Ministério de Minas e Energia
Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
ELEMENTOS QUÍMICOS (METAIS PESADOS) EM ÁGUAS
DE ABASTECIMENTO PÚBLICO NO ESTADO DO CEARÁ
Sergio João Frizzo
Abril de 2006
Ministério de Minas e Energia
Silas Rondeau Cavalcante Silva
Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral
Claudio Scliar
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
Diretor- Presidente
Agamenon Sergio Lucas Dantas
Diretor de Hidrologia e Gestão Territorial
José Ribeiro Mendes
Diretor de Geologia e Recursos Minerais
Manoel Barretto da Rocha Neto
Diretor de Relações Institucionais e Desenvolvimento
Fernando Pereira de Carvalho
Diretor de Administração e Finanças
Alvaro Rogério Alencar Silva
Departamento de Gestão Territorial
Cássio Roberto da Silva
REFO – Residência de Fortaleza
DEPAT / DIEDIG – Divisão de Editoração Geral
Editoração/Design
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1
2- AS ÁGUAS PÚBLICAS NO CEARÁ............................................................ 4
3- CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS ÁGUAS NO ESTADO.......................... 7
4- ASPECTOS GEOLÓGICOS DOS SÍTIOS DE CAPTAÇÃO ....................... 11
5- METODOLOGIA DO TRABALHO ............................................................. 12
6- VARIAÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL NA COMPOSIÇÃO DAS ÁGUAS .. 15
7- RESULTADOS......................................................................................... 16
7.1- ASSOCIAÇÕES GEOQUÍMICAS............................................................ 18
7.2- ELEMENTOS E SUA DISTRIBUIÇÃO .................................................... 20
8- CONCLUSÕES ........................................................................................ 61
9- CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES.................................. 62
10- AGRADECIMENTOS .............................................................................. 63
11- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 64
ANEXO I - CONCENTRAÇÃO DOS ELEMENTOS EM EXCESSO RELATIVAMENTE AO VALOR DE REFERÊNCIA DO CONSELHO NACIONAL DO
MEIO AMBIENTE – CONAMA
ANEXO II - VARIAÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL NA COMPOSIÇÃO DAS ÁGUAS
ANEXO III - RESULTADOS ANALÍTICOS
ANEXO IV - FOTOS DOS LOCAIS DE CAPTAÇÃO D’ÁGUA
1 - INTRODUÇÃO
O presente trabalho constitui uma atividade do Programa PGAGEM - Programa
Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica, de amplitude
nacional, que se encontra em desenvolvimento pelo Serviço Geológico do Brasil CPRM e outras entidades conveniadas como o apoio na analise de parte das amostras
pela Agência Nacional de Águas-ANA, Superintendência de Administração da Rede
Hidrometeorógica, através do Projeto de Operação da Rede pelo DEHID/CPRM; é
voltado às relações entre o quimismo dos objetos geológicos e sua influência nas
áreas do meio ambiente e saúde pública, especialmente em toxicologia.
O principal objetivo desse Programa é o mapeamento geoquímico regional de
baixa densidade de todo o país, para finalidades geológicas e ambientais, por meio da
amostragem sistemática de solos, sedimentos de fundo de drenagens (material
aluvionar) e águas, analisados por meio de vários métodos laboratoriais para ampla
gama de elementos químicos, muitos dos quais são prejudiciais à saúde humana e/ou
animal. O resultado final desse mapeamento comporá um panorama geral, sobre o
qual eventuais fenômenos locais de enriquecimento ou deficiência de elementos, com
implicações geológicas, ambientais e na saúde pública, poderão ser estudados e
melhor avaliados.
Relatam-se neste documento os resultados obtidos nas análises químicas, para
vários elementos-traço e compostos inorgânicos, das águas coletadas nos açudes,
fontes, rios e poços que constituem os principais mananciais de abastecimento dos
municípios do estado do Ceará. Trata-se de um trabalho de “verificação” da qualidade
química das águas que estão sendo captadas naqueles determinados locais e
ocasiões da amostragem, antes do tratamento e distribuição; não representa
monitoramento, que envolve a coleta e análises de amostras em mesmos pontos, ao
longo do tempo.
Os corpos d’água são geralmente sistemas abertos cuja composição, de material
carreado em suspensão e solutos, deriva dos diferentes meios pelos quais o líquido
percola. Tais constituintes - alguns tóxicos aos organismos vivos - entre os quais se
destacam os produtos da ação intempérica sobre rochas e solos, os gases e aerossóis da
atmosfera e os resíduos das atividades antrópicas, são submetidos ciclicamente a
reações de hidrólise e dissociação de material cristalino, complexação, sorção e desorção
de espécies iônicas pelos colóides, mudanças no estado de oxidação e precipitação etc,
influenciadas por muitos fatores ambientais, como clima, localização, geologia etc. e pelas
atividades biológicas. Desse inter-relacionamento complexo e variável de [materiais x
processos] resulta um quimismo em contínuo processo de transição, que dificilmente
levam os diversos sistemas de água ao equilíbrio. Em uma rede de drenagem natural, a
maior proporção no conteúdo de elementos químicos é registrada na carga em
suspensão, ligada preferencialmente a argilas.
No que concerne à saúde humana e animal, a água conduz muitos constituintes
minerais e químicos que são facilmente absorvidos pelas células. Muitos são benéficos e
essenciais à vida, atuando na prevenção de certos tipos de moléstias, em complemento
das necessidades orgânicas satisfeitas via ingestão sólida.
1
Vários deles propiciam benefício ou toxicidade, dependendo das respectivas
concentrações na água de beber: a aplicação suplementar de Flúor em pequena
dosagem às águas de abastecimento público previne e minimiza a incidência da cárie
dental da população servida, num procedimento há décadas universalizado; todavia, a
existência de águas naturalmente enriquecidas nesse elemento, como ao norte do estado
do Paraná, afeta a população que a consome provocando grave incidência de manchas e
deformidades nos dentes, doença conhecida como fluorose dentária (LICHT, 2002). O
Selênio é outro elemento ambivalente: sua necessidade humana é suprida numa dieta
alimentar normal mas a deficiência crônica dele é causa dos males de Keshan
(cardiomiopatias) e de Kashin-Beck (artrite deformante), e a ingestão em excesso ao
longo do tempo (selenose) causa dermatites e ataca o sistema nervoso, podendo levar à
morte (TIGLEA & DE CAPITANI, 2003; KLEIN, 2005).
Outros elementos, como Alumínio, Chumbo e Mercúrio, não desempenham papéis
fisiológicos conhecidos, exercendo sua toxicidade especialmente sobre os sistemas renal
e nervoso.
Nossa saúde está ligada à qualidade da água que consumimos.
A atuação de elementos químicos tóxicos existentes na água, no metabolismo ou
funcionalidade humanos, pode acontecer simplesmente pela sua ingestão normal e, mais
freqüentemente, de maneira indireta, por meio do consumo de organismos que dela
absorveram e concentraram tais constituintes.
A intoxicação pela água de beber difere da contaminação biológica, pois seus
efeitos se dão geralmente pela exposição crônica, ou seja, pela ingestão continuada por
um longo período de tempo. Os elementos que poderiam causar grandes danos à saúde
por única alta dosagem, envenenamento ou exposição aguda, são poucos, pois, nesse
caso, a água geralmente tem aparência, odor ou paladar inaceitável ao consumo.
Inúmeras são as ocorrências de intoxicações e doenças em humanos e animais,
algumas delas endêmicas em grandes áreas, relacionadas ao consumo d’água com
contaminantes. Nian-Feng Lin, Jie Tang & Jian-Min Bian (2004) citam várias ocorrências
de doenças neurológicas na China e mencionam o estreito relacionamento entre o teor de
sais dissolvidos e a proporção de óbitos em casos de acidentes cardiovasculares,
detectado em estudos nos Estados Unidos e na Europa. Casos de intoxicação por
Arsênio em água (ulcerações, carcinomas) foram notificados na China, Índia, México,
Chile e Argentina, atingindo vários milhares de pessoas, havendo risco potencial, no
Brasil, nas regiões do delta do rio Amazonas e do Quadrilátero Ferrífero (SCARPELLI,
2003).
Pela via indireta, peixes e outros organismos aquáticos, vivendo em águas
contaminadas, podem acumular em seus tecidos elementos químicos tóxicos e, caso
pescados e consumidos, os tornam disponíveis para o metabolismo humano. O
envenenamento por Mercúrio (metilmercúrio) de vários milhares de pessoas na região da
baía de Minamata e mar de Yatsushiro (Japão) desde 1956, causado pelo consumo de
peixes contaminados, é um dos mais significativos exemplos da poluição da água
causada por uma indústria (KUDO et al., 1998).
No Brasil, os estudos bioquímicos sobre a fauna aquática concentram-se na região
amazônica, devido especialmente à liberação de Mercúrio para a atmosfera e para os
2
rios, tendo como fonte inúmeros garimpos de Ouro; na internet, encontram-se
referenciadas mais de 1.200 obras sobre o assunto. Um desses trabalhos, de Santos,
Câmara, Brabo et al. (2003), relata o estudo de uma população de 910 índios Pakaanóva
(Rondônia), habitantes de aldeias próximas entre si e de diversas faixas etárias, que
determinou concentrações de Mercúrio indicativas de excessiva exposição em mais de
50% dos indivíduos; tal fato foi atribuído ao consumo de peixes, provenientes de rios
contaminados pelos resíduos da garimpagem e amalgamação de ouro.
De maneira também indireta, a utilização dessas águas em irrigação propicia a
infiltração dos elementos no solo e sua disponibilização para as culturas; havendo a
absorção pelos vegetais, em concentrações potencializadas caso tais vegetais sejam
bioacumuladores, seus efeitos tóxicos se farão sentir ao serem consumidos pela
população. Na região de Fungang, Japão, o rio Shentong drena áreas com resíduos de
minério de Zinco, e suas águas, com altas concentrações de Cádmio, são utilizadas para
irrigar plantações de arroz; o consumo desse cereal resulta na ocorrência freqüente de
casos de intoxicação na população residente (YAMA, 1987, citado por NIAN-FENG LIN,
JIE TANG & JIAN-MIN BIAN, 2004).
A real dimensão do problema da sanidade das águas de consumo, que tende a se
agravar em âmbito mundial, pode ser melhor avaliada ao acompanhar-se na imprensa as
informações quase que diárias sobre o tema, das quais, a título de exemplo, foram
selecionadas as seguintes:
Notícia da China, divulgada na Internet (Agência EFE – Portal UOL – Últimas
Notícias em 23/03/2005), dá conta de que pelo menos 360 milhões de chineses,
representando um terço da população rural, precisam urgentemente de água potável,
tendo sido constatado que 63 milhões de habitantes das zonas rurais setentrionais têm
que beber água com altos conteúdos de Flúor, outros 38 milhões de residentes no norte e
nas costas do leste do país consomem águas com alto conteúdo de sal e que mais de
dois milhões de pessoas adoeceram depois de ingerir água com arsênico, em regiões da
Mongólia Interior, Xinjiang, Ningxia, Shanxi e Jilin. As áreas urbanas também não estão a
salvo, já que um estudo de 2003 realizado em 44 cidades demonstrou que 95% dos
poços subterrâneos, principal fonte de água potável dessas regiões, também estavam
contaminados por águas residuais. As autoridades daquele país prevêem como
necessária a realização de um megaprojeto de 500 bilhões de iuanes (60 bilhões de
dólares), a ser concluído em 2050 e denominado Transvasamento de Águas Sul-Norte, a
fim de satisfazer a demanda de água nas regiões setentrionais da bacia do rio Yangtsé,
no sul, em direção ao leste e norte do país asiático.
Pouco tempo atrás, a mesma China foi palco de uma explosão em uma fábrica de
produtos químicos na Província de Heilongjiang, causando um vazamento de benzeno,
substância altamente cancerígena, que, ao se alastrar pelo rio Songhua formando uma
mancha tóxica de 80 km de extensão, atingiu e obrigou o corte do abastecimento de água
da capital da província, Harbin, com 9 milhões de habitantes; a mancha, seguindo o curso
fluvial, deverá chegar na Rússia nos próximos dias, não se sabendo ainda quando a água
dessa drenagem poderá ser novamente utilizada (Portal UOL – Últimas Notícias em
25/11/2005).
Em Helena, Montana (USA), as autoridades estaduais e federais decidiram
remover uma barragem com hidrelétrica, na qual foram depositados, por quase um
século, sedimentos derivados da mineração e plantas de beneficiamento situados no
3
Clark Fork Valley. O Arsênio contido nesses sedimentos contaminou o suprimento de
água potável para a comunidade de Milltown e ameaça a vida aquática e as atividades de
pesca (agência ENS, 21/12/2004).
Uma ação poluidora tipicamente antrópica é exemplificada pela constatação de
que traços do antidepressivo Prozac, potencialmente tóxico, são encontrados na água
bebida na Grã-Bretanha, que chega aos rios e retorna ao sistema de água por meio do
tratamento dos esgotos; reflete o aumento de prescrições (e o conseqüente consumo) de
medicamentos para esses distúrbios mentais, de 9 milhões para 24 milhões/ano entre
1991 e 2003 (jornal DIÁRIO DO NORDESTE, 09/08/2004).
A presença e teores de constituintes orgânicos e inorgânicos na água de consumo é
normatizada por organismos governamentais de saúde pública - no Brasil o Conselho
Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, do Ministério do Meio Ambiente - que
estabelecem os valores de referência idealmente representativos das suas máximas
concentrações permissíveis, sem significativo risco à saúde, mesmo ao se computar seu
consumo durante todo o período de uma vida.
Faz parte de políticas de governo também a preparação de planos emergenciais
relacionados ao meio ambiente. Em nosso país tem-se notícia da criação do Plano
Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a emergências com produtos
químicos perigosos (P2R2), desenvolvido por comissão interministerial coordenada pelo
Ministério de Meio Ambiente. Inicialmente, segundo a nota divulgada, o grupo fará um
levantamento de áreas de risco no país, já que levantamento recente identificou mais
de 15 mil áreas com solo potencialmente contaminado (jornal O POVO – caderno
Ciência & Saúde, edição de 12/12/2004).
2 - AS ÁGUAS PÚBLICAS NO CEARÁ
No estado do Ceará, a Secretaria dos Recursos Hídricos – SRH é o órgão
governamental responsável pelas políticas públicas do setor, tendo como braços
executores a Superintendência de Obras Hidráulicas – SOHIDRA, que constrói e
supervisiona empreendimentos de infra-estrutura hídrica e a Companhia de Gestão
dos Recursos Hídricos – COGERH, encarregada do gerenciamento e disciplinamento
das águas superficiais e subterrâneas. Esta última entidade realiza o monitoramento
qualitativo e quantitativo dos níveis dos açudes públicos e o cômputo das vazões
liberadas; neles e em algumas bacias de rios (médio e baixo Jaguaribe, Banabuiú,
Curu, Acaraú e Metropolitana) analisa alguns parâmetros físico-químicos e biológicos,
determinando índices de qualidade de água. Tem objetivo de num futuro próximo
iniciar o monitoramento das concentrações de metais pesados e pesticidas, ainda não
realizados (W. D. Paulino, informação verbal, 5 de agosto de 2005).
A Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará – SECITECE tem,
vinculados, os Centros de Ensino Tecnológico – CENTEC, que dispõem de 3
Laboratórios de Águas e Efluentes (LAE), em suas unidades de Limoeiro do Norte,
Sobral e Juazeiro do Norte, e realizam análises físico-químicas e bacteriológicas de
águas e efluentes para prefeituras, para a COGERH e para entidades privadas,
novamente sem lidar com os elementos químicos menores e traços.
4
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em sua
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2000 (2005), apenas cerca de 470 dos
760 distritos em que é dividido o território cearense contam com rede de
abastecimento de água, sendo que em 154 deles não há qualquer tratamento. Os
restantes 290 distritos têm abastecimento alternativo por chafariz, bica, poços
particulares, caminhão-pipa etc. Na época de estiagem, o abastecimento por
caminhões-pipa é bastante estendido às populações interioranas, chegando a atingir,
neste ano, as comunidades rurais de 94 municípios (jornal DIÁRIO DO NORDESTE,
edição de 19/11/2005); não há menção das fontes dessas águas distribuídas, nem da
qualidade das mesmas.
O tratamento da água e sua distribuição pública na quase totalidade das sedes
municipais do estado é realizado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará –
CAGECE, empresa privada de prestação de serviços para o fornecimento da água e a
coleta do esgoto sanitário. Em algumas localidades, como Canindé, Iguatu e Sobral,
tais facilidades são próprias e exclusivas do município (órgãos denominados Serviço
Autônomo de Água e Esgoto - SAAE). A Agência Reguladora de Serviços Públicos
Delegados do Ceará - ARCE efetua a regulação e fiscalização dos serviços de água e
esgoto, para garantir a adequada prestação desses serviços e promover a melhoria
dos padrões de qualidade; em 2004, segundo seu boletim ARCE INFORMA (ed.
especial, março de 2005), realizou mais de 50 auditorias técnicas, com foco na
qualidade da água.
Em sua homepage na Internet, a CAGECE descreve o tratamento químico
convencional aplicado às águas para consumo público, que consiste nos seguintes
passos, resumidamente: 1) Coagulação - adição de coagulante para a Formação de
“flocos” coloidais; 2) Cloração – adição de cloro para destruição ou desativação de
algas e microorganismos, patogênicos ou não; 3) Floculação – deposição dos colóides
coagulados; 4) Decantação – separação das partículas sólidas pela ação da
gravidade; 5) Filtração – retenção das partículas insolúveis em filtros de areia; 6)
Fluoretação – adição do elemento Flúor para prevenção da cárie dental na população;
7) Correção do pH – adição de produtos à base de carbonatos para que a água não
seja excessivamente ácida (agressiva às tubulações) ou alcalina (provocando
incrustações). Tratamentos mais simplificados (filtração direta, lenta ou modular)
também são efetuados, bem como dessalinização por osmose direta no caso de alta
salinidade; normalmente, em sistema com mananciais subterrâneos cujas
características físico-químicas estejam dentro dos padrões do Ministério da Saúde, a
CAGECE só efetua desinfecção. No site dessa empresa pode-se consultar a vazão e
tipo de tratamento do manancial explorado, em cada uma das localidades atendidas.
Os tratamentos de rotina da água, tipo clorinação, embora diminuam
concentrações de Fe e Mn, e em certos casos de Cu e Zn, pouco ou não removem As, Ba
e Cd, além de Cr hexavalente, Pb, cianetos, Se, Ag e fenóis (E.E. ANGINO in
THORNTON, 1983, pg. 171), e ainda outros componentes dissolvidos e particulados que
nela podem ocorrer. O próprio tratamento de desinfecção pode dar origem a substâncias
tóxicas: quando Cloro é adicionado à água, forma com a matéria orgânica os chamados
THMs (trihalometanos, principalmente o clorofórmio e outros ácidos haloacéticos, que são
teratogênicos, e uma substância denominada MX (3-cloro-4(diclorometil)-5-hidroxi-2(5H)furanona) que é altamente mutagênica. As concentrações dessas substâncias aumentam
com o tempo de contato e reação do cloro com a matéria orgânica, e acontecem, assim
como a Formação de outros DBPs (Desinfection By-Products – produtos secundários da
5
desinfecção) tóxicos, mesmo dentro do reservatório d’água antes de sua distribuição
(ARBUCKLE et al., 2003). O elemento Bromo também pode ser um produto da cloração,
pois há evidências de que produtos comerciais como soluções de Hipoclorito de Sódio o
contém como contaminante (THOMPSON & MEGONNELL, 2003). Os autores
recomendam que o monitoramento dessas substâncias deve ser feito na planta de
distribuição da água, após ocorrer seu tratamento.
A imprensa escrita da capital tem eventualmente noticiado, embora sem muito
detalhe, aspectos ambientais e de saúde relacionados às águas, como a incidência de
bactéria patogênica que causou óbitos (Melioidose) nos distritos de São Bento, em
Tejuçuoca no ano de 2003 e Barra do Sitiá, em Banabuiú, em 2004, e a contaminação
por algas e outros microorganismos nas lagoas costeiras (jornal O POVO, edição de
18/06/2004 e seu caderno Ciência & Saúde de 12/12/2004, respectivamente). A má
conservação das barragens federais com lixo no entorno de seus reservatórios e a
mortandade de peixes no açude Lima Campos foram objeto de reportagens no DIÁRIO
DO NORDESTE de 27 e 28/12/2004. As edições dos dias 3 e 4/04/2005 deste mesmo
periódico trazem farto material sobre a poluição do rio Salgado, principal afluente do
rio Jaguaribe, no sul do estado, assunto que já havia sido abordado nas edições de 17
e 18/07/2004. Também deste último jornal, a edição de 29/08/2005 aponta para a
poluição do rio Acaraú próximo a Sobral, nordeste do estado, especialmente por lixo e
esgotos, e a de 4/10/2005 noticia a urbanização desordenada das margens do açude
Jaibaras (Aires de Souza), no rio Acaraú cerca de 20 km a montante dessa cidade,
com os dejetos indo direto para o açude; segundo essa reportagem, estudos técnicos
de monitoramento atestam que a qualidade da água do reservatório ainda não foi
afetada pela poluição, estando os “níveis dos principais nutrientes dentro dos
parâmetros legais”.
Em recente reportagem (09/11/2005), o DIÁRIO DO NORDESTE em seu
caderno regional noticia a poluição, por dejetos e águas servidas, do açude Grande no
distrito de Flamengo, município de Saboeiro, na região sudoeste do estado. A
prefeitura detém o serviço local de captação e distribuição, e a população local, de
aproximadamente duas mil pessoas, reivindica a implantação de tratamento químico
adequado para essas águas.
São apenas eventuais as notícias de atividades de recuperação e proteção de
mananciais, como a do rio Jaburu, no noroeste do estado (DIÁRIO DO NORDESTE,
edição de 13/11/2005), que acontecem com freqüência muito aquém da desejada.
Não há menção, no noticiário publicado, da realização de análises de metais
pesados ou citação de alguns de seus resultados.
Gerard Moss, com um avião anfíbio, coletou em 2004 cerca de 20 amostras de
água em diversos locais do estado do Ceará, como parte do projeto “Brasil das
Águas”, de abrangência nacional. Na planilha de cada amostra constam os parâmetros
físico-químicos, não tendo sido, ainda, apresentados os resultados das análises para
ânions e cátions (MOSS & MOSS, 2005).
Do acima exposto e em termos gerais, a preocupação dos órgãos públicos com
a qualidade da água de consumo no estado do Ceará é exercida somente em relação
à presença de microorganismos patogênicos e à salinidade, não sendo determinadas,
6
de maneira sistemática ou sequer esporádicas, as concentrações dos elementos
químicos, sabidamente tóxicos, que podem estar minando, imperceptivelmente, a
saúde da população.
3 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS ÁGUAS NO ESTADO
A fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
conjuntamente com a extinta Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste –
SUDENE, apresentaram em 1996 um mapa em escala 1:2.500.000 contendo as
características hidroquímicas das águas superficiais na área de atuação desta última
entidade. No Ceará, segundo a classificação das águas superficiais de acordo com as
espécies químicas predominantes, há maior abundância e mais ampla distribuição das
águas Bicarbonatadas Mistas e Bicarbonatadas Sódicas, ao norte e sul do estado e na
região próximo a Fortaleza, respectivamente. Cloretadas Mistas ocorrem na porção
central do território estadual, estendendo-se em uma faixa até o litoral norte e outra
até quase o litoral nordeste. Cloretadas Sódicas e Mistas Sódicas têm ocorrência no
centro-oeste. Segundo os mesmos autores, a potabilidade (avaliada pela
concentração dos principais cátions e dureza) é boa, com exceção de uma pequena
bacia no alto rio Banabuiú (região de Piquet Carneiro) e restrição, devido a maior
salinidade, nas proximidades da foz do rio Jaguaribe; para irrigação, somente na
região central do estado, rios Quixeramobim e alto Banabuiú, e na foz do Jaguaribe,
as águas são impróprias pelo elevado conteúdo em sais dissolvidos. A figura 1
individualiza os três temas citados, que são apresentados de forma agrupada no
referido mapa.
A Companhia de Gestão de Recursos Hídricos – COGERH, estadual, apresenta
em seu site na Internet um mapa localizando os principais açudes do Ceará, onde
associa uma simbologia representativa das respectivas capacidades volumétricas de
água, com cores relacionadas às diferentes faixas de concentração de cloretos em
abril/2001. Verificando-se os resultados para cloretos determinados no final de 2002
pelo órgão (figura 2, atualização do mencionado mapa), as águas de 11 açudes
superam o valor estabelecido pelo CONAMA, concentração de 250 mg/L para águas
de categoria 1 e 2.
Destaca-se no mapa a região central do estado como tendo as águas mais
salinizadas, tendo sido determinado um valor máximo de 1.120 mg/L no açude
Pompeu Sobrinho, município de Choró. Computando-se as variações de classe de
salinidade entre os dados de 2001 e o da figura apresentada (com dados de 2002),
abrangendo o intervalo de 17 meses, constata-se que 20 açudes passaram para
classes de maior salinidade, contra 14 que diminuíram esse parâmetro e 80 que
permaneceram na mesma categoria. Embora curto o período comparado, é um
pequeno indício da gradual salinização por evaporação, dos açudes interioranos.
Quanto à água subterrânea, tem-se a classificação primária da água entre
doce, salobra e salgada em função da concentração de sólidos totais dissolvidos
(STD), calculados a partir da condutividade elétrica medida em 7.092 dos mais de
13.000 poços cadastrados, em todo o estado, pelo Programa Recenseamento de
Fontes de Abastecimento por Água Subterrânea no Estado do Ceará, executado pelo
Serviço Geológico do Brasil - CPRM em 1999 (CPRM, 1999).
7
0
0
CEARÁ
BRASIL
24
0
AMERICA
DO
SUL
CEARÁ
FORTALEZA
Boa
Passável
CEARÁ
Má
CEARÁ
Águas sem restrições à irrigação, com
pouco risco de salinidade
Águas com salinidade média. Só devem ser
usadas com boa lixiviação e drenagem
Águas com teores elevados de sais e sódio,
não devendo ser usada para irrigação
Fonte: IBGE e SUDENE - Hidroquímica dos Mananciais de Superfície - Região Nordeste
(Área de atuação da SUDENE). [Mapa em escala 1:2.500.000]. 1996
A figura 3 mostra a distribuição dos mencionados poços, classificados em
função da salinidade. O zoneamento construído utilizando-se o método de gridagem e
áreas de influência melhor delineia as conhecidas províncias hidrogeológicas do
estado: coberturas sedimentares cenozóicas, mesozóicas e paleozóicas ao norte
(litoral), a sul (chapada do Araripe) e a oeste (chapada da Ibiapaba - fronteira com o
Piauí), respectivamente, onde há predomínio de poços com água doce, e o
8
embasamento cristalino, na ampla região central cobrindo quase todo o estado, onde
dominam as águas subterrâneas salobras e salgadas, tendo os maiores teores em
sólidos dissolvidos a leste.
7 11
8
6
10
5
9 3
4
1
2
Martinópole
Gangorra
São Vicente
Várzea
da Volta
Angicos
Acaraú Mirim
Arrebita
Edson Queiroz
Araras
24
0
AMERICA
DO
SUL
Mundaú
Frios
Sítios Novos
Caxitoré
S. Antonio
Aracatiaçu
Sta. Maria
Aracatiaçu
CEARÁ
Quandú
Patos
Forquilha
Ayres de
Souza
Jaburu I
S. Pedro
Timbaúba
Sobral
Trapiá III
Poço Verde
0
BRASIL
Tucunduba
Premuoca
Diamante
0
Jerimum
Pentecoste
Tejuçuoca
Desterro
Cahuipe
Gavião
Riachão
Penedo
Gal. Sampaio Trapiá I
Amanary
Acarape
S. Mateus
do Meio
S. Domingos
Souza
Hipólito
Caracas
Salão
Bonito
Pacoti
Pacajus
Castro
Carão
Farias de Sousa
Pompeu Sobrinho
Monsenhor Tabosa
Sucesso
S. Antonio de Russas
Cedro
Fogareiro
Vieirão
Realejo
Pedras Brancas
Cipoada
S. José I Quixeramobim
Barra Velha
Carnaubal
Jaburu II
Cupim
Flor do Campo
Forquilha II
Várzea do Boi
Colina
Poço do Barro
Trapiá II
Trici
Capitão Mor
Banabuiú
Patu
Jatobá
Ema
Riacho do Sangue
Serafim Dias
S. José II Jenipapeiro
Favelas
Quincoé
Parambú
Rivaldo de Carvalho
Joaquim
Távora
Orós
Trussu
Muquém
Do Coronel
Ubaldinho
Estrema
Olho d´Água
Cachoeira
Valério
Poço da Pedra
Canoas
Thomás Osterne
Manoel Balbino
Prazeres
Gomes
Quixabinha
Atalho
TEOR EM CLORETOS (mg/L)
500-1500
250-500
150-250
Adauto Bezerra
Lima Campos
Tatajuba
Benguê
Canafístula
Madeiro
Nova
Floresta
Espírito Santo
Potiretama
CAPACIDADE DOS AÇUDES ( m 3 )
> 500 milhões
50-150
100 - 500 milhões
< 50
10 - 100 milhões
BACIAS HIDROGRÁFICAS
1 - Alto Jaguaribe
2 - Salgado
3 - Banabuiú
4 - Médio Jaguaribe
5 - Baixo Jaguaribe
6 - Acaraú
7 - Coreaú
8 - Curú
9 - Parnaíba
10 - Metropolitana
11 - Litoral
1 - 10 milhões
Fonte: Companhia de Gestão de Recursos Hídricos - COGERH
(dados de 2002)
FIG. 2 - BACIAS HIDROGRÁFICAS, CAPACIDADE DOS PRINCIPAIS AÇUDES
E CONCENTRAÇÃO DE CLORETOS - ESTADO DO CEARÁ
9
0
0
CEARÁ
BRASIL
24
0
AMERICA
DO
SUL
POÇOS
TOTAL DE SÓLIDOS DISSOLVIDOS
STD - (mg/L)
ZONEAMENTO
Águas
doce
0
salobra
500
1.500
salgada
5.000
STD (mg/lL)
Fonte: CPRM - Atlas dos Recursos Hídricos Subterrâneos do Ceará. Programa Recenseamento de
Fontes de Abastecimento por Água Subterrânea no Estado do Ceará. [Cd-rom]. Fev/1999
FIG. 3 - POÇOS COM ÁGUA SUBTERRÂNEA E SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS
- ESTADO DO CEARÁ
10
4 - ASPECTOS GEOLÓGICOS DOS SÍTIOS DE CAPTAÇÃO
Os sistemas naturais de águas superficial e subterrâneo de uma região dependem
da composição química e mineralógica das rochas e dos processos físicos, tectônicos e
morfogenéticos, a que estas foram submetidas. A intervenção humana, por conveniências
econômicas, sociais ou políticas, altera esse panorama natural, pela construção de
reservatórios, perenização de cursos d’água e drenando os aqüíferos por meio de poços.
Não obstante a ampla diversidade geológica do estado e a irregularidade na
distribuição territorial dos pontos de captação, condicionada por aquelas variáveis não
naturais, observa-se uma lógica relação causal entre as litologias e os tipos de captação
d’água que são adotados e servem de abastecimento para os municípios.
Assim, a instalação de poços tipo amazonas e tubulares, e a captação em fontes
que retiram o líquido de seu fluxo subterrâneo, é muito dominante em terrenos cobertos
por sedimentos inconsolidados, areias, argilas e cascalhos do Quaternário, nos quais
esse fluxo é facilitado. Vários dos poços tubulares que alimentam as sedes dos
municípios também são registrados no domínio de arenitos e argilitos do Grupo Barreiras,
do Neogeno, em arenitos, siltitos e folhelhos de diversas formações geológicas datadas
do Mesozóico (formações Rio Batateiras, Exu, Missão Velha, Brejo Santo, Icó) e ainda em
seqüências de arenitos e conglomerados atribuídas ao Siluriano (Formação Mauriti e
Grupo Serra Grande). A menor proporção de poços, que atingem até cerca de 60 metros
de profundidade, ocorre no domínio das rochas cristalinas do Proterozóico e Arqueano;
são terrenos de variada composição mineral e, em geral, desfavoráveis à circulação da
água subterrânea, que se faz por sistemas de fraturamentos, e à qualidade, pelo seu
elevado conteúdo de sais dissolvidos. Nas águas subterrâneas há maior influência da
composição das rochas, locais ou vizinhas, na qualidade das águas, em relação às águas
superficiais. No capítulo sobre a distribuição geográfica dos resultados dos elementos, as
referências a poços amazonas em rochas cristalinas correspondem em grande parte a
alúvios e colúvios de pequena expressão situados nesses terrenos, não registrados na
escala do mapa geológico regional.
Em rios correntes, é esperado que a composição da água tenha a contribuição de
material solubilizado de toda a bacia hidrográfica a montante do ponto de coleta, e que
tenha uma variação sazonal (por diferenças no fluxo, pluviosidade variável na área de
influência etc.) mais importante do que aquela verificada na água subterrânea. Das cerca
de 20 captações localizadas em rios, a maior freqüência (10) é verificada em faixas que
os acompanham e que figuram como areias, cascalhos e argilas inconsolidados do
Quaternário, no mapa geológico do Estado do Ceará (CAVALCANTE et al., 2003);
constituem os depósitos aluvionares dos próprios rios, que se encontram perenizados
nesses trechos.
Açudes e lagos constituem as principais fontes d’água de abastecimento
municipal no estado, contando-se cerca de 130 as localidades que deles se servem;
suas águas também devem refletir a composição das bacias dos rios que lhes dão
origem, com variações intermediárias na composição devido à sazonalidade climática.
No estado do Ceará estes corpos encontram-se estabelecidos preferencialmente
sobre terrenos cristalinos constituídos por antigas rochas ígneas e sedimentares
afetadas por processos metamórficos: granitos, granodioritos, orto e paragnaisses,
metabásicas, quartzitos, micaxistos, metacalcários, filitos etc., que compõem várias
unidades estratigráficas posicionadas no Arqueano e Proterozóico.
11
5 - METODOLOGIA DO TRABALHO
As atividades de amostragem de água foram realizadas em 3 etapas de
aproximadamente 20 dias cada, iniciadas em junho e concluídas em setembro de
2004. Foram visitadas as 184 sedes municipais do estado e mais 46 distritos,
selecionados por pertencerem a municípios com área administrativa superior a 1.000
km2 (fig. 4).
As sedes municipais e as vilas dos distritos visitados têm em sua maioria o
abastecimento de água a partir de açudes (130) e poços tubulares de diversas
profundidades e vazões (51), registrando-se ainda poços tipo amazonas (28) e captação
direta em rios (20) e fontes (4); em alguns dos municípios o sistema de captação é misto,
composto por poços tubulares + amazonas em 4 municípios e amazonas + captação
direta da drenagem em outros dois. A cidade de Ibaretama, na época da coleta de
amostras, estava sendo abastecida por carro-pipa, e a população de Sucatinga, distrito do
município de Beberibe, não conta com distribuição de água centralizada, abastecendo-se
em poços individuais escavados nas próprias residências.
Neste estudo, quando não mencionado ou individualizado, as amostras de águas
de fontes e de poços tipo amazonas são consideradas conjuntamente com as amostras
de água de poços tubulares, e denominadas genericamente como sendo águas
“subterrâneas” ou simplesmente “de poços”.
Quando existente instalação única de captação para vários municípios e
distritos, o que ocorre em alguns açudes e em um rio do estado (Acarape, Barreira e
Redenção no açude Acarape do Meio; Reriutaba e Varjota no açude Araras;
Barroquinha e Chaval no açude Itaúna; Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, São
Benedito, Tianguá, Ubajara, Viçosa e seu distrito Quatiguaba no açude Jaburu;
Caucaia e seu distrito Jurema, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiúba, Horizonte,
Maracanaú, Maranguape, Pacajus e Pacatuba no sistema de açudes Pacoti-RiachãoGavião; Aracoiaba e Baturité na barragem Tijuquinha; Tururu e Uruburetama no açude
Mundaú; Senador Sá e Uruoca no rio Jordão), optou-se por coletar um número
correspondente de amostras em vários locais desses corpos d’água, registrando o
local de cada uma como se fora de um dos municípios que têm ali sua fonte de
abastecimento, embora fora do ponto de captação comum.
No ANEXO IV disponibiliza-se o registro fotográfico dos locais da coleta de
amostras e/ou dos corpos d´água (vide observação no parágrafo anterior) que são fonte
do abastecimento às populações, não cabendo no escopo deste trabalho a análise ou
comentários sobre a localização, as instalações de captação e sua conservação e
operação.
As amostras foram coletadas com um recipiente plástico, nos locais (poços e
fontes) ou nas proximidades das bombas de sucção (em açudes ou rios), sempre situadas
antes das estações de tratamento da empresa distribuidora; como exceção, em
Ipueiras e Ipaumirim a amostragem foi de água já cloretada, haja vista que o
tratamento químico é realizado no próprio poço amazonas de onde a água é obtida.
12
0
0
CEARÁ
BRASIL
24
0
Sobral
AMERICA
DO
SUL
9550000
FORTALEZA
Quixadá
9350000
Crateús
Iguatu
N
9150000
Juazeiro
0
250000
450000
Poços tubulares
Poços tipo amazonas
Fontes
Açudes e lagos
Rios
100 km
650000
Limite de município
Principais cidades
FIG. 4 - LOCAIS DE AMOSTRAGEM DE ÁGUAS - ESTADO DO CEARÁ
13
Desse recipiente plástico tomavam-se alíquotas de 50 ml em dois frascos
apropriados, fazendo uso de uma seringa com um filtro de membrana “Millipore” de 0,45
µm acoplado, sendo ambos descartados após cada procedimento. A água de um dos
frascos era acidulada com 10 gotas de HNO3 superpuro, sendo destinada para análise de
cátions, e a do outro frasco permanecia natural, para análise de ânions. Durante a etapa
de campo as amostras coletadas eram mantidas sob refrigeração em caixas de isopor
com gelo e, após seu término, acondicionadas nas mesmas caixas para envio, via aérea,
para o laboratório de análises.
A pureza do ácido utilizado no decorrer da atividade de amostragem foi constatada
por um teste, acidulando-se água deionizada de laboratório como se fora uma amostra
normal e enviando-a para análise como se fosse uma amostra normal. Para quase todos
os elementos, seus resultados analíticos são inferiores aos limites de detecção
(qualificados com a letra L); para os restantes cátions (Ca, Fe, Zn), os valores registrados
são bastante inferiores aos obtidos para as amostras das águas dos ambientes naturais.
As análises foram efetuadas por aspiração da amostra e leitura direta em um
equipamento de Espectrometria de Emissão Atômica com fonte de plasma (ICP-AES) no
laboratório da EMBRAPA – SOLOS (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em
um Cromatógrafo Iônico do Instituto de Química da UFRJ (Universidade Federal do Rio
de Janeiro) e em um Espectrofotômetro de Absorção Atômica da própria CPRM, no Rio
de Janeiro, sendo avaliadas as concentrações dos elementos (cátions): Al, As, B, Ba, Be,
Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, K, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, Pb, Se, Sr, Ti, V e Zn e dos elementos
e compostos (ânions): Bromo, Cloro, Flúor, Fosfato, Nitrato, Nitrito e Sulfato. Cerca de
156 amostras foram analisadas para estes ânions no Laboratório de Caracterização de
Águas da Pontifícia Universidade Católica, no Rio de Janeiro, no início de 2006, devido a
defeito no equipamento analítico inicialmente utilizado.
Os resultados para ânions obtidos nessa segunda etapa de análises foram
comparados com aqueles obtidos em 77 amostras em dezembro de 2004, haja vista o
longo período decorrido com possibilidade de perda ou alterações químicas nas amostras,
embora sob refrigeração constante. Exceto Nitrito, com muitos resultados “menor do que”,
os testes estatísticos “Student t” e “Mann-Whitney U” acusaram diferença significativa
entre os dois conjuntos de resultados (os conjuntos não são proveniente de uma mesma
população).
Apesar do resultado negativo, os mencionados resultados analíticos de 2006 serão
aqui estudados, com a devida cautela, pois a diferença nos testes pode ser originada por
efeitos naturais e localização, há muita proximidade dos valores das medianas de cada
ânion de um e outro conjunto e, sob uma ótica de utilidade da informação, com o decorrer
do tempo as amostras somente podem perder componentes e assim, caso encontrados
valores acima do máximo de referência recomendado pelo CONAMA, os mesmos
continuam significativos.
Todos os resultados analíticos encontram-se listados no ANEXO III.
14
6 - VARIAÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL NA COMPOSIÇÃO DAS ÁGUAS
Sabe-se que em sistemas de águas naturais há muita variação dos teores dos
constituintes transportados nas fases sólidas ou dissolvidos, seja em longo espaço de
tempo ou em curto período, seja montante-jusante, seja lateralmente e/ou em
profundidade, devido aos inúmeros fatores que sobre eles incidem. Essas diferenças não
sistemáticas e inerentes a cada corpo d’água são comprovadas pelo exame do quadro de
estatísticas de condutividade elétrica apresentado em boletins pela Companhia de Gestão
de Recursos Hídricos (2005); tomadas de 4 a 10 medidas em 116 açudes monitorados,
em cerca de 35 deles o coeficiente de variação CV (índice que mede a dispersão de
valores em relação à média) ficou superior a 30%, atingindo um máximo de 240% no
açude Acarape do Meio, com condutividades máxima de 10, mínima de 0,1 e média de
1,3 mS/cm, equivalentes a, respectivamente, 6.500, 65 e 845 mg/L de sais dissolvidos
(STD).
Não foi objetivo deste trabalho, e a estratégia de amostragem não foi direcionada
para averiguar essas variações naturais ou aquelas eventualmente introduzidas pela ação
humana. Todavia, obteve-se um pequeno conjunto de amostras que permitiu avaliar a
diferença ou persistência composicional nas mesmas estações de coleta, em épocas
distintas, antes e após o período de chuvas (variação temporal). As diferenças e
semelhanças montante-jusante e laterais, que dizem da homogeneidade do meio,
puderam ser estimadas de amostras provenientes de mesmos corpos d’água, lagos e
rios, que têm instaladas captações de dois ou mais municípios, a curtas distâncias umas
das outras.
Devido a pequena quantidade de amostras adequadas a essas comparações, as
mesmas foram feitas principalmente de maneira visual, com pequeno suporte de métodos
estatísticos; são descritas detalhadamente no anexo II e encontram-se sumarizadas a
seguir:
A amplitude da variação de teores entre estações seca e chuvosa é de pequena
grandeza, e reflete muito bem os processos de introdução de águas pluviais na
drenagem, com a conseqüente diluição dos componentes nos açudes e rios, e um
aumento dos teores nas águas subterrâneas, devido a dissolução de sais durante a
infiltração para os aqüíferos.
A variação das concentrações obtidas em amostras de mesmos açudes é quase
inexistente para os elementos que se encontram solubilizados, e algo divergente para os
transportados sob forma preferencial de colóides; nos rios as variações são maiores.
Avaliações em pequena escala como esta aqui apresentada, portanto, não devem
sofrer grandes influências por aspectos de sazonalidade ou de locação de amostragem.
As pequenas variações detectadas neste estudo de variabilidade, sejam temporais ou
espaciais, aparentam ser episódicas e de fontes com pequena expressividade (pontuais)
quanto à origem ou situarem-se a longa distância, o que pode descaracterizar origem
geológica. Tais variações são, todavia, a essência para estudos ambientais localizados.
15
7 - RESULTADOS
Uma síntese dos resultados analíticos das amostras de água coletadas pode ser
observada na Tabela I, que lista os elementos e compostos, o respectivo caráter
essencial/tóxico para organismos humanos, os valores de referência do Ministério da
Saúde (CONAMA) e aqueles propostos para os elementos não regulados; em seqüência,
determinados separadamente para as 150 amostras das águas superficiais (açudes e
rios) e 84 das águas subterrâneas (poços tubulares, tipo amazonas e fontes), observa-se
o número de resultados analíticos definidos, isto é, com seu valor numérico estabelecido
(sem qualificadores “L ou <” significando “menor do que”), as concentrações mínimas (que
na maioria dos casos é o limite inferior de detecção do método analítico) e máximas
obtidas, e finalmente os parâmetros estatísticos de mediana e quartis 25% e 75% da
distribuição de freqüência, para aqueles elementos e compostos químicos com suficiente
número de valores definidos.
O exame da tabela torna evidente a inadequação do método de análise para
Selênio, Bromo e Fosfato em um dos laboratórios que os determinaram e ainda Cobre,
pois a sensibilidade analítica é cerca de 2 vezes maior do que os valores de referência
para os primeiros, respectivamente 0,02 e 0,01 mg/L do Se, 0,05 e 0,025 mg/L do Br e
0,2 e 0,1 mg/L do PO4-3, sendo apenas um pouco maior para Cobre (0,01 limite e 0,009
mg/L referência); tais resultados serão comentados mais adiante no texto.
Não serão estudados os elementos Selênio e Vanádio, que apresentaram todos os
resultados das amostras inferiores ao limite de sensibilidade do método analítico
(qualificadas L 0,02, significando menor do que 0,02); Cromo e Titânio com somente um
resultado definido cada, Molibdênio com apenas 3 e Berílio com 6 resultados definidos,
sendo todos eles inferiores aos respectivos valores de referência adotados pelo
CONAMA, também não serão descritos.
Os elementos Al, Cu, Ni e Pb apresentaram menos de 10% de valores definidos e
serão examinados de maneira isolada e pontual, bem como os resultados de As, B, Cd,
Co e Li, embora com maior proporção de resultados definidos em relação aos
qualificados. Os elementos Ba, Ca, Fe, K, Mg, Mn, Na, Sr, Zn, por serem definidos todos
ou quase todos os seus registros analíticos, permitem estudo estatístico, e suas
respectivas freqüências suavizadas são apresentadas na figura 5. Não são apresentadas
para os ânions.
Foram gerados mapas de distribuição dos elementos que apresentaram suficiente
amplitude de resultados significativos. Nesses mapas pontuais (figuras 10 a 24) são
informadas 4 classes: até 0,5 VR (valor de referência do CONAMA), 0,5 a 1 VR, 1 a 3 VR
e maior de 3 VR, respectivamente. Para os elementos Ca, K e Mg, não legislados pelo
CONAMA, os valores são representados em 5 intervalos de classe (até 25%, 25 a 50%,
50 a 75%, 75% a 95% e acima de 95% da freqüência acumulada dos resultados) das
respectivas distribuições estatísticas. Os resultados qualificados L ou < (menor do que)
antecedendo o valor limite de detecção, foram substituídos pelo valor de metade desse
limite (<0,1 substituído por 0,05, por exemplo), para permitir a construção dos mapas. Os
resultados obtidos nas amostras de águas superficiais e subterrâneas são neles plotados
indistintamente.
16
TAB. I – SÍNTESE DOS RESULTADOS ANALÍTICOS
C
a
VR - Valor de
Referência
mg/L
Águas
Amostradas
(tipo)
superficiais
Al
T
0,1
subterrâneas
As
T
0,01
subterrâneas
superficiais
superficiais
B
T
0,5
subterrâneas
superficiais
Ba
ET
0,7
subterrâneas
Be
T
0,04
subterrâneas
superficiais
superficiais
Ca
E
não legislado
subterrâneas
Cd
T
0,001
subterrâneas
Co
superficiais
superficiais
ET
0,05
subterrâneas
superficiais
Cr
ET
Cu
0,05
subterrâneas
superficiais
ET
0,009
subterrâneas
superficiais
Fe
ET
0,3
subterrâneas
K
E
não legislado
subterrâneas
Li
oo
2,5
subterrâneas
superficiais
superficiais
superficiais
Mg
E
não legislado
subterrâneas
Mn
ET
0,1
subterrâneas
Mo
superficiais
ET
1
0,07
superficiais
subterrâneas
superficiais
Na
E
200
subterrâneas
Ni
ET
0,025
subterrâneas
superficiais
Pb
Se
superficiais
T
0,01
subterrâneas
Valores em mg/L
c
Resultados
Definidos
Mínimo
13
7
22
23
37
30
150
84
1
5
150
84
36
66
35
27
Máximo
0,8
0,5
0,01
0,02
0,12
0,63
0,683
5,588
0,001
0,004
43,49
139,90
0,020
0,008
0,002
0,016
< 0,1
< 0,01
< 0,05
0,004
0,005
< 0,001
0,80
0,12
< 0,001
< 0,002
1
distribuição estatística
25%
Mediana
75%
0,029
0,043
0,042
0,103
0,065
0,187
5,99
8,32
10,26
17,46
15,55
31,40
0,001
0,001
0,002
0,014
0,012
3,3
2,8
0,029
0,030
4,5
4,7
0,101
0,306
5,8
6,1
0,002
3,85
5,26
0,003
0,007
<0,002
5,63
10,04
0,006
0,055
0,017
9,14
19,59
0,014
0,280
18,0
25,0
25,0
47,0
59,0
115,0
0,592
6,451
_
0,09
0,090
0,120
0,145
0,223
0,218
0,372
0,106
0,768
7,67
2,56
4.012,0
1.643,2
2,99
6,29
22,8
4,1
10,7
599,0
0,30
0,30
103
360
0,002
0,005
0,05
0,07
16,30
19,95
0,10
0,11
0,004
0,013
0,09
0,14
29,70
46,10
0,15
0,21
0,008
0,024
0,16
0,24
48,20
76,80
0,19
0,39
0,06
0,30
0,17
2,31
0,50
11,20
1,00
2,49
1,90
7,11
3,63
17,30
0,02
0
3
16
150
83
150
84
7
43
150
84
148
80
0
3
150
84
2
12
7
9
< 0,02
_
0,05
1,25
0,661
12,190
18,0
67,0
0,006
0,167
44,04
65,50
0,186
1,204
_
0,028
202,5
820,0
0,005
0,266
0,465
0,011
< 0,01
0,003
< 0,001
0,6
0,4
< 0,002
1,13
0,08
< 0,001
< 0,002
1,5
2,9
< 0,004
< 0,005
superficiais
ET
0,01
Sr
oo
4
Ti
oo
0,1
subterrâneas
superficiais
2
subterrâneas
3
superficiais
subterrâneas
0
150
84
0
1
< 0,02
0,005
0,002
0
149
84
134
79
150
83
149
78
8
31
133
78
27
10
148
83
< 0,02
< 0,001
0,001
< 0,05
d
< 0,01
1,28
0,80
< 0,05
superficiais
V
ET
0,1
subterrâneas
superficiais
Zn
ET
0,18
subterrâneas
Br -
T
0,025
subterrâneas
E
250
subterrâneas
ET
1,4
subterrâneas
Cl
-
F
-
PO4
superficiais
superficiais
superficiais
-3
superficiais
E
0,1
subterrâneas
NO3-
E
10
subterrâneas
NO2-
E
1
subterrâneas
SO4-2
E
250
subterrâneas
superficiais
superficiais
superficiais
< 0,01
< 0,2
d
< 0,01
< 0,1
d
< 0,01
< 0,1
d
< 0,01
<0,1 < 0,01
0,13
d
NOTAS: a) Característica (C) : E - essencial; T - tóxico; ET - essencial a tóxico em alta concentração; oo - indefinido
b) Valores de Referência (VR) da Resolução CONAMA 357 de 17/03/2005, complementado por (1) - World Health Organization,
(2) - U.S. Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR) e (3) - S.Z. DONG et al, 1993
c) Resultados em 150 amostras de águas superficiais e de 84 amostras de águas subterrâneas.
d) limites de detecção de ânions, de diferentes laboratórios
Resultados definidos são aqueles reportados sem os prefixos "L" ou "<", que significam "menor do que" (resultados qualificados ).
17
A seguir são comentadas as associações encontradas entre os elementos
(correlações) e apresentada a distribuição geográfica dos valores mais expressivos, de
cada elemento químico avaliado, no território cearense.
7.1 - ASSOCIAÇÕES GEOQUÍMICAS
As associações geoquímicas foram averiguadas por meio do método paramétrico
de Pearson, entre aqueles cátions com distribuição definida de resultados, considerandose isoladamente os conjuntos de amostras de águas superficiais (150) e de águas
subterrâneas (84). As ligações entre ânions e destes com os cátions não foram
averiguadas, devido aos problemas analíticos anteriormente referidos. As correlações
obtidas encontram-se sintetizados na figura a seguir (fig. 6), e são significativos com
probabilidade p = 0,01.
As correlações observadas são mais atribuíveis a espécies coloidais em
suspensão do que a componentes dissolvidos e dissociados que poderiam eventualmente
relacionar-se em ambientes restritos específicos, nunca em âmbito regional.
Os elementos Cálcio, Magnésio e Estrôncio formam um núcleo bem definido das
associações presentes em ambas as categorias de águas, que diferem pelas ligações
18
com o Bário nas águas superficiais, que é substituído e deslocado por Zinco nas
subterrâneas, percebendo-se também a variação da associatividade do Potássio, menor
nestas últimas. Os elementos estruturais Ca-Mg-Sr-K-Na parecem indicar a presença de
argilas (smectitas) ocorrentes em partículas coloidais, carregadas negativamente,
oriundas da alteração especialmente de feldspatos cálcicos; outros elementos, em
especial metais pesados, podem compor essa partícula coloidal ou por ela serem
adsorvidos eletrostaticamente ou quimicamente (CARVALHO, 1995).
FIG. 6 - ESQUEMA DAS CORRELAÇÕES ENTRE ELEMENTOS
A associação Fe-Mn, de óxidos-hidróxidos também com dimensão coloidal, é
comum nos dois ambientes e se faz presente com maior ênfase nas águas superficiais,
onde se relaciona inversamente com a primeira e dominante associação; provavelmente
seu principal componente seja o dióxido de Manganês, colóide também carregado
negativamente, que teria então o Ferro como íon preferencial adsorvido.
Foram examinados visualmente os diagramas binários (não são aqui
apresentados) relacionando entre si os resultados daqueles elementos com maioria dos
resultados qualificados, mas desses gráficos não emergem informações ou correlações
19
gerais definidas, que sejam expressivas nesta escala de trabalho. As eventuais
associações de elementos, quando em valores acima daqueles de referência, são
comentadas nas descrições individuais, a seguir.
7.2 - ELEMENTOS E SUA DISTRIBUIÇÃO
Os efeitos na saúde humana por carência ou ingestão em excesso de metais é
assunto médico vasto e especializado (toxicologia), e o livro Metais: gerenciamento da
toxicidade dos editores F.A. AZEVEDO e A.A.M CHASIN (2003) constitui recente e
importante adição à literatura científica sobre o tema.
Fora do objetivo deste trabalho, tal assunto não será aqui aprofundado,
havendo apenas uma introdução, antecedendo a descrição da distribuição de cada
elemento químico nas águas de abastecimento público, muito sintética sobre seu
respectivo papel e efeito na saúde humana. Tais informações, necessariamente
concisas, foram obtidas na WIKIPEDIA, enciclopédia virtual em constante atualização,
e em alguns dos links nela relacionados.
Al – ALUMÍNIO
O Alumínio pode causar dermatites em pessoas sensíveis, ou desordem
estomacal e inabilidade de absorção de nutrientes, quando os alimentos são
preparados em recipientes desse metal. Apresenta relativa toxicidade se consumido
em excesso, não estando ainda determinado com certeza se é agente de doenças
neurodegenerativas (mal de Alzheimer).
Os resultados definidos para este metal constaram de 14 valores iguais ao limite de
detecção, também igual ao Valor de Referência (0,1 mg/L), e 6 entre 0,2 e 0,8 mg/L, com
distribuição irregular pelo território estadual (fig. 7); esses resultados que sobressaem
ocorrem preferencialmente em açudes e rios (5), contra apenas um em águas
subterrâneas. Quase no extremo sul do estado, a amostra colhida no açude Belo
Horizonte, que abastece a cidade de Potengi, registrou 0,2 mg/L; as rochas locais são
granitos e granodioritos da Suíte Granitóide Itaporanga, porém a fonte deste metal
provavelmente são as coberturas sedimentares argilo-arenosas com laterização na base,
do Neogeno, existentes a sul da cidade, que podem influenciar as águas do açude por
meio do riacho Quinqueleré, seu principal formador. Num semelhante contexto foi obtido o
resultado de 0,1 mg/L Al (valor limite) na água do açude Pajeú, que abastece Altaneira
cerca de 40 km a nordeste.
Na região centro-norte, resultados de 0,3 mg/L foram determinados nas águas do
açude São Pedro da Timbaúba, captadas para a cidade de Miraíma, e do riacho Escorado
que, com mais 4 poços auxiliares, abastece a cidade de Itapagé, cerca de 60 km a
sudeste; valores de Ferro acima da referência, respectivamente 0,483 e 0,661 mg/L,
encontram-se associados. Na primeira localidade o substrato compõe-se de paragnaisses
e ortognaisses do Complexo Ceará, e na segunda por orto e paragnaisses do Complexo
Tamboril-Santa-Quitéria, sendo ambas as unidades constituídas por rochas de
semelhante quimismo, algumas ricas em alumínio (micaxistos aluminosos) e ferro
(formações ferríferas).
20
A norte, na localidade de Lagoa dos Monteiros (município de Cruz), a análise da
água do poço tubular que abastece Jijoca de Jericoacoara registrou 0,5 mg/L de Alumínio,
também associado com 0,599 mg/L de Ferro, além de outros metais pesados. A captação
é feita nos sedimentos do Grupo Barreiras, do Paleogeno, compostos por arenitos
argilosos com cimento de argila ou ferruginoso e leitos de nódulos lateríticos, que é a
provável fonte desses elevados teores. Águas de poços da cidade de Cruz e no distrito
de Garças, município de Amontada (aproximadamente 20 e 70 km a leste de Lagoa dos
Monteiros, respectivamente), também estabelecidos nesses sedimentos, tiveram
resultados iguais ao valor máximo recomendado pelo Ministério da Saúde, de 0,1 mg/L Al.
0.5
N
0.3
Sobral
0
100 km
0.3
FORTALEZA
9550000
Quixadá
Crateús
0.6
0.8
9350000
Al
Iguatu
mg/L
até 0,1
0.2
0,1 a 0,3
Juazeiro
(1 a 3 VR)
0,3 a 0,8
(> 3 VR)
9150000
250000
450000
650000
FIG. 7 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE ALUMÍNIO
21
Os teores mais elevados de Alumínio nas águas de abastecimento foram
encontrados na porção central do Ceará, correspondendo a 0,6 mg/L no açude Boa Vista
Velha, no distrito de Boa Vista, município de Mombaça e 0,8 mg/L no rio Patu, que
abastece Mineirolândia, distrito de Pedra Branca, ambos associados a altos teores em
Ferro (0,559 e 0,332 mg/L respectivamente). Essa drenagem corta rochas arqueanas do
Complexo Cruzeta, constituído por orto e paragnaisses e migmatitos com importante
contribuição de metamáficas e metaultramáficas, com lentes de micaxistos, quartzitos,
metacalcários, formações ferríferas e calcissilicáticas. O intemperismo sobre tais tipos de
rochas, com a liberação de argilas e colóides fluviais deve ser a fonte desses elevados
valores detectados. Na mesma paisagem geológica, a amostra colhida no açude Trapiá,
que abastece a cidade de Pedra Branca, situada a menos de 20 km das localidades
referidas, apresentou o limiar de 0,1 mg/L de Alumínio.
As - ARSÊNIO
Arsenicose é a doença crônica resultante do consumo d’água enriquecida em As
durante um longo período de tempo; manifesta-se por alteração na cor, manchas e
crostas na pele, levando a câncer de pele, pulmões e rins, e pode levar à gangrena. Em
altas concentrações é mortal.
Foram determinados 44 resultados iguais ao valor de referência, de 0,01 mg/L,
com equivalente distribuição entre águas superficiais e subterrâneas; praticamente são
restritos à região centro-norte do estado, isolados e em pequenos grupos sem formar
zoneamentos. Somente foi obtido um único resultado acima do valor de referência, de
0,02 mg/L de As, na amostra proveniente de um poço no distrito de Deserto, município de
Itapipoca, norte do estado, associado a valores também elevados de Cádmio e Sódio,
caracterizando-a como água inadequada ao consumo (fig. 8). As rochas ali ocorrentes
são granitóides do Complexo Tamboril-Santa Quitéria e não há, até o momento,
indicações de alguma possível origem primária (veios de quartzo com sulfetos no
substrato rochoso?) ou secundária (contaminação por herbicidas?) para explicar este alto
teor.
B – BORO
Boro e Boratos não são tóxicos, existindo todavia compostos deste elemento com
hidrogênio, os Boranos, que são tóxicos e facilmente inflamáveis. Alguns compostos
estão sendo testados na medicação de artrites e o elemento é um micronutriente
essencial às plantas.
Cerca de 67 valores são definidos no conjunto total de 234 resultados, distribuídos
quase equitativamente entre águas superficiais (37) e subterrâneas (30), sendo nestas
registrados os valores relativamente mais elevados. Acima do valor de referência um
único resultado foi detectado, de 0,63 mg/L, na água do poço tubular profundo que
abastece a cidade de Salitre, na fronteira sudoeste do estado (fig. 8). A captação ocorre
em litologias dos grupos Araripe e Vale do Cariri, do Cretáceo, constituídos por vários
tipos de arenitos, por vezes conglomeráticos, e secundariamente margas, folhelhos e
calcários. Também rochas sedimentares, arenitos e conglomerados da Formação Mauriti,
datada do Siluriano, são os terrenos do poço de Nova Olinda, cerca de 60 km a nordeste
do anterior, que teve o segundo maior resultado para Boro, de 0,37 mg/L, inferior ao valor
22
de referência (0,5 mg/L). Há uma nítida preferência dos resultados analíticos acima de
0,10 mg/L deste elemento nas águas (cerca de 15 amostras, grande maioria de poços
tubulares, poços amazonas e fontes), de serem associados a captações em litologias
sedimentares ou metamórficas delas derivadas (algumas de alto grau), o que sugere
controle geológico; não há evidências de outra possível origem para ele.
0.266
N
0
0.02
Sobral
100 km
FORTALEZA
9550000
Quixadá
6.451
Crateús
9350000
Iguatu
0.63
Juazeiro
9150000
1 a 3 VR
As
B
Sr
> 3 VR
Ni
amostras
VR = referência do CONAMA
250000
450000
650000
FIG. 8 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE ARSÊNIO,
BORO, NÍQUEL E ESTRÔNCIO
Ba – BÁRIO
23
O Sulfato de Bário é utilizado em medicina (uso como contraste radiológico) por
não dissolver, sendo eliminado totalmente pelo trato digestivo. Todos os compostos de
Bário solúveis em água são extremamente tóxicos.
Todos os resultados são definidos, notando-se enriquecimento nas águas
subterrâneas em relação às superficiais; sua distribuição é apresentada na figura 9.
5.588
1.727
N
1.91
0
0.712
Sobral
100 km
FORTALEZA
9550000
2.758
Quixadá
Crateús
9350000
Ba
Iguatu
mg/L
até 0,35
5.121
Juazeiro
0,35 a 0,70
0,70 a 2,20
(1 a 3 VR)
2,20 a 5,60
(> 3 VR)
9150000
250000
450000
650000
FIG 9 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE BÁRIO
A presença de águas contendo Bário acima do valor de referência (0,7 mg/L) é
notável na porção norte do estado, tendo sido determinadas concentrações de 5,588 mg/L
(o maior resultado obtido) e de 1,727 mg/L nos poços tubulares que abastecem as
cidades de Jijoca de Jericoacoara e Cruz, cerca de 20 km a leste, tendo em comum os
24
elementos Cd e Cu acima das respectivas referências. Relativamente próximos, os poços
tipo amazonas que abastecem os distritos de Garças, município de Amontada e Baixa
Fria, município de Santana do Acaraú, tiveram resultados de 1,910 e 0,712 mg/L em suas
respectivas amostras de água, tendo este altos resultados também para Cu e Mn. Os
terrenos dos primeiros três locais, e com os mais altos valores, são constituídos por
arenitos argilosos com leitos conglomeráticos do Grupo Barreiras, do Neogeno, o que
sugere um possível relacionamento com fácies locais desta unidade litológica, uma vez
que este grupo tem ampla distribuição na faixa litorânea do Ceará; o último local
mencionado encontra-se sob influência de quartzitos da Formação São Joaquim, do
Grupo Martinópole, datada do Neoproterozóico.
Dois outros locais merecem destaque por apresentar valores bastante altos deste
elemento: no sul do estado, um poço tubular que alimenta Missão Velha, em cujas águas
foi registrado 5,121 mg/L de Bário, associado a Ferro, e na região centro-leste, distrito de
Cipó dos Anjos, município de Quixadá, com 2,758 mg/L e contendo ainda Na, Sr e Zn
acima das respectivas referências. Em Missão Velha, o poço encontra-se estabelecido em
arenitos grossos mal selecionados da Formação de mesmo nome, estratigraficamente
pertencente ao Grupo Vale do Cariri, do Jurássico/Cretáceo e em Cipó dos Anjos,
também poço tubular, as litologias são ortognaisses e paragnaisses com lentes de
anfibolitos, quartzitos, metamáficas, calcissilicáticas e metacalcários do Complexo
Jaguaretama, do Paleoproterozóico. Suspeita-se de uma proveniência geológica
(litológica), a partir da alteração de minerais instáveis ou pouco estáveis como anfibólios e
biotitas e que podem ser acessórios em rochas arenosas de ambiente fluvial/torrrencial,
havendo assim também compatibilidade com os elementos que ocorrem associados.
Ca – CÁLCIO
Este elemento é um macronutriente essencial para a saúde humana, formando
parte das paredes celulares e ossos. Sua deficiência pode afetar a boa constituição do
esqueleto humano e dos dentes; sua retenção no organismo pode causar pedras nos
rins.
O CONAMA não legisla de forma direta sobre a concentração máxima de Cálcio
(como também sobre K e Mg) nas águas, uma vez que faz parte do índice geral de
salinidade, somatório de todos os íons dissolvidos. Por vezes utiliza-se em relação à
qualidade da água para vários propósitos, a propriedade de “dureza”, calculada por
fórmula computando-se os teores de Cálcio e Magnésio (os mais abundantes elementos
alcalino-terrosos); tem escala, expressa em mg/L de CaCO3 , que varia de água branda a
muito dura, e valores permissíveis até 500 mg/L conforme a Organização Mundial da
Saúde - OMS (MESTRINHO,1998). Calculada essa variável para todas as amostras,
verificou-se que o mencionado limite foi excedido por somente três amostras (com dureza
de 512, 585 e 595 mg/L CaCO3 ) cujos resultados para o íon Cálcio também foram os
mais elevados determinados nas análises químicas; esse parâmetro é altamente
correlacionado com o Cálcio, e este com o Magnésio, significando que seus mapas de
distribuição espacial teriam igual aspecto.
Cálcio teve todos os resultados analíticos expressos com valores numéricos
definidos. As águas subterrâneas de poços tubulares são as mais enriquecidas neste
elemento, compreendendo todos os resultados acima dos 95% da distribuição estatística
(maiores do que 50 mg/L). Sua distribuição consta do mapa na figura 10, podendo-se
25
notar um relativo enriquecimento na porção central estendendo-se até o extremo sul do
estado, enquanto que na porção noroeste do território predominam os valores abaixo da
mediana.
5.588
1.727
N
1.91
0
0.712
Sobral
100 km
FORTALEZA
9550000
2.758
Quixadá
Crateús
9350000
Ba
Iguatu
mg/L
até 0,35
5.121
Juazeiro
0,35 a 0,70
0,70 a 2,20
(1 a 3 VR)
2,20 a 5,60
(> 3 VR)
9150000
250000
450000
650000
FIG 9 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE BÁRIO
Os valores elevados de Cálcio foram obtidos em águas de abastecimento público
nos extremos oeste (em Ararendá, com 105,5 mg/L, tendo Cádmio associado) e sudoeste
do território estadual (em Marrecas, distrito de Tauá, com 131,3 mg/L de Cálcio
juntamente com os elementos Cu e Na, e em Cococi, distrito de Parambu, com 139,9
mg/L e os elementos Fe e Zn acima do valor de referência); em Marrecas, a água de um
26
poço amazonas situado a aproximadamente 250 metros do poço tubular, em mesmo
terreno geológico, teve resultado de apenas 22 mg/L. Geologicamente os terrenos dos
poços em Ararendá e Marrecas são constituídos por rochas metamórficas da Unidade
Canindé do Complexo Ceará (Paleoproterozóico): paragnaisses e ortognaisses,
metamáficas, quartzitos, metacalcários, metamáficas, calcissilicáticas e formações
ferríferas, com ainda estratos e diques de granitóides. Em Cococi ocorrem ardósias, filitos
e siltitos calcíferos da Formação Cococi, do Grupo Rio Jucá, datado do Ordoviciano. A
fonte do Cálcio é litogênica, produto do intemperismo especialmente de calcita,
plagioclásios e de vários outros minerais, e os demais elementos químicos, cuja
associação pode ser fortuita, podem refletir a variedade de influências dos tipos de rochas
que ocorrem em cada local. Não foram detectados, na escala deste trabalho, indícios que
caracterizem o enriquecimento da água em Cálcio, quando proporcionado por eventual
utilização de calcário na calagem de solos.
Isolada, a amostra com teor imediatamente inferior aos acima mencionados é
proveniente de um poço tubular na cidade de Frecheirinha, noroeste do estado. O
resultado de 94,72 mg/L para Cálcio não é acompanhado por outros elementos, e as
litologias locais são metacalcários da Formação Frecheirinha do Grupo Ubajara
(Neoproterozóico).
Destaca-se no mapa a região sul, onde as águas dos poços que abastecem
Salitre, Porteiras, Farias Brito e Nova Olinda tiveram resultados respectivamente de
76,91, 63,22, 62,45 e 52,89 mg/L, que parecem fazer parte de uma ampla zona onde
predominam valores relativamente altos; outros elementos em teores acima da referência,
detectados nessas amostras, não são comuns entre eles. Em relação à geologia, exceto
em Farias Brito, onde os terrenos são gnaisses com metacalcários da Formação Farias
Brito do Grupo Orós (Paleproterozóico), os demais poços encontram-se em arenitos (Fm.
Exu, Grupo Araripe, do Cretáceo, em Salitre, Fm. Missão Velha, Grupo Vale do Cariri, do
Jurássico-Cretáceo em Porteiras, e Fm. Mauriti, do Siluriano, em Nova Olinda); rochas
calcárias ou cimento calcítico nos arenitos, em profundidade, devem influenciar a
composição da água coletada nesses poços.
Na porção centro-norte do estado foram determinados resultados altos em poços
tubulares de Cipó dos Anjos, município de Quixadá (86,19 mg/L), com outros elementos
alcalinos e alcalino-terrosos associados, Itatira (71,08 mg/L) e Mulungu (54,33 mg/L)
estabelecidos em domínios de rochas dos complexos metamórficos Jaguaretama e
Ceará, do Paleoproterozóico, nos quais ocorrem lentes de metacalcários. Nessa mesma
região, foram obtidos resultados dessa ordem também no poço amazonas de Madalena
(58,53 mg/L), já terreno de litologias metamáficas da Unidade Algodões,
paleoproterozóica, que pode liberar este elemento como produto de alteração de seus
minerais constituintes.
Cd – CÁDMIO
É um elemento extremamente tóxico mesmo em baixas concentrações,
acumulando em organismos e ecossistemas. Sua ingestão causa imediato
envenenamento de fígado e rins, sendo alguns compostos cancerígenos. Efluentes de
mineração lançados em rios, no Japão, causaram a doença conhecida como “itai-itai”,
com sintomas de osteoporose e falha no sistema renal, na população ribeirinha.
27
Cerca de 78 amostras de água apresentaram resultados analíticos iguais ao valor
de referência, de 0,001 mg/L, com pequeno predomínio das águas subterrâneas em
relação às superficiais; das 24 amostras com resultados analíticos superiores a esse
valor, 22 são subterrâneas. O mapa da figura 11 mostra sua distribuição.
Na região norte do estado, sul de Fortaleza, registraram-se 0,002 mg/L Cd na
fonte que abastece Palmácia e num poço amazonas da captação de Pacoti, em rochas
metamórficas do Complexo Ceará (para e ortognaisses principalmente); em direção
oeste, em águas do riacho Escorado, que alimenta Itapagé, e do poço tubular de Deserto,
distrito de Itapipoca, foram detectados respectivamente 0,002 e 0,003 mg/L (este com
Arsênio e Sódio), tendo no substrato rochas granitóides do Complexo Tamboril-Santa
Quitéria. Já no extremo norte do estado, amostras em poços tubulares de Acaraú, Bela
Cruz, Cruz, Itarema e em Lagoa dos Monteiros, que abastece Jijoca de Jericoacoara,
deram resultados de 0,002 mg/L, que foi também obtido na água de um poço em Santana
do Acaraú, pequena distância a sul; arenitos argilosos com níveis conglomeráticos e
nódulos lateríticos do Grupo Barreiras, do Neogeno, constituem os aqüíferos desses
poços, e depósitos aluviais do Quaternário facilitam a percolação em Bela Cruz e Santana
do Acaraú, onde o Cádmio nas águas é acompanhado por valores, acima da referência,
de Ferro e Manganês, o que também foi verificado no poço amazonas de Pacoti.
Na região sul do estado, resultados de 0,002 mg/L de Cd foram obtidos em água
de poço no distrito de Caipu, município de Cariús, 0,003 em Tarrafas, 0,004 em Nova
Olinda e 0,008 mg/L em um poço amazonas na aluvião do rio Cariús, que abastece a
cidade de Jucás; a cerca de 200 m, a água de outro poço amazonas (captação para a
cidade de Cariús) teve resultado de 0,001 mg/L. A leste, já fronteira com o estado da
Paraíba, foram observadas concentrações de 0,002 mg/L em poços amazonas de Baixio
e Ipaumirim (onde a cloretação é feita no próprio poço), 0,003 mg/L em Umari e 0,002
mg/L (com alto valor de Chumbo) em Ererê. Gnaisses e migmatitos de várias unidades
estratigráficas do Arqueano e Proterozóico, com muita diversidade na composição
litológica, formam o substrato da região; em Ererê há extensa cobertura de sedimentos do
Quaternário.
A oeste do estado os valores destacados são de 0,002 mg/L em Croatá, Santo
Antônio, distrito de Novo Oriente e São Francisco, distrito de Quiterianópolis, e de 0,003
mg/L em Ararendá. Mais a sul, no distrito de Marrecas, município de Tauá, na água de
poço com instalação de dessalinizador, utilizada para beber, obteve-se 0,001 mg/L e,
naquela de um poço amazonas situado a menos de 300 m, 0,002 mg/L de Cádmio.
Gnaisses e migmatitos da Unidade Canindé, granitóides, quartzitos e micaxistos do Grupo
Novo Oriente, do Proterozóico, com algumas coberturas sedimentares constituem os
terrenos desses municípios, com exceção de Croatá, onde ocorrem rochas sedimentares
do Grupo Serra Grande.
O resultado analítico mais elevado de Cádmio foi de 0,020 mg/L, obtido em uma
amostra de água do açude Gavião, mais próximo de Fortaleza e onde se encontra a
captação para várias sedes municipais vizinhas; outras 3 amostras deste açude,
coletadas na mesma ocasião e em até 2.500 m de distância, tiveram resultados de 0,001
mg/L, valor de referência do CONAMA; poluição industrial por via eólica é provavelmente
28
a origem desta elevada concentração do metal, pela posição geográfica do açude,
próximo e central a vários municípios com importantes e diversificados parques industriais
(Fortaleza, Eusébio, Itaitinga, Maracanaú e Horizonte).
Devido a grande diversidade de rochas nos locais com valores de Cádmio acima
do referenciado, não é plausível uma origem litogênica comum a todos eles. Pode-se
sugerir fontes localizadas e individuais de contaminação antropogênica, pois é elemento
muito comum, sendo utilizado em baterias elétricas, componentes eletrônicos, ligas
metálicas resistentes à corrosão, pigmentos para plásticos e vidros metálicos, cimento e
29
fertilizantes fosfatados; tem alta mobilidade no meio aquoso como íon Cd+2 e também em
ligação com complexos orgânicos.
Co – COBALTO
É elemento essencial à saúde em pequena dosagem, constituindo parte da
vitamina B-12 e podendo ser usado no tratamento de anemia. Uma exposição em
demasia pode causar irritação e asma no trato respiratório, edema pulmonar e
pneumonia. Pode afetar o coração e possivelmente é carcinogênico. Seu isótopo 60Co é
altamente radioativo, usado em radioterapia.
Cerca de 26% dos resultados para este elemento são definidos, com
predominância nas amostras de águas superficiais (35, contra 27 nas subterrâneas),
embora os maiores valores sejam encontrados nas águas de poços; todos eles são
inferiores ao valor de referência sugerido pelo CONAMA, de 0,05 mg/L. O resultado mais
elevado , de 0,016 mg/L, foi determinado na amostra de um poço amazonas na localidade
de Baixa Fria, município de Santana do Acaraú. Em termos de distribuição espacial há
um nítido zoneamento, estando as amostras com valores definidos, entre 0,002 e 0,016
mg/L, dispostas preferencialmente em uma faixa de cerca de 200 por 70 km de largura na
região da costa norte do estado, tendo como limite leste uma linha imaginária de
Fortaleza a Mulungu, e limite oeste uma linha que vai de Cruz a Sobral.
Cu – COBRE
Em pequena quantidade é essencial, fazendo parte de proteínas e enzimas na
corrente sanguínea. Se em excesso na água de beber, provoca vômitos, dores
estomacais e náusea, embora seja denunciado pelo sabor, antes desses efeitos; em
dosagens maiores pode causar danos nos fígado e rins, anemia e até a morte. Bebês e
crianças de pouca idade são muito sensíveis, e a exposição continuada a altas
concentrações de Cobre na alimentação pode causar danos ao fígado e morte.
Os cerca de 215 resultados indefinidos “menor do que” 0,01 mg/L (L 0,01) obtidos
nas análises são considerados, neste trabalho, como sendo menores ou iguais a 0,009
mg/L, valor de referência para este elemento segundo o CONAMA. Os demais 19
resultados, entre 0,01 (13 deles) e um máximo de 1,25 mg/L têm grande predomínio nas
águas subterrâneas, com tendência de associar-se ao Manganês, quando também em
valores excessivos segundo a recomendação daquele órgão.
Há duas zonas bem definidas de ocorrência de Cobre em águas, no extremo
sudeste e no norte do estado (figura 12).
No sudeste, as águas dos poços tubulares de Abaiara, Barro, Crato, Juazeiro do
Norte e Porteiras registraram valores de 0,01 mg/L; foram perfurados em rochas
sedimentares siluriano-cretáceas (formações Mauriti, Missão Velha e Rio Batareiras),
constituídas predominantemente por arenitos, encimadas por depósitos argilo-arenosos
do Neogeno. O resultado mais elevado desta zona foi encontrado no poço em Milagres,
com 0,04 mg/L de Cu, no domínio de folhelhos, siltitos e arenitos da Formação Brejo
Santo, do Jurássico. Cerca de 50 km a nordeste, a água do poço tipo amazonas da
localidade de Baixio teve resultado de 0,01 mg/L de Cu, junto a valores também
30
excessivos de Cádmio e Manganês; neste local as rochas são ortognaisses tonalitogranodioríticos do Arqueano.
0.02 1.25
0.03
N
0
0.02 Sobral
0.05
100 km
FORTALEZA
9550000
Quixadá
Crateús
9350000
Cu
mg/L
Iguatu
até 0,01
Juazeiro
9150000
0.04
0,01 a 0,03
(1 a 3 VR)
0,03 a 1,25
(> 3 VR)
250000
450000
650000
FIG. 12 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE COBRE
Quase no litoral, região norte do estado, as águas de poços tubulares de várias
cidades tiveram resultados acima do valor de referência. O mais elevado obtido foi de
1,25 mg/L, cerca de 138 vezes o maior teor permissível, no poço de Lagoa dos Monteiros,
que abastece Jijoca de Jericoacoara, contendo valores elevados também de vários outros
metais (a única informação do banco de dados sobre esse poço é que contém água
salobra, com 700 mg/L de STD – sólidos totais dissolvidos); juntamente com 0,03 mg/L
31
na amostra do poço de Cruz, 0,02 mg/L na do distrito de Guriú, município de Camocim e
0,01 mg/L de Cobre no poço de Acaraú, tem em comum (exceto a amostra de Guriú)
valores altos de Cádmio e encontram-se estabelecidos no pacote de arenitos argilosos do
Grupo Barreiras, datado do Neogeno (Cenozóico). Cerca de 50 km para sul, nas amostras
coletadas no açude Jardim, que abastece Martinópole e no poço amazonas do distrito de
Água Fria, município de Santana do Acaraú, foram obtidos 0,01 mg/L deste metal, em
domínio litológico de rochas metassedimentares do Grupo Martinópole (Neoproterozóico).
Mais para sul, as amostras coletadas no açude Jaibaras, nos locais de captação para a
cidade de Sobral e para Jaibaras, seu distrito, mostraram resultados de 0,02 mg/L e 0,05
mg/L, sem outros elementos associados; o açude e seu principal formador, o rio Jaibaras,
encontram-se estabelecidos sobre arenitos e siltitos da Formação Pacujá (Grupo
Jaibaras, do Período Ordoviciano).
Como pontos isolados no território estadual, resultados de 0,01 mg/L de Cobre
foram determinados nas amostras de águas de poços tubulares do distrito de Marrecas,
município de Tauá (na água de um poço amazonas cerca de 280 m de distância obtevese <0,01 mg/L) e de Pires Ferreira, e de poços amazonas de Apuiarés e Barreira dos
Vianas, município de Aracati; nestes três últimos mencionados é acompanhado por
Manganês. As litologias são diferentes, granitóides em Pires Ferreira, sedimentos em
Aracati e rochas metamórficas nas outras localidades.
A relação com o elemento Manganês em algumas amostras faz supor que o cobre
esteja ligado preferencialmente a uma fase coloidal, não havendo indicações de outra
possível origem comum para os valores mais altos detectados. O resultado extremamente
alto determinado na amostra de Lagoa dos Monteiros, junto com outros metais, sugere
contaminação local.
Fe – FERRO
É elemento essencial a todos os organismos, nos humanos fazendo parte de
vários tipos de enzimas e proteínas, sendo conhecida a hemoglobina, que faz o transporte
de oxigênio na corrente sanguínea; sua deficiência causa anemia. Em excesso é tóxico
pela formação de radicais livres, causando dano nas células do trato gastrointestinal e
podendo danificar as células do coração e fígado. A hemocromatose é uma doença
hereditária causada pelo acúmulo de Ferro em vários tecidos do organismo, causando
disfunção orgânica.
Teve apenas um resultado indefinido, com praticamente iguais valores do quartil
25% e mediana, ao serem comparados os parâmetros das águas superficiais e das
subterrâneas; estas consistentemente apresentam os resultados mais altos, como
denunciam os valores do quartil 75% e o máximo obtido, expressos na tabela I. A
distribuição geográfica dos resultados para este elemento consta da figura 13.
A região norte do estado apresenta a maior proporção de resultados acima do
valor de referência de 0,3 mg/L. As amostras coletadas nos poços tubulares de Bela Cruz
e Morrinhos, e no poço amazonas de Marco, vizinhos, registraram respectivamente 4,354,
32
0.599
4.354
N
1.766
0.721
6.936
0.483
Sobral
0
0.661
100 km
FORTALEZA
0.458
9550000
12.19
0.33
0.356
0.337
0.317
0.354
0.611
Quixadá
0.393
Crateús
0.332
1.763
2.294
0.559
9350000
0,303
Fe
0.384
0.33
Iguatu
3.474
2.579 1.223
2.423
Juazeiro
1.372
mg/L
até 0,15
0,15 a 0,30
0,30 a 0,90
(1 a 3 VR)
0,90 a 12,20
(> 3 VR)
9150000
250000
450000
650000
FIG. 13 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE FERRO
0,721 e 1,766 mg/L, observando-se cerca de 27 km a sul em Santana do Acaraú, outro
poço tubular com o teor bastante alto de 6,936 mg/L de Fe; todos esses resultados são
associados a Manganês, e os dois mais elevados também a Cádmio, acima das
respectivas referências. Em comum, também, o substrato geológico em que estão
situados é constituído por argilas e areias argilosas de depósitos aluviais do Quaternário.
Cerca de 30 km a noroeste de Bela Cruz, em Lagoa dos Monteiros (abastece Jijoca de
Jericoacoara), foi obtido o resultado de 0,599 mg/L de Ferro, juntamente com vários
outros elementos em teores altos, dentre os quais o Cádmio, em terrenos de arenitos
argilosos do Grupo Barreiras, do Neogeno. A associação Fe-Mn é típica de óxidos-
33
hidróxidos coloidais, que podem conter outros íons adsorvidos, podendo provir da zona de
oxidação na faixa de flutuação do lençol freático, desses locais mencionados. A sudeste
deste núcleo, em Miraíma e Itapagé, onde as captações são em águas superficiais (açude
São Pedro da Timbaúba com 0,483 mg/L e riacho Escorado com 0,661 mg/L,
respectivamente) e as rochas são cristalinas do Proterozóico, a associação do Ferro é
com o Alumínio (e também Cádmio em Itapagé), provavelmente indicativa da existência
de finas suspensões argilosas nas amostras. Mais distante, em Groaíras, sul de Sobral,
obteve-se um resultado, isolado, de 0,458 mg/L em amostra de poço amazonas, tendo
associado o Manganês.
No extremo sul, chama a atenção os resultados encontrados para Ferro em
amostras de poços tubulares que abastecem Santana do Cariri (2,579 mg/L), Crato (1,223
mg/L, com Cd, Cu e Mn) e Missão Velha (2,423 mg/L, com Ba), construídos em rochas
sedimentares areníticas do Mesozóico (respectivamente formações Exu e Rio Batateiras
do Grupo Araripe e Formação Missão Velha do Grupo Vale do Cariri). Provavelmente a
origem é mista, de colóides Fe-Mn e argilas.
O resultado mais elevado para este elemento foi determinado na amostra
proveniente do poço amazonas que alimenta a cidade de Pacoti, cerca de 100 km a
sudoeste da capital, com 12,19 mg/L do metal, sendo acompanhado por Manganês e
Cádmio em valores acima da referência; pouco mais de 10 km para sudeste deste ponto,
as amostras colhidas num intervalo de 50 m na barragem Tijuquinha, local da captação
das cidades de Aracoiaba e Baturité, tiveram resultado de 0,33 e 0,356 mg/L
respectivamente, sem outros elementos relacionados. Os terrenos dessas localidades são
constituídos por paragnaisses de variadas composições mineralógicas/químicas da
Unidade Canindé do Complexo Ceará, do Proterozóico, incluindo formações ferríferas,
que podem liberar este elemento para as águas após um processo de alteração mineral e
redução/oxidação do elemento.
A associação do Ferro com Manganês e/ou Cádmio é também observada nas
amostras coletadas nos poços amazonas de Jucás e Cariús (0,384 e 0,33 mg/L de Fe) e
no poço tubular de Caipu, distrito de Cariús (3,474 mg/L Fe), logo a sul da cidade de
Iguatu, situados, os dois primeiros, em sedimentos aluviais argilosos e areno-argilosos do
Quaternário, e o de Caipu em micaxistos e metavulcânicas da Formação Caipu, do
Neoproterozóico; cerca de 70 km a leste, a água colhida no poço construído em
sedimentos aluviais de Umari teve resultado de 1,372 mg/L de Ferro.
A mesma situação é verificada no centro-leste do estado e em dois pontos
isolados no oeste. Na primeira região, as amostras do poço amazonas que abastece
Jaguaribara, com 2,294 mg/L de Fe e do poço de São João do Jaguaribe, com 1,763
mg/L, situam-se em sedimentos aluviais do Quaternário e contêm Manganês; cerca de 35
km para nordeste dessas localidades, a meio caminho para Quixadá, a amostra coletada
no rio Banabuiú, onde se encontra a captação para o distrito de Sitiá (município de
Banabuiú) ao atravessar terrenos orto e paragnáissicos do Complexo Jaguaretama,
apresentou um teor de 0,393 mg/L de Ferro. A oeste, amostras dos poços amazonas de
Catunda e do distrito de Matriz, município de Ipueiras, forneceram resultados de 0,354 e
0,337 mg/L deste elemento, respectivamente, o primeiro deles acompanhado por
Manganês. Em Catunda ocorrem granitóides do Complexo Tamboril-Sta. Quitéria, que
apresentam localmente lentes calcissilicáticas, anfibolíticas e de rochas ferríferas, e em
Matriz dominam conglomerados e arenitos do Grupo Serra Grande, datado do período
Siluriano.
34
Merecem ainda menção, na região central do Ceará as amostras coletadas no
açude Boa Vista Velha, que abastece o distrito de Boa Vista, município de Mombaça, com
resultado de 0,559 mg/L de Fe, e aproximadamente 30 km a nordeste, no rio Patu a
captação para o distrito de Mineirolândia, município de Pedra Branca, com 0,332 mg/L Fe.
Ambas apresentam associado Alumínio acima da referência, o que parece caracterizar a
presença de argilas em suspensão; as litologias locais pertencem ao Complexo Cruzeta,
do Arqueano, constituído por grande variedade de orto e paragnaisses, com metamáficas
e metassedimentares, incluindo formações ferríferas.
Por último, foram determinados resultados acima do valor de referência de Ferro
em duas amostras de água de poços provenientes do extremo leste do estado, em
Aracati, com 0,611 mg/L e distante 11 km em Fortim, com 0,317 mg/L. São poços
instalados em aluviões areno-argilosos inconsolidados e em arenitos argilosos do Grupo
Barreiras. Não foram detectados outros elementos em valores acima daqueles
preconizados pelo CONAMA.
K – POTÁSSIO
Potássio é um macronutriente essencial na nutrição humana, para manter o
balanço de fluidos e eletrólitos nas células do corpo e auxiliar na contração muscular,
impulsos nervosos e nos processos metabólicos de transferência de energia das
proteínas, gorduras e carboidratos. Sintomas de sua deficiência são pele seca, acne,
diarréia, espasmos musculares, arritmia, insônia, queda na pressão sanguínea, etc. O
excesso deste elemento parece prejudicar pessoas com doenças renais.
O CONAMA não apresenta restrições quanto aos teores deste metal alcalino nas
águas de consumo. Todos os resultados analíticos foram definidos, podendo-se constatar
na tabela I uma grande semelhança entre os parâmetros estatísticos (percentis e
medianas) calculados para as águas superficiais e subterrâneas; os valores mais altos
são observados nesta última categoria de amostras. Os valores acima de 95% da sua
distribuição estatística (> 9 mg/L) são vistos como pontos isolados em todo o território
cearense, verificando-se todavia certo zoneamento preferencial dos resultados obtidos
(fig. 14).
Potássio encontra-se relativamente enriquecido principalmente na região
sudoeste, em terrenos constituídos predominantemente por granitóides e ortognaisses do
Neoproterozóico, de diversas unidades (em destaque a Suíte Granitóide Itaporanga) e
posicionamentos geotectônicos (sin a pós-orogênicos); os maiores resultados ali são de
12 mg/L de K, encontrados nas amostras do açude Buenos Aires, local de captação para
a cidade de Catarina, e nos poços tubulares de Cococi, distrito de Parambu (que contém
Ferro e Zinco acima da referência), e de Salitre (Boro e Sódio elevados). O açude situa-se
em terrenos de paragnaisses e ortognaisses do Complexo Acopiara e os poços
atravessam rochas sedimentares da Formação Cococi (ardósias, folhelhos e siltitos) do
Grupo Rio Jucá e da Formação Exu (arenitos) do Grupo Araripe.
Forma também um núcleo bem definido próximo a Quixadá, na porção central do
estado, tendo influentes litologias da mesma Suíte Itaporanga e ortognaisses de outras
unidades do Arqueano e Paleoproterozóico. A água do poço tubular do abastecimento de
35
9.6
N
0
Sobral
100 km
FORTALEZA
9550000
66
65
67
18
Crateús
Quixadá
9350000
12
12
K
mg/L
Iguatu
28
12
Juazeiro
9150000
17
250000
450000
até 3,2
3,2 a 4,6
4,6 a 5,9
5,9 a 9,0
9,0 a 67
(> 95% freq.)
650000
FIG. 14 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE POTÁSSIO
Cipó dos Anjos, distrito daquele município, registrou 67 mg/L de Potássio, o maior valor
obtido; ocorrem também Ba, Na, Sr e Zn acima do recomendado pelo CONAMA, e as
rochas locais são constituídas por ortognaisses de composição granítica a granodiorítica
do Complexo Jaguaretama. Em Quixeramobim, a amostra de água colhida na barragem
de mesmo nome, onde é captada para a cidade, apresentou resultado de 18 mg/L;
encontra-se estabelecida em terrenos metassedimentares do Complexo Ceará (Unidade
Quixeramobim) do Paleoproterozóico.
36
Merecem ainda citação os resultados obtidos na localidade de Cruz, no extremo
norte do Ceará, onde a amostra retirada de um poço tubular acusou 9,6 mg/L, contendo
ainda Ba, Cd e Cu, tendo os municípios vizinhos registrado valores acima da mediana
para este elemento e, isoladamente, na localidade de Sucatinga, distrito de Beberibe, a
nordeste, onde a amostra de um poço particular (não há abastecimento público) registrou
66 mg/L de K e em Icapuí, extremo leste, com 65 mg/L de K proveniente de um poço
tubular. Nos primeiros locais mencionados ocorrem sedimentos argilo-arenosos do Grupo
Barreiras e no último sedimentos arenosos do Quaternário.
Ainda em relação à distribuição do Potássio, está bem caracterizada uma faixa de
depleção no limite noroeste do estado, em domínio das rochas sedimentares do Grupo
Barreiras, no litoral, passando por rochas metassedimentares do Grupo Martinópole e
ortognaisses e granulitos do Complexo Granja, até as rochas sedimentares da Bacia do
Parnaíba, na fronteira oeste.
Aparentemente os resultados mais elevados originam-se principalmente do
intemperismo dos minerais biotita e K-feldspato, sendo o cátion facilmente retido em
minerais argilosos. Também constituinte de fertilizantes químicos tipo NPK e de cinzas
vegetais, não foram observados indícios dessas influências na escala regional trabalhada.
Li – LÍTIO
Tem comportamento biológico ainda indefinido. Algumas compostos (carbonato
de Lítio) têm sido usado para tratar desordens maníaco-depressivas, mas seu excesso
é tóxico para o sistema nervoso central.
Somente 50 resultados definidos foram obtidos para este elemento, com
grande predomínio das amostras de águas subterrâneas (43 delas), que apresentaram
também resultados mais elevados em relação às águas superficiais, embora muito
inferiores ao nível de concentração máximo admitido na instrução do CONAMA. O
valor mais expressivo obtido na análise química foi de 0,167 mg/L, na amostra
proveniente do distrito de Cipó dos Anjos, município de Quixadá. O extremo sudeste
do estado, desde Crato a Mauriti e Penaforte, concentra a maior parte dos resultados
definidos, iguais e acima de 0,002 mg/L, encontrando-se também pontos isolados por
todo o território cearense até a norte, na região litorânea; destaca-se um pequeno
núcleo na região serrana a sudoeste de Fortaleza, bem caracterizado, abrangendo as
amostras de fonte e poços dos municípios de Aratuba, Palmácia, Pacoti e Mulungu e
as amostras das águas do açude Acarape do Meio, captação das cidades de Acarape,
Barreira e Redenção.
Mg – MAGNÉSIO
É essencial ao organismo humano, pois muitas enzimas requerem este íon para
sua ação catalítica. Sua carência freqüentemente causa espasmos musculares e tem sido
associada a doenças cardiovasculares, diabetes, alta pressão sangüínea, desordens
neurológicas e osteoporose. Não são mencionados efeitos adversos quando ingestão em
excesso.
37
Assim como o Cálcio e o Potássio, este elemento, essencial para a vida, não
possui restrições do CONAMA quanto aos teores máximos admissíveis em águas. Todos
seus registros analíticos foram de caráter definido, encontrando-se na tabela I as
informações estatísticas sobre a distribuição de valores, sendo notável a diferença entre o
conteúdo nas águas superficiais e subterrâneas, quase duas vezes maior nestas últimas.
Os resultados com valor acima do percentil 95% de sua distribuição de freqüência
(correspondendo a 30 mg/L) encontram-se assinalados no mapa (fig. 15), que permite
também observar a grande semelhança de seu arranjo geográfico com o do elemento
Cálcio, com o qual se encontra fortemente correlacionado.
N
0
Sobral
9550000
100 km
FORTALEZA
35.43
44.04
51.76
60.38
42.14
45.16
48.2
65.5
Quixadá
Crateús
9350000
62.41
59.65
39.52
Mg
Iguatu
Juazeiro
9150000
mg/L
até 4,23
4,23 a 6,96
6,96 a 10,9
10,9 a 30,0
30,0 a 65,5
(> 95% freq.)
250000
450000
650000
FIG. 15 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE MAGNÉSIO
38
O resultado mais alto foi encontrado na amostra coletada em um poço tubular no
distrito de Cipó dos Anjos, Quixadá, com 65,5 mg/L conjuntamente a Ba, Na, Sr e Zn
elevados; marca o limite leste de uma faixa enriquecida em Magnésio que se estende 100
km em direção noroeste. Nela, foram determinados 42,14 mg/L em Choró (águas do
açude Choró Limão), 45,16 mg/L em Madalena (poço tipo amazonas, contendo também
Manganês) e 51,76 mg/L Mg na amostra do poço tubular de Itatira. As rochas que
ocorrem nos locais mencionados são variadas, compreendendo ortognaisses e
paragnaisses do Complexo Jaguaretama em Cipó dos Anjos, quartzitos e micaxistos da
Unidade Choró na localidade de mesmo nome, dioritos e gabros em Madalena e
paragnaisses e micaxistos do Complexo Ceará (Unidade Independência) em Itatira. A
origem litogênica do Magnésio é sugerida, uma vez que é produto do intemperismo de
ampla gama de minerais comuns formadores de rochas, como anfibólios, piroxênios,
biotitas, cloritas, dolomitas etc.
Na região sudoeste do estado, foram encontrados valores altos deste elemento no
poço tubular do distrito de Marrecas, em Tauá, cuja água acusou 62,4 mg/L com também
Cobre e Sódio (a água de um poço amazonas distante cerca de 250 metros teve somente
8,84 mg/L Mg), em terrenos de paragnaisses e granitóides da Unidade Canindé
(Complexo Ceará), logo a norte em um poço tubular no distrito de Cococi, município de
Parambu (com 59,65 mg/L do elemento acompanhado por Ferro e Zinco), cortando
ardósias, folhelhos e siltitos da Formação Cococi, Grupo Rio Jucá e 50 km a leste, no
açude Buenos Aires, captação para a cidade de Catarina, que está situado no domínio de
paragnaisses e ortognaisses do Complexo Acopiara, do Paleoproterozóico.
Amostras isoladas que contiveram relativamente altos teores de Magnésio são
observadas no oeste cearense, coletadas nos poços tubulares de Ararendá, com 60,38
mg/L (mais Cádmio), construído na faixa de paragnaisses e granitóides da Unidade
Canindé do Complexo Ceará e de Pires Ferreira, com 35,4 mg/L (mais Cu e Mn) em
granitóides diversos; no centro-norte, na captação para a cidade de Ocara no rio Choró,
com 44,04 mg/L, e a leste, no poço tubular (em arenitos argilosos do Grupo Barreiras) do
distrito de Barreira dos Vianas, município de Aracati, com teor de 48,2 mg/L Mg tendo
associado Cu, Mn e Pb.
O exame do mapa de distribuição permite ainda notar uma zona de
empobrecimento relativo deste metal no extremo noroeste do estado, o que também
acontece nas amostras tomadas na faixa litorânea. Essa feição talvez esteja relacionada
com o regime pluviométrico regional, pois são as regiões onde acontece a maior
precipitação de chuvas.
Mn – MANGANÊS
É um elemento essencial, encontrado em todos os tecidos humanos e com maior
concentração no fígado, pâncreas, trato intestinal e rins. Suas concentrações naturais são
dificilmente tóxicas e grandes dosagens podem ser toleradas sem dano; quando
deficiente, predispõe à anemia. A exposição ocupacional ao Manganês pode ser alta,
havendo efeitos tóxicos (bronquite/pneumonia ou manganismo, que atinge o sistema
nervoso central) por inalação da poeira ou fumaça
Do conjunto de resultados analíticos apenas 6 ficaram abaixo do nível de detecção
do método analítico, sendo o metal que apresentou o maior número de valores (38) acima
39
da referência recomendada pelo CONAMA, de 0,1 mg/L, detectados em amostras que se
distribuem por todo o estado do Ceará (fig. 16). Os parâmetros estatísticos constantes da
tabela I mostram que as água subterrâneas são muito mais enriquecidas do que as águas
superficiais, por um fator de 9 ao se considerar tanto a mediana como a média aritmética.
Apresenta clara associação com o Ferro em amostras de algumas regiões, já comentadas
quando da descrição do comportamento deste elemento, anteriormente; nos outros casos,
sua presença no meio aquoso ocorre sob a forma provável de íon Mn+3 ou Mn+4 , que
somente precipita com pH acima de 8 (Carvalho, 1995).
1.066
N
1.198
0.602
0.234
1.204
Sobral
0
0.423
FORTALEZA
0.152
9550000
100 km
0.32
0.531 0.16
0.577
0.596
0.219
0.127
0.361
1.13
Quixadá
Crateús
0.174
0.166
0.123
0.123
9350000
0.239
0.166
0.249
0.433
0.609 0.68
0.113
0.186
Mn
mg/L
Iguatu
0.298
0.312 0.28
0.173
0.142
0.31
Juazeiro
0.185
0.54 0.155
0.112
até 0,05
0,05 a 0,10
0,10 a 0,30
(1 a 3 VR)
0,30 a 1,21
(> 3 VR)
9150000
250000
450000
650000
FIG. 16 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE MANGANÊS
40
No exame do mapa de distribuição, chama a atenção a zona de altos valores no
norte do estado, registrada pelas amostras dos poços tubulares de Bela Cruz (1,066
MG/l), Morrinhos (0,602 mg/L) e Santana do Acaraú (1,204 mg/L – maior resultado
determinado) e em poços tipo amazonas de Marco (1,198 mg/L) e Baixa Fria, distrito de
Santana do Acaraú (0,234 mg/L); com exceção desta última amostra e localidade,
associa-se a Ferro (e Cádmio em duas amostras) e os poços atravessam depósitos
aluviais (argilas e argilas arenosas) do Quaternário. Em Baixa Fria, ocorrem
conjuntamente Ba e Cu, e as rochas locais são quartzitos da Fm. São Joaquim, do Grupo
Martinópole (Neoproterozóico). Cerca de 50 km a sudeste desta zona, a amostra coletada
no poço amazonas de Missi, distrito de Irauçuba, apresentou 0,423 mg/L de Manganês,
sem outros elementos, em domínio dos granitóides do Complexo Tamboril-Sta. Quitéria.
Como já mencionado, a associação com o Ferro denuncia a presença de óxidoshidróxidos coloidais, que deve ser a forma predominante de ocorrência deste elemento
nas localidades acima mencionadas.
Também é notável a faixa com amostras de valores altos, a leste, desde o distrito
de Barreira dos Vianas, município de Aracati, cuja amostra de um poço amazonas
registrou 0,361 mg/L (junto com Cu e Pb) em arenitos argilosos do Grupo Barreiras, indo
em direção sul para Russas (0,185 mg/L) e seu distrito de Flores (0,54 mg/L), Quixeré
(0,155 mg/L) e São João do Jaguaribe (0.433 mg/L, com Ferro), todos esses resultados
em amostras d’água de poços tubulares, construídos sobre argilas arenosas do
Quaternário; cerca de 30 km mais a sul a faixa termina em Jaguaribara e Alto Santo, cujas
águas de poços amazonas forneceram respectivamente 0,609 (com Ferro) e 0,68 mg/L, o
primeiro em sedimentos do Quaternário, e o segundo em rochas orto e paragnáissicas do
Complexo Jaguaretama, do Paleoproterozóico.
Na região sul, entre Iguatu e Juazeiro do Norte, as amostras de águas de
abastecimento colhidas em vários municípios apresentaram resultados acima do valor de
referência: em Cariús e Jucás, com 0,249 e 0,166 mg/L junto a Cd e Fe e Ferro,
respectivamente, de poços amazonas em sedimentos aluviais/coluviais do Quaternário;
na localidade de Amaro, município de Assaré, com 0,312 mg/L de poço amazonas em
terrenos graníticos a granodioríticos da Suíte Granitóide Itaporanga; nos poços tubulares
em Crato (0,31 mg/L junto a Cu e Fe), no distrito de Caipu do município de Cariús (0,298
mg/L com também Cd e Fe) e em Farias Brito (0,28 mg/L), estabelecidos em arenitos da
Formação Batateiras (Grupo Araripe) do Cretáceo, em micaxistos da Fm. Caipu do
Neoproterozóico e em gnaisses da Fm. Farias Brito (Grupo Orós), do Paleoproterozóico,
respectivamente; nas águas do açude Pajeú, captação de Altaneira, e do açude São
Domingos, que abastece Caririaçu, onde os resultados acusaram 0,173 mg/L e 0,142
mg/L de Manganês. A leste desta região, em Baixio, domínio de ortognaisses arqueanos,
a amostra coletada em um poço amazonas teve resultado de 0,112 mg/L, junto com os
elementos Cd e Cu.
Cerca de 100 km a sudoeste de Fortaleza, os exemplares colhidos no poço tubular
em Mulungu, no poço amazonas em Pacoti e em uma amostra do açude Acarape do Meio
(captação para Acarape, Barreira e Redenção) tiveram resultados respectivamente de
0,531 mg/L, 0,32 mg/L (com Cd e Fe) e 0,16 mg/L desse elemento; as rochas dessa
região são paragnaisses com ortognaisses associados, que contêm também formações
ferro-manganesíferas entre outros litotipos. Outras duas amostras colhidas no açude
Acarape do Meio, uma centena de metros distantes, não confirmaram valores acima da
referência para Manganês.
41
São destaque ainda as amostras, isoladas, do poço amazonas de Madalena,
centro do estado, com 1,13 mg/L de Mn, em terrenos de paragnaisses da Unidade
Algodões, do Paleoproterozóico, do poço amazonas em sedimentos alúvio/coluviais de
Ipueiras, a oeste, com 0,596 mg/L e, cerca de 30 km a norte deste, de um dos poços que
abastecem Pires Ferreira, com 0,577 mg/L Mn contendo também Cobre, em granitóides
neoproterozóicos. À meia-distância entre Madalena e Ipueiras, os exemplares colhidos
em Catunda (poço amazonas) e em Raimundo Martins, município de Sta. Quitéria (poço
tubular) tiveram registros de 0,219 mg/L e 0,127 mg/L de Manganês, tendo como
acompanhantes os elementos Ferro e Chumbo, respectivamente; as rochas ali ocorrentes
são granitóides neoproterozóicos do Complexo Tamboril-Sta. Quitéria.
Deve-se mencionar uma zona na porção centro-sul do estado, embora os
resultados não sejam muito sobrelevados em relação ao valor de referência. Compreende
as amostras colhidas no poço amazonas que abastece a cidade de Dep. Irapuan Pinheiro
(0,239 mg/L) e nos açudes de Sigefredo Pinheiro, captação para o distrito de São João do
Solonópole, município de Solonópole (0,186 mg/L), Trapiá, captação para Pedra Branca
(0,174 mg/L), Patu, captado para Senador Pompeu (0,166 mg/L) e Monte Sombrinho, que
abastece Milhã (0,123 mg/L); ortognaisses, paragnaisses e granitóides de várias unidades
geológicas do Proterozóico ocorrem nessas localidades.
Por último, resultados similares aos anteriores foram detectados nas amostras de
um poço amazonas construído em sedimentos alúvio/coluviais do rio Acaraú em Groaíras,
pouco a sul da cidade de Sobral, com 0,152 mg/L de Manganês, aparecendo junto Ferro,
e de um poço tubular que abastece São Francisco, município de Quiterianópolis, no
extremo sudoeste do território, com 0,123 mg/L de Mn, junto com Cádmio, em terrenos
da associação granítico-migmatítica do Complexo Tamboril-Sta. Quitéria.
Possíveis fontes antropogênicas para as concentrações de Manganês detectadas
nas águas de abastecimento público, como mineração, siderurgia, acumuladores e pilhas
elétricos, indústrias químicas de tintas e fertilizantes, não puderam como tal ser
caracterizadas neste trabalho.
Na – SÓDIO
Elemento essencial à saúde, constitui o principal cátion extracelular do
organismo, importante para as funções do sistema nervoso periférico. Seu excesso
pode prejudicar pessoas com histórico de, ou propensas a, doenças cardíacas.
Todos os resultados analíticos para este elemento foram definidos, tendo seus
parâmetros estatísticos (tabela I) mostrado que as águas subterrâneas são duplamente
enriquecidas em relação às superficiais. Sua distribuição geográfica é apresentada na
figura 17, verificando-se que poucos são os municípios cujos resultados ultrapassam a
concentração recomendada pelo CONAMA, de 200 mg/L.
O maior valor obtido para o Sódio foi de 820 mg/L no poço tubular de Cipó dos
Anjos, município de Quixadá (região central do estado do Ceará), cujo dessalinizador
encontrava-se parado na ocasião de coleta da amostra; acompanham os elementos Ba,
Sr e Zn, e os terrenos locais são compostos por ortognaisses migmatizados do Complexo
Jaguaretama. Próximo, a amostra d´água tomada no açude Cedro, que contribui com
parte do consumo de Quixadá (a maior parte provém do açude Pedras Brancas),
42
apresentou 202,6 mg/L, pouco superior ao valor de referência, em área de rochas
graníticas da Suíte Granitóide Itaporanga, do Neoproterozóico. Estas estações
encontram-se no centro da zona de maior salinidade de águas em poços tubulares,
conforme o mapa gerado com os dados de condutividade elétrica de mais de 7.000
poços em todo o estado (fig. 3) cadastrados pela CPRM (CPRM, 1999).
N
0
100 km
235
Sobral
FORTALEZA
9550000
202.5
820
Quixadá
Crateús
9350000
470
520
Iguatu
Na
mg/L
até 100
204
100 a 200
200 a 600
(1 a 3 VR)
Juazeiro
600 a 820
(> 3 VR)
9150000
250000
450000
650000
FIG. 17 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE SÓDIO
Outros pontos com alta concentração de Sódio ocorrem isoladamente, registrandose 520 mg/L (com Cobre associado) num poço tubular equipado com dessalinizador no
distrito de Marrecas, município de Tauá (sudoeste do Ceará), registrando-se somente 55
43
mg/L desse elemento na amostra de um poço amazonas a cerca de 280 m, que também
faz parte do sistema de abastecimento desse distrito; terrenos de paragnaisses e
granitóides da Unidade Canindé do Complexo Ceará ocorrem na região. Um resultado de
470 mg/L acompanhado por valores altos de Cd, Pb e Zn foi determinado na amostra de
um poço tubular em Milagres, no limite estadual a sudeste, onde afloram folhelhos, siltitos
e arenitos da Fm. Brejo Santo (Grupo Vale do Cariri) do Jurássico. Na amostra de um
poço tubular na localidade de Deserto, município de Itapipoca, norte do estado, foi
encontrado 235 mg/L (com As e Cd) em granitóides do Proterozóico e em Salitre, extremo
sudoeste, o teor determinado foi de 204 mg/L (junto com Boro), também num poço
tubular que atravessa arenitos da Formação Exu, do Grupo Araripe, atribuída ao
Cretáceo.
A dissolução de sais e intemperismo do plagioclásio, comum mineral formador de
rochas, e o ciclo de concentração de sais propiciado pelas deficientes precipitação e
circulação de água associadas a uma alta evaporação, constituem a fonte dos altos
valores encontrados. A comum ocorrência de As e Cd junto ao Sódio na localidade de
Deserto, Itapipoca, onde o substrato é granítico, faz suspeitar de possível contaminação
antrópica.
Ni – NÍQUEL
Não é bem conhecido o papel de Níquel na saúde humana, admitindo-se que em
pequena quantidade seja essencial (sua deficiência na dieta de animais inferiores causa
problemas no fígado). Todos seus compostos são tóxicos, e alguns carcinogênicos e
teratogênicos. Pessoas sensíveis ao Níquel podem ter dermatites ao seu contato, ou ter
reações quando ingeridos alimentos ou água que o contenha.
Apenas 14 amostras forneceram resultados numéricos definidos, das quais duas
são de águas superficiais e 12 de subterrâneas. Esses valores variam entre 0,004 e 0,017
mg/L, abaixo do nível de referência de 0,025 mg/L. Um único registro o superou,
constando de 0,266 mg/L do metal (acompanhado por Al, Ba, Cd, Cu, Fe, Pb e Zn) na
amostra de um poço tubular situado na localidade de Lagoa dos Monteiros, município de
Cruz, que abastece a sede municipal de Jijoca de Jericoacoara, a cerca de 8 km de
distância (fig. 8); geologicamente o terreno por ele atravessado é composto por
sedimentos do Grupo Barreiras, do Neogeno, representado por arenitos argilosos com
leitos conglomeráticos e nódulos lateríticos na base. Contaminação local (objetos feitos ou
revestidos por ligas metálicas, talvez do próprio equipamento do poço etc.) pode ser a
fonte desse elevado teor do metal.
Pb - CHUMBO
Este elemento é altamente tóxico, podendo danificar as conexões nervosas e
causar desordens no sangue e no cérebro, especialmente de crianças. Quando longa a
exposição ao chumbo ou seus sais pode causar nefropatia, e alguns compostos são
carcinogênicos e teratogênicos. Uma porção considerável do Chumbo encontrado na
biosfera é proveniente de aditivos a combustíveis, e sua toxidez se dá por ingestão ou
inalação de poeira que o contenha.
44
Dos 16 resultados definidos, com similar proporção entre águas superficiais e
subterrâneas, foram determinados apenas 9 (nove) acima da referência de 0,01 mg/L; são
amostras provenientes de diversos locais no Ceará, sem delinear zonas preferenciais (fig.
18). Valores de 0,013 mg/L foram obtidos em águas superficiais (açudes) em Assaré (sul
do estado) e General Sampaio (centro-norte), e em um poço amazonas no distrito de
Barreira dos Vianas, município de Aracati (extremo leste); em Raimundo Martins, distrito
de Sta. Quitéria (região central), a análise resultou em 0,011 mg/L. No açude Jaburu, com
0.338
N
0
Sobral
9550000
100 km
FORTALEZA
0.022
0.465
0.021
0.013
0.011
0.013
Quixadá
Crateús
9350000
0.075
Iguatu
0.087
Pb
mg/L
até 0,005
0.013
0,005 a 0,010
0,010 a 0,030
Juazeiro
9150000
(1 a 3 VR)
0,030 a 0,465
(> 3 VR)
250000
450000
650000
FIG. 18 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE CHUMBO
45
captação que abastece 7 municípios do oeste do estado, em apenas uma das 8 amostras
coletadas em um intervalo de 7.000 m obteve-se o resultado de 0,022 mg/L Pb; todas as
demais acusaram concentrações inferiores ao limite de detecção do método analítico
empregado, de 0,005 mg/L.
Na região centro-sul, a amostra proveniente do açude Quincoé, que alimenta
Acopiara, teve leitura de 0,075 mg/L e a leste, no município de Ererê, a análise de água
do poço amazonas resultou em 0,087 mg/L de Chumbo, contendo também Cádmio
elevado. Tais valores podem provir do substrato litológico, composto pelo Complexo
Acopiara, do Proterozóico, representado por gnaisses com micaxistos grafitosos,
calcissilicáticas no primeiro, e pelo Complexo Jaguaretama, contendo gnaisses com
anfibolitos, quartzitos, calcissilicáticas e metacalcários, e ainda depósitos alúvio/coluviais
recentes, no segundo dos municípios mencionados.
Os teores mais elevados para este metal, de 0,338 mg/L, foram constatados em
um poço na vila de Lagoa dos Monteiros, município de Cruz, cujas águas abastecem
Jijoca de Jericoacoara, construído em arenitos argilosos do Grupo Barreiras e de 0,465
mg/L Pb no açude Gavião, que abastece a capital Fortaleza e vários municípios
próximos, estabelecido sobre litologias do Complexo Ceará; coletadas na mesma
oportunidade, outra amostra deste açude apresentou 0,021 mg/L de Pb e duas mais não
os confirmaram.
Contaminação antrópica no local ou equipamentos do poço, haja vista a obtenção
de valores altos também para As e Cd, é uma possibilidade no caso de Lagoa dos
Monteiros; no açude Gavião, praticamente cercado pela região mais industrializada do
Ceará, a poluição por via eólica parece ser a explicação mais verossímil para a origem
das altas concentrações de Chumbo detectadas.
Sr – ESTRÔNCIO
O Estrôncio é absorvido pelo corpo humano como se fosse o Cálcio, pela
similaridade química, sem qualquer aparente dano à saúde quando sob forma estável.
Entretanto, caso seja absorvido seu isótopo 90Sr, pode causar problemas aos ossos,
inclusive levar ao câncer.
Todos os registros analíticos para este elemento são definidos, e seus
parâmetros estatísticos mostram maior enriquecimento relativo nas amostras das
águas subterrâneas (tabela I). Com exceção de uma única amostra, os resultados são
muito baixos e centralizados em torno de 1/10 do valor de referência para este
elemento, de 4 mg/L.
Na amostra QAU321 foi detectado Estrôncio na concentração de 6,451 mg/L,
sendo acompanhada por valores elevados dos elementos Ba, Na e Zn; provém ela das
águas de um poço tubular da localidade de Cipó dos Anjos, município de Quixadá,
porção central do estado, em domínio de ortognaisses migmatizados e paragnaisses
do Complexo Jaguaretama, do Paleoproterozóico (fig. 8). Pode ser de origem
litológica, uma vez que os tipos de rochas que fazem parte desta unidade geológica
podem conter minerais essenciais como anfibólios, biotitas e calcita, que são
facilmente intemperizados, liberando assim esses cátions para as águas percolantes.
46
Zn – ZINCO
Zinco é um elemento essencial à vida, estimando-se em vários milhares os
tipos de proteínas do corpo humano que o contém, existindo também células que o
excretam sob forma iônica. Sinais de sua deficiência no organismo incluem a perda de
cabelo, lesões de pele, diarréias, decréscimo de sensibilidade nos órgãos sensoriais
(visão, olfato, paladar) e até morte. Sob forma iônica é potente antimicrobiano, efetivo
contra patógenos em aplicação direta. Havendo absorção dele em excesso pode haver
limitação da absorção dos também essenciais elementos Cobre e Ferro.
Todas as amostras, com apenas uma exceção, apresentaram resultados
definidos das análises, consistentemente mais altos (aproximadamente 2,5 vezes) nas
águas subterrâneas do que superficiais, como demonstram seus parâmetros
estatísticos listados na tabela I. De maneira geral os valores são muito baixos (menos
de um décimo) relativamente ao valor de referência de 0,18 mg/L preconizado pelo
CONAMA. A distribuição das poucas amostras que excedem este valor pode ser vista
na figura 19.
Em Cococi, município de Parambu, no extremo sudoeste do território cearense,
a amostra de um poço tubular teve o resultado mais elevado para este elemento, de
0,768 mg/L, tendo a companhia discreta do Ferro em teor pouco acima de sua
referência. São ali ocorrentes ardósias, folhelhos, argilitos e siltitos calcíferos da Fm.
Cococi, Grupo Rio Jucá, atribuída ao período cambro-ordoviciano. Com teor pouco
inferior, a amostra colhida no poço de Lagoa dos Monteiros, que abastece Jijoca de
Jericoacoara na região litorânea a norte, teve um registro de 0,736 mg/L de Zinco,
junto a vários outros elementos com valores acima dos respectivos níveis referenciais;
o terreno neste local é composto por arenitos argilosos com cimento argiloso,
ferruginoso e por vezes silicoso, com leitos conglomeráticos e nódulos lateríticos. Para
este local, e já aventado anteriormente, é provável a contaminação da água pelo
próprio material e equipamentos do poço (tubulação edutora), haja vista que uma das
principais utilizações do Zinco é em ligas metálicas para proteção contra a corrosão
(galvanização do aço); o elevado teor obtido em Cococi pode ser também indício de
contaminação (o Zinco é um dos metais pesados de maior solubilidade), faltando
entretanto outros elementos informativos para assim caracterizá-lo, pois é um comum
constituinte traço em minerais formadores de rochas.
Valores menores foram determinados nas amostras coletadas em Cipó dos
Anjos, município de Quixadá (região central do estado), cujo poço tubular acusou
0,346 mg/L junto a Ba, Na e Sr, na cidade de Ererê, no limite sudeste, em um poço
amazonas contendo 0,233 mg/L de Zinco acompanhado por Cd, Na e Pb e em
Porteiras, sul do estado, em poço tubular com valor de 0,187 mg/L, pouco maior do
que o valor referenciado, ocorrendo ainda o Cobre. Nas duas primeiras localidades os
terrenos são constituídos por ortognaisses e paragnaisses do Complexo Jaguaretama,
do Paleoproterozóico, e em Porteiras, por arenitos mal selecionados da Fm. Missão
Velha, do Grupo Vale do Cariri, atribuído ao Jurássico. Pela associação com Bário e
Estrôncio em Cipó dos Anjos, pode tratar-se de Zinco litogênico, enquanto que em
Ererê e Porteiras, os indícios melhor indicam uma possível contaminação antrópica.
47
0.736
N
0
Sobral
100 km
FORTALEZA
9550000
0.346
Quixadá
Crateús
9350000
0.233
0.768
Iguatu
Zn
mg/L
até 0,09
0,09 a 0,180
0,180 a 0,540
Juazeiro
0.187
9150000
250000
450000
(1 a 3 VR)
0,540 a 0,768
(> 3 VR)
650000
FIG. 19 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE ZINCO
Br- – BROMO (BROMATO)
O Bromo é um elemento altamente tóxico se inalado, podendo danificar
seriamente o sistema respiratório; há compostos com ácidos húmicos (Tribromopyrrole)
de alta citotoxicidade, podendo até induzir danos genéticos agudos.
Apenas 20 amostras com resultados qualificados (15 resultados qualificados
L0,05, considerados inferiores a 0,02) e mais 8 outros resultados baixos ficaram aquém
dos 0,025 mg/L, limite estabelecido pelo CONAMA para este ânion. Portanto, quase 88%
48
das amostras de águas de abastecimento público colhidas no estado do Ceará
apresentam risco à saúde pelo relativo enriquecimento em Bromo.
Tais resultados variam entre 0,03 e 7,67 mg/L, constatando-se maior abundância,
embora com pequeno diferencial, nas águas subterrâneas do que nas superficiais, pelo
exame dos respectivos parâmetros estatísticos constantes da tabela I. Sua distribuição é
apresentada na figura 20, tendo expressos apenas os teores iguais a maiores de 0,25
mg/L (10 vezes o índice de referência) para legibilidade do mapa. Para evitar-se
descrições repetitivas, a exposição seguinte será limitada aos locais cujas amostras de
água forneceram teores superiores a 0,50 mg/L de Bromo, ou seja, mais de 20 vezes
superiores ao valor legislado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA.
A maior concentração de Bromo, 7,67 mg/L, foi detectada na amostra proveniente
do açude Buenos Aires, cujas águas são captadas para a cidade de Catarina, região
centro-sul do estado, que corresponde a mais de 300 vezes o valor considerado máximo
pelo mencionado órgão federal; outros ânions (Cl, F, PO4) encontram-se associados em
valores igualmente superiores ao referenciado. Em Marrecas, distrito de Tauá, a oeste,
um resultado de 1,12 mg/L na água de poço tubular é acompanhado por Nitrato, Fosfato e
Flúor, além dos cátions Cd, Cu e Na; um valor de 0,13 mg/L de Bromo ocorre em um poço
amazonas a cerca de 200 m de distância. A provável origem para esses elevados teores
encontrados é poluição/contaminação antrópica, sendo descartada a influência litológica
por se situarem em domínio de rochas metamórficas do Proterozóico.
Ascendência natural litológica é com certeza a origem para um resultado de 2,56
mg/L Br (o segundo maior valor, correspondendo a mais de 100 vezes a referência) nas
águas do poço tubular que abastece Salitre, no extremo sudoeste do território estadual.
Pouco tempo de construído e bem conservado, isolado, com profundidade de 960 m, tem
como característica captar águas de diversas formações areníticas cretáceas (grupos
Araripe e Vale do Cariri), entre as quais se acomoda a Formação Santana, constituída por
margas, folhelhos, calcários e fácies evaporíticas, cuja dissolução enriquece essas águas
em B, F, Na e SO4, além do Bromo.
Por último na listagem de locais cujas amostras contiveram mais de 20 vezes o
valor referencial de Bromo, deve-se mencionar o poço tubular de Ararendá, no extremo
oeste, que apresentou 0,75 mg/L de Bromo e valores altos de Cd, Cl e NO3, e em
lugarejos próximos situados na região noroeste do estado, os poços amazonas de Baixa
Fria (município de Santana do Acaraú), com 0,61 mg/L, e o tubular de Amontada,
contendo 0,52 mg/L, tendo Cd como elemento comum associados, e ainda PO4 em
Amontada e vários elementos mais NO3 em Baixa Fria. A origem provável, como para os
demais locais descritos com exceção de Salitre, é a poluição antropogênica.
Vê-se no mapa de distribuição todos os locais com teores em Bromo acima do
valor recomendado pelo CONAMA. Valores inferiores a este somente são registrados em
poucas amostras, restritas ao noroeste e sul do estado (fig. 20).
O Bromo é muito distribuído na natureza, sendo obtido da água do mar, onde
tem concentração média de 65 ppm ou de depósitos salinos, onde chega a atingir
mais de 0,5%; este deve ser o caso das águas do poço tubular de Salitre,
influenciadas por depósitos salinos evaporíticos da Formação Santana. Com essa
exceção, na totalidade das demais amostras este ânion deve ser originado de fonte
49
0.3
0.47
0.28
0.52
0.61
0.28
0.26
9550000
N
0
0.37
100 km
0.26
Sobral
FORTALEZA
0.44
0.4
0.44
0.91 0.32
0.57
0.55
0.75
0.33
0.68
0.3
1.3
Quixadá
0.54
Crateús
0.73
0.25
0.53
0.25
9350000
1.1
0.33
7.67
0.39
0.42
Br
mg/L
Iguatu
0.29
0.25
até 0,0125
0,0125 a 0,025
0,025 a 0,075
0.29
2.6
Juazeiro
9150000
(1 a 3 VR)
0,075 a 0,25
(3 a 10 VR)
0,25 a 7,67
(>10 VR)
250000
450000
650000
FIG. 20 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE BROMO
secundária de poluição (antrópica), pois os derivados de Bromo são encontrados na
gasolina, herbicidas, inseticidas e compostos para fumigação, materiais isolantes de
chamas, tintas e preparados farmacêuticos. Alentados volumes sobre o Brometo de
Metila e o Dibromoetano foram produzidos pela Organização Mundial de Saúde (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, Environmental Health Criteria 166 e 177, respectivamente).
O próprio tratamento de purificação para potabilidade da água pode introduzir ou
aumentar este elemento na cadeia de consumo pois, aparentemente não originado
50
durante o processo de cloração normal, há evidência de que produtos comerciais como
soluções de Hipoclorito de Sódio contêm Bromo como contaminante (THOMPSON &
MEGONNELL, 2003). O Bromo na água transforma-se em Bromato (BrO3-) por reação
com o ozônio, sendo considerado um composto DBP - produto secundário de
desinfecção. Richardson et al. (2003) em seu estudo citam que a maior parte dos DBPs
contendo Bromo foram formados no reservatório inicial, previamente à cloração; níveis
elevados deste elemento na água original causam uma maior Formação de Bromo-DBPs,
dominando as espécies Bromofórmio e ácido Dibromoacético, em coexistência com
alguns poucos compostos de Cloro.
Cl- – CLORO (CLORETO)
Elemento essencial à vida, pois os sucos digestivos no estômago contêm ácido
clorídrico. A tolerância dos seres humanos para com os cloretos varia com o clima e
hábitos alimentares, e pequeno aumento na sua ingestão pode causar efeito laxativo. A
inalação de seus vapores causa irritação nas membranas mucosas dos olhos, nariz e
garganta; em maiores exposições, pneumonite tóxica e edema pulmonar até morte.
Todas as amostras coletadas forneceram resultados numéricos definidos,
observando-se no quadro de estatísticas (tabela 1) que Cloro tem abundância quase 1,5
vez maior nas águas subterrâneas do que nas superficiais, embora o registro do maior
valor detectado tenha sido nestas; poucas amostras apresentaram concentrações
superiores ao máximo de 250 mg/L recomendado pelo CONAMA em águas. Sua
distribuição pode ser vista na figura 21, sendo descrita no texto seqüente.
Embora estatisticamente haja correlação significativa entre os resultados analíticos
de Cloro e Sódio (coeficiente de Pearson r = 0,26 para 233 amostras), o que espelha a
salinidade das águas, pode ser visto nos respectivos mapas de distribuição que não há
coincidência das amostras com valores acima do recomendado pelo CONAMA de um e
do outro elemento, significando que a proveniência do Cloro, nestes casos, deve-se à
poluição.
O maior teor encontrado foi de 4.012 mg/L no açude Buenos Aires, que fornece
a água para consumo de Catarina, na região centro-sul do estado, acompanhando
valores bastante elevados de Bromo e Fosfato, além de Flúor. Em Marrecas (distrito
de Tauá) a oeste, a amostra de um poço tubular forneceu 497 mg/L (junto a Br, NO3,
PO4, e ainda Cd, F, Cu e Na) de Cloro. O contexto litológico nos dois sítios é semelhante,
ocorrendo para e ortognaisses do Complexo Acopiara do Paleoproterozóico (que incluem
calcissilicáticas por vezes scheelitíferas) e granitos e granodioritos da Suíte Granitóide
Itaporanga (neoproterozóica) em Catarina, e paragnaisses, ortognaisses e metabásicas
da Unidade Canindé do Complexo Ceará mais os granitóides da mesma suíte na região
de Marrecas. Cerca de 200 metros do poço tubular de Marrecas, a amostra colhida em
um poço amazonas deu resultado de apenas 48 mg/L do íon Cloreto. Não é provável a
origem natural deste elemento pela dissolução dos minerais das rochas mencionadas,
devendo ser produto de contaminação das águas no ambiente exógeno.
Em poços tubulares de Croatá e Ararendá, na região oeste do estado, foram
determinadas concentrações de 1.643 e 390 mg/L deste ânion, em comum associados a
resultados de NO 3 , Br, Cd e ainda PO 4 (na primeira localidade) acima da recomendação
do CONAMA; os locais têm condicionantes geológicos distintos, conglomerados e
51
N
0
Sobral
100 km
FORTALEZA
9550000
311
1643
294
390
269
331
359
Quixadá
Crateús
9350000
4012
497
Iguatu
Cl
mg/L
até 125
125 a 250
250 a 750
Juazeiro
(1 a 3 VR)
750 a 4012
(>3 VR)
9150000
250000
450000
650000
FIG. 21 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE CLORO
arenitos do Grupo Serra Grande (Siluriano) em Croatá, e sedimentos areno-argilosos de
cobertura, do Quaternário em Ararendá. Os elementos detectados devem provir de
poluição antropogênica, ou seja, proximidade de esgotos que percolam até o cone de
depressão dos referidos poços.
Os demais resultados significantes são pouco superiores ao valor de 250 mg/L
legislado, ocorrendo 359 mg/L em água de um poço tubular que abastece a cidade de
Icapuí, extremo leste do Ceará, construído em sedimentos areno-argilosos do Grupo
52
Barreiras, do Paleogeno, isolado no mapa de distribuição. Concentrações de 331 a 269
mg/L de Cloro foram obtidas nas amostras coletadas na barragem de Aruaru (distrito de
mesmo nome, do município de Morada Nova), no rio Choró em Ocara, no açude Castro
em Itapiúna e na barragem de Choró Limão, local de captação para a cidade de Choró,
localidades estas situadas no centro-nordeste do estado. Em todas as amostras
mencionadas foram encontrados valores altos também para Bromo, entre os outros
elementos As, Al, Na e NO3, associados em uma ou outra. A provável origem para o Cloro
nas águas em todos esses locais é a poluição antropogênica, pois níveis muito altos
caracterizam a presença de esgotos sanitários.
F- – FLÚOR (FLUORETO)
A ingestão em pequena concentração beneficia a estrutura óssea e a constituição
do esmalte dos dentes dos indivíduos, especialmente até a idade em torno de 6 anos. Em
concentrações pouco maiores e com consumo continuado, pode acumular-se na estrutura
óssea, aumentando sua densidade e causando imperfeições e crescimentos irregulares
(exostoses) bem como manchas no esmalte dental (fluoroses esqueletal e dental). O gás
é altamente tóxico, pois mesmo em mínimas concentrações causa irritações nos olhos e
pulmões.
A quase totalidade dos resultados analíticos são de valores definidos, restando
apenas 6 com valores inferiores ao limite de detecção do método analítico (0,01 mg/L), e
a comparação entre os parâmetros estatísticos quartis e mediana, constantes na tabela I,
mostra um pequeno enriquecimento deste elemento nas águas subterrâneas em relação
às superficiais.
O maior teor registrado foi de 6,29 mg/L na amostra de um dos poços tubulares
situados próximos ao rio Acaraú, que fazem parte do sistema de abastecimento de
Santana do Acaraú (fig. 22); é acompanhado pelos elementos Cd, Fe, Mn e ainda As e Br
acima dos valores de referência. As rochas ocorrentes na área são paragnaisses com
ortognaisses ácidos e metabásicas da Unidade Canindé do Complexo Ceará, do
Paleoproterozóico, vulcânicas básicas a ácidas paleozóicas da Formação Parapuí do
Grupo Jaibaras e os depósitos areno-argilosos aluvionares ao longo do rio Acaraú. A
origem provável deste elemento é litogênica, seja por enriquecimento em termos alcalinos
das rochas vulcânicas Parapuí ou por fluidos hidrotermais circulantes em falhas e fraturas,
pois a cerca de 120 km em direção SW, acompanhando o extenso sistema de
falhamentos que corta a área, ocorre o mineral Fluorita (CaF2) no contato tectônico entre
o granito Mucambo, componente da Suíte Granitóide Meruoca (paleozóica) e
conglomerados da Formação Aprazível do Grupo Jaibaras. Em Morrinhos, a cerca de 18
km de Santana do Acaraú para norte, a amostra de um poço tubular também nas
proximidades do rio teve resultados acima da tabela para os elementos Mn, Fe, Cd e Br,
registrando porém apenas 0,26 mg/L de Flúor.
No sudoeste do estado as amostras coletadas no açude Buenos Aires, que
abastece Catarina, e em um poço tubular da localidade de Marrecas, município de Tauá,
cerca de 70 km a oeste, apresentaram respectivamente 2,99 mg/L (com associados Br,
Cl, PO4) e 1,76 mg/L (junto a Br, NO3, PO4, e ainda Cd, Cl, Cu e Na) de Flúor; num poço
amazonas próximo do local, o resultado para este elemento foi de 0,29 mg/L. Como
descrito para o ânion Cloreto, em destaque também nessas águas, é provável a poluição
antrópica desses mananciais.
53
N
0
6.29
Sobral
100 km
FORTALEZA
9550000
Quixadá
Crateús
9350000
1.76
2.99
.
F
Iguatu
1.60
Juazeiro
9150000
mg/L
até 0,4
0,4 a 0,7
0,7 a 1,4
1,4 a 4,2
(1 a 3 VR)
4,2 a 6,3
(> 3 VR)
250000
450000
650000
FIG. 22 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE FLUOR
No extremo sudoeste, foi obtido o resultado de 1,60 mg/L na água do poço tubular
profundo (960 metros) que alimenta a cidade de Salitre, tendo também valores acima do
recomendado para os elementos Br, SO4, B, Cd e Na. O poço atravessa rochas cretáceas
de diversas formações, predominantemente areníticas, mas também calcários, margas e
folhelhos, e fácies contendo evaporitos (Formação Santana, do Grupo Araripe). Esta
manifestação deve ser proveniente da dissolução de minerais pela percolação e
circulação da água no pacote de sedimentos, uma vez que não há, aparentemente,
interferência ou contaminações superficiais.
54
As ocorrências de Fluorita (mineral de Flúor) no estado do Ceará, que poderiam
contribuir para um enriquecimento desse elemento nas águas, como acontece no
Paraná, sul do Brasil, ficam próximo das cidades de Graça, Mucambo e Pacujá na
região noroeste, Jaguaretama e Solonópole no centro-leste e Umari, no centrosudeste, que têm, com exceção da última, que é por poço tubular, seus
abastecimentos d’água realizados por captação de diferentes açudes. Os valores para
Flúor obtidos nas amostras colhidas nestes mananciais são baixos, oscilando de <0,01
a 0,29 mg/L de F, inexistindo assim influências das mineralizações nas águas públicas
dessas regiões.
Como o Flúor é também um elemento essencial à saúde humana, segundo a
Organização Mundial de Saúde existe insuficiência deste elemento quando os teores são
inferiores a 0,4 mg/L nas águas de consumo, havendo necessidade de sua adição
durante o tratamento de potabilidade. O mapa de distribuição (fig. 22) mostra que este é o
caso para a quase totalidade (aproximadamente 90%) das fontes de abastecimento dos
municípios do estado do Ceará.
NO-2 e NO-3 - NITROGÊNIO (NITRITO E NITRATO)
Nitrogênio é um constituinte essencial de aminoácidos e ácidos nucléicos, portanto
elemento vital para todas as formas de vida. Os nitratos representam grave problema para
a segurança alimentar, principalmente porque podem se transformar em nitritos — quer
durante a conservação dos alimentos entre a colheita e o consumo, quer dentro do
aparelho digestivo. A ingestão de altas doses de nitratos e nitritos pode causar câncer do
estômago e do esôfago pois há possibilidade de síntese de nitrosaminas cancerígenas a
partir deles.
Para Nitrito (NO2) somente cerca de 15% dos resultados analíticos são definidos,
todos eles inferiores ao valor determinado pelo CONAMA, de 1 mg/L. Os teores mais
elevados, de 0,3 mg/L, foram encontrados na região nordeste do estado, em amostras
isoladas, provenientes da barragem de Aruaru, fonte d’água para a localidade de mesmo
nome, distrito de Morada Nova, do açude Acarape do Meio, que alimenta Acarape,
Barreira e Redenção, e de um poço tubular que abastece a cidade de Icapuí.
Para Nitrato (NO3), 90% dos resultados são definidos, havendo um enriquecimento
acima de 10 vezes nas concentrações em águas subterrâneas em relação às superficiais,
como pode ser verificado nos parâmetros de distribuição estatística constantes da tabela
I; com um exame mais detalhado da listagem de resultados (anexo III), verifica-se
também que as águas de poços tubulares, comparativamente àquelas obtidas em poços
amazonas, têm mais elevada mediana e os mais altos teores absolutos deste ânion. A
distribuição geográfica das amostras, tendo assinalados os resultados analíticos acima da
referência do CONAMA (10 mg/L), pode ser observada na figura 23.
O resultado mais elevado para este composto, 599 mg/L, foi registrado na água de
um poço tubular que abastece a localidade de Marrecas, distrito de Tauá, sudoeste do
estado; a cerca de 200 metros, a água de um poço tipo amazonas também utilizado pela
população conteve 59 mg/L NO3. Em ambas as amostras são encontrados, associados,
valores elevados para Br, Cd e PO4. Não há, evidentemente, relação com as litologias ali
ocorrentes, paragnaisses com estratos de granitóides do Paleoneoproterozóico. Cerca de
30 km para sudoeste, a amostra de um poço tubular de Cococi, distrito de Parambu, teve
55
resultado de 336 mg/L, juntamente com Br, Zn, Fe e Cd acima dos limites tabelados pelo
CONAMA. No extremo oeste do estado são destaque os valores muito elevados
encontrados nas amostras de poços tubulares que abastecem Croatá e Ararendá, cerca
de 40 km a sul, de 394 e 104 mg/L de NO3 , contendo também altas concentrações de Br,
Cl, Cd e, em Croatá, ainda do ânion Fosfato.
11
70
N
11
0
26
Sobral
14
100 km
FORTALEZA
9550000
394
38
104
31
14
18
21
15
Quixadá
Crateús
9350000
59
599
NO3
11
336
mg/L
Iguatu
11
11
29
16
34
Juazeiro 11
52
9150000
250000
450000
até 5
5 a 10
10 a 30
(1 a 3 VR)
30 a 2431
(>3 VR)
24
650000
FIG. 23 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS RESULTADOS DE NITRATO
No exame do mapa chama a atenção o agrupamento de valores altos na região
sul do estado, próximo a Juazeiro do Norte; as águas de vários poços tubulares
56
registraram desde um máximo de 52 mg/L em Porteiras, 29, 24 e 16 mg/L de NO3 no
Crato, Jati e Barbalha, respectivamente, a 11 mg/L em Brejo Santo e no distrito de Crato,
Ponta da Serra (este em poço amazonas). Mais para nordeste, foram observados
resultados de 34 mg/L nas amostras de um poço tubular em Barro e de 11 mg/L em um
poço amazonas de Ipaumirim, dentro do qual a água é tratada com a adição de cloro
granulado. As águas dessas localidades contêm valores acima do indicado dos elementos
Bromo e Cádmio, registrando-se também o Cobre naquelas com nitrato mais alto e ainda
fosfato em três delas.
No extremo noroeste do Ceará, relativamente isolados, foram obtidos resultados
de 70 mg/L de NO3 em um dos poços tubulares do sistema de abastecimento de Cruz,
26 mg/L no poço amazonas de Baixa Fria, distrito de Santana do Acaraú, 14 e 11 mg/L
nos poços tubulares de Frecheirinha e Camocim, respectivamente, e ainda 11 mg/L de
NO3 na água do açude Itaúna, que abastece a cidade de Chaval. Resultados altos de
Bromo e Cádmio também são observados nessas amostras, e de Cobre nas duas
primeiras.
Finalmente, em poços de municípios dispersos na região centro-nordeste do
estado, são registrados teores desde 38 mg/L de nitrato em Itatira, 31 mg/L em
Sucatinga, distrito de Fortim (onde o abastecimento é por poços familiares), 21 mg/L no
poço amazonas de Barreira dos Vianas, distrito de Aracati, a respectivamente 18, 15 e 14
mg/L nos poços tubulares das cidades de Russas, Icapuí e Aratuba. Tais resultados são
acompanhados por Bromo e ainda Cádmio em algumas amostras.
O nitrogênio tem origem orgânica e apresenta-se na água em várias formas
dependendo do nível de oxidação (amônia NH3 oxida a nitrito que oxida a nitrato). Águas
com predominância de nitrogênio orgânico e amoniacal caracterizam poluição recente,
enquanto a predominância de nitratos indica poluição mais antiga, por ser o produto final
da oxidação. Os nitratos e nitritos são comumente usados em fertilizantes, que são as
maiores fontes de poluição das águas superficiais e subterrâneas, como conservantes e
colorantes para carne e embutidos; nas proximidades de criação de gado pode haver
contaminação do lençol freático. As maiores concentrações desse composto, em águas
de poços tubulares (mediana e teores mais elevados), denunciam a provável
contaminação do aqüífero pela proximidade de esgotos, embora em algumas localidades,
como em Ararendá e Cruz, é visível a má qualidade na construção e conservação dos
poços (vide fotos no anexo IV), podendo haver contaminação a partir da superfície no
próprio local da instalação.
PO4-3 – FÓSFORO (FOSFATO)
Fosfato é um componente de ossos e dentes, de moléculas como DNA e RNA,
das membranas celulares, e quase todo processo celular que necessita energia a recebe
na forma de adenosina trifosfato (ATP). Alguns dos compostos orgânicos de fósforo são
extremamente tóxicos e utilizados como pesticidas (herbicidas e inseticidas), que podem
poluir facilmente as fontes d’água. Tem efeito ambiental adverso na eutroficação e
crescimento explosivo de colônias de algas.
Foram obtidos apenas 39 resultados definidos, sendo a maior parte nas águas
subterrâneas. Destes, 29 são valores acima da concentração máxima legislada pelo
CONAMA, de 0,1 mg/L, que foram detectados predominantemente no sul e no norte do
57
estado do Ceará (fig. 24). Nesse mapa de distribuição, o visível zoneamento dos valores
das classes [até 0,05] e [0,05 a 0,10] é devido aos diferentes limites de detecção dos
dois laboratórios que analisaram o ânion Fosfato, e não a fatores naturais.
N
0.25
0.67 Sobral
0
0.23
1.48 0.55
FORTALEZA
0.16
9550000
4.10
0.12
0.25
0.20
0.70
Quixadá
Crateús
0.40
0.30
PO4
0.25
9350000
0.77
1.00
22.76
4.56
Iguatu
0.12
0.40
0.49
0.54
0.20
Juazeiro
0.22 0.28
9150000
450000
mg/L
até 0,05
0,05 a 0,10
0.90
0.87
250000
100 km
0.27
0.43
0,10 a 0,30
(1 a 3 VR)
0,30 a 22,76
(>3 VR)
SO4
359,8 mg/L
650000
A maior concentração de Fosfato, de 22,76 mg/L – mais de 220 vezes a
referência, foi determinada na amostra colhida no açude Buenos Aires, que abastece a
cidade de Catarina, na região centro-sul, tendo associados altos teores em Bromo e
58
Cloro, além do Flúor. No poço tubular do distrito de Tauá, Marrecas, a oeste, a água
coletada conteve 4,56 mg/L de PO4, com elevados Bromo, Nitrato e outros elementos,
ocorrendo 0,77 mg/L do mesmo ânion na água do poço amazonas situado próximo,
também com Br e NO3. Conforme já descrito para aqueles ânions, sugere-se que tal
anormalidade dos teores seja originado por poluição antrópica (esgotos).
Em direção para sul, entre as cidades de Iguatu e Juazeiro do Norte, várias
amostras de poços tubulares (em José de Alencar, distrito de Iguatu com 0,90 mg/L,
Farias Brito, Brejo Santo, Porteiras, Barro e Nova Olinda) e amazonas (em Tarrafas com
0,87 mg/L, Amaro, distrito de Assaré, Ipaumirim e Baixio) e também do açude Extrema, de
Lavras da Mangabeira, contiveram Fosfato acima e até 9 vezes o valor máximo
recomendado pelo CONAMA. Cerca de 100 km a nordeste, o poço amazonas que
abastece Ererê teve registro de 1,00 mg/L. De maneira geral, tais amostras ainda contêm
Br, Cd e Nitrato, com ainda Cu e Mn e outros metais em algumas. Há muita diversidade
nas litologias de tais locações, que podem contribuir com alguns desses elementos
associados, e o Fosfato nessa região pode ser, em sua maior parte, proveniente da
utilização de fertilizantes fosfatados nas culturas.
Outro resultado bastante elevado deste ânion foi de 4,10 mg/L, detectado na
amostra proveniente de um poço familiar (cada residência tem seu próprio) no distrito de
Sucatinga, município de Beberibe, na região leste, igualmente contendo associados
Bromo e Nitrato. Neste local deve ser originado por contaminação devida a esgotos
domésticos. Aproximadamente 100 km para sul, em Russas e Quixeré, os resultados das
águas dos respectivos poços tubulares foram de 0,70 e 0,40 mg/L, tendo junto Bromo e
Manganês (ainda Cd e Nitrato em Russas); sendo localidades situadas na faixa de
sedimentos aluviais do rio Jaguaribe, pode-se supor que o fosfato tenha origem em
fertilizantes usados na agricultura daquela região.
Na porção norte do estado foram encontrados 1,48 mg/L de PO4 em um poço
amazonas em Missi (distrito de Itapagé) e valores menores, ainda significativos, em poços
tubulares de Amontada e Deserto (distrito de Itapagé) e no riacho Escorado, que abastece
Itapagé (0,55 mg/L neste). Cerca de 60 km para sudoeste, a água do açude Jaibaras, no
distrito de Sobral de mesmo nome conteve 0,67 mg/L e a de um poço amazonas de
Groaíras, 0,16 mg/L. Cádmio e Bromo acima da referência são os elementos que ocorrem
geralmente associados, num panorama de variados tipos litológicos.
Resultados relativamente baixos, entre 0,30 e 0,12 mg/L foram encontrados em
águas de poços tubulares e amazonas de diversas localidades, distantes entre si,
situadas na porção central do Ceará. A maior concentração mencionada ocorre no poço
amazonas que alimenta Castanhão, distrito de Alto Santo, a leste, acompanhada por Br,
As e Cd. Resultados de 0,25 e 0,20 mg/L foram obtidos nas amostras de Raimundo
Martins (município de Santa Quitéria) e São Francisco (Quiterianópolis), que possuem
também Cd, Br e Mn elevados e em Macaoca, distrito de Madalena, o menor valor,
apenas com o Bromo relacionado. Em Croatá, extremo oeste, o registro foi de 0,12 mg/L,
pouco acima do índice legislado, junto a Br, Cd, Cl e NO3 em teores também acima dos
respectivos índices.
Macaoca dista cerca de 8 km de uma ocorrência de rocha fosfática que contém
também Urânio, havendo possibilidade de uma conexão entre o resultado de 0,20 mg/L
de PO4 e as litologias locais. Outras ocorrências de Fosfato, nessa região de Itatira e
59
Madalena, em metacalcários das unidades Independência e Canindé do Complexo Ceará,
não parecem influenciar as águas de abastecimento de outras localidades.
Embora seja de baixa solubilidade, o Fosfato litogênico pode ocorrer em relativa
abundância nas águas devido a presença e dissolução do mineral apatita, acessório dos
mais comuns nas rochas magmáticas e metamórficas, podendo também ocorrer em
rochas sedimentares como clastos ou mineral secundário. Como o Flúor, pode entrar na
constituição de tecidos animais e células e excreções de animais inferiores, podendo-se
admitir que parte do Fosfato em solução nas águas seja de origem biogênica
(CARVALHO, 1995). Segundo este autor, o Fósforo antropogênico sob as formas de
superfosfatos e tripolifosfatos, utilizados como fertilizantes e na fabricação de sabões e
detergentes, respectivamente, vão poluir os sistemas aquosos naturais pelo sistema de
esgotagem doméstica ou industrial e pela lixiviação dos solos tratados; tais fertilizantes,
nas águas superficiais e já como nutrientes, vão contribuir significativamente para a
eutroficação de açudes e reservatórios, como pode ser constatado pela proliferação de
aguapés no açude Extrema, de Lavras da Mangabeira (vide foto).
SO4-2 – ENXOFRE (SULFATO)
Elemento essencial à vida, o Enxofre é constituinte chave de muitas proteínas e
menor de gorduras, fluidos corporais e do esqueleto. Águas com altos níveis de sulfatos
podem apresentar efeito laxativo característico e alguns sulfetos são tóxicos. Emissões de
SO2 da queima de carvão e petróleo por indústrias e termelétricas reagem com a água e
oxigênio da atmosfera, produzindo o ácido sulfúrico da chuva ácida que causa grandes
danos ambientais.
Apenas dois resultados para este ânion ficaram abaixo do limite de detecção do
método cromatográfico, podendo-se verificar nos parâmetros de sua distribuição
estatística que sua abundância nas águas subterrâneas é mais de 3 vezes a
encontrada nas águas superficiais, de açudes e rios. Os resultados são em geral
baixos, em torno de 1/30 do valor limite de 250 mg/L indicado pelo CONAMA, havendo
apenas um registro mais elevado do que este.
O resultado de 360 mg/L foi obtido no poço tubular com 960 m de profundidade,
que abastece a cidade de Salitre, extremo sudoeste do estado do Ceará (fig. 24); na
mesma amostra estão presentes concentrações altas de B, Br, Cd, F e Na. O poço
atravessa um pacote de arenitos diversificados do Cretáceo (de várias unidades
litoestratigráficas dos grupos Araripe e Vale do Cariri) e também a Formação Santana,
do Grupo Araripe, constituída por margas, folhelhos e calcários contendo Gipsita,
mineral de sulfato de cálcio hidratado (CaSO4 + H2O). Logo a sul, já no estado de
Pernambuco, encontra-se o pólo gesseiro do Araripe, que representa 95% das jazidas
nacionais desse mineral/minério. Como aventado para Flúor, anteriormente, este
resultado na água de Salitre tem origem litogênica, e deve provir da dissolução de
minerais, no caso a Gipsita ou Gipso, pela percolação e circulação da água no pacote de
sedimentos. Todavia, ocorrências desse mineral na superfície, especialmente nos
municípios de Santana do Cariri e Abaiara, não mostram influência nas águas ali
amostradas.
Na amostra do poço tubular de Marrecas, distrito de Tauá, foi encontrado um valor
de 244 mg/L de Sulfato, quase atingindo o valor limite do CONAMA. A associação com os
60
elementos Br, Cd, Cu, F, Na, NO3 e PO4, num domínio litológico de paragnaisses, indica
que sua provável origem é a poluição antropogênica no local.
8 - CONCLUSÕES
O plano de amostragem realizado, objetivando a constatação e reconhecimento da
existência ou não de metais pesados nas águas de consumo da população cearense, foi
efetivo ao retratar uma situação preocupante, não somente em função dos teores
elevados de alguns elementos sabidamente tóxicos, mas também pela quantidade e
amplitude da distribuição das amostras que os contém, no território estadual.
A metodologia analítica mostrou-se inadequada para certos elementos, pois seus
limites inferiores de detecção superam ou igualam os valores máximos recomendados
para ingestão humana, pela legislação brasileira.
As flutuações dos teores dos elementos em função da época do ano (de chuvas
ou estiagem) e ao longo ou lateralmente aos corpos de águas superficiais, avaliadas
sobre um estatisticamente pequeno conjunto de dados, sugerem que os fatores que
influenciam os valores mais elevados são introduzidos e episódicos, de fontes
relativamente pequenas ou situadas à distância, sem apresentar continuidade sob ótica
regional. Não obstante tais aspectos, os valores acima dos limites legislados, existentes
mesmo nesse reduzido grupo de resultados, são significativos em termos ambientais
embora locais, e reforçam a necessidade de estudar-se com detalhe suas variabilidades
sazonais e espaciais.
Em relação aos cátions – metais pesados, cerca de 26 em 150 amostras de águas
superficiais (17%) e 62 em 84 amostras de águas subterrâneas (74%) apresentaram um
ou mais elementos em concentrações acima do Valor de Referência do Conselho
Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Em 36 dessas amostras (15,4% do total de
exemplares colhidos) foi detectada a presença de um ou mais elementos que são
unicamente tóxicos aos organismos superiores (Al, As, B, Cd e Pb), entre os quais o
Cádmio e Chumbo predominam, apresentando ainda, como agravante, a característica de
bioacumularem na cadeia alimentar.
Entre os ânions, o constituinte químico das águas que mais ressalta e preocupa
é o Bromo. A máxima concentração admissível em águas de beber é de 0,025 mg/L
pelo Ministério da Saúde, teor este não discriminado pelas 77 análises realizadas em
um dos laboratórios, cujo limite de detecção é de 0,05 mg/L (L0,05). Mesmo se
considerarmos estes valores como sendo menores do que o limite de 0,025, ainda
assim a maior parte dos resultados, 205 ou 88% de todas as amostras coletadas, o
contém em excesso
A listagem desses locais, o(s) elemento(s) químico(s) e o quanto este(s)
encontra(m)-se sobrelevado(s) em relação ao máximo recomendado constitui o anexo I
deste relatório.
Todavia, é prematuro no presente momento afirmar que as águas de tais fontes de
abastecimento sejam no todo impróprias para consumo humano.
61
Além de fatores como a concentração, as variações locais no mesmo corpo d’água
e a persistência dos altos valores ao longo do tempo, deve-se levar em conta ainda a
especiação (estado de oxidação/valência) de alguns desses indivíduos químicos, o que
afeta as respectivas mobilidades e biodisponibilidades, e que são determinantes para
avaliação de seu risco (J. Centeno, comunicação verbal, Workshop Internacional de
Geologia Médica, 2005).
9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
Neste estudo em pequena escala e de dimensão regional, não foi possível
detectar relações nítidas e generalizadas entre os elementos e as características
geológicas dos terrenos, de alta complexidade em algumas regiões; os enriquecimentos
em metais nas águas, anteriormente comentados, são localizados e, embora alguns
tenham possível origem litogênica, não são aparentes as continuidades ou a repetição
dos mesmos sintomas em semelhantes ambientes, mais adiante.
Os resultados descritos, embora consistentes, devem ser considerados como
indícios. As amostras que apresentaram teores altos em elementos tóxicos, nos locais e
municípios mencionados, sinalizam água inadequada para consumo humano, a serem
ainda confirmadas e devidamente caracterizadas.
Um tratamento simples pode eliminar grande parte daqueles elementos
detectados, especialmente aqueles que se encontram em fases particuladas, coloidais. As
águas de poços, embora com maior incidência de elementos em concentrações
elevadas, tem maior facilidade de tratamentos específicos e menor possibilidade de,
eventualmente, propiciar intoxicação via indireta, pelo consumo de vegetais (exceto no
caso de culturas irrigadas por águas subterrâneas) ou peixes, que acumularam essas
substâncias tóxicas em seus organismos.
Grande parcela da população interiorana do Ceará não dispõe de quaisquer
serviços de tratamento de água, o que a torna também suscetível aos agentes
bacteriológicos, além dos componentes químicos aqui considerados. Neste caso incluemse os poços rasos nas faixas aluvionares de rios, uma das alternativas mais viáveis de
abastecimento d’água e irrigação no semi-árido, para pequenas comunidades; há notícia
da perfuração de 3.600 desses poços em 86 municípios cearenses (DIÁRIO DO
NORDESTE, edição de 12/12/2005), através do programa do governo estadual “Poços
do Sertão”. A água adequada para a boa saúde humana é de ambientes oxidantes, com
boa circulação, ausência de húmus e um balanço normal dos elementos químicos não
tóxicos.
Deve-se ainda alertar para o extremo risco à saúde que correm, na época da seca,
as comunidades que são emergencialmente servidas por carros-pipa (em mais da metade
dos municípios cearenses, conforme reportagem do jornal DIÁRIO DO NORDESTE,
edição de 19/11/2005); a qualidade do líquido transportado e distribuído nos vilarejos
carentes é desconhecida e as condições de manuseio são as mais precárias possíveis.
É necessária e urgente a execução de trabalhos em detalhe e de monitoramento
sistemático, ao menos naqueles sítios mais propensos a influenciar negativamente a
62
saúde dos habitantes, objetivando identificar a fonte original e determinar a persistência
desses fatores no meio ambiente local, com vistas à sua remediação. Se confirmados os
indícios, as autoridades de saúde pública devem ser imediatamente cientificadas, para
que realizem os exames toxicológicos adequados na população em risco.
Os órgãos governamentais responsáveis pela verificação da qualidade das águas
de consumo devem ainda controlar a qualidade das águas ditas minerais, vendidas em
garrafões de 20 litros, e que geralmente não sofrem qualquer tratamento ou purificação
previamente à distribuição em pontos de venda. Dados oficiais (DNPM, 2005) apontam
uma produção de 115.609.000 litros no Ceará em 2004, correspondentes a cerca de 5,7
milhões de garrafões d’água; nas análises obrigatórias para sua caracterização, não é
exigida a determinação de metais pesados.
10 - AGRADECIMENTOS
Aos técnicos Antônio Celso Rodrigues de Melo e Vicente Calixto Duarte Neto
que realizaram as etapas de campo de amostragem com competência e dedicação, e
também participaram da organização das amostras e dos dados de campo.
Agradecimentos ao geólogo Homero Benevides pela cuidadosa revisão do
texto, à bibliotecária Giovania Barros pela normalização das citações e ao técnico
Eriveldo Mendonça pela composição deste.
O acesso para coleta das amostras nas fontes d´água foi sempre facilitado
pelos encarregados dos escritórios locais da Companhia de Água e Esgoto do Ceará –
CAGECE, da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH e dos
Serviços Autônomos de Águas e Esgotos – SAAE onde operam, ficando aqui
registrado nosso reconhecimento.
63
11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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67
ANEXO I
CONCENTRAÇÕES DE ELEMENTOS, EM EXCESSO RELATIVAMENTE AO
VALOR DE REFERÊNCIA (VR) DO CONSELHO
NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE – CONAMA
(Resolução 357 de 17/03/2005)
Localidade
Manancial
Elementos
Abaiara
poço tubular
471 Br (2x), Cu (1,1x)
Acarape (a)
açude Acarape do Meio
392 Br (6,8x)
Acaraú
poço tubular
625 Br (7,8x), Cd (2x), Cu (1,1x)
Acopiara
açude Quincoé
337 Br (3,6x), Pb (7,5x)
Santa Felícia
açude Umari
338 Br (3,6x)
Aiuaba
açude Benguê
491 Br (1,7x)
Barra
açude Mulungu
490 Br (2,1x)
Alcântaras
açude Pinga
613 Br (11,1x)
Altaneira
açude Pajeu
480 Br (4,4x)
Alto Santo
poço amazonas
365 Br (7,6x), Mn (6,8x)
Castanhão
poço amazonas
358 Br (21,2x), PO4 (3x)
Amontada
poço tubular
630 Br (20,7x), PO4 (2,5x)
Garças
poço amazonas
629 Ba 2,7x), Br (11x)
Antonina do Norte
açude Coronel
487 Br (4,1x)
Apuiarés
poço amazonas
644 Br (4,5x), Cu (1,1x)
Aracati
poço tubular
376 Fe (2x)
Barreira dos Vianas
poço amazonas
377 Br (6,4x), Cu (1,1x), Mn (3,6x), Pb (1,3x)
Aracoiaba (f)
açude Tijuquinha
656 Br (4,5x), Fe (1,1x)
Ararendá
poço tubular
513 Br (29,8x), Cd (3x), Cl (1,6x), NO3 (10,4x)
Araripe
açude João Luís
484 Br (3,5x)
Pajeú
açude João Luís
485 Br (3,4x)
Aratuba
poço tubular
654 Br (6,5x), NO3 (1,4x)
Arneiroz
açude Macuim
498 Br (3,5x)
Assaré
açude Canoas
492 Br (3,4x), Pb (1,3x)
Amaro
poço amazonas
504 Br (6,5x), Mn (3,1x), PO4 (4,9x)
Aurora
riacho da Caiçara
462 Br (1,5x)
Baixio
poço amazonas
460 Br (5,7x), Cd (2x), Cu (1,1x), Mn (1,1x), PO4 (2,7x)
Sitiá (Banabuiú)
rio Banabuiú
325 Br (5,6x), Fe (1,3x)
Barbalha
poço tubular
473 Br (2,2x), NO3 (1,6x)
Barreira (a)
açude Acarape do Meio
393 Br (6,8x), Mn (1,6x)
Barro
poço tubular
463 Br (4,5x), Cu (1,1x), NO3 (3,4x), PO4 (2x)
Barroquinha (c)
açude Itaúna
600 Br (2,5x)
Baturité (f)
açude Tijuquinha
655 Br (5x), Fe (1,2x)
Beberibe
açude Uberaba
380 Br (6,8x)
Sucatinga
poço tubular
379 Br (4,4x), NO3 (3,1x), PO4 (41x)
Bela Cruz
poço tubular
623 Br (5,5x), Cd (2x), Fe (14,5x), Mn (10,7x)
Boa Viagem
açude Vierão
331 Br (6x)
Ibuaçu
açude Ibuaçu
335 Br (13,2x)
Brejo Santo
poço tubular
467 Br (5,6x), NO3 (1,1x), PO4 (2,8x)
1
Camocim
poço tubular
599 Br (1,4x), NO3 (1,1x)
Guriú
poço tubular
627 Cu (2,2x)
Campos Sales
açude Poço de Pedra
489 Br (2,7x)
Carmelópolis
açude Novo
488 Br (10,2x)
Canindé
açude São Mateus
318 Br (4,8x)
Salitre
açude Salitre
319 Br (5,6x)
Capistrano
açude Castro
390 Br (21,6x)
Cariré
rio Acaraú
592 Br (2,2x)
Caririaçu
açude S. Domingos
475 Br (3,1x), Mn (1,4x)
Cariús
poço amazonas
453 Br (7,2x), Fe (1,1x), Mn (2,5x)
Caipu
poço tubular
454 Br (1,9x), Cd (2x), Fe (11,6x), Mn (3x)
Carnaubal (d)
açude Jaburu
606 Br (5,9x)
Cascavel
rio Choró
381 Br (12,8x)
Catarina
açude Buenos Aires
497 Br (306x), Cl (16x), F (2,1x), PO4 (227x)
Catunda
poço amazonas
531 Br (4,2x), Fe (1,2x), Mn (2,2x)
Caucaia (e)
açude Gavião
658 Br (4,9x)
Jurema (e)
açude Gavião
659 Br (7,2x)
Cedro
riacho São Miguel
457 Br (11,6x)
Chaval (c)
açude Itaúna
601 Br (1,4x), NO3 (1,1x)
Choró
açude Choró Limão
320 Br (27,2x)
Chorozinho (e)
açude Pacoti-Riachão
385 Br (7,2x)
Coreaú
açude Várzea da Volta
614 Br (5,5x)
Araquém
açude Angicos
616 Br (3x)
Araquém
açude Angicos
617 Br (2,8x)
Crateús
açude Carnaubal
511 Br (5,7x)
Santo Antônio
poço amazonas
508 Br (4,4x), Cd (2x)
Crato
poço tubular
477 Br (1,9x), Cu (1,1x), Fe (4,1x), Mn (3,1x), NO3 (2,9x)
Ponta da Serra
poço amazonas
476 Br (3,1x), NO3 (1,1x)
Croatá
poço tubular
526 Br (9,3x), Cd (2x), Cl (6,6x), NO3 (39,4x), PO4 (1,2x)
Cruz
poço tubular
624 Ba (2,5x), Cd (2x), Cu (3,3x), NO3 (7x)
Dep. Irapuan Pinheiro
poço amazonas
345 Br (10x), Mn (2,4x)
Ererê
poço amazonas
368 Br (13,2x), Cd (2x), Na (2,4x), Pb (8,7x), PO4 (10x), Zn (1,3x)
Eusébio (e)
açude Pacoti-Riachão
664 Br (7,1x)
Farias Brito
poço tubular
481 Br (7,5x), Mn (2,8x), PO4 (5,4x)
Fortaleza (e)
açude Gavião
657 Br (4,4x), Pb (2,1x)
Fortim
poço tubular
378 Br (7,6x), Fe (1,1x)
Frecheirinha
poço tubular
611 Br (10,6x), NO3 (1,4x)
General Sampaio
açude General Sampaio
642 Br (2,5x), Pb (1,3x)
Granja
rio Coreau
598 Br (7,8x)
Pessoa Anta
fonte
602 Br (1,9x)
Groaíras
poço amazonas
593 Br (2,7x), Fe (1,5x), Mn (1,5x), PO4 (1,6x)
Guaiúba (e)
açude Riachão
663 Br (7,4x)
Guaraciaba do Norte (d)
açude Jaburu
607 Br (5,8x)
Guaramiranga
poço tubular
652 Br (1,4x)
Hidrolândia
açude Araras
523 Br (2,1x)
Horizonte (e)
açude Pacoti-Riachão
387 Br (6,8x)
Ibiapina (d)
açude Jaburu
609 Br (5,9x)
Ibicuitinga
rio Banabuiu
326 Br (6,8x)
Icapuí
poço tubular
375 Br (52,4x), Cl (1,4x), NO3 (1,5x)
Lima Campos (Icó)
açude Lima Campos
354 Br (3,2x)
2
Iguatu
açude Truçu
340 Br (2x)
José de Alencar
poço tubular
341 Br (2,8x), PO4 (9x)
Independência
açude Cupim
509 Br (2,7x)
Iapi
açude Iapi
510 Br (4x)
Ipaporanga
açude São José
512 Br (7,1x)
Ipaumirim
poço amazonas
459 Br (3,3x), Cd (2x), NO3 (1,1x), PO4 (4,3x)
Ipu
açude Araras
522 Br (2,2x)
Ipueiras
poço amazonas
520 Br (7,8x), Mn (6x)
Matriz
poço amazonas
519 Br (2,5x)
Iracema
açude Canafístula
367 Br (2,4x)
Irauçuba
açude Jerimum
633 Br (1,5x)
Missi
poço amazonas
632 Br (9,9x), Mn (4,2x), PO4 (14,8x)
Itaiçaba
rio Jaguaribe
373 Br (8x)
Itaitinga
açude Pacoti-Riachão
388 Br (7,2x)
Itapagé
riacho Escorado
634 Al (3x), Br (3,1x), Cd (2x), Fe (2,2x), PO4 (5,5x)
Itapipoca
açude Poço Verde
637 Br (8,7x)
Deserto
poço tubular
638 As (2x), Br (9,5x), Cd (3x), Cl (1,2x), PO4 (2,3x)
Itapiúna
açude Castro
389 Br (22x), Cl (1,2x)
Itarema
poço tubular
628 Br (11,9x), Cd (2x)
Itatira
poço tubular
334 Br (22,8x), NO3 (3,8x)
S. Francisco (Jaguaretama)
açude São Francisco
665 Br (2,9x)
Jaguaribara
poço amazonas
356 Br (3,6x), Fe (7,6x), Mn (6,1x)
Jaguaribe
rio Jaguaribe
352 Br (4,4x)
Jaguaruana
rio Jaguaribe
372 Br (7,6x)
Jati
poço tubular
464 Br (9,6x), NO3 (2,4x)
Jijoca de Jeriquaquara
poço tubular
626 Al(5x), Ba(8x), Br(18,9x), Cd(2x), Cu(138x), Fe(2x), Ni(10,6x), Pb(33,8x)
Juazeiro do Norte
poço tubular
482 Br (1,2x), Cu (1,1x)
Jucás
poço amazonas
494 Br (9,6x), Cd (8x), Fe (1,3x), Mn (1,7x)
Lavras da Mangabeira
açude Extrema
458 Br (1,1x), PO4 (4x)
Limoeiro do Norte
açude Pedrinhas
364 Br (4,4x)
Madalena
poço amazonas
332 Br (2x), Mn (11,3x)
Macaoca
poço amazonas
333 Br (4,8x), PO4 (2x)
açude Riachão
661 Br (7,3x)
Maranguape (e)
açude Gavião
660 Br (6,2x), Cd (20x), Pb (46,5x)
Marco
poço amazonas
622 Br (4,2x), Fe (5,9x), Mn (12x)
Martinópole
açude Jardim
597 Br (3,5x), Cu (1,1x)
Massapê
açude Iguaraçu Mirim
594 Br (2,5x)
Palestina do Cariri (Mauriti)
poço tubular
469 Br (3,7x)
Meruoca
açude Frecheirão
612 Br (2,3x)
Milagres
poço tubular
470 Br (11,6x), Cu (4,4x)
Milhã
açude Monte Sobrinho
348 Br (2,4x), Mn (1,2x)
Miraíma
açude S. P. Timbaúba
631 Al (3x), Br (1,8x), Fe (1,6x)
Missão Velha
poço tubular
472 Ba (7,3x), Br (1,4x), Fe (8,1x)
Mombaça
açude Serafim Dias
342 Br (4,8x)
Boa Vista
açude Boa Vista
343 Al (6x), Fe (1,9x)
Monsenhor Tabosa
açude Mon. Tabosa
517 Br (7x)
Morada Nova
rio Banabuiú
360 Br (4,8x)
Aruaru
açude Aruaru
361 Br (29,2x), Cl (1,3x)
Moraújo
poço tubular
615 Br (5,4x)
Morrinhos
poço tubular
621 Br (4,1x), Fe (2,4x), Mn (6x)
Maracanaú
(e)
3
Mucambo
açude Mucambo
529 Br (2,2x)
Mulungú
poço tubular
653 Br (17,7x), Mn (5,3x)
Nova Olinda
poço tubular
478 Br (4,7x), Cd (4x), PO4 (1,2x)
Novo Oriente
açude Flor do Campo
507 Br (3,2x)
Ocara
rios Choró/Aracoiaba
384 Br (36,4x), Cl (1,2x)
Pacajus (e)
açude Riachão
386 Br (7,2x)
Pacatuba (e)
açude Riachão
662 Br (15,9x)
Pacoti
poço amazonas
651 Br (4,4x), Cd (2x), Fe (40,6x), Mn (3,2x)
Palhano
Canal do Trabalhador
374 Br (5,6x)
Palmácia
fonte
650 Br (7,4x)
Paracuru
lagoa Grande
648 Br (2,1x)
Paraipaba
açude Cana Brava
647 Br (14,8x)
Parambu
açude Puiú
502 Br (2,3x)
Cococi
poço tubular
501 Br (16,8x), NO3 (33,6x), Zn (4,3x)
Paramoti
açude General Sampaio
316 Br (2,4x)
Pedra Branca
açude Trapiá
336 Br (4,4x), Mn (1,7x)
Mineirolândia
rio Patu
330 Al (8x), Br (4,5x), Fe (1,1x)
Penaforte
poço tubular
465 Br (5,1x)
Pentecoste
açude Pereira de Miranda
641 Br (1,8x)
Pereiro
açude Presídio
369 Br (3,2x)
Pires Ferreira
poço tubular
518 Br (17,7x), Cu (1,1x), Mn (5,8x)
Poranga
fonte
514 Br (4,7x)
Porteiras
poço tubular
466 Br (5,7x), Cu (1,1x), NO3 (5,2x), PO4 (2,2x)
Potengi
açude Belo Horizonte
483 Al (2x), Br (1,3x)
Potiretama
açude Grande
366 Br (3,2x)
Quiterianópolis
açude Colinas
505 Br (4x)
S. Francisco
poço tubular
506 Br (7,2x), Cd (2x), Mn (1,2x), PO4 (2,5x)
Quixadá
açude Pedras Brancas
327 Br (10x)
Quixadá
açude Cedro
323 Br (9,6x)
Cipó dos Anjos
poço tubular
321 Ba (3,9x), Na (4,1x), Sr (1,6x), Zn (1,9x)
Quixelô
poço amazonas
339 Br (6,4x)
Quixeramobim
açude Quixeramobim
328 Br (12x)
Quixeré
poço tubular
363 Br (4,4x), Mn (1,6x)
açude Acarape do Meio
391 Br (6,4x)
açude Araras
525 Br (1,7x)
Russas
poço tubular
371 Br (3,3x), Mn (1,9x), NO3 (1,8x), PO4 (7x)
Flores
poço tubular
370 Br (4x), Mn (5,4x)
Saboeiro
rio Jaguaribe
495 Br (15,5x)
Flamengo
açude Flamengo
496 Br (4,4x)
Salitre
poço tubular
486 B (1,3), Br (102x)
Santa Quitéria
açude Edson Queiroz
530 Br (2,7x)
Raimundo Martins
poço tubular
532 Br (2,7x), Mn (1,3x), Pb (1,1x), PO4 (2,5x)
Santana do Acaraú
poço tubular
619 Br (6,1x), Cd (2x), F (4,5x), Fe (23,1x), Mn (12x)
Baixa Fria
poço amazonas
620 Br (24,3x), Cu (1,1x), Mn (2,3x), NO3 (2,6x)
Santana do Cariri
poço tubular
479 Fe (8,6x)
São Benedito (d)
açude Jaburu
608 Br (5,8x), Pb (2,2x)
S.Gonçalo do Amarante
açude Sítios Novos
649 Br (8,4x)
S.João do Jaguaribe
poço tubular
359 Br (4x), Fe (5,9x), Mn (4,3x)
São Luís do Curu
rio Curu
640 Br (10,3x)
Senador Pompeu
açude Patu
347 Br (4x), Mn (1,7x)
Redenção
(a)
Reriutaba
(b)
4
Senador Sá (h)
rio Jordão
595 Br (4,6x)
Sobral
açude Jaibaras
591 Cu (2,2x)
Jaibaras
açude Jaibaras
590 Cu (5,6x), PO4 (6,7x)
S. J. Solonópole (Solonópole)
açude Sigefredo Pinheiro
350 Br (2,4x), Mn (1,9x)
Tabuleiro do Norte
rio Jaguaribe
362 Br (4,4x)
Tamboril
açude Carão
516 Br (7,7x)
Sucesso
açude João Castro
515 Br (3,7x)
Tarrafas
poço amazonas
493 Br (5,6x), Cd (2x), PO4 (8,7x)
Tauá
açude no rio Trici
503 Br (4,8x)
Marrecas
poço tubular
499 Br(44,6x), Cl (2x), Cu(1,1x), F(1,3x), Na(2,6x), NO3 (59,9x), PO4 (45,7x)
Marrecas
poço amazonas
500 Br (5,3x), Cd (2x), NO3 (5,9x), PO4 (7,6x)
Tejuçuoca
açude Boqueirão
643 Br (3,8x)
açude Jaburu
603 Br (5,9x)
Trairi
açude Piancó
646 Br (2,3x)
Tururu (g)
açude Mundau
636 Br (1,9x)
Ubajara
açude Jaburu
610 Br (4,3x)
Umari
poço tubular
461 Br (8,3x), Cd (3x), Fe (4,6x)
Umirim
açude Caxitoré
639 Br (1,2x)
Uruburetama (g)
açude Mundau
635 Br (2,7x)
Uruoca (h)
rio Jordão
596 Br (4,1x)
Viçosa do Ceará (d)
açude Jaburu
605 Br (6,2x)
Quatiguaba (d)
açude Jaburu
604 Br (6,1x)
Tianguá
(d)
(d)
NOTAS:
1)
2)
3)
4)
Localidades com captação em mesmos corpos d’água: a) Acarape, Barreira e Redenção no açude
Acarape do Meio; b) Reriutaba e Varjota no açude Araras; c) Barroquinha e Chaval no açude Itaúna; d)
Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, Quatiguaba/Viçosa, São Benedito, Tianguá, Ubajara e Viçosa
no açude Jaburu; e) Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiúba, Horizonte, Jurema/Caucaia,
Maracanaú, Maranguape, Pacajus e Pacatuba no sistema de açudes Pacoti-Riachão-Gavião; f)
Aracoiaba e Baturité na barragem Tijuquinha; g) Tururu e Uruburetama no açude Mundaú; h) Senador
Sá e Uruoca no rio Jordão.
Localidades em itálico: distritos dos municípios mencionados na linha logo superior, ou dos municípios
citados entre parênteses.
N: número de laboratório da amostra
Os elementos e compostos são seguidos por um número que representa o quanto se encontra
sobrelevado em relação ao valor de referência do CONAMA. Por exemplo: Br (3x) significando que o teor
do elemento Bromo, naquela amostra, é 3 (três) vezes superior ao valor máximo recomendado pelo
CONAMA.
5
ANEXO II
VARIAÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL NA COMPOSIÇÃO DAS ÁGUAS
O exame da variabilidade na constituição das águas em função da época de coleta
foi efetuado comparando-se os resultados analíticos para cátions das amostras colhidas
em dezembro de 2003, em uma fase de treinamento visitando alguns municípios no sul do
Ceará, antes do período chuvoso na região, e suas correspondentes, obtidas nos
mesmos locais quando do desenvolvimento efetivo do projeto em julho de 2004, após o
período de precipitações de chuvas.
O conjunto avaliado abrange 12 amostras de 6 açudes e rios e 18 de 9 instalações
de poços. As distâncias entre elas, observadas no registro de coordenadas UTM obtidas
por GPS, tiveram variação de 4 a 260 m nas amostras de águas superficiais e de 3 a 500
m nas de águas subterrâneas; as maiores distâncias correspondem à tomada de uma
amostra na captação e outra no meio do açude ou na instalação de pré-tratamento. Com
distanciamento maior do que 2.000 m, duas amostras de uma localidade não foram
consideradas neste estudo.
A figura 1 permite visualizar as variações nos teores, daqueles elementos com a
maioria dos resultados analíticos definidos, entre cada amostra coletada em dezembro de
2003 (1) e a obtida em julho de 2004 (2), comparativamente às menores e maiores
concentrações encontradas em 84 amostras de açudes e rios e 150 de poços de todo o
estado, as respectivas medianas e os Valores de Referência do Ministério da Saúde,
quando existentes e inferiores à concentração máxima.
As indicações desse gráfico mais o exame par-a-par dos resultados analíticos,
embora pequeno o número de observações, são de que as águas superficiais contêm
mais Ca, Fe (embora um par discordante), K (apesar de 2 resultados outliers) e Zn, e
menos Ba, Mg e Na após o período chuvoso, etapa de amostragem de julho/2004; Mn
(um valor destoante) e Sr não são definidos. Em relação às águas subterrâneas, vê-se um
generalizado, embora de pequena amplitude, aumento nas concentrações relativas dos
elementos após o período chuvoso, com exceção de Mn (um valor discordante) e Zn, que
têm comportamento indefinido.
Aparentemente tais variações denunciam os processos normais, propiciadas pela
introdução de água pluvial no sistema, de diluição dos componentes na água do fluxo
superficial e aumento na dissolução de sais pela infiltração, no fluxo subterrâneo.
A amplitude da variação temporal nas concentrações desses elementos químicos,
no período de 6 meses, não tem a grandeza que seria de se esperar. Observa-se no
gráfico mencionado que todos os resultados das amostras da campanha 1, com exceção
do elemento K em duas amostras de água superficial, com 63 e 64 mg/L, situam-se no
campo definido pelos valores maior-menor dos conjuntos totais de resultados, e os traços
de medianas também os dividem, excetuando novamente o Potássio.
1
Quanto aos elementos não representados, nas águas superficiais não há (B, Be,
Co, Cr, Li, Mo, Ni, Se, V, Ti, sem valores definidos) ou há poucas e pequenas (Al, As, Cd,
Cu) oscilações nos teores de cada par de amostras, já no limite de sensibilidade do
método analítico; um único par tem diferença significativa para o elemento Chumbo. Nas
águas subterrâneas, os elementos Be, Cr, Mo, Se, V e Ti não apresentam valores
definidos e pequenas variações no limite de detecção da análise são verificadas para Al,
As, B, Cd, Co, Cu e Ni; o elemento Lítio tem diferença significativa em um par de
amostras e Chumbo em dois de 9 pares considerados. Relevando ser a comparação
efetuada ao nível de detecção analítica dos elementos, sujeita portanto a erro, nota-se a
2
tendência das concentrações de Alumínio e Chumbo diminuir e Cádmio aumentar nessas
águas após a estação chuvosa, e um comportamento variável de Cobre e Lítio.
Em relação aos Valores de Referência (VR), observa-se que são ultrapassados
por Mn (0,142 mg/L), Cu (0,01 mg/L) e Pb (0,075 mg/L) nas águas superficiais e por Al
(0,2 mg/L em duas amostras), Ba (5,121 mg/L), Cd (0,002 mg/L), Mn (0,310 mg/L) e Pb
(0,057 e 0,068 mg/L) nas águas de poços, sempre em amostras isoladas de cada par. O
elemento Cobre apresenta um problema adicional, pois o limite de detecção da análise
(0,01 mg/L) é superior ao Valor de Referência, de 0,009 mg/L, tendo sido determinado em
uma amostra de água superficial e em 7 dos 9 locais de coleta de água subterrânea;
nestes, apenas uma amostra, isolada, apresentou um valor acima de 0,01 (QAU218, com
0,02 mg/L), e somente um par com o mesmo valor de 0,01 mg/L Cu.
Todas as observações acima permitem sugerir que um período de 6 meses,
mesmo representando as diferentes condições de pluviosidade do ano, não traz
diferenças significativas para avaliações em pequena escala, do tipo estudos regionais.
Todavia, ao serem consideradas sob a ótica ambiental, as variações são importantes
nesse período de tempo, sugerindo que os fatores que as influenciam sejam introduzidos
e episódicos, sem a continuidade e persistência esperada caso de origem geológica.
As variações laterais na constituição química em elementos-traço, que dá idéia
sobre a homogeneidade do meio, foram estimadas pelo exame dos resultados das
amostras daqueles corpos d´água com três ou mais estações de coleta. Os conjuntos
avaliados são provenientes dos rios Banabuiú (captações do distrito de Sitiá, município de
Banabuiú, Ibicuitinga e Morada Nova, distanciada de 33 km do primeiro ponto) e
Jaguaribe (que serve Saboeiro, Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Jaguaruana, Itaiçaba e
Palhano – no Canal do Trabalhador, num percurso de mais de 350 km) e de 5 açudes:
Acarape do Meio, que abastece os municípios de Acarape, Barreira e Redenção, com 3
amostras num espaço de 250 m; Araras, com 4 amostras numa distância de 11.300 m,
tendo as captações dos municípios de Hidrolândia, Ipu, Reriutaba e Varjota; Jaburu, com
as captações de 8 localidades, Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, São Benedito,
Viçosa do Ceará e seu distrito Quatiguaba, Tianguá e Ubajara, distribuídas num eixo de
7.600 m e os açudes interligados Gavião, com 4 amostras dentro da distância de 2.800 m
e Pacoti-Riachão, onde foram coletadas 8 amostras na distância de 10.100 m que
abastecem as cidades de Caucaia e seu distrito Jurema, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza,
Guaiúba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus e Pacatuba. O maior
intervalo de tempo entre amostragens em um mesmo açude foi de 77 dias no sistema
Pacoti-Riachão, e o menor, de apenas horas, no açude Jaburu; as amostras de águas
dos rios foram obtidas no período de 34 dias no Jaguaribe e de 9 dias no Banabuiú.
As variações das concentrações daqueles elementos estudados estatisticamente
(maioria dos resultados analíticos das amostras com valores definidos), são observadas
nas figuras a seguir, onde são comparadas com os teores mínimos e máximos
determinados em 150 amostras de açudes e rios, os respectivos percentuais de 25 e 75%
da distribuição de freqüência, e os valores de referência do Ministério da Saúde, quando
existentes e inferiores ao teor máximo encontrado.
3
Elementos
Ba
Ca
Fe
K
Mg
Mn
Na
Sr
Zn
crescentes
VR
VR
Teores
VR
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
1
2
3
4
5
Açude Acarape do Meio
Açude Araras
Maior resultado nas águas superficiais
VR
Açude Jaburu
Valor de Referência do CONAMA
Açude Gavião
Quartil 75% da distribuição estatística
Quartil 25% da distribuição estatística
Açudes Pacotí-Riachão
Menor resultado nas águas superficiais
FIG. 2 - COMPARAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DOS ELEMENTOS EM AMOSTRAS NOS MESMOS AÇUDES
A primeira observação do gráfico (fig. 2, açudes) dá conta de uma certa
semelhança composicional entre as águas de todos os açudes, representada pelo
posicionamento da grande maioria das amostras em níveis muito próximos, na escala de
concentração, para os elementos Ba, Fe, K, Mn e Zn, e as diferenças nos teores de Ca,
Mg e Sr situam-se dentro de uma faixa até 75% da distribuição dos valores. A maior
disparidade é vista para o elemento Sódio nas amostras do açude Acarape do Meio e em
um subgrupo de amostras do sistema Pacoti-Riachão, cujos resultados destacam-se
muito (valores entre 130 e 185 mg/L) dos grupos correspondentes aos outros açudes, que
variam de 18 a 44 mg/L Na.
As concentrações de Ba, Ca, K, Mg, Na (com exceção no sistema Pacoti-Riachão)
e Sr são praticamente iguais em todas as amostras de cada um dos açudes estudados,
certificando uma quase inexistente variação lateral desses elementos, que possuem em
comum o caráter de serem facilmente solubilizados. Nos açudes Pacoti-Riachão os
resultados para Sódio formam dois grupos, o primeiro constituído por 4 amostras com
teores variáveis de 135 a 170 mg/L, coletadas no início de julho e o segundo por 4
amostras com 38 a 41 mg/L obtidas em setembro; neste intervalo de tempo adentrando a
estação seca, na qual se esperaria aumento ao invés de diminuição da salinidade, é
provável que o sistema tenha recebido, por recalque (adutora da CAGECE), águas do
açude Pacajus, que por sua vez é alimentado pelo Canal do Trabalhador (ligado ao rio
Jaguaribe). Essa variação composicional parece ser refletida pelo Cobalto, com
resultados <0,002 e 0,002 mg/L, respectivamente.
4
Os elementos Fe, Mn e Zn registram concentrações divergentes nas amostras de
alguns açudes e provavelmente encontram-se em uma fase coloidal, pois mostram
aparentes relacionamentos entre si. No açude Acarape do Meio, as três amostras tem
teores completamente distintos de Fe e Mn, havendo correlação direta dos seus valores.
Diferenças nos teores de Ferro, correspondidas pelo Zinco, são observadas no açude
Jaburu e, no açude Gavião, nota-se a diversidade, de maneira menos acentuada, para as
concentrações dos elementos Mn e Zn. A variação detectada no açude Acarape do Meio,
no exíguo espaço de 250 m, pode ser devida a influência recente de precipitações
pluviométricas, cerca de 50 mm medidos nas estações de Acarape do Meio e Redenção
nos dias 28 e 29 de julho, três dias antes da efetivação da amostragem.
Dos outros elementos analisados e não representados no gráfico, constata-se
diferença significativa de Pb e Cd em amostras do açude Gavião (resultados de 0,021 e
0,465 mg/L de Pb, com 0,020 mg/L de Cd associado, e os demais abaixo ou no limite de
detecção) e Chumbo no açude Jaburu (uma amostra com 0,022 mg/L e as outras com
resultado <0,005).
Os resultados determinados para Al, As, B, Be, Co e Li variam em um ou outro
açude nos respectivos limites de detecção (igual ou abaixo destes) e Cr, Cu, Mo, Ni, Se, V
e Ti somente apresentaram teores abaixo do limite de detecção do método analítico
(qualificados L), nas amostras de todos os açudes.
Os Valores de Referência do Ministério da Saúde são ultrapassados para
Manganês em uma amostra do açude Acarape do Meio e para Pb e Cd em duas
amostras do açude Gavião, e serão comentados oportunamente.
Nos rios Banabuiú e Jaguaribe as variações nas concentrações são bem mais
distintas (fig. 3, rios), espelhando diferentes influências ao longo de seus trajetos.
Nos cerca de 33 km do médio curso do primeiro, as amostras tomadas em Sitiá,
distrito de Banabuiú, na captação para a elevatória que abastece a cidade de Ibicuitinga e
em Morada Nova, possuem concentrações muito semelhantes de Ba, Ca, Mg, Sr e Zn; K
e Mn têm pequena diferença, com diminuição dos teores na amostra mais a jusante, e Fe
e Na apresentam as maiores variações, também decrescentes (exceto Fe na amostra
intermediária) no sentido montante-jusante.
Nas amostras coletadas no rio Jaguaribe, o elemento Zinco é o único a não
mostrar variação expressiva de valores. A amostra colhida no alto curso (captação de
Saboeiro) registra as mais elevadas concentrações de Ba, Ca, K, Mg e Sr, e aquela
coletada no baixo curso, já Canal do Trabalhador em Palhano, contém mais Mn e Na. As
diferenças são significativas também entre as amostras colhidas nas captações de
Jaguaribe, Tabuleiro do Norte e Jaguaruana, no seu médio curso. Daqueles elementos
não processados estatisticamente, somente Boro apresentou alguns resultados definidos
no limite de detecção (0,05 mg/L), nas amostras de montante de ambos os rios e, em
relação aos valores recomendados pelo CONAMA, apenas Ferro foi excedido (0,393
mg/L, sendo a referência de 0,3), na captação d´água do distrito de Sitiá, município de
Banabuiú, no rio de mesmo nome.
No aspecto geral, portanto, nota-se que em pequenas distâncias nos sistemas de
águas superficiais, e especialmente nos açudes, há pouca variação nas concentrações
dos elementos facilmente solubilizados; dentre estes o teor em Sódio é mais facilmente
5
alterado pelas condições climáticas diárias. Maiores diferenças são percebidas naqueles
elementos que se mobilizam sob forma sólida finamente dividida e coloidal, como Fe, Mn,
Zn. Valores de referência são excedidos apenas pontualmente, indicando proveniência de
fontes com pequena expressão ou situadas a relativamente grande distância.
Elementos
Ba
Ca
Fe
Mg
K
Mn
Na
Sr
Zn
VR
m
m
m
j
j
crescentes
m
VR
j
m
m
m
j
j
j
m
j
j
m
j
j
m
m
m
Teores
VR
m
j
m
j
m
j
j
m
j
m
j
1
2
1
2
1
2
1
1
2
1
2
1
2
1
2
1
m
j
2
Maior resultado nas águas superficiais
1
2
Rio Jaguaribe (6 amostras)
m
Amostra mais a montante
j
2
j
VR
Valor de Referência do CONAMA
Quartil 75% da distribuição estatística
Quartil 25% da distribuição estatística
Amostra mais a jusante
Menor resultado nas águas superficiais
FIG. 3 - COMPARAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DOS ELEMENTOS EM AMOSTRAS NOS MESMOS RIOS
Daqueles elementos não processados estatisticamente, somente Boro apresentou
alguns resultados definidos no limite de detecção (0,05 mg/L), nas amostras de montante
de ambos os rios e em relação aos valores recomendados pelo CONAMA, apenas Ferro
foi excedido (0,393 mg/L, sendo a referência de 0,3), na captação d´água do distrito de
Sitiá, município de Banabuiú, no rio de mesmo nome.
6
ANEXO III - RESULTADOS ANALÍTICOS DAS AMOSTRAS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
MUNICÍPIOS
distrito
Abaiara
Acarape (a)
Acaraú
Acopiara
Santa Felícia
Aiuaba
Barra
Alcântaras
Altaneira
Alto Santo
Castanhão
Amontada
Garças
Antonina do Norte
Apuiarés
Aquiraz
Aracati
Barreira dos Vianas
Aracoiaba (f)
Ararendá
Araripe
Pajeú
Aratuba
Arneiroz
Assaré
Amaro
Aurora
Baixio
Banabuiú
Sitiá
Barbalha
Barreira (a)
Barro
Barroquinha (c)
Baturité (f)
o
TIPO
N.
ABAST. AMOSTRA
T
471
L
392
T
625
L
337
L
338
L
491
L
490
L
613
L
480
Z
365
Z
358
T
630
Z+T
629
L
487
Z
644
L
383
T
376
Z
377
L
656
T
513
L
484
L
485
T
654
L
498
L
492
Z
504
R
462
Z
460
L
324
R
325
T
473
L
393
T
463
L
600
L
655
COORDENADAS
UTM E UTM N
495080
9186926
522357
9536424
375573
9680186
449773
9327386
476018
9327505
374061
9270978
357076
9264681
327783
9604692
419697
9229744
580018
9389553
564028
9397033
407070
9628337
415915
9651496
394757
9258745
452245
9563344
570802
9566279
637385
9503480
635232
9480355
511724
9522792
296898
9474528
369955
9217335
370039
9217208
494898
9512002
375528
9308709
397092
9231383
422413
9237260
500108
9228865
530209
9252606
508462
9411438
537675
9429428
466123
9191998
522212
9536631
524543
9206849
259280
9651481
511779
9522792
1
ELEMENTOS
Ca
Cd
Co
Al
As
B
Ba
Cr
Cu
Fe
L 0,1
L 0,01
L 0,05
0,073
31,40
L 0,001
L 0,002
L 0,02
0,01
0,004
L 0,1
L 0,01
0,08
0,01
11,09
L 0,001
L 0,002
L 0,02
L 0,01
0,035
L 0,1
0,01
0,08
0,422
1,34
0,002
0,007
L 0,02
0,01
0,022
L 0,1
L 0,01
L 0,05
0,058
13,94
0,001
L 0,002
L 0,02
L 0,01
0,09
L 0,1
L 0,01
L 0,05
0,075
17,16
L 0,001
L 0,002
L 0,02
L 0,01
0,019
L 0,1
L 0,01
L 0,05
0,040
9,65
L 0,001
L 0,002
L 0,02
L 0,01
0,033
L 0,1
L 0,01
L 0,05
0,054
9,35
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43
44
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46
47
48
49
50
51
MUNICÍPIOS
distrito
Beberibe
Sucatinga
Bela Cruz
Boa Viagem
Ibuaçu
Brejo Santo
Camocim
Guriú
Campos Sales
Carmelópolis
Canindé
Salitre
Capistrano
Caridade
Cariré
Caririaçu
Cariús
Caipu
Carnaubal (d)
Cascavel
Catarina
Catunda
Caucaia (e)
Jurema (e)
Cedro
Chaval (c)
Choró
Chorozinho (e)
Coreaú
Araquém
Araquém
Crateús
Santo Antônio
Crato
Ponta da Serra
o
TIPO
N.
ABAST. AMOSTRA
L
380
T
379
T
623
L
331
L
335
T
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T
599
T
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L
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L
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L
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L
317
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Z+R
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L
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L
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L
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Z
476
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K
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Sr
ELEMENTOS
Zn
Be
Ti
Na
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76
77
78
79
80
81
82
MUNICÍPIOS
distrito
Croatá
Cruz
Dep. Irapuan Pinheiro
Ererê
Eusébio (e)
Farias Brito
Forquilha
Fortaleza (e)
Fortim
Frecheirinha
General Sampaio
Graça
Granja
Pessoa Anta
Granjeiro
Groaíras
Guaiúba (e)
Guaraciaba do Norte (d)
Guaramiranga
Hidrolândia
Horizonte (e)
Ibaretama
Ibiapina (d)
Ibicuitinga
Icapuí
Icó
Lima Campos
Iguatu
José de Alencar
Independência
Iapi
Ipaporanga
Ipaumirim
Ipu
Ipueiras
o
TIPO
N.
ABAST. AMOSTRA
T
526
T
624
Z
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Z
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L
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T+Z
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L
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L
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T
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L
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L
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L
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L
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L
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R
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T
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L
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L
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L
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L
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Z
520
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Al
As
B
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Ba
Ca
Cd
Co
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Fe
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o
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MUNICÍPIOS
distrito
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Mombaça
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o
TIPO
N.
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159
160
161
162
163
164
165
166
o
MUNICÍPIOS
TIPO
N.
distrito
ABAST. AMOSTRA
Pindoretama
L
382
Piquet Carneiro
L
346
Pires Ferreira
T+Z
518
Poranga
F
514
Porteiras
T
466
Potengi
L
483
Potiretama
L
366
Quiterianópolis
L
505
São Francisco
T
506
Quixadá
L
327
Quixadá
L
323
Cipó dos Anjos
T
321
Quixelô
Z
339
Quixeramobim
L
328
Manituba
L
329
Quixeré
T
363
Redenção (a)
L
391
Reriutaba (b)
L
525
Russas
T
371
Flores
T
370
Saboeiro
R
495
Flamengo
L
496
Salitre
T
486
Santa Quitéria
L
530
Raimundo Martins
T
532
Santana do Acaraú
T
619
Baixa Fria
Z
620
Santana do Cariri
T
479
São Benedito (d)
L
608
S.Gonçalo do Amarante
L
649
S.João do Jaguaribe
T
359
São Luís do Curú
R
640
Senador Pompeu
L
347
S.Joaquim do Salgado
L
344
Senador Sá (h)
R
595
COORDENADAS
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Al
As
B
ELEMENTOS
Ba
Ca
Cd
Co
Cr
Cu
Fe
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N.o
AM.
Li
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Ti
Na
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H
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H
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170
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175
176
177
178
179
180
181
182
183
184
MUNICÍPIOS
distrito
Sobral
Jaibaras
Solonópole
S.J.do Solonópole
Tabuleiro do Norte
Tamboril
Sucesso
Tarrafas
Tauá
Marrecas
Marrecas
Tejuçuoca
Tianguá (d)
Trairi
Tururu (g)
Ubajara (d)
Umari
Umirim
Uruburetama (g)
Uruoca (h)
Varjota
(b)
Várzea Alegre
Viçosa do Ceará (d)
Quatiguaba (d)
o
TIPO
N.
ABAST. AMOSTRA
L
591
L
590
L
349
L
350
R
362
L
516
L
515
Z
493
L
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T
499
Z
500
L
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L
603
L
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L
636
L
610
T+Z
461
L
639
L
635
R
596
L
524
L
455
L
605
L
604
COORDENADAS
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Al
L 0,1
As
B
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Ba
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Co
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Cr
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605
604
Li
Mg
Mn
ELEMENTOS
V
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Mo
Ni
Pb
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Sr
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Cl-
NO2-
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SO4--
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L 0,005
L 0,02
0,173
L 0,02
0,013
L 0,001
L 0,05
5,1
2,2
0,20
4,56
< 0.01
0,02
0,08
< 0.01
0,42
L 0,002
L 0,002
3,53
0,006
L 0,005
L 0,004
L 0,005
L 0,02
0,055
L 0,02
0,020
L 0,001
L 0,05
19,0
3,3
0,01
34,8
< 0.01
0,16
3,76
< 0.01
2,45
2,10
L 0,001
L 0,005
L 0,004
L 0,005
L 0,02
0,031
L 0,02
0,008
L 0,001
L 0,05
19,0
3,4
0,02
35,7
< 0.01
0,15
0,62
< 0.01
2,25
L 0,02
0,006
L 0,001
L 0,05
< 0.01
< 0.01
< 0.01
< 0.1
< 0.01
< 0.01
< 0.01
< 0.01
< 0.01
< 0.01
< 0.01
< 0.01
3,30
1,40
3,53
1,54
3,63
NOTAS: a) todos os registros analíticos são expressos em mg/L (miligrama por litro)
b) os resultados de ânions foram fornecidos por dois laboratórios, diferenciados por letra normal e itálica
c) o conjunto completo de resultados é disposto em 2 páginas, tendo o número da amostra (N.o AM.) como
referência para a continuidade lateral entre as 1.a e as 2.a páginas.
14
ANEXO IV
FOTOS DOS SÍTIOS E LOCAIS AMOSTRADOS
Em ordem alfabética dos municípios e seus respectivos distritos, quando visitados.
Abaiara
Acarape - açude Acarape
Acaraú
Acopiara - açude Quincoé
Acopiara - Sta. Felícia - açude Umari Aiuaba - açude Bengüê
1
Aquiraz - lagoa do Catú
Apuiarés
Aracati
Aracati - Barreira dos Vianas
Aracoiaba - barragem Tijuquinha
Ararendá
Araripe - Pajeú - açude João Luís
Araripe - açude João Luís
3
Aratuba
Arneiroz - açude Macuim
Assaré - açude Canoas
Assaré - Amaro
Aurora - riacho Caiçara
Baixio
Banabuiú - açude Banabuiú
Banabuiú - Sitiá - rio Banabuiú
4
Barreira - açude Acarape
Barbalha
Barroquinha - açude Itaúna
Barro
Baturité - barragem Tijuquinha
Beberibe - lagoa de Uberaba
Beberibe - Sucatinga
Bela Cruz
5
Cruz
Croatá
Deputado Irapuan Pinheiro
Eusébio - açude Pacoti-Riachão
Ererê
Farias Brito
Forquilha - açude de Forquilha
Fortaleza - açude Gavião
10
Frecheirinha
Fortim
General Sampaio - açude Gal. Sampaio
Granja - rio Coreaú
Graça - açude Escorredouro
Granja - Pessoa Anta
Granjeiro - açude Granjeiro
Groaíras
11
Guaiúba - açude Riachão
Guaraciaba do Norte - açude Jaburú
Guaramiranga
Hidrolândia - açude Araras
Horizonte - açude Pacoti-Riachão
Iracema - açude Canafístula
Ibaretama - açude Maracajá
Ibiapina - açude Jaburú
12
Ibicuitinga - rio Banabuiú
Icó - açude Lima Campos
Icapuí
Icó - Lima Campos - açude Lima Campos
Iguatu - açude Trussu
Independência - açude Cupim
Iguatu - José de Alencar
Independência - Iapi - açude Iapi
13
Ipaporanga - açude São José
Ipaumirim
Ipu - açude Araras
Ipueiras
Ipueiras - Matriz
Irauçuba - açude Jerimum
Irauçuba - Missi
Itaiçaba - rio Jaguaribe
14
Itaitinga - açude Pacoti-Riachão
Itapajé - riacho Escorado
Itapipoca - açude Poço Verde
Itapipoca - Deserto
Itapiúna - açude Castro
Itarema
Itatira
Jaguaretama - açude Castanhão
15
Jucás
Juazeiro do Norte
Lavras da Mangabeira - açude Extrema Limoeiro do Norte - barragem das Pedrinhas
Madalena
Madalena - São José da Macaoca
Maranguape - açude Gavião
Maracanaú - açude Riachão
17
Martinópole - açude Jardim
Marco
Massapê - açude Iguaraçu Mirim
Mauriti
Mauriti - Palestina
Meruoca - açude Frecheirão
Milagres
Milhã - açude Monte Sombrinho
18
Miraíma - açude São Pedro da Timbaúba Missão Velha
Mombaça - Boa Vista
Mombaça - açude Serafim Dias
Monsenhor Tabosa
açude Boa Vista Velha
açude Monsenhor Tabosa
Morada Nova - rio Banabuiú
Morada Nova - Aruaru
barragem de Aruaru
Moraújo - açude Várzea da Volta
19
Mucambo - açude de Mucambo
Morrinhos
Mulungu
Nova Olinda
Nova Jaguaribara
Nova Russas - açude Farias de Sousa
Novo Oriente - açude Flor do Campo Ocara - rio Choró
20
Orós - açude Orós
Pacajus - açude Pacoti-Riachão
Pacatuba - açude Riachão
Pacoti
Pacujá - açude Coriolano de Sousa Brito
Palmácia
Palhano - Canal do Trabalhador
Paracuru - lagoa Grande
21
Paraipaba - lagoa da Cana Brava
Parambu - açude Puiú
Paramoti - adutora do açude
General Sampaio
Pedra Branca - açude Trapiá
Pedra Branca - Minerolândia - rio Patú
Penaforte
Pentecostes - açude Pereira de Miranda
Pentecostes - Matias - açude Mel
22
Pereiro - açude do Presídio
Pindoretama - lagoa do Tapuio
Piquet Carneiro - açude São José
Pires Ferreira
Poranga
Potengi - açude Belo Horizonte
Porteiras
Potiretama - açude Grande
23
Quiterianópolis -
Quiterianópolis - açude Colina
São Francisco
Quixadá - açude Pedras Brancas
Quixadá - Cipó dos Anjos
Quixelô
Quixeramobim - rio Quixeramobim
Quixeramobim - Manituba - açude Tourão Quixeré
24
Reriutaba - açude Araras
Redenção - açude Acarape
Russas - Flores
Russas
Saboeiro - rio Jaguaribe
Saboeiro - Flamengo - açude Flamengo
Salitre
Canindé - Salitre - açude Salitre
25
Santa Quitéria - açude Edson Queiroz Santa Quitéria - Raimundo Martins
Santana do Acaraú
Santana do Acaraú - Baixa Fria
Santana do Cariri
São Benedito - açude Jaburu
São Gonçalo do Amarante açude Sítios Novos
São João do Jaguaribe
26
São Luís do Curu - rio Curu
Senador Pompeu - açude Patú
Senador Pompeu - São Joaquim do Salgado
açude de São Joaquim
Senador Sá - rio Jordão
Sobral - açude Jaibaras
Solonópole - açude do Boqueirão
Solonópole - São José de Solonópole
Tabuleiro do Norte - rio Jaguaribe
açude Sigefredo Pinheiro
27
Tururu - açude Mundaú
Trairi - lagoa do Piancó
Ubajara - açude Jabuti
Umirim - açude Caxitoré
Uruoca - rio Jordão
Umari
Uruburetama - açude Mundaú
Varjota - açude Araras
29
Viçosa - açude Jaburu
Várzea Alegre - açude Olho d’Água
Viçosa - Quatiguaba - açude Jaburu
30
Download

elementos químicos (metais pesados) em águas de