Processos de Aprendizagem e Regime Tecnológico na Industria de Móveis do Arranjo Produtivo Moveleiro da Região de São Bento do Sul (SC): um Estudo de Caso em Empresas Selecionadas Autoria: Janaina Rodrigues Scheffer, Pedro Carlos Schenini Resumo: O arranjo produtivo de móveis da região de São Bento do Sul, do Estado de Santa Catarina, concentra uma população de 237 empresas especializadas na produção de móveis residenciais de pinus. Este arranjo apresenta um padrão tecnológico estável e dominado por fornecedores. Seu regime tecnológico é caracterizado por baixas condições de oportunidades tecnológicas, de apropriabilidade e da cumulatividade do conhecimento. As empresas selecionadas desenvolvem capacidade tecnológica sobretudo a partir dos mecanismos informais de aprendizado, que decorrem do relacionamento interativo e troca de sinergias com seus clientes e com seus fornecedores de máquinas, equipamentos e de insumos. Para promoção de políticas de desenvolvimento apontam-se as seguintes: a) ampliar os espaços de aprendizagem como fonte de processos inovativos; b) criar condições para desenvolvimento formal de atividade de P&D nas empresas; c) capacitar e treinar mão-de-obra para práticas inovativas e; d) promover interação progressiva conjunta dos agentes – instituições e empresas - visando a inovação. 1. INTRODUÇÃO No contexto da dinâmica das relações capitalistas as empresas procuram criar condições competitivas para inserirem em melhores condições no mercado. Dentre as condições competitivas, destacam-se os esforços para capacitação inovativa. Neste sentido no Arranjo Produtivo Local da Região de São Bento do Sul, considerado o principal exportador de móveis do país, empresas procuram se capacitar tecnologicamente desenvolvendo inovações de produto e processo e realizando mudanças organizacionais. No intuito de verificar a capacitação existente este trabalho analisa os esforços inovativos de empresas representativas por tamanho – pequena, média e grande – dando destaque aos processos de aprendizado e regime tecnologico. Assim sendo, está dividido em 6 seções, onde nesta 1ª seção apresenta-se a introdução; na 2ª seção expõe-se o referencial teórico analítico; na 3ª seção configura-se o arranjo produtivo local de móveis da região de São Bento do Sul – Santa Catarina, apresenta-se os aspectos metodológicos de análise e identifica-se as empresas selecionadas; na 4ª seção analisa-se a dinâmica do processo inovativo nas empresas selecionadas; na 5ª seção faz-se proposições de políticas de desenvolvimento; e por fim, na 6ª seção apresentam-se as considerações finais. 2. ARCABOUÇO TEÓRICO-ANALÍTICO: ELEMENTOS FUNDANTES Tornou-se evidente, nas últimas três décadas, a participação ativa das empresas em economias locais, na geração de empregos e renda e pela capacidade em proporcionar desenvolvimento regional. Concentradas geograficamente as empresas passam a se articular e a aproveitar as sinergias coletivas, que nascem de ações conjuntas, auxiliando no seu crescimento e no desenvolvimento de um sistema de produção eficiente. Nestes termos, destacam-se várias nomenclaturas com o intuito de evidenciar as economias de aglomeração e formas de cooperação entre empresas e instituições, tais como os clusters industriais , distritos industriais, millieu inovativo, sistemas nacionais e regionais de inovação e arranjos produtivos, cuja base de sustentação se traduz em sinergias entre os agentes econômicos e identificam-se essencialmente pela aglomeração setorial e presença de economias externas. 2 Os arranjos produtivos locais se caracterizam por uma série de variáveis, dentre as quais se destacam a diversidade das atividades dos agentes econômicos, a extensão territorial das atividades, a importância do conhecimento tácito cuja proximidade entre os agentes facilita a transmissão. A noção de arranjo proposta por Cassiolato e Zapiro (2002), constitui um aglomerado de empresas produtoras, fornecedores, clientes, instituições de pesquisa que ao se relacionarem geram competência. Os arranjos produtivos locais são moldados pelos processos de aprendizado, apresentam instituições de caráter formal e informal e se baseiam na confiança entre os agentes. Como exemplos, podem ser citados os arranjos produtivos localizados na Terceira Itália (cerâmica, têxteis), o Vale do Silício (informática) e o Vale dos Sinos (calçados) no Brasil. As economias externas, por sua vez estão relacionadas pela interação virtuosa entre os agentes econômicos: empresas e instituições públicas ou privadas; determinando ambientes próprios para a atividade inovativa, modernização produtiva e o desenvolvimento de ações cooperativas. A forte especialização produtiva propicia intenso fluxo de circulação das informações e qualificações incorporadas aos indivíduos e instituições locais, elementos que são essenciais para um ambiente próprio à inovação. A organização de redes nacionais e internacionais de empresas permite rápida transferência de tecnologia e penetração em diferentes mercados. De uma forma geral os arranjos apresentam diversos formatos organizacionais e podem apresentar diferentes classificações em função das dimensões territorial, organizacional, econômica e sociológica. Formam-se assim taxonomias que do ponto de vista da estrutura industrial, classificam-se os formatos industriais segundo suas estruturas de governança, vistas como o regimento de controle e coordenação do sistema. Esta classificação que surge da concepção de Storper e Harrinsson (1994) se divide em três categorias de sistemas: (i) não apresentam núcleo e hierarquia, são constituídos apenas por uma corrente de pequenas e médias empresas ou algumas grandes sem uma liderança formalizada; (ii) sistema de anel-núcleo, apresenta uma empresa coordenadora e certo nível de hierarquia, com destaque para a função tipicamente de coordenação do agente central; e, (iii) sistema anel-núcleo com hierarquia considerável, caracterizado pelas relações de poder assimétricas, em geral entre uma grande empresa e rede de pequenas e médias empresas. A classificação de Crocco (2002) baseia-se em três estruturas de arranjos, os informais, os organizados e os inovativos, sendo os informais e os organizados os predominantes nos países em desenvolvimento e os inovativos usualmente encontrados nos países centrais. A classificação leva em consideração uma série de variáveis que enfatizam a capacidade dinâmica de um arranjo. Os arranjos informais são normalmente caracterizados por micro e pequenas empresas, com baixo nível tecnológico e as barreiras à entrada de novas empresas são poucas ou inexistentes. Por sua vez arranjos organizados também são formados por micro e pequenas empresas com trajetória crescente da capacidade tecnológica, a principal característica deste tipo de arranjo, é sua capacidade de coordenação entre a empresas elevando tanto a capacidade de adaptação tecnológica quanto o tempo de resposta às mudanças de mercado. Enquanto os arranjos inovativos apresentam grande capacidade gerencial e adaptativa, assim como elevado grau de confiança e cooperação entre os agentes, sua elevada capacidade inovativa é chave para seu desempenho. Mediante a noção da participação das empresas em arranjos produtivos locais, a inovação passa a ser seu foco principal, aumentam-se os esforços para busca de novas formas para seu fomento. Considerando que esta se insere no contexto da construção de capacidade competitiva dinâmica através do funcionamento dos arranjos permite-se desenvolver a idéia de competitiviade 3 fundada na capacidade inovativa das empresas e instituições concentradas localmente. Sob o ponto de vista conceitual, um arranjo está diretamente associada à relação entre proximidade, aprendizado e inovação. O conceito de inovação tecnológica pode assumir diversas formas, para Dosi (1988) a inovação está relacionado aos processos de busca, descoberta, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, processos e organizações. Vargas (2002) aborda que a inovação representa um processo sistêmico na medida em que as atividades inovativas assumem lugar em nível da firma, e que, nascem e se sustentam em função das relações inter-firmas e pelo processo interativo inter-institucionais. A firma, a partir de então apresenta várias conotações, sendo sua análise normalmente associada à suas atividades e estratégias. Na abordagem neo-schumpeteriana, a firma é vista como um “repositório de conhecimento”, responsável pelo seu armazenamento e processamento, principalmente através dos processos de rotina e aprendizado, que consistem em fontes de soluções à uma enorme quantidade e complexidade de informações relacionadas à determinados problemas. Considerando o processo inovativo dinâmico, o comportamento das firmas e os resultados no mercado são determinados a partir das rotinas, do processo de busca e seleção. As rotinas são as formas de operacionalização das atividades atuais das firmas. A busca de soluções é dirigida no sentido de tentar melhorar o desempenho de atividades da firma sobre determinados problemas, procurando a solução mais vantajosa dentre as diversas oportunidades. O processo de seleção, pode acontecer de acordo com as regras estabelecidas no processo de busca da firma, constitui na escolha dos melhores projetos ou práticas que resultam em melhor desempenho e maiores vantagens para a firma. Neste sentido, a busca e seleção são etapas simultâneas, interagindo como partes de um processo evolutivo, sendo que os mesmos preços que possibilitam a avaliação para a seleção, também influenciam as direções de busca. Assim como a atividade inovativa ocorre gradualmente no tempo, os arranjos produtivos de inovação também apresentam um caráter evolutivo. Internos aos arranjos processam-se vários tipos de aprendizado, tanto individual, quanto organizacional e/ou coletivo, gerando conhecimentos e consequentemente agregando valor ao capital humano: pré-requisito indispensável para o processo inovativo. As formas como os agentes produzem, usam os produtos e mantêm interações são relevantes ao processo inovativo; tais formas geram o aprendizado que por sua vez contribui para o surgimento do novo. Desta forma, os processos de aprendizado podem ser considerados como várias maneiras de se aprender possibilitando ilimitadas vantagens para quem o realiza, pois aumenta a competência da firma, estabelece novas formas de aperfeiçoar as inovações, sejam de produtos ou de processos e respondem por representar uma das principais fontes de conhecimento. Os processos de aprendizado são vistos na literatura econômica por autores neoshumpterianos, onde destaca-se a característica da cumulatividade, onde a prática repetitiva e a experimentação permitem a realização rápida e eficaz das tarefas reduzindo os “elementos de incerteza dinâmica”, pois traduzem um conhecimento prévio tanto das tecnologias em uso, quanto dos mercados nos quais atuam. Tais processos assumem caráter organizacional correspondendo a qualquer aprendizado da organização e também podem ser expressos pelos processos de rotinas. Os processos de aprendizado que ocorrem internos às firmas e de forma interativa, são identificados a partir de uma taxonomia que verifica os seus diferentes graus, tipos e natureza, citam-se o learning by doing, relacionado a atividade produtiva; o learning by using associado 4 diretamente ao uso de produto; o learning by searching oriundo das estruturas formais de pesquisa das firmas, tais como laboratórios de P&D; e o learning by interacting envolvendo uma combinação entre o learning by doing e o learning by using. (Malerba, 1993). Participando em arranjos produtivos locais as empresas, sobretudo as pequenas e médias aumentam as possibilidades potenciais de capacitaram-se tecnologicamente, desenvolvendo diferenciais competitivos, uma vez que a inovação caracteriza-se como um processo interativo e sistêmico resultante dos processos de busca e do aprendizado. Neste contexto, ressalta-se a geração e transmissão do conhecimento e a dinâmica dos processos de aprendizado que deixam de ser restritos à produção e se configuram também nas interações entre os agentes sócioeconômicos. No âmbito dos arranjos produtivos, configura-se determinado ambiente tecnológico, com a presença de tecnologia, padrão e suas especificidades. A natureza da tecnologia se desenvolve segundo determinadas especificidades de elementos que segundo Brechi e Malerba (1996) são (i) as condições de oportunidade que se tratam das oportunidades economicamente viáveis voltadas para o progresso técnico e tecnológico, (ii) a apropriabilidade que consiste na capacidade da firma inovadora garantir as vantagens competitivas dos lucros obtidos pela inovação através de eficientes formas de proteção, (iii) o nível de cumulatividade do conhecimento enraizado principalmente nos processos de aprendizado e nas fontes organizacionais, e (iv) a natureza do conhecimento base que corresponde os conhecimentos aos quais as atividades inovativas baseiam-se, se caracteriza pela natureza (público ou privado, tácito ou codificado e simples ou composto) e pela maneira de transmissão (formais ou informais). Tais elementos interferem na intensidade da capacidade inovativa, na concentração industrial e no nível de novos entrantes na indústria, permitindo uma comparação entre o regime tecnológico e os sistemas setoriais de inovação, que segundo Brechi e Malerba (1996) se caracterizam por um grupo de firmas engajadas no desenvolvimento de produto de um mesmo setor, funcionam como um sistema de firmas que interagem e cooperam, assim como buscam enfrentar a competição e seleção do mercado. Neste contexto o conceito de regime tecnológico permite a realização de uma análise das características da tecnologia na sua dimensão competitiva. Dados as características especificas de cada setor em função dos elementos tecnológicos fundamentais para análise do regime tecnológico e os diferentes níveis de concentração geográfica dos inovadores, tem-se então um modelo de análise que auxilia na configuração de um arranjo produtivo local, que permita a análise de sua trajetória, identificação dos atores locais, redes de interações, infra-estrutura educacional, tecnológica e econômica que podem fomentar a geração e difusão de novas tecnologias, permitindo a partir de então a identificação dos processos de aprendizado, assim como a importância do local na sustentação das capacidades inovativas do arranjo. Neste contexto, Lemos (2001) destaca a importância de se fazer políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico, que aborde quais devem ser os objetivos, as ações e os instrumentos correspondentes, voltados para a efetivação de políticas que venham a fomentar a inovação em arranjos produtivos. Os principais objetivos estão relacionados a conscientização que os agentes devem ter, quanto a forte participação que a inovação exerce para a obtenção do desenvolvimento em arranjos, a capacitação e treinamento dos recursos humanos, a interação crescente entre ao agentes e a promoção de atividades conjuntas. Para atender tais objetivos, as ações devem priorizar a disseminação das informações com enfoque nos processos de aprendizado interativo, torna-se essencial a existência de cooperação e uso de novas tecnologias para a capacitação do arranjo, assim como a interação entre os agentes deve ser articulada para a realização das ações coletivas, tal como para a difusão do uso de infra-estrutura tecnológica e, 5 através do incentivo do desenvolvimento, aperfeiçoamento, incorporação e difusão de novas tecnologias as atividades conjuntas devem ser dinamizadas. 3. CONFIGURAÇÃO METODOLÓGICOS DO ARRANJO PRODUTIVO E ASPECTOS 3.1 Aspectos de Arranjos Produtivo Ao Norte do Estado de Santa Catarina registra-se a presença de um Arranjo Produtivo especializado na produção de móveis residenciais, concentrado nas localidades de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre. Dentre estes municípios destaca-se o de São Bento do Sul, pelo aglomerado de empresas e por sua representatividade na geração de empregos na economia local, concentrando 237 empresas da população de 441 estabelecimentos, bem como responde por 66% dos empregos gerados nesta atividade produtiva. Tabela 1: Número de estabelecimentos e funcionários por tamanho de empresa –Arranjo Produtivo Local – SC - 2001 Localidade Campo Alegre Rio Negrinho São Bento do Sul Total Nº de Estabelecimentos 39 165 237 441 Total de Empregados 1.113 3.502 9.052 13.667 Fonte: RAIS/2001 Verificando a origem e o desenvolvimento deste arranjo, constata-se que as primeiras unidades produtoras eram do tipo pequenas mercearias de fundo de quintal de estrutura familiar, motivadas pela abundância de matéria-prima no local e pela herança artesanal dos imigrantes que a colonizaram. Historicamente, segundo BRDE (1998) a década de 70 foi crucial para o crescimento do setor, devido as crescentes taxas de importação de máquinas e equipamentos, assim como pelos esforços para formação da mão de obra qualificada para operar as novas máquinas e pelo surgimento de novas fontes de insumos que refletiram a evolução tecnológica do setor moveleiro, de acordo com a associação dos fabricantes de móveis. Nesta década o setor despontou para um processo de reestruturação, visando responder as necessidades de alargamento do mercado interno, em paralelo a estes acontecimentos também ocorreu um aumento no número de empresas surgindo uma aglomeração de pequenas e médias somando-se as tradicionais até então existentes. Atualmente o arranjo produtivo local apresenta a maior empresa exportadora do país, Industrias Artefama S/A e a maior empresa de móveis do Estado, o Grupo Rudnick S/A. A cidade é a maior exportadora do Brasil destinando cerca de 80% de sua produção para o mercado externo. Além das empresas produtoras o arranjo local conta com a presença de instituições que atuam nas áreas de educação, de representação dos interesses de classes, de pesquisa científicotecnológica e financeiras. Destacam-se no desempenho destas atividades o Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional- Senai, a Fetep - Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa de São Bento do Sul, atual CTM – Centro Tecnológico do Mobiliário. Diante disto, verifica-se a presença de diferentes agentes econômicos, políticos e sociais envolvidos em um conjunto específico de atividades que apresentam determinados vínculos, condizente com a noção de arranjo produtivo local. 6 3.2 Aspectos Metodológicos Visando verificar qual a dinâmica dos processos de aprendizado e o regime tecnológico do arranjo produtivo moveleiro de São Bento do Sul, recorreu-se a aplicação de questionário em três empresas locais: Indústrias Artefama S/A, Indústria Zipperer S/A e Móveis e Esquadrias Seiva, consideradas respectivamente de grande, médio e pequeno porte classificados segundo o com o número de funcionários: até 99, de 99 a 499 e acima de 500, conforme os critérios do SEBRAE. Tais empresas foram escolhidas a partir de informações coletadas junto as Sindicato da Industria da Móveis da Região de São Bento do Sul e da Tele-FIESC – Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, pela importância no processo de produção e comercialização de móveis. O questionário continha um total de quarenta e quatro questões, incluindo perguntas abertas, alternativas e por quesito de importância. Apresentava-se estruturado em três níveis; no primeiro identifica-se a empresa e a condução de seu processo de reestruturação; no segundo especifica-se o tratamento da capacitação tecnológica e no terceiro relaciona-se os tipos de procedimentos interativos com outros agentes. A aplicação do questionário foi de forma presencial, por meio de visita às empresas citadas, com respostas dadas por integrantes da diretoria e gerência da empresa. 3.3 Identificação das empresas A Indústrias Artefama S/A, considerada grande empresa, foi fundada em 1945 e localiza-se na Rodovia Br 208, no bairro Oxford em São Bento do Sul. É uma sociedade anônima com 100% do capital nacional, sendo dirigida por três membros que fazem parte de sua diretoria composta por um presidente, um diretor comercial e outro diretor financeiro-administrativo. Esta empresa iniciou suas atividades como fábrica de artefatos de madeira envolvendo os produtos de madeira e seus derivados, especializando-se posteriormente em móveis, não de pinus como atualmente, mas nas linhas de copa e cozinha, passando para o gabinete de máquinas de costura. Na década de 60 passou a produzir móvel colonial até se especializar na fabricação da linha de salas de jantar e dormitórios de madeira nobre. Possui como nicho de mercado consumidor a população de maior poder aquisitivo, classe média alta e exporta 100% de sua produção. A Indústria Ziperrer S/A, considerada média empresa, foi fundada em 1923, localiza-se na rua Jorge Ziperrer, no centro de São Bento do Sul. Seu capital é 100% nacional dividido entre sete sócios. Inicialmente fabricava artefatos de madeira, passando a se especializar na linha country a partir da década de 70. A produção de móveis é feita especialmente de pinus com destino, tanto para o mercado interno (19.82%), quanto para o externo (80,18). A produção destinada ao mercado externo distribuindo-se pela América do Sul (0,88%), América do Norte (43,37%) e a Europa (35,93%). A empresa Moveis e Esquadrias Seiva, considerada pequena empresa, foi fundada em 1975 e localiza-se no bairro 25 de Julho, em São Bento do Sul. Trata-se de uma empresa familiar de capital com origem 100% nacional dividido entre quatro irmãos. Inicialmente a empresa de dedicava à produção de esquadrias, mas a medida em que seu consumo começou a decrescer passou a produzir móveis de madeira de lei, especialmente na linha de jantar, hoje com 100% de participação no total de suas vendas. A produção tem por destino somente o mercado nacional, distribuindo-se por todos os estados brasileiros. 4. DINÂMICA DO PROCESSO INOVATIVO NAS EMPRESAS MOVELEIRAS SELECIONADAS 7 Com base em resultados da pesquisa realizada junto a três empresas do arranjo produtivo local, conforme especificado nos aspectos metodológicos, pode-se observar esforços empresariais voltados para o desenvolvimento de atividades inovativas via incorporação de mudanças técnicas tanto em nível de produto quanto de processo, de acordo com a tabela 2, Tabela 2: Principais inovações de produto e processo adotadas pelas empresas selecionadas no arranjo produtivo local de móveis da região de São Bento do Sull - 2001 Inovações de produto e processo Artefama S/A Zipperer Móveis e S/A Esquadrias Seiva Inovação em produto Alterações no produto/estilo 2 3 1 Alteração nas características técnicas 2 2 1 Novo produto 5 4 1 Inovação em processo Incorporação de novos equip. na planta 2 1 1 industrial Nova configuração da planta industrial 2 4 1 Construção de uma nova planta 5 5 1 industrial Introdução de novas técnicas organizacionais Células de produção 3 5 Just in time externo 2 4 5 CAD/CAM 1 1 Introdução de novas matérias-primas 2 1 1 Fonte: Pesquisa da Campo Obs.: *atribuição: 1 para muito importante, 2 para importante 3 para pouco importante, 4 para nenhuma importância e 5 para não se aplica. No campo das inovações de produto, tanto a empresa de grande porte, Artefama S/A, como a de médio porte, Zipperer S/A não adotam estratégias voltadas para a introdução de um produto novo, mas procuram aperfeiçoar o existente, uma vez que a empresa de maior porte é totalmente internacionalizada, exportando 100% de sua produção e recebendo os modelos com padrões especificados de seus clientes, não tendo que utilizar sua criatividade para surpreender se público alvo. O mesmo fato acontece com a média empresa, que também exporta a maioria de sua produção. Enquanto que a empresa de menor porte procura ser pioneira, introduzindo um produto totalmente novo no mercado, com o auxilio de novos equipamentos e nova planta industrial, uma vez que sua produção volta-se 100% para o mercado interno exigindo novidade, modernidade e acima de tudo praticidade. No âmbito das inovações em processo, constatou-se que a empresa de maior porte priorizou a introdução do apoio computadorizado para o desenho e manufatura, assim como a empresa de médio porte que além disso também considerou de muita importância a incorporação de novos equipamentos na planta industrial em conjunto com as novas matérias-primas onde se destacam o aglomerado e o compensado. Enquanto que a empresa de menor porte considerou muito importante a introdução de matéria-prima, com destaque a jiquitiba, madeira de lei. A formalidade dos mecanismos utilizados para o desenvolvimento das atividades inovativas, pode ser registrado a partir dos gastos em P&D realizados pelas empresas produtoras, 8 Móveis e Esquadrias Zipperer A/A Seiva Artefama S/A cujos esforços variam de acordo com o porte das mesmas, pois se nas grandes empresas há planejamento e destino de recursos específicos à esta área, nas médias e pequenas não há determinação específica de tais atributos. A empresa de maior porte destina um percentual definido sobre as vendas anuais para atividades de P&D cerca de 3%, enquanto as demais direcionam verbas aleatórias definidas segundo as próprias empresas de acordo com suas necessidades. Questionadas a respeito de se ter planejamento para futuros gastos em P&D, esta últimas informaram que pretendem destinar participação de 1% sobre o total das vendas para essa atividade. Neste entiso, para o desenvolvimento dos processos inovativos as empresas selecionadas recorrem a diferentes fontes de informação, conforme o quadro 1, cuja única semelhança ocorre entre as empresas de grande e médio porte que, dentre várias, priorizaram também a aquisição de novos equipamentos com fornecedores externos. Tal semelhança pode ocorrer em virtude de ambas importarem suas principais máquinas do exterior e terem esse quesito como fator característico dominante no padrão tecnológico. Quanto às formas para desenvolver ou agregar as novas tecnologias houve apenas uma semelhança entre as empresas de grande e médio porte, as quais enfatizaram a aquisição de máquinas compradas no mercado internacional. Fontes Troca de informações com fornecedores de equipamentos Feiras e exposições internacionais Workshops de produtos Bibliotecas ou serviços de informação Aquisição de novos equipamentos de fornecedores externos. Troca de informações com clientes Feiras e exposições nacionais Consultores especializados locais/regionais Universidades e centros de pesquisa regionais/locais Aquisição de novos equipamentos com fornecedores externos. Formas Aquisição de máquinas compradas no mercado internacional Cooperação com fornecedores de equipamentos Cooperação com fornecedores de insumos. Aquisição de máquinas compradas no mercado internacional. Departamentos de P&D da empresa Nas unidades de produção da empresa. Fonte: Pesquisa de campo Quadro 1: Principais fontes de inovação de processo, produto ou organizacional da produção e formas de desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias das empresas selecionadas do arranjo produtivo local de móveis da região de São Bento do Sul - 2001 Outro aspecto preponderante para dinâmica do arranjo se refere a origem do design, recente fonte de competitividade para o setor, utilizado pelas empresas. Conforme o tabela 3, 9 constatou-se que para a empresa de grande porte, a principal origem se concentra na especificação dos clientes, uma vez que seus produtos seguem modelos onde seus clientes especificam o desenho e as normas técnicas. No entanto, ainda priorizam revistas especializadas no setor, assim como as feiras e visitas no exterior que acontece com freqüência. No caso da média, as especificações dos clientes também assumem posição líder dado que atende as exigências colocadas pelos clientes internacionais, porém, desenvolvem internamente design, uma vez seus produtos também se destinam para o mercado interno. A pequena prioriza seu desenvolvimento interno em conjunto com a contratação de um especialista, tendo em vista não ficar sujeita às posições dos clientes internacionais, mercado qual não faz parte. Os resultados demonstram que a origem do design está associada ao publico alvo do produto. Tabela 3: Principal origem do design adotado pelas empresas selecionadas do arranjo produtivo local de móveis da região de São Bento do Sul - 2001 Artefama Zipperer Móveis e Origem do design S/A* S/A* Esquadrias Seiva* desenvolvimento interno na própria 1 1 empresa escritório de design 2 contratação de especialista em design 3 1 imitação de produtos nacionais 3 imitação de produtos estrangeiros 3 1 parceria com outras empresas 2 contratação do centro tecnológico – 2 3 2 CTM/FETEP universidades e escolas de design 2 3 visitas e feiras nacionais 3 1 2 visitas e feiras internacionais 1 2 revistas especializadas do setor 1 2 2 especificação de clientes 1 1 2 Fonte: Pesquisa de campo Obs: *atribuição: de 1 a 3 de acordo com grau de importância em ordem decrscente. A indústria de móveis possui um padrão tecnológico determinado pelas máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo, introdução de novos materiais e aprimoramento do design. Comparando o padrão tecnológico das empresas entrevistadas em relação as empresas internacionais, destaca-se que a grande empresa se considera superior em custo de mão-de-obra e custos de insumos energéticos, enquanto que na visão das demais não são superiores em nenhum dos itens citados. É importante considerar que, informações colhidas nas entrevistas apontam que comparadas com países com países produtores, as empresas estudadas acham-se em patamar inferior as italianas e alemãs, porém superiores ou semelhantes às chilenas e mexicanas para as grandes e médias e no mesmo nível para as pequenas empresas. Porém, as empresas selecionadas apresentam-se totalmente abertas às mudanças exigidas para obtenção e sustentabilidade de competitividade, todas passaram por processos de evolução desde a escolha dos materiais, linhas de produto, técnicas organizacionais, tecnologias de gestão, de produto e de processo e apesar de avaliações diferentes em quesitos solicitados a opinar, evidencia-se que, hoje, se encontram, em nível de capacitação e esforço tecnológicos superiores ao início dos anos 90. 10 A dinâmica tecnológica da indústria moveleira apresenta estabilidade em seu padrão tecnológico expresso pela inexistência de grandes modificações. É um setor dominado por fornecedores, segmento que impõe a dinâmica tecnológica e este se encontra estável. Quando ocorrem inovações, estas são de natureza incremental e introduzidas na indústria através das modificações nas máquinas e equipamentos. É certo que as máquinas e equipamentos tornam-se mais rápidas, menos perdas, maior qualidade em produtos, porém tais mudanças não quebram o atual paradigma e sim vêm a aperfeiçoá-lo da maneira incremental. A maturidade do paradigma tecnológico do padrão da indústria em análise reforça as baixas condições de potenciais oportunidades tecnológicas para o segmento dos setores dominados por fornecedores impossibilitando o desenvolvimento das inovações de natureza radical, permitindo apenas o aproveitamento do paradigma e trajetória estabelecida, melhorando e adaptando os produtos. No padrão atual o baixo nível de cumulatividade do conhecimento e o fácil acesso ao conhecimento de cunho tecnológico reflete a falta de sistema eficaz de proteção da inovação, assim como a situação de tecnologia difundida revela as baixas condições de apropriabilidade, o que reforça o desenvolvimento apenas de inovações incrementais. Verificouse que apesar de existirem processos de aprendizados que acumulam conhecimentos capazes de aperfeiçoar os procedimentos das empresas, são poucos os esforços e os recursos destinados para P&D e não adquirem significativos lucros através da atualização tecnológica. Elas procuram desenvolver essa capacidade no intuito de não perderem competitividade e tornarem-se aptas para competirem. O conhecimento base dessa indústria está associado às áreas da química e da engenharia, são áreas de conhecimentos que transmitem disciplinas e conteúdos, cujo conhecimento é de caráter codificado e de fácil acesso aumentando as possibilidades de absorção e aperfeiçoamento do produto. Diante do quadro que configura baixas condições de oportunidades tecnológicas, baixas condições apropriabilidade, assim como baixa cumulatividade do conhecimento e baixo conhecimento base, a indústria moveleira apresenta tendências à não concentração de sua estrutura industrial dado, neste caso, que a tecnologia não a função de provocar modificações na estrutura do mercado. Dadas essas condições, o processo interativo avança sobre os processos de aprendizado existentes. Os processos de aprendizado da industria moveleira estão direcionados com o aperfeiçoamento do processo produtivo aos processos de venda e feedbaks de resultados com clientes e pela atualização de máquinas e equipamentos, assim como a aquisição de insumos. Nestes termos, evidencia-se a presença do processo de aprendizado conhecido como “chão da fábrica”, learning by doing. Esse tipo de aprendizado é estimulado pelo interesse em aproveitar ao máximo as potencialidades das máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo. Através da experiência com o trabalho vai adquirindo-se conhecimentos que aumentam o aproveitamento da capacidade produtiva e podem desenvolver a capacidade inovativa, implementando novos procedimentos. A última década evidenciada no setor um forte processo de atualização tecnológica que aponta para o esforço de melhoria de desenvolvimento, solução de problemas, otimização dos processos etc, que resultam em inovações incrementais. Existe atividade interativa entre empresas moveleiras e seus clientes levando ao processo de aprendizado, learning by using. Considerando que a grande empresa possui como público alvo somente o mercado externo, a média empresa direciona sua produção tanto para o mercado interno quanto externo e a pequena empresa produz somente para o mercado interno, esse tipo de interação ocorre de forma diferenciada e em intensidade distinta. Referente aos clientes internacionais, o design do produto, assim como as normas técnicas, sofrem pouquíssimas modificações estabelecidas pela empresa fabricante. A imposição por parte dos clientes limita a 11 capacidade inovativa adquirida pelas empresas nesse processo de aprendizado. Enquanto, no mercado interno as empresas desenvolvem o design internamente, fazendo com que os resultados da interação empresa-cliente se tornem mais visíveis, não ganhando maiores dimensões em face da maior relação que ocorre entre empresas e clientes do mercado exterior. O processo de aprendizado learning by interacting acontece pela interação entre fornecedores e consumidores. Esse tipo de interação existe entre a indústria moveleira e seus fornecedores, tanto de máquinas e equipamentos como de insumos. Em relação aos fornecedores de máquinas esse processo acontece com grande intensidade, em face de possuir um padrão tecnológico determinado, principalmente, pelo setor dominado por fornecedores de máquinas. O aprendizado acontece através da troca de informações técnicas que atendam a demanda solicitada, pelas empresas aos fornecedores, que recebem posterior retorno sua aplicabilidade. O uso de novas matérias-primas, como é o caso do MDF – usado sobretudo pelas grandes empresas - possui características diferentes de outras matérias e consequentemente exige um maquinário um pouco diferenciado, conduzindo a interação entre as empresas e seus fornecedores de máquinas. Em relação a interação com fornecedores de máquinas e equipamentos externos, a distância geográfica não implica em grandes obstáculos nem para a grande empresa, assim como para média. No caso das grandes empresas este fator é resolvido por meio do envio de seus funcionários aos locais de origem das máquinas. Já nas médias empresas o contato ocorre entre os diretores e os fornecedores, que acontece com freqüência em seus países de origem. A compra de qualquer máquina ou equipamento leva a treinamentos na empresa. As relações com os fornecedores de máquinas locais ou nacionais, que ocorre nas pequenas e médias empresas facilitam o fluxo de informações técnicas, porém não significa que acontece com maior freqüência. No tocante ao relacionamento com fornecedores de insumos, a interação centra-se nas especificações físico-químicas. Existe forte preocupação em aperfeiçoá-las, tendo em vista a grande participação da produção voltada para o mercado externo, com climas diferenciados, elevadas trocas de temperatura e os custos de logística significativamente altos. Além da interação com clientes essa melhora nos insumos também ocorre através da interação com instituições - Centro Tecnológico do Mobiliário – CTM – que realiza testes e auxilia na escolha de material. Quanto à madeira, principal insumo do setor, o procedimento é semelhante, direcionado ao corte e secagem da madeira. Essa matéria-prima tem apresentado crescentes processos de reflorestamento levando a interação entre as empresas com universidades e centros de pesquisa para o desenvolvimento genético das plantas. No novo paradigma com destaque a tecnologia como fator de competitividade as empresas se deparam com obstáculos para promover maiores avanços em termos de capacitação tecnológica, atrapalhando sua performance e retardando maiores resultados positivos, segundo o estudo empírico para a grande empresa o obstáculo fundamental é a falta de incentivos fiscais e financeiros, principalmente fiscais revelando a necessidade de reformas na política tributária e a indispensável atuação do governo, a empresa de médio porte, por sua vez considera a disponibilidade financeira; a falta de estratégia cooperativa de desenvolvimento tecnológico e a instabilidade do mercado como os principais entraves enquanto que a pequena empresa além da falta de estratégias cooperativas; instabilidade de mercado também considera a dimensão do mercado e a falta de incentivos fiscais e financeiros. Fica evidente que a gravidade dos obstáculos aumentam proporcionalmente ao tamanho da empresa mostrando a maior fragilidade de empresas de menor porte em relação as demais. 12 5. POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO EM PROCESSOS INOVATIVOS Uma agenda de políticas a ser implementada deve não só pautar em criar condições para superar os problemas existentes, mas também explorar as potencialidades, neste sentido, sugerese as seguintes políticas: 1a.) Ampliar os espaços de aprendizagem como fonte de processos inovativos O arranjo, em estudo, apresenta possibilidades de se explorarem os mecanismos de aprendizado informal para o desenvolvimento de processos inovativos, cabe, portanto: a) estimular processos inovativos a partir do espaço da produção instituindo regime de incentivo; b) criar espaços internos de discussão sobre possibilidades de mudança técnica; c) divulgar os melhoramentos e modificações nos métodos de produção, insumos associados e produtos; d) aumentar as relações de complementariedade produtivas para intensificar as relações de troca e as especializações existentes; f) conscientizar empresas e instituições de que se deve criar um path dependence dos processos de aprendizagem considerando a inexistência de cópia e transferência de um sistema ideal; g) elaborar estudo sobre a participação dos fornecedores e estabelecer condições para se instalarem no arranjo; h) abrir espaços permanentes para fornecedores divulgarem seus produtos e trocarem informações tecnológicas; h) criar canais de comunicação com clientes – site, mídia, fone; i) ampliar o sistema de venda para mercados com maior nível de exigência de qualidade. 2a ) Criar condições para desenvolvimento formal de atividade de P&D nas empresas Considerando que as empresas não desenvolvem P&D de forma ativa internamente, sugere-se: a) criar de infra-estrutura tecnológica – laboratórios, técnicos especializados; b) destinar recursos financeiros anuais para P&D; c) intensificar as atividades internas de P&D estimulando a capacidade de criação em projetos de desenvolvimento de produto – concepção, design, protótipo; d) fazer acordos e alianças em projetos cooperativos tecnológicos com outras empresas - concorrentes e fornecedores – e com instituições de pesquisa interna e externo ao arranjo; d) utilizar dos instrumentos legais de proteção a inovação; e) criar sistema de informação que permita ter acesso a conhecimento específicos da atividade do arranjo; f) estimular o desenvolvimento de ações interativas - complementariedade produtiva; g) participar de feiras, eventos e cursos de atualização tecnológica; h) instituir sistema anual de prêmio para empresas inovadoras; 3o.) Capacitar e treinar mão-de-obra para práticas inovativas Uma das principais externalidades do arranjo é a qualidade da mão-de-obra, que segundo as empresas possui conhecimento prático e/ou técnico na produção, disciplina, flexibilidade e capacidade para aprender novas qualificações. Esta potencialidade deve ser explorada através de: a) realizar cursos de atualização tecnológica; b) promover treinamento operacional em fases do processo produtivo; c) realizar curso de difusão de uso das tecnologias de informação; d) promover seminários explicativos sobre dinâmica de processos interativos e cooperativos; e) instituir programas de intercâmbio entre empresas e instituição de ensino e pesquisa para trocas de informações e obtenção de conhecimento; f) proporcionar estágios remunerados para trabalhadores que estejam fazendo cursos técnicos e superiores; g) desenvolver prática de necessidade constante de aperfeiçoamento técnico-profissional; h) criar sistema de incentivo para trabalhadores que realizam cursos técnicos e superiores. 13 4a.) Promover interação progressiva conjunta dos agentes – instituições e empresas visando a inovação O arranjo conta com um arcabouço institucional que não é aproveitado em maior intensidade pelas empresas, para tanto cabe desenvolver ações voltadas a: a) criar espaço de discussão permanente sobre capacitação em processos inovativos; b) desenvolver programas de ação conjunta em torno de aquisição de máquinas e equipamentos atualizados tecnologicamente; c) estimular projetos cooperativos em pesquisa e desenvolvimento; d) criar programas de qualidade e de padronização de produtos; e) incentivar a demanda por consultorias técnicas externas; f) criar rede de informação acerca do estado das artes em tecnologias e gestão; g) fomentar grupos de estudo com o propósito de identificar oportunidades para desenvolvimento de novos produtos; h) auxiliar na criação de marca identificadora da qualidade dos produtos do arranjo; i) demonstrar que o espaço territorial em que se encontram as empresas oferece recursos relacionais que auxiliam as iniciativas privadas; j) firmar convênios com instituições de pesquisas avançados no país e no exterior. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo da concepção de regime tecnológico, que sinaliza o ambiente no qual as inovações estão inseridas, foi verificado, segundo dados e informações obtidas, que padrão tecnológico da indústria moveleira encontra-se maduro, em condições estáveis. Esta condição caracteriza-se por baixas condições do surgimento de potenciais oportunidades tecnológicas; a ocorrência de baixo nível do conhecimento base da indústria, dado a pouca tacitividade dos conhecimentos e a existência de baixas condições de apropriabilidade dado que os sistemas de proteção expressos por patentes, curvas de aprendizagem, tempo de produção, são frágeis para assegurar por muito tempo ganhos extraordinários. Dadas estas condições, ocorrem as inovações incrementais, com pequenos melhoramentos, aperfeiçoamentos, etc. Neste sentido, sobressaem os processos de aprendizado learning by doing, learning by using e learning by interacting O learning by doing ocorre dentro das unidades produtivas das empresas, é o aprendizado relacionado à experiência do trabalho que é feito pelo funcionário, que ao operar o maquinário aprende a aproveitar ao máximo suas potencialidades, acumulando conhecimentos, através da experiência de seu uso, capazes de desenvolver a capacidade inovativa, implementando novos procedimentos. Isto se verifica nos processos produtivos, sobretudo com as máquinas e equipamentos importadas, onde ocorrem melhoramentos a partir de experiências, habilidades, conhecimentos que permitam melhoria. Evidencia-se a forte atividade interativa entre as empresas e seus clientes, configurando o processo de aprendizado learning by using. Considerando os diferentes nichos de mercado das empresas esse tipo de aprendizado ocorre diferentemente de uma empresa para outra Referente a grande e médias empresas que apresentam clientes internacionais, a troca de informações tecnologicas, sugestões de melhoria nos produtos etc. ocorrem segundo as imposições dos clientes que fornecem o design do produto. Tal quadro limita, mas não impede, a capacidade inovativa adquirida pelas empresas (grande e média) nesse processo de aprendizado. Enquanto que a pequena empresa, atende somente ao mercado doméstico o design é desenvolvido internamente, fazendo com que os resultados da interação empresa-cliente tornem-se mais visíveis. O processo learning by interacting, ocorre por meio da interação existente entre as empresas e seus fornecedores de insumos e equipamentos. Esse aprendizado acontece com 14 grande intensidade com fornecedores de máquinas tanto internacionais quanto nacionais, manifestando-se através da troca de informações técnicas que atendam a demanda solicitada pelas empresas aos fornecedores, que recebem posterior retorno de sua aplicabilidade. A distância entre os agentes não limita o aprendizado para a grande e média empresas. No caso da grande é freqüente o envio de seus funcionários aos locais de origem das máquinas, configurando visitas aos países fornecedores; na média empresa o contato ocorre entre os diretores e os fornecedores enquanto que a pequena empresa não costuma se deslocar para outros países, o contato com os fornecedores de suas máquinas importadas ocorre apenas durante os treinamentos que acontecem após a compra. Esse tipo de treinamento também ocorre na grande e média empresas. Fica evidente no estudo que as estratégias tecnológicas adotadas pela indústria moveleira assemelham-se aos setores que adotam estratégias imitativas, uma vez que desenvolvem a capacidade de inovar, porém destinam poucos esforços para P&D e possuem eficaz sistema de informação que permite acompanhar as inovações de produto e processo. Tal inovação é freqüentemente utilizada pelas empresas tradicionais que dependem do dinanismo dos setores fornecedores de tecnologia. Constata-se que as dificuldades para o avanço da capacitação tecnológica a partir do estudo da pequena, média e grande empresas selecionadas foram destacados os principais obstáculos: a falta de incentivos fiscais e financeiros para subsidiar gastos voltados para a construção de infra-estrutura tecnológica; b) a fraca atuação da indústria de máquinas e equipamentos nacional, que se encontra tecnologicamente inferior a dos países líderes, dificultando maior rapidez na atualização das bases técnicas a um menor custo para as empresas; c) a falta de recursos humanos qualificados com capacidade de desenvolver as mudanças técnicas no setor; d) no caso específico para a pequena empresa a falta de espaço físico impede o crescimento das unidades produtivas, assim como uma melhor distribuição das etapas do processo de fabricação. No intuito de desenvolver a capacitação tecnológica das empresas no arranjo sugere-se comopolítica ações voltadas a: a) ampliar os espaços de aprendizagem como fonte de processos inovativos; b) criar condições para desenvolvimento formal de atividade de P&D nas empresas; c) capacitar e treinar mão-de-obra para práticas inovativas e; d) promover interação progressiva conjunta dos agentes – instituições e empresas - visando a inovação. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRESCHI, S., MALERBA, F. (1997) Sectorial innovation systems: technological regimes, schumpeterian dynamics and spatial boundaries. In: EDQUIST, C. (org.) Systems of innovation: technologies and organizations, Pinter Londres, 1996. CASSIOLATO, J.E.; SZAPIRO, M. Aglomerações geográficas e sistemas produtivos e de inovação. Nota Técnica do Projeto Promoção de Sistemas Produtivos Locais de Micro, Pequenas e Médias Empresas Brasileiras. Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. Rio de Janeiro. IE/UFRJ, 2002. CROCCO, M; e HORÁCIO, F. Industrialização Descentralizada: Sistemas Industriais Locais e o Arranjo Produtivo Moveleiro de Ubá. Nota Técnica 38. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 2001. 15 DOSI, G. (1988) Sources, procedures and microeconomics effects of innovation. Journal of Economic Literature. Vol. XXVI, set., no. 3, p. 1120-1171 LEMOS, C. (2001) Inovação em Arranjos e Sistemas de MPME – Nota Técnica 1.3. Rio de Janeiro: IE/UFRJ. MALERBA, F. (1992) Learning by Firms and Incremental Technical Change. The Economic Journal. July, 845-859. MALERBA, F.; ORSENIGO, L. (1996) Technological Regimes and Sectoral Patterns of Innovative Activities. In: Dosi, G. e Malerba, F. Organizations and Strategy in the Evolution of the Interprise. Oxford University Press. STORPER, M. HARRISON, B. (1991) Flexibility, hierarchy and regional developments: the changing structure of industrial production systems and their forms of governance in the 1990s. Research Policy, North-Holland, v. 20, no. 5 VARGAS, M. A. (2002) Aspectos conceituais e metodológicos da análise de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais. Nota Técnica 1. UFSC/CSE/SEBRAE.