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Artigo original
TRANSIÇÃO DA PRÉ-SCOLA À ESCOLA: O JOGO E O ESTUDO ENQUANTO
ATIVIDADES PRINCIPAIS.
AVANÇO, Leonardo Dias1
SIMÕES, Jéssica Priscila
Leonardo Dias Avanço
Artigo submetido em 17/07/2012
Artigo aceito em 20/08/2012
Correio Eletrônico: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho fundamenta-se na teoria Histórico-Cultural e estabelece como objetivo
central refletir sobre o conceito de atividade principal, em especial sobre a transição das
atividades principais que ocorre na passagem do período pré-escolar ao período escolar.
Como se trata de um aprofundamento teórico, emprega-se a leitura, o fichamento e os debates
coletivos como principal recurso metodológico na construção do presente artigo. Finalizando
as reflexões, concluímos que a transição do jogo à atividade de estudo deve ser racionalmente
conduzida pelo professor, de sorte que criança aproveite, ao máximo, as específicas
possibilidades de desenvolvimento em um período e outro. Nessa direção, o conhecimento do
desenvolvimento humano e, por conseguinte, das atividades principais, é essencial ao bom
direcionamento da atividade pedagógica.
Palavras-chave: Atividade Principal; Jogo; Estudo; Desenvolvimento humano.
1
Licenciado em Educação Física pelo Centro Universitário Toledo/Araçatuba; Mestre em Educação pelo
Programa de Pós-graduação da FCT/UNESP; Docente do curso de Educação Física da FAPEPE/UNIESP.
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ABSTRACT
The present study bases itself on the Historical-Cultural theory and establishes the goal to
reflect over the concept of main activity, especially the transition of main activities that
happens in the passage from pre-scholar to scholar periods. Since it is about theoretical
deepening of knowledge, reading is employed, as well as filing and collective debates as main
methodological resource for building the present article. Once reflexions are finished, we
conclude that the transition from playing onto study activities must be rationally conducted by
the teacher, in order for the child to absorb the most of specific possibilities of development in
one and other period. This way, knowledge of human development and, therefore, main
activities, is essential for pedagogical acitvity.
Key-words: Main Activity; Play; Study; Human Development.
dos motivos que estabelecem o espaço
1. Introdução
físico e social da pré-escola.
Como
refletiremos
o
A atividade da criança pré-escolar
conceito de atividade principal, torna-se
limita-se a certas condições que lhe são
necessário indicar, de imediato, que o
peculiares, particularmente diversas das
presente trabalho se fundamenta nas
condições que permitem a efetuação da
pesquisas
atividade da criança escolar.
de
alguns
sobre
psicólogos
soviéticos da escola de Vigotski, com
destaque para Leontiev e Elkonin.
Assim sendo, os agentes físicos e
sociais que influem no desenvolvimento
Dito isto, façamos uma abordagem
da atividade infantil são diversos, bem
inicial do universo que nos interessa
como
investigar e dos princípios os quais nos
principais
fundamentamos para desenvolver nossas
desenvolvimento em ambas as etapas da
reflexões.
vida.
Comecemos por admitir que a
são
diferentes
as
que
atividades
orientam
o
Se admitirmos que a atividade
transição da pré-escola à escola traga
educativa
seja
mudanças significativas no modo como a
desenvolvimento e que a atividade
criança se orienta na sociedade e, por
principal
conseguinte, no modo como se processa
radicalmente quando transita da pré-
o seu desenvolvimento.
escola
da
à
o
motor
criança
escola,
se
faz-se
do
modifica
necessário
As condições físicas e espaciais
compreender o impacto desta mudança e
em que as crianças estão inseridas na
propor maneiras positivas de realizá-la,
escola, bem como as motivações sociais
tendo-se em vista a especificidade dos
que
dois
permeiam
este
espaço,
são
completamente diversas das condições e
estágios
de
desenvolvimento
18
psicológico
e
dos
dois
níveis
educacionais.
uma reflexão mais profunda sobre o
papel diretivo que o professor efetua no
Portanto,
o
presente
trabalho
aperfeiçoamento
das
funções
estabelece por objetivo geral refletir
psicológicas superiores dos alunos à
sobre o impacto da transição sofrido pela
medida que o processo educativo seja
criança que sai da pré-escola e ingressa
conduzido racionalmente.
na escola, indicando, se possível, no
final,
perspectivas
promovam
educativas
positivamente
o
que
2. Os espaços da pré-escola e da escola
seu
desenvolvimento.
De um modo geral, a vida de uma
Tal perspectiva investigativa nos
criança que se encontra no período de
remete a outro exame que, para nós, se
desenvolvimento pré-escolar, apesar de
revela na transformação da atividade
já apresentar um caráter complexo
principal, isto é, na passagem da
relativamente
atividade lúdica à atividade de estudo.
caracteriza-se por uma discrepância
às
suas
capacidades,
Para os fins que nos propusemos
entre a sua atividade e a satisfação de
alcançar, o trabalho seguirá o seguinte
suas necessidades vitais. Vejamos a este
roteiro: em primeiro lugar, realizaremos
respeito o que especificamente escreveu
uma breve análise sobre o modo geral
Leontiev (2006, p. 119):
pelo qual as crianças dos dois níveis
educacionais se inserem nos espaços
sociais da pré-escola e da escola; em
segundo lugar, buscaremos expor as
características gerais e específicas da
atividade lúdica, enquanto atividade
principal do período pré-escolar; em
terceiro
lugar,
apresentaremos
as
características gerais e específicas da
atividade de estudo, enquanto atividade
principal do período escolar; e, por fim,
concluiremos
o
trabalho
indicando
possibilidades de realização de uma
transição positiva de um período de
desenvolvimento a outro, aspirando a
No início do período pré-escolar do
desenvolvimento de uma criança
tornam-se evidentes vários tipos de
discrepância entre sua atividade – que
já é bastante complexa neste estágio
do desenvolvimento – e o processo de
satisfação de suas necessidades vitais.
A satisfação de suas necessidades
vitais é, na realidade, ainda diferente
dos resultados de sua atividade: a
atividade de uma criança não
determina e, essencialmente, não pode
determinar a satisfação de suas
necessidades de alimento, calor, etc.
Esta atividade é portanto caracterizada
por uma ampla gama de ações que
satisfazem necessidades que não se
relacionam com seu resultado
objetivo.
19
A atividade da criança, então, não
culmina
com
das
adultos, dada a diferença quantitativa e
necessidades vitais, pois estas últimas
qualitativa do nível de desenvolvimento
são
dos
de ambos. Coisa muito diversa ocorre
adultos, que trabalham e produzem o
com a criança escolar, na qual já se
sustento próprio e o dos filhos. Mas, se a
projeta
atividade da criança não está direcionada
refletem em seus direitos e deveres para
para a satisfação de suas necessidades
com a sociedade, tomando este novo
vitais, a que necessidade ela então se
espaço
liga?
definitiva para o futuro pessoal e,
satisfeitas
a
por
satisfação
diálogo a um nível semelhante ao dos
intermédio
Para responder a esta questão
certas
um
expectativas
caráter
de
que
se
preparação
sobretudo, para o futuro da sociedade.
precisamos compreender quais são as
Contudo,
tanto
na
pré-escola
necessidades infantis que se engendram
quanto na escola existe uma discrepância
em cada período do desenvolvimento.
entre a atividade da criança e a satisfação
Segundo a interpretação de Elkonin
de suas necessidades vitais, visto que
(1998, p. 404), por exemplo, a criança
ambas ainda não produzem o que
pré-escolar
profunda
precisam para sobreviver, mas suas vidas
necessidade de agir à semelhança dos
são supridas pelos indivíduos adultos,
adultos. Contudo, as condições físicas,
que para isto trabalham assegurando não
individuais e sociais a impedem de
só o próprio sustento, senão as condições
realizar as atividades humanas mais
de sobrevivência das
complexas, o que resulta na orientação
habitam a sociedade. Por outro lado,
proibitiva que os adultos elaboram
existe uma diferença primordial entre as
visando à proteção da própria criança.
necessidades que se engendram na
possui
uma
crianças
que
Além disso, pode-se constatar que
criança pré-escolar e na criança escolar:
os adultos geralmente não projetam
a primeira, como já dissemos, sente a
muitas expectativas nas capacidades das
necessidade de agir como o adulto, uma
crianças pré-escolares, pois possuem
vez
uma ligeira compreensão das limitações
complexo que quer, mas não pode
deste
acessar,
estágio
do
desenvolvimento
que
experimenta
dado
o
um
baixo
de
desenvolvimento
criança pré-escolar encontra-se em um
psicológicas superiores; a segunda, por
nível
que
sua vez, já tem desenvolvidas certas
dificilmente haja possibilidade de um
capacidades que a colocam em pé de
desenvolvimento
tal
suas
nível
humano. Quer-se dizer com isto que a
de
de
mundo
funções
20
igualdade com alguns adultos no que se
em cada etapa da vida, respondendo às
refere a algumas atividades sociais, e
suas ações de maneiras peculiares, à
nesse sentido engendra-se a necessidade
obediência da observação dos limites de
por
seu desenvolvimento.
parte
da
criança
de
um
reconhecimento como pertencente ao
Vejamos
na
sequência
as
grupo dos maiores. Isto implica, no caso
peculiaridades da atividade lúdica e da
da criança escolar, uma motivação
atividade estudo.
diversa no que se refere à atividade que
guiará de forma fundamental o seu
3. A atividade lúdica
desenvolvimento, encontrando no estudo
e
nas
obrigações
o
Segundo Elkonin (1998, p. 20), o
reconhecimento e a distinção social que
jogo é uma atividade que surge no
desejam no momento, preparando-se
período pré-escolar do desenvolvimento
agora
ingresso
humano, caracterizado essencialmente
relativamente voluntário nas relações
pela reconstrução das relações sociais
sociais adultas.
dos adultos. Por meio dele, a criança
para
o
escolares
futuro
Além disso, esta diferença entre os
procura se aproximar das atividades dos
espaços pré-escolar e escolar pode ser
adultos,
mais bem compreendida se refletirmos
experimentá-las imediatamente, dado o
sobre o modo como as crianças são
seu baixo nível de desenvolvimento.
tratadas
espaços
Durante o período pré-escolar da vida,
institucionais. Na pré-escola, quando
portanto, surge o jogo infantil, motivado
uma
delito
pelo desejo da criança de agir como os
relativamente às normas institucionais,
adultos, ao passo que tal desejo é negado
ela não responde diretamente pelos seus
imediatamente pelas condições sociais
atos, pois ainda não pode fazê-lo. O
concretas que a envolve.
em
ambos
criança
efetua
os
um
uma
vez
que
não
pode
contrário decorre com uma criança
Ao contrário de grande parte das
escolar, pois os adultos possuem relativa
teorias que procuraram compreender o
consciência
de
jogo na perspectiva do afastamento do
desenvolvimento, compreendendo que é
“mundo real”, Elkonin (1998) pondera
possível a ela responder em maior grau
que o jogo não é um instrumento de
por suas ações. Isto quer dizer que os
introspecção,
adultos tratam as crianças de acordo com
motivada por parte da criança em
os limites do desenvolvimento alcançado
direção
de
seu
nível
à
senão
uma
atividade
aproximação,
ao
21
aprofundamento das relações humanas
substituição,
que permeiam a sociedade como um
realizam
todo, vendo no adulto o modelo das
complexas.
ações a serem reconstruídas por meio da
atividade lúdica.
as
ações
com
tais
que
adultos
ferramentas
Não obstante, o desenvolvimento
do jogo
depende do
conjunto de
A substituição, por conseguinte, é
experiências que foram possibilitadas à
fundamental ao jogo, pois é substituindo
criança desde o seu nascimento até o
objetos na atividade que torna possível o
período de desenvolvimento em que se
trânsito entre a situação costumeira para
encontra (pré-escola). À criança que foi
a situação lúdica, onde a criança
possibilitado um conjunto maior de
temporariamente
a
experiências variadas e diversificadas
seu
engendra-se com maior riqueza sócio-
suprime
imediaticidade
própria
comportamento
em
de
benefício
do
cultural o desenvolvimento dos jogos.
desenvolvimento do jogo segundo a
Assim, uma criança indígena, uma
ordem reconstruída com base nos papéis
criança russa, uma criança japonesa e
sociais anteriormente observados.
uma criança africana, terão tido tipos de
Contudo, esta substituição não se
experiências diversas, dado os diferentes
caracteriza pela troca de uma ferramenta
tipos de relacionamento entre elas e os
que cumprirá uma função semelhante
adultos que as envolvem. Estas relações
àquela nas mãos do adulto, mas, pelo
particulares entre crianças e adultos, por
contrário, a substituição lúdica consiste
sua vez, baseiam-se em uma série de
em fazer com que o objeto perca seus
costumes diversificados, o que culmina
fins utilitários diretos e represente um
em uma variedade de temas para os
suporte temporário para a representação
jogos,
fictícia.
condições econômicas específicas de
Há que se lembrar que neste
à
dependência
direta
das
cada povo.
período do desenvolvimento a criança
Os jogos, então, possuem temas
não tem domínio ainda das ferramentas
diversos, pois a vida social e cultural é
mais
diversa
complexas
construídas
e
complexa,
historicamente, sendo-lhes impossível
forçosamente
utilizá-las
segundo
seus
modos
criança experimentará em seu entorno
peculiares
de
o
não
social mais próximo. Por outro lado, o
se
conteúdo do jogo é sempre o mesmo em
necessariamente
uso,
impede
que
que
represente, por meio do jogo e da
todas
as
da
relação
dependendo
regiões,
qual
que
cada
seja,
a
22
reconstrução
dos
sociais
então. Enquanto na pré-escola o adulto
exercidos pelos adultos e observados
tinha poderes sobre as crianças, na
pelas crianças, baseados no sentido que a
escola tal poder se relativiza à medida
criança atribui a estes papéis, conferindo
que a criança é capaz de argumentar e
à reconstrução da atividade social o nível
negar a opinião do adulto, por meio dos
de compreensão e captação das relações
conhecimentos que vem adquirindo. Pela
humanas à medida que tais relações lhes
atividade de estudo a criança enriquece-
forem
se e adquire certos poderes que até então
possibilitadas
papéis
pelos
adultos
(ELKONIN, 1998, p. 35).
lhes eram inacessíveis. Assim, com a
De acordo com Leontiev (2006) e
passagem
da
pré-escola
à
escola,
Vigotsky (2008) a atividade lúdica é a
modifica-se a atividade principal que
atividade principal do período pré-
orientará o desenvolvimento da criança,
escolar do desenvolvimento humano,
definhando o jogo e se estabelecendo o
pois é por meio dela que se engendram
estudo.
as mudanças mais significativas na
estrutura de seu psiquismo. No entanto,
4. A atividade de estudo
no final da fase pré-escolar, a atividade
lúdica
vai
definhando
novas
A atividade de estudo encontra-se
necessidades vão surgindo, fazendo com
diretamente relacionada à escola, pois
que outros tipos de atividades tomem a
esta instituição inicia a criança em
linha principal do desenvolvimento. A
relações sociais diversas do restrito
criança
de
círculo do âmbito familiar. Não que os
contentar-se somente pelos seus jogos,
relacionamentos da criança pré-escolar
querendo igualar-se em poder de alguma
se restrinjam à esfera familiar, mas na
forma aos adultos. Como já possui um
escola a criança amplia suas relações à
conjunto de experiências relativamente
medida que conhece outros professores,
amplo, deseja realizar atividades cuja
uma direção escolar diversa, recebe um
valoração seja levada em consideração
tratamento diferente, bem como já vem
pelos adultos, quer sentir-se importante.
acumulando uma experiência que a
deixa
e
paulatinamente
Com efeito, pelo estudo na escola
as crianças podem apresentar-se frente
permite perceber as relações sociais de
um modo qualitativamente diferente.
aos adultos realizando uma atividade que
É em um processo desta natureza –
pode modificar a qualidade da relação
entrada na escola – que a criança é
que estabeleciam com a sociedade até
inserida em formas mais complexas da
23
relação social. Portanto, este período é
seja,
precípuo para criança, sobretudo no que
investigação da realidade. Os conceitos
se
e
determinados pelo método de lógica
funções
formal se enquadram na limitação da
psíquicas superiores. A atividade de
prática perceptiva, na medida em que
estudo, por conseguinte, torna-se a
apresentam o saber como pronto e
atividade principal da criança escolar.
absoluto.
refere
à
transformação
desenvolvimento
Segundo
atividade
de
suas
Leontiev
principal,
que
(1998),
a
aqui
se
de
um
Não
método
obstante,
dialético
a
proposta
de
da
atividade de estudo deveria se pautar na
configura como a atividade de estudo, se
atividade
caracteriza pela sua importância no
rumo a novos conhecimentos, em que a
desenvolvimento como a possibilidade
criança pudesse dispor de autonomia, ou
de mudanças no processo psíquico e na
seja, o controle de sua atividade, para a
constituição de traços essencialmente
resolução de novos problemas que se
novos da personalidade. No momento
manifestam na formação do pensamento
em que a criança começa a se apropriar
científico. Sabe-se, no entanto, que a
do conteúdo da cultura intelectual e
autonomia
artística, por meio da atividade escolar,
apropriação que a mesma realiza da
ela
cultura
modifica
o
modo
de
seu
transformadora
da
criança
erudita,
e
criativa,
depende
cujo
papel
da
da
posicionamento no mundo, bem como se
transmissão destes conhecimentos é
transformam as relações que estabelece
função da escola. Dialeticamente, a
com os adultos.
autonomia da criança e a transmissão
Na atividade de estudo a criança se
dos saberes devem ser tomados em
apropria dos conhecimentos de acordo
movimento, onde o diálogo horizontal se
com o método de ensino utilizado pela
estabelece como fundamento do ato
cultura e momento histórico em que se
educativo.
encontra. Destarte, esta se submete aos
Para pensarmos a atividade de
propósitos e interesses ideológicos de
estudo devemos também compreender a
determinado contexto histórico-social.
estrutura da atividade geral assinalada
Na sociedade capitalista contemporânea,
por
por exemplo, observa-se por método
encontram intimamente imbricadas.
mecanicista de estudo e aprendizagem,
Leontiev
A
(1978),
atividade
é
na
qual
designada
se
por
que proporcionalmente não remete ao
processos psicologicamente orientados
desenvolvimento do senso critico, ou
para um fim, ou seja, um objetivo
24
(LEONTEV, 1978 p.68). Dessa forma,
5. Considerações finais: A transição
entendemos que a criança precisa ter um
da atividade lúdica à atividade de
objeto/objetivo
estudo
correspondente
a
finalização de sua atividade, para que
possa executar a tarefa e assim se
desenvolver.
A transição da pré-escola à escola
não se caracteriza por ser um movimento
A atividade deve ocorrer em
suave e harmonioso. Pelo contrário, a
presença de uma necessidade, que
vida escolar acarreta uma série de
muitas vezes não é a da criança. Deste
mudanças na dinâmica da vida social da
modo, o motivo da atividade não se
criança que a mesma ainda não havia
correlaciona
sentido
experimentado e, por conseguinte, a
tomado pela mesma. Exemplos como
transição supõe a construção de certas
copiar palavras do quadro-negro, ou
habilidades
decorar conceitos que não tenham
completamente novas, o que nos leva a
significado para a criança, não se
considerar que caso o processo não seja
configuram como alavanca na mudança
acompanhado e orientado na medida das
para complexificação da atividade, mas
diversas possibilidades em que ele se
sim a mera reprodução da memorização
inscreve, podem-se emergir situações
e percepção dos fatos que não se
traumáticas tais que comprometem o
relacionam com o sentido de suas
desenvolvimento de uma etapa essencial
vivências reais.
ao
A
diretamente
atividade
em
ao
si
não
é
e
aperfeiçoamento
capacidades
das
funções
psicológicas superiores.
determinada por uma necessidade a ela
Apoiados na tese marxiana de que
atrelada, logo o objeto/objetivo de tal
o que o homem é resultado do processo
atividade
se
histórico
de
transformando no motivo da mesma.
relações
humanas,
Para a aprendizagem significativa, o
caracterizadas pela transformação da
professor deve buscar o interesse da
sociedade
em
consonância
criança para tal atividade, ao passo que
transição
de
sistemas
esta se conforme como uma necessidade
determinados, pode-se dizer que a
a ser satisfeita: talvez este seja o maior
criança, ao modificar suas relações
desafio para a educação escolar.
sociais segundo a contração de relações
é
que
a
orienta
desenvolvimento
sendo
das
estas
com
a
econômicos
sócio-afetivas que realiza se integrando a
novos sistemas sociais de organização da
25
vida, transforma seu psiquismo e é nesta
possui
transformação que se encontram os
dependência dos adultos. Nesse sentido,
liames
o desenvolvimento humano não toma a
entre
um
estádio
de
desenvolvimento e outro.
Sendo
transição
assim,
de
o
uma
estrita
e
inalienável
mesma forma que o desenvolvimento
processo
de
animal,
etapa
do
organismo-meio,
uma
sustentado
na
mas
estriba-se
desenvolvimento a outra não costuma ser
diretamente
brando, mas marcado por contradições
homens históricos, que travam a luta
indissolúveis, nas quais as crianças
coletiva pela sobrevivência de acordo
experimentam sensações de dor e prazer,
com
aceitação e rejeição, sucesso e derrota,
alcançado
inclusão e exclusão, etc. Além disso, na
produtivas. Isto quer dizer que o
passagem da pré-escola à escola, a
processo educativo deve ser conduzido
criança, como dissemos, amplia o círculo
pelos
de suas relações sociais, sobretudo no
possível, não o deixando ao bel-prazer
que se refere ao aumento do número de
do que a criança quer ou não quer fazer
professores e de exigências escolares
absolutamente.
antes nunca experimentadas. Estas novas
formas
de
relações
sociais
agora
o
nas
relação
nível
até
adultos
relações
de
os
desenvolvimento
então
da
entre
pelas
melhor
forças
maneira
Entende-se que a melhor maneira
possível de se conduzir o processo
experimentadas pela criança repercutem
educativo seja
na construção de certas capacidades
condições
culturais, sem as quais as inter-relações
favoreçam o desenvolvimento positivo
mais complexas entre os homens se
das necessidades sociais nas crianças.
entravariam.
Mas para prever as múltiplas condições e
Sabe-se da existência de uma série
e
prever
as
múltiplas
circunstâncias
que
circunstâncias nas quais se transcorrem
de referenciais teóricos que priorizam a
da
ação individual e “livre” da criança na
desenvolvimento da criança, deve-se
construção do seu próprio conhecimento
conhecer o modo como se engendra o
e, por conseguinte, na direção de seu
processo de desenvolvimento humano,
próprio
bem
desenvolvimento.
A
teoria
melhor
como
maneira
reconhecer
possível
os
o
objetos
Histórico-Cultural compreende que este
culturais pelos quais, através de sua
modo de procedimento educativo pode
apropriação, seja dada à criança a
ser nocivo à própria criança, pois se
possibilidade da emancipação de si
entende que o seu desenvolvimento
mesma e da sociedade.
26
Por
fim,
concordamos
com
Leontiev (1978) quando o mesmo diz
que o processo educativo, do início ao
fim, deve ser racionalmente controlado,
de modo que na passagem de uma etapa
de desenvolvimento à outra a criança
possa
estabelecer
uma
transição
satisfatória, tendo-se em vista a geração
da necessidade social que garanta o
desenvolvimento da atividade principal,
orientando assim o aprimoramento das
funções psicológicas superiores. No que
se refere à transição da atividade lúdica à
atividade de estudo, esta deve ser
realizada com a interferência de um
adulto que, através do diálogo e do
ensino, crie a necessidade de estudar na
criança, sem excluir completamente a
atividade lúdica, mas colocando-a em
seu devido lugar. Portanto, há que se
reforçar a formação do professor no que
se refere à compreensão dos processos
de desenvolvimento e formação da
personalidade humana.
REFERÊNCIAS
ELKONIN, D. B. Psicologia do Jogo.
São Paulo: Martin Fontes, 1998.
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento
do psiquismo. Tradutor: Manuel Dias
Duarte. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.
VIGOTSKI, L. S. A brincadeira e o seu
papel no desenvolvimento psíquico da
criança. In: Revista Virtual de Gestão
de Iniciativas Sociais. ISSN: 1808-6535
Publicada em Junho de 2008, Tradução
de Zoia Prestes.
VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.;
LEONTIEV, A. N. Linguagem,
desenvolvimento e aprendizagem. 10.
ed. São Paulo, SP: Ícone, 2006.
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A transição da pré-escola à escola: a mudança da