Foto: Augusto Pessoa capa Mobilidade CAOS NO TRÂNSITO E OCUPAÇÃO DESORDENADA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS FORÇAM CIDADES A BUSCAREM SAÍDAS QUE RESPEITEM O PEDESTRE E AS TORNEM MAIS CONFORTÁVEIS E ACESSÍVEIS [ CARLOS CÉSAR E NANÁ GARCEZ ] Andar, deslocar-se, ir e vir. Ato antes tão simples agora é um desafio nas cidades brasileiras mais populosas e as capitais. De acordo com o Censo 2010/IBGE , o Brasil tem 84,4% da população vivendo na área urbana; a Paraíba 75,4% e João Pessoa 99,6%. O crescimento desordenado transformou a possibilidade de locomoção. O natural caminhar hoje é cercado de riscos, obstáculos e restrições. Já não se faz mais com a mesma tranquilidade o itinerário de casa ao trabalho, ao shopping, ao banco, à feira ou ao lazer. Quem nunca se deparou nas ruas com uma infinidade de elementos e informações que lhes atraem e exigem atenção: lixeiras, postes, telefones públicos, árvores, placas, toldos, bancos e muitas calçadas em desníveis e obstaculadas. Em meio à crescente degradação, simbolizada pela invasão das calçadas e a desordem 44 REVISTA | AG AGOSTO/SETEMBRO 2011 do trânsito nas ruas e avenidas, as cidades estão sendo forçadas a buscar soluções que tornem o convívio humano minimamente suportável e mais saudável. O novo caminho para que isso aconteça está em construção como proposta governamental de política pública há menos de uma década e ainda é desconhecido pela maioria das pessoas, inclusive gestores. Seu nome: Mobilidade Urbana. Compõe-se, essencialmente, da soma dessas possibilidades de deslocamentos e uso acessível dos equipamentos, serviços e bens públicos e privados. A mobilidade é identificada como a melhor visão para conduzir o crescimento dos centros urbanos. A Revista EDIFICAR buscou informações, estatísticas, legislação, normas, iniciativas governamentais, depoimentos de especialistas e gestores para aprofundar essa discussão, contribuindo para a identificação dos problemas e para revelar como as cidades podem ser melhor habitáveis, acessíveis e sustentáveis. Confira a reportagem! urbana O mobiliário urbano de uma cidade, como mostra a foto e conforme estalece a NBR 9283:1986 é composto de todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder público, em espaços públicos e privados. STTrans: os carros ou os pedestres Em João Pessoa, cidade de 426 anos, com 730 mil habitantes e 237 mil veículos em circulação, o crescimento da frota na última década deu-se no patamar de 8% ao ano, superior em quatro vezes o aumento populacional, em torno de 2%/ano. Para cada grupo de cinco pessoas, há um carro nas ruas. Nesse ritmo, uma projeção simplista aponta para o caos: daqui a pouco mais de 20 anos, em 2033, empata o número de veículos com o de moradores – um carro por habitante. As estatísticas (veja gráficos) demonstram a gravidade da situação do trânsito, reconhece Nilton Pereira de Andrade, professor da Universidade PROJEÇÕES DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO E FROTA 1400 1200 1000 800 600 8,4% % POPULAÇÃO 2,05 400 VEÍCULOS 200 0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2030 FONTE: DENATRAN Federal da Paraíba, da Universidade de Brasilia e PhD em engenharia de tráfego pela University of Southampton, na Inglaterra.Atualmente no comando da Superintendência de Transportes e Tráfego, ele admite, sem reservas:“Não dá mais para ficar indiferente ao que está acontecendo com a cidade, com os engarrafamentos em seus corredores principais”, disse durante lançamento de programa municipal de melhorias para o trânsito. REVISTA | www.revistaedificar.com.br 45 Fotos: Augusto Pessoa capa NILTON PEREIRA, SUPERINTENDENTE DO STTRANS Mudança de mentalidade A realidade das ruas, em especial as de maior movimento, como Epitácio Pessoa, Pedro II, Ruy Carneiro e Beira Rio, é preocupante, segundo o superintendente da STTrans, mas será grave em poucos anos se não houver “intervenções fortes” que redirecionem as ações e projetos para “priorizar as pessoas, ao invés dos carros ”. Trata-se, na prática, de trabalhar não só pelas melhorias no sistema viário e de transportes, mas de insistir numa mudança de mentalidade que predomina no País : “de cada dez brasileiros que não tem carro, dez querem ter carro e, de cada dez que já tem carro, também dez não querem deixar de ter carro”. A estabilidade econômica - que aumentou a renda, somada às isenções de impostos, facilidades de preços e prazos para compra de carros, fortaleceu mais o desejo do brasileiro em possuir um automóvel, incorporado “à cultura nacional” do carro próprio. O professor insiste, contudo, que como em outras áreas do planejamento urbano, é necessário fazer escolhas também na condução e controle do sistema viário. Ele formula e responde as questões: “Que tipo de cidade queremos? Uma cidade para carros? Ou uma cidade para as pessoas?”. E, sugere: “Se optarmos por uma cidade para os carros, é só seguir os modelos existentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza”. Ou: “Se optarmos por uma cidade para as pessoas, precisamos mudar radicalmente nossa forma de pensar e de agir”. 46 REVISTA | AG AGOSTO/SETEMBRO 2011 Quarta-feira, 10/08, às 10 horas: transito na Epitácio Pessoa hoje já é intenso fora dos horários de pico VEÍCULOS NOVOS LICENCIADOS POR DIA 2011 101,3 101,3 31,1 2005 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 FONTE: DENATRAN, 2011 - IBGE, 2011 Iniciativas para conforto e segurança à população são raras A grande maioria das cidades brasileiras está longe de equacionar os problemas relacionados à mobilidade urbana. Exceto conquistas pontuais, como ocorreu pioneiramente em Curitiba (PR), na década de 70 (veja página 50) ainda é pouca a atenção para que os moradores se desloquem de maneira confortável e segura. São visíveis os problemas de disposição, instalação e conservação do mobiliário urbano pela quase totalidade dos ambientes onde há circulação de pessoas. A avaliação é do engenheiro José Augusto Morosine, para quem, nesse contexto nacional, João Pessoa ocupa uma posição “desconfortável e ruim”. Embora importantes, na sua opinião, são raras e insuficientes as iniciativas nas vias e espaços públicos para elevar a qualidade de vida por meio da mobilidade e acessibilidade. Ele acompanha as mudanças do trânsito da Capital nas últimas três décadas, desde quando dirigiu o Núcleo de Transportes Públicos e a Superintendência de Transportes Públicos, que precederam a STTrans. E, elege as avenidas Epitácio Pessoa e Beira Rio – principais eixos de ligação centro/orla, como as mais emblemáticas da “situação de caos”. E explica porque trata esse quadro como “caótico”: a Beira Rio, por causa da invasão das calçadas pelas empresas e lojas de comércio e serviços; e a Epitácio porque, mesmo dotada de comércio de padrão até elevado, está pontilhada de obstáculos, desde placas irregulares a postes mal colocados, de correntes transformando espaço público em privado a desníveis nas calçadas. Risco de colapso “Na maior parte dessas vias, nos dois sentidos, imagine a dificuldade, para não dizer impossibilidade, do cadeirante trafegar”, comenta. Para ele, o centro da cidade, já penalizado pela convergência de quase todas as linhas de ônibus, também não demora a enfrentar uma “situação de colapso”. A continuar a média atual de cem licenciamentos de veículos/dia, circulando pelas vias dimensionadas para um tráfego muito inferior ao atual, será impossível chegar ao centro daqui a quatro ou cinco anos, adverte Morosine. “É uma questão lógica, matemática, simplesmente não vai dá”. Para ele, esse quadro, embora grave, é reversível se de fato ocorrerem ações eficazes que resultem na “racionalização” do sistema de transportes como um todo. O que se alcança, segundo defende, com AUGUSTO MOROSINE, SUPERINTENDENTE DO STTRANS oferta da infraestrutura viária necessária, através do poder público e pelos investimentos privados na permanente modernização e ampliação da frota. Nesse sentido, as medidas de melhoria no trânsito anunciadas pela Prefeitura da Capital foram bem recebidas no setor. “O plano não traz prejuízo ao que já está funcionando bem e também aponta claramente para ganhos importantes quando as mudanças estiverem implantadas”, enfatiza o engenheiro e dirigente da Associação Metropolitana de Transportes Urbanos e do Sindicato das Empresas de Transporte Intermunicipal. A NBR 9283 diz que nenhum elemento deve obstruir trejetória dos pedestres na transposição de calçadas. Para a Lagoa (foto ao lado) converge a maioria das linhas de ônibus REVISTA | www.revistaedificar.com.br 47 Fotos: Augusto Pessoa capa Na orla (foto vertical) ou em áreas centrais, os exemplos desrespeito ao pedestre se multiplicam Desníveis, obstáculos e invasões nas calçadas expõem pedestre a acidentes As calçadas foram concebidas para o pedestre caminhar com segurança. O que se verifica, por todo o país, é que há pouca padronização e muito desrespeito à NBR 9050, o instrumento da Associação Brasileira de Normas Técnicas para a acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, especialmente as calçadas. O Código Brasileiro de Trânsito considera infração gravíssima, o tráfego e estacionamento de veículos sobre as calçadas. Quando isto acontece, o pedestre é forçado a transitar pela pista de rolamento e se expõe ao risco de atropelamento. As avenidas Epitácio Pessoa e Beira Rio, em João Pessoa, são os principais corredores de transportes e simbolizam, pelas dificuldades para se caminhar em quase toda extensão, a inacessibilidade também presente, em dimensões maiores, noutros eixos de interligação centro/ SAIBA MAIS Medidas certas De acordo com a NBR 9050, da ABNT, as calçadas, passeios e vias de pedestres devem ter largura mínima de 1,20 m, do contrário não podem ser consideradas rotas acessíveis. Cada projeto deve promover a harmonia, a estética e a segurança; 48 REVISTA | AG AGOSTO/SETEMBRO 2011 bairros. Por todos eles, os pedestres enfrentam toda sorte de obstáculos. O superintendente da STTrans, Nilton Pereira, destaca que outro fato reprovável tem agravado a situação: a invasão das calçadas por proprietários de estabelecimentos comerciais. “É um mau hábito que precisa ser combatido”, reage ao frisar que além da ocupação irregular, muitos ameaçam pleitear indenizações toda vez que o poder público necessita realizar alguma intervenção em parte das calçadas para melhorar o trânsito. Ele assegura que o município vai intensificar, dentro do programa “Caminho Livre”, os trabalhos de desobstrução e intervenções em calçadas e o fará sem o pagamento de indenizações. O objetivo é ampliar a extensão de passeios e promover as adequações que estimulem as pessoas a caminhar com conforto e segurança, ao contrário do que acontece hoje. O piso para a faixa livre deve ser antiderrapante e a escolha do material deve primar pela qualidade, durabilidade e facilidade de reposição; Devem ser rebaixadas junto às faixas de travessia de pedestres, com ou sem semáforo; São de uso exclusivo de pedestres e só podem ser utilizadas pelos veículos para acesso a lotes ou garagens, com o devido cuidado para evitar atropelamentos. Estudo elenca outros problemas Um grupo de arquitetas formadas pelas universidades federal de Campina Grande e Unipê, em João Pessoa, resolveu através de um estudo sobre mobilidade levantar os principais problemas nas calçadas de vias importantes da Capital. Foram identificadas questões semelhantes, uns relacionados à sinalização, aos bens e equipamentos instalados e outros relativos à própria construção e conservação dos passeios, como por exemplo: Revestimentos de pisos que variam muito (cerâmica, pedra portuguesa, placas de concreto, pedra granítica, entre outros) Irregularidades em relação ao nivelamento dos materiais; Estabelecimentos comerciais que usam as calçadas como estacionamento; Descontinuidade entre guia rebaixada no canteiro central, passarela de pedestre e rampa de acesso ao passeio; Rampas sem sinalização tátil e em nível mais baixo que a faixa de rolamento dos carros, o que requer ajuda para se efetuar a travessia Para a arquiteta Lis Alves Pessoa, que integrou essa equipe, o levantamento em João Pessoa permitiu concluir que, apesar de algumas ações feitas, ainda falta preparo às equipes de planejamento e execução das obras urbanas de acessibilidade. “É necessário que haja também um monitoramento por parte das equipes de manutenção e campanhas que eduquem a população quanto aos direitos de ir e vir do cidadão”. Com viagem agendada à Europa, ela prepara-se para estudar, este ano, os avanços conquistados em mobilidade urbana em Barcelona, Madri e Paris. Carros tem 12 vezes mais incentivos que transporte coletivo No Brasil, estudo divulgado no primeiro semestre deste ano pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, revela que houve pouco investimento em mobilidade urbana nas últimas décadas. Criado em 2005, no âmbito do Ministério das Cidades, para articular as políticas de transporte, trânsito e acessibilidade, o programa do governo federal para a Mobilidade Urbana prioriza a implementação de sistemas de transportes coletivos e dos meios não motorizados (pedestres e ciclistas). No início de 2011, seis anos depois, é que o governo federal decidiu anunciar aporte considerável de recursos para a área: R$ 18 bilhões para melhorar o transporte público em 24 cidades. Os recursos, anunciados em fevereiro passado pela presidente Dilma Roussef, compõem o PAC Mobilidade Grandes Cidades, com previsão de R$ 6 bilhões de verbas orçamentárias e R$ 12 bilhões de financiamentos. As regras do programa permitiram que os projetos incluam sistemas transporte sobre pneus, corredores exclusivos de ônibus e Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), metrôs e trens. Os incentivos aos transportes coletivos perdem de dez para os concedidos ao transporte particular. O Ipea comprovou que a cada R$ 12,00 gastos em incentivos aos automóveis, o governo investe apenas R$ 1,00 no transporte público. Significa que 90% dos subsídios federais para transporte de passageiros são destinados à aquisição e operação de veículos individuais. A isenção de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) é um dos subsídios considerados no estudo “A Mobilidade Urbana no Brasil”. A situação é a seguinte: “Enquanto os veículos acima de 2.000 cilindradas pagam 25% de IPI e aqueles entre 1.000cc e 2.000cc pagam 13%, os veículos de até 1.000cc (os conhecidos 1.0) pagam 7% e os comerciais leves, 8%”. “A moto tem sido a alternativa encontrada pela população de menor renda frente aos avanços reduzidos do transporte público” afirmou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, ao divulgar a pesquisa. Veja outros dados importantes apresentados pelo Ipea: o uso de automóveis cresce a taxas de 9% ao ano e o de motos chega a 19%. Entre R$ 1,5 bilhão e R$ 7,1 bilhões, é quanto o governo deixa de arrecadar só com isenção de IPI para o setor automobilístico tarifas de ônibus aumentaram, nos últimos 15 anos, cerca de 60% acima da inflação. As A frota de carros saltou de 20 milhões para 36,7 milhões em 10 anos, e a proporção de um carro para 8,5 pessoas, em 2000, pulou agora de um para 5,2 pessoas motocicletas cresceu no país 284%, e, no Nordeste 400% A de 88,8% dos usuários de transporte público no Brasil dependem do ônibus, e entre estes 70% estão insatisfeitos com a qualidade do Apenas 6% da população brasileira dispõem da interligação ônibus-trem serviço, mesmo percentual dos que não usam o transporte ou ônibus-metrô. público e o fariam se este fosse de qualidade REVISTA | www.revistaedificar.com.br 49 Corredor exclusivo e tráfego fechado Foto: Augusto Pessoa capa Na Epitácio Pessoa (pista em diagonal) estão previstas alterações em todo percurso centro-praias Município pleiteia recursos do PAC para fazer “mudanças estruturais” A prefeitura da Capital apresentou, em maio passado, seu plano de captação de recursos junto ao PAC Mobilidade Urbana, do governo federal. O município pleiteia R$ 198,5 milhões, descontados R$ 9,9 milhões de recursos próprios já direcionados para atender obras emergenciais e pontuais de melhorias no trânsito dentro do programa “Caminho Livre”. A maior parte, R$ 137 milhões, é da União e os outros R$ 51,6 milhões de financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A proposta do município prevê “mudanças estruturais” no sistema de transporte coletivo, e envolve os principais corredores de tráfego da cidade, a exemplo de Cruz das Armas, Pedro II, Epitácio Pessoa e 2 de Fevereiro. Também está prevista a construção de viaduto entre os bairros do Cristo Redentor e Geisel, além de novos terminais de integração, faixas exclusivas para ônibus e duplicação de avenidas. Principais intervenções previstas pelo plano Corredor Pedro II: Implantação do Bus Rapid Transit (BRT), construção de terminal de integração e faixa exclusiva ao longo das Avenidas Rodrigues Alves, Sérgio Guerra e Walfredo M. Brandão Centro da Cidade: Construção de um Terminal de Integração do sistema urbano, metropolitano e ferroviário. A proposta é construir um novo terminal ao lado do atual Terminal Rodoviário, para integrar tanto as linhas urbanas quanto as intermunicipais. Corredor de Cruz das Armas: Implantação do Bus Rapid Transit (BRT), construção de um terminal de integração e duplicação da avenida no trecho pertencente ao bairro Oitizeiro, transformando-a em pista dupla com canteiro central. 50 REVISTA | AG AGOSTO/SETEMBRO 2011 Corredor Epitácio Pessoa: Implantação de uma faixa exclusiva para os transportes coletivos junto ao canteiro central e destinação de duas faixas para o tráfego misto. Corredor 2 de Fevereiro: Construção de um viaduto na interseção da BR- 230 com a rua Waldemar Naziazeno, interligando os bairros Cristo Rendentor e Ernesto Geisel; e construção de um terminal de integração. A Prefeitura da Capital deu início a algumas das intervenções agrupadas no recém lançado programa “Caminho Livre” e que objetivam melhorias no transito do centro e dos principais corredores viários da cidade. Com recursos próprios de R$ 9,2 milhões, as obras preveem remoção do trafego no anel interno da Lagoa e disciplinamento de estacionamentos em áreas centrais para ampliar os espaços aos pedestres – como toda extensão das ruas Barão do Abyaí e Desembargador Souto Maior. Em vias de grande fluxo, como a Epitácio Pessoa e a principal dos Bancários, que faz ligação com bairros populosos da zona sul, a exemplo de Mangabeira e Valentina, estão programadas intervenções maiores, com a criação de corredores exclusivos para os ônibus. Também estão previstos o binário do Castelo Branco e a duplicação da via Altiplano. Do entroncamento da Ruy Carneiro com a Epitácio até Nossa Senhora dos Navegantes, junto a orla, a via passará a ter três faixas, a exemplo da Beira Rio, no trecho que vai da Duarte da Silveira (a partir da Igreja Batista) até Rui Barbosa. Também nesta extensão, calçadas com cinco metros vão ficar com três. De acordo com a direção da STTrans, todas essas e as demais ações contidas no programa, vão se interligar com intervenções bem maiores previstas no Plano de Mobilidade entregue em maio ao Ministério das Cidades. “Embora direcionadas para resolver problemas mais imediatos, elas não são apenas pontuais, pois estão integradas a um plano maior. “Temos um plano e agora sabemos onde queremos chegar”, enfatiza o superintendente Nilton Pereira. Ao classificar, na ocasião do lançamento, de “irracional e insana” a disputa por espaço nas vias entre os veículos particulares e os ônibus urbanos, o prefeito Luciano Agra destacou que tanto as iniciativas de curto prazo, quanto as de execução mais demorada, vão ajudar a “preparar a cidade para o futuro”. SAIBA MAIS Veja como é composto hoje o Sistema de Transporte Coletivo de João Pessoa 453 ônibus compõem a frota e destes,138 são eficientes 4 anos é a idade média da frota (a média nacional é de 5,5anos) 8,6 milhões de passageiros transportados/mês 287 mil passageiros transportados por ônibus/dia 131 mil viagens realizadas/mês 1.800 pontos de paradas R$ 2,10 é o preço da passagem 171 semáforos estão instalados na capital 1.440 táxis estão em 74 pontos pela cidade AETC diz que transportes melhoram com parceria e mais planejamento Dois terços da população brasileira estão insatisfeitos com a qualidade do transporte público ofertado, constatou pesquisa do Ipea ao identificar que a falta de interligação dos transportes afeta um em cada quatro brasileiros: 33,2%, conta apenas com a interligação ônibus-ônibus e somente 6% dispõem da combinação ônibus-trem ou ônibus-metrô. Para o diretor executivo da Associação das Empresas de Transporte Coletivos Urbanos de João Pessoa, Mário Tourinho, ações conjugadas de governos e iniciativa privada são determinantes para elevar a qualidade dos transportes públicos nas cidades. O sistema responde, melhora a eficiência, assegura o dirigente empresarial, quando as iniciativas são fruto desta parceria: poder público entra com os investimentos necessários à infraestrutura urbana/viária, e as empresas com a ampliação de modernização da frota e a incorporação de tecnologias que facilitem o dia a dia do usuário e gerem mais satisfação com o serviço. Entre esses avanços na capital, ele destaca o Terminal da Integração, a integração temporal e metropolitana, a circulação de novos veículos eficientes e articulados, a bilhetagem eletrônica e mais recentemente o sistema online de recarga do cartões de passe estudantil, de secundaristas e universitários. Hoje 138 ônibus são adaptados com elevador para atender a cadeirantes. Uma quantidade, enfatiza ele, mais que suficiente para atender as demandas de viagens deste público. O ritmo de crescimento populacional deve servir de alerta, na sua opinião, para que os gestores trabalhem, nas áreas metropolitanas, o planejamento de ampliação da infraestrutura urbana para integrar o sistema viário não só bairro a bairro, mas também entre cidades que interagem, como acontece por exemplo com a Capital, Cabedelo e Bayeux. “ João Pessoa e Bayeux estão entre as 30 cidades brasileiras com maior densidade demográfica, e não são só os automóveis, mas os ônibus também são reféns do transito”, enfatiza. REVISTA | www.revistaedificar.com.br 51 Foto: Divulgação Inovador, o sistema de transportes de Curitiba vai receber melhorias, até 2014, para aumentar eficiência Curitiba criou um sistema modelo de transportes que é referência até hoje Curitiba (PR) deu o exemplo inovador, na década de 70: uma solução de qualidade e baixo custo se transformaria em modelo adotado no Brasil e no mundo, para solucionar os problemas do sistema de transportes coletivos, semelhantes nas grandes e médias cidades. O conceito e o sistema BRTs (Bus Rapid Transport), criados pelo então prefeito Jaime Lerner, está presente em dezenas de países e deve 52 REVISTA | AG AGOSTO/SETEMBRO 2011 ser implantado em capitais que vão sediar jogos da Copa de 2014. Maiores e mais rápidos, esses veículos circulam por corredores exclusivos construídos em sistemas trinários, formados por avenidas paralelas: uma só dos ônibus, ladeada por duas pistas para o tráfego local de carros, uma no sentido bairro-centro e outra no sentido centrobairro. Resultado imediato: aumento da velocidade média, redução da ociosidade do sistema e mais a eficiência. Conquistas que se devem aos diferenciais, como: embarque em nível – degraus na mesma altura dos pisos dos terminais; plataformas nos ônibus projetadas para fora, na hora de embarque e desembarque, funcionando como ponte para os usuários; cobradores trabalhando em catracas nas estações-tubo, onde a passagem é paga antes e não gera transtornos de embarque com filas ou demora no pagamento das tarifas. Com cerca de 2 milhões de habitantes para cerca de 1,2 milhões de carros, Curitiba é proporcionalmente a capital “mais motorizada” do Brasil, mas tem, mesmo assim, fluidez de trânsito muito superior às demais metrópoles nacionais. Jaime Lerner, hoje consultor urbanista da Organização das Nações Unidas, defende, convicto, em palestras mundo afora, o sistema de transportes de superfície como “o transporte do futuro”, porque tem “desempenho similar ao metrô subterrâneo, por um custo muito mais acessível às cidades e com uma implantação muito mais rápida”. Foto: Fabiana Veloso A Miguel Couto, em João Pessoa, é uma das vias centrais que foi urbanizada dentro das normas da ABNT Política habitacional recomenda reabilitar áreas centrais das cidades Ao considerar o ato de morar e se deslocar nas cidades como os dois principais aspectos da vida urbana, a política nacional de habitação deixa muito claro, em seu capítulo VI, a estreita ligação entre mobilidade e o transporte urbano. E enumera o que são determinantes das condições de mobilidade dos indivíduos: as condições do lugar de moradia, presença de infraestrutura urbana e sane¬amento ambiental, as distâncias relativas, e o acesso aos equipamentos urbanos e serviços. Em razão disso, ao invés de prever apenas a localização de novas moradias nas áreas de expansão, geralmente distantes, a política habitacional correta é aquela que adota mecanismos de “reabilitação de áreas centrais, de ocupação dos vazios urbanos e formas de regularização fundiária.” Deve, ainda, prever modelos de urbanização de assentamentos precários que garantam, entre outras, as condições básicas de acessibilidade e de melhorias no transporte público como condição de acesso às funções urbanas. Além, ainda, de implantar melhorias na urbanidade do local como forma de incentivar a não geração de viagens. Essa visão de política habitacional, que sugere viabilizar o acesso à moradia nas áreas onde já existe infraestrutura urbana instalada, embora muitas vezes até subutilizada, “ajuda a conter a expansão urbana, uma vez que aumenta a densidade de ocupação, promove a diversidade de uso, permite o funcionamento diferenciado dos equipamentos e infraestruturas ao longo de toda a jornada (24 horas) e racionaliza os deslocamentos cotidianos”. Selo Casa Azul da Caixa A Caixa Econômica Federal concede o Selo Casa Azul Caixa para projetos de habitação avaliados de acordo com o potencial das áreas de implantação de empreendimentos a partir da identificação de boas conexões de transporte público e das facilidades existentes, dando preferência a locais inseridos no tecido urbano existente, já conectados e dotados de serviços acessíveis também por rotas para pedestres e ciclistas. Na categoria Qualidade Urbana um item observado é presença de transporte público regular, comércio e serviços em distância razoável cria condições favoráveis à redução dos impactos relacionados ao uso de transporte individual, ao consumo de combustíveis, à geração de emissões e ruído, e a congestionamentos a eles associados, que impactam a saúde humana e dos ecossistemas. Patos: um carro para cada três habitantes Educação, sinalização e fiscalização. Assim, com ações interligadas e coordenadas nessas três áreas, a Superintendência de Trânsito e Transporte Público de Patos está conseguindo organizar o trânsito na quinta maior cidade paraibana, onde o número de veículo mais do que triplicou em apenas uma década. O órgão foi criado há mais de cinco anos, com objetivo de disciplinar o trânsito do município pólo de uma extensa área do sertão e que viabiliza, por sua posição geográfica privilegiada, o acesso aos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. Recebe também intenso “tráfego de passagem”. A cidade tem crescido de forma surpreendente. De acordo com o Censo Demográfico de 2010, já tem hoje a 5ª maior população da Paraíba, com 100.674 habitantes. Há 10 anos, tinha cerca de 10 mil veículos circulando na cidade, agora são mais de 34 mil. Um crescimento, a exemplo da imensa maioria das cidades do interior paraibano, que se deu sem planejamento, sem regras ou normas, e muito menos fiscalização permanente, para evitar a ocupação irregular dos espaços públicos. Algumas, agora, com o aumento da frota de carros e motocicletas buscam adotar medidas para que a população não venha a sofrer ainda mais com os problemas no trânsito, hoje também preocupantes nas cidades de médio porte. O superintendente de trânsito, Dineudes Possidônio, revela que tem feito algumas intervenções para evitar “gargalos” no trânsito de Patos. “A cidade cresceu muito e o que nos preocupa é que tudo converge para o centro, então foi necessário fazer algumas intervenções: fechamos canteiros, colocamos rotatórias e semáforos, mudamos os sentidos de algumas ruas e implantamos a Zona Azul para disciplinar nos estacionamentos”. Com o crescimento da cidade, novos bairros surgindo e as distancias e os deslocamentos igualmente aumentando, a cidade legalizou e regulamentou um sistema misto de transportes composto de ônibus urbanos, táxis e moto-táxis. REVISTA | www.revistaedificar.com.br 53 capa FIQUE POR DENTRO USO CORRETO DO CONCEITO DE DESENHO UNIVERSAL O Ministério das Cidades definiu, dentro do programa nacional de mobilidade, sete princípios básicos para a correta aplicação do Desenho Universal. São eles: 7 Transformar as cidades exige iniciativas que atendam todos e melhorem a qualidade de vida PRINCÍPIOS EQUIPARÁVEL – O desenvolvimento de projetos de qualquer natureza deve promover a equiparação de oportunidade entre os usuários, respeitando suas variadas habilidades; ADAPTÁVEL – A flexibilidade no uso, manuseio e acesso aos elementos do projeto devem respeitar e atender a uma larga escala de preferências e habilidades individuais; OBJETIVO E SIMPLES – Fácil de entender, não pode depender de habilidades específicas, como o conhecimento da língua, para que o desenho seja compreendido e utilizado; PERCEPTÍVEL – As informações devem ser eficazes com uso de cores, textos e texturas que facilitem a compreensão de elementos essenciais para uso do objeto ou do espaço; SEGURO – Reduzir a possibilidade de perigos, destacando avisos e tornando mais visíveis e acessíveis os elementos mais importantes e mais utilizados; POUCO ESFORÇO – Os projetos devem permitir o menor esforço físico do usuário para que se alcance o objeto; ABRANGÊNCIA – O tamanho e o espaço para a aproximação, o alcance, a manipulação e o uso devem ser apropriados e adequados, independente do tamanho do corpo do usuário, postura ou mobilidade. 54 REVISTA | AG AGOSTO/SETEMBRO 2011 Construir ou transformar ambientes urbanos para que eles sejam de fato acessíveis não é apenas eliminar barreiras que dificultam a vida das pessoas com deficiências ou com mobilidade reduzida. Mais do que remover obstáculos, advertem especialistas, é necessário que as iniciativas do poder público, e em muitos casos também da iniciativa privada, contemplem o conceito de Desenho Universal, essencial à melhoria da qualidade de vida nas cidades. Originalmente chamado, no começo dos anos 60 nos Estados Unidos (em Washington e na Carolina do Norte) de “Desenho Livre de Barreiras”, o conceito de Desenho Universal hoje é adotado para evitar a produção de espaços e objetos para públicos específicos, diferentes. Ao invés de atender apenas quem tem alguma deficiência, atende todas as pessoas – altas, baixas, obesas, idosas, crianças, gestantes e, inclusive, àquelas com deficiências diversas. Apesar do avanço que representa, exatamente por não ser direcionado a um público específico, mesmo que seja um grupo composto de pessoas com deficiência, o conceito não é amplamente adotado, mesmo tomando-se como referência as grandes cidades brasileiras. As duas principais dificuldades apontadas para que isto aconteça são: conhecimento técnico ainda pouco disseminado e a “falsa visão” de acréscimo do custo da obra, que não representa, na maioria dos casos, mais de 2% do custo total. TERRA DE NINGUÉM - Apesar da desordem e da pouca aplicabilidade do conceito, dissemina-se, mesmo a passos lentos, a compreensão de que as cidades não podem continuar sendo vistas e tratadas como “terra de ninguém”. E de que também “não precisa destruir o que existe para começar do zero um novo traçado urbanístico”. É necessário, apenas, recomendam especialistas e o próprio governo federal em seu programa de mobilidade, que “as mudanças não sejam só superficiais”, não se limitem mais, por exemplo, ao “simples embelezamento do espaço público” – a conhecida e famosa maquiagem urbana. Estudos e experiências bem sucedidas concluem que transformações urbanísticas planejadas e profundas, baseadas no conceito do Desenho Universal, permitem alcançar dois objetivos básicos: contribuir para que não se criem novas barreiras à mobilidade e estimular a eliminação gradativa das já existentes. [ COLABORARAM ALINNE SIMÕES E MABEL DIAS ] REVISTA | www.revistaedificar.com.br 55 WALDEBAN MEDEIROS Cidade para todos Uso do solo e densidade Rodovias cruzam cidades A mobilidade e a acessibilidade urbanas são questões sentidas na pele de quem mora em cidade de médio e grande porte. A primeira trata do direito de ir e vir das pessoas, da circulação dos que se utilizam da cidade em automóvel, transporte urbano ou mesmo a pé. A segunda trata da garantia do acesso aos espaços públicos ou coletivos, como escola, praças, igrejas, órgãos públicos, lojas, mercados e edifícios em geral. As pessoas estão circulando e indo mais distante, quase sempre de forma individual. Em João Pessoa sente-se o aumento do volume de automóveis nos engarrafamentos, apesar da ampliação e melhoria do sistema viário. É uma situação mundial e países do primeiro mundo têm reduzido a circulação de veículos nas áreas centrais, privilegiando meios como a bicicleta. Em Paris, mais de 10 mil bicicletas públicas estão disponíveis. É fundamental que os gestores locais planejem a cidade priorizando o transporte coletivo ou o transporte individual como a bicicleta, ao invés do automóvel que ocupa mais espaço e, em geral, transporta apenas uma pessoa. Eles devem ampliar a mobilidade e a acessibilidade para os que moram, trabalham, produzem e constroem o crescimento das cidades, como um direito de todos. A Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades formula e implementa a política de mobilidade urbana sustentável, integrando transporte, circulação e desenvolvimento urbano. Tramita no Senado Federal o PLC 166/10, que institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana, aprovada na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo. Será examinada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura e seguirá à sanção presidencial. O Decreto-lei 5296/2004 define regras e diretrizes do programa nacional de acessibilidade, exigindo projetos específicos de edificações públicas ou coletivas que garantam acessibilidade aos que os utilizem. A mobilidade está associada ao uso do solo e é essencial o controle da densidade populacional. Senão houver o controle, haverá congestionamento. Com a outorga onerosa, está se liberando prédios muito altos. Aumentou a receita do município, mas elevou bastante e densidade . Alargar a rua não é solução. Ao contrário, isso só faz os carros procurarem a via mais rapidamente. É claro que melhora uns 5%, mas é muito pouco para o custo que se tem com a obra de alargamento de uma avenida. Melhorar a mobilidade é melhorar o transporte público, fazendo com que leve a pessoa de ponto a ponto. Só se deixa o carro particular quando o trânsito está tão ruim que não há como andar, se perde tempo, não tem estacionamento e o que existe é caro. É assim em Paris, Londres ou Nova Iorque, onde o transporte público é bom. O trânsito e as calçadas são resultantes de pequenas ações individuais que têm grande impacto social. Os idosos andam no leito da rua, assim como carrinho de bebê porque não se tem uma calçada padronizada. O poder público é omisso, porque o papel dele controlar isso. No Uruguai, que é um país pequeno, as calçadas têm um padrão. A intervenção da Superintendência de Transporte e Trânsito não dá resultado porque ela é localizada, não está integrada com outras soluções; o grande número de veículos nas ruas, em decorrência da política de estímulo à indústria automobilística que salvou a economia, mas, acabou com as cidades tumultuando o trânsito. Então, pensar a mobilidade deve considerar três questões: controlar a densidade populacional; melhorar o transporte público e ser mais eficiente na gestão do trânsito. A Região Metropolitana João Pessoa é entrecortada por duas das maiores rodovias do País: a longitudinal BR-101 com 4.768,4 km de extensão, ligando Touros (RN), a Osório, (RS) e a transversal BR-230 – a Transamazônica -, com mais 4.500 km. Nasce em Cabedelo (PB) e atravessa Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, até Lábrea, no Amazonas, com a perspectiva de se unir com o Peru e o Equador quando totalmente pronta. A BR-230 é o principal eixo de circulação de pessoas, mercadorias, serviços e tem como referencial o porto de Cabedelo, onde se localiza o Km 0, além de interligar João Pessoa e Campina Grande, os dois maiores polos econômicos. Ela atravessa ou dá acesso a 45 municípios e, nos 521 km em solo paraibano possui boas condições de tráfego, até a divisa com o Ceará. Um subtrecho de 28 km por onde circulam mais 18 mil veículos/dia, desde o nascedouro até o viaduto “Ivan Bichara” (viaduto de Oitizeiro) perdeu a característica de rodovia federal para se tornar uma grande avenida urbana privilegiada pela duplicação e experimenta muito problemas que se acumulam desde a década de 90, quando surgiu às margens enormes bairros, grandes comunidades, diversos estabelecimentos de variados segmentos econômicos, sem sofrer qualquer reforma nos equipamentos viários. São congestionamentos em horários específicos, preocupantes acidentes, como colisões, capotagem, atropelamentos, muitos deles com vítima fatal. A rodovia carece de vias laterais, viadutos, passarelas, passagens inferiores, acostamento, drenagem, iluminação, para devolver à BR-230 a condição de rodovia federal. Isso, sem levar em conta a necessária e premente reestruturação do Porto de Cabedelo, estratégico para o Nordeste dada à localização que, ao sair do papel, comprometerá mais o tráfego da rodovia com a presença de pesados caminhões se tornarão constante nesse trajeto. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, encontra-se em andamento o projeto de viabilidade técnico/ econômica, visando adequar a rodovia aos parâmetros para os quais foi construída. ARIOSVALDO AGUIAR, ARQUITETO, ESPECIALISTA EM PLANEJAMENTO URBANO, MESTRANDO EM ENGENHARIA 56 ALBERTO JOSÉ DE SOUSA Planejar as cidades é projetar o cotidiano das pessoas para proporcionar qualidade de vida no presente e no futuro. Um conjunto de fatores que devem ser considerados. Confira as diferentes questões. ARIOSVALDO AGUIAR fórum REVISTA | AG AGOSTO/SETEMBRO 2011 ALBERTO JOSÉ DE SOUSA, ARQUITETO E URBANISTA, PROFESSOR DE ARQUITETURA E URBANISMO E DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA DA UFPB. WALDEBAN MEDEIROS, COORDENADOR DO NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO DNIT-PB ELIANE CRISTINA IBER CÂMARA DE OLIVEIRA Padronização e respeito Sim, eu vou de busão! Algumas conquistas importantes, como ônibus adaptados, calçadas rebaixadas e rampas sinalizadas, são insuficientes para que pessoas portadores de alguma deficiência ou mobilidade reduzida possam circular com segurança pelas calçadas e ruas da capital. É o que assegura o presidente da Associação Paraibana de Deficientes, Iber Câmara de Oliveira, ele próprio vítima não apenas das restrições nos espaços públicos, mas também do desrespeito dos incautos que estacionam os veículos nas vagas reservadas às pessoas com deficiência e idosas. - Da última vez que isso me aconteceu, esperei 40 minutos até o motorista chegar para retirar o carro, e só então pude realizar as atividades que havia planejado naquele dia, conta o dirigente da Aspadef ao condenar, também, o comportamento de motociclistas que se utilizam das rampas para subir e transitar pelas calçadas. Além da infração de transito, põem em risco a integridade dos pedestres, cadeirantes ou não. Às dificuldades nas ruas, somam-se às limitações impostas nos ambientes fechados, em prédios públicos e privados, nos estabelecimentos comerciais. No centro ou nos bairros, apesar de iniciativas louváveis, “ainda há muito o que fazer, temos muito o que lutar”, diz. “O ideal é que as calçadas sejam padronizadas, bem sinalizadas, e o poder público deveria atuar mais nesse sentido, porque hoje, mesmo dotadas de rampas, a grande maioria das calçadas é desnivelada, muitas outras estão esburacadas e causam acidentes inclusive para quem não é portador de deficiência”, adverte. Atualmente, João Pessoa tem cerca de 14 % da população – mais de 100 mil pessoas, com algum tipo de deficiência ou de mobilidade reduzida. Todas obrigadas a conviver não com as condições que a cidade poderia oferecer, mas com as limitações que a cidade impõe. Usar o ônibus para chegar ao trabalho ainda é a melhor opção. A frase pode causar estranheza em alguns. Darei minhas razões para considerar o transporte público a melhor forma de locomoção em João Pessoa. É prático, saio de casa até o ponto. Espero. Dou sinal. Pago a passagem, ocupo meu lugar sempre à janela. Com a quantidade de carros nas ruas, a lentidão é a mesma para mim, que estou no ônibus e para os carros. A opção exclui um fator importante: o estresse. Dito assim, parece que o sistema de transporte beira à perfeição...mas, passa longe disto. Foram justamente as falhas no transporte que me levaram a morar no Cabo Branco. Poucos bairros contam com alguma eficiência dos ônibus. Só aqueles próximos aos grandes corredores, como as avenidas Cruz das Armas, Vasco da Gama e Epitácio Pessoa, que recebem maior fluxo e variedade de linhas. Nos demais, a situação é caótica. E, não me refiro à periferia, onde a distância piora a condição do transporte. Se deslocar ao Bairro dos Estados ou à Torre é tarefa árdua. Eles demoram, os pontos de espera são mal sinalizados e não há abrigos na maioria deles. Tenho acompanhado as notícias sobre modificações no trânsito. Uma questão não foi respondida: como as intervenções trarão benefícios sem a pesquisa origem-destino? A pesquisa não inclui apenas usuários, mas abrange motoristas em geral. Só o estudo apontaria soluções eficazes. Como usuária, sugiro a criação de linhas intrabairros ligando os bairros da orla sem a necessidade de ocupar toda extensão da Epitácio Pessoa. É preciso rever o tempo de viagens e a quantidade de veículos por linha. Hoje, o 507 Cabo Branco sai da Estação Ciências para chegar na Integração em 20 minutos. Os motoristas queimam paradas para não serem multados pela STTrans. Outro ponto é investir na qualificação do profissional que acaba afetado pelo estresse do trânsito, estresse esse que vou continuar evitando ao máximo. IBER CÂMARA DE OLIVEIRA, PRESIDENTE DA ASPADEF ELIANE CRISTINA , MORA EM JOÃO PESSOA HÁ 20 ANOS E FOI DE ÔNIBUS QUE CONHECEU A CIDADE REVISTA | www.revistaedificar.com.br 57