MEMÓRIA, CRENÇAS, EXPERIÊNCIAS E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DE VOCABULÁRIO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS) POR ADULTOS LONGEVOS Mariney Pereira CONCEIÇÃO UnB – Universidade de Brasília Mailce Borges MOTA UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina RESUMO Este estudo de natureza qualitativa investiga a cognição de adultos longevos, revelando importantes relações entre a memória, experiências, crenças e estratégias de aprendizagem utilizadas por alunos da Terceira Idade para lidar com a tarefa de aprender vocabulário em língua estrangeira (inglês). Palavras-chave: aprendizagem. cognição de adultos longevos; crenças; estratégias de ABSTRACT This qualitative study investigates the cognition of elderly students, revealing significant relationships between memory, experiences, beliefs and learning strategies used to handle the task of learning vocabulary in a foreign language (English). Key-words: elderly citizens; beliefs; language learning strategies. Introdução Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 96 Nos últimos anos, alguns estudiosos (CARTER, 1998; SCHMITT, 2000) têm procurado analisar a aprendizagem de vocabulário de forma mais abrangente, buscando investigar, através de uma perspectiva integrada de pesquisa, aspectos cognitivos e afetivos que poderiam influenciar a aprendizagem de itens lexicais, dentre os quais a motivação, estilos individuais de aprendizagem e as estratégias utilizadas pelos alunos. Dentre essas estratégias, a consulta ao dicionário tem sido especialmente apontada como uma estratégia eficaz no que se refere à aprendizagem de vocabulário (HULSTIJN, HOLLANDER & GREIDANUS, 1996). Os estudos na área de aprendizagem de vocabulário através do dicionário (BENSOUSSAN, SIM, & WEISS, 1984), entretanto, têm se limitado a investigar o produto, a retenção de itens lexicais na memória, deixando de considerar o processo na aprendizagem. Além disso, uma outra deficiência em relação a essas pesquisas residiria no fato de que a grande maioria dos estudos na área apontam os benefícios da utilização do dicionário para a retenção de palavras na memória de curto prazo, gerando uma lacuna no que se refere às contribuições do uso dessa estratégia para a retenção por um período maior de tempo. Neste estudo, propomos uma discussão acerca da importância do vocabulário na aprendizagem de língua estrangeira (LE). Numa perspectiva abrangente de investigação desse importante aspecto na aprendizagem de uma língua, abordamos questões como o papel da memória na aprendizagem de vocabulário, crenças e experiências de aprendizagem de vocabulário e estratégias utilizadas para a aprendizagem de itens lexicais. Um aspecto de grande relevância, entretanto, torna a discussão a respeito do vocabulário aqui proposta especial: o contexto das reflexões apresentadas envolvem a aprendizagem de vocabulário por adultos longevos. Segundo Schmitt (2000), o processo de aprendizagem de vocabulário no processo de aprendizagem de LE é ainda uma espécie de mistério. No entanto, segundo o autor, uma coisa a respeito da qual podemos estar certos é que as palavras não são instantaneamente adquiridas, pelo menos não por adultos aprendendo uma segunda língua. Conforme dados da United Nations Statistics Division1, o número de pessoas com idade acima de sessenta anos no mundo passará de 590 milhões no ano 2000, para 1.100 milhões no ano 2025. Esses dados apontam para a necessidade cada vez mais urgente do estabelecimento de bases sociais que se adaptem a este novo perfil demográfico mundial. A Organização das Nações Unidas, através do International Plan of Action on Ageing2, conclama os países ao desenvolvimento de ações no sentido de educar e 1 Cf. página oficial da Organização das Nações Unidas na Internet, url : www.un.org 2 Resolução 47/05 da Assembléia Geral das Nações Unidas, 1999, url : www.un.org Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 97 informar o público, desmistificando o estereótipos da velhice e promovendo a participação ativa das pessoas de mais idade na sociedade. O plano recomenda, entre diversas medidas a serem tomadas frente a esta nova realidade mundial, o estabelecimento de políticas e programas educacionais de cooperação internacional que incentivem o desenvolvimento de pesquisas na área. Apresentamos, neste artigo, os resultados de uma investigação acerca da cognição de adultos longevos, envolvendo aspectos como memória, experiências, crenças e estratégias de aprendizagem de vocabulário em LE (inglês). O estudo, que se circunscreve em uma perspectiva integrada de investigação da aprendizagem de vocabulário que leva em consideração os aspectos cognitivos e sociais na aprendizagem. Compreendendo a aprendizagem como um processo social, que ocorre dentro de um contexto social (WILLIAMS & BURDEN, 1999), propomos, neste trabalho, uma investigação da aprendizagem de vocabulário por adultos longevos, na qual as experiências de aprendizagem de LE dos participantes, suas crenças a respeito do papel da memória e as estratégias para a aprendizagem de vocabulário são consideradas. Os seguintes objetivos foram estabelecidos neste estudo: 1)levantar relatos das experiências de aprendizagem de LE (inglês) de adultos longevos; 2)identificar as crenças de aprendizagem dos alunos nessa faixa etária; 3)investigar as estratégias de aprendizagem por eles utilizadas na aprendizagem de vocabulário;4)analisar a retenção de itens lexicais na memória dos participantes. Este artigo está organizado em quatro seções. Na seção inicial, apresentamos a fundamentação do estudo, discorrendo acerca do papel da memória, experiências, crenças e estratégias na aprendizagem de vocabulário em LE. Discutimos, também, nessa seção, questões relacionadas à aprendizagem de adultos longevos. Nas seções seguintes, apresentamos a metodologia da pesquisa, a discussão e análise dos dados, e, finalmente, as conclusões do estudo. Fundamentação Teórica Para Nation (1990), o vocabulário de uma língua diz respeito às palavras daquela língua. Alguns autores, entretanto, fazem diferença entre léxico e vocabulário, entendendo léxico como o conjunto das palavras de uma língua e vocabulário como uma parte do léxico que representaria uma área de conhecimento (LEFFA, 2000). Várias questões dificultam essa definição, como, por exemplo, as várias nuances de significado que uma Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 98 palavra pode possuir ou a fusão de duas ou mais palavras para expressar um único significado (DUBOIS et al, 1993). Neste trabalho, consideramos palavra como uma unidade de língua independente, que possui significado (NATION, 1990). Os termos item lexical e palavra são usados com o mesmo sentido, já que, de acordo com Lewis (1993), um item lexical é definido como uma palavra – uma unidade independente, utilizada como uma unidade mínima para determinados propósitos sintáticos – ou, como define Nation (op. Cit.), qualquer item que funcione como uma unidade no vocabulário de uma língua. Nessa mesma perspectiva, léxico e vocabulário são utilizados aqui com o mesmo sentido, referindo-se ao conjunto de palavras de uma língua. Segundo Zimmerman (1997:17), o ensino e a aprendizagem de vocabulário têm sido desvalorizados na área de aquisição de segunda língua. Nas palavras do autor, Até recentemente [...] pouca ênfase tem sido conferida à aquisição de vocabulário; apesar de o léxico constituir um aspecto central na aquisição e uso de uma língua, o ensino de vocabulário não tem constituído uma prioridade na pesquisa em aquisição de segunda língua 3. A partir da década de 70, no entanto, um interesse crescente pelo léxico passa a delinear importantes mudanças teóricas e práticas em se tratando do ensino e aprendizagem de vocabulário (CARTER, 1998). A importância do vocabulário no processo de aquisição de uma língua torna-se consenso entre os pesquisadores de SLA (HUCKIN & COADY, 1999; SCHMITT, 1999, 2000) e o vocabulário, antes negligenciado, é hoje visto como um aspecto central na pesquisa em aquisição de segunda língua. No Brasil, vários autores têm também se dedicado ao tema, abordando questões como o papel do léxico na compreensão em leitura em LE (SCARAMUCCI, 1995b), aspectos externos e internos da aquisição lexical (LEFFA, 2000), o papel do dicionário na aprendizagem de línguas (COURA SOBRINHO, 2000), entre outros. Segundo Leffa (op. cit.), por exemplo, os recursos da informática, cada vez mais presentes no ensino de 3 “Until recently, however, there has been little emphasis placed on the acquisition of vocabulary; although the lexicon is arguably central to language acquisition and use, vocabulary instruction has not been a priority in second language acquisition research or methodology.” Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 99 línguas, transformaram o vocabulário em um dos aspectos mais importantes na aprendizagem de LE, revertendo a hierarquia dos componentes linguísticos na aprendizagem e subordinando aspectos como a sintaxe, a fonologia, a morfologia e a pragmática ao léxico. Pesquisas na área de ensino-aprendizagem de LE têm hoje apontado o aprendiz como sujeito ativo no processo de aprender, tornando imperativa a investigação dos processos cognitivos, psicológicos, afetivos e sociais que envolvem o processo de aprendizagem (EHRMAN, 1996; RILEY, 1997). Segundo O’Malley e Chamot (1990:01), as estratégias de aprendizagem seriam processos cognitivos complexos ou “maneiras especiais de processar a informação que otimizam a compreensão, aprendizagem ou retenção da informação”4. Oxford (1990:08) define estratégias de aprendizagem como “ações específicas do aprendiz para tornar a aprendizagem mais fácil, mais rápida, mais prazerosa, mais auto-direcionada, mais efetiva e mais facilmente aplicável a situações novas”5. Aprendizes que gerenciam a maneira como aprendem vocabulário, assumindo a responsabilidade pela sua aprendizagem, apresentam melhores resultados na aprendizagem de novos itens lexicais (SANAOUI, 1995). Alguns autores se dedicaram a identificar as estratégias utilizadas pelos alunos na compreensão e retenção do vocabulário em LE (SANAOUI, op. cit.; SCHMITT, 1997). Oxford (1990) descreve várias estratégias que ajudam a consolidar forma e significado na memória. Essas estratégias dividem-se em quatro categorias: criação de elos mentais, aplicação de imagens e sons, revisão e emprego de ação. Muitas das estratégias nessas categorias relacionam-se ou podem ser aplicadas ao vocabulário. O’Malley & Chamot (1990) também identificaram estratégias para a aprendizagem de vocabulário como memorizar listas de palavras, aprender as palavras em contexto, repetir, utilizar imagens mentais, utilizar o dicionário e revisar palavras aprendidas. Em um estudo voltado especificamente para as estratégias utilizadas na aprendizagem de vocabulário em LE, Schmitt (1997) constatou, através de um levantamento junto a 687 alunos de diversas nacionalidades, que, entre um total de 49 estratégias apontadas, a consulta ao dicionário bilíngue ficou em primeiro lugar, sendo apontada por 93,0% dos alunos. O dicionário monolíngue foi também apontado por 73,0% dos alunos. A estratégia de inferência na aprendizagem de vocabulário em LE tem recebido também a 4 “[...]special ways of processing information that enhance comprehension, learning, or retention of the information.” 5 “[ ...]specific actions taken by the learner to make learning easier, faster, more enjoyable, more self directed, more effective, and more transferrable to new situations.” Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 100 atenção de alguns autores (GRACE, 1998; NATION & COADY, 1988). Segundo Nation & Coady (op. cit.), essa estratégia envolveria o uso de conhecimento e experiência anterior para chegar a conclusões a respeito do significado da palavra, seguindo alguns passos que incluiriam: identificar a palavra desconhecida, utilizar o contexto, dividir a palavra em partes e checar o significado da palavra no dicionário (NATION & COADY, 1988). Grace (op. cit.) ressalta a importância da estratégia de inferência, destacando que o processo de elaboração envolvido no uso da estratégia contribui para a retenção das palavras. Conforme a autora, “A inferência do significado das palavras leva a uma maior retenção e parece requerer um processamento mais elaborado” (GRACE, 1998:535)6. A autora reitera, entretanto, que, para que haja uma maior retenção através do uso da estratégia de inferência, seria necessário que o aprendiz checasse o significado da palavra inferida, combinando as duas estratégias, inferência e consulta ao dicionário. Meireles (2003) investigou as estratégias utilizadas na aprendizagem de vocabulário entre alunos do ensino médio e superior no Brasil. O autor observou, em seu estudo, que as estratégias mais utilizadas eram tomar nota e repetir as palavras. Ainda, entre as estratégias mais utilizadas, destacou-se o uso do dicionário bilíngue, com uma média de 96,0% de uso entre alunos do ensino médio e superior. De fato, o uso da estratégia de consulta ao dicionário tem sido apontada por vários autores (GONZALEZ, 1999; KNIGHT, 1994) como uma importante estratégia para a aprendizagem de vocabulário. Segundo Riley (1997), o processo de seleção e uso de estratégias seria influenciado pelas crenças de aprendizagem de línguas. É importante salientar, entretanto, que o uso de estratégias poderia, também, determinar a formação de determinadas crenças (BARCELOS, 2000). Alguns autores (BARCELOS, 2001) ressaltam, inclusive, que as crenças não apenas influenciam as ações, mas as reflexões dos aprendizes em relação às suas experiências podem mudar e criar outras crenças. Barcelos (2000) apresenta um resumo dos diferentes termos e definições de crenças por diversos estudiosos da área de aprendizagem de LE, sendo estas compreendidas, por exemplo, como (a) crenças a respeito da maneira como a língua funciona e como é aprendida (ABRAHAM & VANN, 1987), (b) ideias que os alunos têm a respeito da língua e da aprendizagem de línguas (MILLER & GINSBERG, 1995) ou (c) um conjunto de representações, crenças e valores relacionados à aprendizagem que influenciam diretamente o comportamento dos alunos (RILEY, op. Cit.). Destacando que as crenças de aprendizes de línguas devem ser compreendidas dentro do contexto em que estão inseridas, Barcelos (2000) “Inferred word meanings lead to greater retention and seem to require deeper processing.” 6 Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 101 lembra que quaisquer investigações a respeito das crenças devem envolver as experiências dos aprendizes, suas interpretações dessas experiências, o contexto social e a maneira como os aprendizes utilizam suas crenças nas situações de aprendizagem. Miccoli (1997) utiliza o termo experiência para se referir a todas as experiências possíveis pelas quais o aprendiz passa no processo de aprender uma língua estrangeira. A autora classifica as experiências de aprendizagem em experiências diretas, que se referem às experiências vividas em sala de aula e indiretas, relativas às experiências externas à sala de aula, incluindo as experiências que os alunos tiveram no passado. A aprendizagem de língua estrangeira por adultos longevos Segundo Ellis (1994), a idade figura entre as variáveis mais discutidas em se tratando das diferenças individuais na aquisição de uma LE. Conforme destaca o autor, tais discussões concentram-se na forma como a idade influenciaria o sucesso e o ritmo na aquisição de línguas. Stern (1991: 301) também coloca a questão da idade em relação à aprendizagem de línguas como um dos assuntos mais discutidos na teoria de ensino de línguas. Na verdade, estudos na área demonstram, não a superioridade da criança, mas sim diferenças de ritmo e formas de aprendizagem entre adultos e crianças (SNOW & HOEFNAGEL-HOLE, 1978; STERN, 1991). O problema é que tais estudos, muitas vezes, apresentam um caráter empírico e reforçam a necessidade da realização de pesquisas no que se refere à construção do processo de aprendizagem de uma língua estrangeira por adultos e crianças mais especificamente. Em um estudo de caso de natureza qualitativo-interpretativista, Oliveira (2011) investigou as crenças e experiências de aprendizagem de língua estrangeira (inglês) de aprendizes da terceira idade no contexto de um programa de Educação de Jovens e Adultos de uma escola pública do interior do estado de Goiás. Para a coleta de dados, o autor utilizou um questionário, narrativas orais, narrativas visuais, observação de aulas com registro de notas de campo, diários do pesquisador e entrevistas semiestruturadas. Os resultados apontaram que existe uma inter-relação entre experiências e crenças formadas ao longo dos anos de vida escolar dos participantes. Destacam-se, ainda, atitudes passivas diante da aprendizagem, por parte dos alunos, segundo o autor, ancoradas em experiências de aprendizagem com métodos tradicionais de ensino. Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 102 Neste estudo, os termos adulto da terceira idade e adulto longevo serão usados de forma intercambiável ao nos referirmos a pessoas com idade acima de 60 anos de idade, conforme a Organização Mundial de Saúde. Metodologia da pesquisa Neste estudo, as abordagens qualitativa e quantitativa foram utilizadas, não como conceitos dicotômicos, mas complementares (SCARAMUCCI, 1995). A pesquisa qualitativa, segundo Larsen-Freeman & Long (1991), caracteriza-se por uma preocupação com o comportamento humano, a partir da referência do próprio indivíduo, através da utilização de questionários e entrevistas orais. Esse tipo de pesquisa, conhecida como naturalista ou interpretativa, considera a aquisição não como um fenômeno isolado, mas inserido nos contextos socioculturais em que ela ocorre (DAVIS, 1995). O cenário de realização e coleta de dados para a pesquisa foi um curso de língua inglesa oferecido por um programa permanente de extensão de um departamento de Letras de uma universidade federal do Distrito Federal. O Programa oferece cursos abertos de línguas destinados à formação continuada para alunos de diferentes áreas de conhecimento da comunidade universitária e da região do Distrito Federal, atendendo a uma demanda em torno de 14.000 alunos. O curso de inglês destinado ao público da terceira idade é destinado a pessoas com idade mínima de 60 anos que possuam pouco ou nenhum domínio da língua. Esse núcleo permite a matrícula de alunos que possuam mais de 55 anos, caso solicitem matrícula. Os conteúdos programáticos são os mesmos dos cursos sequenciais regulares, diferenciando-se apenas em relação ao público atendido. O curso de inglês é composto de quinze módulos (níveis), assim distribuídos: Iniciante 1 e 2, Básico 1, 2 e 3, Pré-Intermediário 1, 2 e 3, Intermediário 1, 2 e 3, Avançado 1, 2 e 3 e Conversação. Cada módulo (ou nível) compreende 45 horas-aula. Os participantes do estudo foram 05 adultos com idade média de 60 anos, alunos do Curso de Língua Inglesa para a Terceira Idade da Escola de Idiomas de uma universidade pública do Distrito Federal, cursando o nível pré-intermediário. Os seguintes instrumentos de coleta de dados foram utilizados na pesquisa: narrativa escrita, pré-teste de vocabulário, tarefa de leitura em língua inglesa, questionário retrospectivo, questionário escrito, inventário de depressão de Beck, questionário de informações clínicas e teste de retenção. Descrevemos, na sequência, cada um dos instrumentos utilizados. Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 103 A Narrativa Escrita Segundo Clandinin & Connelly (2000) e Johnson & Golombek (2000), as narrativas têm sido amplamente utilizadas na pesquisa qualitativa, como forma de acessar experiências de aprendizes e professores de línguas. Nesse sentido, o ato de narrar contribuiria para a estruturação da experiência humana, uma vez que pessoas organizam suas experiências e memórias principalmente através da narrativa. Para Barcelos (2001), o uso da narrativa possibilita a inferência das crenças através dos significados que o indivíduo atribui às suas experiências. Na coleta, foi explicitado aos participantes, oralmente e por escrito, que deveriam escrever um texto relatando sua experiência de aprendizagem de língua inglesa. A Narrativa Escrita (NE) foi o primeiro instrumento de coleta aplicado, pois desejávamos que a redação fosse livre e os alunos se sentissem à vontade para relatar aspectos que julgavam realmente importantes em sua história de aprendizagem, sem que fossem induzidos por quaisquer outros procedimentos ou questões que pudessem ser abordadas na aplicação dos demais instrumentos. O pré-teste de vocabulário Ainda na primeira semana da coleta de dados foi aplicado, no horário normal da aula, um pré-teste de vocabulário. A aplicação do teste teve o objetivo de verificar se os participantes conheciam itens lexicais contidos em um texto em língua inglesa a ser utilizado em uma tarefa de leitura que seria posteriormente aplicada como parte da coleta de dados. Para o pré-teste, foram selecionados itens de frequência menor de ocorrência na língua inglesa os quais poderiam, por ventura, ser consultados no dicionário pelos alunos, para uma posterior verificação da retenção desses itens lexicais na memória dos participantes após um período de três semanas. A tarefa de leitura em língua inglesa Na aula que se seguiu, foi aplicada uma tarefa de leitura (TL) em língua inglesa. Solicitou-se aos alunos que lessem um texto de aproximadamente 500 palavras em inglês e respondessem a questões de Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 104 compreensão relativas ao texto. A tarefa foi aplicada pelas pesquisadoras e, durante os momentos que antecederam a realização da tarefa, não foram feitas quaisquer observações a respeito do uso de estratégias ou consulta de itens lexicais desconhecidos no dicionário. Foi esclarecido aos participantes que a tarefa não seria avaliada para fins de promoção ou aprovação no curso e que os alunos poderiam trabalhar em seu próprio ritmo e que poderiam utilizar o dicionário, caso desejassem. Não foi estabelecido um limite de tempo para a realização da tarefa. Os participantes levaram, em média, 50 minutos para realizá-la. O texto utilizado na tarefa foi de nível de dificuldade compatível com o nível de dificuldade dos textos a serem lidos nas aulas do curso, contidos no livro didático adotado, sendo a adequação do texto julgada em relação a uma aula regular do curso. O texto continha, em sua maioria, palavras de alta frequência na língua inglesa, bem como algumas palavras de uma frequência menor, cujo significado poderia ser inferido ou consultado no dicionário pelos alunos. O assunto era de interesse ou conhecimento geral, tendo sido evitado tópico que pudesse constituir motivo de controvérsias como aqueles envolvendo política ou religião. O texto utilizado foi “I survived nine days alone in plane of death”, do livro Life Lines, da Editora Oxford, página 19. O Relato Retrospectivo Logo após a tarefa de leitura, os alunos realizaram um relato retrospectivo (RR) por escrito, no qual deveriam procurar descrever a forma como haviam realizado a tarefa de leitura, descrevendo sentimentos e dificuldades encontradas e procurando descrever, ainda, o que haviam feito ao se depararem com palavras desconhecidas no texto e se haviam utilizado alguma estratégia para aprenderem palavras através da realização da tarefa. O Questionário Retrospectivo Após a redação do Relato Retrospectivo, foi solicitado aos alunos que preenchessem um questionário por escrito (QR), incluindo questões relacionadas à realização da tarefa de leitura. O alunos deveriam registrar os procedimentos utilizados na leitura do texto, se haviam utilizado o dicionário durante a tarefa de leitura, o tipo de dicionário utilizado, o processo de utilização ou forma como haviam utilizado o dicionário e se teriam utilizado Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 105 estratégias antes e após a consulta ao dicionário. O alunos deveriam, ainda, apontar as palavras consultadas no dicionário bem como avaliar o seu desempenho na realização da tarefa de leitura. Na tabulação dos resultados do QR, as respostas foram agrupadas em categorias, tabulando-se o número de alunos que as responderam ou o número de vezes que cada tipo de resposta foi mencionada. O Questionário Escrito Na terceira semana da coleta, foi aplicado um questionário escrito (QE), com o objetivo de levantar as experiências de aprendizagem dos alunos e crenças em relação à aprendizagem de língua inglesa como um todo e em relação ao vocabulário e uso de estratégias. Foram levantados, ainda, através deste questionário, dados biográficos dos alunos, com o objetivo de traçar um perfil dos participantes, o que julgávamos ser de grande relevância, considerando-se o caráter da pesquisa a ser conduzida. O questionário foi elaborado pelas pesquisadoras e incluiu questões abertas e fechadas, sendo dividido em duas partes. A primeira parte do questionário incluiu o levantamento de dados que permitissem uma caracterização detalhada do perfil dos participantes, sua experiência anterior com a língua, incluindo questões abertas a respeito da aprendizagem, para o mapeamento das crenças. A segunda parte do questionário foi constituída de 11 afirmações envolvendo a aprendizagem da língua e estratégias para a aprendizagem de vocabulário. Os alunos deveriam indicar seu grau de concordância com as afirmações, utilizando uma escala do tipo Likert, como descrito a seguir: 1 indicaria concordância plena, 2) concordância, 3) neutralidade, 4) discordância e 5) discordância plena. É importante destacarmos, aqui, que temos consciência das várias questões envolvidas na coleta de dados sobre crenças por meio de questionários com escala Likert, considerando-se, como tem destacado Barcelos (2000, 2001) que os participantes podem ser induzidos em suas respostas ao se depararem com assertivas pré-determinadas. Soma-se a essa crítica, ainda, o fato de que tal tipo de instrumento não permita que o participante se expresse com liberdade, anulando-se, de certa forma, o caráter êmico da pesquisa. No entanto, é preciso ressaltar que esse foi apenas mais um dos instrumentos utilizados para a triangulação dos dados. O estudo primou pela utilização de diversos outros meios de coleta de dados, objetivando-se dar voz aos participantes, como narrativas, questionários e relatos retrospectivos. Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 106 O Inventário de Depressão de Beck e o Questinário de Informações Clínicas Como já dissemos, considerando-se a natureza qualitativa do estudo e por se tratar de uma pesquisa envolvendo participantes de uma faixa etária com idade mais avançada, ainda carente de estudos acerca do ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira, especialmente em se tratando de um aspecto específico, a aprendizagem de vocabulário, julgamos que seria essencial que se traçasse um perfil detalhado dos participantes. Dessa forma, decidimos incluir, entre os instrumentos de coleta de dados, um inventário de depressão. O inventário (ID), criado por Aaron Beck, consiste em um questionário de autorrelato com 21 itens de múltipla escolha, constituindose, atualmente, em um dos instrumentos mais utilizados para medir a severidade de episódios depressivos. Na versão aplicada neste estudo, o questionário é desenhado para pacientes acima de 13 anos de idade e é composto de diversos itens relacionados aos sintomas depressivos como desesperança, irritabilidade e cognições como culpa ou sentimentos de estar sendo punido, assim como sintomas físicos como fadiga, perda de peso e diminuição da libido. Neste inventário, para a avaliação do resultado, um valor de 0 a 3 é determinado para cada resposta e o resultado final é comparado a uma chave para determinar a severidade do quadro depressivo. Os valores básicos são: 0-9 indicam que o indivíduo não está deprimido, 1018 indicam depressão leve a moderada, 19-29 indicam depressão moderada a severa e 30-63 indicam depressão severa. Valores maiores indicam maior severidade dos sintomas depressivos. Nesse mesmo sentido, em busca de um maior detalhamento do perfil dos participantes envolvidos no estudo, acrescentamos, ainda, à coleta dos dados, um questionário de avaliação clínica (QAC), cujo objetivo foi mapear questões como a utilização de medicamentos antidepressivos, situações médicas graves ou diagnóstico de distúrbios. Os dois instrumentos foram aplicados no mesmo dia da aplicação do QE. O Teste de Retenção de Itens Lexicais Foi elaborado um teste com o objetivo de verificar a retenção de itens de vocabulário na memória dos participantes. O Teste de Retenção (TR) foi aplicado após 03 (três) semanas decorridas da realização da tarefa, procurando-se avaliar a retenção das palavras dentro de um período maior de tempo. Com base em Read (2000), segundo o qual conhecer uma palavra significa conhecer o seu valor semântico, e, como o objetivo do teste foi Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 107 verificar não o uso, mas sim o reconhecimento dos itens lexicais dentro do mesmo contexto em que estes apareceram no texto utilizado na tarefa de leitura, foi feita uma opção por um tipo de teste em que foi solicitado aos alunos que apontassem um sinônimo, tradução ou definição que pudesse explicitar o significado dos itens de vocabulário. No teste, foram incluídos os mesmos itens lexicais que os alunos apontaram haver consultado no dicionário quando do preenchimento do QR. As palavras, como mencionado anteriormente, estavam contidas no texto da tarefa de leitura e constituem palavras de menor frequência na língua inglesa. Os alunos consultaram um total de 22 palavras no dicionário, tendo sido as 12 palavras apontadas com maior frequência sido selecionadas para o TR. Os participantes deveriam demonstrar seu nível de conhecimento das palavras circulando as opções de 1 a 4, sendo 1) não me lembro de ter visto esta palavra antes, 2) já vi esta palavra antes mas não sei o que ela significa, 3) já vi esta palavra antes e acho que ela significa __________ e 4) eu conheço esta palavra e ela significa _______________. Para os itens 3 e 4 os participantes deveriam apresentar um sinônimo, definição ou tradução do item lexical. A Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada no período de um semestre de curso, durante o primeiro semestre de 2012. Foi aplicado, inicialmente, a NE, e, na sequência, o pré-teste de vocabulário. Na semana seguinte à aplicação do pré-teste de vocabulário, foi aplicada a tarefa de leitura em língua inglesa. Imediatamente após a realização da tarefa, os alunos redigiram o RR e responderam ao QR, registrando dados relacionados à realização da tarefa de leitura. Na sequência, foi aplicado o QE, por meio do qual foram levantados dados biográficos dos participantes, suas experiências, assim como crenças e dados envolvendo o uso de estratégias de aprendizagem. Na sequência, foram aplicados o Questionário de Depressão de Beck e o Questionário de Avaliação Clínica. Os instrumentos de coleta foram aplicados no horário das aulas, inseridos dentro das atividades normais do curso. Foi aplicado, ainda, , um teste de retenção, com o objetivo de verificar a aprendizagem dos itens de vocabulário consultados no dicionário pelos participantes. O teste foi aplicado após três semanas da realização da tarefa de leitura , uma vez que os estudos relacionados à aprendizagem de vocabulário em LE apresentam uma lacuna no que se refere à investigação da retenção de itens consultados na memória a longo prazo, priorizando a aplicação de testes de retenção imediatamente após a leitura do texto. Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 108 Procedimentos para a análise dos dados A tarefa inicial de análise em uma pesquisa qualitativa foi a organização, classificação e codificação dos dados. Essa categorização dos dados ocorreu a partir da classificação dos dados selecionados, delineandose unidades-base de análise. Os pesquisadores privilegiaram os itens que contemplavam o referencial base da pesquisa. As narrativas foram analisadas qualitativamente, buscando-se investigar as experiências, crenças e estratégias utilizadas pelos participantes. Os dados foram catalogados, inferindo-se as crenças dos alunos a partir de suas afirmações. As categorias levantadas a partir das narrativas e questões abertas nos questionários foram agrupadas e revistas, sendo a literatura a respeito do assunto observada, com o intuito de focalizar a análise, identificando-se e catalogando-se as experiências, as crenças e as estratégias utilizadas pelos alunos. Os resultados do TR foram tabulados quantitativamente, buscando-se verificar a retenção dos itens lexicais na memória dos aprendizes após consulta ao dicionário, considerando-se o prazo de três semanas. O TR foi corrigido, atribuindo-se um ponto para cada reposta correta, verificando-se a retenção dos itens consultados no dicionário, procurando-se estabelecer uma relação entre o uso da estratégia de consulta ao dicionário e a retenção desses itens. Discussão e análise dos dados Nesta seção, apresentamos os resultados do estudo. Iniciamos com o detalhamento do perfil dos participantes da pesquisa. Os cinco participantes deste estudo são brasileiros, sendo 04 do sexo feminino e 01 do sexo masculino, todos aposentados. Com exceção de um dos participantes que é divorciado, todos os demais são casados, tendo todos já viajado ao exterior e realizado no mínimo 02 anos de curso de inglês em outros cursos de idiomas anteriormente. Todos possuem nível superior, sendo um mestre. Os alunos relataram dedicar, em média, três horas à aprendizagem da língua, em atividades fora da sala de aula. Resultados do Inventário de Depressão de Beck e do Questionário de Avaliação Clínica Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 109 Os resultados apontaram uma média de 8,0 pontos no Inventário de Depressão de Beck, demonstrando que os participantes do estudo não apresentam um quadro depressivo. Como mencionado anteriormente, para a avaliação do resultado, um valor de 0 a 3 foi determinado para cada resposta dos participantes ao inventário e o resultado final foi comparado a uma chave para determinar a severidade de possíveis quadros depressivos. Os valores encontrados, dentro da escala de 0-9 indicam que os indivíduos não estão deprimidos. De fato, como destacaram no Questionário de Avaliação Clínica, os participantes não estão tomando medicamento para depressão. Ainda conforme os dados registrados no QAC, nenhum dos participantes do estudo foi diagnosticado como portador de algum distúrbio ou situação médica grave ou passou por cirurgia no cérebro, terapia eletroconvulsiva ou qualquer tipo de procedimento cerebral invasivo. Nenhum dos participantes relatou estar tomando medicamento para depressão. As experiências de aprendizagem Segundo Míccoli (2007), uma análise da experiência de aprendizagem dos alunos permite uma compreensão mais clara dos eventos no complexo processo de aprender uma língua estrangeira. Para a autora, a aprendizagem de uma língua deve ser compreendida como uma construção e interpretação das experiências de aprendizagem. A autora ressalta, ainda, que, conhecendo as experiências de aprendizagem de seus alunos, o professor pode desenvolver uma compreensão das questões com as quais estes se defrontam na aprendizagem, podendo assim, adaptar o ensino conforme as necessidades de seus alunos. Os dados coletados neste estudo demonstraram que a experiência de aprendizagem de língua inglesa dos participantes teve início nos tempos do colégio, como destacam os excertos a seguir, retirados das NEs. [1]“Comecei a estudar no antigo ginásio. Nesse período eu não gostava de estudar a língua.” Anne-NE [2]“ Naquela época, era difícil para mim lidar com a obrigatoriedade da matéria” Nina-NE [3]“Comecei a estudar a língua como a grande maioria, ainda na época do colégio.” Melvio-NE Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 110 [4]“A língua inglesa nem sempre me traz boas recordações; quando me lembro tenho calafrios!” Lucy-NE Como se pode observar, os excertos parecem sugerir um certo desconforto com a experiência de aprendizagem da língua. Há referências à obrigatoriedade do estudo e a recordações ruins em relação à experiência. A análise dos dados permitiu uma caracterização dessas experiências anteriores de aprendizagem, revelando as principais atividades realizadas em sala de aula à época, como demonstramos no quadro a seguir: Quadro 1 – Atividades em Sala de Aula na Experiência Anterior Atividades Exercícios gramaticais Memorização de listas de palavras Interpretação de textos Tradução de textos Repetição de frases Número de menções 5 2 2 1 1 A partir do quadro, podemos observar que as atividades relatadas com maior frequência pelos alunos coincidem com uma prática de ensino tradicional, possivelmente ligada ao Método Gramática e Tradução, vigente nos tempos em que os participantes do estudo frequentaram o colégio. Destacam-se, assim, atividades como exercícios gramaticais, memorização de listas de palavras, interpretação e tradução de textos. Em suas narrativas, os participantes destacaram, ainda, que, depois de anos dedicados ao trabalho e à criação de filhos, voltaram a estudar a língua após a aposentadoria, e, em especial, devido às viagens ao exterior, as quais se tornaram então possíveis, segundo eles, nesse momento de suas vidas. [5]“Desde o ano passado, então com 61 anos e aposentada, retornei o estudo e estou empenhada em aprender, principalmente para viajar.” Nina-NE [6]“Agora, após minha aposentadoria, resolvi recomeçar.” Melvio-NE [7]“Após me aposentar, comecei a assistir mais TV a cabo e, sem perceber, meu listening foi melhorando.” Lucy-NE Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 111 Em relação à aprendizagem da língua e às viagens para o exterior, alguns dos alunos destacaram: [8]“Viajei para o exterior e verifiquei a necessidade de conhecer mais a língua inglesa para ter mais habilidade e comunicação, além de mais liberdade para usufruir os lugares visitados” Nina-NE [9]“Eu quero viajar por todo o mundo e tenho visto que a língua inglesa é essencial.” Anne-NE Pudemos observar, ainda, um caso em que a interação com a família constituiu-se na grande motivação para o retorno ao estudo da língua: [10]“Um dia, uma de minhas filhas me disse que ela e o namorado dinamarquês passariam as festas de fim de ano conosco no Brasil. Voltei a procurar novamente por um curso de inglês com o objetivo de falar e entender muito bem e “a jato” [sic] afim de estabelecer um bom diálogo com meu futuro genro.” Lucy-NE Conceição (1999) registra também em seu estudo, o mesmo desejo dos alunos de buscar contato social por meio da aprendizagem da língua. Segundo a autora, isolados dentro do próprio ambiente familiar, os alunos procuravam se aproximar de outras pessoas. A família, os filhos e os netos, especialmente, pareciam ocupar um lugar de muita importância afetiva para os idosos. Justamente com estas pessoas que lhes eram caras é que os participantes da pesquisa, como demonstra a autora, procuravam encontrar, através da língua inglesa, uma oportunidade de contato social. A experiência de aprender juntamente com alunos da mesma faixa etária, de forma prazerosa e a aprendizagem como busca de contato social revelado em Conceição (1999), parece ser também uma realidade para Lucy, participante deste estudo: [11]“Preferi ficar com esta turma, pois ela tem um perfil de Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 112 interesses e vivências mais comuns aos meus; e afinal, meu objetivo não é o diploma, quero continuar tendo o contato com a língua, mas de uma forma gostosa, divertida, sem estresse, e enquanto isso, estou recordando coisas já estudadas, aprendendo coisas novas e me relacionando com pessoas interessantes.” Lucy-NE Os participantes parecem relacionar a volta aos estudos da língua com o cumprimento de um velho sonho. O desejo e a motivação para dar continuidade aos estudos se revelam nos excertos que apresentamos a seguir. Uma das alunas registra, inclusive que, mesmo tendo sido obrigada a interromper os estudos devido a dificuldades com a conciliação entre o trabalho e a criação de filhos, sabia que retornaria um dia. [12]“Tive dificuldades para conciliar os estudos, o trabalho e os três filhos adolescentes. Parei consciente de que retornaria.” Nina-NE [13]“Encontrei a oportunidade de realizar o velho sonho de aprender a língua inglesa.” Melvio-NE Destaca-se, assim, uma atitude positiva em relação à aprendizagem da língua e uma alegria em poder voltar à sala de aula: [14] “A alegria é poder voltar à sala de aula depois de tanto tempo e ver que ainda existe a possibilidade de aprender a língua inglesa, o que me deixa bastante motivado.” Melvio- NE Observa-se, ainda, um registro de motivação para a aprendizagem da língua relacionado ao mercado de trabalho para falantes de inglês durante a realização da Copa do Mundo no Brasil no ano de 2014: [15]“Pretendo voltar ao mercado de trabalho até a Copa do mundo de 2014, falando fluentemente o idioma.” Melvio-NE Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 113 É interessante também notar que os participantes da pesquisa demonstraram uma atitude positiva em relação à aprendizagem da língua, mesmo em face às limitações enfrentadas devido às degenerescências inerentes à idade: [16]“Eu gostaria de falar inglês fluentemente no futuro. Apesar de todas as minhas limitações, sou uma pessoa teimosa. Talvez algum dia eu possa falar a língua melhor do que agora.” Anne-NE Nem mesmo as limitações relacionadas à qualidade ruim dos equipamentos, dificultando a compreensão dos textos orais, já que a perda da audição é também um problema para os alunos nessa faixa de idade, parece desanimar os participantes: [17]“O equipamento de som é da pior qualidade, o que dificulta o entendimento dos diálogos. Mas ainda assim pretendo continuar no próximo semestre.” Isabel-QE O participante Mélvio faz menção à frustração que seria não conseguir acompanhar o curso, mas, ainda assim, sua fala revela a crença de que será capaz de aprender e o aluno toma para si mesmo essa responsabilidade. [18]“A frustração será se eu não conseguir acompanhar o desenvolvimento do curso, mas como depende só de mim, creio que conseguirei.” Melvio-NE Conceição (1999) destacou ter observado, nos dados obtidos em seu estudo, uma atitude à primeira vista, de certa forma negativa em relação à aprendizagem da língua, expressa na dúvida quanto à possibilidade de os alunos aprenderem a língua, em relatos como “Não sei se vou aprender” ou “Talvez eu não consiga ter um bom aproveitamento.” No entanto, como destaca a autora, ao mesmo tempo em que os alunos demonstravam, muitas vezes, um medo do insucesso, estes tomavam a aprendizagem como um Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 114 grande desafio, o qual, apesar das dificuldades, acreditavam capazes de vencer. Em relação às experiências de aprendizagem dos participantes deste estudo, pudemos notar, assim, que os alunos tomavam a aprendizagem como um desafio e é possível que, como registra Conceição (op. Cit), haja, entre alunos nesta faixa etária, uma preocupação com a imagem o que, como entendemos, pode estar ligado ao fato de que os adultos da terceira idade se vejam como exemplos para os mais jovens. Ainda, as cobranças que a sociedade impõe a esses indivíduos pode fazer com que se sintam na obrigação de mostrar que são capazes e devem ser aceitos por essa sociedade. É interessante notar, aqui, que estudos (Conceição, 2004) relativos a crenças em relação à responsabilidade da aprendizagem com participantes jovens demonstram que esses participantes imputam ao professor, e não a eles mesmos, essa responsabilidade, ao contrário do que faz Mélvio, participante deste estudo, como discutimos anteriormente. As crenças de aprendizagem de línguas Como destaca Barcelos (2001), as crenças devem ser inferidas a partir das falas dos participantes. Sendo assim, segundo a autora, é importante que estudos nessa área busquem cada vez mais priorizar o uso de instrumentos de coleta que deem voz aos alunos, permitindo que as crenças sejam mapeadas por meio dos registros coletados. Neste estudo, os dados relativos às crenças foram coletados a partir das narrativas e respostas a questões abertas no questionário escrito, assim como por meio de questionário fechado. Os dados que emergiram da coleta revelaram as crenças dos participantes, as quais foram agrupadas nas seguintes categorias: Crenças a respeito da importância da língua inglesa Em relação à importância da língua inglesa, os participantes destacaram: [19] “A língua inglesa é a língua mais importante do planeta.” Melvio-QE [20] “É essencial para todos”. Anne-QE Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 115 Emergiram também dos dados, crenças relativas aos aspectos mais difíceis na aprendizagem da língua inglesa. Alguns dos aspectos considerados mais difíceis pelos alunos foram: [21] “Entender o que os nativos falam.” Isabel-QE [22] “Ouvir e falar”. Anne-QE [23] “Memorização e audição”. Mélvio-QE [24] “Me expressar”. Lucy-QE [25] “Gramática – sempre tive dificuldade com ela. Erro principalmente quando escrevo. Acho que o fato de pensar em português, traduzir para escrever em inglês um texto, este acaba ficando bem “aportuguesado”. Lucy-QE Lucy aponta também essa mesma dificuldade com a gramática em sua narrativa escrita: [26] “Não me lembrava do quanto eu era deficiente com a gramática.” Lucy-QE A triangulação dos dados, considerando-se o questionário escrito e as narrativas é também possível com referência aos aspectos acima mencionados, como dificuldades em se expressar e pronunciar as palavras: [27] “No início da minha aprendizagem eu me sentia insegura, pois eu não pronunciava bem as palavras.” Anne – NE [28] “Gosto muito, embora os sons sejam difíceis de reproduzir”. Isabel-NE Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 116 Foram também registradas crenças em relação às dificuldades em aprender o idioma na terceira idade. Crenças relativas às dificuldades oriundas das degenerescências físicas comuns nessa idade, como a deficiência auditiva foram mencionadas: [29] “Uma das dificuldades encontradas na terceira idade é a capacidade auditiva.” Melvio-NE Crenças em relação às dificuldades nas relações e interações entre os alunos emergiram também dos dados, como podemos observar no relato escrito de Isabel: [30] “Demora-se um pouco mais para fazer amizades, pois as pessoas em geral são mais fechadas. Mas agora estamos mais próximos.” Isabel-NE O registro dessa crença pode, inicialmente, nos parecer prejudicial ao processo de aprendizagem de línguas nesse contexto, já que consideramos a aprendizagem como um processo não apenas cognitivo, mas também social, já que aprendemos na presença de outros. Há que se notar, no entanto, aqui, a mesma atitude positiva dos alunos frente ao desafio de aprender a língua, na afirmação da aluna Isabel: “Mas agora estamos mais próximos”. Observa-se, assim, que a dificuldade nas interações, inerentes à idade, segundo a aluna, não parece constituir um empecilho para a aprendizagem. Ao contrário, possivelmente, o desejo de aprender e até mesmo a possibilidade de contato social que a sala de aula representa para alunos já há algum tempo afastados do ensino formal, parecem ser fundamentais para a solução do impasse. Crenças em relação ao papel da memória na aprendizagem As crenças em relação ao papel da memória na aprendizagem da língua nos interessavam de forma especial neste estudo. Para Stevick (1976) e Smith (1982), o sistema de memória humano seria um processo complexo em que um grande número de estruturas cognitivas diferentes seriam responsáveis por diferentes formas de processamento e armazenamento de informações. Segundo esses autores, vários fatores podem atrasar ou impedir Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 117 o armazenamento de informações na memória e, ainda, as diferenças individuais no que se refere às habilidades relacionadas à memória devem ser consideradas. Para Thompson (1987), a questão da memória é central em se tratando da aprendizagem de LE. Contudo, segundo a autora, a maior parte das pesquisas relacionadas ao papel da memória na aprendizagem restringese à língua materna. Um dos estudos envolvendo a memória e a aprendizagem de LE é o trabalho de Oxford (1990), que menciona várias estratégias de memória utilizadas por aprendizes, sendo que a maioria dessas estratégias relaciona-se à consolidação de itens lexicais. A autora destaca a importância da memória na aprendizagem de LE, destacando que as estratégias de memória podem ser utilizadas na aprendizagem de vocabulário, um aspecto que, conforme reitera a autora, constituiria uma das grandes dificuldades para os aprendizes na aprendizagem de línguas. No contexto de ensino e aprendizagem de línguas por adultos longevos, o tema assume especial atenção. Como educadores, precisamos conhecer as crenças a respeito da memória que os alunos nessa faixa etária trazem para a sala de aula, buscando analisar a forma como essas crenças podem influenciar a aprendizagem desses alunos. Nesse sentido, apresentamos a seguir, alguns excertos retirados do questionário escrito, os quais revelam a importância que os participantes imputam à memória. Os alunos compararam sua memória à de alunos mais jovens: [31]“Temos uma memorização um tanto quanto reduzida, se comparada com a condição de um jovem aluno.” Melvio-QE Destacam, ainda, dificuldades em relação ao acompanhamento do curso, registrando que a memória não acompanha a rapidez com o que o curso é ministrado: [32] “A dificuldade maior é com a rapidez do curso e a constante mudança de páginas durante a aula. A gente acaba se perdendo. A matéria é dada muito depressa. Embora a professora seja boa é difícil acompanhar pois nossa memória não é boa.” Isabel-QE Os participantes registram, assim, que precisam se dedicar mais do que se dedicavam ao estudo da língua quando eram jovens, por considerarem Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 118 que sua memória não é mais tão boa, como demonstram as palavras da participante Isabel a seguir: [33] “Percebo que a minha memória não é tão boa como era e que tenho que estudar o dobro do que estudava quando era mais jovem. Mas sinto-me feliz em poder estudar inglês.” Isabel-QE Observa-se, no entanto, no excerto acima, a mesma atitude positiva em relação à aprendizagem, mesmo em face das dificuldades imputadas à memória com as quais os alunos parecem se deparar. Outros estudos (Conceição 1999), como já mencionamos aqui, reportam essa mesma dificuldade em relação à memória e, em reposta a essa dificuldade, uma atitude positiva em relação à capacidade de aprender, apesar das degenerescências impostas pela idade. O Questionário Escrito Como já destacamos, neste estudo, as crenças foram mapeadas por meio de instrumentos que dessem voz aos participantes, permitindo a eles que pudessem falar de suas crenças, expressando-se livremente durante a coleta dos dados. Foi também utilizado, para a triangulação dos dados, um questionário. O questionário fechado constituiu-se de questões abertas e fechadas, sendo o seu objetivo o levantamento de um perfil dos participantes, assim como um mapeamento de suas experiências de aprendizagem de língua inglesa e suas crenças. A última parte do questionário escrito, como já destacamos, apresentou 11 afirmações a respeito da aprendizagem da língua inglesa, incluindo questões relativas às crenças e estratégias de aprendizagem. Os alunos deveriam indicar seu grau de concordância com as afirmações, utilizando uma escala do tipo Likert. O primeiro passo na análise dos dados obtidos por meio do questionário foi a elaboração de uma lista com todas as respostas de todos os informantes. As respostas a cada uma das afirmações foram tabuladas e organizadas em categorias, conforme suas especificidades, registrando-se o grau de concordância do grupo como um todo, no caso das respostas às afirmações à escala Likert. Destacamos, na sequência, os resultados em relação a cada uma das assertivas: Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 119 A língua inglesa é uma língua difícil de aprender Entre os cinco participantes, dois destacaram concordar, dois se mostraram neutros e um destacou discordar, o que demonstra que o grupo não acredita, necessariamente, que a língua inglesa seja uma língua difícil de aprender. Talvez possa se observar aqui, mais uma vez, a atitude positiva dos participantes em relação à aprendizagem e sua capacidade de enfrentar esse desafio, mesmo na idade em que se encontram como já discutido aqui, corroborando o estudo de Conceição (1999), no qual os alunos também se mostraram bastante otimistas em relação à aprendizagem da língua, não apresentando a crença de que esta seria difícil de aprender. O aspecto mais difícil na aprendizagem de LE (inglês) O segundo grupo de afirmações referia-se a possíveis dificuldades na aprendizagem de uma língua, apontando dois aspectos principais, a gramática e o vocabulário. É interessante destacar que, tanto o aspecto vocabulário, quanto a gramática concentraram o maior número de respostas no nível 2. Os resultados mostram que os alunos acreditam que tanto o vocabulário, quanto a gramática constituem aspectos difíceis na aprendizagem de língua, como se pode observar nos relatos obtidos por meio das narrativas, nas quais alguns dos participantes apresentaram crenças de que a gramática seria realmente um aspecto difícil. A melhor maneira de aprender vocabulário Foram também incluídas no questionário questões relativas à melhor maneira de aprender vocabulário, incluindo afirmações contendo estratégias como: ler vários textos em inglês, utilizar um dicionário, repetir as palavras, pronunciar as palavras várias vezes, escrever frases com palavras novas, usar rimas para lembrar as palavras, traduzir e repetir e escrever palavras novas várias vezes. Em grupo de 11 afirmações incluindo diferentes estratégias para a aprendizagem de vocabulário em língua inglesa, apenas uma, a estratégia “usar rimas para lembrar as palavras” concentra respostas em três diferentes níveis (neutralidade, discordância e discordância plena), revelando a crença de que esta não seria uma estratégia eficaz para os participantes. As demais Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 120 estratégias, talvez por envolverem práticas comuns durante a experiência anterior de aprendizagem dos participantes, concentram as respostas nos níveis 1 e 2 (concordo e concordo plenamente). Os resultados relativos às crenças dos alunos longevos participantes deste estudo nos parecem bastante encorajadores. Os alunos apresentam uma percepção em relação à importância da aprendizagem da língua inglesa e não consideram que esta seja uma língua difícil de aprender. Há importantes registros em relação às dificuldades impostas pela memória, destacando-se dificuldades com o processo de audição e memorização e ainda com a gramática. As crenças relativas à melhor forma de se aprender vocabulário remontam as práticas de ensino do Método Gramática e Tradução vigente à época em que os participantes estudavam a língua. No entanto, uma atitude bastante positiva diante da aprendizagem se revela entre os participantes, presentes em relatos de dificuldades já sanadas, ou em relatos de que os alunos acreditam, de fato, que as dificuldades podem vir a ser vencidas. A análise dos dados aqui apresentada reforça nossa grande responsabilidade como linguistas aplicados e educadores interessados em possibilitar a experiência de aprendizagem de uma língua estrangeira e a inserção social, independente de idade ou faixa etária. Os avanços na medicina e melhoria na qualidade de vida dos brasileiros atestam sua volta aos bancos escolares o que nos desperta para a necessidade de que estejamos preparados para receber esses alunos nos diferentes âmbitos do ensino formal. Nesse sentido, o estudo das crenças de ensino e aprendizagem de línguas desses alunos trazem à tona suas expectativas, dificuldades e necessidades, contribuindo para a preparação de um currículo e um quadro de procedimentos de ensino que venham ao encontro das especificidades do processo de aprendizagem de uma língua nessa faixa etária. As estratégias utilizadas para a aprendizagem de vocabulário Para o mapeamento das estratégias utilizadas pelos participantes para aprender vocabulário foram utilizados os dados dos seguintes instrumentos: a narrativa escrita, o relato retrospectivo e os questionários escrito e retrospectivo. Em resposta à pergunta “O que você faz para aprender vocabulário?” os alunos apontaram, entre outras, as seguintes estratégias: assistir televisão, memorizar através de listas de palavras, associar a palavra com a imagem. Em relação ao uso dessa estratégia, Lucy destacou: Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 121 [34]“Só tem que ter cuidado para que a imagem corresponda à palavra, para não incorrer em erros.” Lucy QE A aluna Anne destacou agrupar as palavras em ordem alfabética, buscando formar palavras com as iniciais das palavras: [35]“Agrupo em ordem alfabética, formando uma palavra com as iniciais das mesmas”. Anne QE A aluna Isabel relatou utilizar o dicionário: [36] “Vou lendo um texto e quando não sei alguma palavra, olho o significado no dicionário.” Isabel –QE De fato, através dos dados coletados por meio do QR observamos que esta aluna relata haver consultado as palavras desconhecidas no dicionário e anotado seu significado. Dados revelam também que os alunos utilizam recursos tecnológicos para a aprendizagem, recorrendo à internet para a aprendizagem de vocabulário: [37] “Pesquiso na Internet”. Melvio- QE A utilização do dicionário bilíngue é também apontada pelos participantes: [38] “Tento entender as palavras no contexto. Quando não consigo, recorro ao dicionário bilíngue.” Nina- QE Embora se possa registrar o uso de estratégias mais tradicionais para a aprendizagem, o que possivelmente evoca práticas do ensino tradicional o qual permeou a experiência de aprendizagem dos alunos, como memorizar listas de palavras, observa-se, por outro lado, o uso de diferentes estratégias Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 122 como a associação da palavra com a imagem, agrupamento de palavras conforme suas iniciais e formação de palavras, assistir TV e mesmo recorrer à internet. Os alunos demonstram criatividade na aplicação das estratégias, revelando alguma inserção em práticas mais atuais em se tratando do uso de estratégias e o constante avanço das tecnologias de informação. Os resultados quanto à utilização de estratégias revelam também o desejo de aprender dos participantes e a busca da instrumentalização para esse desafio. Observa-se o esforço de alunos que tomam para si a responsabilidade pela sua própria aprendizagem, revelando um certo grau de gerenciamento do próprio processo de aprender uma língua nessa faixa etária, a despeito das dificuldades impostas pela idade. Nota-se, no entanto, que o uso de estratégias por parte dos participantes é ainda limitado, não tendo sido reportado um grande número de estratégias, o que demonstra a necessidade de estudos envolvendo participantes dessa faixa etária, focando o desenvolvimento do uso de estratégias para uma maior autonomia no processo de aprendizagem de alunos longevos. Ainda em relação às estratégias utilizadas pelos participantes, tendo em vista uma maior confiabilidade do estudo, foram também aplicados na pesquisa, logo após a realização da tarefa de leitura, um relato retrospectivo e um questionário retrospectivo. Apresentamos, na sequencia, os resultados do RR e QR. O Relato Retrospectivo Logo após a tarefa de leitura, os alunos realizaram um relato retrospectivo (RR) por escrito, no qual descreveram a forma como haviam realizado a tarefa de leitura, apontando o que haviam feito ao se depararem com palavras desconhecidas no texto e se haviam utilizado alguma estratégia para aprenderem palavras através da realização da tarefa. Os alunos destacaram haver realizado uma primeira leitura para compreensão geral do texto: [39] “Li o texto todo para tentar entendê-lo.” Nina- RR [40] “Eu li todo o texto e procurei entender sua essência.” Isabel- RR Destacaram, ainda, durante uma segunda leitura, haver assinalado, Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 123 no texto, as palavras por eles desconhecidas: [41] “Reli e marquei as palavras que não sabia.” Nina- RR As palavras foram então, segundo apontam os relatos, consultadas em um dicionário bilíngue. [42] “Consultei o dicionário para traduzir as palavras que não conhecia.” Isabel RR Observe-se que a participante utiliza o termo “traduzir”, evocando, mais uma vez, uma prática comum na metodologia provavelmente vigente quando ela estudava formalmente a língua. Colocar-se na situação do personagem principal do texto foi também uma estratégia apontada pelos participantes: [43] “Imaginei a cena e me senti profundamente tocada com o sofrimento de Monica. Fiquei impressionada com sua coragem e força para sobreviver.” Isabel – RR [44] “Procurei me colocar na situação em que encontrava Monica e como eu faria para sobreviver.” Melvio – RR [45] “Achei interessante o aprendizado e fiquei pensativa com relação ao fato ocorrido com Monica. Achei a minha vida boa.” Nina- RR A utilização desse tipo de estratégia nos parece uma especificidade no processo de aprendizagem dos participantes desta pesquisa, possivelmente devido à sua faixa etária, considerando que a identificação com a personagem principal de um texto em busca de uma melhor compreensão do mesmo não parece ser comumente reportada em estudos com aprendizes de uma faixa etária mais jovem. Ainda se referindo à sua dificuldade com a memória, os participantes destacaram que tinham que ler o texto várias vezes para compreendê-lo, o que foi citado por eles como uma dificuldade relativa à idade. Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 124 [46]“Li o texto várias vezes”. Melvio- RR [47]“É preciso fazer o exercício com tempo porque preciso fazer a leitura pelo menos 3 vezes.” Lucy-RR Foram ainda registrados relatos de busca das palavras desconhecidas na internet, destacando-se, inclusive, a busca de frases contendo as palavras desconhecidas para entender o texto. [48]“Busquei na Internet frases contendo as palavras desconhecidas para entender o texto.” Melvio-RR Outra estratégia mencionada foi a formação de frases com as palavras novas do texto: [49]“Usei a construção de frases utilizando palavras desconhecidas” Melvio- RR Uma análise dos dados coletados por meio do QR nos sugere que os participantes utilizaram um número limitado de estratégias para a aprendizagem de vocabulário, conforme sugere o estudo de Conceição (1999), que destaca o uso de poucas estratégias de aprendizagem pelos participantes. Foram reportadas pelos participantes deste estudo a leitura para compreensão geral do texto, assinalar palavras desconhecidas, busca da compreensão pelo contexto, utilização do dicionário, anotação das palavras desconhecidas, redação de frases com as novas palavras e colocar-se na posição do personagem principal do texto. O Questionário Retrospectivo Após a redação do Relato Retrospectivo, foi solicitado aos alunos que preenchessem um questionário escrito (QR), no qual os alunos registraram novamente, para triangulação dos dados, os procedimentos Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 125 utilizados na leitura do texto, se haviam utilizado o dicionário durante a tarefa de leitura, o tipo de dicionário utilizado, o processo de utilização ou forma como haviam utilizado o dicionário e se teriam utilizado estratégias antes e após a consulta ao dicionário. Os alunos apontaram, ainda, nesse questionário, as palavras consultadas no dicionário. Na tabulação dos resultados do QR, as respostas foram agrupadas em categorias, tabulando-se o número de alunos que as responderam ou o número de vezes que cada tipo de resposta foi mencionada. O quadro abaixo apresenta as estratégias utilizadas pelos participantes na realização da tarefa de leitura, conforme os resultados do QR. Quadro 2 - Estratégias utilizadas durante a realização da tarefa de leitura Estratégia Leitura para compreensão geral do texto Realizar várias leituras do texto Buscar o significado das palavras desconhecidas no dicionário Assinalar palavras desconhecidas Inferir o significado das palavras utilizando o contexto Anotar o significado das palavras consultadas Menções 5 5 5 4 2 1 Como se pode observar, os resultados do QR corroboram os resultados do RR, apontando um uso limitado de estratégias, destacando-se, inclusive, a necessidade de realização de várias leituras do texto, conforme já haviam destacado os participantes, ao se referirem, no RR, às dificuldades em relação à memória, inerentes à sua faixa etária. Tendo apresentado os dados relativos às crenças e estratégias de aprendizagem utilizadas pelos participantes, passamos aos dados referentes à retenção dos itens lexicais na memória. A retenção dos itens lexicais na memória Como foi explicitado estudo, na primeira semana da vocabulário. A aplicação do participantes conheciam itens na seção da metodologia adotada para o coleta de dados foi aplicado um pré-teste de teste teve o objetivo de verificar se os lexicais contidos em um texto em língua Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 126 inglesa o qual seria utilizado em uma tarefa de leitura a ser aplicada como parte da coleta de dados. Para o pré-teste, foram selecionados itens de menor frequência de ocorrência na língua inglesa os quais poderiam, porventura, vir a ser consultados no dicionário pelos alunos. Essas mesmas palavras foram utilizadas posteriormente para verificação da retenção dos itens lexicais na memória após um período de três semanas. As seguintes palavras foram selecionadas para o pré-teste: soggy, squeeze, lung, jaw, survive, aisle, fuselage, swamp, wreckage, tore, scoop, spare. A tabulação dos dados do pré-teste demonstrou que os alunos não tinham conhecimento de grande parte das palavras. Entre os doze itens de vocabulário, apenas três foram marcados pelos alunos. Os participantes apresentaram respostas corretas apenas para os seguintes itens lexicais, conforme quadro a seguir: Quadro 3 – Resultados do Pré-teste Itens lexicais Survive Fuselage Lung Número de respostas corretas 5 3 2 O teste de retenção No teste de retenção, os informantes deveriam marcar as respostas de 01 (um) a 04 (quatro), conforme a Tabela 3 a seguir, de acordo com seu conhecimento de cada uma das palavras testadas. O TR foi corrigido conforme proposto pelos autores (PARIBAKHT & WESCHE, 1993). Apresentamos, a seguir, as categorias do teste de retenção:1 – Não me lembro de ter visto esta palavra antes; 2 – Já vi esta palavra antes, mas não sei o que ela significa; 3 – Já vi esta palavra antes e acho que ela significa...; 4 – Eu conheço esta palavra. Ela significa... Foi atribuída a cada questão do teste (palavra testada), uma pontuação que variava de 01 (um) a 03 (três). Os pontos foram atribuídos conforme os seguintes critérios, determinados pelos autores (op. Cit.): 1 ponto - 1 ponto para a categoria 1(nunca vi esta palavra antes); 2 pontos - 2 pontos para a categoria 2 (já vi esta palavra antes, mas não sei o que ela significa) e para a categoria 3 (já vi esta palavra antes e acho que ela significa), quando os informantes declaravam que já haviam visto a palavra antes e achavam que conheciam seu significado, mas, no entanto, apontavam um significado incorreto; Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 127 3 pontos - 3 pontos para a categoria 3 (já vi esta palavra antes e acho que ela significa), quando os informantes realmente apontavam o significado correto da palavra e para a categoria 4 (eu conheço esta palavra e ela significa), quando o significado apontado era correto. Quando os informantes marcavam a categoria 4 (afirmando conhecer o significado da palavra, mas, contudo, apontavam um significado incorreto, a pontuação 2 era dada). Observa-se, nessa pontuação, que o teste avalia diferentes níveis de familiaridade com a palavra: o nível 1 indica nenhuma familiaridade, enquanto o nível 2 indica que há uma certa familiaridade com a palavra, mas o aluno não é capaz de indicar seu significado correto e o nível 3, indica que o aluno conhece a palavra. Todos os participantes desta pesquisa utilizaram a estratégia de consulta a um dicionário bilíngue durante a realização da tarefa de leitura, estratégia essa considerada por muitos estudiosos (GONZALEZ, 1999; KNIGHT, 1994; LUPPESCU & DAY, 1993), um instrumento eficaz para a retenção de itens lexicais na memória. Na tabulação dos resultados do TR – elaborado a partir das palavras apontadas no QR como consultadas no dicionário pelos participantes – o maior número de respostas concentrou-se no nível 2, o que significa que, apesar de os alunos não serem capazes de apontar o significado correto das palavras consultadas, existe uma certa familiaridade com essas palavras. Esses resultados poderiam ser explicados por estudos (HATCH & BROWN, 1995; MCCARTHY, 1984; NATION, 1990) que consideram a aprendizagem de vocabulário como um continuum de conhecimento ou um processo dinâmico, constituído de diferentes estágios (DALE, 1965; NIST & OLEJNIK, 1995) em que cada encontro com a palavra proporcionaria um conhecimento mais profundo daquela palavra (FISCHER, 1994). Esses estudos apontam a importância do dicionário nesse processo de pequenos avanços, uma vez que este contribuiria para o processo de construção de uma representação mental da palavra e seu significado, sendo que os alunos aprenderiam mais palavras em um nível mais profundo ao se depararem com a definição das palavras no dicionário (NIST & OLEJNIK, op. cit.; MCKEOWN’S, 1993). Nessa perspectiva, a consulta ao dicionário seria um passo inicial na aprendizagem de uma palavra (GONZALEZ, 1999; MCKEOWN, op. cit.). A partir dessa análise, poderíamos afirmar que a estratégia de consulta ao dicionário durante a tarefa de leitura proposta no estudo não teria contribuído de maneira significativa para a retenção dos itens lexicais na memória de longo prazo. Tais resultados apontam a necessidade de uma reflexão acerca da importância das experiências anteriores de aprendizagem e sua relação com as crenças e estratégias na aprendizagem de vocabulário por adultos longevos. Os dados coletados por meio do RR e QR não Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 128 apontam uma utilização efetiva de estratégias combinadas ao uso do dicionário. Destacamos, assim, a necessidade, quando da estruturação de cursos voltados para esta faixa etária, de uma maior atenção a aspectos que focalizem o desenvolvimento no uso de estratégias por parte desses alunos, o que, certamente, redundaria em uma melhor retenção de itens lexicais na memória dos aprendizes. Conclusões A proposta deste trabalho, inserido em uma perspectiva integrada de investigação da aprendizagem de vocabulário buscou levar em consideração, não apenas aspectos cognitivos mas também aspectos sociais na aprendizagem de LE. Os objetivos do estudo foram levantar relatos das experiências de aprendizagem de LE (inglês) de adultos longevos e, então, identificar as crenças de aprendizagem, em especial a respeito do papel da memória na aprendizagem, investigar as estratégias de aprendizagem utilizadas pelos alunos na aprendizagem de vocabulário e, por fim, analisar a retenção de itens lexicais na memória de longo prazo dos participantes. Muitos estudos têm sido realizados no sentido de mapear os passos necessários para a consolidação de um item lexical na memória. Hatch & Brown (1995) apresentam cinco passos essenciais para a aprendizagem de vocabulário, incluindo a consolidação de forma e significado na memória. Conforme os autores, várias estratégias podem ser utilizadas para a consolidação entre forma e significado na memória, entre estas, a consulta ao dicionário. Os resultados deste estudo sugerem que, embora os aprendizes da terceira idade, participantes da pesquisa, tenham utilizado o dicionário na realização da tarefa de leitura proposta, poucas estratégias foram por eles utilizadas, as quais pudessem garantir uma maior consolidação entre forma e significado na memória de longo prazo. Uma análise dos resultados do teste de retenção demonstrou que o maior número de respostas concentrou-se no nível 2, apontando uma familiaridade dos alunos com as palavras, embora não pudessem ser capazes de apontar o significado correto das palavras consultadas. Vários estudiosos (HATCH & BROWN, 1995; MCCARTHY, 1984; NATION, 1990) consideram a aprendizagem de vocabulário como um continuum de conhecimento ou um processo dinâmico, constituído de diferentes estágios (DALE, 1965; NIST & OLEJNIK, 1995) e, nesse sentido, poderíamos considerar que o uso do dicionário proporcionou um primeiro encontro com as palavras, constituindo-se em um passo inicial na aprendizagem de uma palavra (GONZALEZ, 1999; MCKEOWN,1993). Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 129 Quanto às experiências anteriores de aprendizagem dos participantes, as atividades relatadas com maior frequência pelos alunos coincidem com uma prática de ensino tradicional, certamente ligada ao Método Gramática e Tradução, destacando-se atividades como exercícios gramaticais, memorização de listas de palavras, interpretação e tradução de textos. A interação com a família e com pessoas da mesma faixa etária parece constituir a grande motivação para o retorno ao estudo da língua, corroborando o estudo de Conceição (1999), que registra também o mesmo desejo dos alunos de buscar contato social por meio da aprendizagem da língua. Destaca-se, ainda, uma atitude muito positiva em relação à aprendizagem, mesmo em face das dificuldades encontradas, como aquelas relativas à memória e a rapidez com que o curso é ministrado, perda da audição e mesmo questões relacionadas à qualidade dos equipamentos de som utilizados nas aulas. É interessante notar que também Conceição (1999) registrou, em seu estudo, por meio dos diários dos alunos, uma certa dificuldade em acompanhar o ritmo das aulas, apontando essa dificuldade como proveniente de alguns fatores, como o longo tempo afastado do ensino formal, o raciocínio mais lento e deficiências visuais e auditivas. No que se refere às crenças de aprendizagem de línguas, conforme Barcelos (2001), neste estudo, foram utilizados instrumentos que dessem voz aos participantes, sendo as crenças inferidas a partir de suas falas nas narrativas, relatos retrospectivos e questionários. Os alunos apresentam uma percepção em relação à importância da aprendizagem da língua inglesa e não consideram que esta seja uma língua difícil de aprender. Há importantes registros em relação às dificuldades impostas pela memória, destacando-se dificuldades com o processo de audição e memorização e com a gramática. Como se pode observar, as crenças relativas à melhor forma de se aprender vocabulário remontam as práticas de ensino do Método Gramática e Tradução vigente à época em que os participantes estudavam a língua. No entanto, uma atitude bastante positiva diante da aprendizagem se revela entre os participantes, em relatos de dificuldades já sanadas. A análise dos dados reforça nossa grande responsabilidade em possibilitar a inserção social, independente da idade ou faixa etária dos aprendizes. Os estudos das crenças de ensino e aprendizagem de línguas desses alunos trazem à tona suas expectativas, dificuldades e necessidades, trazendo importantes reflexões quanto à preparação do currículo e procedimentos de ensino que venham ao encontro das especificidades do processo de aprendizagem de língua inglesa nessa faixa etária. O mapeamento das estratégias utilizadas pelos participantes aponta a utilização das seguintes estratégias: assistir televisão, memorizar através de listas de palavras, associar a palavra com a imagem, agrupar as palavras em ordem alfabética, buscando formar palavras com as iniciais das palavras, Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 130 utilizar o dicionário e pesquisar na Internet. Embora se possa registrar o uso de estratégias mais tradicionais para a aprendizagem, como memorizar listas de palavras, observa-se, por outro lado, o uso de estratégias como a associação da palavra com a imagem, agrupamento de palavras conforme suas iniciais e formação de palavras, assistir TV e mesmo recorrer à internet. Os alunos demonstram alguma criatividade na aplicação das estratégias, revelando inserção em práticas mais atuais em se tratando do uso de estratégias e o constante avanço das tecnologias de informação. Os resultados quanto à utilização de estratégias revelam também o desejo de aprender dos participantes e a busca da instrumentalização para esse desafio. No entanto, o uso de estratégias por parte dos participantes é ainda limitado, não tendo sido reportado um grande número de estratégias. Observa-se, dessa forma, a necessidade de estudos envolvendo participantes dessa faixa etária, focando o desenvolvimento do uso de estratégias para uma maior autonomia no processo de aprendizagem. Foram também registrados relatos de busca das palavras desconhecidas na internet, assim como a busca de frases contendo as palavras desconhecidas para entender o texto. Ainda assim os dados sugerem que os participantes utilizaram um número limitado de estratégias para a aprendizagem de vocabulário, conforme aponta o estudo de Conceição (1999), em que se detectou também o uso de poucas estratégias de aprendizagem pelos participantes na mesma faixa etária. Como se pôde observar, embora afastados do ensino formal, muitas vezes rotulados sob o estigma que a velhice representa para nossa sociedade, as pessoas nessa faixa etária apresentam, tanto quanto outras em outras faixas de idade, condições e, principalmente, o direito a um espaço na comunidade social, onde possam se expressar e se desenvolver como pessoas. Ao contrário do que muitos acreditam, apesar das degenerescências físicas próprias da idade, os aprendizes longevos são capazes, como vimos, de desenvolverem estratégias que os auxiliem na aprendizagem de uma língua estrangeira. O momento é, pois, de reflexão. Tornam-se imperativas propostas de ações que possam dirimir a obsolência a que estão legados os “de idade” em nossa sociedade, já que, em tempo próximo, grande parcela da população brasileira será composta por indivíduos acima de sessenta anos. Esperamos, com este trabalho, trazer contribuições para os estudos na área de aprendizagem de vocabulário, buscando oferecer uma melhor compreensão da forma como fatores individuais como a memória, experiências, crenças e estratégias se relacionam no processo de aprendizagem de vocabulário em LE por adultos longevos. Nosso desejo é poder auxiliar educadores na tarefa de conduzir aprendizes adultos longevos a uma maior autonomia e independência no processo de aprendizagem de Revista Contexturas, n. 22, p. 96 - 135, 2014. ISSN: 0104-7485 131 vocabulário em LE, contribuindo para o estabelecimento de bases sociais que se adaptem ao novo perfil demográfico da população brasileira no século XXI. Referências BARCELOS, A. M. F. Understanding teachers’ and students’ language learning beliefs in experience: a Deweyan approach. Tese (Doutorado em ensino de inglês como segunda língua).College of Education, The University of Alabama, Tuscaloosa, 2000. BONFIM, E. R.; ALVAREZ, M. L. O. 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