Protecção de menores sabia do caso de Rafael Criança de Benfica encontrada sinalizada e esperava que o tribunal o entregasse ao pai -se à da perseguição DINAMARGATO [email protected] 0 caso de Rafael Pereira estava sinalizado pela Comissão de Protecção de Crianças e jovens e nasceu associado ao do primo. Este último foi entregue a uma instituição, em Castelo Branco. Rafael, que fazia 12 anos em Novembro, apareceu morto no quarto, no sábado. "Foi o acompanhamento do agregado familiar do primo que suscitou suspeita da Comissão acerca das condições daquele agregado familiar", revelou Nélia Alexandre, presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens da zona norte de Lisboa. Afinal, viviam sob o mesmo tecto, num apartamento no bairro do Charquinho, Benfica, Lisboa. A queixa enviada pela Comissão em Abril último para o Tribunal de Família e Menores ainda aguardava audiência. Ontem, feita a autópsia, o corpo foi entregue aos pais, e o DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa) instaurou um inquérito para que se possa apurar das circunstâncias da estranha morte da criança, encontrada suspensa ao pé do roupeiro. Segundo apurou o JN, a tese da instabilidade morta no sábado estava familiar sobrepõe- de que o ado- lescente seria alvo na escola, o chamado "bullying", motivado pelo tamanho das orelhas. Sara Lança, tia em segundo grau e madrinha do pai, ontem em visita para apoiar a família, fez notar a espera, ansiosa, de Rafael Pereira, por uma decisão judicial a favor do pai, Paulo Pereira. Rafael queria muito voltar para o Alentejo, onde tinha vivido em miúdo. O progenitor, ex-alcoólico, reside com nova companheira em Santo Amador, concelho de Moura. Os pais de Rafael estavam separados. O corpo do adolescente foi encontrado alegadamente pela mãe, às nove horas de sábado, preso por uma corrente às malas de viagem arrumadas em cima do armário. Os pés da criança estavam a escassos centímetros do chão. Na noite anterior, segundo a vizinhança, ouviu-se barulho além do habitual vindo do segundo andar do prédio, onde vivia com a mãe e duas tias. No bairro, apontava-se ontem a má relação de Rafael com o "padrasto", namorado da mãe, e as ausências desta. "Ela não estava cá, ia dormir com o namorado para fora". Ainda consternados com a des- crição da tragédia, os moradores lançavam perguntas: questionavam o facto de a criança estar sozinha às nove da manhã, e procuravam explicação para o facto de Rafael estar vestido com um fato de surf, cuja existência era alegadamente desconhecida pela mãe. Rafael Pereira era um miúdo problemático devidamente identificado. A sua hiperactividade cedo se manifestou e o seu acompanhamento clínico, por uma pedopsiquiatra do Hospital de Santa Maria, era conhecido dos professores do 5. e ano da Escola Pedro Santarém. Tinha chegado referenàquele estabelecimento ciado como aluno a precisar de ensino especial e continuava a ser acompanhado. Ultimamente, os desacatos em consequência do comportamento desobediente ganharam fama. Os professores notaram-lhe modos mais reactivos: em vez de vítima, começou a colocar-se no papel de agressor. Neste ano lectivo, Primo que vivia na mesma casa foi retirado à família e está numa instituição a mãe foi chamada à escola três vezes, a pedido da directora de turma. Numa delas, a professora chegou a oferecer-se para ajudar na cirurgia às orelhas, um dos motivos da fraca auto-estima do jovem, segundo a docente, e razão para a perseguição dos colegas. O pai, contou a tia, resolveu fazer o funeral hoje em Santo Amador. ¦ "Um rapaz um bocado mexido que era um doce" ? Sara Lança fala sobretudo da vontade que Rafael tinha de voltara viver com o pai. A tia e madrinha de Paulo Pereira, o pai da criança, deduz, um tanto a medo, que o miúdo tinha problemas com a mãe, embora não saiba exactamente quais. Também não sabia com quem vivia a criança. Soube pelos jornais que partilhava o mesmo tecto com duas tias. Do adolescente, conta que "era um doce". Tinha conhecimento da sua hiperactividade, "era um bocado mexido, era", mas desvalo- riza-a. Na família, diz que ninguém consegue perceber o que terá motivado a tragédia do último sábado de manhã. 0 seu sobrinho ainda não tinha assimilado o que estava a passar-se. Não encontra explicação com sentido. Entrada da Escola Pedro Santarém, onde o adolescente frequentava o quinto ano na área de ensino especial