Notícia anterior Classificação do artigo Próxima notícia 25 mar 2015 O Globo DAIANE COSTA daiane.costa@ oglobo.com. br Verão acaba, mas produtos para ‘refrescar’ não chegam a tempo Defeitos e falha de entrega deixam donos de ar, geladeira e freezer de cabeça quente Prevendo que o verão não seria nada fácil — no Rio a sensação térmica chegou a atingir os 55°C — José Henrique Figueiredo, Felipe Carvalho, Celeste Pereira, Leila Soares e Maria Campello compraram, meses antes ou nos primeiros dias da estação, eletrodomésticos para ajudar a conviver com o calor. Ar condicionado, freezer e geladeira foram cuidadosamente escolhidos, seja pela credibilidade da marca ou pelo preço atrativo. O que esses consumidores não previam é passar praticamente todo o verão sem os aparelhos, por causa problemas na entrega ou com a assistências técnicas que se arrastaram por meses. Em todos os casos, os eletrodomésticos chegaram junto com o outono, que começou na semana passada. DANIELA DACORSO Só com jeitinho. Felipe e o arcondicionado que foi comprado em 2014 e até hoje precisa ser acionado manualmente O psiquiatra José Henrique Figueiredo comprou, no início de dezembro, dois arescondicionados da marca Consul. O instalado na sala de espera do consultório em Copacabana parou de gelar logo nas primeiras semanas de uso. — Agendei duas visitas da assistência técnica, fiquei esperando, e elas nunca ocorreram. A empresa não dava retorno. Enquanto isso, meus pacientes tinham de ficar com a porta da sala de espera aberta para passar menos calor. O constrangimento só não foi maior porque eles chegam quase na hora da consulta — conta o médico, que só recebeu um aparelho novo na semana passada, após escrever a esta seção. APARELHO SEM CONSERTO O dentista Felipe Carvalho comprou um modelo split da marca LG em 28 de novembro do ano passado, durante a Black Friday, e a arquiteta Maria de Carvalho Campello, outro da marca Springer, em outubro. Ambos apresentaram defeito. No caso do dentista, as pás que deveriam abrir automaticamente quando o equipamento é ligado, para que o ar possa sair, têm de ser acionadas manualmente. Até hoje o problema não foi consertado. — Minha sorte é que tenho 1,86 metro de altura. Do contrário, só com um banquinho para fazer o aparelho funcionar. Ao ligar para o SAC, começou meu martírio. Descobri que não havia assistência técnica para a Tijuca (bairro onde mora), e as autorizadas dos outros bairros ou não podiam me atender ou queriam marcar o conserto para quase um mês depois. A empresa sugeriu, então, que eu aceitasse o dinheiro de volta, mas não compensa, pois comprei o ar numa promoção. Hoje, com o valor, não consigo comprar outro — explica. Já a arquiteta levou cinco meses para receber seu ar condicionado novo, o que ocorreu na quinta feira passada, quando terminou o verão. Ela conta ter feito o primeiro contato com a Springer no começo de novembro. O técnico só compareceu pela primeira vez em sua casa em 12 de janeiro deste ano. Depois, levaram duas semanas para recolher o produto para conserto. Mais um mês se passou e, no início de março, a justificativa se repetia: não há peça para o reparo. Ele decidiu, então, procurar a loja onde havia feito a compra, que, diante da falta de resposta do fornecedor, deu a ela um arcondicionado novo. — Passamos o verão todo usando um ventilador de teto, quase chorando com o calor absurdo. Qualquer produto pode dar defeito. Mas tudo é a forma como te tratam e, nesse caso, foi um descaso completo da Springer — reclama a arquiteta. A advogada Cláudia Almeida, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) diz que o pós venda virou um problema crônico: — Não existe responsabilidade da indústria com os produtos, que cada vez mais apresentam defeito com pouco tempo de uso, e o atendimento dos call centers é péssimo porque falta treinamento aos atendentes. Celeste Queiroz Pereira comprou um refrigerador nas Casas Bahia no início de janeiro. Dois meses depois, ainda não havia recebido o produto. Nos diversos contatos com o SAC, ouviu as mais variadas explicações: problemas técnicos” endereço não localizado, indisponibilidade de estoque. “É fazer o cliente de bobo sem o menor constrangimento!!”, escreveu Celeste a esta seção. Leila Soares comprou um freezer no site da Electrolux também durante a Black Friday. Só recebeu o produto depois de ter pago a terceira parcela da compra, no último dia 13. DECRETO PREVÊ PRAZOS MENORES A advogada do Idec esclarece que, quando um produto apresenta defeito dentro do prazo legal de garantia — que de acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é de 30 dias para os não duráveis e de 90 dias para os duráveis — a responsabilidade pela reparação é do fornecedor, que tem 30 dias para fazer o conserto. Passado este prazo, o consumidor tem três opções: exigir um produto novo, a restituição da quantia paga, corrigida, ou o abatimento de preço proporcional ao o defeito. — Isso tem de ser uma escolha do consumidor. E não imposição do fabricante — explica. No caso dos duráveis, a maioria das empresas estende para um ano o prazo previsto no CDC. São casos que, se levados à Justiça, avalia a advogada, podem configurar dano moral, pois além da frustração por não ter recebido o produto, pode envolver questões de saúde, em razão das altas temperaturas do verão. Um decreto que aguarda a assinatura da presidente Dilma Rousseff para entrar em vigor, promete acelerar o conserto de cinco produtos considerados essenciais, entre eles, a geladeira. De acordo com a secretária Nacional do Consumidor, Juliana Pereira, foi acertado com o setor produtivo que, além deste eletrodoméstico, fogão, máquina de lavar roupas, televisor e aparelho celular, quando apresentarem defeito dentro do prazo de garantia, terão o prazo de troca, hoje de 30 dias, reduzido. — Ao final desse prazo para atendimento, no qual será feita a análise do problema, imediatamente o consumidor poderá acessar seu direito, que é de receber o produto reparado, um novo ou o dinheiro de volta — explica Juliana. Segundo a secretária, esses produtos foram escolhidos para integrar o decreto porque são os cinco mais reclamados pelos consumidores. Ao GLOBO, a Whirlpool, dona da marca Consul, informou que, durante o verão, a demanda por assistência técnica é oito vezes maior do que no restante do ano. Por isso, implantou em dezembro, o Plano Verão, para reforçar o atendimento. Segundo a empresa, naquele mês, o volume de casos resolvidos na primeira visita técnica atingiu o nível mais alto do ano. Sobre o problema mencionado na reportagem, a Whirlpool informou ter estendido a garantia do produto por seis meses. A LG explicou que a falha no atendimento ocorreu em razão de um problema pontual com um fornecedor de serviços e prometeu consertar o ar do dentista em até sete dias. A Casas Bahia e a Electrolux informaram que os produtos foram entregues aos clientes nos últimos dias 4 e 13, respectivamente. A Springer também informou que o arcondicionado com defeito já foi substituído. Impresso e distribuído por NewpaperDirect | www.newspaperdirect.com, EUA/Can: 1.877.980.4040, Intern: 800.6364.6364 | Copyright protegido pelas leis vigentes. Notícia anterior Próxima notícia