PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS Faculdade de Tecnologia e Ciências - FTC Disciplina: Tópicos Especiais em Psicologia II (Psicoterapia Cognitivista) Prof ª Esp. Carla Eloá Ferraz PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS Conceito e Características: são breves, telegráficos; A interpretação de uma situação ocorre sob a forma de pensamentos automáticos; não são peculiares somente a pessoas com transtornos (é uma experiência comum a todos nós); aceitos geralmente como verdadeiros, sem reflexão ou avaliação PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS Conceito e Características: são espontâneos; não são baseados na reflexão; passam geralmente desapercebidos; pode-se aprender a identificar e checar sua validade e utilidade; são pensamentos mais manifestos. PAI Situação: pede a Joana que coma de boca fechada. Não é obedecido. PA: Joana está me desrespeitando. Emoção: raiva Conduta: coloca-a de castigo. Joana Sou um pai inadequado. Conduta: Protesta gritando. Emoção: tristeza/raiva PA: Meu pai não gosta de mim. Sou uma criança má PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS Características: O paciente, com freqüência, está mais ciente da emoção do que do pensamento em si. Na sessão, o paciente pode estar ciente de se sentir ansioso, triste, porém, inconsciente dos PA’s, até que o terapeuta o questione. A emoção está conectada ao conteúdo do PA. PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS DISFUNCIONAIS O terapeuta cognitivo procura identificar os pensamentos automáticos que são disfuncionais: Distorcem a realidade; São emocionalmente aflitivos; Interferem com a habilidade do paciente de atingir suas metas; Geram comportamentos mal-adaptados. PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS DISFUNCIONAIS São quase sempre negativos, a menos que o paciente seja maníaco, tenha um transtorno de personalidade narcisista ou possua dependência à substâncias. PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS “Eu sou burra! Eu sou burra! Eu não entendo de verdade o que ele está dizendo“. Tristeza “Ele está olhando para o relógio. Sou desinteressante”. Levemente raivosa “E se eu não conseguir chegar a tempo!? O que eu farei?” Ansiosa PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS FORMA ABREVIADA “Poxa!" - Pode ser traduzido como: “Ela sempre faz isso, ela gosta de me provocar.” "Droga!" - Pode expressar a seguinte idéia: “Ele vai me deixar” Eu não consigo ser uma mulher atraente!!!" PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS FORMA VISUAL Os PA’s podem estar em uma forma verbal, visual (imagens) ou em ambas. Além do PA verbal ("Oh, não!"), Sally teve uma imagem de si mesma sozinha, chorando após o terapeuta se recusar a atendê-la pelo seu atraso. Ex: Paciente com Transtorno Narcisista PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS VALIDADE E UTILIDADE Os PA’s podem ser avaliados de acordo com sua validade e utilidade. Exemplo: Preocupações produtivas e improdutivas. O PA pode ser correto, porém, a conclusão que o paciente extrai é distorcida. Exemplo: "Não fiz o que prometi à minha colega de quarto“, é válido. A conclusão: "Portanto, sou má pessoa“. PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS VALIDADE E UTILIDADE Outro exemplo de PA correto, porém, disfuncional: Sally, estudando para um exame, pensa: "Vou levar horas para terminar isso. Ficarei acordada até as três da manhã.” Aumento da ansiedade e redução da concentração e motivação. PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS As pessoas com freqüência aceitam seus pensamentos automáticos como verdadeiros, sem reflexão ou avaliação. Exemplo: “Não consigo fazer nada direito” (Depressão Maior) Identificar, avaliar e responder a pensamentos automáticos (de uma forma mais adaptativa) usualmente produz uma mudança positiva no afeto. COMO E X PLICAR PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS AOS PACIENTES É desejável utilizar os PA´s dos próprios pacientes. Adequar a explicação à idade e grau de escolaridade do paciente. IDENTIFICAÇÃO DE PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS Pergunta básica: O que estava passando pela sua cabeça naquele momento? COMO OBTER PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS 1. - Identificar pensamentos automáticos na própria sessão. “Cognições quentes”; Perceber mudança ou aumento de emoção: Indícios não-verbais: Mudanças na expressão facial; Enrijecimento de músculos; Mudanças de postura ou gestos de mão. Indícios verbais: Mudanças no tom, altura, volume ou ritmo da voz. COMO OBTER PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS 2. Fazer o paciente descrever uma situação problemática e, no momento que houver mudança de humor, fazer a pergunta básica. Ex. choro dos pacientes 3. Fazer o paciente imaginar uma situação especial, como se ela estivesse acontecendo, e questioná-lo. 4. Dramatizar com o paciente determinada situação e perguntar, quando houver mobilização de afeto, o que o paciente pensou naquele momento. COMO OBTER PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS Identificando os Pensamentos Automáticos complementares: Continuar questionando o paciente mesmo depois que ele relata um PA inicial. Esse questionamento adicional pode trazer à luz outros pensamentos importantes. Como distingüir PA’s úteis de PA’s menos úteis Até que o paciente aprenda a reconhecer os PA’s específicos que o afligem, ele pode relatar outros menos úteis. PA’s relevantes são usualmente associados com aflição marcada. O terapeuta tenta determinar qual pensamento será mais produtivo focalizar. Mudando a forma dos PA´s Telegráficos ou em forma de Pergunta Os pacientes com freqüência relatam pensamentos que não são plenamente compreendidos. O terapeuta orienta o paciente a expressar o pensamento o mais exato possível. O PA expresso na forma de pergunta, torna difícil a sua avaliação. O terapeuta orienta o paciente para expressá-lo em uma forma de declaração antes de ajudá-lo a avaliar o PA. Como mudar a forma dos PA´s Telegráficos T: “O que passou pela sua cabeça quando o trabalho foi anunciado?” P: “Nossa", eu apenas pensei, “Nossa." T: “Você pode especificar este pensamento? “Nossa“ significa o quê? P: “Eu jamais conseguirei fazer o trabalho a tempo. Eu tenho muitas coisas para fazer.” Como mudar a forma dos PA´s em Forma de Pergunta Pergunta Declaração Será que serei capaz de fazer essa viagem? Não serei capaz de viajar. Será que eu vou conseguir fazer a prova? Não vou conseguir fazer a prova. Ele não vai gostar de mim. E se ele não gostar de mim? Registro de Pensamentos Disfuncionais Situação Pensamento Automático Emoção Comportamento Eu estava em casa e minha mãe olhou pra mim de um jeito estranho. “O que foi que eu fiz?” “ela já está pensando que vou pedir alguma coisa p/ ela”(90 %) Raiva 100% Saí da sala e batí a porta do quarto. Eu estava na igreja e vi que as pessoas estavam olhando para mim. “As pessoas estão me rejeitando”80% Tristeza 90% Não vou mais a igreja... Eu estava num ônibus em SP, e aconteceu um assalto. Os assaltantes apontaram a arma p/ mim. “eles vão atirar em mim” “vou morrer” 99% Medo 100% Pulei do ônibus. Passei 2 anos sem entrar em ônibus. No escola, eu estava com o meu ex que me traiu conversando na lanchonete. “todos vão pensar que a gente reatou o namoro” Vergonha 90% Deixei ele praticamente falando sozinho. Distorções Cognitivas 1. Acredito que posso dizer o que as outras pessoas estão pensando ou que elas sabem o que estou pensando."Ele acha que sou bobo” Leitura de pensamento 2. Posso prever o futuro ─ que as coisas vão piorar ou que há perigo à frente. Assim, passo para toda sorte de conclusões catastróficas. "Vou ser reprovado no vestibular" ou "Não vou conseguir o emprego” ou "Vai ser horrível se eu não conseguir ser aprovado" Previsão de futuro ou catastrofização 3. Fico imaginando: “e se...” isto ou aquilo acontecer... e raramente fico satisfeito com as respostas. "Sim, mas... e se eu ficar ansioso?" ou “E se eu desmaiar?” Pensamento do tipo “e se...” 4. As minhas realizações não contam ou contam pouco. "A prova foi fácil, por isto consegui tirar 10” Desqualificação do positivo 5. Foco minha atenção quase exclusivamente nos detalhes negativos e raramente noto o todo da situação. “A irmã da anfitriã da festa não gostou de mim" Filtro negativo ou abstração seletiva 6. Noto um padrão global de aspectos negativos com base em um único acontecimento. "Isto sempre acontece comigo. Falho em tudo que tento fazer” Supergeneralização 7. Interpreto os acontecimentos em termos de como as coisas deveriam ser e do que eu deveria fazer ao invés de como as coisas são e do que posso fazer agora ou no futuro. "Eu deveria fazer tudo bem" Deveria... 8. Dou atributos negativos a mim e a outras pessoas. "Sou um fracassado" ou "Ele é um menino mimado" Rotulação 9. Interpreto comentários, questões e comportamentos de outras pessoas como crítica sobre o meu valor, mesmo quando não tenho certeza de ser o caso. "Ela disse que estava cansada, mas o que realmente quis dizer foi que não queria ficar comigo" Personalização 10. Vejo os acontecimentos e as pessoas em termos de pensamentos do tipo “tudo-ounada”, “preto-e-branco”, “oito-ou-oitenta”. "Se eu não for aceita por todos, isto significa que sou um fracasso" Pensamento dicotômico 11. Interpreto os acontecimentos utilizando padrões pouco realistas, focando minha atenção naqueles que se saem melhor do que eu e, então, me julgo inferior nessa comparação. "Ela conseguiu mais sucesso do que eu" ou "Os outros se saíram melhor do que eu na prova" Comparações pouco razoáveis 12. Foco minha atenção na idéia de que poderia ter feito melhor no passado, e não no que posso fazer melhor agora. "Poderia ter conseguido um melhor trabalho se tivesse me esforçado” or "Eu não devia ter dito aquilo" Tendência à lamentação 13. Foco minha atenção nas outras pessoas como fontes dos meus sentimentos negativos e recuso-me a assumir a responsabilidade da minha própria mudança. "Ela é a culpada pelo que estou sentindo agora" ou "Meus pais causaram todos os meus problemas" 14. Permito que os meus sentimentos determinem minha interpretação dos fatos. "Tenho um bom emprego e parece que os meus colegas me apreciam, mas eu me sinto incompetente" ou “Racionalmente eu sei que ela gosta de mim, mas, no fundo, sei que tudo vai dar errado” Atribuição de culpa Raciocínio emocional Reestruturação Cognitiva Situação Pensamento Automático Emoção Comportamento Pensamento Alternativo Eu estava em casa e minha mãe olhou pra mim de um jeito estranho. “O que foi que eu fiz?” “ela já está pensando que vou pedir alguma coisa p/ ela”(90 %) Raiva 100% Saí da sala e batí a porta do quarto. “Só posso saber o que minha mãe pensa se perguntar a ela” Eu estava na igreja e vi que as pessoas estavam olhando para mim. “As pessoas estão me rejeitando”80% “Elas não me aceitam aqui na igreja” Tristeza 90% Não vou mais a igreja... “ Se eles se dizem cristãos eles não devem julgar tanto” Eu estava num ônibus , e aconteceu um assalto. Os assaltantes apontaram a arma p/ mim. “eles vão atirar em mim” “vou morrer” 99% Medo 100% Passei 2 anos sem entrar em ônibus. “Assaltos acontecem, mas não significa que toda vez que eu andar de ônibus serei assaltado” No escola, eu estava com o meu ex que me traiu conversando na lanchonete. “todos vão pensar que a gente reatou o namoro” Vergonha 90% Deixei ele praticamente falando sozinho. As pessoas estão prestando atenção nas suas conversar e não em mim... Questionamento Socrático Exemplo: PA - “Eu não mereço coisas boas” Terapeuta: Quais as evidências que comprovam que o seu PA é verdadeiro? Paciente: Bem. Eu já perdi de ano 2 vezes. Minha mãe me abandonou quando eu era pequeno. Terapeuta: Quais as evidências que comprovam que o seu PA não é verdadeiro? Paciente: Ah sei lá...As vezes as pessoas falam que sou uma pessoa boa, prestativa, mas não acredito muito nelas...Eu também adotei uma criança, acho que pelo menos neste ponto eu consigo ser alguém que merece ser feliz. Questionamento Socrático Exemplo: PA - “Eu não mereço coisas boas” Terapeuta: Há uma explicação alternativa? Paciente: Na verdade, eu me coloco demais p/ baixo. Se tanta gente vive dizendo que sou uma pessoa boa é por que devo ser. Talvez eu mereça ser feliz. Terapeuta: Qual é o pior que poderia acontecer? Paciente: Ué... Eu ser uma pessoa infeliz. Terapeuta: Qual é o melhor que poderia acontecer? Paciente: eu ficar bem e feliz... Questionamento Socrático Terapeuta: Qual o resultado mais realista? Paciente: Eu não sou perfeito, mas também não sou a pior pessoa do mundo. Terapeuta: Qual é o efeito de você acreditar neste pensamento automático? Paciente: Quando eu acredito, eu fico muito triste e frustrado... Terapeuta: Qual poderia ser o efeito de mudar o seu pensamento? Paciente: eu me sentiria mais aliviado... Questionamento Socrático Terapeuta: Você poderia fazer algo com relação à isso? Paciente: eu poderia tentar pensar de uma forma diferente. Terapeuta: Se um amigo estivesse na mesma situação e tivesse esse pensamento o que você diria a ele? Paciente: eu diria à ele que muitas vezes é coisa da nossa cabeça e que não devemos ficar acreditando tanto nesses pensamentos ruins... Questionamento Socrático 1. Quais as evidências que comprovam que o seu pensamento automático é verdadeiro? Não verdadeiro? 2. Há uma explicação alternativa? 3. Qual é a pior coisa que poderia acontecer? Você poderia superar isso? Qual é a melhor coisa que poderia acontecer? Qual o resultado mais realista? 4. Qual é o efeito de acreditar nisso?Qual poderia ser o efeito de mudar o seu pensamento? 5. Você poderia fazer algo com relação à isso? 6. Se um amigo estivesse na mesma situação e tivesse esse pensamento o que você diria a ele? REGISTRO DE PENSAMENTOS DISFUNCIONAIS Dia/Hora 08/07 Situação Sentimentos Pensamentos Automáticos Resposta Alternativa Reavaliação Descrever: 1. o que está acontecendo que possa ter levado à emoção 2. Corrente de pensamento, devaneio ou lembrança que possa ter levado à emoção 1. Especificar a emoção (ex.: triste, ansioso, zangado etc.) 2. Assinalar a intensidade da emoção numa escala de 0 a 100 1. Anotar o(s) pensamento(s) associados à emoção da forma como apareceram na mente 2. Indicar o grau de convicção para cada pensamento numa escala de 0 a 100 1. Anotar cada resposta racional para o(s) pensamento(s) registrado(s) lendo as perguntas abaixo. 2. Avaliar o grau de convicção em cada resposta racional (0-100) 1. Reavaliar o grau de convicção em cada pensamento automático (PA = 0-100) 2. Reavaliar a intensidade de cada emoção (E = 0-100) Sendo apresentado a desconhecidos Medo, inseguro, ansioso (80) Triste (70) Zangado (100) Vergonha (90) Eles não vão gostar de mim. (90) Não tenho valor. (80) Não sou gostável (90) Não tenho conteúdo interior. (90) Não tenho carisma. (100) Sou sem-graça. (100) Sou sério demais. (80) 1. Não tenho provas disso. 2. Posso ser gostável. Outro dia mesmo um cara saradão deu em cima de mim. 3. O pior seria eu ficar solitário; poderia superar sim; não seria catastrófico; o melhor seria ser aceito por todos; o mais provável seria agradar a uns, não a todos. 4. Diria para ele não ser tão pessimista e que tentasse ser espontâneo, ser ele mesmo. 5. Tentar ser eu mesmo. (70) Medo, inseguro, ansioso (40) Triste (60) Zangado (80) Vergonha (50) Perguntas para ajudar a compor uma resposta alternativa: (1) quais são as provas que o meu pensamento é verdadeiro? Não verdadeiro? (2) Há explicações alternativas? (3) O que é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso? É tão catastrófico assim? Qual o melhor que poderia acontecer? Qual o resultado mais provável, mais realista? (4) Se (um amigo meu) estivesse na situação e tivesse esse pensamento, o que eu diria para ele? (5) O que eu deveria fazer a esse respeito? (6) Qual é o efeito da minha crença no pensamento automático? Qual poderia ser o efeito de mudar o meu pensamento? Reavalie a convicção nos pensamentos automáticos e nos sentimentos associados. Traduzido de Beck, 1996 e adaptado por Bernard Rangé Registro de Pensamentos Disfuncionais Situação (Onde eu estava? O que aconteceu?) Eu andava pela rua quando dei de cara com dois pivetes. Pensamento Automático Emoção Comportamento Pensamento ( O que eu (O que eu fiz?) (O que passou pela minha cabeça naquele momento?) senti?) Alternativo “Vou ser assaltado” 90% Medo Ansiedade 100% (Qual o pensamento mais realista? Comecei a correr e eles ficaram olhando p mim. “ Eles podem morar na rua e não serem marginais” Referências • Beck, J. (1997). Terapia Cognitiva – Teoria e Prática (S. Costa, trad.), Porto Alegre: Artmed, 1997.