HyacintheRigaud, Luís XIV, 1701. Óleo sobre tela, 277x194 cm, Museu do Louvre, Paris, França Escola Secundária 3EB Dr. Jorge Augusto Correia – Tavira Ano lectivo 2011/2012 11º Ano Curso de Línguas e Humanidades Disciplina de História A Módulo 4 – Unidade 2 Professor José Couto ANALISAR UM DOCUMENTO ICONOGRÁFICO Documento 12, Manual, p. 41 1. Apresente o documento. A imagem reproduz um quadro/uma pintura a óleo de HyacintheRigaud, de grandes dimensões, que retrata o rei absolutista francês Luís XIV. Executada em 1701 para ser colocada no Salão de Apolo do Palácio de Versalhes, a obra encontra-se hoje exposta no Museu do Louvre. 2. Forneça alguns elementos sobre o retratado e sobre o autor da obra. O retratado, Luís XIV, foi rei de França entre 1652 e 1715 e é o paradigma do monarca absoluto: de forma ilimitada, ele concentrou em si toda a autoridade do Estado, legislando, executando, julgando e dispensando o auxílio das outras forças políticas (Estados Gerais), garantiu a ordem social estabelecida, promoveu a sociedade de corte e a encenação do poder, transformando a corte no espelho do poder. Por seu lado, o autor, HyacintheRigaud (1659-1743) foi um pintor barroco francês que ficou conhecido pelos inúmeros retratos que executou de Luís XIV (em particular deste) e de membros da realeza e da nobreza europeias. 3. Em que contexto é representado o rei? Ao encomendar este retrato, Luís XIV quis ser imortalizado como encarnação da grandeza e do esplendor da monarquia absoluta francesa, fazendo-se representar numa pose e enquadrado numa encenação que se tornaria típica entre os estadistas absolutos da Europa. 4. Descreva, em traços gerais, o quadro. No quadro, toda a composição é dominada pela figura solitária de Luís XIV, representado num misto de idealização (corpo jovem) e de realismo (face envelhecida). No centro, o rei, voltado para o observador (artista/público),apresenta-se de peruca, enverga luxuosas vestes (manto, colants e sapatos de salto alto), é acompanhado dos símbolos sagrados do poder (manto, colar, ceptro, espada, coroa, mão da justiça) e tem por trás um cenário grandioso, constituído por uma coluna clássica e uma cortina de veludo, bordada a ouro. Escola Secundária 3EB Dr. Jorge Augusto Correia – Tavira Ano lectivo 2011/2012 11º Ano Curso de Línguas e Humanidades Disciplina de História A Módulo 4 – Unidade 2 Professor José Couto 5. Que imagem do retratado nos é transmitida? Que elementos a veiculam? O quadro transmite, de imediato, a posição proeminente do monarca. O retrato é eloquente quanto à posição elevada (a mais alta do Estado e da hierarquia social) do retratado. A imagem de Luís XIV consegue ofuscar o próprio cenário que é, já de si, grandioso. Os elementos que transmitem essa imagem são: A cortina de veludo e a coluna clássica, que fazem lembrar os retratos principescos do Renascimento; Todo o enquadramento, que se agiganta em luxo e imponência; A pose estática e altiva, o semblante impassível, de olhar fixo, que refletem a autoridade (o “ar” de grandeza e majestade); As insígnias sagradas do poder – o manto de veludo azul (reservado aos sacerdotes no Antigo Testamento) com flores-de-lis bordadas a ouro, símbolo solar e emblema dos reis de França; ocolar da Ordem do Espírito Santo, que era a mais prestigiada ordem de cavalaria de França; a espada de França, representação do poder militar; o ceptro, emblema do condutor do povo; a coroa, símbolo máximo do poder; a mão da justiça, sinal do poder de condenar ou perdoar as acções dos homens. 6. Avalie o contributo do documento para a compreensão histórica da época. A obra reflete claramente o papel central/elevado assumido pelo monarca absoluto – cabeça do Estado e vértice da hierarquia social – nos séculos XVII e XVIII, cujo poder era sagrado (monarquia de direito divino, segundo a qual o rei apenas tinha de prestar contas dos seus atos a Deus), paternal (o rei devia satisfazer as necessidades do seu povo como se fosse um pai), absoluto (supremo, livre da prestação de contas), sujeito à razão (à sabedoria do rei), e que devia assegurar a ordem e garantir os privilégios do clero e da nobreza. A pintura mostra que na época o poder se manifestava externamente, e de forma explícita, através de convenções, símbolos e ostentação, exibindo os monarcas absolutos, com orgulho e vaidade, os símbolos da sua condição. Em síntese, o quadro de Rigaud é o retrato de um homem protegido por uma condição superior, plena de dignidade e poder, mas é sobretudo o retrato de uma época e, em particular, da encenação do poder – ritualização quotidiana dos atos régios, de modo a endeusar a pessoa real e a submeter as ordens sociais –característica do regime de monarquia absoluta.