Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, 2003 (470-478) OS OBSTÁCULOS DA PRODUÇÃO TEXTUAL FUNCIONAL Eliane Cristina BURANELLO (Universidade Estadual Paulista – Assis) ABSTRACT: The textual production is very discussed, because the results met in the schools aren’t satisfactory, the students have difficulties to elaborate good texts and to transmit their own ideas. We are interested in checking how is the teaching learning of the textual production observing in students’ texts the main problems. KEYWORDS: text; functional; problems; activities; solution. 0. Introdução O homem tem a necessidade peculiar de se comunicar, vivendo, portanto, em permanente interação com a realidade que o cerca e com os outros seres humanos, dividindo com eles sua visão de mundo, suas experiências e seus sentimentos. Uma das formas mais eficazes de interação é a linguagem, pela qual o emissor pode transmitir suas idéias e emoções. Desta forma, temos o ambiente escolar como lugar de sistematização da linguagem visando tornala mais clara e significativa. A produção textual pode ser apontada como uma das atividades desenvolvidas pela escola que colabora com a interação e a partilha de conhecimento de mundo. Neste sentido, baseando-nos em nossa experiência como profissionais da educação, constatamos a falta de motivação do aluno em produzir qualquer tipo de texto em quaisquer disciplinas, dificultando assim seu desenvolvimento escolar. Tendo em mente que a produção de um texto escrito envolve problemas específicos de estruturação do discurso, de coesão, de argumentação, de organização de idéias e escolha de palavras, já que escrever não é apenas codificar sinais gráficos, mas comunicar-se de maneira competente com o interlocutor, cabe ao professor fazer um levantamento das dificuldades que os alunos apresentam a fim de programar atividades futuras que visem a sanar os problemas detectados. Desta maneira, analisando cinco redações de alunos de 8ª série, produzidas em situação normal escolar, com o objetivo de verificarmos os principais problemas da oração, de coesão textual e de argumentação, esta pesquisa pretende contribuir para o trabalho dos docentes de Língua Portuguesa e demais disciplinas no que se refere ao desenvolvimento de produtores de textos funcionais. Finalmente, mostraremos o resultado das analises e apresentaremos sugestões de atividades que poderão auxiliar na melhora do atual quadro da produção de textos na escola. 1. Referencial teórico 1.1. Considerações gerais: O problema enfrentado pelos discentes com relação à produção escrita tem se tornado preocupação constante de diversos autores. De acordo com Infante (1991), os alunos raramente apresentam dificuldades em se expressar através da fala coloquial. Os problemas aparecem quando estes necessitam se expressar formalmente, e principalmente ao produzir um texto escrito, quando eles devem ter bem claro a existência de diferenças marcantes entre o falar e o escrever. Escrever não é apenas codificar a fala em sinais gráficos, portanto o fato de um texto escrito não ser satisfatório não significa que seu produtor tenha dificuldades quanto ao uso da linguagem coloquial, mas que não domina os recursos específicos da modalidade escrita. A escrita possui normas próprias como regras de ortografia, de pontuação, de concordância, de uso de tempos verbais, entre outras. Infelizmente, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não garantem que um texto seja bem escrito. Conforme Infante, é necessário preocupar-se com a constituição de um discurso capaz de representar uma interação entre o produtor do texto e seu receptor e também da finalidade para a qual o texto foi produzido. Para que este discurso seja bem sucedido é preciso que o mesmo se constitua de um todo significativo e não fragmentos isolados justapostos. No interior de um texto é necessária a existência de elementos que estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos significativos que permitam coesão ao discurso. Um texto é considerado coeso quando suas partes referem-se mutuamente, só tendo sentido quando consideradas em relação umas com as outras. Eliane Cristina BURANELLO 471 Há ainda mais uma questão em que se deve pensar ao considerar as especificidades da modalidade escrita – a argumentação. Platão e Fiorin (2000) consideram que um dos aspectos importantes ao ler um texto é que, em princípio, quem o produz tem o objetivo de convencer o leitor de algo. Assim, todo texto tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir seu leitor utilizando para isso diversos recursos de natureza lógica e lingüística. A todos esses recursos, tais autores chamam de procedimentos argumentativos. Dentre tais recursos está a unidade do texto, isto é, o texto deve tratar de um só assunto. Essa qualidade é um dos mais importantes recursos argumentativos, já que um texto dispersivo, cheio de informações desencontradas não é entendido pelo leitor. Outro recurso argumentativo, também chamado de argumento de autoridade é a comprovação das teses defendidas com citações de outros textos autorizados. Os recursos de natureza lógica dão consistência ao texto, na medida em que amarram com coerência cada uma das suas partes. Além disso, o escritor deve cuidar de confirmar com exemplos adequados as afirmações que faz. Uma idéia geral e abstrata ganha mais confiabilidade quando vem acompanhada de exemplos concretos adequados. Um último recurso argumentativo é a refutação dos argumentos contrários. Na realidade, sobretudo quando se trata de um tema polêmico, há sempre versões contrarias sobre ele. Assim sendo, um texto, para ser convincente não pode ignorar opiniões opostas àquelas que se defendem em seu interior. Ao contrário, deve expor com clareza as objeções conhecidas e refutá-las com argumentos sólidos. Em última instância, Infante (1991) afirma que não se pode traçar uma distinção absoluta entre coesão e argumentação. A coesão garante a relação entre as partes de um texto que tomadas como um todo constituem um ato de argumentação. Desta forma, a coesão e a argumentação contribuem para a constituição de um conjunto significativo que torna possível o estabelecimento de uma relação entre o sujeito que escreve e seu interlocutor. 1.2. Problemas na produção de textos A prática de produção de textos na escola é cercada de dificuldades e problemas os quais podem ser divididos em três tipos: os de oração, os de coesão e os de argumentação. 1.2.1. Problemas na oração No que diz respeito a problemas na oração, Pécora (1983), agrupá-os de acordo com os sinais de pontuação e acentuação gráfica, os de ortografia, os de concordância verbal e nominal, regência, uso de pronomes e o emprego de léxicos inadequados. Sabemos que estes problemas na formulação da oração na modalidade escrita são muito comuns. Um dos mais freqüentes são os erros de acentuação gráfica. Para este autor, estes erros acontecem porque o aluno não chegou a dominar inteiramente as normas de acentuação do Português escrito, o que é resultado de uma falha no processo de alfabetização do usuário desta língua. A não-correspondência entre o que é dito e o que é escrito gera um outro problema na escrita, ou seja, o confronto entre padrão culto e formal do Português e seu uso coloquial, resultando em erros de concordância verbal e nominal. Um outro ponto relevante na produção escrita levantado por Pécora é a questão de o aluno possuir a imagem de que ter um bom desempenho na escrita é sinônimo de possuir uma grande variedade lexical ou vocabular, o que acaba no uso inadequado de palavras, a chamada estratégia de preenchimento, gerando um empobrecimento sintático, semântico e pragmático do texto. Desta forma, analisando os problemas até aqui apresentados, Pécora conclui que estes evidenciam falhas no processo de aprendizado escolar referente ao código da escrita. 1.2.3. Problemas de coesão textual Ao se referir aos problemas de coesão textual, Pécora relembra que para termos um texto coeso é necessário que este possua nexos, nós, ligas entre seus componentes, tornando-o uma unidade significativa. Existem vários procedimentos lingüísticos que propiciam esta relação entre os elementos do texto, como: substituição, elipse, repetição, coordenação, entre outros. Assim, é necessário verificar se tais elementos de coesão interferem na argumentação do texto e se o fazem adequadamente. Há alguns tipos básicos de ocorrências problemáticas na coesão de um texto. Um destes problemas é a chamada incompletude associativa que se dá quando um dos termos essenciais da oração não está 472 OS OBSTÁCULOS DA PRODUÇÃO TEXTUAL FUNCIONAL presente, nem mesmo de forma implícita (a falta de um verbo, por exemplo) comprometendo assim sua compreensão. Um outro problema comum é a inadequação do relator, ou seja, é a dificuldade do aluno em saber exatamente o que seria necessário explicitar a fim de que seu interlocutor julgue adequado o emprego do relator, ou ainda, pela sua dificuldade em saber se o que queria expressar estava realmente escrito. A ambigüidade de referência anafórica também deve ser considerada como um problema da constituição da oração quando aparece sem qualquer função para o sentido do texto. A desnecessária afirmação do mesmo, também chamada por Pécora de redundância, é vista como um problema, pois ameaça a totalidade semântica do texto, uma vez que esta repetição não tem uma função para o conjunto do mesmo. 1.2.4. Problemas de argumentação Pécora (1983) define argumentação como uma condição da natureza da linguagem que pretende revelar uma dimensão essencial do uso lingüístico. Pensando assim, todos os problemas já citados são também problemas de argumentação, pois testemunham o fracasso das ocorrências para instituírem uma relação intersubjetiva de significação. É justamente sob o ponto de vista da argumentação que os problemas das redações assumem proporções das mais surpreendentes. Na dissertação, por exemplo, o escritor reconhece a necessidade de que o seu texto tenha argumentos e provas que sejam capazes de interessar aos interlocutores e convencêlos de uma posição assumida por ele diante de um tema, em busca disso o locutor acaba cometendo alguns erros. Conforme Melo e Pagnan (2000), um dos erros de argumentação mais comuns é o emprego de noções confusas, ou seja, existem palavras que possuem uma extensão de significados muito ampla, por isso ao serem utilizadas devem ser previamente definidas senão podem servir de argumento para um ponto de vista e para o seu contrário, ou então, podem esvaziar um argumento e assim fazer com que o texto perca seu poder de persuasão. Os alunos, muito freqüentemente, abusam desse tipo de palavras e, sem o devido cuidado, as utilizam a fim de apoiar suas afirmações com argumentos de fundo moralizante, repetindo, sem elaboração própria e sem critérios, expressões do senso comum destituídas de qualquer consistência em seus textos. Nas redações dos alunos, também com freqüência, ocorre o uso de palavras de abrangência tão vasta que compromete o esquema argumentativo, exatamente por causa do inconveniente de envolverem, num conjunto indeterminado e impreciso, dados de realidade que têm em comum apenas alguns aspectos. Podemos chamar estas ocorrências de emprego de noções de totalidade indeterminada. O uso dessas noções totalizadoras também compromete a força argumentativa do texto, pois dá margem a contraargumentações imediatas. Um outro problema constantemente detectado nas produções dos alunos é o emprego de noções semiformalizadas. Existem termos que, na linguagem científica, possuem um significado preciso, restrito a este tipo de linguagem, e por isso devem ser utilizados com o cuidado que assumem nesse contexto específico. Exemplo disso são palavras ou expressões do tipo: sistema, estrutura, classe social e tantas outras. O uso de lugares-comuns também não é visto como algo benéfico à construção de um texto, pois a utilização de idéias prontas que está sempre à disposição por falta de outra mais expressiva acaba qualificando ou especificando muito mal aquilo a que se refere, pois ao retomarem pela enésima vez a mesma idéia, a sua carga informacional não desperta no interlocutor qualquer surpresa, pelo contrário, pode chocar pela sua trivialidade. 2. Análise do corpus A partir do que foi visto, analisamos cinco redações produzidas por alunos de 8ª série do ensino fundamental da Escola Estadual Dr. Leopoldino L. Ferreira, localizada na periferia da cidade de Cambé, Paraná, a fim de verificarmos em que proporções tais problemas têm aparecido em produções de textos de alunos do ensino fundamental. Tais redações foram produzidas em situação normal de sala de aula após os alunos terem lido o texto “Pecado e virtude” de Paulo Mendes Campos e feito uma discussão sobre o assunto do texto (o bem e o mal). Em seguida, foi requisitado que os alunos fizessem uma dissertação a partir da frase de Paulo Mendes Campos: “O homem é bom e mau”. Antes de mostrarmos o resultado de nosso trabalho é importante salientarmos o quanto complexa é a tarefa de se corrigir um texto, pois cada professor possui sua própria metodologia de correção, portanto a apresentada aqui é apenas uma das possíveis. Eliane Cristina BURANELLO 473 Seguindo Pécora (1989) como modelo, procuramos abordar os seguintes problemas nas redações analisadas: de acentuação; de pontuação; de ortografia; de norma culta; de emprego lexical; de incompletude associativa; de utilização de relatores; de uso de anafóricos; de redundância; de noções confusas; de emprego de noções de totalidade indeterminada; noções semi-formalizadas e de lugarcomum. Na redação número 1, pudemos verificar uma série de problemas de acentuação, principalmente no que diz respeito às paroxítonas. Exemplos: varias, arvore, possivel. É importante salientarmos que não houve nenhum erro com relação ao uso do til (~) e também do acento agudo nas monossílabas e oxítonas. Quanto aos problemas de ortografia o texto em questão não apresentou muitas ocorrências, houve apenas a troca de s por z, m por n e vice-versa. Exemplos: vasando, ruin , emcontrar. Um dos problemas mais graves encontrado foi o de pontuação. O texto foi construído em um único parágrafo e o autor praticamente não fez uso das vírgulas, principalmente para separar as orações coordenadas. Houve também algumas ocorrências de desvio da norma culta como os seguintes casos: concordância de gênero – os pessoas; de colocação pronominal – ter o quebrado ao invés de tê-la quebrado, ter a cortado no lugar de tê-la cortado. Percebemos também um erro no uso do relator “mas”, pois esta conjunção indica idéia contrária e no texto foi usada para adicionar uma idéia, portanto como conjunção aditiva. Quanto à argumentação, o texto analisado deixou muito a desejar, uma vez que o autor expressou suas idéias, mas não as defendeu, portanto não houve argumentação. A redação número 2 não apresentou erros de ortografia. Quanto aos erros de acentuação, só os cometeu com relação ao uso da crase. Alguns poucos erros de pontuação foram notados com o uso inadequado dos dois pontos e do ponto e vírgula. Pudemos notar problemas com o uso da norma culta como o emprego do plural e também dos tempos verbais. Exemplos: de nossas vida; o bem e o mau caminhão juntos; uso de isso ao invés de isto; os adultos mesmo se embriagão; o mundo não as compreendem e muito menos aceitão; menores de idades.. Percebemos também o emprego de noções confusas como no exemplo: “não às drogas sendo que a fonte delas não se combatem os traficantes”.. O uso da palavra fonte, também no exemplo anterior, poderia ser considerado como um erro de emprego lexical e também como a utilização de uma noção semi-formalizada. O texto também apresenta duas vezes o uso da afirmação: “uma juventude que expõe suas idéias ao mundo”, recorrendo ao uso de lugar-comum. A redação número 3 demonstrou alguns problemas de acentuação. Exemplos: familia, vicio e egoista. No caso de egoísta, acreditamos que a falha se deu por esquecimento e não por desconhecimento da forma correta uma vez que tal palavra já havia sido usada e corretamente. O texto analisado apresentou como problemas de pontuação a falta de algumas vírgulas. Com relação à ortografia, o texto teve erros como: robam, converdem e morrar. Percebemos como desvios da norma culta ocorrências como o uso de bons ao invés de boas; a utilização de duas conjunções paralelamente: mas porém; uso do verbo tem no lugar de há; eles quando deveria usar elas e também no emprego de alguns verbos: arranja e pega ao invés de arranjar e pegam. Através destas ocorrências, vimos que o aluno em questão tem problemas com a concordância verbal e também de gênero. Houve um caso de emprego lexical inadequado quando o autor utilizou a palavra quase no lugar de durante. O texto apresentou noção confusa na seguinte frase: “... param de fazer o mal e o bem...”. O autor também se utilizou de lugares-comuns como: “o mundo dá muitas voltas” e “vira um pobre coitado”. O autor da redação número 4 cometeu vários erros de acentuação, principalmente no uso da crase. Quanto à pontuação, podemos considerar que o texto não teve problemas relevantes. O texto também quase não teve erros ortográficos, apenas uma ocorrência: coencidi. A falta de concordância verbal e a troca de pronomes foram os desvios da norma culta apresentados neste texto. Exemplos: coincide ao invés de coincidem; todos o agradecem no lugar de a agradecem; uso de ela como objeto indireto; consegue quando o correto seria conseguem; quer ao invés de querem. Houve duas ocorrências de incompletude associativa, a primeira na frase: “mas falou alguma coisa que ela não gostou” – houve ausência do sujeito do verbo falar, gerando ambigüidade e na segunda frase: “sempre consegue o quer” – faltou a conjunção que. 474 OS OBSTÁCULOS DA PRODUÇÃO TEXTUAL FUNCIONAL Nos segundo e terceiro parágrafos, pudemos perceber a existência de dois problemas: o emprego inadequado dos anafóricos, pois utiliza os artigos o e ela para referir-se ao termo pessoa e também redundância, uma vez que repete várias vezes tal termo. No que diz respeito a argumentação, o texto apresentou o uso inadequado de noções de totalidade indeterminada ao utilizar-se da expressão “coincide na mesma pessoa” . O texto número 5 não apresentou problemas quanto à acentuação das palavras. Quanto a pontuação, o problema maior foi com relação ao uso das vírgulas. Em se tratando de ortografia, a redação em estudo apresentou apenas uma ocorrência: a palavra conciência. Quanto à norma culta detectamos a falta da conjunção integrante que no penúltimo parágrafo. Percebemos também o emprego inadequado de alguns léxicos como: altivista, bem no lugar de bom; realista no último parágrafo. Houve também erro no uso dos relatores no caso de e ao invés de ou e no segundo parágrafo de assim em vez de desta forma. No segundo parágrafo, nos deparamos claramente com o problema da utilização de noções confusas, principalmente se nos fixarmos no termo “real”. O texto apresenta também o emprego de noções de totalidade indeterminada, uma vez que a palavra “realista” pouco tem haver com o tema abordado. Depois de analisarmos tais redações, verificamos que estas apresentaram muitos problemas. Os mais evidentes foram com relação a estruturação da oração, sendo que os erros de pontuação e os desvios da norma culta, entende-se aqui concordância verbal e nominal, foram os mais ocorridos. Desta forma, foi possível comprovar que a prática escolar está falha desde seu princípio, ou seja, do processo de alfabetização. Quanto aos problemas encontrados na utilização dos mecanismos de coesão, acreditamos que foram até pequenos se compararmos o número de ocorrências com as de problemas na oração. Um outro ponto a ser salientado, é o fato de os textos, apesar de serem dissertativos, não possuirem argumentos suficientes para defender uma idéia ou posição com relação a determinado tema. Com isso, não apresentaram com tanta freqüência as falhas de argumentação que estávamos analisando. As redações simplesmente não argumentaram ou quando o fizeram eram confusas em suas idéias ou procuravam facilitar sua tarefa utilizando-se de lugares-comuns, uma vez que não possuem conhecimentos ou informações suficientes para sustentar uma idéia. Neste sentido, notamos uma falta de envolvimento com os textos por parte de seus autores, talvez devido à motivação falha que tiveram para escrever, daí a importância do desenvolvimento de atividades que proporcionem aos alunos maior segurança ao redigir. 3. Sugestões de atividades O objetivo da escola deve ser o de formar escritores competentes, habilitados a produzir textos coerentes, organizados e claros. Um escritor competente está apto a produzir um discurso apropriado ao objetivo a que se propõe. O escritor competente sabe expressar por escrito seus sentimentos, experiências ou opiniões. Cabe à escola, criar oportunidades para que os alunos escrevam textos diversificados e de aplicações práticas, como são os que circulam na sociedade. Os alunos devem ser solicitados a se expressar por escrito, mesmo que não dominem a língua escrita de maneira convencional. Desde cedo, eles já são capazes de criar os mais variados discursos. Narram histórias, defendem um ponto de vista, inventam diálogos durante uma brincadeira ou contam um caso para alguém. O que ocorre é que eles já estão aptos a produzir um texto, mas têm dificuldade para redigi-lo. Dificuldades estas de expressão escrita como ortografia e acentuação, de estruturação do texto como pontuação e separação dos parágrafos, de escolha de léxicos adequados e até de escolha de estilo (formal ou coloquial). Uma das formas possíveis para se diminuir tais problemas é o incentivo à leitura dentro e fora da escola. O professor deve mostrar a seus alunos que a leitura tem duas funções importantíssimas no que se refere à produção de textos. A primeira é que a leitura fornece matéria-prima para a escrita, uma vez que, leitores competentes, através de uma boa leitura, podem adquirir novas idéias, novos conceitos que os levarão a novas leituras e também a produzir textos com idéias mais claras e interessantes. A segunda função da leitura é contribuir para a constituição dos modelos: o como se escrever. O aluno pode produzir textos de acordo com o modelo ou pode modificálo. Escritores competentes precisam dispor de um repertório de modelos para criar seus textos. Ninguém é capaz de fazer surgir uma boa produção literária do nada. É preciso ter boas referências. Para escrever bem é preciso ler bem. Eliane Cristina BURANELLO 475 É necessário que o professor forneça a seus alunos materiais de consulta apropriados para a produção de textos. As possibilidades são quase infinitas, desde o material mais previsível, como dicionários, enciclopédias, atlas, jornais e revistas, até um banco de personagens criados pelos próprios alunos, que podem ser usados para reforçar as redações produzidas em classe. A maioria dos alunos se dá por satisfeita com a primeira e única versão do texto produzido. Muitas escolas até incentivam tal procedimento. No entanto, essa postura em nada contribui para o entendimento de que a produção da língua escrita é um processo que pode ser permanentemente desenvolvido e melhorado. O trabalho com rascunhos é, portanto, imprescindível. A revisão deve ser ensinada de maneira a permitir a quem escreve, coordenar os papéis de produtor, leitor e avaliador do próprio texto. O professor pode ajudar propondo uma maneira organizada de executar essa tarefa. Pode haver um momento para escrever, outro para ler o que está no papel, e outro ainda para fazer ajustes e passar a limpo. Um outro ponto que pode incentivar o hábito de se utilizar rascunhos é o fato de a produção escrita extrapolar os limites da sala de aula, seja para uma exposição, seja para um livro, servindo como estímulo para os estudantes prestarem atenção redobrada aos erros de ortografia, à repetição de palavras, aos problemas de entendimento e à legibilidade do que escrevem. Uma outra atividade que pode contribuir para que tomem mais cuidado com esses tipos de erros é o professor dividir sua turma em duplas, com um colega corrigindo o texto do outro, ou ainda, escolher uma redação por semana e corrigi-la no quadro-negro diante de todos os alunos, tomando o cuidado de não ficar preso só à gramática, observando também a coesão e coerência do texto. É recomendado que o professor fuja da chamada “obsessão ortográfica” e eleja algumas ocorrências importantes, de acordo com o que está sendo trabalhado. Isso não significa que não deva existir uma revisão rigorosa no texto publicado, pois uma produção que vai ultrapassar os limites da classe não pode ter erros, e é bom que isso seja parte das tarefas, porém o aluno não assimila tudo o que o professor observa e até se sente desestimulado ao receber de volta um texto cheio de anotações. Tradicionalmente, ensina-se ortografia apresentando e repetindo as regras ortográficas para a classe. Tudo se dá através da memorização. Depois da explanação, se o aluno desobedecer a tais regras em uma redação, por exemplo, o professor corrige o erro, e pode até sugerir que o estudante copie várias vezes a versão correta das palavras que haviam sido escritas de maneira errada. É comum, porém, que muitos alunos decorem tais regras, mas ao escrever continuem cometendo os mesmos erros. Muitas normas ortográficas têm de ser mesmo decoradas. Mas isso não quer dizer que aprender a escrever certo seja um processo passivo. No capítulo dedicado à ortografia, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) propõem que a intervenção do professor se dê em dois níveis: no produtivo e no reprodutivo. O primeiro refere-se ao conhecimento explícito das regras ortográficas. Tal conhecimento permite aos alunos grafar corretamente mesmo as palavras que nunca haviam escrito anteriormente. Já o eixo reprodutivo é aquele em que o aluno memoriza a forma correta de grafar palavras que não têm regras específicas que expliquem a forma de escrevê-las. É fundamental para o trabalho do professor fazer distinção entre as palavras de uso mais e menos freqüente. Quando as palavras fazem parte do vocabulário médio dos alunos, é mais produtivo que eles apresentem suas hipóteses de como devem ser escritas. Com base nessas suposições, os alunos poderão refletir sobre as possíveis alternativas de grafia e, comparando-as com a escrita convencional, terão progressivamente condições de tomar consciência do funcionamento da ortografia. É um momento em que o “erro” deve ser encarado pelo professor como fundamental para a construção das hipóteses ortográficas desenvolvidas pelos alunos. Por outro lado, entender que a ortografia de algumas palavras não é definida por regras faz com que os estudantes vejam de maneira prática a importância de consultar fontes autorizadas de registro ortográfico da língua portuguesa, como os dicionários ou manuais de redação, e reconheçam a importância da memorização. Ao contrário da ortografia, na pontuação a fronteira entre o certo e o errado nem sempre é bem definida. Existe uma confusão freqüente entre o ensino da pontuação e o ensino dos sinais de pontuação, o que também tem influenciado de forma negativa a produção de textos dos alunos. Em geral, o que se faz é uma apresentação da funcionalidade dos sinais de pontuação. Espera-se a partir daí que o aluno seja capaz de incorporar a pontuação a seus textos. A questão, no entanto, é muito mais complexa, pois a única regra obrigatória da pontuação é a que diz onde não se pode pontuar: entre o sujeito e o verbo e entre o verbo e seu complemento. Tudo o mais são possibilidades. Aprender a pontuar é agrupar as palavras do texto de forma a dar ritmo e ênfase à redação. Isso é algo que os estudantes só aprenderão com a ajuda do professor. 476 OS OBSTÁCULOS DA PRODUÇÃO TEXTUAL FUNCIONAL Desta maneira, a pontuação deve sempre ser analisada do ponto de vista do sentido que o autor pretende dar ao texto. Cabe ao professor, durante o processo de aprendizagem levantar com os alunos o porquê de terem usado determinados sinais de pontuação. Algumas outras atividades podem fazer os alunos evoluírem no domínio da língua escrita e superar as dificuldades na criação de textos como: propor aos alunos que reescrevam ou se inspirem em um texto que eles já leram para produzir uma redação; fazê-los transformar um gênero em outro. Por exemplo, escrever um conto de mistério a partir de uma notícia policial; sugerir a produção de textos a partir de outros conhecidos: um bilhete que o personagem de um conto teria escrito a outro, por exemplo; dar as primeiras frases de uma história para a classe desenvolver ou o final de uma história para que os alunos criem seu início; planejar coletivamente o enredo de uma história, para que os alunos discorram sobre ela, individualmente ou em grupo. Um outro tipo de atividade interessante é o “júri simulado”, onde os alunos divididos em grupos de defesa e de acusação, juiz e membros do júri façam um julgamento fictício de temas polêmicos e levantem os aspectos positivos (grupo de defesa) e os negativos (grupo de acusação) dos mesmos. Para montar tal julgamento, os alunos devem pesquisar em livros, ver programas de TV e filmes que tratam de julgamento para compreender como estes funcionam. Desta forma, os alunos podem expor suas idéias e posteriormente colocá-las no papel de forma mais sistematizada seguindo as normas da linguagem escrita e com mais segurança para defender seus pontos de vista, pois terão sido previamente preparados para isto. A promoção de momentos de leitura de jornais em sala de aula também pode ser considerada uma atividade essencial, uma vez que apresenta variados conteúdos sob diferentes pontos de vista, o jornal leva o aluno a conhecer diferentes posturas ideológicas frente a um fato, a tomar posições ideológicas e a aprender a respeitar as diferentes opiniões. Além disso, a leitura de bons jornais oferece, tanto aos professores como aos alunos, uma norma padrão escrita que pode servir como ponto de referência para a correção na produção de texto. A leitura do jornal oferece, ainda, um contato direto com o texto escrito autêntico, desenvolvendo e firmando assim a capacidade leitora dos alunos; estimulando a expressão escrita dos estudantes que aprendem com o jornal a linguagem da comunicação para transmitirem suas próprias mensagens e informações. Estes momentos de leitura podem resultar em diversas atividades de produção textual como: a redação de uma reportagem; a montagem de painéis ou de um jornal mural com base em reportagens lidas em sala de aula; a escrita de pequenas narrativas em que se contam episódios acontecidos e descritos nos jornais, exemplo: a leitura de uma mesma notícia em diferentes jornais, e posteriormente a rescrita da história com suas próprias palavras expressando o seu ponto de vista com relação ao fato; jogo de quebracabeça com a página principal onde o professor entrega a cada grupo de alunos uma página principal de um mesmo jornal recortada e cada grupo procurará recompor a página colando os pedaços em uma folha de papel grande, levando em consideração a continuidade das notícias. Além das atividades já descritas, o jornal pode proporcionar outras de análise da organização lingüística dos títulos, e dos tempos verbais e campos semânticos utilizados. 4. Conclusão Após nossas leituras, pudemos concluir que a prática de produção de texto, já está sendo vista como atividade essencial da vida, tanto no âmbito escolar quanto fora dele. É imprescindível que os discentes que estão diariamente envolvidos com esta prática conscientizem-se de seu papel como mediador de tal processo. Devemos ter em mente que a habilidade de escrever bem não é inata, portanto são necessários recursos para que ela se desenvolva e proporcione bons resultados a quem ela pertence. Com base em nossa experiência como profissionais da educação, temos percebido que a escola não está funcionando como um ambiente proporcionador de atividades que estimulem a criação de textos funcionais. O que temos observado, principalmente nas aulas de Língua Portuguesa, é a produção de textos como uma complementação das atividades de leitura. Não que esta prática seja ruim, ou que não tenha suas atribuições, mas não deve ser a única praticada para não se tornar sem propósitos. É importante estimular a escrita de maneiras variadas. Com relação a isso, acreditamos ser necessário uma reformulação nos cursos de formação de professores para que tais idéias já sejam elaboradas antes que os vícios da prática facilitada tomem conta de seu desempenho profissional e os tornem resistentes a novas idéias e procedimentos. Um outro problema agravante com relação à escrita é a correção da mesma, pois o que temos presenciado é a existência de uma obsessão pela ortografia e pelo uso da norma culta, deixando o estímulo a expressão das idéias à margem. Acreditamos que precisamos valorizar mais o que os alunos escrevem e não somente o que eles erram, já que uma boa parcela de responsabilidade por esses erros é Eliane Cristina BURANELLO 477 nossa também, uma vez que não temos nos utilizado, em nossas aulas, de atividades que proporcionem aos nossos alunos a segurança necessária para escrever corretamente e para defender suas idéias. RESUMO: A produção textual apresenta resultados insatisfatórios na escola, pois os alunos têm dificuldades em elaborar textos estruturados e transmitir suas idéias. Interessados em verificar o processo ensino-aprendizagem da produção textual, observamos em textos de alunos os principais problemas ocorridos a fim de pesquisarmos atividades que auxiliassem na resolução destes. PALAVRAS-CHAVE: texto; funcional; problemas; atividades; solução. ANEXOS Redação Nº 1: O homem é bom e mau. O homem pode ser mal e bom ao mesmo tempo? Sim por que o homem bom faz varias coisas em favor dos outros mas quando os pessoas estão vendo mas quando não estão ele chinga ele bagunça e apronta no caso do garoto que fechou a torneira que estava vasando ele podia até ter o quebrado no caso da arvore que ele escreveu com canivete e podia ter a cortado por isso que não da para saber se a pessoa é boa ou ruin se eu emcontrar uma torneira vasando eu fecho, mas, se eu tiver que bagunçar eu bagunço e muito ainda mas quando é para ficar quieto eu fico por isso não é possivel saber se o homem pode ser bom e mal ao mesmo tempo mas eu acredito que sim. Redação Nº 2: “O homem é bom e mau” Muitas pessoas dizem: que o bem e o mau não podem existir na mesma pessoa. Pode sim! Basta olharmos p/nós mesmos. Fazermos uma analise de nossas vida, e veremos que o bem e o mau caminhão juntos; dentro de nós! Por ex: o homem faz campanha contra desmatamento, não à violência, não às drogas, não às queimadas as florestas e parques, não ao racismo, não dirigir alcóolisado, dizem não para uma juventude que não expõe suas idéias ao mundo etc... Mas como dizer não para tudo isso: não desmatar se o tráfico de madeira ainda existe e às claras, não a violência se os mesmos que falam não são os 1ºs a brigarem, não as drogas sendo que a fonte delas não se combatem os traficantes, não as queimadas sendo que fazem dos parques e florestas um simples cinzeiro, não ao racismo se tudo é restrito; empregos sem falar nas brincadeiras que magoam, não dirigir embriagado sendo que em todos os lugares vendem bebidas a menores e a quantidade não restrita; mas o que adiantaria se os adultos mesmo se embriagão e ainda dão bebidas aos menores de idades que a juventude tem que expor suas idéias sem limites mas o mundo não as compreendem e muito menos aceitão. Quem sabe se tudo isso e muito mais não existisse e outros mais o mau e o bem não caminhariam juntos!... Redação Nº 3: “O homem é bom e mau” As pessoas do mundo a maior parte é egoísta, ciumentas etc. mas porém são bons, pelo menos a parte que eu conheço. Tem pessoas que robam e matam quase a vida inteira, depois eles se converdem para igrejas e param de fazer o mal e o bem. Ou, que fazem o bem quase a vida inteira depois começam mexer com drogas, roubar, brigar com a familia, não arranja serviço para sustentar o vicio assim pega as coisas da casa para vender. O mundo é assim dá muitas voltas, um dia você e um cara rico e egoista que não dá nem resto de comida. Depois vira um pobre coitado que não tem onde morrar e oque comer. Então você tem que ser bom para as pessoas serem boas para você. Agora se você for mal as pessoas serão más para você. Redação Nº 4: O Homem é bom e mau Eu imagino que o bem e o mal, algumas vezes se coincide na mesma pessoa. Pois por exemplo: Algumas vezes à pessoa faz uma atitude muito gentil, boa todos o agradecem, porém a pessoa está fazendo um jogo para conquistar essa pessoa, para depois mostrar todo o seu rancor e seu ódio á ela. Algumas vezes também, á pessoa está calma, tranqüila, mas falou alguma coisa que ela não gostou, ela se irrita e acaba até fazendo o mal aos outros. 478 OS OBSTÁCULOS DA PRODUÇÃO TEXTUAL FUNCIONAL De acordo com o autor Voltaire “O mal tem asas, e o bem anda á passos de tartaruga”... E nessa frase entendo que ás pessoas que fazem o mal sempre consegue o que quer rapidamente, e á pessoa que está fazendo o bem nem sempre consegue o quer. Por isso á pessoa é boa, mas vê que não consegue o quer, acaba sendo má, e fazendo o mal aos outros para conseguir o que quer. Por isso o bem e o mau podem se coencidi na mesma pessoa. Porém neste texto o bem nem sempre vence o mal; chegue a sua própria conclusão. Redação Nº 5 : “O homem é bom e mau” O homem é um ser muito altivista, e realista dependendo das circunstâncias ele pode ser mal e bem, sua conciência comanda seu estado de espírito fazer uma atitude má e uma boa é tudo igual mas ao fazer o bem traz um certo bem estar ao corpo. Em uma pessoa o mal pode reinar com intensidade, ou vice-versa. Como já disse no começo para praticar uma ação má, é rápido demais, pode vir a satisfação e também o arrependimento. Mas para praticar uma atitude como o bem, é muito demorada como os políticos, que só prometem. Agindo assim um homem pode ser mal e bom ao mesmo tempo, pois, uma vez que ele é real com suas atitudes traz uma série de responsabilidades. Você já observou aquela pessoa que só pratica o mal é convencida? E aquela que só faz o bem é simpático e realista? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais – 5ª a 8ª Séries. Brasília [s.n], 1998. FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. FIORIN, José Luis; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto – Leitura e Redação. São Paulo: Ática, 2.000. INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto – Curso prático de leitura e redação. São Paulo: Scipione, 1991. MELO, Luiz Roberto Dias de; PAGNAN, Celso Leopoldo. Prática de texto: leitura e redação. São Paulo: W3, 2.000. PÉCORA, Alcir. Problemas de redação. São Paulo: Martins Fontes, 1983. PELLEGRINI, Denise. Ler e escrever de verdade. In: Revista Nova Escola. Setembro/2001. Nº 145. Págs. 12 a 19. Editora Abril. VIANA, Antonio Carlos (coord.) Roteiro de redação – Lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 1999.