdutor é movimentado em leque da direita para a esquerda para que toda a bexiga seja visualizada. FAST negativo: líquido livre não é visualizado adjacente à bexiga, entre o útero e a bexiga ou entre o reto e a bexiga. FAST positivo: líquido livre anecóico (preto) linear ou em cunha é visualizado adjacente à bexiga, entre o útero e a bexiga ou entre o reto e a bexiga. 11 Bexiga (sagital) normal Bexiga (transversal) normal Líquido livre: bexiga (sagital) Líquido livre: bexiga (transversal) 12 3. ULTRASSONOGRAFIA PULMONAR 13 ULTRASSONOGRAFIA PULMONAR - PNEUMOTÓRAX Introdução A ultrassonografia identifica sinais sonográficos específicos em pacientes com espaço pleural normal Normalmente, as pleuras visceral e parietal deslizam uma sobre a outra com a respiração O deslizamento pulmonar (lung sliding) pode ser visualizado com o ultrassom A presença de ar (pneumotórax) ou líquido (efusão pleural) entre as camadas visceral e parietal impedem a visualização desses sinais Pode ser utilizada para o diagnóstico de pneumotórax, derrame pleural e hemotórax Pesquisa de pneumotórax O pneumotórax é uma emergência médica e pode ser de difícil diagnóstico, tanto clínico quanto através da radiografia de tórax A ultrassonografia é capaz de identificar pneumotórax pequenos Mais sensível para o diagnóstico quando comparado à radiografia Alta sensibilidade para excluir a presença de pneumotórax Sensibilidade=95%, especificidade=90-99%, valor preditivo negativo=100% Mais sensível método para a exclusão de pneumotórax do que a radiografia, principalmente em pacientes na posição supina A especificidade diminui quando há doença pulmonar concomitante Técnica Probe: transdutor linear de 10-15 MHz Posição do paciente: em pé ou supina Preparação do paciente: deve permanecer na mesma posição por 5 minutos para permitir a consolidação do pneumotórax Sequência da pesquisa Explore o hemitórax anterior começando pela linha clavicular media logo abaixo da clavícula a partir do plano sagital (longitudinal) Localize costelas e espaços intercostais – explores vários espaços intercostais à procura da presença ou não do deslizamento pulmonar (lung sliding). Duas costelas + a interface pleural são conhecidos como sinal do morcego (bat sign) Explore ambos os lados para comparação entre eles Deve-se explorar em modos B e M No modo M, procure o sinal da praia (sandy beach) e o sinal da estratosfera (stratosphere sign) ou código de barras (bar code sign) Sandy beach – interface pleural normal Stratosphere ou bar code – interface pleural anormal (pneumotórax) Pesquisa de pneumotórax – Pulmão direito Pesquisa de pneumotórax – Pulmão esq. 14 Acima: sinal da estratosfera ou código de barras - positivo para pneumotórax utilizando-se modo M, probe linear Abaixo: sinal da praia - negativo para pneumotórax utilizando-se modo M, probe linear Ponto pulmonar (Lung point) Região em que termina o pneumotórax – intersecção entre as interfaces pleurais normal e anormal Bastante específica para pneumotórax Cauda de cometa (comet tail) Artefato de reverberação – origina-se na interface pleural e penetra verticalmente na tela Se presente, exclui pneumotórax Mais comum em pacientes com doença pulmonar intersticial. Interface pleural (seta) e sombra da costela (centro) Artefato comet tail (origina-se da interface pulmonar) 15 Armadilhas Falso-positivos podem ocorrer por restrição ao deslizamento pulmonar causado por aderências pleurais Não explorar múltiplas regiões à procura de pequenos pneumotórax Não explorar o outro pulmão Determinar a profundidade da imagem a ser conseguida muito abaixo do nível que permita a exploração dos sinais lung sliding e sandy beach Mudar a posição do paciente imediatamente antes do exame pode impedir a visualização de um pequeno pneumotórax Confundir o movimento da caixa torácica com o lung sliding ULTRASSONOGRAFIA PULMONAR – EFUSÕES PLEURAIS Introdução A ultrassonografia pode ser utilizada para a detecção de derrames pleurais ou hemotórax É mais sensível do que a radiografia de tórax Pode detectar apenas 30ml de líquido Não é capaz de distinguir entre derrame pleural e hemotórax agudo Técnica Probe: transdutor curvilíneo ou setorial de 2-5 MHz Posição do paciente: supina, em pé Preparação do paciente: nenhuma Sequência da pesquisa Posicione o probe na margem costal lateral, em plano coronal Localize o diafragma e explore acima e abaixo dele Pesquise a presença de líquido acima do diafragma Vista do quadrante superior direito Derrame pleural à direita 16 Vista do quadrante lateral esquerdo inferior Derrame pleural à direita 17 4. ECOCARDIOGRAMA BÁSICO 18 ECOCARDIOGRAMA TRANSTORÁCICO BÁSICO A BEIRA LEITO (ETT BÁSICO) Introdução Ecocardiografia a beira leito realizada por médicos emergencistas tem sido executada desde 1990 É capaz de avaliar rapidamente condições clínicas importantes que colocam em risco a vida do paciente Indicações Clínicas Parada Cardíaca Instabilidade Hemodinâmica Dispneia/Hipóxia Pré-cordialgia Diagnósticos Parada cardíaca Dissociação Eletromecânica (AESP) vs pseudoAESP na parada cardíaca Derrame Pericárdico Tamponamento Cardíaco Sobrecarga de VD Função de VE (Fração de Ejeção) Anormalidades de contratilidade segmentar (ex: infarto agudo do miocárdio) Anormalidades Valvares Avaliação da volemia Técnica Probe – 2-5 MHz transdutor setorial Preparo do paciente – nenhum Posição do paciente – Supina e decúbito lateral E Sequência de avaliação Janelas ecocardiográficas Existem 4 imagens sequenciais que são obtidas no ETT. Subxifóide/subcostal Paraesternal eixo longo Paraesternal eixo curto Apical quarto câmaras Subcostal Paraesternal eixo longo Paraesternal eixo curto Apical 4 câmaras 19 Subcostal / Subxifóide O transdutor é colocado abaixo do processo xifóide e direcionado ao coração de forma longitudinal O fígado é usado como janela acústica Possibilita a avaliação de todas as quatro câmaras cardíacas e presença de derrame pericárdico. Imagem subcostal Imagem subcostal Paraesternal Eixo Longo O probe é colocado no 3-4° espaço intercostal, a esquerda do esterno. O probe é direcionado no sentido do eixo longo do coração com a marca de indicação voltada para o quadril esquerdo (4:00h) Possibilita acessar a função de VE, válvulas aórtica/mitral e septo Possibilita avaliar efusão pericárdica Identifica derrame pleural (abaixo da aorta torácica descendente) Paraesternal Eixo Longo Paraesternal Eixo Longo Paraesternal Eixo curto O probe é colocado no 3-4° espaço intercostal, a esquerda do esterno O probe é orientado através do eixo curto do coração (transversal), com indicador voltado para o quadril direito (7:00h) Existem 3 níveis para análise no paraesternal eixo curto: músculo papilar, valva mitral e valva aórtica 20 Presença da imagem da “boca de peixe” ao nível da valva mitral Direcionando o probe em direção cefálica é possível visualizar a valva aórtica. Direcionando o probe na direção caudal visualiza-se o músculo papilar. Permite avaliar função ventricular esquerda, derrame pericárdico, valvas mitral/aórtica. Paraesternal eixo curto- Visão músculo papilar Paraesternal eixo curto, visão valva aórtica Paraesternal eixo curto-Visão músculo papilar Paraesternal eixo curto- visão valva aórtica Apical 4 câmaras Melhor visualizada com o paciente em decúbito esquerdo (virando o paciente 30-60 grau para o lado esquerdo) Posicionar o probe no ápice cardíaco, abaixo do mamilo, com feixe direcionado ao ombro D. – a marca de indicação do probe é posicionada para o lado direito do paciente. Permite visualizar as 4 câmaras cardíacas, derrame pericárdico, valvas mitral, tricúspide e aórtica. 21 Apical 4 câmaras Apical 4 câmaras Derrame pericárdico Normalmente visualizada através do pericárdio posterior Presença de conteúdo anecóico na parede anterior pode representar gordura epicárdica se não for identificado derrame na parede posterior. Graduado como leve (<5mm), moderado (5-10mm e circunferencial) ou grande (>10mm) Pode levar a tamponamento cardíaco ETT pode orientar pericardiocentese, reduzindo as complicações. Derrame pericárdico Derrame pericárdico grande Tamponamento cardíaco Achados de exame físico são geralmente tardios e pouco confiáveis Melhor visualizado com o ultrassom Achados ultrassonográficos: 1) Colapso diastólico do VD 2) Dilatação de VCI e perda da variação respiratória 3) Colapso de VE – achado tardio Sobrecarga de ventrículo direito Melhor avaliado na janela apical 4 câmaras Definida pela dilatação de VD com “formato de D” do VE na diástole hipertensão pulmonar ou embolia pulmonar Secundária a Função de ventrículo esquerdo Estimativa visual da fração de ejeção (FE) é tão boa quanto a medida quantitativa Anormalidades focais na contratilidade dificultam a avaliação e exigem treinamento mais avançado Fração de Ejeção pode ser graduada como normal, discretamente comprometida, moderadamente comprometida e severamente comprometida 22 Dilatação de ventrículo esquerdo – Redução da FE 23 5. ECOCARDIOGRAMA AVANÇADO 24 ECOCARDIOGRAMA AVANÇADO A BEIRA LEITO (ETT AVANÇADO) Introdução US a beira leito pode ser útil em pacientes de UTI que necessitem de suporte hemodinâmico, auxiliando na terapêutica. Pré-carga pode ser estimada calculando-se a área diastólica final (EDA). Ecocardiografia funcional pode detectar rapidamente modificações no estado hemodinâmico Avaliação hemodinâmica inclui análise de função cardíaca e do estado volêmico. Medidas mais objetivas da função de VE podem ser realizadas: fração de encurtamento e fração de ejeção Indicações clínicas Pacientes necessitando de suporte hemodinâmico e/ou em ventilação mecânica. Choque: obstrutivo, cardiogênico, séptico ou hipovolêmico. Pacientes de UTI que por outros motivos necessitem de monitorização hemodinâmica. Técnica Probe – 2-5 MHz transdutores Posição do paciente – Supina ou oblíqua lateral esquerda. Sequência de avaliação Visões da avaliação cardíaca: subxifóide, paraesternal eixo longo, paraesternal eixo curto, apical 4 câmaras e cava inferior. Neonatos: avaliação adicional da janela supraesternal para avaliação de PCA 1. Grosseiramente descartar doença cardíaca pré-existente: dilatação importante de VD/VE. 2. Acessar a VCI para avaliação de volemia Hipovolemia = colapso inspiratório >50% em respiração espontânea e > 20% em ventilação mecânica 3. Avaliação de VD: pequeno/hipercinético ou dilatado/hipocinético; presença de tamponamento? 4. Avaliação da função de VE: hipercinético vs hipocinético Medidas Pré-carga cardíaca: paraesternal eixo longo ou curto; usando “calipers”, traçado na borda endocárdica para medir a área de VE no final da diástole; uma área diastólica final (EDA) aumentada indica aumento de pré-carga. Pré-carga: EDA = [volume diastólico final VE x raio VE fim da diástole 2h Ventrículo espessura 2 2 EDA < 5.5 cm /m = hipovolemia 2 2 EDA > 20 cm /m = sobrecarga de volume 25 Débito do VE (LVO): media da velocidade do fluxo através da aorta ascendente Janela apical 5-câmaras Usar Doppler pulsado contínuo obter onda em 3-4 ciclos respiratórios, congelar imagem. Identificar maior e menor onda durante um ciclo respiratório LVO = (ml/kg/min) [CSA x VTI x FC] peso Volume cilindro = Área trans-seccional(CSA) x Altura (Volume sistólico) πr2 = π(D/2)2 Integral velocidade tempo (VTI) (D= Diâmetro Aorta) medido na via de saída VE Débito do VD (RVO): retorno de sangue da circulação sistêmica Paraesternal eixo longo oblíquo, subcostal ou supraesternal alto: medida do diâmetro da artéria pulmonar Fração de ejeção (FE): normal 56-78% Medida mais comum para estimar a função de VE, avaliar a contratilidade. Paraesternal eixo curto ao nível do musculo papilar. Bidimensional e modo M FE% = [Volume diastólico final VE – volume sistólico final VE] x 100 Volume diastólico final VE Boa função de VE Função ruim de VE Fração de encurtamento (DeltaD): normal 28-44%, neonatal 28-40%. Paraesternal eixo curto ao nível do musculo papilar. Bidimensional e modo M 26 Medida da fração de encurtamento: Delta D% = [Diâmetro diastólico final de VE – diâmetro sistólico final de VE] x 100 Diâmetro diastólico final de VE Desafios Medida de pré-carga, FE, DeltaD envolvem fórmulas complicadas e cálculo. O US a beira leito não deve substituir o exame formal e não deve descartar totalmente a presença de cardiopatias congênitas. O cálculo da fração de ejeção pode ser imprecisa em neonatos nos primeiros dias de vida. 27 6. VEIA CAVA INFERIOR 28 AVALIAÇÃO DA VEIA CAVA INFERIOR (VCI) Introdução Avaliar o estado volêmico Não-invasivo, realizado a beira leito O diâmetro da VCI varia de acordo com a respiração devido a mudanças na pressão intratorácica. A medida de VCI varia conforme idade, tamanho e em crianças a relação VCI/Aorta pode ser mais acurada. Indicações clínicas Avaliar o estado volêmico Estimar a pressão venosa central (PVC) Diagnóstico Desidratação Sobrecarga volêmica, pletora Técnica Probe: 2-5 MHz transdutor- convexo ou setorial Posição Paciente: supina Preparo paciente: nenhum Análise sequencial Janela subcostal Visão transversal: marca voltada para a direita do paciente VCI: Subcostal, transversal Visão longitudinal: marca voltada para a região cefálica. A orientação correta é crucial, é importante distinguir aorta da VCI. VCI: corte transversal VCI: corte transversal Medidas Método Gestalt: VCI Colapsa com inspiração (S/N) Expiração = expande; Inspiração = contrai 29 Medida VCI modo-M Adquire imagem paralela (longitudinal ao vaso) e realize-se medida 1cm antes das veias hepáticas. Relação VCI/Ao: reduzida em crianças desidratadas, aumenta com expansão volêmica VCI/Ao <0.8 correlaciona-se com desidratação, S 86%, E 56%. Desafios Confundir aorta com VCI Curvas de crescimento são necessárias para medida de VCI em crianças, uma vez que estas medidas variam com tamanho e idade do paciente. Medidas absolutas são difíceis de serem realizadas. É incerto qual o melhor método para avaliação de VCI, o método de Gestald pode ser suficiente. 30 7. ULTRASSONOGRAFIA CRANIANA NEONATAL 31 ULTRASSONOGRAFIA CRANIANA NEONATAL Introdução Crianças prematuras, particularmente as de muito baixo peso (RNMBP), têm risco aumentado para complicações relacionadas à prematuridade. Hemorragia intraventricular (HIV) está inversamente relacionada à idade gestacional. Após a HIV, 1/3 dos recém-nascidos podem desenvolver hidrocefalia. A hidrocefalia gera aumento dos ventrículos e eventualmente evolui com aumento da pressão intracraniana, o que pode levar a danos no tecido cerebral a atraso no desenvolvimento. Sinais clínicos de hidrocefalia incluem fontanela tensa e o “sinal do sol poente”. A ultrassonografia é o método de escolha para a detecção de HIV e hidrocefalia em neonatos. Indicações clínicas Suspeita clínica de hidrocefalia Prematuros, especialmente os de muito baixo peso ao nascer com risco de HIV Deterioração clínica repentina: acidose metabólica, hipotensão, apneia e/ou bradicardia. Técnica Probe: transdutor de 5-10 MHz, de sequência linear ou um transdutor neonatal que seja compatível com a fontanela anterior. Posição do paciente: supina. Preparação do paciente: nenhuma. Sequência do exame Para uma melhor avaliação, a ultrassonografia cerebral deve incluir os planos coronal (6 níveis), sagital e parassagital. Configure a profundidade de tal forma que a base do crânio seja visualizada na parte inferior da tela de ultrassonografia (normalmente 7cm). O transdutor é colocado na fontanela anterior. A angulação do transdutor permite a visualização de vários níveis dos planos. Coronal: O marcador é posicionado para o lado direito do paciente. Sagital : O indicador do probe e direcionado para frente do paciente ou região frontal 32 Medidas Largura do corno anterior (LCA): anormal se maior que 4mm. Distância tálamo-occipital (DTO): anormal se maior que 26mm Índice ventricular de Levene (IVL): medida mais confiável e comumente utilizada que corresponde à distância entre a foice cerebral e o limite lateral mais externo do ventrículo lateral (vista coronal, no plano do terceiro ventrículo). Hemorragia intraventricular (HIV) O sangue aparece hiperecóico. A hemorragia da matriz germinativa aparece como uma área ecorreflexiva no sulco caudotalâmico 33 Hidrocefalia Armadilhas Configuração inadequada da profundidade da imagem. A profundidade deve ser configurada de tal forma que a base do crânio possa ser visualizada na parte inferior da imagem. Fontanelas pequenas ou que já tenham fechado impedem a visualização cerebral. Configuração incorreta do ganho ou do tempo compensatório do ganho pode fazer com que os detalhes da imagem sejam perdidos. A ultrassonografia é limitada na detecção de lesões menores que 0,5cm. 34 8. ULTRASSONOGRAFIA RENAL 35 ULTRASSONOGRAFIA RENAL Introdução Pode ser utilizado para avaliar uropatias obstrutivas agudas secundária a nefrolitíase, obstrução vesical ou outras etiologias. Obstruções podem levar a hidronefrose que pode ser visualizada pelo US O foco do exame é a detecção de hidronefrose A tomografia helicoidal permanece como o exame de escolha para avaliar a causa de obstrução , já que os ureteres não são geralmente visualizados ao US Técnica Probe: transdutor de 2-5 MHz , convexo ou setorial Posição do paciente: supina , decúbito lateral direito ou esquerdo Preparo do paciente: nenhum Sequência do exame Probe deve ser posicionado longitudinalmente ao arco costal na linha axilar até que se possa visualizar o rim em visão coronal Avaliar o rim de anterior para posterior para procurar hidronefrose Avaliar o rim na visão transversa, e escanear de superior para inferior Avaliar ambos os rins no plano longitudinal e transverso A bexiga deve ser avaliada na visão transversa para procurar distensão Rim normal: Longitudinal Imagem de bexiga normal Rim normal: transverso Jato ureteral 36 Hidronefrose Irá aparecer como uma área anecóica na pelve renal Graduada de leve a grave Hidronefrose unilateral é mais consistente com obstrução ureteral Hidronefrose bilateral pode ser causada por obstrução de colo vesical que causa distensão da bexiga Hidronefrose moderada Cistos renais: anecóicos, paredes finas, redondo, com sombra acústica posterior Cisto renal localizado na periferia Armadilhas Subestimar ou superestimar a hidronefrose Confundir cistos peripélvicos com hidronefrose Não avaliar ambos os rins para procurar hidronefrose Não avaliar hiperdistensão vesical que pode criar falso positivo para hidronefrose Confundir pirâmides medulares proeminentes com hidronefrose Confundir pirâmides renais normalmente hipoecóicas com ectasia calicial 37 Pirâmide medular proeminente MEDIDA DO VOLUME VESICAL Indicações clínicas Avaliação vesical em pacientes com sinais e sintomas que sugiram retenção urinária Previamente a cateterização vesical para determinar a presença ou ausência de urina na bexiga Anatomia A bexiga é um órgão retroperitoneal localizado na linha média , na pelve baixa, usualmente abaixo da sínfise púbica. Ao US a bexiga aparece como uma estrutura preenchida por um fluido anecóico ou hipoecóico Técnica Probe: transdutor de 3,5 MHz , abdominal Posição do paciente: supina Preparo do paciente: o mesmo do exame FAST Sequência do exame Ver seção FAST Medida do volume vesical Iniciar com o transdutor no nível da sínfise púbica, na linha média Escanear a bexiga na visão transversa (indicador direcionado para a direita do paciente) Medir largura(W) e profundidade(D) em cm 38 Visão transversa da bexiga: medida da largura e profundidade Visão longitudinal da bexiga: medida do comprimento - Escanear a bexiga na visão longitudinal (indicador direcionado para cabeça do paciente) - Medir o comprimento(L) da bexiga Calcular o volume vesical (Software do US ou manualmente) Volume(cubo): L*W*D Volume (esfera): 4/3 ₤ R3 aproximadamente 0,525*(L*W*D) Como a bexiga não é uma esfera nem um cubo, estimamos: Volume: 0,7 * (L*W*D) 39 9. IMAGENS ABDOMINAIS PEDIÁTRICAS: APENDICITE & INTUSSUCEPÇÃO 40 ULTRASONOGRAFIA NA SALA DE EMERGÊNCIA PARA APENDICITE & INTUSSUCEPÇÃO Introdução Aplicações pediátricas específicas do US Evolução do US para apendicite; sensibilidade de 80-92%, especificidade 86-98% Precisa-se avaliar o apêndice para garantir um escaneamento abdominal negativo para alterações A sensibilidade e especificidade de escaneamento para intussuscepção estão próximas de 100% Princípios Básicos Escaneamento intestinal usa-se probe linear de alta frequência Intestino normal tem aparência em camadas, facilmente compressível, peristaltismo intermitente Técnica: Apendicite Probe – transdutor linear 7.5-10 MHz Posição do paciente – Inicialmente supina, posteriormente rotacionar a posição do paciente obliquamente ( Quadril direito para cima) Preparo do paciente – Analgesia adequada, bexiga repleta incrementa visualização Comprima gradualmente para empurrar as partes moles & o gás intestinal fora do campo de visualização Procurar por estruturas tubulares e não compressíveis >6mm (0.6 cm) de diâmetro Até 2 cm, mas se > 1cm pode ser confundido com intestino delgado Outros sinais secundários: fecalitos no apêndice, fluido periapendicular, liquido livre em cavidade, edema, formação de abscesso, “sinal sonográfico de McBurney” Apendicite perfurada: Perda de visualização do anel submucoso, frequentemente impossibilitando de visualizá-lo, deixando-o “não-compressível” Gás Intestinal Apêndice Vasos Ilíacos Músculo Psoas 41 Sequência de escaneamento Uma vez identificado o apêndice, certifique-se de acompanhar o seu comprimento para visualizar ponta Inicie pelo local de máxima sensibilidade ( solicite ao paciente apontar com o dedo) Direcione-se aos pontos chaves: músculos psoas adjacente aos vasos ilíacos, apêndices normais frequentemente são encontrados superior a esse ponto. Mova-se medialmente e lateralmente para visualizar regiões adjacentes Solicite leve rotação do paciente e visibilize-o na posição oblíqua Doppler: vascularização aumentada denomina-se“ anel de fogo” Procure no quadrante superior direito ( Espaço de Morrison) por líquido livre no abdome Apendicite Apendicite longitudinal Corte transversal do apêndice: sinal do alvo Dificuldades: Apendicite Não basear-se no ultrassom para descartar apendicite; use elevada suspeita clinica para realizar US Não desperdice tempo para aquecer o gel, analgesie o paciente antes da realização do procedimento Particularidades anatômicas, gás intestinal dificultam a realização do US Falsos positivos: Dilatação da trompa de Falópio, fezes simulando fecalitos no apêndice, fibras do músculo Psoas, inflamações periapendicular ( p.ex.: pancreatite, Doença de Crohn) Linfonodos podem simular falsa anatomia de apêndice normal O não escaneamento complete, pode não ser suficiente para visualização da ponta do apêndice 42 Perfuração de apêndice Linfonodomegalia quadrante inferior direito Técnica: Intussuscepção Probe – Transdutor de 7.5-10 MHz - Linear Posição do paciente: Supina Preparação do paciente: Gel aquecido, criança no colo da mãe ( Calma e confortável) se necessário Sequência de escaneamento: Intussuscepção Começar pela região epigástrica seguindo avaliação pelo quadrante superior direito Seguindo pela borda hepática (transverso e cólon ascendente) Corte transversal: sinal do alvo Corte longitudinal: pseudo-rim Doppler: Vascularização regional aumentada Intussuscepção Massa: Alça intestinal aspecto telescópico Ocasionalmente observa-se fluido livre regional ( Sinal de maior dificuldade pela redução com enema) Corte sagital: Rosquinha ou sinal do alvo Corte Longitudinal: Imagem de Pseudo-rim 43 Dicas: Intussuscepção Procurar pelo “sinal do alvo” Posição do paciente: Conforto e adequada analgesia são cruciais para o um bom escaneamento Armadilhas: Intussuscepção Redução espontânea e intermitente: Incapacidade de visualização ( Raros casos) 44 10. PROCEDIMENTOS GUIADOS POR ULTRASONOGRAFIA 45 ULTRASONOGRAFIA PARA PROCEDIMENTOS INVASIVOS Introdução O ultrassom pode ser usado para garantir a segurança e eficácia da realização de muitos procedimentos O ultrassom pode ser usado para guiar os procedimentos, em tempo real ou mesmo pré e pós-procedimento afim de avaliar a área de interesse e, assim, identificar a melhor posição de realização do procedimento. Aplicações Clínicas Acesso Vascular* Drenagem de abscesso* Localização e remoção de corpo estranho Paracentese Toracocentese Observar Volume vesical Pericardiocentese Artrocentese Punção lombar Punção supra-púbica Bloqueio regional de plexo nervoso Princípios Básicos (veja sessão de acesso vascular direcionado com ultrassom) Técnica de 1 versus 2 assistentes Orientação do probe em eixo-curto versus eixo-longo Técnica Probe – A maioria dos procedimentos utiliza o transdutor linear de 7.5 -10 MHz Posição do paciente – Otimize a técnica convencional para melhor posição do transdutor na área de interesse Preparo do paciente – Para procedimentos estéreis, invólucro plástico estéril com máxima assepsia sobre os campos na área de interesse Sequência de escaneamento Controle de manuseio: Manobras lentas, curtas e controladas dos instrumentos, na intenção de melhor focalizar e manter a área de interesse no centro da tela do Ultrassom, durante procedimento Visualização dos instrumentos: Quando não conseguir ajustar os instrumentos cirúrgicos com a imagem da tela (1) Pare imediatamente e não avance os instrumentos cirúrgicos em qualquer direção, regresse, lentamente, os instrumentos cirúrgicos sem alterar bruscamente o eixo de acesso prévio. (2) Reposicione a relação entre o instrumento cirúrgico e a imagem, previamente ajustada e adequada com o melhor movimentação do probe ( Isso, normalmente, resolverá o problema) e, (3) Se ainda não visualizou com clareza, gentilmente movimente ou saque o instrumento da área de interesse. 46 11. ACESSO VASCULAR 47 ACESSO VASCULAR GUIADO POR ULTRASSOM Introdução Aumentar segurança, diminuir tempo e diminuir complicações dos procedimentos Os mesmos princípios são aplicados para acessos venosos centrais ou periféricos Pacientes adultos e pediátricos Indicação Clínica Pacientes com dificuldade de acesso venoso (p. ex. obesos) Veias não visíveis e não palpáveis Como um adjunto para qualquer punção central Técnica Probe – transdutor linear de 7.5-10 MHz Cateter, gaze, solução salina Posição do paciente – supina, braço em posição de abdução para expor região antecubital, posição adequada para técnicas de punção central Acesso a veias profundas (p. ex. pescoço, virilha) Preparação do paciente - preparação da pele, torniquete, material estéril para acesso central Sequência de visualização LAMP L- Localizar o vaso. Escolha a veia baseado no tamanho e acessibilidade. A- Alinhar o probe no eixo longo ou eixo curto e centrar o vaso na tela. M- Marcar o ponto na pele onde você deverá introduzir a agulha P- Punção da veia e visualização da agulha durante todo o procedimento, introdução do cateter guiada pelo ultrassom. Estático vs. Dinâmico Estático: “quick look”: identifica o vaso e marca a pele Dinâmico: guiado em tempo real: visualiza o vaso durante a introdução do cateter Um vs. Dois Operadores: Um Operador: Um profissional segura o probe com a mão não dominante e realiza a punção com a mão dominante, ou Dois Operadores: um profissional apenas para o probe ??? Um Operador Dois Operadores 48 Orientação do transdutor Eixo curto: Visualização de corte transversal do vaso, a indicação de direita e esquerda deverá ser feita baseada na pessoal que fará a punção Eixo longo: Visualização de corte longitudinal com o indicador de direção do probe orientado para os pés ou para a cabeça. Mostra toda a extensão da agulha durante o procedimento Probe posicionado no eixo curto Orientação da agulha/probe no eixo longo Corte transversal do vaso no eixo curto Visualização no eixo longo da agulha Artéria vs. Veia Você estará apto a distinguir a veia da artéria usando (1) a maior capacidade de compressão da veia quando comparada a artéria, e (2) pela ausência de onda de pulso com padrão de artéria usando o Doppler. Esquerda: veia jugular interna parcialmente comprimida durante compressão externa. Direita: Veia aparece maior quando não comprimida. A artéria não muda seu tamanho. 49 Doppler da artéria carótida Doppler da veia jugular interna jugular Posicionando IV 1) Localizar a veia, distinguir a veia da artéria através da compressão externa 2) Determinar profundidade da veia através de marcadores a direita na tela 3) Profundidade = distancia do centro do vaso ao probe 4) Agulha entra em 45 graus (a2+ b2 = c2) Dicas Veias superficiais (e às vezes profundas em pacientes desidratados) colabam facilmente com leves pressões do transdutor na pele. Para evitar isso, use pressão externa mínima Colocando torniquete no membro maximizará a dilatação das veias. Sucesso na punção: flash no cateter. Após colocação de acesso venoso central ou periférico use o ultrassom para confirmar a localização Mantenha o angulo de entrada após a colocação do cateter com gazes Use cateteres longos quando estiverem disponíveis Cuidados Falha em identificar a agulha no tecido. Identifique a ponta da agulha antes de avançá-la Falha em distinguir veia de artéria. Use a compressão externa ou o Doppler para identificar as veias Falha em acompanhar a ponta da agulha no interior do vaso. Falha ao notar o flash de sangue no cateter. 50 12. TECIDOS MOLES: CELULITE, ABSCESSO, CORPO ESTRANHO 51 ULTRASSONOGRAFIA DE TECIDOS MOLES Indicações Clinicas Celulite vs. Abscesso Abscesso vs. linfadenopatia Identificação de corpo estranho Remoção de corpo estranho 1) CELULITE Indicações Clínicas A celulite é um diagnostico clínico e geralmente não necessita US a não ser quando há dúvida sobre presença de abscesso A situação mais útil é quando apenas com exame clinico somos incapazes de descartar presença de abscesso. Sequência para visualização Começar em uma área não afetada e mover para a área afetada. Comparar com o outro lado (p.ex. se o lado direito é o afetado comparar com o lado esquerdo) Visualizar em dois planos 2) ABSCESSO & DRENAGEM Indicações Clínicas Localizar o abscesso e identificar a melhor área para drenagem Confirmar a presença de fluido/pus após a drenagem. Sequência para identificação 1. Colocar transdutor linear na área afetada, procurar áreas anormais e coleção de líquidos representando abscessos (hipo ou anecóico –preto). Pele Normal Grande abscesso Linfonodo aumentado 2. Ver o abscesso em 2 planos para definir forma e tamanho. 3. Estimar a profundidade do abscesso usando os marcadores na tela, isso ajuda a identificar quão profunda será a incisão ou posicionamento da agulha para a drenagem. 4. Marcar na pele o local com maior quantidade de líquido. 5. Efetuar incisão e drenagem. 6. Após o procedimento avaliar liquido residual 52 3) CORPO ESTRANHO: LOCALIZAÇÃO E REMOÇÃO Indicações Clinicas Detecção de corpo estranho (muitos corpos estranhos não são facilmente detectáveis ao exame físico ou raio X) Localizar corpo estranho radio opaco (vidro ou metal) e radiolucentes (Madeira, plástico, espinhos) Localização precisa do corpo estranho para remoção. Confirmação da retirada do corpo estranho após o procedimento. Apresentação ultrassonográfica dos corpos estranhos Madeira, vidro, metal e plástico aparecem como objetos brilhantes, hiperecóicos. Objetos de metal produzem brilho esbranquiçado, hiperecóicos- artefato do tipo cauda do cometa. Corpos estranhos não retirados podem ter halo hiperecóico Corpo estranho no pé em imagem com membro imerso BB na perna; hiperecóica e com sombra Sequencia para visualização 1. Locar transdutor linear sobre a área afetada e localizar o corpo estranho. 2. Visualizar o objeto em dois diferentes planos para definir forma, tamanho e profundidade. 3. Use “stand-off pads” ou imersão em água para melhor visualização do corpo estranho 4. Marcar na pele o local e retirar o corpo estranho quando utilizar abordagem estática ou usar a abordagem dinâmica e acompanhar em tempo real a retirada do corpo estranho Stand off Pad 53 Dicas Standoff pads são usados para manter o transdutor a 1-2 cm da pele do paciente. Use bolsa ou luva com solução salina ou gel na área afetada, posicione o transdutor e realize o US Imersão em água são uteis para avaliação de mãos e pés com suspeita de corpo estranho Cuidados: Não visualizar em dois planos, não utilizar técnicas para melhor visualização Não olhar estruturas adjacentes, inclusive vasos 54