Alelopatia de canola sobre o desenvolvimento e produtividade do milho(1) Douglas Vinicius Zago(2); Debora Munaretto(3); Evandro Franz(3); Luiz Antônio Cezarotto(3); Gean Lopez da Luz(4); Siumar Pedro Tironi(5) (1) Trabalho executado com recursos da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS. (2) Discente; Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – campus Chapecó; Chapecó, Santa Catarina; (3) [email protected]; Discente; Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – campus Chapecó; Chapecó, (4) Santa Catarina; Docente Universidade Comunitária da região de Chapecó (Unochapecó) – Chapecó, Santa Catarina; (5) Docente; Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Chapecó; Chapecó, Santa Catarina. RESUMO: A alelopatia é um fenômeno natural, em que uma planta interfere no desenvolvimento de outra pela liberação de compostos químicos. A palhada da canola pode interferir no desenvolvimento das culturas sucessoras devido à liberação de compostos alelopáticos. Diante disso, objetivou-se, com esse trabalho, verificar o efeito alelopático da palhada de canola sobre o desenvolvimento do milho com diferentes épocas de semeadura após a colheita da canola. Os tratamentos foram constituídos de diferentes intervalos entre colheita da canola e a semeadura do milho, sendo 10, 20 e 30 dias após a colheita da canola e pousio (testemunha). Foram avaliadas as variáveis altura de planta (AP), diâmetro de planta (DP), população final de plantas (PF), número de fileiras por espiga (NF), número de grãos por fileira (NGF) e produtividade de -1 grãos (kg ha ). Observou-se melhor desempenho do milho quando na presença da palhada de canola em relação ao pousio. A canola pode ser indicada como cultivo de inverno em áreas onde se irá produzir milho sem que se tenha interferência na produtividade do mesmo. Termos de indexação: Brassica napus var. oleífera, Zea mays, épocas de semeadura. INTRODUÇÃO A alelopatia é um fenômeno natural, definido como a interferência que determinadas plantas promovem sobre o desenvolvimento de outras, através da liberação de compostos químicos. Essa interferência pode ser negativa ou positiva, dependendo das espécies envolvidas (Goldfarb et al., 2009). Os efeitos causados pela alelopatia podem comprometer o desenvolvimento de algumas culturas nos agroecossistemas. A palhada da canola pode interferir no desenvolvimento da cultura posterior devido à liberação de compostos alelopáticos, esses efeitos podem variar dependendo, principalmente, do período de tempo entre a colheita e semeadura da cultura subsequente (Silva, 2011). Nozaki & Tomazelli (2014), demonstram que o rendimento da soja foi inferior onde apresentava palhada de canola. Efeito que é reduzido quanto maior o intervalo entre colheita da canola e semeadura da soja, indicando um período mínimo de 20 dias entre a colheita e a semeadura. Os resultados de pesquisa ainda são controversos, em alguns estudos realizados em laboratório os extratos de canola promoveram a redução e a velocidade de germinação da soja. No entanto em outros não foram evidenciados efeitos significativos sobre a biomassa das plantas (Neves, 2005; Nunes et al., 2014). Rizzardi et al. (2008) não observaram variação na germinação de soja com a presença de extrato aquoso e palhada de canola, mas verificaram que há presença de possíveis efeitos alelopáticos, porém fica evidente somente certo retardamento no crescimento das plântulas nos dois primeiros dias após a germinação. A cultura do milho pode ser influenciada negativamente pelos compostos alelopáticos liberados pela palhada de culturas antecessoras, como é o caso dos restos culturais de aveia-preta ou de ervilhaca, que influenciam de forma negativa o crescimento inicial das plantas de milho (Fleck et al., 1996). A canola é uma cultura que vem sendo cultivada no inverno, antecedendo as culturas de verão, principalmente milho e soja. Há grande preocupação com relação aos possíveis efeitos alelopáticos liberados pela palhada a canola sobre o desenvolvimento das culturas sucessoras. Sabe-se que esses compostos alelopáticos podem causar efeito negativo sobre o desenvolvimento da soja (Nozaki & Tomazelli, 2014). Pouco se sabe sobre os possíveis efeitos dos compostos alelopáticos da palhada da canola sobre o desenvolvimento de milho. Viecelli et al. (2009), afirmam que a palhada de canola pode não interferir no crescimento da parte aérea das plantas de milho, no entanto, pode alterar o desenvolvimento do sistema radicular. Efeitos que podem ser positivos para o desenvolvimento de milho, dessa forma a cultura da canola pode ser indicada como antecessora do milho, com interferência positiva para o cultivo do cereal (Spiassi et al., 2011). Diante disso, objetivou-se, com esse trabalho, verificar o efeito alelopático da palhada de canola sobre a cultura do milho em diferentes épocas de semeadura após a colheita da canola. MATERIAL E MÉTODOS Foi conduzido um ensaio a campo, em um Latossolo Bruno Avermelhado (Embrapa, 1999), na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), no município de Chapecó/SC. O experimento foi conduzido em delineamento de blocos casualizados, com quatro repetições. As parcelas foram formadas por cinco linhas da cultura, com área de 12,5 m² (2,5 X 5 m). Os tratamentos foram constituídos de diferentes intervalos entre colheita da canola e a semeadura do milho, que foi realizado aos 10, 20 e 30 dias após a colheita da canola mais uma testemunha com semeadura sobre pousio, para cada época de semeadura. A cultivar da canola Hyola 61 foi utilizada como cultura antecessora por apresentar bom rendimento de grãos, adaptação às condições de clima e principalmente estabilidade de produção (Embrapa, 2009). A colheita foi realizada no ponto de maturação, ou seja, quando 40 a 60% dos grãos apresentavam coloração marrom (Tomm, 2007). A cultura do milho foi semeada diretamente sobre a palhada da canola. A adubação foi realizada de acordo -1 com análise de solo e recomendação para a obtenção de rendimento de 9 t ha . O espaçamento entre fileiras foi de 0,45 m. Na semeadura foi utilizado a densidade sementes para obtenção de 80 mil plantas ha 1 tm . A cultivar de milho utilizada foi o híbrido CD 308 . Aos 12, 24, 36 DAE foram avaliadas as variáveis altura de planta (AP) e diâmetro de planta (DP), utilizando trena e paquímetro, respectivamente. Para essas avaliações foram utilizadas, aleatoriamente, dez plantas da área útil de cada parcela, desconsiderando as linhas laterais e 0,5 m o início e final de cada parcela. Quando a cultura encontrava-se em plena maturação foi realizada a quantificação da população final do -1 milho (plantas por m ), contabilizando as plantas contidas em 4 m na linha de semeadura, posteriormente realizou-se a colheita do milho. A colheita foi realizada com a coleta de todas as espigas contidas na área útil de cada parcela. Foram separadas, aleatoriamente, dez espigas de cada parcela, as quais foram utilizadas para determinação do número de fileiras por espiga (NFE), número de grãos por fileira (NGF). Após a quantificação foi realizada a trilha de todas as espigas de cada parcela, com os dados foi possível -1 estimar a produtividade de grãos em kg ha . Os dados coletados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste F, e quando observado ® diferença significativa, foi efetuado o teste de Duncan a 5%, com auxilio do software WinStat (Machado & Conceição, 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO A população final de plantas de milho não foi influenciada pela presença de palhada de canola ou pela época de semeadura (Tabela 1). Essas informações demonstram que os aleloquímicos possivelmente liberados pela palhada da canola não interfere na germinação, emergência e estabelecimento das plantas de milho. A variável estatura de plantas se mostrou variável, principalmente em função da época de semeadura, em que aos 12 DAE e 36 DAE os tratamentos semeados na primeira época (com ou sem palhada) mostraram valores de estatura de planta superior às demais. Aos 24 DAE observou-se um comportamento semelhante, no entanto, os tratamentos semeados na última época não diferiram da estatura das plantas semeadas em sistema de pousio na primeira época. Esses resultados demonstram que os fatores ambientais decorrentes da época de semeadura causam mais interferência do que a presença da palhada de canola. Resultados semelhantes foram observados por Viecelli et al. (2009), que a palhada de canola não interferiu no crescimento da parte aérea das plantas de milho. -1 Tabela 1. População final (plantas m ), estatura de plantas (cm) e diâmetro do colmo (cm) de milho em função da época de semeadura, aos 10, 20 e 30 dias após a colheita da canola (DAC) e pousio. Tratamento Estatura de Planta Diâmetro do colmo População Época Sistema final 12 DAS 24 DAS 36 DAS 12 DAS 24 DAS 36 DAS 1 Canola 4,78 a 11,39 a 26,58 a 70,21 a 0,67 a 1,82 ab 2,51 ab 10 DAC Pousio 4,61 a 11,21 a 22,52 ab 64,15 a 0,63 a 1,38 abc 2,27 ab Canola 4,53 a 8,17 b 14,27 c 45,67 b 0,40 b 0,93 c 2,68 a 20 DAC Pousio 4,28 a 6,40 b 15,64 c 44,12 b 0,45 b 0,91 c 2,14 b Canola 4,23 a 6,79 b 22,35 ab 53,17 b 0,51 ab 2,04 a 2,30 ab 30 DAC Pousio 4,64 a 7,18 b 18,62 bc 46,50 b 0,45 b 1,16 bc 2,06 b 1 Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Duncan a 5% de probabilidade. O diâmetro de colmo teve comportamento distinto, principalmente, entre as épocas de semeadura (Tabela 1). Aos 12 DAE a primeira época de semeadura apresentou maior diâmetro de colmo, somente não diferiu das medidas obtidas nas plantas semeadas na última época (30 DAC) sobre a palhada de canola. Nas avaliações aos 24 e 36 DAE não observou-se uma tendência nos resultados. Na última avaliação os resultados foram muito semelhantes, com destaque a diferença entre os valores de diâmetro de colmo observado no tratamento com semeadura aos 20 DAC, em que as plantas semeadas sobre a palhada da canola apresentaram maior diâmetro do colmo. Com esses resultados é possível inferir que a palhada da canola não interfere negativamente no desenvolvimento do milho, mas pode interferir de forma positiva. Para Viecelli et al. (2009) a palhada de canola apresenta efeito alelopático positivo sobre o desenvolvimento da cultura do milho, em que a palhada estimula o desenvolvimento das plantas. As variáveis número de fileiras por espiga e grãos por fileira não diferiram em nenhum dos tratamentos estudados (Tabela 2). Esses fatores estão ligados à característica genética da cultivar de milho, mas também aos fatores ambientais. Dessa forma, percebe-se que nenhum tratamento apresentou limitação à produtividade do milho que interferisse nessas variáveis. Para Ferreira & Aquila (2000), a germinação é menos sensível aos aleloquímicos que o crescimento da plântula. Podendo acorrer aparecimentos de plântulas anormais após a germinação, isso não foi evidenciado, demostrando que as características da espiga não variaram independente do tratamento. A produtividade do milho mostrou-se diferente entre a primeira época e a testemunha, evidenciando o que Spiassi et al. (2011) e Viecelli et al. (2009) demostram em seus trabalhos, onde afirmam que a canola como cultura anterior ao milho, potencializa o desempenho da cultura, em relação a demais tratamentos. A segunda e terceira época tiveram valores numericamente superiores à testemunha, mas não diferiram dela estatisticamente. A época de semeadura, com retardamento da colheita, pode ter interferido em menor desempenho produtivo da cultura, o que reduziu a diferença entre os sistemas de cultivo. Silva et al. (2011) afirma que é necessário um período de no mínimo 20 dias entre a colheita da canola e a semeadura da soja, Nozaki & Tomazelli (2014), confirmam a mesma hipótese, afirmando que são necessários pelo menos de 10 a 20 dias de intervalo. Neste estudo fica evidente que, para a cultura do milho, não é necessário esse período de intervalo, mostrando que a cultura em não foi influenciada negativamente com os compostos alelopaticos produzidos pela canola. De acordo com Cruz et al. (2010), a semeadura do milho, no Sul do Brasil, ocorre preferencialmente de agosto a setembro, afirmando ainda que com o atraso para realizar a semeadura tem-se um decréscimo de produção considerável. Isso ocorreu neste ensaio, devido ao ciclo da canola ser de primavera, o que faz com que haja um atraso nas culturas semeadas posterior a ela (Tomm, 2007). -1 Tabela 2. Produtividade (kg ha ), número de fileiras por espiga e grãos fileira de milho, em função da época de semeadura, aos 10, 20 e 30 dias após a colheita da canola (DAC) e pousio. Tratamento -1 Época Sistema Nº de fileiras espiga Nº de grãos fileira Produtividade (kg ha ) 1 Canola 14,57 a 35,46 a 7746,30 a 10 DAC Pousio 15,29 a 33,78 a 6480,09 b Canola 15,36 a 34,46 a 6912,50 ab 20 DAC 15,05 a 34,06 a 6436,00 b Pousio Canola 14,36 a 35,14 a 6993,98 ab 30 DAC 14,75 a 34,63 a 6234,46 b Pousio 1 Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste Duncan a 5% de probabilidade. CONCLUSÕES A palhada da canola não interfere no desenvolvimento inicial das plantas de milho. A canola pode ser indicada como cultivo de inverno em áreas em que será cultivado milho sem que se tenha redução na produtividade do cereal. Não há necessidade de atrasar a semeadura do milho em área que foi realizada a colheita da canola. REFERÊNCIAS CRUZ, J. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; ALVARENGA, R. 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