Começo dirigir-vos em nome do GUE/NGL e do PCP as nossas calorosas saudações e agradecimentos pelo vosso convite. É com grande prazer que aqui estamos a participar neste debate sobre uma questão de enorme importância para a segurança e estabilidade da região. Já vem de longe o apoio do PCP, do Akel e de diversas forças políticas do GUE/NGL à causa palestiniana. No ano em curso, que é, como sabemos o ano internacional da solidariedade com o povo palestiniano, realizámos no seio do GUE/NGL uma importante visita aos territórios palestinianos no seguimento da agressão bárbara do exército israelita à Faixa de Gaza. Esta viagem teve dois objetivos importantes. Em primeiro lugar, demos o nosso contributo para a denúncia dos massacres e dos crimes de guerra que ali foram cometidos. Em segundo lugar pressionámos a União Europeia e os seus países no sentido de alterar o seu posicionamento ambíguo face a este conflito. Refirase que, apesar de todos os dados factuais que apontam para crimes hediondos que foram cometidos contra a população indefesa da Faixa de Gaza, a UE não foi capaz de aprovar uma resolução que condenasse de forma inequívoca a parte agressora, ou seja, o Estado de Israel e seu exército. Na viagem que mencionei, tentámos entrar na Faixa de Gaza. Lamentavelmente, as autoridades Israelitas não nos deram a necessária autorização, o que demonstra a sua má consciência. Contudo, ao longo dos quatro dias intensos que duraram a nossa estadia, contactámos um vasto número de pessoas e organizações Israelitas e Palestinianas. Reunimos com organizações progressistas Israelitas que defendem os direitos civis, entre as quais aquela que agrupa militares que recusam combater nos territórios palestinianos. Reunimos igualmente com membros do partido trabalhista e do Hadash (comunista judeu e árabe) do parlamento de Israel (Knesset) que nos testemunharam da enorme pressão a que estão sujeitos numa conjuntura fortemente dominada pela direita e ultra ortodoxa. Refira-se que no atual governo fazem parte três ministros que residem em colonatos instalados em territórios palestinianos. Do lado palestiniano, para além das visitas aos muitos locais onde pudemos falar diretamente com o povo, visitamos igualmente um conjunto diversificado de organizações políticas e administrativas. Fomos recebidos por diversos presidentes de Câmara e Governadores regionais, vistamos hospitais onde se encontram em tratamento vítimas dos bombardeamentos a Gaza. Reunimos com as várias forças que compõem a OLP e tivemos um encontro com primeiros ministro do Governo de Unidade Nacional que conta com o apoio do Fatah e do Hamas. Como é fácil deduzir, foram muitos os contactos realizados. E nestes contactos, as atrocidades cometidas em Gaza mereceram um amplo repúdio que foi crescendo à medida em que se ia fazendo o apuramento dos efeitos e das circunstâncias em que ocorreram os massacres. Os horrores foram de tal ordem que motivaram a realização de uma inédita manifestação de 10 mil pessoas em Tel-Aviv contra a agressão. Conforme foi dito, esta agressão, pela sua dimensão e crueldade, traz à memória os piores horrores vividos durante a segunda guerra mundial. Esta agressão não pode ser considerada como apenas mais um episódio numa guerra de ocupação que se arrasta desde 1947. Devemos exigir e tudo fazer para que os criminosos sejam julgados e condenados pelos inúmeros crimes contra a humanidade que ali forma cometidos e que violam todas as convenções internacionais subscritas que por Israel, quer pelos Estados Unidos e pelos países da União Europeia. Para além de Jerusalém e Ramallah, estivemos também em Belém e Hebrom. Nestas localidades fomos sempre recebidos pelas autoridades locais e contactámos igualmente com as populações. A sensação que fica destes contactos é de um povo culto e com grande consciência politica. Um povo que compreende claramente a natureza do processo de ocupação bem como a importância de uma resposta politica de resistência firme mas não violenta. Quando visitámos Hebrom, vimos uma cidade sitiada, onde existem 104 postos de controlo onde de forma arbitrária, os palestinianos são revistados e obrigados a esperar longas horas para percorrer distâncias de escassas centenas de metros. Em algumas ruas, os colonos ocupam os primeiros pisos das casas de onde deitam de forma ostensiva lixo para baixo, obrigando os palestinianos a usar redes para evitar que as ruas se transformem num lixeira (ver foto). O governo de Israel, não contente com a agressão militar a Gaza, procura boicotar por todos os meios as negociações de paz, persistindo na instalação de novos colonatos em territórios palestinianos. Na visita que realizámos, pudemos observar o que representam os colonatos. O roubo descarado das melhores terras, das reservas de água, do retalho do território condicionado de forma intolerável a mobilidade de um povo no seu próprio território. Mas por outro lado, tivemos igualmente a oportunidade de contactar com um povo culto e com grande maturidade política. Um povo que entende a atual correlação de forças em campo e que não cede às provocações do regime de Israel. A estratégia de Israel é clara. Pretende apostar na provocação, levando a reações violentas e desesperadas da população, justificando assim mais agressões possivelmente ainda mais violentas. Nos contatos que tivemos, pudemos também perceber a profunda desilusão do povo palestino com o papel da UE e dos seus países. Esta desilusão baseia-se na compreensão de que a resolução desta ocupação só cessará quando os Estados Unidos e a União Europeia deixaram de suportar o Estados de Israel e a sua política de ocupação e extermínio com o seu apoio político, militar e financeiros. Queremos aqui denunciar a profunda hipocrisia da ONU e do seu secretáriogeral, Ban Ki-moon perante a mortandade de Gaza. Mais do que lágrimas piedosas são necessárias medidas políticas ativas de condenação inequívoca dos crimes cometidos. Medidas que levem à condenação dos crimes e condenação dos seus responsáveis. Pela parte do PCP, continuamos a considerar que não há solução para a estabilização de todo o médio oriente sem a resolução do conflito israelopalestiniano, incluindo o reconhecimento do Estado Palestiniano com as fronteiras de 1967 e com capital em Jerusalém Leste. Tanto um como outro radicam do imperialismo. São as ingerências das grandes potências capitalistas com os EU à cabeça que alimentam os conflitos e impedem uma solução pacífica e global para a região. Camaradas, mais do que nunca, teremos de manter a pressão internacional sobre o governo de Israel, denunciando a cumplicidade de grande parte dos nossos governos face aos crimes cometidos em territórios Palestinianos. Temos de denunciar o acordo de associação entre a UE e Israel, tendo em conta a violação do seu artigo 2º, bem como a suspensão de todos os programas de cooperação militares. Temos de exigir a proibição da venda de armas produzidas na UE a Israel. Temos de exigir um boicote da UE aos produtos fabricados em territórios palestinianos ocupados ilegalmente por Israel. Em Portugal, várias organizações têm manifestado a sua solidariedade com o povo palestiniano, procurando igualmente mobilizar a população portuguesa para esta causa. No próximo dia 29 de Novembro, dia internacional de solidariedade com o povo Palestino, estão já marcadas um conjunto de iniciativas por diversas organizações entre as quais a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, o Movimento pelos direitos do povo palestino e pela paz no médio oriente, o Movimento Democrático de Mulheres e outros. Para além de concentrações diversas, iremos ter um seminário dedicado à resistência palestiniano onde mais uma vez iremos debater esta questão, numa tão ampla manifestação de solidariedade com o povo palestiniano e à sua luta. Termino, reiterando os nossos agradecimento e a nossa satisfação em estar aqui. Reafirmamos a nossa disponibilidade em continuar a luta pelo reconhecimento do Estado Palestiniano, pelo fim da agressão e pela criação de condições que viabilizem um horizonte de desenvolvimento e bem-estar para o povo Palestiniano, martirizado por mais de 6 décadas de ocupação.