A Importância da Mulher para a Democracia Ana Arraes Ministra do TCU Parabenizo os organizadores deste "I Encontro de Conselheiras de Tribunais de Contas" pela iniciativa de reunir as mulheres que se dedicam a fazer o controle externo da Administração Pública para debater suas ideias sobre temas tão relevantes como os tratados neste encontro. Sem dúvida, vivenciamos um momento histórico, em que a mulher, antes excluída da participação nas decisões mais simples em razão de sua submissão cultural e econômica ao poderio masculino, se faz presente em vários ramos de atuação, inclusive em profissões anteriormente reservadas aos homens. Para o exercício pleno da democracia, entendida na sua acepção mais difundida como "o governo do povo, para o povo e pelo povo", não se aceita, nos dias atuais, a alienação da mulher na tomada de decisões, em especial por sua visão humanista das várias facetas da vida em sociedade e por suas habilidades nas relações humanas. 1 Certamente, o atual nível de participação feminina no mercado de trabalho e na gestão pública se deve, além da atuação de vários organismos civis voltados para as questões de gênero de âmbito local, nacional e internacional, à luta travada por corajosas representantes do sexo feminino que ousaram enfrentar os dogmas de uma sociedade liderada pelos homens. No plano internacional, destaco a existência do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), órgão criado em 1976 e presente em mais de 100 países, inclusive no Brasil. Sua missão e prover assistência, tanto técnica quanto financeira, a programas e estratégias capazes de assegurar os direitos da mulher, sua participação na política e sua segurança econômica. Mais recentemente, como resultado dos movimentos de defesa das mulheres no mundo e de anos de negociações entre estados-membros da ONU, foi criada a ONU Mulheres _ Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. 2 A referida entidade está em funcionamento desde o dia 10 de janeiro de 2011, sob a coordenação da Ora. Michelle Bachelet, Subsecretária-Geral de ONU Mulheres e ex-presidenta do Chile de 2006 a 2010. São vários os exemplos de mulheres que se destacaram na vida pública. Para não cometer injustiças, abstenho-me aqui de relacioná-Ias. Está em exibição, no momento, o filme "A Dama de Ferro", que rememora a luta travada por Margaret Thatcher, em um passado recente, para quebrar barreiras de gênero e de classe e ser ouvida em um mundo dominado pelos homens. A Sra. Thatcher foi a primeira mulher a chegar ao posto de primeira-ministra no Reino Unido e ocupou o cargo por um período de 11 anos, de 1979 a 1990. Sem avaliar o mérito de seu governo, reconheço que ela foi capaz de lidar com as questões da gestão pública e de se manter no posto por tempo considerável, embora tivesse que se sobrepor aos homens que faziam parte do governo e do parlamento britânico. 3 Dois momentos de sua vida retratados no filme despertam a atenção. Um, quando ela impôs, como condição para aceitar o pedido de casamento que lhe foi feito pelo seu futuro marido, que não se limitaria ao papel comumente reservado à mulher: cuidar dos filhos e da casa. Outro, quando após eleita, citou a conhecida oração de São Francisco de Assis: "Onde houver discórdia, que eu leve a união, Onde houver dúvida, que eu leve a fé, Onde houver erro, que eu leve a verdade, Onde houver desespero, que eu leve a esperança." Esses episódios revelam a ousadia e a coragem daquela mulher e me fazem refletir sobre o caráter amoroso, sincero, otimista, determinado e apaziguador próprio do sexo feminino, que já tive a oportunidade de ressaltar quando, no discurso de minha posse no TCU, mencionei, por sua sabedoria, palavras de Cora Coralina, que aproveito para repetir: 4 "Procuro semear o otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso' com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. " De fato, a mulher atual não se limita mais ao papel de boa esposa, boa mãe e boa dona de casa. Com sua visão própria do mundo - muitas vezes mais atenta ao que diz o coração do que a razão - ela atua na vida pública em busca do que nossa Constituição Federal apregoa como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: "I - construir uma sociedade livre, justa e solidária,' II - garantir o desenvolvimento nacional; IlI - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais,· IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, " 5 Aliás, a Constituição vigente incorporou a igualdade de gênero como um dos direitos e garantias fundamentais, assegurando que os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal devem ser exercidos igualmente pelo homem e pela mulher (artigos 5°, inciso I, e 226, § 5°). Embora isso não seja suficiente para impor a equivalência social e jurídica de ambos os sexos, desperta a sociedade para esse novo enfoque. Ao pesquisar sobre a vida da "Dama de Ferro", vi que, em entrevista concedida à revista Veja, em março de 1994, Margaret Thatcher disse o seguinte sobre o Brasil: "Parece-me bem claro que o Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na defesa da liberdade, sob o império da lei e com uma administração profissional. Bastaria um período assim, acompanhado da verdadeira liberdade empresarial, para que o país se tornasse realmente próspero." 6 Diante dessa perspectiva, e levando em conta que ontem foi o Dia Internacional da Mulher," sou levada a indagar se a participação da mulher na vida pública no Brasil tem sido efetivamente capaz de cooperar para que o País alcance a sonhada prosperidade. Nesse contexto, farei breves considerações sobre a importância da mulher para a democracia brasileira. Como o sistema de separação dos poderes é uma das pedras angulares do exercício do poder democrático, procurarei enfocar a contribuição feminina para abordagem de questões relativas às práticas administrativas, judiciais, políticas e de controle, inclusive social. De início, destaco que essa contribuição, nos últimos tempos, em especial no governo da Presidenta Dilma Rousseff, tem se elevado substancialmente, como se verifica a partir do aumento do número de mulheres em cargos estratégicos de todos os poderes da República, quebrando o velho paradigma de que tais cargos deveriam ser de domínio restrito do sexo masculino e reafirmando que a luta histórica das mulheres para se igualar aos homens tem produzido ótimos frutos. 7 Quanto ao papel da mulher no Poder Executivo, registro, inicialmente, que o jornal "Estado de Minas", no último dia 19 de fevereiro, trouxe matéria em que procurou mostrar como "nunca antes na história deste país" o sexo feminino teve tanto espaço no primeiro escalão do governo federal. Segundo a reportagem, o atual governo começou com nove ministras e agora conta com onze mulheres no primeiro escalão, incluindo Maria das Graças Foster, funcionária de carreira da Petrobras recentemente empossada na sua presidência e primeira mulher a assumir o comando de uma companhia de petróleo no mundo. Além disso, desde a proclamação da República até 2010, apenas 18 mulheres ocuparam pastas ministeriais como efetivas ou interinas, o que revela a expressividade do atual número de representantes do sexo feminino nas altas funções de comando da Administração Pública. Destaco, ainda, que as mulheres se fazem presentes em alguns dos cargos mais importante da República, como a Casa Civil, o Ministério do Planejamento e o Ministério das Relações Institucionais. 8 Esse quadro não demonstra apenas o aumento da participação da mulher nos quadros da Administração Pública. Reflete, também, outro critério adotado pela Presidenta para compor seu governo: o perfil técnico das nomeadas. Isso demonstra que a competência e a qualificação da mulher para exercício de funções relevantes para o desenvolvimento do país têm sido reconhecidas, muito embora ainda haja espaço para avanços. Conforme os dados das eleições de 20081, o numero de candidatas a prefeitas representou de 10,4% do total, e o de candidatas a vice-prefeitas, 15,4%. O resultado daquelas eleições propiciou que 9,8% das prefeituras fossem ocupadas por mulheres. Embora o Brasil esteja seguindo o exemplo de várias nações do mundo e tenha estabelecido a política de cotas para a participação de mulheres nas eleições, os números que mencionei mostram que a política adotada ainda não logrou atingir seus objetivos maiores. 9 Provavelmente, isso ocorreu porque a Lei 9.504/1997, que fixou um mínimo de 30% e um máximo de 70% de candidatos de cada sexo, mencionou a necessidade de "reserva" de vagas pelos partidos políticos, e não seu efetivo "preenchimento" . Espero que a alteração processada pela Lei 12.034/2009, requerendo agora o "preenchimento" das vagas, resulte em uma maior presença feminina nas eleições deste ano. Além da participação nas práticas administrativas da gestão pública, considero bastante importante a existência de órgão no Poder Executivo que se dedica ao estabelecimento de políticas públicas para mulheres, visando à melhoria nas condições de vida das brasileiras. A Secretaria de Políticas para as Mulheres tem o desafio de incorporar as especificidades femininas nas políticas públicas e estabelecer as condições necessárias para sua plena cidadania. Por tal motivo, aquela Pasta tem importância fundamental na ação do governo para promover a igualdade de gêneros e combater a discriminação. 10 Resultado disso já pode ser vislumbrado em alguns programas sociais. Atento ao fato de que, cada vez mais, os lares brasileiros são chefiados por mulheres - em muitos casos, sem a presença de marido ou companheiro - o governo tem colocado as mulheres como foco de alguns programas, pois elas se mostram capazes de tomar as melhores decisões em benefício do grupo familiar. o "Bolsa Família", por exemplo, prioriza as mulheres como responsáveis pelo recebimento do benefício. Dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Social", em 2011, indicam que quase R$ 1,2 bilhão do programa são colocados, por mês, nas mãos femininas, que representam 93% das 12,9 milhões de famílias atendidas. No programa "Minha Casa Minha Vida", também se vê a mulher em papel de destaque, pois é previsto que as chefes de famílias tenham prioridade no atendimento, sendo o registro do imóvel feito preferencialmente em seu nome. No Poder Judiciário, há bastante espaço para crescimento na ocupação de cargos públicos por mulheres. 11 Embora o número de advogadas já tenha ultrapassado o de advogados, representando 50,51 % dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, segundo dados divulgados em abril de 20103, apenas cerca de 29% dos magistrados eram mulheres naquela época, contando desembargadores, juízes do trabalho, juízes federais e estaduais e ministros, inclusive aposentados, filiados à Associação dos Magistrados do Brasil. Considerando, porém, que as estudantes de Direito são maioria nos cursos de graduação", é inevitável que, num futuro próximo, a presença das mulheres no Judiciário se eleve. Competência para isso não falta, tanto que já houve a nomeação de mulheres para cargos nas mais altas cortes, como o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça. Para ilustrar, lembro que, recentemente, tomou posse na Corte Suprema do País a gaúcha Rosa Weber, terceira mulher a compor o Supremo Tribunal Federal. 12 A inclusão da mulher nos quadros do Judiciário é de importância fundamental, pois, conforme afirmou Carl Gilligan, citado no artigo "A mulher e o Poder Judiciário", de Maria Berenice Dias5, "as mulheres têm preceitos morais diversos dos preceitos masculinos. Enquanto os homens decidem a partir da noção do Direito como uma norma abstrata, as mulheres, por serem responsáveis pela preservação do sofrimento, são guiadas por uma noção de ética da responsabilidade, dispensando mais atenção aos efeitos concretos das decisões". Pelo senso de justiça que lhe é inerente, a mulher possui competência peculiar para julgamento das lides, em especial daquelas que envolvem relações familiares, como guarda de filhos, pensão alimentícia e casos de violência doméstica. Além disso, possui o bom-senso requerido para julgamento dos casos concretos submetidos à apreciação do Judiciário, a qual se dá, muitas vezes, à luz de uma legislação conservadora, feita há muitos anos, quando a discriminação em relação à mulher era marcante . 13 A legislação tem evoluído bastante a partir da participação mais efetiva da mulher em todos os setores e, em particular, no Legislativo. Nesse sentido, cito a Lei 11.340/2006, conhecida como "Lei Maria da Penha". Grande conquista da mulher na luta contra a violência doméstica, essa norma introduziu mudanças significativas no ordenamento jurídico. Um exemplo é a tipificação dos crimes de violência contra a mulher como uma das formas de violação dos direitos humanos, Outro, o estabelecimento de medidas de proteção para a mulher que corre risco de vida, como o afastamento do agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação física da mulher agredida e dos filhos. Recentemente, constitucionalidade de o STF, dispositivos ao deliberar dessa lei, sobre reforçou a sua importância para erradicar de vez toda violência contra a mulher. A Corte Suprema decidiu que o Ministério Público pode dar continuidade à ação de agressão mesmo se a vítima se arrepender e quiser desistir do processo. Decidiu, também, que qualquer pessoa pode denunciar a violência doméstica. 14 No que diz respeito ao papel da mulher no Poder Legislativo, sabemos que, até o início do século passado, ela " sequer tinha os direitos políticos reconhecidos no ordenamento jurídico, pois as Constituições do Império de 1824 e da República de 1891 não garantiam à mulher o direito de votar e ser votada. Embora mulheres de vanguarda tenham criado, em 1910, o Partido Republicano Feminino, apenas com a promulgação do Código Eleitoral, em 1932, esses direitos políticos foram reconhecidos. Ainda assim, somente às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e às solteiras ou viúvas, com renda própria. A Constituição de 1934 eliminou essas restrições, mas previu a obrigatoriedade do voto somente para as mulheres com funções remuneradas em cargos públicos. A obrigatoriedade do voto só se estendeu a todos na Constituição de 1946. Até a igualdade plena na composição dos órgãos do Poder Legislativo, ainda há um longo caminho a percorrer. 15 A título ilustrativo, apenas em 1986 se alcançou número um pouco mais expressivo de mulheres na Câmara " dos Deputados: 26. E somente nos anos 90 algumas mulheres foram eleitas para o Senado Federal." Nas eleições de 20087, a participação média nacional de candidaturas femininas para as Câmaras Municipais foi de 22% do total, sendo que a eleição de vereadoras alcançou o montante de 12,5%. Nas eleições de 2010, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, o sexo feminino representou 11,67% dos eleitos. No plano internacional, o panorama não é dos mais animadores. Conforme pesquisa divulgada, no primeiro semestre de 2008, pela organização internacional União Interparlamentar, o Brasil ocupava o 146° lugar em um ranking sobre a participação feminina nos parlamentos de 192 países do mundo8. 16 Isso demonstra que, de fato, há a necessidade de a mulher brasileira se engajar mais na vida política do país e participar ativamente, a fim de que suas contribuições possam ser definitivamente incorporadas à legislação nacional. Registro, como parlamentar que fui até pouco tempo atrás, que a luta das mulheres dispostas a dedicar seu trabalho à representação do povo nas Casas Legislativas é grande, mas a satisfação em ver os frutos alcançados - como a edição da mencionada Lei Maria da Penha - compensa o esforço. As mulheres também têm procurado se organizar, da melhor maneira possível, para ultrapassar os obstáculos decorrentes de sua condição de minoria na composição do Parlamento. Exemplo disso foi a instalação, em junho de 2009, da Procuradoria da Mulher na Câmara dos Deputados, primeiro órgão de direção na história daquela Casa a ser ocupado por uma mulher. Como divulgado em seu sítio na Internet, "além de uma grande conquista para a Bancada Feminina, representa um avanço na história da Legislação Brasileira". 17 Aquela Procuradoria tem atuação mais ampla do que apenas a mobilização para edição de" leis, pois "recebe e encaminha aos órgãos competentes as denúncias e anseios da população, mediante a discussão e aprovação de Projetos de Lei (PL), Projetos de Emenda à Constituição (PEC) e discussão de políticas públicas que venham garantir e assegurar os diretos já conquistados". Seguindo o modelo da Câmara Federal, outros órgãos do poder Legislativo, nas diversas unidades da Federação, começam a adotar medidas para implementação de Procuradorias semelhantes. Finalmente, apesar de o número de mulheres dispostas a se candidatar a funções eletivas ainda precisar ser incrementado, a mulher tem à sua disposição grande trunfo na política, uma vez que representa 51,82% do eleitorado brasileiro. 18 A mulher deve se valer dessa maioria e fazer chegar aos cargos públicos eletivos pessoas capazes de representar a vontade do povo na edição de leis e comprometidas com o bom uso dos recursos públicos, a fim de propiciar a continuidade da elaboração de políticas públicas efetivas para eliminação da pobreza e promoção do bem estar, que só será alcançado mediante estabelecimento de sistemas de educação, saúde, saneamento básico, entre outros, condizentes com as crescentes necessidades humanas. Por fim, quanto às atividades de controle, não disponho de dados sobre a participação feminina nos órgãos encarregados dessa função. Contudo, a partir da realidade dos poderes Legislativo e Judiciário, sou levada a pensar que o número não deve ser significativo. Falo isso considerando o fato de que sou a segunda mulher a integrar o Tribunal de Contas da União nos mais de 120 anos de existência daquela Corte. Assim, há muito espaço para incremento da atuação da mulher, que, com sua reconhecida habilidade de boa mediadora, pode contribuir para a vigilância permanente do uso dos recursos públicos e para o alcance de melhores resultados na execução das políticas públicas. 19 É de amplo conhecimento que, em paralelo à função tradicional de julgamento de contas, os órgãos do controle externo têm se voltado para uma atuação indutora da melhoria da gestão pública. Como mencionei em palestra que proferi no Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, o controle externo é importante para assegurar transparência da Administração Pública e responsabilizar os agentes governamentais. Também desempenha tarefa de grande relevância para que a atividade do governo se faça nos estreitos limites das leis do país, induzindo desenvolvimento com justiça social. Há muitos desafios para o exercício eficiente das relevantes funções de controle, como a modernização de procedimentos de trabalho, o uso intensivo da tecnologia da informação e a manutenção de quadro de pessoal preparado e qualificado. Entretanto, os órgãos de fiscalização têm tido sucesso na missão de buscar garantir o uso regular dos recursos públicos em benefício da sociedade. 20 Destaco as ações feitas para garantir a transparência da gestão pública, especialmente o estímulo ao controle social dos gastos públicos, no qual as mulheres podem desempenhar papel de relevo para complementar e potencializar o controle institucional. Ilustram essas medidas as ações educativas realizadas pelos tribunais de contas, tais como seminários, palestras e visitas a escolas e universidades, elaboração de cartilhas, oferta de apoio técnico a organizações não governamentais interessadas em fiscalizar as finanças estatais e o oferecimento, à comunidade em geral, de cursos básicos sobre o funcionamento da Administração Pública e do controle. Existem noticias" de que alguns movimentos feministas vêm construindo a noção de "Orçamento Mulher" para "mapear, acompanhar e fiscalizar os programas, projetos e ações que incorporam a perspectiva de gênero e/ou voltados para as mulheres e com perspectivas de mudar o cotidiano das mulheres". 21 Por procurarem enfrentar desigualdades e '. discriminações sociais, ações como a citada são capazes de ir além das questões de gênero. Elas podem abarcar medidas proativas, que evitem a consumação de irregularidades e contribuam para o alcance dos ideais de uma gestão racional, proba e competente, que propicie condições dignas de saúde, trabalho, educação e moradia a todos os brasileiros. Assim, embora ainda haja muito trabalho a ser feito para aumentar o papel das mulheres no exercício da democracia, dadas as amarras das discriminações ainda vigentes, como pagamento de salários inferiores e o exercício de dupla jornada de tarefas fora e dentro de casa, já se faz reconhecido o talento feminino para servir ao país, seja no exercício de cargos no âmbito do Executivo, do Judiciário, do Legislativo e dos órgãos de controle ou no exercício pleno da cidadania, votando e fiscalizando o uso dos dinheiros públicos. 22 As perspectivas são favoráveis ao incremento da ação da mulher nessas searas, levando em 'conta, em particular, o fato de que as estatísticas relacionadas à educação feminina são cada vez mais promissoras, Enquanto, em 1996, as mulheres com titulação de "doutoras" no Brasil representavam 44,2%, em 2008, elas já eram maioria, com 51,5% dos títulos 10, sendo que, em 2009, o número de mulheres concluintes do ensino superior foi de quase 60% do total!'. A luta pela igualdade de gênero é firme, está consolidada e tem sido capaz de reafirmar a democracia como princípio maior de nosso país e de contribuir para o alcance de uma sociedade mais justa e igualitária, Diante dessa visão positiva do papel da mulher, e buscando compartilhar o incentivo que tive quando tomei posse no TCU, tomo a liberdade de reproduzir algumas palavras que me foram dirigidas pelo ministro Walton Alencar Rodrigues naquela oportunidade, dada sua perfeita aderência ao que falei sobre o papel da mulher na democracia: 23 "Sejam minhas primeiras palavras de louvor aos novos tempos que permitiram à voz feminina, com o seu timbre arguto de sabedoria, sinceridade, intuição, bom-senso e coragem, alçar-se e ser ouvida, com cada vez mais vigor e consequência, em todos os rincões da vida nacional." No passado, amordaçada e contida, a voz feminina retomou o seu papel altaneiro e hoje revela-se a voz da democracia brasileira, a voz da igualdade, a voz representativa da metade da nossa população, com direitos, anseios e apta a contribuir para o desenvolvimento do País, para a realização dos mais justos ideais republicanos e desígnios da Constituição Federal. É a voz que se torna um fim em si mesma, que nos ajuda a ser todos seres humanos e viver como seres humanos, tendo como objetivos a excelência e a igualdade na vida pública e privada, a tornar todo o ser humano um fim e não um meio. Enfim, a voz que permite a todos obter a educação e as oportunidades devidas aos seres humanos livres." 24 Resta-nos, portanto, trabalhar arduamente para levar à frente a voz feminina e conclamar as mulheres a se engajarem nessa nova missão da mulher como indutora do progresso da humanidade, como fez Hillary Clinton quando falou sobre a democracia e a participação da mulher na conferência "Vozes Vitais das Américas", realizada em Montevidéu 12: "Acreditamos que o progresso de uma nação depende. do progresso da mulher; que a força da democracia depende da inclusão da mulher; que o vigor de uma economia depende do trabalho duro da mulher; que a riqueza da sociedade civil depende da plena participação da mulher; que os direitos humanos são direitos da mulher; e que os direitos da mulher são direitos humanos." 25 Agradeço, mais uma vez, o gentil convite para participar deste evento, cuja realização demonstra a percepção de que as mulheres são peças-chaves na fiscalização do poder público e têm muito a contribuir para aprimorar a atuação estatal e ampliar os benefícios para toda a sociedade. Espero que este encontro seja o primeiro de vários outros da mesma natureza. Muito obrigada. 26