PRODUTIVIDADE DE GRÃOS DE ARROZ IRRIGADO EM
FUNÇÃO DA DRENAGEM DA ÁGUA A PARTIR DO
FLORESCIMENTO PLENO
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Elio Marcolin ; Cleiton José Ramão ; Mara Grohs ; Roberto Carlos Doring Wolter ;
5
Armando Fontoura Neto
Palavras-chave: Oryza sativa L., período de supressão de água, cultivar IRGA 424
INTRODUÇÃO
O arroz irrigado é o cereal mais cultivado na metade sul do Rio Grande do Sul (RS) e,
na safra 2014/15 foram cultivados, aproximadamente 1,12 milhões de hectares (IRGA,
2015). Além da área, este cereal tem importância fundamental no desenvolvimento
socioeconômico destas regiões.
Comparando-se com outras culturas anuais, o arroz irrigado utiliza maior volume de
água, por permanecer a maior parte de seu ciclo com lâmina de água livre na superfície do
solo. No entanto, em função da grande necessidade de água que os seres vivos necessitam
para a sobrevivência, devemos buscar alternativas para racionalizar o uso de água sem
interferir no desenvolvimento agrícola, industrial e humano.
Entre os três segmentos (lavoura, indústria e uso humano), a lavoura irrigada é a maior
usuária de água pois, aproximadamente, 89 % da água captada dos mananciais no RS é
utilizada na produção de alimentos. Das culturas irrigadas o arroz é a que mais usa água
por ter a maior área irrigada no RS e, outro fator que também pode aumentar o uso de água
é o sistema de irrigação adotado que quando o manejo não é adequado favorece a baixa
eficiência de uso de água.
Atualmente existem questionamentos de até quando é necessária a manutenção da
lâmina de água na superfície do solo na lavoura de arroz. Geralmente, o período entre o
florescimento (50 %) e o ponto de colheita, é em torno de 37 a 42 dias. Segundo Counce et
al. (1993), após o florescimento (50 %), a supressão da irrigação aos 7 dias e drenagem aos
14 dias ou, a supressão da irrigação aos 14 dias e drenagem logo a seguir, resultaram nas
maiores produtividade de grãos e de rendimento de engenho (grãos inteiros polidos). Em
ensaio em andamento (dados não publicados), observou-se que o tratamento onde foi
realizada a drenagem da água aos 14 dias após o florescimento pleno (80 %), tem
demonstrado redução de 16 % no volume de água usado na lavoura, sem afetar a
produtividade e o rendimento de grãos inteiros. Além da redução no volume de água, há a
redução no custo da lavoura, já que a irrigação durante o ciclo da cultura representa 10,74
% do custo total de produção (IRGA, 2013). Neste sentido, o objetivo deste ensaio foi
avaliar a produtividade grãos da cultura de arroz irrigado em função dos diferentes períodos
de drenagem a partir do florescimento pleno.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi realizado em quatro locais, em áreas niveladas, na Estação Experimental
1
Eng. Agr. M. Sc., EEA/IRGA, Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494, CEP 94930-030, Cachoeirinha, RS. [email protected].
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Eng. Agr., IRGA
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Eng. Agr. M. Sc., IRGA
4
Eng. Agr. Dr., IRGA
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Bolsista do CNPq PIBIC-IRGA
do Arroz do IRGA de Cachoeirinha e nas Estações Experimentais Regionais do IRGA em
Cachoeira do Sul, Uruguaiana e Santa Vitória do Palmar no RS. O início da irrigação para
todos os tratamentos foi entre V3 – V4 (três a quatro folhas) de acordo com a escala
proposta por Counce et al. (2000), com altura média da lâmina de 5 cm. Os tratamentos se
diferiram apenas no momento da drenagem da água a partir do florescimento pleno (80 %
das espiguetas floridas) até os 35 dias após o mesmo. Os tratamentos estão descritos na
Tabela 1.
Tabela 1 – Descrição detalhada dos tratamentos utilizados no ensaio.
Tratamentos
Descrição
T1
T2
T3
T4
T5
T6
Inundação contínua até o florescimento pleno, em seguida, drenagem
Inundação contínua até 7 dias após o florescimento pleno, em seguida, drenagem
Inundação contínua até 14 dias após o florescimento pleno, em seguida,
drenagem
Inundação contínua até 21 dias após o florescimento pleno, em seguida,
drenagem
Inundação contínua até 28 dias após o florescimento pleno, em seguida,
drenagem
Inundação contínua até 35 dias após o florescimento pleno (ponto de colheita), em
seguida, drenagem
A cultivar utilizada foi a IRGA 424 (ciclo médio entre emergência e maturação
fisiológica, de 132 dias), na densidade de 100 kg ha-1 de sementes. As sementes de arroz
foram previamente tratadas com inseticida fipronil (4 g i.a. 10 kg de sementes-1) para
controle preventivo da bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae) e com fungicida à base de
thiram e de carboxina (2,5 mL kg de sementes-1) para controle de fungos de solo. O controle
de plantas daninhas foi realizado pela aplicação de herbicidas recomendados (SOSBAI,
2014) em pós-emergência. O delineamento experimental foi em faixas de 690,00 m2 e, em
cada faixa foi instalado um tratamento com três repetições. A semeadura foi realizada na
segunda quinzena de outubro de 2014 e a adubação seguiu as recomendações técnicas da
pesquisa para o Sul do Brasil (SOSBAI, 2014), de acordo com os resultados de análise do
solo. Para a semeadura foi utilizada uma semeadora-adubadora de parcelas com
espaçamento de 0,17 m entrelinhas. A primeira dose (2/3) de N em cobertura foi aplicada no
seco, logo antes da inundação, no estádio entre V3 - V4 e, a segunda dose (1/3) de N em
cobertura foi aplicada no estádio V8.
Neste trabalho foi avaliado a produtividade de grãos. A análise estatística dos dados foi
realizada usando-se o teste F para a análise da variância. As médias dos tratamentos,
quando necessárias, foram comparadas entre si pelo teste de Duncan em nível de 5 % de
probabilidade de erro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de produtividade de grãos em função dos diferentes períodos de
drenagem da água a partir do florescimento pleno, estão na Tabela 2. Os resultados dos
locais de Cachoeirinha e Cachoeira do Sul mostram que não houve diferença na
produtividade de grãos entre os diferentes tratamentos de drenagem da água, em razão de
ter ocorrido precipitações pluviais regulares a partir do florescimento pleno. Em razão disto
não houve deficiência hídrica e contribuiu para que não houvesse redução na produtividade
de grãos, mesmo nos períodos em que foi realizada a drenagem da água logo após e, 7
dias após o florescimento pleno (tratamentos T1 e T2, respectivamente). Os dados são
preliminares, pois o ensaio foi realizado em apenas uma safra agrícola, porém, o mesmo
deverá ter continuidade, pelo menos, por mais duas safras. Os resultados de Uruguaiana
mostram que a drenagem da água logo após o florescimento pleno foi prejudicial para o
enchimento de grãos e, o tratamento com drenagem logo após o florescimento pleno (T1)
apresentou a produtividade menor e diferenciou estatisticamente, dos demais tratamentos.
Isto se deu pelo motivo de não ter havido a ocorrência de precipitação pluvial num período
de sete dias após a drenagem. Este período seco ocasionou deficiência hídrica para as
plantas, comprometendo a produtividade de grãos. Em Santa Vitória do Palmar, após o
florescimento pleno das plantas de arroz, as precipitações pluviais foram baixas, ou seja,
típicas de anos com ocorrência de estiagem, evidenciando maior diferença significativa
entre os tratamentos. Em razão da drenagem precoce logo após o florescimento pleno, o
tratamento T1 foi o que expressou a produtividade de grãos menor devido a deficiência
hídrica e, diferenciou dos demais tratamentos. O tratamento T2, apesar da drenagem da
água ter ocorrida 7 dias após, o enchimento de grãos também ficou comprometido pela
deficiência hídrica e portanto, produtividade de grãos menor que os tratamentos T3, T4 e
T5 que não diferenciaram entre si. Apesar de serem dados preliminares, os resultados vêm
a concordar com Counce et al. (1993), que a supressão e drenagem da água 14 ou mais
dias após o florescimento, não comprometem a produtividade de grãos.
Tabela 2 – Produtividade de grãos da cultivar de arroz irrigado IRGA 424, em quatro locais
no RS, em função dos diferentes períodos de drenagem da água a partir do
florescimento pleno, na safra 2014/15.
Tratamentos
C.V.
LLocais dos ensaios
(%)
T1
T2
T3
T4
T5
T6
--------------------- Produtividade de grãos, Mg ha-1 --------------------EEEA - Cachoeirinha
10,09ns
10,01
10,00
10,16
10,03
9,94
1,9
ns
CCachoeira do Sul
11,84
11,76
*
*
11,46
11,30
3,3
UUruguaiana
10,73b
12,15a
12,38a
12,19a
12,49a
12,14a
3,7
SSanta Vitória do Palmar
7,26c
8,59b
10,07a
10,31a
10,22a
*
2,2
C.V.: Coeficiente de variação.
*Tratamentos perdidos por fatores abióticos.
Na linha, médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Duncan (p ≤
0,05). ns = não significativo na linha.
CONCLUSÃO
Em anos em que a precipitação pluvial é regular, a drenagem pode ser feita logo após o
florescimento pleno, sem afetar a produtividade de grãos de arroz. Porém,quando a
precipitação pluvial é insuficiente para as plantas de arroz, a drenagem não deve ser
realizada antes de 14 dias após o florescimento pleno, independente dos locais de cultivo.
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela
concessão de bolsa de iniciação científica ao acadêmico em agronomia Armando Fontoura
Neto, para a viabilização da pesquisa realizada na EEA/IRGA em Cachoeirinha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUNCE, P. A.; KEISLING, T. C.; MITCHELL, A. J. A uniform, objetive, and adaptive
system for expressing rice development. Crop Science, Madison, v.40, n.2, p. 436-443,
2000.
COUNCE, P. A.; SIEBENMORGEN, T. J., VORIES, E. D. Post-heading irrigation
management effects on rice grain yield and milling quality. Arkansas, Arkansas
Agricultural Experiment Station. Division of Agricultural. 1993. 12p. (Boletim Técnico, 940).
SOCIEDADE SUL-BRASILEIRA DE ARROZ IRRIGADO (SOSBAI). Arroz irrigado:
recomendações técnicas para o Sul do Brasil. Santa Maria, RS: SOSBAI, 2014. 192 p., il.
IRGA. Custo de produção. Safra 2013/14 (out 2013). Disponível em: <
http://www.irga.rs.gov.br/upload/20140318133121custo_de_produção_médio_ponderado
_arroz_irrigado.pdf >. Acesso em: 10 jun. 2015.
IRGA. Safras. Evolução da semeadura – safra 2014/15. Disponível em: <
http://www.irga.rs.gov.br/upload/20150109163430evolucao_da_semeadura_14_15.pdf
>.
Acesso em: 17 jun. 2015.
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