163 EM DEFESA DO PO VO POV OFAIÉ OF AIÉ Forasteiro: Tire os pés da nossa terra! Mandato Participativo e Popular do Vereador Carlito CADERNO DE EDUCAÇÃO POPULAR- Todos sabemos que o Ministério Público Federal conseguiu ainda que os exproprietários assinassem termo de desistência das ações contra a União e Funai em favor da Portaria 264/92, permitindo o ingresso célere e pacífico dos indígenas Ofaié no território que lhes pertencia. Todos sabemos que os recursos pagos aos ex-proprietários, na ordem de 1,6 milhão, foi intermediado pela Associação Indígena Ofaié, com a anuência da Funai e Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, e cuja contabilidade nunca submeteu-se ao princípio da publicidade, o que a comunidade indígena e seu entorno se ressente devido a nãotransparência das ações da entidade. Cumpre a Funai, portanto, o papel constitucional de não deixar que forasteiros, ainda hoje saqueiem o que restou do espolio dos antigos caçadores e coletores da margem direita do rio Paraná. Se algo urgente não for feito, os Ofaié estarão –não por sua vontade e desejo—, no rumo da extinção definitiva, o que representará para nós uma nódoa no currículo de nossas existências, e para Funai, a expressão mais fiel da irresponsabilidade oficial do Estado. O que imploro, nessa oportunidade, em favor dos Ofaié, é um pingo de respeito para com a vida desse povo, pois minhas lágrimas já secaram e os mortos, mais de vinte, já cansei de enterrar. Que se garanta àqueles Ofaié que desejam permanecer fiel aos seus costumes, na terra de seus antepassados, no córrego Sete e córrego São Paulo, o direito e a proteção constitucional que o Estado lhes é devedor. Foto: Mãe e filha Ofaié, Bodoquena-MS, Dutra/1986 Copyright @ Carlos Alberto dos Santos Dutra - Vereador Carlito - Caderno de Educação Popular nº 163 - Brasilândia-MS, 26 de Maio de 2008. - E-mail: [email protected] indígenas e representantes dos órgãos que hoje prestam serviços junto aos Ofaié, o que iria auxiliar a comunidade a lidar com essas questões complexas impostas pela nossa sociedade. Porém, ainda há tempo para ele rever a matéria e pensarmos juntos uma fórmula, democrática e participativa, para retardar a extinção encomendada dos Ofaié. Será que nós, com toda a nossa tecnologia, com todo o nosso conhecimento, e nossas políticas públicas, não seremos capaz de criar estruturas de governança que garantam a sobrevivência desse diminuto povo, que precisa tanto do nosso apoio? Será que nossas práticas religiosas e assistenciais apregoadas nos templos e planilhas de projetos, não serão capaz de ir além da ajuda superficial e passageira —uma vez que não descem à essência do homem— , e oportunizar espaço físico e teologal àqueles que insistem em ser e existir diante da face de Deus, carentes de todo apoio e solidariedade? Por que a Funai até hoje, ainda não averbou no cartório de imóveis de Brasilândia as escrituras públicas da área adquirida pela Cesp –os 605 hectares que integram a área maior de 1.937,62 hectares declarados como Terra Indígena pelo Ministério da Justiça— que foi entregue ao órgão oficial? Todos sabemos que através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foram indenizados os antigos proprietários da área apossada pelos indígenas em troca das benfeitorias ali existentes, de modo que aqueles sitiantes pudessem deixar a área mais rapidamente, pondo termo a um processo que se arrastava na Justiça há mais de 9 anos. EM DEFESA DO PO VO OF AIÉ POV OFAIÉ Na sessão do dia 26 de maio último, apresentei na Câmara Municipal local, indicação verbal solicitando envio de expediente ao Presidente da FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO – FUNAI, de BrasíliaDF, Sr. Márcio Meira, para que tome providências em favor da Aldeia Ofaié Xavante, do município de Brasilândia-MS, de modo a garantir que os indígenas que ali vivem não venham a perder parte do território onde se encontram, pois estão sendo ameaçados pela ação de um fazendeiro paulista que está pressionando membros da comunidade Ofaié a deixar suas terras, pois, segundo eles, o forasteiro já teria adquirido um gleba de terra dentro da Aldeia Ofaié. Inicialmente cabe lembrar ao Presidente da Funai que o Legislativo de Brasilândia, através deste Vereador já se manifestou sobre o tema em 13 de agosto de 2007, solicitando providências para esse problema e outros internos da aldeia, e que agora voltam com força total. Desnecessário dizer que nosso pedido não mereceu a atenção esperada da Funai. Preocupado à época, o Legislativo brasilandense buscou levar ao conhecimento da Imprensa e de diversas autoridades federais o risco de extinção que esse pequeno grupo indígena vinha padecendo e sofrendo com a pressão de não-indígenas sobre membros da comunidade para que arrendassem suas terras para a criação de gado. Pouco a pouco os indígenas cederam e o arrendamento correu frouxo e impune, sob o beneplácito da Funai, por um longo tempo. Agora o quadro se agravou, pois, em vez de arrendar as terras, passaram agora —o chamado homem branco—, a alimentar a idéia de adquirir de vez as terras conquistadas pelos últimos indígenas Ofaié do Estado de Mato Grosso do Sul, ato que pode deixar essa comunidade novamente desterrada. A aldeia Ofaié, localizada a 10 km da sede do município de Brasilândia, hoje é o pomo da discórdia intestina entre indígenas e não-indígenas forasteiros que se aproveitam da omissão da Funai e da Polícia Federal que deveria zelar pelos índios, e passam a ditar as regras dentro da Aldeia apossando-se do patrimônio Ofaié que, aos poucos, vai sendo dilapidado. O que se percebe é que as lideranças indígenas não conseguem fazer frente ao avanço avassalador do capitalismo e o mundo do mercado que aos poucos vai lhes corroendo os valores. Aliás, são eles os primeiros a ser sistematicamente cooptados e alimentandos no sonho de vida fácil na periferia da cidade. São instigados na máxima de que tudo é passível de troca, como no escambo eqüitativo de outrora. É-lhes incutido que podem vender o último pedaço histórico que lhe restou do imenso território que possuíam, como fórmula de felicidade capaz de lhes arremessar para os braços da modernidade urbana e etílica que os consome. A situação chega a ponto de famílias serem ameaçadas à luz do dia por um fazendeiro paulista da cidade de Penápolis, que, acompanhado de advogado, diz ter comprado parte da aldeia e exige construir cercas sobre o lote adquirido ameaçando e usando de violência contra pacíficos agricultores, chefes de família Ofaié. E isso está semeando temor na comunidade, sobretudo junto às famílias indígenas mais tradicionais que não têm a quem recorrer, pois a autoridade oficial não lhes dá guarida. Têm medo de serem mortos como no passado foram barbaramente assassinados os antigos troncos Ofaié pelas levas de bandeirantes paulistas. Participei como antropólogo colaborador do Grupo de Trabalho Interministerial da Funai, quando houve a demarcação da Terra Indígena Ofaié. A terra onde os Ofaié se encontram hoje é Terra Indígena e, nos termos do art. 231, parágrafo 4º da Constituição Federal, elas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. A Portaria Declaratória nº 264, do Ministério da Justiça, de 28 de maio de 1992, publicada no Diário Oficial da União de 29 de maio de 1992 declarou “de posse permanente indígena para efeito de demarcação a Área Indígena Ofaié Xavante, com superfície aproximada de 1.937,62 hectares”. Vender qualquer pedaço dessa terra, portanto, é desnecessário dizer, configura-se loucura e ofensa à Constituição. Dessa forma, preocupado com a sobrevivência da comunidade Ofaié, o Legislativo municipal não pode se furtar do dever histórico e político de posicionar-se firme em favor da dignidade dessas últimas, pouco mais de 20 famílias indígenas, legítimos brasileiros e primeiros habitantes da nossa querida Brasilândia que também merecem respeito. O Prefeito de Brasilândia votou contra pedido meu para que fosse criado um Conselho de Política Indigenista, formado por