artigo PRODUTOS ÉTNICOS NO PAÍS DA DIVERSIDADE CULTURAL Considerando a nossa diversidade étnica e o que encontramos nas nossas prateleiras, constatamos que há muito espaço para quem se propor a atender os diferentes grupos H á muito tempo, andando num centro comercial, em Essen, na Alemanha encontrei uma loja de produtos pessoais (quase uma perfumaria) que só comercializava produtos para negros. O fato chamou-me atenção, pois aqui no Brasil nunca havia visto loja com tal propósito. Desde então, sempre observo algumas iniciativas para atender grupos étnicos definidos. Na França, há lojas que vendem produtos para imigrantes do Oriente Médio, judeus, entre outros. Nos Estados Unidos, também podemos encontrar o comércio de produtos regionais ou para imigrantes hispanos, muçulmanos, judeus e outras minorias. No Brasil, existem algumas lojas de produtos importados, que atendem consumidores que gostam de produtos diferenciados, ou em alguns bairros específicos, como o da Liberdade, em São Paulo, onde o comércio atende a colônia nipônica e outros orientais aqui radicados. No máximo, encontramos, na periferia, as lojas de “produtos do norte” ou “nordestinos” para atender os migrantes. Elas se resumem a entregar alguns produtos alimentícios regionais, grande parte in natura, temperos e algumas bebidas, como a cajuína ou as cachaças regionais. No censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatouse que o Brasil tem 190.755.799 habitantes, dos quais 14.517.961 são pretos e 82.277.333, pardos. Fato confirmado pelo simples olhar na maioria das nossas ruas. Porém, quando chegamos às gôndolas, os produtos oferecidos não refletem essa diversidade. A população negra (ou afrodescendente) cresce em importância à medida que aumenta a sua renda salarial. Essa conquista veio em grande parte pela possibilidade que muitos deles tiveram de melhorar a escolaridade com iniciativas como o Programa Universidade para Todos (ProUni) criado pelo governo federal, em 2004, que concede bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica em instituições privadas de educação superior. E, claro, pelo esforço de gente valorosa e trabalhadora. Quando observamos a categoria de produtos pessoais, não vemos refletido esse crescimento. É a categoria que mais cresce e na qual, com certeza, caberiam produtos específicos, uma vez que a pele e os cabelos afros demandam cuidados específicos. Muitas empresas usam o slogan “visão global, atendimento local”, porém poucas oferecem produtos para esse público tão representativo no Brasil. A Unilever foi uma das primeiras a lançar um creme hidratante para pele morena. Recentemente, a Garnier também lançou um produto similar. Poucas empresas têm sabonetes específicos. Só encontramos um desenvolvido pela Colgate Palmolive. Muitas empresas nacionais, mais atentas, entenderam e começaram a produzir produtos dedicados. Um grande e pioneiro exemplo foi o do A grande maioria dos produtos étnicos se apresenta de forma tímida 56 EDITORA BANAS Instituto Beleza Natural, especializado em estética e salões de cabeleireiros para atender cabelos cacheados, que, mais tarde, lançou a empresa de cosméticos Cor Brasil. Essas iniciativas começaram por volta de 1995. Depois outras empresas, também do Rio de Janeiro, do polo de Nova Iguaçu, como Niely (linha Afro) e Embeleze investiram em linhas específicas. Em São Paulo, no polo de Diadema, a Amend desenvolveu a linha Gold Black e a Nazca, de São Bernardo do Campo, apresentou a linha Origem e a linha Sfera para alisamento e coloração. A Niasi lançou um produto na mesma linha, o FluidGel. Nem na região Nordeste do Brasil, há produtos com esse apelo! O interessante é que a grande maioria dos produtos se apresenta de forma tímida. Somente a Niely utiliza a palavra afro na comunicação da embalagem. Outras marcas usam a foto de uma modelo negra ou morena. Os demais colocam apenas “para pele morena” sem explicar ou explorar. Seria preconceito ou medo de uma repercussão negativa? Impressiona o fato de só encontrarmos um desodorante (Rexona) e nenhum curativo para pele escura nem uma cera depilatória, entre tantos produtos, que poderíamos pensar. Há uma enorme oportunidade de mercado! Quem apostar sairá na frente. * Assunta Napolitano Camilo é diretora do Instituto de Embalagens e da consultoria FuturePack Foto: Divulgação ASSUNTA NAPOLITANO CAMILO*