RISCO X PERIGO SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO Por Profa.Dra. Cyllene de M.OC de Souza Dra em Ciência e Tecnologia de Alimentos (UFRRJ), Mestre em Vigilância Sanitária (INCQS-FIOCRUZ) Supervisora em Segurança Alimentar ABNT-NBR 15048 Especialista em Saúde Pública Especialista em Biologia Parasitária 1- INTRODUÇÃO A cadeia alimentar é afetada por perigos constituídos por agentes biológicos, químicos ou físicos presentes ou uma condição desses agentes, com potencialidades para provocar um efeito nocivo para a saúde. Por outro lado, os riscos são uma função de probabilidade de um efeito nocivo para a saúde e da gravidade desse efeito, como consequência de um perigo. Perigo – Propriedade que confere ao alimento possibilidade de causar dano à saúde. Risco – Probabilidade de ocorrência de um perigo As palavras “Risco” e “Perigo” têm na Segurança de Alimentos um significado diferente daquele que lhe damos diariamente, onde, de uma forma geral, acabam por ser considerados sinonimos. Perigo: um potencial agente químico, físico ou biológico que possa contaminar um alimento. “Risco” - probabilidade de ocorrência de um “Perigo”. Exemplo: a manutenção de um alimento cozido à temperatura ambiente constitui um “Risco”, pois existe a possibilidade de ocorrer crescimento microbiano (perigo microbiológico). Os principais fatores de risco relativamente aos perigos microbiológicos (por exemplo, contaminação de um alimento por acção de bactérias) são: Cuidados de higiene pessoal insuficientes; Cuidados de higiene na manipulação dos produtos insuficientes; Binômio tempo/temperatura inadequado à conservação do produto; Condições de umidade propícia ao desenvolvimento microbiológico; www.alimentacaolegal.com Práticas que favoreçam as contaminações cruzadas (exemplos: armazenamento de produtos crus e cozinhados sem separação física entre ambos); Higienização de instalações, equipamentos e utensílios inadequada; Contole de pragas inadequado. Relativo aos perigos químicos (por exemplo, vestígios de detergente num alimento) temos como principais fatores de risco: Instalações mal projetadas favorecendo a permanência de resíduos químicos (exemplos: superfícies que não permitem o enxaguamento e drenagem de detergentes); Deficiente manutenção do equipamento; Práticas que favoreçam a contaminação cruzada (exemplos: arrumação de detergentes e produtos alimentares no mesmo local e sem separação física); Equipamento, agentes e/ ou procedimentos de limpeza inadequados; descumprimento dos procedimentos de limpeza e desinfecção definidos no Plano de Higienização. Os perigos físicos (por exemplo, presença de um pedaço de vidro no alimento) os principais fatores de risco são: Insuficiências ao nível das infra-estruturas das instalações; Presença de objetos estranhos à aividade nas instalações; Instalações/ viaturas/ equipamentos/ utensílios em mau estado de limpeza e/ ou conservação. As definições consagradas pelo Codex para perigo e risco são: Perigo (hazard): agente biológico, químico ou físico, ou propriedade do alimento com potencial de causar efeito adverso à saúde; Risco (risk): função da probabilidade da ocorrência de um efeito adverso à saúde e da gravidade desse efeito, causado por um perigo ou perigos existentes no alimento. www.alimentacaolegal.com www.alimentacaolegal.com A avaliação de perigos é útil, para cada perigo existente, se a sua eliminação ou redução para níveis aceitáveis é essencial para a produção de gêneros alimentícios seguros. Assim, cada perigo é avaliado de acordo com a sua possível severidade e probabilidade de ocorrência (risco). A avaliação de um perigo é efetuada segundo a fórmula: Significância = Risco x Severidade. Risco é a hipótese ou probabilidade de um dado perigo ocorrer, colocando em causa a salubridade do gênero alimentício. Um risco pode ser alto (muito frequente), médio (frequente), baixo (pouco frequente). Severidade é a magnitude de um perigo, ou seja, o grau de efeitos nefastos. Segundo a sua severidade um perigo pode ser classificado em alto (risco elevado de vida), médio (risco grave ou crónico) ou baixo (risco moderado ou leve). Em função da sua significância o perigo pode ou não ser classificado com um Ponto Critico de Controlo (PCC). Avaliação de risco: Identificação do perigo biológico, químico ou físico capaz de causar efeito adverso à saúde Caracterização da natureza e extensão do efeito do perigo avaliação da quantidade do perigo que a população pode estar exposta durante um tempo e seus efeitos agudos e crônicos Caracterização do risco estimativa qualitativa e/ou quantitativa da probabilidade da ocorrência do perigo e da gravidade de efeitos Envolve análises laboratoriais, métodos epidemiológicos, modelos ambientais, simulações em computadores Gerenciamento de risco: Seleção de diretrizes, medidas de prevenção e controle, baseado nas conclusões da avaliação de risco e em fatores relevantes para a saúde Comunicação de risco: Troca de informações e de opiniões entre gestores, avaliadores, consumidores, indústria, comunidade científica e outros interessados, a respeito dos perigos, riscos, resultados da avaliação e sobre as decisões do gerenciamento. www.alimentacaolegal.com Tabela - Critérios utilizados para avaliar a significância de um perigo. Nível de Risco Nível de Nível de Frequência Perigosidade Risco (R) Objetiva Risco Baixo Pouco Frequente 10 Risco Médio Frequente 100 Risco Elevado Muito Frequente 1000 Nível de Nível de Segurança Nível de Severidade (S) Severidade Perigosidade Objetiva Severidade Baixa Produto Seguro 10 Severidade Média Produto pouco 100 Seguro Severidade Elevada Produto Inseguro 1000 PRINCIPAIS OPERAÇÕES, PERIGOS E CRITÉRIOS UTILIZADOS NA ELABORAÇÃO DE MANUAL DE BOAS PRÁTICAS OPERAÇÃO CONTROLE MEDIDAS DE CRITÉRIOS CONTROLE / AÇÕES CORRETIVAS MONITORAMENTO Compras Aquisição de matérias-primas de fonte não segura Visita aos fornecedores com preenchimento do relatório de visita Recebimento Produtos que não atendam aos critérios de qualidade Avaliar as condições de entrega, o produto e anotar em formulário específico Fornecedores que atendam às exigências das leis vigentes e desenvolvam HACCP Condições adequadas de transporte, higiene dos entregadores, embalagem, características próprias dos alimentos e higiene www.alimentacaolegal.com Exclusão ou/desenvolvimento dos fornecedores que não atendam aos requisitos exigidos Devolução do produto Armazena-mento a seco Armazenamento sob refrigeração Umidade, calor, infestação por vetores, violação da embalagem Vencimento do prazo de validade Contaminação cruzada Multiplicação e/ou sobrevivência (congelamento) de bactérias patogênicas Higienização de vegetais Descongelamento Vencimento do prazo de validade Permanência da contaminação inicial dos vegetais Multiplicação de bactérias patogênicas Contaminação do ambiente com água do descongelamento das superfícies de contato e do termômetro Controle dos prazos de Validade do validade, controle produto (PEPS), integrado de pragas, disposição dos armazenamento dos produtos e Controle produtos alimentícios Integrado de Pragas isolados de produtos de (CIP) outra natureza Controle sistemático da temperatura dos equipamentos, manutenção preventiva dos equipamentos e definição de espaços específicos para cada gênero de produto Controle do prazo de validade / PEPS Monitoramento com fita indicadora ou por titulação da dosagem do Cloro ativo Monitoramento da temperatura superficial e armazenamento por 48 horas em caso de descongelamento sob refrigeração Desprezar o produto Temperatura máxima de acordo com o tipo de produto (leite e derivados 8ºC, carnes frescas 4ºC, hortifrutigranjeiros 10ºC e congelados -18ºC), condições de embalagem e disposição do produto Transferência para equipamento que possa manter o produto em temperatura adequada, manutenção emergencial do equipamento ou desprezar o produto, quando comprometido Lavagem folha a folha ou unidade por unidade, higienização com solução de Hipoclorito ou Dicloroisocianurato de Sódio a 100-250 ppm de Cloro ativo por 15 a 30 minutos e finalização com solução de ácido acético a 2% por 5 minutos Temperatura superficial a, no máximo, 4ºC Repetir o processo Uso imediato em caso de descongelamento forçado (água corrente ou temperatura www.alimentacaolegal.com Cocção imediata ou refrigeração abaixo de 4ºC Higienizar superfícies contaminadas ambiente) Degelo incompleto Observar destino da água de degelo Aguardar degelo completo Isolar água do descongelamento Controle de temperatura no interior do alimento (Reidratação) Contaminação o higiene dos Reaquecer de equipamentos processo equipamentos, Multiplicação utensílios após o processo controle Presença Atingir temperaturas entre 0 e 4ºC Observar as práticas de Higiene durante e Reestruturar planejamento e produto o a 74ºC, utensílios / uso de após reconstituído mãos / água potável / higiene das mãos / de microbiológico da água consumo imediato / patógenos / monitorar volume dos resfriamento esporulados recipientes volumes em pequenos (máximo 5 litros) Pré-preparo Contaminação cruzada Monitorar o tempo / Rapidez de temperatura equipamentos, de processo no Orientar (máximo funcionário exposição e verificar 30 minutos, acima Repetir operação de utensílios e mãos higiene dos utensílios, de 10ºC para os higienizaçã (S. Shigellae, aureus, bancadas e das mãos vírus alimentos refrigerados) / hepatite) Higienização dos Multiplicação de equipamentos e bactérias mãos www.alimentacaolegal.com dos patogênicas manipuladores / Manipular alimentos cozidos crus e em bancadas separadas Cocção Resfriamento Armazenamento de alimentos cozidos Sobrevivência de bactérias vegetativas e esporuladas Multiplicação de bactérias esporuladas / produção de enterotoxinas do S. aureus e do B. cereus Monitorar temperatura (no interior do alimento) / tempo 70ºC (no centro geométrico) Continuar cocção Monitorar temperatura / tempo e profundidade dos recipientes de acondicionamento dos produtos Utilizar equipamento de resfriamento rápido ou gelo Multiplicação de bactérias esporuladas / produção de enterotoxinas do S. aureus e a do B. cereus Monitorar temperatura / tempo Resfriar de 60ºC a 10ºC em 2 horas e em 6 horas. Armazenar os produtos em recipientes com altura máxima de 10 cm, devendo o alimento ficar numa altura máxima de 7 cm Validade máxima recomendada: 24 horas a 8ºC 48 horas a 6ºC 72 horas a 4ºC1 Reaquecimento Manutenção a quente Distribuição / Transporte Sobrevivência de bactérias recontaminantes / não inativação das toxinas termoestáveis Multiplicação de bactérias esporuladas / produção de enterotoxinas termoestáveis do S. aureus e toxina emética do B. cereus Multiplicação de bactérias Manutenção preventiva dos equipamentos de refrigeração ou congelamento / desprezar o alimento caso esteja comprometido 15 dias a -10ºC 74ºC (no centro geométrico) em, no máximo, 2 horas Continuar reaquecimento Monitorar temperatura / tempo Acima de 60ºC com a água do balcão de distribuição a 80 90ºC Reaquecimento / adequação do equipamento de manutenção a quente / desprezar Monitorar temperatura / tempo Alimentos quentes: acima de 60ºC Manutenção do equipamento de Monitorar temperatura (no interior do alimento) / tempo www.alimentacaolegal.com patogênicas Higiene dos equipamen-tos / utensílios / ambiente Higiene das mãos Contaminação cruzada Permanência de resíduos orgânicos Contaminação durante a manipulação dos alimentos Alimentos frios: abaixo de 10ºC Verificar processo de higienização (procedimentos e tempo de contato da solução desinfetante) e monitorar dosagem de Cloro Verificar higienização das mãos dos funcionários (S. aureus, Salmonella, Shigella, E. coli) Controle de sobras Multiplicação de bactérias esporuladas Monitoramento do processo de prépreparo, preparo e distribuição Sobrevivência de bactérias recontami-nantes Coleta e guarda de amostras Instrumento de verificação Verificar processo de coleta de amostras Lavagem com água corrente e detergente neutro e desinfecção com solução clorada a 100-250 ppm de Cloro ativo por 15 minutos ou álcool a 70%. Enxágüe antes da reutilização, no caso do Cloro. Lavagem com água corrente e detergente antiséptico, ensaboando as mãos e antebraço por 1 minuto. Após enxágüe, secar com toalha de papel branco e aplicar produto antiséptico Reaproveitamento de sobras de alimentos desde que tenham seguido os critérios de cocção, resfriamento, reaquecimento, distribuição e higiene Sobras de alimentos servidos não são reaproveitadas Identificação da embalagem de guarda da amostra distribuição / reaquecimento / Desprezar após o tempo de exposição em temperaturas de risco Adequar processo de higienização e fazer diluição correta do produto clorado Repetir a operação Usar luvas descartáveis e/ou utensílios para manipular alimentos Repetir a operação Desprezar o alimento Orientar o funcionário Recoletar amostra Coleta de 100 www.alimentacaolegal.com gramas de alimento, no mínimo Procedimentos corretos para coleta das amostras Controle de pragas Contaminação do ambiente e dos alimentos Desinsetização e desratização com freqüência mínima de 6 meses Armazenamento por 72/96 horas a 4ºC ou -18ºC Inexistência de vestígios de insetos e roedores Contratação de empresa especializada Perigos Biológicos Estima-se que cerca de 90% das doenças transmitidas por alimentos sejam provocadas por microorganismos. Estes podem-se encontrar em quase todos os alimentos, mas a sua transmissão resulta, na maioria dos casos, da utilização de práticas erradas nas últimas etapas da sua elaboração ou distribuição. Embora se conheçam mais de 250 tipos diferentes de bactérias, vírus e parasitas causadores de Doenças de Origem Alimentar, apenas alguns aparecem frequentemente. www.alimentacaolegal.com www.alimentacaolegal.com www.alimentacaolegal.com Os melões e melancias têm estado associados a inúmeros surtos na América do Norte e no sudoeste do Pacífico, embora muitos dos casos tenham sido provocados por produtos importados de outras partes do mundo. A natureza rugosa da casca de algumas variedades dificulta a remoção da contaminação e a lavagem com água pode resultar na sua absorção juntamente com contaminantes. Também as alterações das práticas de consumo, com o cada vez maior impacto da comercialização destas variedades pré-cortadas, poderão contribuir para um aumento dos problemas associados ao seu consumo. O risco de amplificação da contaminação é elevado, uma vez que estes meios são favoráveis ao crescimento microbiano. Assim, a refrigeração dos melões, ou melancias pré-cortados é importantíssimo. www.alimentacaolegal.com AVALIAÇÃO DE RISCO PARA PERIGOS QUÍMICOS EM ALIMENTOS Exemplos: Aditivos Resíduos de pesticidas, de medicamentos veterinários, de contaminantes ambientais Migração de substâncias químicas das embalagens e da armazenagem inadequada Micotoxinas Identificação e caracterização do perigo: Propriedades tóxicas das substâncias químicas Estudos experimentais com animais, investigações epidemiológicas em populações humanas expostas Testes in vitro de curta duração Estimativa de ingestão segura (Ingestão Diária Aceitável) AVALIAÇÃO DE RISCO PARA PERIGOS MICROBIOLÓGICOS EM ALIMENTOS Identificação e caracterização do perigo: Fatores relacionados ao agente (Ex: patogenicidade, virulência, resistência a antimicrobianos) Fatores relacionados ao hospedeiro (suscetibilidade, imunidade) Perigos emergentes (Ex: E. coli O157:H7) Caracterização do risco: Dinâmica do crescimento do agente, a sobrevivência no alimento e a complexidade da interação agente-hospedeiro, de acordo com o consumo. www.alimentacaolegal.com Padrões de Identidade e Qualidade de Produtos Portaria 685/1998 - contaminantes inorgânicos Resolução RDC 12/2001- microbiologia Resolução RDC 175/2003 - matérias estranha Resolução RDC 7/2011- micotoxinas Resolução RDC 53/2012 - medicamentos veterinários Resoluções RDC 259/2002; 359 e 360/2003 – rotulagem Perigos biológicos (entre aspas – Segundo Prof. José Benício Paes Chaves, Ph.D) “Ao longo de sua cadeia produtiva todo alimento está sujeito aos perigos biológicos provenientes da matéria-prima, dos insumos, do ambiente e das pessoas, durante o seu processamento e em todas as etapas, até a mesa do consumidor. Na classe de perigos biológicos pode-se pensar em perigos macrobiológicos e microbiológicos. Dentre os perigos macrobiológicos há, por exemplo, as moscas, mosquitos e coisas desse tipo, que embora repugnantes, se presentes no alimento, nem sempre representam risco à saúde do consumidor, à parte as poucas exceções de insetos que são venosos. Entretanto, as patas, as asas e pelos dos insetos podem carrear outro tipo de perigo, que são os microorganismos e, dentre estes, os que são patogênicos. Por isto, os insetos são perigos sérios, se pousarem em alimentos prontos para consumo, pois podem contaminá-lo com Salmonella ou E. coli O157:H7, por exemplo. Mas se o inseto contaminar o alimento antes de ele ser tratado termicamente, isto não representará um perigo, pois este tratamento reduzirá o risco de dano à saúde, a níveis aceitáveis. De qualquer forma é importante prevenir a ocorrência dos perigos macrobiológicos nos alimentos. Nenhum consumidor ficaria tranqüilo ou satisfeito sabendo que seu alimento foi contaminado, em alguma fase da cadeia produtiva, com insetos, roedores ou pássaros e que substâncias e materiais repugnantes estiveram em contato com aquele alimento. Também é comum na análise de perigos considerar os macrobiológicos na classe de materiais estranhos ou perigos de ordem física. www.alimentacaolegal.com Os efeitos dos microorganismos podem ser diretos por infecção ou pela invasão de tecidos do organismo humano pelo próprio microorganismo (bactérias, vírus e protozoários). Efeitos indiretos são causados por toxinas (venenos) produzidas pelo microorganismo, no alimento, antes de ele ser ingerido pelo homem. Bactérias Gram-negativas normalmente envolvidas em problemas de doenças alimentares incluem espécies de Salmonella e Shigella, Escherichia coli, Campylobacter jejuni, Vibrio parahaemolyticus, Vibrio vulnificus e Yersinia enterocolitica. Estas bactérias estão normalmente presentes no intestino e nas fezes de humanos, pássaros e outros animais. Conseqüentemente são encontradas no solo, na água e em matériasprimas agropecuárias como leite cru, carnes e peixes. De modo geral essas bactérias não são resistentes ao calor e somente causam problemas em razão de pobres condições higiênicas no manuseio de alimentos e das pessoas e por contaminação cruzada. O controle é conseguido por tratamento térmico brando (pasteurização), separação de material cru de material processado na rotina de preparação dos alimentos, Boas Práticas de Fabricação e armazenamento em condições adversas para a multiplicação do patógeno, como em produtos fermentados. Embora sejam microrganismos muito fáceis de serem controlados, é muito grande a freqüência de doenças veiculadas por alimentos, causadas por essas bactérias, em razão do trabalho descuidado dos manipuladores e da falta de gestão responsável da qualidade dos alimentos. As espécies de bactérias do gênero Clostridium são anaeróbias, ou seja, são capazes de se multiplicarem na ausência de oxigênio. Também são esporulantes, com produção de esporos termorresistentes. São encontradas no solo, vegetação, água corrente, sedimentos marinhos e fezes de animais de modo geral. Seu controle nos alimentos é conseguido com tratamento térmico a altas temperaturas, como esterilização e, com a formulação de produtos: acidificação, fermentação como em picles e redução da atividade de água (com adição de sal ou de açúcar). C. botulinum é importante em razão de produzir uma neurotoxina que quase sempre é letal. Casos de botulismo, historicamente, tem sido associados a alimentos sub-processados, principalmente os chamados produtos caseiros. No Brasil, além de produtos como a feijoada em lata, há destaque para o palmito em conserva, que tem sido responsável por casos de botulismo. Assim, em tempos mais recentes uma relação mais ampla de alimentos tem sido envolvida. www.alimentacaolegal.com Há mais de um grupo de C. botulinum de acordo com o tipo de toxina. Na análise de perigos, a equipe APPCC estará interessada no grupo de toxinas A, B ou F. Os esporos desses C. botulinum são muito resistentes ao calor e as formas vegetativas são altamente proteolíticas, produzindo assim, sinais claros de putrefação quando se multiplicam no alimento. Esse grupo de proteolíticos não se multiplica em ambientes com temperatura abaixo de 10 ºC. São encontrados no solo e em tratos intestinais, portanto com ampla possibilidade de contaminar os alimentos. Do segundo grupo de toxina botulínica, composto pelos tipos E e G, os esporos são menos resistentes ao calor e as formas vegetativas não são proteolíticas, portanto, não há deterioração aparente no alimento em que se multiplicam. Há estirpes psicrotróficas, que se multiplicam em ambientes com temperaturas tão baixas como 3,3 ºC. São mais encontradas em ambientes aquáticos, portanto, podem se tornar problemas em alimentos cuja matéria-prima provem desse meio. Botulismo normalmente ocorre após ingestão de alimento que já contém a toxina. As toxinas botulínicas são normalmente destruídas pelo calor de cocção. Em situações muito raras, esporos de C. botulinum do solo ou do alimento podem ser ingeridos e se multiplicarem no intestino humano, produzindo aí a toxina e causando a doença, se a microflora normal do intestino estiver em desequilíbrio. Há registros de botulismo em crianças que ocorreu desta maneira. Envenenamento alimentar causado por C. perfringens normalmente se associa com produtos cárnicos e seus molhos sub-processados ou reaquecidos. A bactéria se multiplica muito rapidamente em ambientes com temperaturas tão altas como 50 ºC. Se multiplicam em grande número no alimento e produzem a sua toxina durante a esporulação no intestino humano, após o consumo desse alimento. A toxina causa náusea e diarréia fortes, mas quase sempre não é fatal. Os controles para C. perfringens são BPF (Boas Práticas de Fabricação) ao longo de todo o processo, tratamento térmico adequado, resfriamento rápido, prevenção de contaminação cruzada, emprego da refrigeração e manuseio adequado na preparação dos alimentos para consumo. As bactérias do gênero Bacillus normalmente são aeróbias e esporulantes. A espécie normalmente envolvida com intoxicação alimentar, B. cereus, é encontrada no solo, vegetação e em leite cru. Os casos de envenenamento por B. cereus envolveram arroz cozido e outros alimentos amiláceos, em que os esporos não foram adequadamente inativados pelo tratamento térmico www.alimentacaolegal.com inicial, germinando e se multiplicando posteriormente, com produção de toxinas, em razão de manuseio impróprio do alimento. As fontes de Staphylococcus aureus freqüentemente são humanas: nariz, pele, garganta, cortes, feridas... Daí a facilidade com que pode ser transmitido aos alimentos pelo manuseio e práticas higiênicas inadequadas. Ao se multiplicar no alimento a bactéria produz toxinas altamente resistentes ao calor. São essas toxinas responsáveis pela doença, havendo até alguma tolerância humana à bactéria. Portanto, esse alimento não se tornará seguro novamente. S. aureus não forma esporos, mas é capaz de tolerar uma diversidade maior de condições de crescimento. Por exemplo, pode se multiplicar em alimentos com baixa atividade de água 0,86. Higiene pessoal e saúde dos manipuladores de alimentos e, Boas Práticas de Fabricação são fundamentais na prevenção de doenças por S. aureus. A preocupação com Listeria monocytogenes como agente de doença de origem alimentar é mais recente. Esta bactéria é importante pela alta taxa de mortalidade de pessoas com deficiência em seus sistemas imunológicos. Os fetos são altamente susceptíveis e casos de aborto são complicações freqüentes de listeriose. A bactéria é altamente disseminada em solos, vegetação e fezes de animais, portanto um contaminante comum de alimentos crus. L. monocytogenes é psicrotrófica, capaz de se multiplicar a 1 ºC, proliferando com facilidade em ambientes de processamento frios e úmidos. Controles são realizados durante a produção para evitar a contaminação do alimento pronto pelo ambiente no momento de manuseio e embalagem. O aumento do número de psicrotróficos patógenos alimentares como L. monocytogenes, Yersinia enterocolitica e C. botulinum não proteolítica tem exigido maior atenção para a segurança dos alimentos perecíveis refrigerados. Por esta razão, esses alimentos têm seus períodos de validade reduzidos. Para prolongar o período de validade são empregadas barreiras de segurança do alimento, além da estocagem sob refrigeração. Patógenos emergentes – nos últimos anos os profissionais que realizam a análise de riscos biológicos em alimentos têm se ocupado com novos tipos de perigos. O termo patógeno emergente é usado para designar organismos que historicamente não são reconhecidos como agentes causadores de doenças alimentares. Aeromonas hydrophyla e Plesiomonas shigelloids estão neste grupo. São bactérias aquáticas e têm sido encontradas em amostras de diversos animais desse meio e terrestre. Têm sido envolvidas em casos de diarréia. São destruídas por tratamento térmico brando, como www.alimentacaolegal.com pasteurização. O controle é realizado por meio de tratamento térmico e prevenir contaminação cruzada. Entretanto, essas medidas preventivas podem não ser adequadas para produtos marinhos crus. Assim, se o risco for considerado, outros procedimentos de descontaminação devem ser implementados. L. monocytogenes, E. coli O157:H7, Vibrio vulnificus, Y. enterocolitica e C. jejuni, hoje considerados entre os patógenos de maior importância na análise de perigos em alimentos, já figuraram entre os chamados emergentes. Vírus – gastrenterites virais são considerados de grande importância, talvez até mais freqüentes do que doenças bacterianas veiculadas por alimentos, nos EUA e em países da Europa. Entretanto, pouco se conhece desses casos no Brasil, o que não significa ausência do problema em nosso país. Os vírus estão presentes no homem, em animais, em fezes, águas poluídas e peixes frescos. São transmitidos dos animais para as pessoas e de pessoa para pessoa. O controle é via educação e higiene pessoal. Vírus pode eventualmente ser transmitido por alimento contaminado pelo manipulador. Os vírus podem, em geral, ser facilmente destruídos pelo calor. Parasitas e protozoários – larvas de parasitas como as de Taenia solium (suínos), Taenia saginata (bovinos), Trichinella spiralis (suínos), acreditem, ainda são importantes perigos em alimentos. Toxoplasma gondii, Giardia intestinallis (lamblia), Cyclospora cayetanensis e Cryptosporidium parvum produzem larvas em cistos que contaminam alimentos. Os animais de estimação, carnes, hortaliças, frutas e leites contaminados são fontes desses protozoários que chegam aos alimentos humanos. Frutas e hortaliças e, hoje, com a expansão do mercado dos produtos minimamente processados esses perigos têm se tornado ainda mais importantes. Educação e treinamento de manipuladores, Boas Práticas de Fabricação, Procedimentos Operacionais Padrão de Higienização e tratamento térmico controlam esses perigos. Micotoxinas – são produzidas por fungos. São substâncias que em doses mínimas ao longo do tempo causam câncer. Podem ser carcinogênicas efetivas em tempo curto se em altas concentrações. Micotoxinas podem ser consideradas também como perigos químicos, embora sejam produzidas por microrganismos. É extremamente ampla a gama de micotoxinas já isoladas, mas apenas um pequeno número delas é considerado como tóxicas. Para efeitos práticos lembrem-se de: aflatoxinas, patulina, ocratoxinas, vomitoxina e fumonisinas, que podem ser consumidas via alimentos www.alimentacaolegal.com derivados de cereais e grãos ou produtos de animais que consumiram rações derivadas dessas matérias-primas. Aflatoxinas – produzidas principalmente por estirpes de fungos Aspergillus flavus, sugiro ler sua história. Por ser das mais conhecidas, tem legislação específica em diversos países. Há seis tipos de aflatoxinas, sendo que quatro delas conhecidas como B1, B2, G1 e G2 já foram registradas em vários alimentos e as outras duas M1 e M2 são metabolitos encontrados em leite de animais que consumiram rações contaminadas com outras aflatoxinas. Aflatoxinas têm sido consideradas perigos sérios em produtos derivados de cereais e grãos e produtos de animais que consumiram rações derivadas dessas matérias-primas. São carcinogênicas. Patulina – considerada carcinogênica, produzida por espécies de Penicillium e outros fungos, portanto, pode se tornar perigo sério em frutas e seus produtos. Em altas concentrações pode causar hemorragias e edemas. A presença de patulina em alimentos é normalmente causada pelo uso de matéria-prima altamente contaminada pelo fungo. Vomitoxina – também conhecida como deoxinivalenol (DON), pertence ao grupo dos tricotecenos e tem sido isolada de grãos e seus derivados em diversas partes do mundo. É produzida pelo fungo Fusarium graminearum cuja presença em grãos é favorecida por clima úmido. Vomitoxina é conhecida por apresentar efeitos tóxicos em animais e em humanos. Tem legislação específica em alguns países e seu controle é pela prevenção de crescimento do fungo na matéria-prima. Ocratoxinas – tem ocorrências registradas em matérias-primas e produtos de milho, trigo, aveia, cevada e café. Há registros de que são produzidas por fungos das espécies Aspergillus ochraceus e Penicillium viridicatum. Produtos derivados de animais alimentados com rações contaminadas têm apresentado presença da ocratoxina. Fumonisinas – estas micotoxinas têm sido associadas epidemiologicamente com casos de câncer no esôfago de humanos e têm efeitos tóxicos sérios em alguns animais, particularmente cavalo. Fumonisinas são produzidas pelo fungo Fusarium moniliformi. Têm sido associadas a milho e seus produtos, principalmente rações à base deste cereal. www.alimentacaolegal.com Perigos químicos Contaminação química de alimentos ocorre desde a produção da matériaprima até a mesa do consumidor e ingestão do alimento. O efeito da contaminação química pode ser crônico (a longo prazo), como substâncias carcinogênicas e aquelas com efeitos acumulativos (metais como o mercúrio). Também são importantes os de efeitos alergênicos que são agudos em tempo curto. Resíduos de material de limpeza – resíduos de substâncias químicas de limpeza podem permanecer nas tubulações, equipamentos e utensílios, sendo conseqüentemente transferidos para os alimentos, direta ou indiretamente. Isto tem que ser avaliado pela equipe APPCC. Há medidas preventivas para cada caso. Resíduos de pesticidas – pesticidas são agroquímicos largamente empregados na produção agropecuária e conservação convencional de alimentos, na indústria, transporte e em domicílios. Observem a lista: inseticidas, herbicidas, fungicidas, conservantes de madeira, repelentes de pássaros e insetos, produtos protetores de matérias-primas e alimentos armazenados, rodenticidas, protetores de pintura, domissanitários... Pesticidas são usados na agricultura para proteger a colheita e aumentar rendimentos, além de melhoria da qualidade estética. Após a colheita são também utilizados na proteção das matérias-primas contra insetos e outras pragas. Nem todos os pesticidas são seguros para uso em alimentos e mesmo aqueles que o são podem deixar resíduos que são perigosos em altas concentrações. Há legislações específicas para o controle de uso desses pesticidas em alimentos e estabelecimento de limites para seus resíduos. Esses limites são definidos com base em estudos toxicológicos. Do ponto de vista de segurança do alimento a gestão da qualidade da empresa ou organização precisa saber quais pesticidas e suas dosagens que foram aplicados em todas as suas matérias-primas em todas etapas da produção e preparação. Precisa saber também quais pesticidas são permitidos na produção de suas matérias-primas e os valores máximos para níveis seguros de seus resíduos. Além de contaminação direta com pesticidas, a equipe APPCC precisa considerar também o risco de contaminação cruzada nas diversas etapas da produção e preparação do alimento. Assim, esses perigos precisam ser considerados no estudo APPCC, ou até mesmo no programa de prérequisitos. www.alimentacaolegal.com Alergênicos – há componentes naturais nos alimentos que podem causar reações alergênicas ou de intolerância biológica em pessoas sensíveis. Essas reações vão desde um desconforto leve até situações muito sérias, dependendo da dosagem e da sensibilidade individual ao componente específico. Substâncias alergênicas já foram registradas em produtos de amendoim, diversas variedades de castanha, ovos, leite e derivados. Consideradas de menor intensidade, há alergênicos em derivados de soja, glúten de trigo, alguns corantes, sulfitos... As opções de controle dessas substâncias na indústria de alimentos são os controle de matéria-prima e insumos, rotulagem efetiva de embalagens, controle em retrabalhos e limpeza efetiva de equipamentos. Metais tóxicos – os metais podem chegar aos alimentos por diversas fontes e são agentes de problemas de saúde quando em altas dosagens. Algumas fontes de metais tóxicos na cadeia alimentar são: poluição ambiental; o solo onde a matéria-prima é produzida; equipamentos, utensílios e recipientes de cozimento, processamento e estocagem; água usada no processamento e substâncias químicas aplicadas na produção agrícola. Dentre os metais de maior preocupação listam-se: estanho (das latas, por exemplo), mercúrio em peixes, cádmio e chumbo da poluição ambiental. Também são importantes arsênio, alumínio, cobre, zinco, antimônio e bismuto. Como qualquer perigo químico há necessidade de se conhecer o risco de um determinado metal tóxico no alimento particular. Este estará associado à matéria-prima, equipamentos e material de embalagem. Nitratos, nitritos e nitrosaminas – nitrogênio ocorre naturalmente no ambiente. È constituinte de fertilizantes, cuja presença tem aumentado no solo e na água. Historicamente, nitritos e nitratos tem sido adicionados em diversos alimentos como parte do sistema de conservação. A adição intencional de nitritos e nitratos é altamente regulada por legislação específica, uma vez que níveis elevados destas e outras substâncias nitrogenadas em alimentos podem produzir diversos efeitos tóxicos. Especificamente tem-se efeitos cancerígenos e metahemoglobinemia em crianças. Consideração adequada será dada ao risco de contaminação por outras fontes e outros ingredientes, assegurando assim o nível total seguro. Policlorados bifenílicos – PCB´s – os PCB´s fazem parte de um grupo de substâncias químicas utilizadas em diversas aplicações industriais. São substâncias altamente tóxicas e não degradáveis no ambiente. Por isto a permissão de seu uso se restringe a sistemas fechados, sendo sua produção proibida em diversos países. A www.alimentacaolegal.com principal fonte em alimentos é sua absorção a partir do ambiente, por peixes. PCB´s são acumulados ao longo da cadeia alimentar e podem ser encontrados em níveis elevados em tecidos ricos em lipídios. Resíduos veterinários – hormônios, promotores de crescimento e antibióticos usados na produção animal podem chegar aos alimentos. Promotores de crescimento são proibidos no Brasil. Outras drogas veterinárias como resíduos de vermífugos, antihelminticos, por exemplo, devem ser consideradas pela equipe APPCC. Como em toda a análise de perigos, a rastreabilidade de matéria-prima e insumos é fundamental. Aditivos químicos – aditivos são usados para tornar os produtos mais seguros, mais limpos, auxiliar no processamento e também por razões estéticas. Podem ainda ser mais benéficos, como no caso de enriquecimento mineral ou vitamínico. Aditivos químicos são regulados por legislação específica da vigilância sanitária. Na legislação, os aditivos são classificados pelas suas funções (conservantes, acidulantes, emulsificantes...). Diretrizes e limitações são estabelecidas para o emprego de aditivos em alimentos específicos. Há a possibilidade de uma lista de “aditivos positivos”. Se um aditivo químico figura numa lista de “positivo” significa que ele foi submetido a uma bateria de testes toxicológicos e, com base nos resultados, uma equipe de especialistas o considerou como seguro para consumo humano. Este procedimento levou à criação do sistema numérico E da Europa para classificação dos materiais testados e aprovados e, também à determinação do nível da Ingestão Diária Permitida (IDP) fixada para essas substâncias. Entretanto, a ignorância tecnológica e até mesmo a falta de responsabilidade, dentre outros fatores, ainda ocorre com grande freqüência o emprego descuidado ou até desnecessário de aditivos químicos. A equipe APPCC da empresa precisa conhecer a legislação sobre emprego de aditivos químicos. Perigos físicos Á semelhança dos outros perigos, os físicos podem chegar aos alimentos em qualquer etapa da cadeia produtiva. Há uma extensa variedade de perigos físicos em alimentos, entretanto, são poucos os de riscos à saúde. Isto quer dizer que esses perigos devem ser controlados no âmbito dos pré-requisitos do plano APPCC. Pelo menos em um número razoável. Por outro lado, há que se considerar que perigos físicos e materiais estranhos podem ser considerados um perigo à segurança do alimento dependendo do www.alimentacaolegal.com comportamento do consumidor. Para crianças, por exemplo, fragmentos de plásticos ou de caixas de papel são perigos sérios. Além disso, materiais estranhos, como fragmentos de embalagens, também podem carrear microrganismos que podem chegar aos alimentos após as etapas de tratamento que visam a controlar esses perigos.. Há países que limitam severa e legalmente a presença de materiais estranhos em alimentos, independentemente de serem eles perigosos ou não para a saúde do consumidor. Materiais estranhas podem representar riscos de ordem física, dependendo do produto e dos resultados da análise de riscos. Os materiais estranhos podem vir do campo de produção da matéria-prima, das áreas de processamento, do sistema de distribuição ou da contaminação intencional. A falta de manutenção preventiva é uma importante fonte de contaminação por materiais estranhos. Em alimentos, os materiais estranhos mais freqüentes tem sido: fragmentos de vidro, de metais, de pedras, de madeira, de jóias, de insetos, de ossos, de espinhas de pescados, de materiais plásticos, de agulhas, de areia, restos ou resíduos de materiais de isolamentos de câmaras frias (fibras), cabelos, objetos de uso pessoal, dentre outros. Todos esses materiais estranhos são indesejáveis em alimentos e bebidas e, podem, em princípio, causar danos ao usuário do produto e às maquinas de processamento dos alimentos. Entretanto, há operações unitárias e medidas preventivas no processo que podem ser implementadas ou instaladas e que são capazes de prevenir, eliminar ou reduzir a presença desses elementos nos produtos alimentícios. Mas a conscientização e o treinamento do pessoal são fundamentais. Vidros e seus fragmentos – podem provocar cortes na boca e se engolidos podem representar sérios perigos. Utensílios e recipientes de vidro devem ser evitados nas áreas de processamento de alimentos. O pessoal de manipulação de alimentos deve ser alertado para isso. Se o produto final é envasado em recipientes de vidro então cuidados e tecnologia especiais serão definidos e seguidos, para um controle efetivo de vidros quebrados e prevenção de contaminação do alimento. A detecção de fragmentos de vidro pode ser feita pelo emprego do Raio X. Fragmentos de metais – podem contaminar os alimentos via matéria-prima ou durante a produção e podem representar perigos, uma vez que podem se apresentar com pontas ou superfícies agudas e cortantes. A manutenção adequada de equipamentos e utensílios é necessária para a prevenção desses perigos. O pessoal da manutenção deve www.alimentacaolegal.com ser adequadamente educado e treinado sobre os perigos e os seus riscos de contaminação dos alimentos com seus materiais de trabalho: ferramentas, parafusos, arruelas, arrebites, pequenas peças de reposição... Todos os produtos devem passar por detectores de metais ou sobre um campo magnético, devendo esta medida preventiva ser realizada o mais próximo possível da etapa final de produção e envase. Os detectores de metal e campo magnético devem ser dimensionados e mantidos de forma a detectar os menores fragmentos de cada tipo de metal. Pedras – são perigos mais comuns em matérias-primas de origem vegetal, pois podem estar presentes dentro da planta como entre as folhas, por exemplo, ou podem ser colhidas junto com a matéria-prima. Pedras podem causar danos aos dentes do consumidor e, se forem agudas podem causar cortes. A melhor prevenção é feita pela seleção de fornecedores. As medidas preventivas, dependendo do estado físico do alimento, são filtração, peneiragem, tanques de flutuação, separação centrífuga... Madeiras e seus fragmentos – farpas agudas de madeira podem provocar cortes na boca e na garganta. Pedaços de madeira podem se prender na garganta do consumidor. Portanto, a gestão da qualidade e da produção deve sim, estarem preocupados com esses tipos de perigos e a equipe APPCC deve considerá-los na “análise de perigos”. Fragmentos de madeira podem estar presentes na matéria-prima assim que ela vem do campo de produção ou podem ser parte da embalagem. Caixas e paletes de madeira devem ser evitados, sempre que possível e, não podem ser admitidos nas áreas de processamento. Na comercialização de frutas e hortaliças no Brasil as caixas de madeira já estão sendo substituídas por recipientes de polímeros (caixas de plástico para tomate, banana, mamão...). O pessoal da produção deve estar adequadamente educado e treinado para não permitir a entrada de materiais de madeira nas áreas de manipulação e processamento. Isto pode ser parte do programa de prérequisitos e das BPF. Há produtos que contém madeira em seu conjunto: sorvetes, por exemplo. Nestes casos deve-se observar cuidados especiais. Há unidades de processamento de alimentos em construções mais antigas, em que a madeira faz parte do material de construção. A equipe APPCC fará uma análise dos riscos de contaminação com madeira, definido as medidas preventivas adequadas. Materiais plásticos – plásticos (polímeros) têm sido usados para substituir outros materiais (perigos) como madeira e vidro, embora materiais plásticos rígidos também possam ser cortantes e se tornarem perigos sérios. Plásticos flexíveis são www.alimentacaolegal.com usados para os mais diversos fins como embalagens, envoltórios protetores, luvas... Medidas preventivas devem ser idealizadas e implementadas para prevenir que fragmentos de plásticos cheguem ao produto pronto e conseqüentemente ao consumidor. Contaminação com fragmentos de materiais plásticos pode vir das matérias-primas e das áreas de embalagens. A detecção por inspeção visual deste tipo de contaminação pode ser facilitada com o incentivo de usos de embalagens e outros insumos plásticos com cores diferentes das que normalmente se tem nos alimentos (azul, por exemplo). Insetos e seus fragmentos, pelos de roedores e penas de aves – A presença desses materiais em alimentos, embora não constitua risco direto à saúde do consumidor (reservadas as exceções) pode ser repugnante. Há que se ter um programa efetivo de prevenção. As unidades de processamento de alimentos têm delineadas ou préestabelecidas etapas de limpeza das matérias-primas para removerem fragmentos de materiais originados dos campos de colheita como pedra, areia, sujidades, pequenos animais, dentre outros materiais estranhos. As unidades de secagem e de desidratação de alimentos têm seqüências de etapas de triagem para remoção de materiais estranhos. É possível ter sistemas de produção de alimentos e bebidas em que fragmentos de madeira, de pedra e restos em geral são tão raros que não mais representam riscos sérios por que medidas preventivas adequadas estão sendo de fato praticadas. Operações unitárias implementadas nas etapas de colheita, transporte, armazenamento e seleção de matérias-primas praticamente eliminam os riscos da presença desses materiais estranhos. Nas unidades de processamento os manipuladores e trabalhadores com alimentos, assim como os visitantes, não podem utilizar jóias e nem outros objetos de uso pessoal. É proibida a colocação destes objetos nos gorros ou mesmo atrás das orelhas, pois com freqüência caem nos alimentos. Funcionários que necessitam carregar utensílios como termômetro, caneta e relógio devem levá-los protegidos em bainhas ou bolsas adequadamente presas às suas cinturas, ou em bolsos apropriados de seus uniformes. Curativos tipo “band aid” se tiverem que ser usados, deverão ser coloridos para permitir sua pronta visualização. www.alimentacaolegal.com A contaminação intencional é um aspecto que não pode ser negligenciado pela gestão da qualidade da empresa. A sua prevenção depende da implementação efetiva das Boas Práticas de Fabricação e de um programa de educação e treinamento de pessoal, em todos os níveis. Os trabalhadores e colaboradores sempre sabem o que está acontecendo na linha de produção. Eles precisam estar conscientizados de que a produção de alimentos seguros é de extrema importância para a manutenção de seus postos de trabalho, garantia de seus salários e, conseqüentemente de seu “meio de ganhar a vida”. Daí a necessidade de liderança da alta administração da empresa e da gestão da qualidade e da produção, na elaboração e manutenção de um programa contínuo de educação, treinamento e motivação da força de trabalho. Isso faz com que cada funcionário seja um parceiro e motiva-o a participar efetivamente do processo, prevenindo ações intempestivas de um eventual colaborador descontente. A alta administração e os outros níveis de gestão devem trabalhar para a criação de um ambiente de trabalho seguro e confortável para todos os colaboradores da organização. Isto irá reduzir ou até mesmo eliminar as “tentações de revanche” contra a empresa por parte de algum funcionário. O “National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods” (americano) faz uma abordagem especial para os perigos microbiológicos, separando-os em três grupos: perigo severo, perigo moderado com disseminação potencialmente extensiva e perigo moderado com disseminação limitada. Entre os perigos severos o comitê considera os seguintes: Clostridium botulinum, Shigella, Vibrio cholerae, Salmonella typhi, Salmonella paratyphi A, Salmonella paratyphi B, Salmonella paratyphi C, Salmonella sendai, Samonella cholerae-suis, Brucella abortu, Brucella melitensis, Brucella suis, Mycobacterium bovis e Vírus da hepatide A e algumas micotoxinas. Toxinas de C. botulinum causam botulismo com alta taxa de mortalidade. Shigella dysenteriae causa uma diarréia que sem tratamento específico pode causar alta taxa de mortalidade. Doenças causadas por algumas espécies de Shigella (S. flexneri, S. boydii, S. sonnei) são normalmente menos severas, grandes diferenças podem ocorrer, por isto a espécie é incluída entre os perigos severos. Cólera pode ser severa e resultar em morte, se não for tratada adequadamente, entretanto infecções brandas e até assintomáticas são freqüentes. Dentre as Salmonellae mais bem adaptadas ao ambiente humano são: Salmonella typhi, Salmonella paratyphi A, Salmonella paratyphi B, Salmonella paratyphi C e Salmonella sendai, www.alimentacaolegal.com Perigos moderados com disseminação potencialmente extensiva – Salmonella, Escherichia coli enteropatogenica, E. coli enterinvasiva, E. coli O157:H7, Streptococcus pyogenes, Vírus e protozoários. Perigos moderados com disseminação limitada – Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens, Bacillus cereus, Vibrio parahaemolyticus, Coxiella burnetti, Yersinia enterocolitica, Campylobacter jejuni,Trichnella spiralis e Aeromonas. Os agentes listados no grupo de perigos moderados geralmente causam doenças menos graves do que os listados como severos. Os agentes com disseminação potencialmente extensiva são sempre disseminados pelo alimento específico, entretanto, disseminação secundária para outro alimento podem ocorrer via contaminação ambiental, contaminação cruzada dentro da planta de processamento e nas áreas de preparação de alimentos, inclusive em domicílios. A dose limiar para causar a doença por esses agentes pode ser baixa. Os agentes do grupo de menor risco (perigo moderado com disseminação limitada) estão presentes na maioria dos alimentos, normalmente em pequeno número. Vale salientar que a doença normalmente ocorre quando se ingere alimento com grande número do microrganismo patogênico, por exemplo, C. perfringens, ou que conteve em algum tempo, número suficiente de patógeno para produzir toxina, S. aureus. Surto de doença alimentar geralmente se restringe a consumidores de uma mesma refeição ou mesmo tipo de alimento, por exemplo leite no caso de C. burnetti”. ALGUNS ALIMENTOS E SEUS RESPECTIVOS RISCOS E MEDIDAS DE INTERVENÇÕES AÇAÍ O açaí é de grande importância para a sua região de cultivo em virtude de sua utilização constante por grande parte da população, principalmente os ribeirinhos. A obtenção de dados exatos de produção e comercialização é quase que impossível, motivado pela falta de controle nas vendas, bem como a inexistência de uma produção racionalizada, uma vez que a matéria-prima consumida apóia-se pura e simplesmente no extrativismo e comercialização direta. No Pará, principal produtor e fornecedor da polpa responde com 70 % da produção nacional. www.alimentacaolegal.com As medidas de intervenções a serem adotadas para o Açaí são as seguintes: • Adoção de medidas de controle por meio de cadastro obrigatório, inspeção sanitária; • Ações de fiscalizações de boas práticas de fabricação, por meio da elaboração do manual de boas práticas; análise e pontos críticos de controle; • Investigação de surtos notificados e sub-notificados; • Emissão de alerta sanitário por meio de divulgação de informações para a população; • Sistema de monitoramento e avaliação. Os perigos podem ser: • FÍSICO: fragmentos de insetos, palhas, madeira, folhagens e outros; • QUÍMICO: óleo combustível (transporte); • MICROBIOLÓGICO: coliformes fecais, salmonelas, vírus (hepatite A), T. cruzi, parasitos em geral. www.alimentacaolegal.com ARROZ - RISCOS ENVOLVIDOS Perigos microbiológicos Provenientes do inadequado armazenamento: Bacillus cereus, Staphyloccoccus aureus, Letospira spp, vírus Hantaan. Perigos Químicos Aspergillus: aflatoxinas, austina, citrinina, citochalasinas, fumitoxinas, nidulotoxna, ocratoxina, patulina. Penicillium: citrinina, citreoviridina, citromicetina, eritrosquirina, ocratoxina, griseofulvina, luteosquirina, oxalina, patulina, Ácido penicillico, roquefortina, rubratoxina, rugulosina, rugulovasina. Fusarium: fumonisinas, ácido fusarico, fusarin, tricotecenos, zearalenona. Perigos Físicos Fragmentos de vidro e metal; Presença de fragmentos de insetos, fragmentos metálicos e pêlos de animais Principais medidas de controle • Adquirir sementes resistentes aos fungos e micotoxinas; • Efetuar a secagem adequada de tal forma que os grãos atinjam 13 a 14% de umidade; • Armazenar a granel em silos adequados; • Obedecer a altura de estrados recomendada que é de 10 à 15 cm e a distância é de 60 cm das paredes; • Evitar a formação de pilhas grandes; • Favorecer a ventilação entre os sacos; • Evitar infiltrações e goteiras; • Evitar animais domésticos, • Efetuar o Manejo Integrado de Pragas; • Realizar a higienização das instalações e maquinários; • Evitar a presença de material alheio às atividades; • Fazer uso de EPI; • Providenciar treinamento em Boas Práticas Agrícolas; • Monitorar a umidade e a temperatura do ambiente e dos grãos; www.alimentacaolegal.com • Monitorar o arroz mediante a coleta de amostras para pesquisa laboratorial no isolamento de fungos e micotoxinas. BOLOS RECHEADOS O preparo do bolo recheado e úmido inicia-se com a fabricação da massa, que é misturada em batedeiras e assada no forno em fôrmas de alumínios ou vidros. Antes ou depois da confecção da massa, podem ser preparados o recheio, a calda e a cobertura em panelas, recipientes de vidros e/ou plásticos. As massas assadas são umedecidas, recheadas e confeitadas, observando-se os limites de tempo e temperatura. Considera-se que o maior perigo de contaminação é biológico e encontra-se nos recheios e nas coberturas. Os ingredientes de diferentes cremes doces são variáveis, geralmente contém produtos lácteos desidratados emulsificados com gorduras e açúcar. Os cremes industrializados são pasteurizados antes da distribuição. Em contato com tortas e outros doces, bolos e manjares, (por exemplo), os nutrientes são absorvidos, o que favorece o crescimento bacteriano na interface. A Resolução RDC de 12 de janeiro de 2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece como padrão microbiológico para produtos de confeitaria o máximo de 102 UFC/g de coliformes termotolerantes, para estafilococos coagulase-positivos o máximo de 103 UFC/g, para B. cereus o máximo de 103 UFC/g e ausência de Salmonella em 25g. Em todo o processo devem ser utilizados utensílios limpos sobre bancadas lisas e impermeáveis e em ambientes fechados, protegidos de poeiras, fumaças, insetos, roedores e outras pragas. Após o preparo, os bolos devem ser imediatamente acondicionados em refrigeradores e transportados em veículos aclimatados ou isotérmicos dentro de caixas térmicas por um tempo controlado e limitado a fim de miniminizar qualquer possibilidade de multiplicação de microorganismos. Campos et al. (1993) investigaram seis surtos de doenças de origem alimentar ocorridos em São Paulo. Os alimentos incriminados foram bolo recheado com creme (4 surtos), nhoque (1 surto) e sorvete (1 surto). As contagens de S. aureus nos alimentos variaram de 107 a 109 UFC/g exceto para o sorvete, do qual não foi isolada a bactéria. www.alimentacaolegal.com Os estafilococcos isolados mostraram-se produtores de enterotoxina SEA e todas as amostras continham a referida enterotoxina, considerada a mais comumente associada à intoxicação alimentar estafilocócica. Doze pessoas ficaram doentes, com sintomas como vômito e diarréia aproximadamente 4 horas após a ingestão de um bolo de aniversário recheado em Minas Gerais. O bolo tinha sido preparado por um manipulador de longa experiência no ramo, no entanto, Staphylococcus aureus produtor de enterotoxina A foi isolado do seu nariz, leito subungueal e de uma infecção no seu pescoço; e no referido doce. Enterotoxina SEA foi isolada de uma sobra de bolo, que enquanto ainda quente tinha sido refrigerado durante uma hora após ter sido preparado e foi consumido duas horas após o início da festa. O bolo era grande (6 kg) e não foi adequadamente resfriado no período em que ficou na geladeira antes de ser servido. Suspeita-se que a temperatura não diminuiu no centro do doce , permitindo assim o crescimento do microrganismo patogênico envolvido e da produção da enterotoxina (Pereira et al., 1994). Os produtos de confeitaria devem ser preparados com matérias-primas de qualidade, limpas e em perfeito estado de conservação. Quanto às características microbiológicas, estes alimentos devem obedecer aos seguintes padrões, conforme Resolução de Diretoria Colegiada - RDC Nº 12 de 02/01/2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária -ANVISA do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001): • Coliformes a 45ºC (termotolerantes) – máximo 102/g • Estafilococos coagulase positivos – máximo 103/g • Bacillus cereus – máximo 103/g • Salmonella spp - ausência em 25g do produto A conservação sob refrigeração dos bolos recheados é de extrema importância. Os surtos das DVACs associados a produtos de confeitaria recheados são frequentemente atribuídos à refrigeração inadequada durante a manipulação ou armazenamento. A maioria dos surtos causados pela ingestão de bolos recheados ocorre por má refrigeração dos alimentos, portanto, a refrigeração é o melhor método de controle de intoxicação alimentar estafilocócica. www.alimentacaolegal.com Ao se referir à refrigeração, geralmente são consideradas temperaturas inferiores a 7ºC que inibem a multiplicação dos microrganismos mesofílicos; no entanto, os psicrotróficos ainda são capazes de se desenvolver em temperaturas entre 0ºC e 7ºC. Mesmo para estes patógenos, quanto mais baixa for a temperatura, menor será sua velocidade de multiplicação, inclusive para a produção de toxinas que são produzidas na fase LOG A refrigeração prolonga a fase LAG. Sendo assim, o uso correto dos equipamentos de frio reduz significativamente a deterioração dos alimentos e os riscos à saúde. A refrigeração adequada é fator primordial na prevenção da produção de toxinas, porque prolonga a fase LAG de multiplicação bacteriana e as toxinas são produzidas na fase seguinte: LOG ou exponencial. Se o alimento permanece sob temperatura e tempo corretos de exposição, o desenvolvimento do microorganismo é retardado, o que minimiza muito os riscos de intoxicação alimentar. Considerando este aspecto, é fundamental que os que produze e comercializam bolos, tortas recheadas se adequem e encontrem meios de refrigeração eficientes capazes de manter suas tortas sob temperatura de segurança. Os alimentos doces, especialmente os recheados , são altamente perecíveis por possuírem uma composição que favorece a multiplicação de microorganismos. Na maioria dos recheios, a deterioração pode ser favorecida se em sua formulação houver o acréscimo de fontes de proteína como ovos e leite, a atividade de água for elevada e o pH estiver próximo da neutralidade (7,0). A deterioração de recheios submetidos à cocção poderá ocorrer por bastonetes esporulados sobreviventes, por microrganismos introduzidos após o cozimento e também por meio de inadequada cocção. Dentre os patógenos mais frequentemente envolvidos em surtos nestes alimentos são citados: Bacillus cereus – bastonete Gram - positivo, aeróbio e anaeróbio facultativo, podendo ser móvel ou imóvel e produtor de esporos Salmonella spp – bastonete Gram - negativo, anaeróbio facultativo e móvel, na maioria das espécies Staphylococcus aureus – são cocos Gram - positivos, aeróbios e anaeróbios facultativos e imóveis www.alimentacaolegal.com Coliformes fecais – são bastonetes Gram - negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos e não esporulados. Este grupo inclui pelo menos três gêneros de bactérias: Escherichia, Enterobacter e Klebsiella, tendo os dois últimos cepas de origem não fecal. Dentre estes, a Escherichia coli é o melhor indicador de contaminação fecal, embora também possa ser introduzida nos alimentos a partir de fontes não fecais. CARNE-DE-SOL A carne bovina é a matéria-prima utilizada para o preparo da carne-de-sol. As peças de carne, tais como, coxão mole, coxão duro, contrafilé e outras são cortadas, ligeiramente salgadas e deixadas em locais abertos e bem ventilados, passando por um leve processo de desidratação. O processo produtivo da carne-de-sol consiste em fazer cortes nas peças com o objetivo de aumentar a área de contato com o sal, que é adicionado manualmente. Após o período aproximado de duas horas, as peças são estendidas em varais, ao sol, até completar a desidratação. Os perigos (físico, químico e microbiológico) mais comumente encontrados são os microbiológicos, devido à contaminação por Coliformes a 45º, Staphylococcus aureus, bactérias mesófilas e bolores e leveduras. A contaminação da carne-de-sol também ocorre devido à presença de: ovos de insetos, poeira, fumaça de veículos motorizados, pedaços de madeira, pedra, cabelo e sal não iodado. Estes podem ocorrer em todas as operações relativas ao processamento do alimento, do abate do animal até a distribuição do produto, sendo que a intensidade dos mesmos depende das medidas higiênicas adotadas. Dentre as intervenções necessárias, incluem-se: sensibilização do setor regulado sobre os cuidados higiênico-sanitários em toda cadeia produtiva, elaboração de check-list padrão para execução das ações fiscais pela autoridade sanitária e material educativo para orientação aos consumidores. O sistema de monitoramento e avaliação deve comtemplar: • Coleta de amostras para análise laboratorial; • Elaboração de relatórios mensais, consolidar resultados das analises laboratoriais, www.alimentacaolegal.com • Utilização de indicadores de riscos e aplicar as intervenções para o gerenciamento do risco Os maiores riscos à saúde da carne de sol são causados por contaminação por Staphylococcus aureus, cuja multiplicação no produto salgado in natura propicia a produção de uma toxina nociva, que não é eliminada quando o produto é submetido a processo térmico. A condição dos estabelecimentos que comercializam a carne de sol, quanto a exposição e manipulação das peças também contribui para a contaminação, uma vez que o produto pode ficar exposto sem qualquer tipo de embalagem ou proteção, o que pode facilitar a presença de contaminantes físicos. Da mesma forma, quendo a mesma faca usada para cortar a carne in natura também é usada para o corte de queijos e doces, aumentado os riscos de contaminação cruzada com outros prontos para o consumo. PALMITO Conforme cita a Resolução RDC N°17 de 19 de novembro de 1999, o palmito em conserva é o produto preparado a partir da parte comestível de palmeiras sadias de espécies próprias para consumo humano, das quais tenham sido removidas partes fibrosas através de descascamento e corte, imerso em água (líquido de cobertura), especiarias e outros ingredientes, e processado (acidificado e pasteurizado pelo calor), de maneira apropriada para que o produto esteja isento de formas viáveis de microrganismos capazes de se reproduzirem no alimento sob condições normais de armazenamento, distribuição e comercialização, e embalado hermeticamente, evitando a entrada de microrganismos e garantindo a esterilidade do produto (Anvisa,1999) As legislações federais que regulamentam o Palmito em Conserva são: • Resolução – RDC nº 300, de 1º de dezembro de 2004, • Resolução – RDC nº 81, de 14 de abril de 2003, • Resolução – RDC nº 18, de 19 de novembro de 1999 • Resolução – RDC n° 17, de 19 de novembro de 1999 O produto deve ser monitorado na fase da produção através de inspeções sanitárias rotineiras nas indústrias, levando-se em consideração o cumprimento dos itens imprescindíveis e necessários estabelecidos na legislação sanitária. www.alimentacaolegal.com Avaliar a aplicação e implantação das Boas Práticas de Fabricação, Procedimentos Operacionais Padronizados e o monitoramento dos pontos críticos de controle estabelecidos nos Planos APPCC. Em relação à fase pós-comercialização deve ser avaliados os rótulos do Palmito em Conserva para verificação de sua origem e o critério de qualidade relativo à sua segurança por meio de análises laboratoriais, tendo como indicadores os laudos de análise satisfatórios. PESCADOS O nome genérico “pescado” engloba os peixes de água doce (pintado, manditruta, tilápia), peixes de água salgada (abrotéa, corvina, pargo), crustáceos (camarão, caranguejo, siri, lagosta, etc), moluscos como os bivalves (marisco, ostra, mexilhão e vieira) e como os cefalópodes (polvo e lula), além dos anfíbios (rã) e os quelônios (tartaruga e cágado) todos com um elevado valor nutricional, contendo quantidades significativas de proteínas e ômega 3. www.alimentacaolegal.com www.alimentacaolegal.com MAPEAMENTO DE RISCOS: ADPATADO DE CARVALHO, L. R, UFF,2012. RECEBIMENTO DE MERCADORIAS: Nesta área podem ocorrer alguns riscos, dentre os quais oriundos muitas vezes relacionados aos colaboradores que trabalham neste setor, pois alguns portam adornos e uniformes incompletos, sem toucas, possibilitando a queda de cabelos sobre a matériaprima recebida. E aguns serviços de alimentação área de recepção de mercadorias é aberta com comunicação ao ambiente externo, e muitas vezes caba sendo também acesso de entrada dos colaboradores, visitantes e ainda saída de resíduos orgânicos e inorgânicos, podendo desta forma se tornar em risco para segurança do alimento. Nesta área a balança que é destinada à pesagem dos alimentos algumas empresas apresenta a mesma mal higienizada e com corrosão, podendo afetar a qualidade da matéria-prima recebida. Outro fator de risco nesta área refere-se ao tempo entre o recebimento dos materiais, pesagem e armazenamento que torna-se lento devido ao grande volume recebido, e muitas vezes os colaboradores não realizam de maneira eficiente, por exemplo, a conferência das características sensoriais da carne, pois estas chegam embaladas em caixas de papelão e lacradas em sacos plásticos e ainda existem os que aramzenam-na nestas mesmas embalagens nas câmaras de refrigeração ou na área de pré-preparo. O armazenamento de carnes nas suas embalagens originais dificulta a penetração do frio na intimidade de cada peça de carne, favorecendo o crescimento microbiano. Outro fator de risco é a inefeciência do controle de tempo e temperatura da carne recebida e ainda avaliação criteriosa das condições de higiene do transporte e do transportador, e sabe-se que é exigido que o veículo que transporta a carne seja frigorificado. www.alimentacaolegal.com ARMAZENAMENTO Os serviços de alimentação ao receberem carnes recebidas deveriam armazenálas em monoblocos não vazados de forma a impedir a contaminação por gotejamento, descartando assim as embalagens originais para facilitar a penetração do frio nas peças de carne e cobertas com papel manteiga ou película plástica de PVC, devidamente identificadas através do sistema de etiquetagem. ÁREA DE PRÉ-PREPARO Vários são os fatores de risco nesta área que favorecem contaminação, dentre elas: placas de corte mal higienizadas, muitas de madeira, com frestas que facilitam o acúmulo de sujeira. Moedor de carne mal higienizado, com acúmulo de poeira e sujidades visíveis, podendo provocar uma contaminação cruzada. Em algumas empresas a porta da área de pré-preparo que dá acesso à área de cocção é constantemente aberta por outros colaboradores, facilitando a troca de calor da área de cocção com esta área, tornando a temperatura do ambiente mais vulnerável à multiplicação microbiana. Outro fator deveras negligenciado em muitos serviços de alimentação, refere-se a prática inadequada dos procedimentos de higienização, que muitas vezes é feita pelos próprios manipuladores de alimentos, sendo feita com água corrente, sabão neutro líquido sem uma diluição adequada e precisa, uma vez que o fabricante recomenda uma diluição de 1:30 e os manipuladores diluem de qualquer maneira, sem seguir um critério, pois muitas vezes não são treinados para tal procedimento, o que pode contribuir para acidentes e contaminações quimicas por deixarem resíduos nos utensílios mal higienizados. O cloro concentrado muitas vezes colocado sobre as bancadas de aço inoxidável também não segue pelos manipuladores qualquer critério de diluição. www.alimentacaolegal.com ÁREA DE COCÇÃO Alguns serviços de alimentação ainda insitem em deixar preparações em temperatura ambiente antes de irem para o balcão de distribuição, deixando-os em cubas, tornando-se alvo em potencial de multiplicação microbiológica tendo em vista a falta de reaquecimento para posterior reposição. E ainda não realizam qualquer tipo de monitoramento de tempo e temperatura das preparações nesta ou em qualquer outra etapa do processo produtivo, apesar da existência de termômetro. ÁREA DE DISTRIBUIÇÃO O balcão térmico de distribuição em muitos serviços de alimentação é ligado à energia elétrica muitas vezes em um horário bem próximo a colocação das preparações, o que impede que se atinja a temperatura ideal de conservação das preparações. As aberturas destinadas às cubas de aço inoxidável com as preparações acabam ficando abertas até o horário de início do atendimento aos usuários, permitindo assim, a saída do calor e distanciando-se da temperatura ideal. Desta forma, quando a cuba com a preparação chega ao balcão para ser porcionado, não consegue ser mantida na temperatura ideal no seu centro geométrico que seria em torno de 700.C Muitas das vezes os utensílios utilizados no porcionamento das preparações alimentares não são higienizados ou substituídos com freqüência, permitindo a multiplicação microbiana e podendo tornar-se um foco de contaminação para o alimento. Outro fator de risco pode ser evidenciado quando a higiene do balcão realizada no momento da reposição das cubas é feita com pano, esta prática pode acarretar na proliferação de microorganismos e na contaminação das preparações. O adequado seria higienizar o balcão na ausência da cuba e com pano descartável e álcool a 70%. As cubas ou panelas que ficam aguardando para serem repostas no balcão de distribuição muitas vezes permanecem em temperatura ambiente, podendo ser considerado como um fator de risco, uma vez que as preparações ficam prontas, por exemplo as 10h00 minutos sendo a última cuba reposta no balcão em torno de 13h 00minutos, ficando desta forma três horas em exposição à temperatura ambiente ou em temperaturas mais elevadas, devido ao calor produzido na área de cocção onde ficam estas preparações aguardando reposição no balcão. www.alimentacaolegal.com TRANSPORTE DAS REFEIÇÕES Muitos serviços de alimentação não estabelecem medidas de segurança no quesito transporte de alimentos. Alguns fatores de risco podem ser constatados, dentre os quais: a não utilização adequada de uniforme e protetor de cabelos pelo colaborador responsável pelo transporte das refeições às Unidades receptoras.O monitoramento da higiene do veículo não é realizado. UNIDADES RECEPTORAS Algumas unidades receptoras até possuem balcão térmico em funcionamento, porém muitas vezes não realizam monitoramento da temperatura durante a distribuição das refeições. Estas preparações alimentares, na sua maioria, quando chegam às Unidades receptoras são imediatamente destinadas ao balcão de distribuição com pouca manipulação, minimizando os riscos de contaminação. È recomendável para evitar ocorrência de contaminações, que aquelas à base de molho de maionese, por exemplo, sejam finalizadas na unidade receptora minimizando assim, os riscos de fermentação ou proliferação microbiológica. PLANO DE AÇÕES CORRETIVAS PARA RISCOS MICROBIOLÓGICOS O QUÊ? ONDE? Ausência de monitoramento de tempo e temperatura entre as etapas de recebimento earmazenamento, assim como na matéria-prima Recebimento de material Ausência de Recebimento de QUANDO? QUEM? Recebimento e Colaboradores armazenamento envolvidos no da carnes recebimento de carnes ou RT/Supervisor No ato da www.alimentacaolegal.com Colaboradores COMO? Monitorar tempo entre recebimento e armazenamenento e temperatura das carnes recebidas e liberadas do estoque através de planilhas específicas e instrumentos como relógio ocronômetro e termômetro Monitorar em checagem das condiçõe higiênicas do transporte e do entregador Ausência de checagem das características sensoriais e da embalagem da carne recebida material entrega envolvidos no recebimento de carnes ou RT/Supervisor Recebimento de material No ato da entrega Colaboradores envolvidos no recebimento de carnes ou RT/Supervisor Ausência de monitoramento de tempo e temperatura das câmaras frigoríficas durante o período de armazenamento Armazenagemento sob refrigeração Liberação da carne para área de prépreparo em quantidades elevadas Armazenamento Durante o Colaboradores armazenamento envolvidos no das carnes recebimento de bovinas carnes ou RT/Supervisor Liberação do estoque para manipulação www.alimentacaolegal.com Colaboradores envolvidos no recebimento de carnes ou RT/Supervisor formulários específicos os itens necessários de avaliação Monitorar em formulários específicos contendo as características sensoriais e da embalagem da carne recebida Monitorar com planilhas e instrumentos específicos -Remover caixas de papelão e mantêlas em monoblocos plásticos não vazados e etiquetados adequadamente -Liberar as carnes em lotes para a área de prépreparo Identificar a quantidade adequada para liberação da carne do estoque; Monitorar tempo de manipulação por lote e monitorar a temperatura superficial das carnes com o auxílio de termômetros e registrar em planilhas Higienização e guarda inadequadas dos utensílios e equipamentos e bancadas de manipulação Prépreparo Antes e após o uso Colaboradores envolvidos nesta área e responsável pela área e pelo pedido de compras de material Ausência de monitoramento de tempo e temperatura durante o tratamento térmico Cocção Durante o tratamento térmico da carne bovina Colaboradores envolvidos no recebimento de carnes ou RT/Supervisor Ausência de monitoramento de tempo e temperatura da preparação no balcão térmico e da preparação no apoio para reposição Tempo prolongado para retirada e guarda Distribuição Durante a distribuição da preparação à base de carne bovina Colaboradores envolvidos no recebimento de carnes ou RT/Supervisor Distribuição Ao final do atendimento aos Colaboradores envolvidos no recebimento de www.alimentacaolegal.com específicas - Manter o local destinado à guarda de utensílios e peças de equipamentos adequadamente higienizados; - definir POP para esta etapa e disponibilizá-lo para os colaboradores; - Receber treinamento adequado para diluição e uso corretos dos produtos químicos - Uso de produtos específicos para cada tipo de higienização - Monitorar tempo e temperatura de cocção da carne bovina através de instrumentos e planilhas específicas - Monitorar tempo e temperatura das preparações alimentares à base de carne bovina através de instrumentos e planilhas específicas Monitorar tempo e temperatura das das sobras; ausência de monitoramento da temperatura de refrigeração das sobras e do seu reaquecimento usuários carnes ou RT/Supervisor Ausência de monitoramento de tempo e temperatura da preparação alimentar Distribuição Durante a distribuição Colaboradores envolvidos no recebimento de carnes ou RT/Supervisor Ausência de monitoramento de tempo e temperatura das preparações alimentares Unidade Produtora (expedição) e Unidades Receptoras (recebimento) Antes e após o transporte da preparação alimentar da Unidade Produtora às Unidades receptoras Nutricionista ou R.técnico Ausência de inspeção das Unidade produtora e Unidades Na expedição da Colaboradores envolvidos na www.alimentacaolegal.com preparações alimentares à base de carne bovina através de instrumentos e planilhas específicas; - Descartar as sobras na ausênvia de rígido controle higiênico sanitário das etapas do processo produtivo Monitorar tempo e temperatura das preparações alimentares à base de carne bovina através de instrumentos e planilhas específicas; - Descartar as sobras na ausênvia de rígido controle higiênico sanitário das etapas do processo produtivo - Monitorar tempo e temperatura das preparações alimentares à base de carne bovina através de instrumentos e planilhas específicas - Monitorar os itens condições higiênicas do veículo automotivo e do motorista Receptoras refeição transportada e no ato do recebimento das refeições transportadas Ausência de higienização das cubas e “hotboxes” após o uso, contaminando o veículo automotivo transportador de refeições com resíduos alimentares Ausência de monitoramento de tempo e temperatura das preparações à base de carne bovina Unidades Receptoras Ao final do atendimento Unidades Receptoras Durante a distribuição www.alimentacaolegal.com área de expedição da Unidade Produtora e da área de recebimento das Unidades Receptoras RT Colaboradores lotados nestas unidadades Colaboradores treinados ou RT necessários através de instrumentos e planilhas específicas Realizar higienização das cubas e containers com produtos de limpeza específico Monitorar tempo e temperatura das preparações alimentares à base de carne bovina através de instrumentos e planilhas específicas e descartar as sobras Quer saber mais sobre este assunto em minimos detalhes e com as respectivas leis e planilhas: adquiram nossos livros: Aspectos Legais das Boas Práticas em Serviços de Alimentação e o Guia de Consultoria & Assessoria em Serviços de Alimentação, em nossa loja virtual: http://www.alimentacaolegal.loja2.com.br/ Com respeito e admiração: www.alimentacaolegal.com REFERENCIAS UTILIZADAS ALMEIDA, C.R. 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