CONSTRUINDO NOVAS TECNOLOGIAS PARA A REABILITAÇÃO PEDIÁTRICA NA AMAZÔNIA: O MANEJO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL EM AMBIENTE AMBULATORIAL DA CIDADE DE BELÉM-PA, BRASIL Rayanne Aleixo Araújo¹; Lena Vanessa Figueiredo²; Walmir Neto³; Karina Saunders4; Anne Lima5 ¹Acadêmica de Terapia Ocupacional; ²Especialista em Educação Inclusiva; ³Especialista em Saúde Pública; 4Especialista em Psicomotricidade; 5Mestranda em Neurociências e Comportamento [email protected] Universidade do Estado do Pará (UEPA); Universidade Federal do Pará (UFPA) Introdução: O estágio é um importante momento na vida de cada discente, pois é onde se encontram as possibilidades de pôr em prática os fundamentos teóricos que foram aprendidos, aliados a uma excelente orientação, amplia o olhar para possíveis imprevistos da clínica terapêutica ocupacional e auxilia na identificação de problemas centrais, para uma boa intervenção. Neste contexto, o relato de experiência que será descrito foi iniciado em agosto com término em dezembro de 2013. Objetivos: O presente estudo foi desenvolvido para descrever as práticas clínicas no Setor de Terapia Ocupacional, bem como evidenciar a construção de novas tecnologias, utilizadas como recursos terapêuticos, desenvolvidas no decorrer deste período. Descrição da Experiência: No decorrer do estágio, puderam ser desenvolvidas algumas atividades, como a construção de recursos terapêuticos, sala de espera, treino de raciocínio clínico, treino de Atividades de Vida Diária (AVD´s) e Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD´S), reabilitação cognitiva e princípios da integração sensorial. Será dado enfoque para as construções e práticas realizadas no Setor de Terapia Ocupacional, onde pode-se alicerçar princípios da reabilitação cognitiva, integração sensorial, do brincar terapêutico e a construção de recursos terapêuticos. Este setor conta com a atuação de cinco profissionais, tendo como demanda crianças e/ou adolescentes com Paralisia Cerebral, Autismo, Síndrome de Down, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), entre outros. Resultados: Entre as intervenções terapêuticas ocupacionais realizadas, pode-se aprimorar conhecimentos acerca de alguns princípios do que seria a Integração Sensorial. Durante o caminho da criança para ampliar a percepção de seu corpo do mundo, e durante suas continuadas experiências interativas, a criança começa a dar significado às sensações que ela percebe. Enquanto a criança continua a experimentar vários graus, tipos e combinações de informação sensorial no meio, ela responde produzindo respostas adaptativas: uma resposta com objetivo e intencional que provoca com sucesso uma mudança no meio. Também se pode ter bastante contato com a reabilitação cognitiva, que é o processo que visa recuperar ou estimular as habilidades funcionais e cognitivas do homem, ou seja, (re)construir seus instrumentos cognitivos. Sendo assim, esta se ocupa especificamente do tratamento das funções cognitivas (atenção, memória, percepção, compreensão, etc.) e tem como objetivo promover melhoria do desempenho em tarefas que demandam funções cerebrais determinadas. Dessa forma, foram construídos recursos que podem ser utilizados para estímulo das funções cognitivas. O primeiro recurso construído foi uma pasta de pareamento de formas, sendo bastante utilizada com autistas. Utilizou-se materiais de baixo custo, como papel cartão, papel sanfona, fita colorida, EVA, cola e barbante. Foram cortadas no EVA diversas formas geométricas em pares (2 triângulos, 2 círculos, 2 retângulo e 2 quadrados), contendo um furo ao centro, por onde foi passado o barbante em apenas uma peça de cada forma geométrica. Após serem colocadas no barbante, foram fixadas em uma ordem específica dentro da pasta (já Anais do III Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará - 12 a 14 de novembro de 2014. ISSN 2359-084X. construída com o papel cartão e sanfona, enfeitada com fita colorida). Ao lado, foi fixado apenas a ponta de um pedaço de barbante, sendo a outra ponta solta. O objetivo consistiria em que a criança deveria pegar as peças restantes e pareá-las de forma correta, colocando-as no barbante ao lado de seus pares correspondentes. Por exemplo, se a ordem fosse quadrado, triângulo, retângulo e círculo, ela deveria atentar para que devesse colocar no barbante primeiramente o quadrado, depois o triângulo e assim sucessivamente. Neste contexto, pode-se trabalhar atenção e concentração, bem como percepção e reconhecimento de formas geométricas, além de questões motoras, de coordenação motora fina e flexão e extensão de punho. Ao utilizar o recurso construído com uma criança autista, pode-se perceber, além dos objetivos e aspectos acima descritos que seriam trabalhados que, por se tratar de um recurso mais minucioso, a criança ainda treinava sua tolerância, pois colocar o barbante em um furo pequeno de uma peça média exigia concentração visual, movimento com precisão e paciência. Ademais, em se tratando das questões de pareamento, pode-se afirmar que este recurso também foi inspirado em alguns pressupostos, que foram aprendidos e conhecidos no decorrer do estágio, do método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children, em português significando Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits relacionados com a Comunicação). O TEACCH pode ser utilizado não somente por Terapeutas Ocupacionais, mais também por pedagogos, fonoaudiólogos e até mesmo os responsáveis pela criança, desde que realizado da maneira correta. Dentre seus pressupostos, notou-se que ele se utiliza do pareamento e da marcação de limites para a atividade (realizada através da construção da pasta) para facilitar a organização do universo da criança, bem como um melhor estímulo e comunicação. O segundo recurso construído foi denominado “Caixa de Contagem”, onde também foram utilizados materiais de baixo custo: caixa de sapato e fitas coloridas. Assim, a caixa de sapato foi totalmente revestida com uma fita preta e amarela, já objetivando chamar mais atenção da criança através das cores. O seu interior foi dividido em três partes, utilizando fita preta. Em cada parte foi colocado um número, no caso, de um a três. Neste âmbito, foram separados alguns materiais diversos do setor onde as crianças pudessem contabiliza-los (como palitos de picolés coloridos e pregadores de roupa), objetivando realizar o estimulo de atenção e concentração, além de raciocínio e reconhecimento de números. Ao utilizar o recurso construído com uma criança com Paralisia Cerebral, pode-se evidenciar o quanto os aspectos cognitivos podem ser preservados nesta demanda, e até mesmo negligenciados e não potencializados. Ademais, por esta criança apresentar-se atáxica, a atividade com este recurso também favoreceu questões perante a precisão do movimento, coordenação motora fina através da pinça, e do ato de movimentar o membro com a abdução e adução necessárias para colocar o objeto na parte correta da caixa. Nesta perspectiva, é importante observar que as intervenções apresentam-se recheadas de técnicas e conhecimentos teóricos constantemente interligados, o que faz com que a prática terapêutica ocupacional seja extremamente complexa. Além disso, por se tratar de demanda infantil, é necessário frisar sobre o brincar na Terapia Ocupacional, estando presente na maioria das intervenções. O ato de brincar da criança como sendo um instrumento único de intervenção nos processos sensório e perceptivo uma vez que se estabelece entre a criança e seu mundo vivencial. É nessa interação que o terapeuta ocupacional sabe se o desenvolvimento da criança está ocorrendo sem nenhum atraso. Entende-se que as intervenções no setor que englobam o brincar em sua maioria estão intimamente relacionadas com o desempenho ocupacional da criança e para o seu processo de desenvolvimento. Conclusão: No decorrer do estágio, pode-se não somente aprimorar o conhecimento já adquirido, mas também ter contato com muitos outros Anais do III Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará - 12 a 14 de novembro de 2014. ISSN 2359-084X. instrumentos técnicos, que foram anteriormente citados, essenciais para um bom desempenho profissional futuro. É necessário evidenciar a importância do estágio não somente para a formação acadêmica, mas também pessoal, pois agrega valores desde o lidar com o outro, questões de empatia, resiliência e compreensão. Referências: CAVALCANTI, Alessandra; GALVÃO, Cláudia. Terapia Fundamentação e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. Ocupacional: CAZEIRO, A. et al. Terapia Ocupacional: A Terapia Ocupacional e as Atividades de Vida Diária, Atividades Instrumentais da Vida Diária e Tecnologia Assistiva. Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais: Fortaleza, 2011. CORRÊA, H. L. Just In Time, MRP II e OPT: um enfoque estratégico. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009. Anais do III Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará - 12 a 14 de novembro de 2014. ISSN 2359-084X.