Entrevista com a Professora Márcia de Assis Ferreira
por: Cinara Monteiro Cortez, em Agosto de 2011.
A professora Márcia de Assis Ferreira é mestre em Estudos da Linguagem pela PUC-Rio e possui larga
experiência em preparação de alunos para o vestibular. Entrevistada em agosto de 2011, Márcia traz suas
percepções sobre o ensino de Língua Portuguesa para o ensino médio, através de sua experiência e fala
em como pensa suas aulas em relação às diferentes demandas que a escola e a vida trazem.
1. Fale um pouco sobre a sua inserção, formação e experiência profissional no ensino de Língua
Portuguesa e/ou de Literatura com foco no ensino médio.
Comecei no Ensino Médio de fora dele, ou seja, comecei a trabalhar com alunos pré-vestibulandos em um
curso livre de redação. Mas lá era um espaço ideal de educação. Quando fui para uma escola atuar com
alunos de 1ª e 2ª séries do EM, levei um choque. Os mesmo alunos que via interessados, participativos, nas
aulas do curso livre, tinham ou um comportamento apático ou “bagunceiro” na sala de aula da escola. Foi
quando cheguei à conclusão de que a instituição escola e suas práticas acabam direcionando grande parte
desse comportamento nos jovens.
2. Quais são os objetivos do ensino médio a partir de seu ponto de vista e da equipe pedagógica de
sua escola? Como avaliar tais objetivos?
Preparar o aluno para o vestibular. Minha avaliação não é positiva, pois penso que o vestibular não deveria
ser o foco, mas apenas uma etapa para a qual a boa formação ao longo de um Ensino Médio que
proporcionasse aos alunos um contato maior com a cultura real e não a “imaginária” o prepararia
naturalmente.
3. Você utiliza os “Parâmetros Curriulares Nacionais: ensino médio” (1999) elaborados pelo MEC?
Utiliza também as “Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens, códigos e suas
tecnologias” (2006)? Gostaria de fazer comentários sobre as diretrizes desses documentos para o
ensino médio?
Sim, mas tentando adaptar aos projetos pedagógicos das escolas, uma vez que nem todas têm em sua
proposta conteudista para o EM um percentual significativo do que os PCN propõem. Vejo de forma muito
positiva as diretrizes desses documentos. Creio que se as escolas conseguissem superar a tradição
prescritivista que ainda impera em relação ao ensino de LP , adotando muitas das práticas sugeridas nos
PCN, os alunos ganhariam em qualidade no que diz respeito à proficiência no uso da língua materna.
4. Que tipo de material didático você utiliza nas suas aulas? O material foi preparado por você ou
adota algum livro didático? Que tipo de material a escola oferece? Todos os alunos têm acesso ao
material didático? Poderia fazer comentários sobre o material didático utilizado?
Uso o livro didático (afinal, se a escola adota, se os pais compram – no caso de escolas particulares –
temos que usar mesmo não gostando dele quando acontece). Preparo muito material Faço seleção de
textos que circulam na mídia e textos literários para preparar exercícios e avaliações. Não vejo o material
didático como ruim em si mesmo. Se o professor puder previamente selecionar os pontos que julgar
significativos do material didático, acrescentando com trabalhos de sua autoria a mistura pode ser bem
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proveitosa. As escolas oferecem, em geral, os livros que estão em circulação oferecidos pelas grandes
editoras (no caso do ensino público há os que o governo encaminha para as escolas). Sim, todos os alunos
têm acesso seja porque compram seja porque ganham da escola.
5. Você procura diversificar o material didático? De que forma e com que frequência? Quais são os
seus critérios para a escolha desse material?
Seguramente, até porque eu mesma não conseguiria ficar trabalhando com o mesmo material o tempo
todo. Procuro usar outras formas tais como internet, slides, filmes, música, livros de arte (pois são meios
de aprendizagem também). A frequência é quase semanal. Os critérios que uso são em geral associados à
relação daquilo que apresento com os conteúdos que precisam ser aprendidos.
6. Você participa de algum projeto específico na instituição em que atua? Há projetos de outros
professores? Pode nos falar um pouco sobre os projetos?
Em uma escola sim. Há o projeto que norteia todo ano letivo e o tema geral do projeto é trabalhado em
cada série com seleção de recursos que o professor julgar importantes/necessários. Nas escolas públicas
também há muitos projetos (leitura e escrita, laboratório de ciências, cinema na escola).
7. Você encontra dificuldades no trabalho em equipe? Há dificuldades específicas na região em que
atua como professor? Poderia comentar?
A grande dificuldade diz respeito a falta de tempo de todos os professores para encontros em que se
possam fazer trocas contínuas. Isso se limita a 02 vezes por ano ou talvez nem isso dependendo da escola.
8. Você faz uso de novas tecnologias em suas aulas? Você e seus alunos possuem acesso às novas
tecnologias? De que tipo? Considera importante o uso de novas tecnologias? Os recursos são próprios
ou disponibilizados por sua escola? Como? Com que objetivos? Quais são os benefícios e as
dificuldades encontradas?
Como já disse anteriormente faço bastante uso das novas tecnologias e tanto na escola pública quanto na
particular os recursos estão disponíveis embora na pública nem sempre funcionem. Os benefícios são
muitos já que a era digital exige esse tipo de letramento e a utilização das TICs é o que pode proporcionar
tal letramento efetivamente. Vejo, no entanto, alunos ainda despreparados para essa aprendizagem no
sentido que confundem as atividades propostas com lazer. Mas é tudo novo ainda e é possível que isso
mude logo. Eu e os alunos temos acesso sim.
9. Ao planejar suas aulas, você considera importante a preparação do seu aluno para o mercado de
trabalho? Acredita que esta seja uma das funções da escola? Em caso afirmativo, de que forma suas
atividades como professor de língua portuguesa e literatura podem contribuir para o futuro
mercado de trabalho do aluno?
Não penso nessa relação imediata entre minhas aulas e o mercado de trabalho. É possível que uma das
funções da escola seja essa, mas não considero a principal. Vejo como uma preparação para lidar com o
mundo em geral e não com o mercado de trabalho especificamente. O modo como esse aluno lidará com
esse mercado posteriormente pode ser influenciado por sua vivência escolar, mas apenas como mais um
elemento. Afinal, há a convivência familiar e a social. Além disso, vejo médicos, engenheiros,
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administradores que passaram pela literatura sem lhe dar nenhuma importância. Igualmente pelas aulas
de LP. Portanto, não vejo uma relação direta entre sucesso no mundo do trabalho e aulas de LP.
10. Você enfrenta dificuldades junto aos alunos? De que natureza?
Basicamente a disciplinar e a de falta de interesse pelas atividades propostas.
11. Quais são as principais dificuldades encontradas em sua experiência profissional? Há
dificuldades específicas do ensino médio? Pode fazer comentários sobre as experiências?
Como disse na resposta acima, a disciplinar e falta de interesse. No Ensino Médio há muito conteúdo que
penso serem desnecessários e a própria obrigatoriedade de o aluno ter que assistir a todas as aulas acaba
tornando grande parte da frequência apenas um protocolo. Uma reforma é necessária. Creio que seria
interessante se oferecerem cursos mais relacionados às experiências atuais da juventude, com liberdade
de escolha de inscrição nos cursos que a escola ofereceria por semestres. Talvez tornasse o Ensino Médio
mais significativo para essa tão importante fase da vida
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