UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ERICA CIVIDINI SCARDUELI A LEITURA NA ESCOLA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUÇÃO TEXTUAL CRICIÚMA, 2009 ERICA CIVIDINI SCARDUELI A LEITURA NA ESCOLA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUÇÃO TEXTUAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Especialização em Língua e Literatura com ênfase nos gêneros do discurso, da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Orientadora: Profª. Drª. Ana Cláudia de Souza. CRICIÚMA, 2009 DEDICATÓRIA Para todos aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram para que o desejo de aprimorar meu saber e aumentar meus conhecimentos se tornasse realidade. Em especial, às pessoas que vivem ao meu redor, aos meus pais e ao meu noivo. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, pela oportunidade de concluir mais uma etapa que certamente ajudará em minha vida profissional. A minha mãe, Maria de Lourdes Cividini Scardueli, professora aposentada de Letras, que sempre esteve presente durante esta longa e prazerosa caminhada rumo à profissionalização, desde a Graduação até a Pósgraduação e certamente até onde Deus permitir. A meu pai, Raulino Scardueli, que, apesar de não estar ativamente envolvido em minha formação, muito contribuiu para que este sonho se realizasse. A meu noivo, Isauro Tramontin, que muito me ajudou com trabalhos, que sempre esteve presente quando precisei, que respeitou meus momentos de crise quando algo deu errado, que não desanimou quando tivemos que abdicar do nosso tempo para que eu efetivasse alguma tarefa acadêmica. A minha professora e orientadora, Ana Cláudia de Souza, que muito contribuiu em minha formação acadêmica no curso de Letras da Unesc, no curso de Pós-graduação Lato Sensu da Unesc e que agora se disponibilizou a supervisionar o cumprimento de mais uma etapa: a monografia. A todos os meus professores que, muito ou pouco, me ensinaram a ser alguém na vida, a saber, escolher o certo e o errado, a não decepcionar ninguém. A todos os meus amigos, em especial a Ana Beatriz Spileri Peruchi, colega e acima de tudo amiga, que, desde o primeiro dia de Graduação até hoje, sempre me ouviu e me aconselhou quando estava com algum problema, fosse de ordem acadêmica, profissional ou particular. “No que diz respeito: ao empenho, ao compromisso, ao esforço e a dedicação, não existe meio termo, ou se faz à coisa bem feita ou não de faz”. (Airton Senna) RESUMO O presente estudo tem por objetivo investigar e compreender a influência da leitura escolar na produção textual. Para isso, discutem-se contextualização da leitura e seu processo, a leitura no ambiente escolar, a escrita a partir da leitura e a interligação da leitura e escrita. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica de natureza exploratória desenvolvida com base, principalmente, nos seguintes autores: Silva (1998), Cagliari (1995), Zilbermann (1985), Barbosa (1994), Smith (1999), Garcia (2002), Poersch (2001), Kleiman (1992), entre outros. Pode-se verificar diante deste, que por meio da leitura desenvolve-se o processo da escrita nos mais diversos gêneros. Palavras-chave: Leitura; Escola; Produção Textual. ABSTRACT This piece of research aims at investigating and understanding the influence of reading in writing. In order to carry out the study, reading and its processes are contextualized, and reading in school environment, writing from reading and the relationship between reading and writing are discussed. In what concerns methodology, it is a bibliographical and exploratory research based on the following main theorists: Silva (1998), Cagliari (1995), Zilbermann (1985), Barbosa (1994), Smith (1999), Garcia (2002), Poersch (2001), Kleiman (1992), among others. It is possible to observe that through reading writing in many different genders can be developed. Keywords: Reading; School; Writing. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 9 2 CONTEXTUALIZANDO A LEITURA....................................................... 12 2.1 O processo da leitura............................................................................ 14 2.2 A leitura no ambiente escolar................................................................ 16 2.3 A importância da leitura na produção textual........................................ 19 3 A ESCRITA A PARTIR DA LEITURA..................................................... 22 3.1 Leitura e escrita: práticas interligadas................................................... 23 3.2 A produção textual ................................................................................ 27 4 CONCLUSÃO.......................................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 31 34 9 1 INTRODUÇÃO A nossa era está a exigir um homem reflexivo e criador, capaz de aceitar a evolução como um fenômeno natural, encarando situações novas e desconhecidas como tranquilidade e segurança. Vivemos um momento social em que os as pessoas sofrem várias transformações e descobertas e a educação deve descobrir maneiras diferentes para atrair o aluno ao estudo. Muito se discute na educação que a falta de interesse dos alunos pela leitura está cada vez mais prejudicando o seu desenvolvimento na produção textual. Ler e escrever não são tarefas simples, exigem postura crítica: analisar e interpretar fazem parte da leitura e da escrita, pois através da leitura e escrita adquirem-se novos conhecimentos, desafia-se a imaginação, descobre-se o prazer de pensar e sonhar. A leitura é fundamental para o processo de aprendizagem e da escrita do aluno, sendo que a escola é que tem o espaço necessário para o desenvolvimento desta prática. O ato de ler não é apenas decodificação das palavras, é necessário discernimento dos textos escritos de forma a possibilitar um entendimento do que o autor quis dizer. A leitura pode ser vista como um exercício de compreensão e a escrita como expressão. Ao lermos, somos também co-produtores, pois nossas inferências e nosso conhecimento prévio, por exemplo, nos ajudam a entender o sentido global do texto; já ao produzirmos um texto, somos necessariamente leitores desse. Consideramos que a leitura não só amplia a visão de mundo do leitor, como também lhe oferece a matéria-prima do dizer, pois por meio do contato com textos coesos e coerentes, aos poucos, o leitor poderá assimilar a organização das palavras, dos parágrafos e sequências de ideias e, em seguida, transpor tais conhecimentos para sua produção textual. Esse contato do leitor com o texto deve ser constante, pois a cada novo encontro entre autor/leitor/texto novas ideias surgirão e novas palavras farão parte de seu 10 vocabulário e novas estruturas de organização textual farão parte de sua competência comunicativa. O tema “A leitura na escola e sua influência na produção textual” foi escolhido por se entender que o aluno, como ser humano atento às movimentações, interage com maior plenitude quando se depara com novas situações .Assim, a leitura praticada na escola pode inovar e incentivar o processo de aprendizagem e produção da escrita. Através do tema em questão, surge a seguinte questão de pesquisa: Qual a influência da leitura escolar na produção de textos? Justifica-se o estudo pela necessidade de analisar alguns aspectos que fazem com que a leitura aconteça com prazer no dia-a-dia e no cotidiano escolar dos alunos, levando sua consideração e contribuição para a produção textual. Existe também a necessidade de se introduzir uma reflexão perante os profissionais que atuam na área da educação, tornando-os conscientes da importância de métodos de leitura que despertem o raciocínio e o interesse pela escrita. Fundamental para a integração do indivíduo no seu cotidiano social e cultural, a leitura abre novas perspectivas, permitindo que o aluno se posicione criticamente diante da realidade que o cerca. Considerando que a leitura exerce um papel muito importante na integração do ser humano e influência da escrita, este estudo tem como objetivo geral “Investigar e compreender a influência da leitura escolar na produção textual”, diante disso estabeleceram-se alguns objetivos específicos, que são: contextualizar a leitura e seu processo; discutir a leitura no ambiente escolar; verificar a influência da leitura na prática da escrita; abordar a escrita a partir da leitura; ressaltar a interligação da leitura e escrita. Com vista aos objetivos desse estudo, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica de natureza exploratória, que consistiu na busca de material já elaborado que constitui um acervo bibliográfico, com propósito de reunir conhecimentos para a compreensão de um tema, esclarecendo e integrando novas produções que facilitam o acúmulo de informações. A coleta de dados foi realizada através de livros de bibliotecas e universidades locais e artigos na base de dados on-line 11 Este trabalho divide-se em capítulos, sendo o primeiro o marco introdutório, contendo questão de pesquisa, justificativa, objetivos do estudo e a metodologia, o que inclui instrumentos utilizados para a coleta de dados. O segundo e terceiro capítulos compreendem a base teórica do trabalho. O quarto capítulo apresenta-se a conclusão do estudo, seguidamente das referências bibliográficas. 12 2 CONTEXTUALIZANDO A LEITURA Ler é um conceito muito amplo: podemos ler um bilhete simples, uma placa na rua, um sorriso de uma criança, um pequeno livro, uma imagem, ler a Bíblia ou uma tese de doutorado. O que é ler e para que ler? Respondendo a primeira indagação: ler é tentar compreender o que está por detrás das palavras escritas; ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa buscar respostas por meio das palavras escritas, significa fazer interagir as informações recebidas com as que possuímos através do conhecimento de mundo; ler é tomar consciência dos processos que interferem na nossa existência como seres sociais e políticos; ler também é uma forma de não se deixar dominar porque quanto mais leituras as pessoas tiverem, mais reflexões poderão fazer; ler é um direito de todo cidadão; ler é uma atividade enriquecedora que possuímos para conhecer o mundo. Com relação à segunda indagação, lemos para obter uma informação mais precisa sobre um determinado assunto; para seguir instruções; para aprender mais sobre algo que está em questão; para revisar um ato escrito; para ter um momento de lazer; para praticar a leitura em voz alta; entre outros. Verifica-se que leitura tem importância fundamental na vida das pessoas. A necessidade de muita leitura está posta entre todos, haja vista que propicia a obtenção de informações em relação a qualquer contexto e área do conhecimento, assim como pode constituir-se em fonte de entretenimento. Para uns, atividade prazerosa, para outros, um desafio. Segundo Ruiz (2002, p. 35), é preciso frisar que a leitura é muito importante, pois “[...] amplia e integra conhecimentos [...], abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência [...]”. Para Magro (1979, p. 09), o objetivo maior ao proceder à leitura consiste em “[...] aprender, entender e reter o que está lendo”. Por conseguinte, a leitura é uma prática que requer aprendizagem para tal e, sem sombra de dúvida, uma atividade ainda pouco desenvolvida. Neste particular, Salomon 13 (2004, p. 54) enfatiza que “a leitura não é simplesmente o ato de ler. É uma questão de hábito ou aprendizagem [...]”. Salomon (2004), ainda ressalta que o ato de ler é um exercício de indagação, de reflexão crítica, de entendimento, de captação de símbolos e sinais, de mensagens, de conteúdo, de informações. É um exercício de intercâmbio, uma vez que possibilita relações intelectuais e potencializa outras. Permite a formação dos próprios conceitos, explicações e entendimentos sobre realidades, elementos e/ou fenômenos. Para Silva (1998), a capacidade de ler é essencial à realização pessoal e, hoje em dia, é cada vez mais aceita a premissa de que o progresso social e econômico de um país depende do acesso que o povo tem aos conhecimentos indispensáveis transmitidos pela palavra impressa. Ler é compreender uma mensagem escrita, assimilar o seu conteúdo e interpretá-lo por meio da leitura, que não se limita à simples operação mecânica de ligar sons ou interpretar símbolos fonéticos. Para Martins (1984, p. 13), Ler é atravessar o texto, interagindo com o autor na busca e na produção de sentidos, é ser competente para compreender e decifrar a realidade. Na construção de sentido de um texto são considerados não só aspectos centrados no texto, mas também os interlocutores. A leitura é uma chave importante da aprendizagem. O hábito da leitura é um mecanismo inconsciente e o resultado é um aprendizado consciente. Segundo Moraes (1997, p. 12-13), [...] os prazeres da leitura são múltiplos. Lemos para saber, para compreender, para refletir. Lemos, também, pela beleza da linguagem, para nossa emoção, para nossa perturbação. Lemos para compartilhar, lemos para sonhar e para aprender a sonhar. A leitura constitui um valioso instrumento para a formação do cidadão, pois quem lê, dependendo da leitura, tem visão própria dos acontecimentos e não se limita a acatar o que é imposto por outros. Ler, pois, é necessário. 14 Segundo Hernandez (1998), a leitura constitui uma dinâmica que vincula linguagem à realidade, estabelecendo uma relação de diálogo com o autor, pois o leitor adquire a habilidade de produzir e reproduzir seus próprios conhecimentos. Sabe-se que ler um texto não é apenas decodificá-lo. Ler é entender, é compreender, é produzir sentido. O ato de ler é fundamentalmente um ato de conhecimento. Verifica-se que a palavra escrita é um instrumento eficiente para a expressão e fixação da cultura e dos conhecimentos científicos e técnicos da sociedade, sendo que a leitura é uma das mais importantes atividades de aquisição de saberes. Denomina-se leitura, de acordo com Cagliari (1995, p. 148), [...] a compreensão de uma mensagem codificada em signos visuais. O ensino e o incentivo da leitura representam, portanto, um objeto básico de todo o sistema educativo. A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola. A leitura étambém um meio de lazer e informação. É um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção de significados do texto. Para Zilbermann (1985), o objetivo da leitura deve ser a formação do indivíduo autônomo que pensa e age pela sua própria cabeça, independente do discurso. Assim, a leitura deve ser encarada como uma conquista da espécie humana em seu processo de aculturação, porque só o homem evolui através do acúmulo de observação de outras mentes que nos procederam. Tais conhecimentos são transmitidos pela palavra oral ou escrita. 2.1 O processo da leitura Como visto no texto anterior, a leitura envolve a atividade do leitor que atribui sentidos ao texto a partir das relações que estabelece segundo suas experiências. 15 Muitas pessoas, segundo Smith (1999), pensam que na leitura os olhos deslizam pelas linhas impressas, todavia, isso não ocorre. Na verdade, os olhos movimentam-se em saltos e fixações, com interrupções, imperceptíveis ao leitor, devido a mecanismos do cérebro. O reconhecimento das formas gráficas das palavras não é suficiente para o ato da leitura. Este precisa ser completado pela compreensão do sentido do texto ou, pelo menos, da significação das palavras, dependendo das intenções de cada ato de leitura. Assim, parte-se do pressuposto de que a leitura é um processo dinâmico, resultante da interação do leitor com o texto e do leitor, indiretamente, com o autor. Segundo Barbosa (1994), é um processo ativo de construção de sentidos, que envolve fatores linguísticos (a contribuição do texto) e extralinguísticos (decorrentes do conhecimento prévio e das vivências do leitor e do autor). Desse modo, o significado do texto é construído pelo leitor, a partir de transações que realiza com o texto, integrando informações novas ao conhecimento prévio. O conhecimento prévio aqui descrito é entendido como uma série de elementos centrados no leitor: o seu conhecimento de mundo, suas crenças, opiniões e interesses, seus conhecimentos a respeito dos diferentes tipos de textos e dos recursos linguísticos utilizados, ou seja, conhecimentos adquiridos no decorrer de sua vida e que o leitor traz consigo. Barbosa (1994, p. 132) salienta que a leitura é uma atividade na qual os leitores predizem e antecipam significados, formulando hipóteses e confirmando-as ou reelaborando-as à medida que leem, como estratégias leitoras de adivinhação e antecipação do conteúdo do texto. Para Poersch (2001, p. 405), A leitura consiste na configuração cerebral de um conteúdo a partir de um texto. Consiste em transformar, para fins de comunicação (linguagem), uma seqüência discreta (de letras, de palavras, de frases), apresentada serialmente (uma unidade após outra), para uma realidade analógica, “fotografada” (pensamento). Desse modo, o processo de compreensão insere-se na relação pensamento/linguagem. Tanto a leitura quanto a escritura revestemse dessa relação, embora seguindo orientações opostas: do pensamento (conteúdo) ao texto (expressão) refere-se à escritura, e do texto ao pensamento, refere-se à leitura. 16 Assim, ler é compreender e compreender é recordar e aprender. O conhecimento linguístico, armazenado na forma escrita, está disponível via leitura. Nesse sentido, Poersch (2001) afirma que a leitura constitui fonte de saber linguístico. O trabalho da leitura tem como finalidade a formação de leitores capacitados, dando-lhes a formação de escritores, mas, além de tudo, um grande espaço de visão do mundo. Segundo Zilberman (1985, p. 11), “a universidade do ato de ler provem do fato de que todo indivíduo está intrinsecamente capacitado a ele a partir de estímulos da sociedade e da vigência de códigos que transmitem por intermédio de um alfabeto”. Para a autora, o objetivo da leitura deve ser a formação do indivíduo autônomo, que pensa e age pela sua própria cabeça, independente do discurso e da vontade dos outros. Em suma, as visões dos autores, apresentadas nesta seção, são as de que a leitura é uma busca pelo significado, é especulativa, seletiva e construtiva. Salientam a importância das inferências e predições na leitura, além de que ler representa uma atividade de recordação e de aprendizagem. 2.2 A leitura no ambiente escolar Denomina-se leitura, segundo Cagliari (1995, p. 148), “a compreensão de uma mensagem codificada em signos visuais. O ensino e o incentivo da leitura representam um objeto básico de todo o sistema educativo. A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas”. A leitura é um dos objetivos fundamentais da atividade pedagógica, a qual possibilita que o aluno entre em contato com inúmeras informações e conhecimentos. Afinal, todas as pessoas estão em contato com uma infinidade de textos todos os dias, sejam anúncios em jornais, revistas, bilhetes, avisos, cartas, quadrinhos, manuais ou mesmo obras literárias. A sociedade moderna faz isso a todo o momento. Por isso, a leitura é considerada de uso social, uma vez que os textos servem para informar, instruir ou dar prazer. No entanto, 17 ajudar o aluno a desenvolver o gosto pela leitura é um desafio para os educadores atuais. Dionísio (2000, p. 19) ressalta que “é mais ou menos consensual que a escola é o lugar social privilegiado de produção de leitores”. Para o autor, tão importante como ensinar a ler é fomentar hábitos de leitura que confiram aos indivíduos os requisitos necessários para responder às exigências de novos padrões impostos pelas sucessivas mutações tecnológicas e sociais. Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos que sejam capazes de estabelecer as relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; compreendendo que diversos sentidos podem ser atribuídos a um texto; conseguindo justificar e validar a sua leitura. Ressalta Smith (1999) que, em uma sala de aula, o esforço dos professores deve ser incansável. Cabe aos mestres desenvolverem uma intimidade com os métodos e textos utilizados junto a seus alunos e possuírem justificativas claras para a sua adoção. As práticas de leitura escolar, por sua vez, devem ser envolventes e devidamente planejadas, incorporando, no seu projeto de execução, as necessidades e os desejos de alunos-leitores. Simplesmente mandar o aluno ler é bem diferente de envolvê-lo significativamente nas situações de leitura. A leitura na escola é algo muito importante. É importante estar ciente de que a partir do momento em que o aluno se insere no processo escolar devem-se desenvolver a capacidade e o gosto pela leitura. Pode-se dizer que a leitura é importante na vida de todos os cidadãos, uma vez que por meio desta ferramenta é possível desenvolver o pensamento crítico e criativo perante a sociedade. Sendo assim, segundo Kleiman (2004), é preciso oferecer aos alunos a oportunidade de leitura de forma convidativa e prazerosa. É nesse sentido que o incentivo à leitura desempenha um importante papel, isto é, conduzir os alunos ao mundo novo e desconhecido. O professor e a escola devem propor a leitura como uma de suas metas, criar espaços para que os alunos possam discutir em grupos, em conjunto a prática de leitura na escola. Garcia (2002, p. 31) afirma que estes 18 profissionais devem “[...] praticar a leitura, capacitando o leitor a desenvolver o gosto pela leitura”. A utilização de diferentes gêneros do discurso apresenta-se como estratégia para desenvolver a competência leitora, ou seja, poesias, lendas, jogos de palavras, embalagens, histórias em quadrinhos, cartas, propagandas, resumo de novelas, possibilitam os alunos atentarem não só aos conteúdos, mas também à forma, aos aspectos sonoros de linguagem, além das questões culturais e afetivas envolvidas. Para se obter uma leitura interativa, segundo Teberosky e Colomer (2003, p. 127), [...] o professor não precisa transformar a leitura monótona do texto em um diálogo cotidiano. Ao contrário, deve tentar fazer com que os alunos entrem no mundo do texto, que participem da leitura de muitas maneiras: olhando as imagens enquanto o professor lê o texto, aprendendo a reproduzir as respostas verbais. Ao escutar a leitura, os alunos aprendem que a linguagem escrita pode ser reproduzida, repetida, citada e comentada. Os educadores precisam fazer algo de melhor para seus alunos. Segundo Machado (2001, p. 21), dois fatores contribuem para que o aluno se interesse pela leitura: ”curiosidade e exemplo. Assim é fundamental ao professor mostrar esse interesse”. Sendo assim, o professor deve ler para seus alunos em voz alta, em silêncio, em grupo, não importa a maneira, desde que isso seja feito com muito carinho e prazer, uma vez que quando o contato do aluno com a história é feito com certa dose de afetividade, torna-se inesquecível. O professor precisa, portanto, despertar o interesse pela leitura em seus alunos, para que eles sejam capazes de desenvolver o hábito da mesma, partindo da realidade deles, apresentando diversas modalidades de leitura, pois, desta forma, tal profissional irá despertar a curiosidade, bem como o interesse pelo ato de ler. Afinal, lendo o aluno consegue construir melhor sua escrita, e o professor diante dessa situação é o mediador desse processo, ou seja, o facilitador entre a escrita e a leitura. De acordo com Goodman e Goodman (1983), conviver em um ambiente onde a leitura tenha significação é fator desencadeante para a formação do leitor. Apesar de parecer óbvio, é comum ficar esquecido na 19 escola que se aprende a ler, lendo, e se aprende a escrever, escrevendo. A escola que tem a pretensão de formar leitores e produtores de textos precisa permitir, com frequência, o exercício dessas atividades no espaço escolar. Então, a leitura e a escrita tornar-se-ão objetos de domínio do aluno. Os autores ainda dizem que o aluno que não reconheça a funcionalidade da leitura e da escrita na escola poderá descobrir sua importância em outros espaços. O exercício da leitura pode nascer de uma necessidade de trabalho. Inúmeras atividades exigem leitura, compreensão de texto, capacidade de relacionar fatos. Porém, a leitura também é indispensável para que o indivíduo possa fazer escolhas, decidir, conhecer e participar efetivamente na sociedade. 2.3 A importância da leitura na produção textual Garcia (2002) salienta que, para aprender a escrever textos, em grande parte, tem-se que aprender a pensar e encontrar ideias, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprisionou. Considera ilusório supor que se está apto a escrever quando se conhecem as regras gramaticais e suas exceções. Evidentemente, um aluno precisa de um mínimo de gramática que permitirá a ele adquirir certos hábitos de estruturação de frases modestas, claras, coerentes e objetivas, embora isso não seja suficiente. Considerando a produção de textos, pode-se dizer que cabe aos educadores, portanto, propiciar condições para o aluno exercitar-se na arte de pensar, captar e criar suas próprias ideias, através de atividades que exijam reflexão, como leitura. Na produção de um texto deve-se utilizar a criatividade, sempre considerando e usando outros textos como veículo de expressão do pensamento. Segundo Kleiman (1989), frequentemente, no ensino da leitura, tenta-se fazer compreender como funciona o código escrito pela descoberta do princípio alfabético e fazer descobrir as finalidades e as questões envolvidas na leitura e na escrita. 20 No entanto, além do incentivo à prática de ler, o professor deve utilizar a leitura como ferramenta de aprimoramento da escrita, ou seja, o professor deve contribuir para que a prática da leitura seja para o aluno um ato de consciência, uma forma de demonstrar seus conhecimentos traduzidos em signos. Para Silva (1993), a escola tem por dever proporcionar aos seus alunos oportunidades que os ajudem a raciocinar, refletir e aprimorar sua aptidão intelectual e formar cidadãos capazes de “ler o mundo” e produzir seus discursos, orais ou escritos. Aprender a ler é, também, aprender a escrever. Então, para que haja mudança no quadro é necessário que o professor instigue no aluno a importância do ato de ler como processo de absorção do conhecimento, como reflexo na produção textual. O autor ainda diz que para que o aluno se torne um escritor efetivo, um passo importante é modificar a ideia de norma culta que ele possui. Isso deverá ser feito a partir da interação professor/aluno, proporcionando situações de uso dessa variedade, pois “é usando que se aprende a usar”. Esse trabalho é possível, uma vez que existem situações naturais de uso de tal modalidade, com na simulação de um anúncio de jornal, por exemplo. Com essa intenção, também poderão ser feitas atividades de comparação entre um mesmo anúncio em jornais diferentes, despertando no aluno o senso crítico como usuário da língua. Quando o aluno produz textos escritos, a partir dessas atividades, ele, consequentemente, apresenta menos dificuldade de organização, além de demonstrar a aquisição de informações contextualizadas que terão utilidades no dia-a-dia. Bisognin (2003) salienta que é preciso usar criatividade e despertar a curiosidade no aluno com exercícios práticos de leitura e escrita, porque entendemos que o leitor se forma através da prática constante de leitura e o escritor da prática de escrever, uma vez que a leitura e a escrita são atividades complementares intimamente ligadas. Antão (1997, p. 6) salienta que “não basta aprender a ler e a escrever. É preciso ler para compreender, ler para interpretar, ler para saber, para ver, para ser, ler para participar. Ler é fundamental. Que se leia para ser mais consciente e mais livre”. 21 Ainda em Antão (1997), a leitura deve ser encarada como uma conquista da espécie humana em seu processo de aculturação, porque só o homem evolui através do acúmulo de observação de outras mentes que procederam e que pode ser transmitida pela palavra oral ou escrita. Cabe ao professor apresentar aos alunos diferentes tipos de textos, fazendo com que sejam capazes de ler conteúdos diversificados, pois isso possibilitará a formação de ideias para a produção de textos adequados às diferentes situações que enfrentarão durante sua vida. 22 3 A ESCRITA A PARTIR DA LEITURA Na escola, de acordo com Bisognin (2003), uma grande dificuldade enfrentada pelos alunos com relação ao escrever refere-se à necessidade que eles têm de deixar a linguagem coloquial, “aquela do dia-a-dia”, e passar a se expressar por escrito, numa linguagem mais formal e mais cuidadosa. A fala, por ser mais espontânea, menos cerimoniosa e mais fácil que escrever, e pelo fato de a escrita ter normas próprias (ortografia, acentuação, etc.), a falta de um interlocutor à sua frente exige deles que obedeçam a essas normas. Martins (1984) ressalta que, freqüentemente, no ensino da leitura, tenta-se conciliar o inconciliável: fazer compreender como funciona o código escrito pela descoberta do princípio alfabético e fazer descobrir as finalidades e as questões envolvidas na leitura usando os mesmos textos. Estes dois objetivos complementares exigem que os alunos apóiem-se sobre suportes escritos de dimensões e de natureza muito diferentes. A descoberta do princípio alfabético exige a manipulação de segmentos curtos e cuidadosamente escolhidos para uma ilustração precisa, já a tomada de consciência da diversidade dos escritos e de suas finalidades individuais e sociais exige escritos ricos, autênticos e socialmente significativos. Segundo o autor, ao colocar-se o ler e o escrever ainda como desafios, deve-se ter em mente que formar o leitor é também compreender e conhecer esse modo de ser oral de nossa cultura urbana, o qual disputa terreno com a tradição escrita, com seu apelo facilitador à inteligibilidade do mundo. Para Machado (2001) professores podem e devem planejar um ambiente, em sua dimensão tanto física quanto social, no interior da unidade escolar, mais especificamente na sala de aula, que se constitua num espaço cultural capaz de instigar/sugerir/convocar certos conhecimentos, atitudes, valores, desejos e reflexões, formando leitores dentro das diferentes naturezas da linguagem escrita e agregando ao ato da leitura o movimento de sons motivando e formando alunos/leitores, mesmo dentro dessa sociedade, tão urbana e tecnológica, em que estão inseridos. 23 Uma orientação eficiente para a prática de produção de textos, na escola, deve envolver procedimentos fundamentais distribuídos em dois grandes momentos: o que antecede e o que coincide com o ato de escrever propriamente dito. O autor ainda diz que, no primeiro momento, há que se orientar na busca de conteúdos (opiniões, informações) a serem colocados no papel; no segundo, não menos importante, deve-se preocupar com o modo de fazê-lo, resgatando e/ou apresentando habilidades de estruturação do texto que permitam tecer microestruturas eficazes para se conseguir um texto coeso e coerente com as ideias e intenções do autor. Os alunos devem estar convictos de que escrever é expressar, conceitos, informações, sentimentos, sensações de maneira clara, coesa e coerente com aquilo que se deseja e cabe ao professor ensinar-lhes a selecionar e manipular tanto palavras e frases como ideias e informações para que possam obter o resultado desejado em sua produção textual. De acordo com Kleiman (1992), a competência em leitura e em produção textual não depende apenas do conhecimento do código lingüístico. Para ler e escrever com proficiência é imprescindível conhecer outros textos, estar imerso nas relações intertextuais, pois um texto é produto de outro texto, nasce de/em outros textos. Quem escreve não escreve no vazio, pois um texto não surge do nada. Nasce de/em outro(s) texto(s). Pode-se dizer que escrever é a habilidade de aproveitar criticamente, criativamente outros materiais interdiscursivos, outros textos. É por isso que quem lê está em situação privilegiada para escrever, uma vez que se apropria, mediante a leitura, de idéias e de recursos de expressão. 3.1 Leitura e escrita: práticas interligadas A leitura e escrita foram surgindo historicamente a partir do momento em que o homem aprendeu a comunicar seus pensamentos e sentimentos. 24 Percebe-se que escrever e ler são formas por meio das quais pessoas podem se expressar e comunicar com os demais indivíduos que convivem. Para Soares (1995; p. 8-9), ler e escrever não são categorias polares, mas sim complementares e que exigem um conjunto de habilidades e conhecimentos lingüísticos: “ler é um processo de relacionamento entre símbolos escritos e unidades sonoras, e é também um processo de construção da interpretação de textos escritos”. Do mesmo modo, o escrever também pode ser assim caracterizado e, conforme a autora, “as habilidades de conhecimentos de escrita estendem-se desde a habilidade de simplesmente transcrever sons até à capacidade de comunicar-se adequadamente com um leitor potencial”. Escrever e ler são atividades que servem para poder comunicar-se, para expressar ideias, experiências, opiniões, sentimentos, fantasias, realidades, e para ter acesso ao que os demais seres humanos, ao longo do espaço e do tempo, viveram, pensaram, sentiram. A leitura favorece ao aluno intimidade com o texto, habilita-o à previsão e à inferência, estratégias que são invocadas na prática da leitura. Previsão e inferência exigem que o leitor acione conhecimentos prévios, como ideias, hipóteses, visão de mundo de linguagem e sobre o assunto. Kleiman (1992, p.42) diz que "a leitura é uma atividade de procura do passado, de lembranças e conhecimentos do leitor. O que orienta o ato de ler é a direção, a elaboração do pensamento e sua imagem de mundo". O ato de escrever, assim como o de ler faz parte do universo da comunicação. A autora afirma que os processos de leitura e escrita envolvem múltiplas atividades cognitivas, engajando o leitor na construção do sentido de um texto escrito, tal qual o escritor, ao deixar pistas para tal realização. O produto da escrita, a escritura, surge internamente e se externa, enquanto a leitura percorre o trajeto inverso. Ambas, a leitura e a escrita, são duas situações do universo da comunicação verbal cujo objetivo é a construção do objeto lingüístico com significado. O escritor parte das ideias para a construção do texto, enquanto o leitor parte do texto para resgatar as ideias do autor. Na perspectiva da compreensão de Kleiman (1992), a leitura por si só não garante a aprendizagem. O sucesso do processo depende da aquisição 25 de determinadas estratégias de leitura que fortalecem as competências de natureza lingüística e semântica. Para Poersch (1996), a leitura é um processo ativo de comunicação que leva o leitor a construir, intencionalmente, em sua própria mente, a partir da percepção de signos gráficos e da ajuda de dados não visuais, uma substância de conteúdo equivalente àquela que o autor quis expressar, através de uma mensagem verbal escrita. Goodman e Goodman (1983) observam que as pessoas não apenas aprendem a ler lendo e a escrever escrevendo, mas aprendem também a ler escrevendo e a escrever lendo. A leitura e a escrita têm influência uma sobre a outra, mas as relações não são simples e isomórficas. O efeito sobre o desenvolvimento deve ser visto como envolvendo a função de ler e escrever e o processo específico no qual a leitura e a escrita são usadas para realizar essas funções. Os autores acreditam que o desenvolvimento na leitura e na escrita só pode se dar se as pessoas participam ativamente das experiências de leitura e escrita; além disso, essas atividades devem ser significativas e ter um sentido pessoal para o usuário. Um fator relevante apresentado por Smith (1999) é que a leitura e a escrita não podem mais ser abordadas separadamente na aprendizagem, assim como não devem ser consideradas separadamente no ensino. Os alunos aprendem sobre leitura e escrita observando os usos da linguagem escrita. As “habilidades” distinguíveis da leitura e escrita são aspectos relativamente superficiais da alfabetização. Tudo o que um aluno aprende sobre leitura ajuda a tornar-se um escritor. Tudo o que é aprendido sobre escrita contribui para a habilidade de leitura. O autor enfatiza que manter as duas atividades separadas não só priva do seu sentido básico, mas também empobrece qualquer aprendizagem que possa vir a acontecer. Neste sentido, o texto escrito assume particular importância neste estudo, pois é entendido que a leitura favorece o escritor a expressar-se por escrito com eficácia. Segundo Geraldi (1984), quando um leitor se depara com um texto, o primeiro requisito para que se inicie o processo de compreensão é que ele possua conhecimento prévio a respeito dos elementos lingüísticos, como itens lexicais e as estruturas sintáticas (conhecimento lingüístico), presentes nos 26 enunciados que lhe são propostos. O conjunto desses componentes da superfície do texto funciona como pistas para que o receptor, através da ativação dos conhecimentos armazenados na memória e da realização de inferências, possa captar o sentido dos enunciados que compõem o texto, estabelecendo uma relação entre o lingüístico e o conceitual-cognitivo. De acordo com Kleiman (1992), os níveis de conhecimento que entram em jogo durante a leitura são: a) o conhecimento lingüístico, implícito, não verbalizado. Esse conhecimento abrange desde o conhecimento sobre como pronunciar português, passando pelo conhecimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o conhecimento sobre o uso da língua. b) o conhecimento textual, entendido como um conjunto de noções e conceitos sobre o texto (por exemplo: discursos narrativos, descritivos, argumentativos). A autora afirma que quanto mais conhecimento textual o leitor tiver e quanto maior for a sua exposição a todo o tipo de texto, mais fácil será a sua compreensão, pois o conhecimento de estruturas textuais e de tipos de discurso determinará, basicamente, suas expectativas em relação à escrita. c) o conhecimento de mundo ou conhecimento enciclopédico, que consiste na configuração de conceitos e relações subjacentes ao texto, organizados sob a forma de esquemas, entretanto essa “construção” estará associada à visão pessoal e às crenças do leitor. Pode-se inferir, então, o conhecimento lingüístico, o conhecimento textual e o conhecimento de mundo são aspectos básicos tanto para a leitura como para a escrita e devem ser ativados pelo leitor ou produtor na compreensão ou produção textual, pois orientam a memória para o texto e visam à construção do sentido. Pode-se afirmar, também, que a leitura tem a função de permitir ou facilitar o processamento textual, quer em termos de produção, quer em termos de compreensão, e a análise estratégica depende não só de características textuais, como também de características dos usuários da língua, tais como seus objetivos, convicções e conhecimento de mundo. 27 3.2 A produção textual Granville (2003) considera que leitura e escrita caminham juntas. Por este motivo, prefere usar o termo leitura-escrita ou leitura-produção textual, principalmente quando as focaliza no contexto escolar. A partir dessa concepção de linguagem e das teorias que fundamentam as propostas interativas de leitura-produção textual, Granville (2003) concebe e esboça a prática de leitura-produção textual, que abrange a leitura de um texto escrito, a compreensão, a interpretação e a produção escrita do aluno, resultante, freqüentemente, de textos trabalhados em sala de aula. Para Koch (1998), a produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais e, portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades; trata-se de uma atividade consciente, criativa, que compreende o desenvolvimento de estratégias concretas de ação e a escolha de meios adequados à realização dos objetivos; isto é, trata-se de uma atividade intencional que o falante, em conformidade com as condições sob as quais o texto é produzido, empreende, tentando dar a entender seus propósitos ao destinatário através da manifestação verbal; é uma atividade interacional, visto que os interactantes, de maneiras diversas, se acham envolvidos na atividade de produção textual. O texto escrito é influenciado pelos valores, conceitos e experiências pessoais do autor, de modo que o texto vai refletir o que o autor é, bem como o que ele está tentando comunicar. Somado a isso, um texto eficaz é aquele que não somente expressa o significado pretendido pelo autor, mas também é compreendido pelo leitor. A fim de se compreender melhor o fenômeno da produção textual, importa entender previamente o que caracteriza o texto, unidade comunicativa básica, já que o que as pessoas têm para dizer umas às outras não são palavras nem frases isoladas, são textos. Pode-se definir texto como ocorrência lingüística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal. Segundo Carneiro (2001), uma propriedade básica do texto é o fato de ele 28 constituir uma unidade semântica. Uma ocorrência lingüística, para ser texto, precisa ser percebida pelo recebedor como um todo significativo. Finalmente, o texto se caracteriza por sua unidade formal, material. Seus constituintes lingüísticos devem se mostrar reconhecidamente integrados, de modo a permitir que ele seja percebido como um todo coeso. Assim, para Carneiro (2001), um texto para ser compreendido deve apresentar três fatores essenciais: o pragmático, que tem a ver com seu funcionamento e atuação informacional e comunicativa; o semânticoconceitual, de que depende sua coerência; e o formal, que diz respeito à sua coesão. Através dessa representação, o texto, entendido como forma de cognição sócia, permite-nos o acesso à realidade, pois deve-se considerar um texto não apenas em sua estrutura interna, lingüística, mas também nos aspectos externos que o determinam, dentro de um contexto em que está inserido. Por meio do saber, do conhecimento de algo, tem-se uma ação, uma interação social a fim de desempenhar um papel dentro de uma determinada realidade através de uma situação de comunicação. Segundo os PCNs, o objetivo da prática de produção de textos é o de “formar escritores competentes capazes de produzir textos coerentes, coesos e eficazes” (BRASIL, 1998, p.51). Entende-se por escritor competente aquele que planeja o seu discurso em função do seu objetivo e do objetivo do leitor a quem o texto se destina, consegue revisar e reescrever o seu próprio texto, até olhá-lo e considerá-lo satisfatório e ainda, é aquele que sabe recorrer a outros textos quando sente necessidade para a produção do seu. Um texto é considerado coerente quando se consegue dar sentido a ele. Este sentido “é construído não só pelo produtor como também pelo recebedor, que precisa deter os conhecimentos necessários a sua interpretação” (VAL, 1991, p. 06). Com relação à coesão, esta tem a ver com a unidade formal do texto, é construída através dos mecanismos gramaticais e lexicais. Para Serafim (1998), são basicamente três os processos que visam à produção de textos: 1-Escrita como dom – é necessário simplesmente ter um título, um tema e os alunos escrevem, praticamente não há atividade prévia para se iniciar um trabalho de produção. 29 2-Escrita como conseqüência – tem como ponto de partida o saber oral que conduzirá a uma escrita, a um registro, muitas vezes homogeneizado desse saber, verificando-se que esse registro é conseqüência do trabalho realizado. Basta ler um texto para que se tenha um pretexto para a produção escrita. 3-Escrita como trabalho – que também parte do saber oral, com a grande diferença de que esse é reconhecido, trabalhado pelo professor, já que a produção escrita é tida como uma contínua construção de conhecimento, ponto de interação entre professor/aluno porque cada trabalho escrito serve de ponto de partida para novas produções, que sempre adquirem a possibilidade de serem reescritas, de apresentarem uma terceira margem. Para uma melhor compreensão dos processos descritos acima, darse-ão exemplos de como ocorre cada um. Na escrita como dom, o professor dará, por exemplo, o título “Um passeio no parque” e com ele o aluno criará um texto. Na escrita como conseqüência, após um passeio ao zoológico, os alunos escreverão um texto sobre o passeio, contando o que fizeram, com quem foram etc. Na escrita como trabalho, a partir de um estudo detalhado sobre higiene, os alunos escreverão uma carta, relatando a um amigo o que ele aprendeu, ou irão ensinar ao amigo como ter uma boa higiene. Diferentemente da redação que é orientada por um modelo a ser seguido, a produção de textos é orientada pelos seguintes princípios apontados pelos PCNs. São princípios básicos estabelecidos para que haja condições de o aluno escrever sua produção de texto: finalidade; especificidade do gênero; lugares preferenciais de circulação; interlocutor eleito. Segundo Soares (2001), com esses itens estabelecidos, haverá uma melhora na produção textual, pois o aluno saberá por que ele tem de escrever, para quem ele vai escrever, onde seu texto será lido e qual gênero ele utilizará na escrita do texto. Isso se faz necessário porque cada gênero tem as suas normas: a estrutura e a organização do texto, os recursos de coesão textual, os níveis de informatividade, a própria disposição do texto. Considerando a produção de textos na escola, segundo Borges (2004), cabe aos educadores, portanto, propiciar condições para o aluno exercitar-se na arte de pensar, captar e criar suas próprias idéias, através de atividades que exijam reflexão e produção de um novo texto; e para alcançar 30 esse objetivo, deve-se utilizar a criatividade, sempre considerando e usando “a palavra” e a “leitura” como veículo de expressão do pensamento. O autor ainda salienta que, a primeira vista, pode-se pensar que cada palavra escrita é objeto de uma "convenção" que associa arbitrariamente, uma forma gráfica específica a um sentido específico. Mas é preciso ter em conta que a língua escrita é um "código derivado" da língua oral. Se a relação entre a expressão sonora das palavras e o seu sentido é arbitrária, a relação entre a expressão sonora das palavras e sua forma gráfica - exceções à parte não é. Freqüentemente, no ensino da leitura, tenta-se conciliar o inconciliável: fazer compreender como funciona o código escrito pela descoberta do princípio alfabético e fazer descobrir as finalidades e as questões envolvidas na leitura usando os mesmos textos. Estes dois objetivos complementares exigem que os alunos apóiem-se sobre suportes escritos de dimensões e de natureza muito diferentes. Ao colocar-se o ler e o escrever ainda como desafios, deve-se ter em mente que formar o leitor é também compreender e conhecer esse modo de ser oral. Para Borges (2004), os alunos devem estar convictos de que escrever é expressar idéias, conceitos, informações, sentimentos, sensações de maneira clara, coesa e coerente com aquilo que se deseja e cabe ao professor ensinar-lhes a selecionar e manipular tanto palavras e frases como idéias, conceitos e informações para que possam obter o resultado desejado em sua produção textual. Pode-se dizer que a escola é tomada como um autêntico lugar para a produção textual. No ambiente escolar a produção de textos deve inserir-se num processo de interlocução, no qual está implicada a realização de uma série de atividades – de planejamento e de execução - que não são lineares nem estanques, mas recursivas e interdependentes. 31 4 CONCLUSÃO As exigências educativas da sociedade são crescentes e estão relacionadas às diferentes dimensões da vida das pessoas: ao trabalho, à participação social e política, à vida familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e desenvolvimento cultural. O mundo passa atualmente por uma revolução tecnológica que está alterando profundamente as formas de trabalho e de interação, onde a competitividade desponta como necessária. Diante dessa realidade, torna-se necessária a discussão sobre as formas de lidar com os novos tempos e sobre a qualidade de ensino nas escolas, atentando para a elevação no nível de educação de toda a população e detectando os fatores que possam atender às novas exigências educativas que a própria vida impõe. Neste sentido, um dos instrumentos indispensáveis para uma formação geral e que possibilite o desenvolvimento de cidadãos críticos, autônomos e atuantes, nesta sociedade em constante mutação, seria a prática de leituras variadas que promova, de maneira direta ou indireta, uma reflexão sobre o contexto social em que estão inseridas. Não é de hoje que encontramos pessoas com dificuldade de passar para o papel as suas idéias a respeito de algo, porque não têm informação suficiente sobre aquele assunto específico. Por outro lado, também é raro encontrar essas mesmas pessoas lendo uma obra poética, de ficção, um jornal, uma revista, etc. O que todos têm que entender é que a leitura é a base para a boa escrita e não só se deve ler para escrever algo, mas se deve ler para enriquecer-se culturalmente. Um escritor precisa ler para observar e absorver o que foi lido. Um escritor precisa ler para se enriquecer culturalmente. Não há um bom escritor que não seja um leitor voraz, com fome de informação, com fome de formação. Um escritor precisa ler bons textos para escrever bons textos. Um bom escritor é sempre um bom leitor. Antes de escrever é preciso refletir, e o melhor estímulo para a reflexão é a leitura, é ler o que outros já escreveram a respeito do que leram de 32 outros e assim sucessivamente, pois a escrita está sempre impregnada de outras escritas, ou seja, a leitura é diálogo direto ou indireto com outras leituras. A leitura possibilita a aquisição da maior parte dos conhecimentos acumulados pela humanidade e faz sentir as mais diversas emoções. A imaginação e o raciocínio crítico para a produção de textos são influenciados por meio da leitura. A leitura é a chave que permite entrar em contato com outros mundos, ampliar horizontes, desenvolver a compreensão e a comunicação. Afinal, todas as pessoas estão em contato com uma infinidade de textos todos os dias, sejam anúncios em jornais, revistas, bilhetes, avisos, cartas, quadrinhos, manuais, ou mesmo obras literárias. Por isso, a leitura é considerada de uso social, uma vez que os textos servem para informar, instruir ou dar prazer. Frente a isso, a escola tem a responsabilidade de proporcionar aos seus alunos condições para que estes tenham acesso ao conhecimento, próprio da vida escolar. Daí a importância na orientação ao uso da biblioteca, bem como a leitura ser valorizada em sala de aula e em todas as disciplinas, a fim de que o aluno possa buscar na sua fase adulta a auto-formação. Ensinar a ler é dar condições ao aluno de apropriar-se do conhecimento de construção e produção de textos. O desenvolvimento da leitura e da escrita na sala de aula prepara a formação de indivíduos para um mundo exigente quanto à escrita e à qualidade de leitura. Por fim, a leitura deve ser vista como uma atividade que complementa a escrita, tendo como função principal formar um novo conhecimento, pois extrapola as informações da leitura e passa a estabelecer relações com outros textos lidos. Além disso, a leitura surge como importante fonte de modelos de escrita, proporcionando uma melhoria considerável na organização das idéias e no uso do vocabulário. A reflexão a respeito disso fica em nível de que, como instrumento facilitador do desencadeamento do hábito de leitura, a escola carece de estruturação para assumir tal responsabilidade. Sendo assim, é papel da escola e dos educadores preocupar-se em apresentar aos seus alunos aulas de leitura interessantes e motivadoras 33 que despertem o prazer pela leitura, fazendo com que abram as portas da criatividade e do entendimento frente à realidade que os cerca. Afinal, a escola e seus respectivos professores servem como modelo de leitor para os alunos, por isso devem propiciar que o aluno leia durante as aulas, proporcionando aproximações dos mesmos com este conhecimento. É necessário que a escola e professores estabeleçam uma proposta de incentivo à leitura na vida diária do aluno, a fim de que encontre o meio de obter o conhecimento, as informações, o prazer e o gosto pela leitura, possibilitando o desenvolvimento de leitores eficientes e escritores eficazes. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTÃO, J. Elogio da leitura: tipos e técnicas de leitura. Porto: ASA, 1997. BARBOSA, J.J. Alfabetização e leitura. São Paulo: Cortez, 1994. BISOGNIN, T.R. Escreve bem uma redação quem bem lê qualquer coisa. Porto Alegre: UFRGS, 2003. BORGES, Patrícia Ferreira Bianchini. A importância da leitura para a produção de textos. Revista Pedagógica Ponto de Encontro, ano VI, nº. 6, 2004. Disponível em: <http://www.amigosdolivro.com.b>. Acesso em: 21 jun 2008. BRASIL, SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa: 5ª a 8ª Série. Brasília: SEF, 1998. CAGLIARI, L.C. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1995. CARNEIRO, A.D. Texto em construção: a escritura do texto. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2001. DIONÍSIO, M.L. A construção escolar de comunidades de leitores: leituras do manual de português. São Paulo: Almedina, 2000. GARCIA, E.G. A leitura na escola de 1º grau: por uma leitura da leitura. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002. GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. 2. ed. Cascavel: Assoeste, 1984. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GOODMAN, K.; GOODMAN, Y. Elementos de pedagogia da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1983. 35 GRANVILLE, M.A. A atividade de produção de texto. São José do Rio Preto: IBILCE/Unesp, 2003. HERNANDES, F.M.V. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. KLEIMAN, Â. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, SP: Pontes, 1992. __________. Oficina de leitura: teoria e prática. 10. ed. Campinas, SP: Pontes, 2004. KOCH, I.V. A inter-Ação pela linguagem. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2000. LEOPARDI, M.T. Metodologia da pesquisa. Santa Maria, RS: Pallotti, 2002. MACHADO, A.M. A leitura deve dar prazer. Nova escola: a revista de quem educa. São Paulo, ed. 16, n. 145, set. 2001. MAGRO, M. C. Estudar também se aprende. São Paulo: EPU, 1979. MARTINS, M.H. O que é leitura? 3. ed. São Paulo: Brasileirense, 1984. MORAES, J. A arte de ler: psicologia cognitiva da leitura. Lisboa: Cosmos, 1997. POERSCH, J.M. A leitura como fonte de saber lingüístico: processos cognitivos. Letras de Hoje, Porto Alegre: EDIPUCRS, v.36, n.3, p.401-407, 2001. __________. Leitura e escritura: faces distintas, embora intimamente associadas ao processo comunicativo. Atas do I Congresso Internacional da ABRALIN, Salvador: FINEP: UFPA, 1996. RAUEN, Fábio José. Roteiro de investigação científica. Tubarão: Unisul, 2002. 36 RUIZ, J. A. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SALOMON, D. V. Como fazer uma monografia. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. SCHNEIDER, M. A correlação entre a compreensão das categorias de coesão textual e a produção de textos. São Paulo, 1990. SERAFINI, Maria Tereza. Como escrever textos. 9. ed. São Paulo: Globo, 1998. SILVA, E.T. Elementos de pedagogia da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1993. __________. Leitura e realidade brasileira. 4. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998. SMITH, F. Leitura significativa. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. SOARES, Magda Becker. Língua escrita, sociedade e cultura; relações, dimensões e perspectivas. Revista Brasileira de Educação. Set/Dez. 1995. Disponível em: <http://www.ceamecim.furg.br>. Acesso em: 21 jun 2008. ___________. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17. ed. São Paulo: Ática, 2001. TEBEROSKY, A.; COLOMER, T. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003. VAL, M.G.C. O que é produção de texto na escola? Revista Presença Pedagógica, v. 4, n. 20, p. 83-85, mar/abr. 1998. ZILBERMANN, R. A literatura infantil na escola. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1985.