Biblioteca Marxista em Galego / Primeira Linha em Rede /
James Connolly:
“Socialismo e nacionalismo irlandês” / 1ª ediçom digital em galegoportuguês de Setembro de 2006
www.primeiralinha.org
Socialismo e nacionalismo irlandês
James Connolly
Primeira ediçom: L’Irlande Libre, Paris, 1897
A vida pública da Irlanda tem estado, geralmente, tam identificada com a luita pola
emancipaçom política que, como era de esperar, o aspecto económico da situaçom só
recebeu por parte dos nossos historiadores e homens públicos umha atençom muito escassa.
O socialismo científico é baseado na verdade contida nesta proposiçom de Karl Marx: “A
dependência económica dos trabalhadores em relaçom aos monopolistas dos meios de
produçom é o alicerce da escravatura em todas as suas formas, o motivo de quase toda a
miséria social, o crime moderno, a degradaçom mental e a dependência política”. Assim,
esse falso exagero das formas puramente políticas que envolveu na Irlanda a luita pola
liberdade, deve parecer aos socialistas um inexplicável erro por parte de um povo tam
duramente esmagado como o irlandês.
Mas o erro é mais aparente do que real.
Apesar da reaccionária atitude dos nossos líderes políticos, a grande maioria do povo irlandês
sabe muito bem que, umha vez conquistada essa liberdade política pola qual luitam com
tanto ardor, teria que ser utilizada como um meio de redençom social antes de que o seu
bem-estar fosse garantido.
Apesar do ocasional exagero dos seus resultados imediatos, devemos lembrar que, graças a
luitarem decididamente, como figérom por esse definido objectivo político, os irlandeses
estám a trabalhar nas linhas da actuaçom estabelecidas polo socialismo moderno com umha
condiçom indispensável para o sucesso.
Desde o abandono do desafortunado insurreccionismo dos primeiros socialistas, que
concentravam exclusivamente as suas esperanças no triunfo final de umha sublevaçom com
luita nas barricadas, o socialismo moderno, confiando no método mais lento, mas mais
seguro das urnas, dirigiu a atençom dos seus partidários para a conquista pacífica das forças
do governo em interesse do ideal revolucionário.
A chegada do socialismo só pode acontecer quando o proletariado revolucionário, em
possessom das forças organizadas da naçom –o poder político do governo–, consiga
construir umha organizaçom social consoante o avanço natural do desenvolvimento
industrial.
De outra parte, o esforço cooperativo apolítico deve infalivelmente sucumbir face à oposiçom
das classes privilegiadas, entrincheiradas detrás das muralhas da lei e o monopólio. Este é o
motivo de que, ainda sendo de um ponto de vista económico profundamente conservador, o
nacionalista irlandês, inclusive com o seu falso raciocínio, seja um agente activo da
regeneraçom social, na medida em que tenciona dotar de plenos poderes sobre o próprio
destino um povo que, na prática, é governado em interesse de umha aristocracia feudal.
A secçom do exército socialista a que eu pertenço, o Partido Socialista Republicano Irlandês,
nunca quer ocultar a sua hostilidade para com aqueles partidos puramente burgueses que
dirigem na actualidade a política irlandesa.
Mas, ao inscrevermos na nossa bandeira um ideal a que eles também rendem homenagem
de palavra, nom temos intençom de aderirmos a um movimento que pode desvalorizar a
bandeira do socialismo revolucionário.
Os partidos socialistas de França oponhem-se aos meramente republicanos sem deixarem de
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amar a república. Do mesmo jeito, o Partido Socialista Republicano Irlandês quer a
independência da naçom ao tempo que rejeita adaptaçons aos métodos ou o recurso a
argumentos dos nacionalistas chauvinistas.
Como socialistas, nom estamos imbuídos de ódio nacional ou racial pola lembrança de que a
ordem política e social sob a qual vivemos foi imposta aos nossos pais com a espada; de
que, durante setecentos anos, a Irlanda resistiu esta injusta dominaçom estrangeira, de que
a fame, a peste e o mal governo figérom desta ilha ocidental quase que um deserto e
espalhárom os nossos compatriotas exilados por todo o mundo.
A relaçom de factos que acabei de mencionar nom pode hoje em dia inspirar ou dirigir as
energias políticas da classe operária militante da Irlanda; nom é esse o alicerce da nossa
resoluçom de libertar a Irlanda do jugo do Império Británico. Reconhecemos, antes, que
durante todos esses séculos, a grande maioria do povo británico nom tivo existência política
nengumha, que Inglaterra estava política e socialment aterrorizada por umha classe
governante numericamente pequena; que as atrocidades que fôrom perpetradas contra a
Irlanda som apenas imputáveis à ambiçom sem escrúpulos dessa classe, cobiçosa de se
enriquecer à custa de homens indefesos; que, até a actual geraçom, a grande maioria do
povo inglês viu negada a voz no governo do seu próprio país; que é, portanto,
manifestamente injusto acusar o povo inglês dos passados delitos do seu governo; e que, no
pior dos casos, só poderíamos acusá-lo de umha apatia criminosa por se submeter à
escravatura e permitir que o convertessem num instrumento de coerçom para a
escravizaçom de outros. Umha acusaçom tam aplicável ao presente quanto ao passado.
Mas, embora evitemos basear a nossa acçom política numha hostilidade nacional herdada e
desejemos antes a camaradagem com os trabalhadores ingleses do que olhá-los com ódio, e
queiramos, com os nossos precursores, os Irlandeses Unidos de 1798, que os nossos
ressentimentos fiquem enterrados com os ossos dos nossos predecessores, há que dizer que
nom há partido na Irlanda que acentue mais, como princípio essencial da sua fé política, a
necessidade de separar a Irlanda de Inglaterra e de a tornar absolutamente independente. A
olhos dos ignorantes e dos insensatos, tal pode parecer inconsistente, mas tenho certeza que
os nossos irmaos socialistas de França reconhecerám logo a justiça do raciocínio sobre o qual
essa política assenta.
1. Achamos que “a emancipaçom económica do trabalhador requer a conversom dos meios
de produçom em propriedade comum da sociedade”. Traduzido para a linguagem comum e
para a prática da política actual, isto ensina-nos que o necessário caminho a percorrermos
para o estabelecimento do socialismo requer a passagem dos meios de produçom das maos
dos proprietários privados para as das organizaçons públicas directamente responsáveis polo
conjunto da comunidade.
2. O socialismo tenciona, pois, em interesse da democracia, fortalecer a acçom popular em
todas as organizaçons públicas.
3. As organizaçons representativas na Irlanda expressarám mais directamente a vontade do
povo irlandês do que se essas organizaçons residirem em Inglaterra.
Umha república irlandesa será, pois, a depositária natural do poder popular, a arma da
emancipaçom popular, o único poder que mostrará à plena luz do dia todos esses
antagonismos de classe e todos esses marcos económicos que hoje ficam escurecidos polas
brêtemas do patriotismo burguês.
Nisto nom há umha pitada que seja de chauvinismo. Desejamos é manter com o povo inglês
as mesmas relaçons políticas que com os povos francês, alemám ou de qualquer outro país;
a maior amizade possível, mas também a mais estrita independência. Irmaos, mas nom
companheiros de cama. Desta maneira, inspirados por um outro ideal, guiados pola razom e
nom pola tradiçom, seguindo um curso diferente, o Partido Socialista Republicano Irlandês
chega à mesma conclusom que o mais irreconciliável nacionalista. O poder governamental de
Inglaterra sobre nós deve ser destruído, as ligaçons que nos unem a ela devem ser rotas.
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Tendo aprendido da história que todos os movimentos burgueses acabam num pacto, que os
burgueses revolucionários de hoje se convertem nos conservadores de amanhá, os
socialistas irlandeses rejeitam negar ou perder a sua identidade com aqueles que apenas
entendem parcialmente o problema da liberdade. Só tentam a aliança e a amizade de
aqueles homens que, amando a liberdade em si própria, nom temem seguir a sua bandeira
quando é alçada polas maos da classe operária, que é a que mais precisa dela. Os seus
amigos som aqueles que nom duvidariam em seguir esse estandarte de liberdade e em
consagrar as suas vidas ao serviço dela, até se tal levasse à terrível arbitragem da espada.
L’Irlande Libre, Paris, 1897
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NASCIMENTO DE UM EXRCITO