OS DETERMINANTES DA ALOCAÇÃO DA PRODUÇÃO DE UVAS FRESCAS DO
BRASIL: UMA ABORDAGEM BASEADA NO MODELO GRAVITACIONAL
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APRESENTACAO ORAL-Comércio Internacional
HENRIQUE VERAS DE PAIVA FONSECA; LEONARDO FERRAZ XAVIER;
ECIO DE FARIAS COSTA.
PIMES/UFPE, RECIFE - PE - BRASIL.
OS DETERMINANTES DA ALOCAÇÃO DA PRODUÇÃO DE UVAS
FRESCAS DO BRASIL: UMA ABORDAGEM BASEADA NO
MODELO GRAVITACIONAL
Grupo de Pesquisa: COMÉRCIO INTERNACIONAL
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar as vantagens e as barreiras (tarifárias ou nãotarifárias) em relação ao mercado mundial em detrimento do mercado interno, observando
mais especificamente o caso da viticultura brasileira. Esta abordagem é realizada à luz da
Teoria do Comércio Internacional, utilizando uma estimação baseada no modelo
gravitacional como ferramenta de análise a fim de estabelecer uma relação capaz de
explicar de maneira confiável estatisticamente as exportações de uvas frescas do Brasil.
Segundo a tradicional literatura acerca deste modelo, as transações comerciais entre países
dependem da distância geográfica entre estes e da renda do país importador. No caso da
viticultura brasileira, além destes fatores, assumiu-se que dependem também do PIB per
capita interno, do e da taxa de câmbio entre o Real (R$) e o Dólar (US$). As estimativas
apontaram uma relação negativa entre as exportações de uvas frescas e a distância do
Brasil em relação ao país importador. Contrariamente, existe uma relação positiva entre
estas exportações e a interação entre o PIB per capita do país importador e o PIB per
capita interno, bem como é positiva a relação com a taxa de câmbio.
Palavras-chaves: Comércio Internacional – Modelo Gravitacional – Uvas Frescas
DETERMINANTS OF THE ALLOCATION OF PRODUCTION OF
FRESH GRAPES IN BRAZIL: AN APPROACH BASED ON THE
GRAVITY MODEL
Abstract
This article aims to present the benefits and barriers (tariff or non-tariff) on the world
market to the detriment of the domestic market, noting in particular the case of Brazilian
viticulture. This is done in light of the Theory of International Trade, using an estimation
of the gravity model as a tool of analysis to establish a relationship capable of explaining
statistically reliable way of exports of fresh grapes from Brazil. According to the
traditional literature about this model, the trade between countries depends on the distance
between them and the income of the importing country. In the case of Brazilian viticulture,
1
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
besides these factors, we have assumed that also depend on GDP per capita of procedure,
and the exchange rate between the Real (R $) and Dollars (U.S. $). Estimatives showed a
negative relationship between exports of fresh grapes and distance from Brazil to the
importing country. In contrast, a positive relationship between exports and the interaction
between GDP per capita of the importing country and GDP per capita and the exchange
rate.
Key Words: Internacional Trade – Gravitational Model – Fresh Grapes
1. INTRODUÇÃO
A Teoria Econômica indica que benefícios mútuos podem ser verificados quando
países realizam trocas de mercadorias e serviços entre si. Tal afirmação tem sido objeto de
concordância entre a grande maioria dos economistas através dos anos. Vários modelos
desenvolvidos baseados na Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo
constatam que a abertura comercial fornece às economias de mercado maior variedade de
bens e serviços disponíveis do que em economias fechadas. Ou seja, o bem-estar social, em
termos macroeconômicos, é tão maior quanto maior for o “grau de abertura” da economia
de determinado país.
Entretanto, alguns pontos relevantes devem ser considerados ao tratar-se da estrutura
interna dos países quando estes comercializam bens e serviços com o resto do mundo.
Primeiramente, o comércio internacional poderá causar uma redistribuição da renda entre
os residentes, normalmente favorecendo os setores exportadores em detrimento dos que
produzem bens concorrentes com os que são importados. Na medida em que o país
especializa-se na produção de determinados produtos, este deverá buscar no mercado
internacional aqueles bens e serviços que deixarão de ser produzidos devido à alocação dos
recursos para a produção daqueles em que o país possui vantagem em sua produção.
Desta forma, há uma tendência para que países com elevado grau de abertura passem a
tornar-se vulneráveis em relação a choques externos, ou seja, caso exista uma queda na
demanda externa, os países cujas economias encontram-se mais “abertas” estarão sujeitos a
maiores quedas na produção interna do que aqueles em que o mercado interno possui
maior destaque na demanda pelos bens e serviços produzidos internamente.
Além dos fatores distorcivos internos gerados pelo comércio internacional, em
diversos casos, algumas barreiras podem restringir ou até mesmo tornar inviável a
realização de transações. Custos de transporte relevante, devido à distância física, tarifas
ou cotas de importação objetivando beneficiar os produtores internos e exigências na
qualidade dos produtos por parte dos países importadores, dentre outros, são fatores que
influenciam negativamente a realização do comércio internacional. Adiciona-se a isto o
fato de alguns produtos e serviços possuírem características próprias que impossibilitam o
comércio entre diferentes países.
A atividade agrícola, por apresentar certos aspectos que a tornam diferente em relação
às demais – tais como maior risco e elevado grau de perecibilidade dos produtos –
necessita determinados cuidados em seu processo. Quando se trata do mercado de frutas,
em particular, e para efeito deste trabalho, uvas frescas, o último aspecto merece especial
atenção devido aos elevados custos que incorrem os produtores no período pós-colheita.
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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tais custos podem ser de tamanha magnitude de maneira que inviabilize o comércio destes
produtos. O comércio internacional de uvas frescas, portanto, é potencialmente restringido
pelo considerável custo de transporte relativo à atividade.
Por outro lado, as frutas frescas são consideradas alimentos com alto valor nutricional
e imprescindível para a saúde, de maneira que tais características as tornam relativamente
inelásticas à renda. Adiciona-se a isso o fato de que as condições naturais de alguns países
impossibilitam a cultura destes artigos em seu território. Sendo assim, a única saída para
estes é importar de países cujas características de clima e do solo favorecem a produção
frutícola. Desta forma, espera-se que a renda dos países influencie positivamente as
importações.
No Brasil, a fruticultura possui elevado grau de produtividade, proporcionando uma
vantagem absoluta em relação a alguns países. Entretanto, quando o foco de análise
estende-se ao comércio mundial de tais produtos, observa-se a fragilidade da atividade
exportadora brasileira. Paradoxalmente, apesar de estar entre os três principais produtores
de frutas frescas, atualmente, o Brasil tem apenas 1,6% de participação no comércio
internacional, demonstrando, a princípio, o potencial exportador a ser explorado (Oliveira
Filho, Costa e Xavier, 2008).
Dada a possibilidade de expansão da oferta a nível internacional, cabe indagar se seria
vantajoso alocar parte da produção ao mercado externo ou, alternativamente, suprir a
carência interna, dadas as vantagens e desvantagens do comércio internacional, segundo a
tradicional literatura econômica sobre o assunto. Levando isso em consideração, uma
análise acerca dos fatores favoráveis e restritivos à alocação da produção, visando o
mercado externo em detrimento do mercado interno, será de fundamental importância para
a decisão, por parte dos produtores, de guiarem suas ações, através da coordenação das
atividades, de maneira que possam alocar eficazmente a oferta de uvas frescas nos
diferentes mercados. Além disso, fornecerá subsídio para a otimização de ações públicas
voltadas à expansão e aumento da produtividade dos produtores no Polo exportador
localizado no Vale do São Francisco, principal responsável pelas exportações de uvas
frescas.
Este trabalho teve como objetivo abordar a Teoria do Comércio Internacional no que
concernem as vantagens e as barreiras (tarifárias ou não-tarifárias) no acesso ao mercado
mundial em detrimento do mercado interno, observando mais especificamente o caso da
viticultura brasileira. Para tanto, utilizou-se do modelo gravitacional para estimar os fatores
que influenciam as exportações destes produtos.
A escolha do modelo explica-se pelo fato de se esperar que as exportações dependam
fundamentalmente da renda dos países importadores e dos custos de transporte associados
às exportações, como destacado anteriormente. Foi realizada, mais especificamente, uma
análise acerca das vantagens e fatores restritivos à alocação da produção de uvas no
mercado internacional, de tal forma que estes fatores influenciem de maneira oposta o
comércio interno.
A escolha de uvas frescas como objeto de estudo pode ser explicada pelo fato de este
produto possuir características semelhantes às demais frutas tropicais de acordo com o
sentido exposto anteriormente, tais como elevado grau de perecibilidade, custos de
transporte, baixa elasticidade na demanda e produção, dentre outros, de maneira que as
conclusões acerca dos resultados obtidos poderão, sem perda de credibilidade, ser
3
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Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
estendidos às demais frutas tropicais produzidas internamente. Além disso, trata-se de um
artigo de extrema relevância na cesta média do consumidor, bem como na pauta de
exportações do Brasil.
O presente artigo está dividido em cinco seções, contando com esta introdução. A
seção seguinte apresenta uma revisão da literatura acerca do tema tratado ao longo do
trabalho, destacando a importância do comércio entre países, os efeitos de políticas
comerciais e seus instrumentos, além de descrever brevemente a estrutura do mercado
mundial de frutas em geral e de uvas frescas. Outro ponto importante desta seção é o
cenário desta atividade no Brasil, com ênfaze na fruticultura irrigada no Vale do São
Francisco, o qual representa o maior Polo exportador de uvas frescas do país.
Em seguida, é abordada a questão metodológica, reunindo informações relevantes
acerca do modelo gravitacional, com exemplos de trabalhos desenvolvidos utilizando esta
abordagem, além de estabelecer as variáveis utilizadas bem como a origem e tratamento
dos dados utilizados. O quarto capítulo trata da análise dos dados gerados pelo modelo,
apresentando os resultados obtidos, além de discussões pertinentes ao tema abordado à luz
da teoria do Comércio Internacional, visando observar a validade da hipótese de que a
alocação da produção de uvas frescas é definida pelos parâmetros estabelecidos. Na ultima
seção foram feitas algumas considerações finais.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Teoria do Comércio Internacional
David Ricardo enunciou a Teoria das Vantagens Comparativas para explicar a
relação de comércio entre países distintos (Krugman e Obstfeld, 2005). De acordo com
esta teoria, cada país deveria especializar-se na produção de bens os quais possuam menor
Custo de Oportunidade em relação aos demais bens que possam ser objetos de produção, e
não, como se costuma pensar, o custo de produção relativo deste bem entre os diferentes
países. De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), apesar de ser apresentada de forma
bastante simplificada e abstrata, esta teoria fornece um ponto de referência crucial para o
entendimento do funcionamento das relações comerciais internacionais.
A partir de então, o surgimento de novas teorias mais complexas e sofisticadas, em
termos de observações empíricas, forneceram suporte para o entendimento do padrão de
comércio internacional. O Modelo de Fatores Específicos, desenvolvido por Paul
Samuelson e Ronald Jones1, por exemplo, incorpora a distribuição de renda em sua análise.
Outro modelo amplamente aceito entre os economistas enfatiza a inter-relação entre
as proporções em que os fatores de produção estão disponíveis entre os países e a
proporção em que estes são utilizados na produção de diferentes bens. Este modelo é
comumente conhecido como Modelo de Heckscher-Ohlin2, por ter sido desenvolvido por
dois economistas suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin (Krugman e Obstfeld, 2005).
Entretanto, esta área da ciência econômica ainda é um tema bastante controverso
entre os especialistas, ensejando debates, novas abordagens e questionamentos acerca do
assunto. Outro tema cujas opiniões dos economistas são extremamente divergentes está
1
2
Para maiores detalhes ver Samuelson (1971) e Jones (1971).
Para maiores detalhes ver Ohlin (1993).
4
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Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
centrado no aspecto da política econômica adotada pelos países em relação ao comércio
internacional. Visto que os países realizam trocas entre si, surge, consequentemente, o
questionamento de que estes países poderiam estar em melhor situação caso não
realizassem trocas. Ou seja, deve-se ter em conta se o bem-estar econômico de um país
torna-se maior quando este pratica uma política de livre comércio.
As nações possuem certos instrumentos os quais são utilizados a fim de atingir os
objetivos de suas políticas comerciais. Dentre eles, a tarifa imposta às importações é o
mecanismo mais utilizado para proteger os produtores domésticos da concorrência externa.
Outros instrumentos de política comercial também são utilizados para fins diversos, tais
como subsídios à exportação, cotas de importação e restrições voluntárias à exportação
(RVE) 3.
Alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo, criaram barreiras
à importação de vários bens para fomentar o desenvolvimento das indústrias nascentes
entre as décadas de 1930 e 1980. Este tipo de desenvolvimento denominado
Industrialização via Substituição de Importações visa proteger as empresas nacionais da
competição externa em relação aos bens produzidos internamente.
Apesar de serem necessárias em determinados momentos, as barreiras ao comércio
geram distorções dos termos de troca entre as nações, tornando o sistema econômico
amplamente ineficiente. Além disso, grande parte dos economistas advoga em favor do
livre comércio por acreditarem que as políticas comerciais são mais influenciadas por
interesses particulares do que pelas considerações de custos e benefícios no âmbito
nacional. Segundo eles, grupos representantes de determinados setores podem interferir nas
decisões da política comercial ótima devido a prestígios políticos, desvirtuando o principal
objetivo de tais medidas (Krugman e Obstfeld, 2005).
Nos dias atuais, entretanto, a grande maioria dos países se beneficiam destes
instrumentos, diferindo entre eles apenas em relação ao grau de utilização dos diversos
mecanismos capazes de interferir no livre comércio. Além das barreiras tarifárias citadas
anteriormente, existem algumas barreiras não-tarifárias impostas pelos países
importadores, as quais impedem a livre circulação de mercadorias. Um exemplo claro são
as restrições em relação à qualidade dos produtos importados. Alguns países exigem
certificados internacionais de qualidade, os quais atestam a obtenção de certos padrões dos
produtos importados. No caso das commodities agrícolas, existe uma enorme dificuldade
de acesso a alguns mercados, por parte de países potencialmente exportadores devido à
necessidade de adequar o padrão de produção aos parâmetros estabelecidos pelos
certificados.
2.2. O Brasil e o Mercado Mundial de Frutas
A produção de frutas tropicais é uma atividade agropecuária em ampla expansão no
cenário internacional. De acordo com dados da Food Agricultural Organization (FAO,
2009), serão produzidos, em 2010, 62 milhões de toneladas de manga, ananás, mamão e
abacate, sendo estas, respectivamente, as principais frutas produzidas mundialmente.
Correspondem a 75% da produção total da fruticultura tropical.
3
Também conhecida como acordo de restrição voluntária (ARV), define-se como uma cota sobre o comércio
imposta pelo país exportador, contrariamente à cota de importação.
5
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Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Os países em desenvolvimento respondem por aproximadamente 98% da produção
de frutas tropicais e apenas 2% da produção é atribuída aos países desenvolvidos; porém,
80% da importação destes produtos correspondem aos últimos (FAO, 2009).
A Ásia e a região do Pacífico são as áreas de maior produção, aproximadamente
56% do total de frutas tropicais produzidas; a América Latina e Caribe produzem 32% e a
África, 11%; os Estados Unidos, Europa e a Oceania, juntos, são responsáveis pelo cultivo
de apenas 1% da fruticultura mundial. As estimativas apontam um maior crescimento na
produção de frutas na América Latina em relação às demais localidades. O recente
crescimento mundial provém, principalmente, da ampliação das áreas plantadas com a
finalidade de exportação (FAO, 2009).
Em relação à demanda por importações, a Comunidade Européia é considerado o
principal importador de frutas frescas, destacando-se a França como maior mercado
consumidor e a Holanda pelo serviço de escoamento dos produtos aos demais
consumidores. Estados Unidos, Japão, Canadá e China são outros países importadores de
papel relevante no comércio destes produtos. Estima-se que as importações obtenham um
relevante crescimento devido à tendência de aumento do nível de renda global, aliado à
mudança de hábito de consumo, no qual há uma maior constatação da importância do
consumo de alimentos saudáveis. Ananás é o principal produto importado, contudo a
manga obteve o mais elevado crescimento nos anos recentes (FAO, 2009).
Gayet (1999) dividiu o mercado mundial de frutas em quatro principais grupos:
•
•
•
•
Mercados de proximidade: Neste segmento encontra-se o comércio entre os países
do hemisfério sul durante o período de safra de suas culturas. Corresponde a 46%
do comércio mundial de frutas. Um exemplo de mercado de proximidade é a
exportação de frutas espanholas para o resto da Europa. Ou ainda, as exportações
de morango e melancia do Rio Grande do Sul para a Argentina;
Mercados de contra-estação: São os mercados nos quais há a procura, por parte de
países do Hemisfério Norte no período de suas entressafras, por frutas do
Hemisfério Sul. Caracteriza-se pela necessidade de longo tempo de conservação,
possibilitando o transporte para lugares distantes. Aproximadamente 10% do
comércio mundial de frutas é realizado pelos mercados de contra-estação;
Mercado da banana: Este produto responde sozinho, por 37% do volume de frutas
transacionadas no mercado internacional. Por isto, ganha destaque na classificação
dos mercados de frutas;
Mercado de outras frutas tropicais: Neste mercado são comercializados os demais
tipos de frutas, sem grande destaque no cenário internacional, correspondendo a 7%
do volume mundial.
Os preços de produtos agrícolas, em geral, possuem certas particularidades que os
tornam sujeitos a choques exógenos ao sistema produtivo, como as variações climáticas ou
as características biológicas do produto. Numa visão mais específica, a fruticultura também
possui tais peculiaridades: a oferta apresenta comportamento predominantemente sazonal e
a demanda caracteriza-se por sua inelasticidade, dada a participação relativamente
constante dos alimentos numa cesta de consumo média.
6
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Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Recentemente, os preços médios das frutas tropicais no mercado mundial vêm
apresentando uma tendência de queda, devido principalmente ao aumento considerável na
oferta destes produtos. Este aumento de produção pode ser relacionado às recentes
inovações no setor agropecuário, como novas técnicas de manipulação das colheitas
através da mecanização da atividade.
A volatilidade dos preços pode ser explicada, no curto prazo, pela relativa
inelasticidade da oferta em relação à demanda. As áreas cultivadas possuem uma
capacidade de produção relativamente constante e, dependendo da atividade, pode-se levar
um período bastante longo entre o plantio e a colheita. No que concerne à competitividade
entre as empresas produtoras, a distância do local de produção para o mercado consumidor
e o processo de empacotamento dos produtos são alguns dos fatores que determinam a
quantidade a ser produzida de determinado fruto.
Desde 1999, o Brasil apresenta superávit na balança comercial em relação ao
comércio de frutas. Mesmo com uma taxa de câmbio desfavorável, o país atingiu em 2007,
um incremento de 45% nas vendas no exterior, em relação ao ano de 2006. As frutas
frescas responderam por US$ 642 milhões, 34% a mais que o ano anterior (MDIC, 2009).
Conforme Nachreiner, Santos e Boteon (2002), as exportações de frutas frescas
nacionais, entretanto, restringem-se primordialmente às janelas de mercado provenientes
dos períodos de entressafra agrícola ou fatores exógenos que contribuam para a escassez de
oferta destes artigos nos principais países fornecedores ao mercado internacional.
Ainda segundo Nachreiner, Santos e Boteon (2002), as condições climáticas e de
solo de algumas terras brasileiras, por exemplo, proporcionam mais de uma safra ao ano
para a cultura da uva. Como o Chile é o principal exportador deste produto ao continente
americano, o Brasil beneficia-se do período entre o plantio e a colheita da uva chilena para
atingir o exigente mercado norte-americano, podendo tirar proveito do momento em que o
preço internacional encontra-se, teoricamente, mais alto. Da mesma forma, os exportadores
brasileiros procuram adequar-se ao calendário das exportações anuais dos principais
fornecedores mundiais de frutas frescas, tais como México, principal exportador de manga
para os Estados Unidos, e África do Sul, exportador de manga para a União Européia.
Em relação à produção mundial de uvas frescas, artigo objeto de estudo neste
trabalho, esta atingiu cerca de 570 milhões de toneladas no ano de 2005, sendo Itália,
Estados Unidos, França, China e Espanha os maiores produtores para o mesmo ano (FAO,
2009). O Brasil apareceu em 13º lugar no ranking da produção vitícola mundial, conforme
apresentado na tabela a seguir.
Tabela 2.1 Produção mundial de uvas frescas (mil toneladas).
Ranking
1º
2º
3º
4º
5º
6º
País
2000
2002
2005
Itália
Estados Unidos
França
China
Espanha
Turquia
8.870
6.974
7.763
3.373
6.540
3.600
7.394
6.658
6.853
4.564
5.935
3.500
8.554
7.099
6.793
6.616
6.067
3.650
7
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Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
7º
8º
9º
10º
13°
Outros
Total
Irã
Argentina
Chile
Austrália
Brasil
2.505
2.460
1.900
1.311
1.024
518.723
555.043
2.704
2.360
1.750
1.754
1.149
556.902
601.523
2.800
2.708
2.250
2.027
1.247
521.332
569.143
Fonte: FAO (2009).
Uma característica observada nos dados da tabela acima é a relativa estabilidade na
quantidade produzida mundialmente durante os períodos observados. De fato, a produção
frutícola, bem como a atividade agrícola em geral, apresenta relativa rigidez em relação a
variações da renda ao longo do tempo.
Apesar de apresentar um potencial produtivo ainda a ser explorado, a produção de
uvas no Brasil vem crescendo de maneira satisfatória ao longo dos últimos anos. Há
indícios de que este crescimento da produção deve-se, primordialmente, ao aumento da
produtividade da atividade no Brasil. Em 2007, a produção de uvas cresceu cerca de 9%
em relação ao ano de 2006, enquanto que a área colhida (em hectares) cresceu apenas 3%
para o mesmo período, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA, 2009).
A Figura 2.1 demonstra a evolução da produtividade das lavouras de uvas frescas
durante o período que compreende os anos de 2000 a 2007, conforme os resultados de
crescimento ou queda da área colhida (em hectares) e da produção de uvas (em toneladas)
com relação ao ano anterior. Observa-se o crescimento equilibrado e leve, no período em
análise, da área colhida. Entretanto, apesar do comportamento mais instável com relação à
produção, verifica-se o incremento da produtividade no horizonte de tempo. Vale salientar
que o ano de 2004 destaca-se por apresentar o maior crescimento relativo em relação ao
ano anterior. Vale destacar ainda que, a partir de 2005, a quantidade produzida de uvas
frescas apresenta uma trajetória ascendente, corroborando com o argumento do aumento da
produção de uvas no Brasil ter-se devido, principalmente, à maior produtividade adquirida
pelos produtores na atividade em questão.
8
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Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
1,3
1,3
1,2
1,2
1,1
1,1
1
1
0,9
0,9
0,8
0,8
2000
2001
2002
2003
Á rea Co lhida (Hectares)
2004
2005
2006
2007
P ro dução (To neladas)
Fonte: IPEA (2009).
Figura 2.1 Evolução da área colhida e da produção de uvas no Brasil.
Com relação à inserção da uva brasileira no exterior, cabe destacar o papel do Polo
Petrolina-Juazeiro, localizado no submédio do Vale do Rio São Francisco. Em 2007, de
acordo com dados do IPEA (2009), o mesmo respondeu por 39% da produção brasileira de
uvas frescas. A tabela abaixo apresenta o valor da produção total do artigo no Brasil e
aquela referente à região entre os anos de 1999 e 2007. Os dados são apresentados a preços
constantes em relação ao ano-base 2000.
Tabela 2.2 Produção de uvas (R$, 2000).
Valor da Produção
Valor da Produção no Vale do
Ano
Nacional (A)
São Francisco (B)
2007
972.224,86
383.507,22
2006
980.594,10
379.741,45
2005
937.621,29
329.849,06
2004
930.520,44
274.076,36
2003
851.457,48
225.989,33
2002
831.384,66
227.974,11
2001
1.071.621,96
159.130,99
2000
717.515,35
144.552,47
1999
741.236,21
147.518,85
B/A (%)
39%
39%
35%
29%
27%
27%
15%
20%
20%
Fonte: IPEA (2009).
Apesar de o país apresentar outras regiões produtoras importantes, o Vale do São
Francisco torna-se de fundamental relevância quando o assunto é o destino desta produção,
pois, para se ter ideia, 99% das exportações brasileiras de uvas frescas, em 2007, foram
realizadas pelos Estados de Pernambuco e Bahia, donde a grande maioria, senão a
totalidade destas, teve origem no Vale do São Francisco (MDIC, 2009). Deduz-se,
portanto, através da Tabela 2.2, que a produção de uvas frescas não realizadas no Vale do
São Francisco destina-se, principalmente, a satisfazer o mercado interno.
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Dada a origem das exportações de uvas frescas brasileiras, cabe também apresentar
o destino destas, isto é, destacar os principais países importadores do produto. Para se ter
uma visão geral do padrão de comércio entre o Brasil e o exterior, a Tabela 2.3 elucida esta
questão, apresentando os principais parceiros do Brasil no que concerne o comércio de
uvas frescas.
Tabela 2.3 Destino das exportações brasileiras de uvas frescas (2007).
Valor das Exportações de
Participação na Pauta
País
Uvas Frescas (US$ FOB)
Brasileira
Alemanha
5.191.457,00
3,06%
Argentina
844.050,00
0,50%
Bélgica
5.389.340,00
3,18%
Canadá
3.993.012,00
2,35%
Espanha
102.057,00
0,06%
Estados Unidos
23.236.784,00
13,69%
França
11.669,00
0,01%
Irlanda
823.212,00
0,49%
Itália
303.669,00
0,185%
Lituânia
278.716,00
0,16%
Noruega
5.462.796,00
3,22%
Países Baixos
80.976.901,00
47,72%
Portugal
54.113,00
0,03%
Reino Unido
41.153.226,00
24,25%
Rússia
1.045.637,00
0,62%
Suécia
531.390,00
0,31%
Uruguai
37.430,00
0,02%
169.696.455,00
100,00%
Total
Fonte: MDIC (2009).
Observa-se, portanto, que os países que se destacam em relação à participação no
total de frutas exportadas pelo Brasil são, em ordem decrescente, Países Baixos, Reino
Unido e Estados Unidos. Vale ressaltar o fato de o primeiro país possuir como função o
escoamento do produto para grande parte dos países do continente europeu devido à
grande importância e eficiência do sistema logístico do país, destacando-se o Porto de
Amsterdã como principal acesso das importações realizadas pela Comunidade Europeia.
Desta forma, explica-se o elevado grau de participação deste país nas exportações
de uvas frescas brasileiras. Este aspecto ganha maior relevância na medida em que a via
marítima torna-se a mais viável, ou, em outras palavras, a menos custosa para o transporte
das uvas para seu destino.
Além disso, as vias aérea e rodoviária, apesar de menos importantes, também são
utilizadas para o transporte da produção visando o mercado externo. De acordo com dados
do MDIC, 99,04% das exportações de uvas foram realizadas pela via marítima em 2007,
10
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enquanto que os transportes aéreos e rodoviários responderam por 0,19% e 0,40%,
respectivamente (MDIC, 2009).
Dada a grande importância do Vale do São Francisco em relação às exportações de
uvas e frutas frescas em geral, como destacado anteriormente, o tópico seguinte apresenta
um quadro da atividade no local, destacando algumas características importantes, bem
como os acontecimentos que levaram ao surgimento do Polo exportador localizado na
região.
2.3. A Fruticultura Irrigada no Vale do São Francisco
A atividade agrícola no Vale do São Francisco, até o início da década de 1970,
baseava-se predominantemente em culturas de ciclos curtos e de sequeiro, cujas
produtividades eram bastante incipientes e de baixo valor agregado. Com o objetivo de
aumentar a renda da região, gerando novos empregos e, conseqüentemente, melhorando as
condições de vida da população rural do Nordeste brasileiro, a Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) com o apoio do Governo
Federal, através de investimentos realizados em grandes projetos de irrigação, modificou
por completo as características da agricultura na região. Segundo Lima e Miranda (2001), a
área de exploração na região aumentou cerca de 286% entre os anos 1970 e 1990, com a
implantação dos projetos de irrigação. Atividades com maior valor agregado, as quais
requerem a utilização de insumos modernos e maior capacitação da mão-de-obra para a
adoção de práticas de irrigação adequadas e racionais no processo produtivo, passaram a
ser desenvolvidas visando atender à demanda dos grandes centros urbanos e também à
demanda internacional.
Os produtos que obtiveram maior destaque neste cenário, principalmente após a
década de 1990, foram a uva e a manga, cujas qualidades são reconhecidas mundialmente.
De acordo com dados da CODEVASF (2009), o Polo Petrolina-Juazeiro possui cerca de
120 mil hectares destinados à atividade agrícola. A produção de frutas destaca-se como a
predominante dentre as culturas na região. Uva, manga, coco verde, goiaba e maracujá são
as frutas mais cultivadas, sendo cerca de 60% da área destinada apenas à produção de uva
e manga, segundo dados da instituição.
Ainda de acordo com a CODEVASF (2009), cerca de um milhão de toneladas de
frutas são produzidas por ano. Estes produtos destinam-se basicamente ao mercado interno,
mais especificamente à região centro-sul do país. Entretanto, aproximadamente 30% da
produção do Polo destina-se ao mercado externo, representando quase metade do total das
exportações de frutas tropicais brasileiras.
Para elevar suas receitas, com maiores produtividades e reduções de custos, grande
parte dos produtores locais uniu-se, criando uma entidade de direito privado, a
VALEXPORT, reunindo 35 sócios exportadores de manga e uva. Atualmente, respondem
por 70% da produção e 80% das exportações do Pólo (VALEXPORT, 2009).
A VALEXPORT foi criada em 1988 com a finalidade de representar os
empresários locais, contribuindo para a inserção dos produtos em novos mercados,
incentivando o aumento das vendas, principalmente para o mercado externo, e o
crescimento e modernização do processo produtivo local. De acordo com esta entidade, o
processo produtivo e de comercialização é financiado basicamente através de recursos dos
11
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próprios produtores e de terceiros, principalmente bancos oficiais, compradores de
produtos (especialmente os importadores) e fornecedores de insumos agrícolas.
A fruticultura irrigada no Polo Petrolina-Juazeiro é caracterizada por possuir uma
grande quantidade de produtores, sendo um pequeno percentual destes, em sua maioria
empresas de grande porte, capacitados para exportar seus produtos. Uma série de fatores
restringe maior exportação por parte destes produtores. Segundo Gayet (1999), a falta de
incentivo seria uma potencial causa do modesto desempenho das exportações neste setor.
Ou seja, há um extenso mercado interno, pouco exigente e lucrativo. Variações
desfavoráveis nos preços internacionais podem ser apontadas como outro fator responsável
pela restrição das exportações de frutas. Porém, a principal variável causadora deste
fenômeno é a incapacidade dos produtores em atender às exigências internacionais quanto
à qualidade do produto e quanto a aspectos fitossanitários. A falta de mão-de-obra
qualificada e, dentre outros, a realização do processo produtivo de forma adequada podem
ser apontados como os motivos da falta de acesso ao mercado externo. Desta forma, as
iniciativas privadas da região, em parceria com o setor público, vêm agindo no sentido de
habilitar o produtor rural a obter a certificação internacional, na busca de atender os
padrões estabelecidos pelos consumidores externos.
O European Retailers Produce Working Group – Good Agricultural Practices
(Eurepgap) e o Tesco Natural Choice (TNC) são os certificados internacionais buscados
pelos produtores para o aumento das exportações e aceitação dos produtos no mercado
mundial. Para tanto, o Polo utiliza o modelo exportador conhecido como Marketing Board,
no qual o Estado centraliza as exportações, atuando como marca única e detendo o controle
monopolístico da comercialização. Este modelo também é utilizado em países como a
Nova Zelândia e África do Sul. No caso do Vale do São Francisco, a VALEXPORT
assume um papel essencial inserido neste modelo ao garantir os benefícios das políticas
públicas adotadas na região, a partir de sua atuação, representando os produtores da região,
junto ao Governo. Ainda não é considerável a participação de empresas multinacionais da
cadeia produtiva global neste cenário, como acontece com a produção de banana em
diversos polos periféricos e como recentemente vem ocorrendo com a produção de frutas
no Chile.
A Produção Integrada de Frutas (PIF) e a implementação na produção do chamado
Boas Práticas Agrícolas (BPAs) favorecem a padronização dos processos produtivos, de
maneira a garantir a qualidade dos produtos com o objetivo de atender às exigências
internacionais. Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (INMETRO; 2009), a adoção da PIF irá inserir definitivamente a fruta brasileira
no mercado mundial. Estimativas apontam uma redução de aproximadamente 40% dos
custos operacionais dos produtores que adotarem a produção de frutas de maneira
integrada.
As políticas públicas podem atuar no sentido de incentivar a competitividade
internacional, através de diminuição de tarifas ou qualquer tipo de barreira ao comércio
entre os países. Isenções de impostos estimulam a introdução de novas empresas no
mercado, aumentando a produção global.
Várias nações importadoras de frutas tropicais impõem certas restrições quanto à
qualidade destas. Ou seja, para que cada fruticultor possa exportar seu produto, este deverá
atender a uma série de exigências quanto ao uso de agrotóxicos, tipo de embalagem e até
12
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mesmo quanto à utilização de trabalho infantil na produção. As exigências variam entre os
países importadores, sendo alguns mais rigorosos que outros. No caso da fruticultura
irrigada no Nordeste brasileiro, o Governo Federal estimula através de várias medidas,
como a difusão de novas tecnologias entre os produtores, a obtenção de certificados
internacionais de qualidade, possibilitando a exportação de frutas.
3. METODOLOGIA
3.1. O modelo Gravitacional
O modelo gravitacional vem sendo bastante difundido em vários trabalhos
relacionados a comércio internacional. Sua aplicabilidade deriva da física e baseia-se na
premissa de que “quanto maior a renda e a população de um parceiro comercial e quanto
menor a distância em relação a ele, maior o montante de comércio entre duas nações. Uma
das principais razões para a difusão desse procedimento [...] é o bom ajuste que ele tem
proporcionado em muitos trabalhos empíricos” (Da Mata e Freitas, 2008, p.265).
Bergstrand (1985) descreve o modelo gravitacional teórico para representar uma
situação de equilíbrio geral do comércio internacional, apresentado algumas evidências
empíricas, as quais fornecessem suporte para o modelo geral teórico em resposta a vários
artigos que refutavam a boa aderência do modelo gravitacional para explicar o fluxo de
mercadoria entre os países. A partir da constatação do ajuste aos dados que a equação
gravitacional proporciona, o autor afirma que:
The "gravity equation" has been long recognized for its consistent
empirical success in explaining many different types of flows, such as
migration, commuting, tourism, and commodity shipping. Typically, the loglinear equation specifies that a flow from origin i to destination j can be
explained by economic forces at the flow's origin, economic forces at the
flow's destination, and economic forces either aiding or resisting the flow's
movement from origin to destination. (Bergstrand, 1983, p.474)
A utilização deste método na ciência econômica origina-se de um modelo de
comércio desenvolvido por Krugman (1980), sob competição monopolística, inserindo
custos de transporte para explicar as transações internacionais. A partir deste marco, vários
outros trabalhos foram desenvolvidos utilizando os preceitos expostos acima. Destacam-se,
dentre outros, os trabalhos seminais de Anderson (1979), Bergstrand (1985) e Bergstrand
(1989).
3.2. Estimação do Modelo utilizando Dados de Painel
O modelo geral para a análise de dados de painel pode ser representado pela
seguinte equação:
yit = βo + β1itx1it + ... + βnitxkit + eit
13
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Nesta notação, o subscrito i indica o i-ésimo componente da amostra e o subscrito t
refere-se ao período considerado. β0 representa o intercepto, enquanto βk indica a k-ésima
variável explicativa do modelo. A equação acima pode, alternativamente, ser escrita na
forma matricial, para o i-ésimo componente:
O vetor yi, representando as variáveis dependentes, é de ordem (Tx1). As matrizes
Xi e βi, de ordem (K x T), indicam as variáveis explicativas e os parâmetros a serem
estimados, respectivamente.
Dentre os modelos que combinam séries temporais e dados em cortes transversais,
três deles são mais amplamente utilizados: Modelo de Regressões Aparentemente NãoRelacionadas (Seemingly Unrelated Regressions – SUR), Modelo de Efeitos Fixos e
Modelos de Efeito Aleatório. Para atingir o objetivo disposto neste trabalho, foi escolhido
o modelo SUR (por período, pois há 14 observações para cada ano ou cada equação do
sistema) tendo em vista seu melhor ajuste às observações.
A estimação deste modelo produzirá um intercepto para cada componente da
amostra, resultando em n interceptos diferentes e k coeficientes angulares para cada
componente, totalizando n x k coeficientes.
Segundo Baltagi (2005), a técnica de estimação empregada pode considerar
individualidades próprias dos países estudados. No caso do presente estudo, os países
selecionados podem apresentar características particulares que podem influenciar seus
volumes importados de uvas frescas, passando-se a considerar heterogeneidades
individuais.
A metodologia empregada neste trabalho utiliza uma equação tradicional do tipo
log-linear para estimar os determinantes das exportações de uvas frescas brasileiras. O
Quadro 3.1 apresenta as variáveis escolhidas para atingir o objetivo deste trabalho.
Quadro 3.1 Variáveis escolhidas para o modelo.
VARIÁVEIS
Variável
Yit
explicada
X1i4
Variáveis
explicativas X2it
DESCRIÇÃO
Exportações de uvas do Brasil para i, no período t
Distância em quilômetros (Km) do Brasil para o país i
PIB per capita (US$) do país importador i vezes PIB per capita do
Brasil (US$), medidos pela Paridade do Poder de Compra, no
4
Os valores para as distâncias entre o Brasil e os países selecionados são medidos pela distância em linha
reta entre a capital do país (Brasília) e a capital do país em questão. Tal metodologia segue o trabalho de
Castilho (2001).
14
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X3it5
X4it
X5it
X6it
período t
Taxa de câmbio entre o Brasil e o país importador, no período t
Variável Dummy de controle #1
Variável Dummy de controle #2
Variável Dummy de controle #3
Fonte: Elaboração própria.
Com relação às variáveis Dummies de controle, cabe realizar alguns comentários:
•
•
•
•
Estas variáveis foram equacionadas com a finalidade de adequar o modelo
estimado aos objetivos do estudo. Deve-se considerar estas variáveis de maneira tal
que o efeito do coeficiente destas sobre a variável dependente se reflita sob a
condição de que todos os países estão em igualdade em relação às demais variáveis;
A variável Dummy de controle #1 assume valor 1 quando um país teve queda nas
importações de uvas frescas brasileiras com relação ao ano anterior, caso contrário
seu valor será zero (portanto, procura-se verificar a queda média de exportações,
quando esta ocorre em dado período t e para dado país i);
A variável Dummy de controle #2 assume valor 1 para os cinco principais países
importadores de uvas frescas do Brasil, caso contrário seu valor será zero (portanto,
procura-se verificar o quanto, em média, esse grupo de cinco principais países
importa uvas brasileiras acima do que é obtido para os demais países analisados);
A variável Dummy de controle #3 assume valor 1 para países que apresentaram
desvio padrão acima de 10% da média das exportações, caso contrário seu valor
será zero6 (portanto, procura-se verificar uma possível mudança de intercepto para
aqueles países que mais variaram suas importações de uvas brasileiras durante o
período analisado, ou seja, para aqueles que apresentaram comportamento menos
equilibrado).
Desta forma, a equação gravitacional apresenta-se da seguinte maneira:
ln Yit = βo + β1ln X1i + β2 lnX2it + β3 ln X3it + β4 X4it + β5 X5it + β6 X6it + εit
Em que:
•
β0 é o coeficiente linear;
5
Os valores para as taxas de câmbio entre o Brasil e o país importador foram encontrados através da
conversão entre as moedas destes países e o Dólar. Por exemplo, dadas as taxas de câmbio brasileira R$ 2,50
/ US$ 1,00 e a taxa de câmbio externa X$ 2,00 / US$ 1,00, ambas em relação ao Dólar. Assim, a conversão
deve ser de R$ 2,50 / X$ 2,00, que equivale a R$ 1,25 / X$ 1,00.
6
Para tanto, calculou-se a média das exportações para o país i no horizonte de tempo estudado, bem como o
desvio padrão dessas mesmas exportações, no mesmo período. Posteriormente, dividiu-se o desvio padrão
sobre a média calculada, obtendo-se um dado valor percentual. Nesse sentido, se esse valor percentual fosse
superior a 10%, a variável Dummy de controle #3 passaria a assumir o valor 1 para o país i.
15
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•
•
•
•
•
•
β1 indica a variação percentual das exportações de uvas devido ao aumento de 1%
na distância entre o Brasil e os países importadores;
β2 indica a variação percentual das exportações de uvas devido ao aumento de 1%
na interação entre o PIB per capita do país importador e o PIB per capita do Brasil
(referida interação foi representada através de um produto das referidas grandezas,
conforme realizado por diversos estudos aplicados de modelo gravitacional);
β3 indica a variação percentual das exportações de uvas devido ao aumento de 1%
na taxa de câmbio entre o Real (R$) e a moeda do país importador;
β4 indica a mudança média de intercepto ocorrida quando as exportações brasileiras
caem com relação ao período anterior, em dado país i;
β5 indica a mudança média de intercepto correspondente ao grupo de cinco
principais países importadores da uva brasileira;
β6 indica a mudança média de intercepto para aqueles países que demonstraram
evolução das importações de uvas brasileiras de maneira pouco comportada no
período estudado.
3.3. Origem dos Dados e Estimação do Modelo
Com o objetivo de examinar os fatores determinantes da alocação da produção de
uvas frescas para o mercado externo, foi utilizado o modelo econométrico SUR por
períodos. Além da distância entre o Brasil e o país importador, e a interação entre o PIB
per capita destes, foi adicionada a taxa de câmbio entre o Real (R$) e a moeda do país
importador, bem como as variáveis Dummies de controle explicitadas anteriormente, como
as variáveis explicativas do modelo.
O quadro abaixo apresenta a origem dos dados coletados.
Quadro 3.2 Origem dos dados coletados para a amostra
VARIÁVEIS
ORIGEM DOS DADOS
X1i
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC, 2009)
Google Earth (Google, 2009)
X2it
Fundo Monetário Internacional (FMI, 2009)
X3it
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2009)
Yit
Fonte: Elaboração própria.
Em relação à amostra, foi considerado o período compreendido de 2002 a 2007,
englobando-se os seguintes países: Alemanha, Argentina, Bélgica, Canadá, Dinamarca,
Estados Unidos, França, Itália, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia e
Uruguai. Segundo dados do MDIC (2009), estes países responderam por 98,58% das
exportações de uvas frescas do Brasil no horizonte analisado7.
7
Foram desconsiderados aqueles países que apresentavam, no período, importações reduzidas e esporádicas
de uvas frescas advindas do Brasil, que são explicadas basicamente por contratos específicos realizados entre
determinados produtores e consumidores no exterior.
16
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De acordo com a literatura específica acerca da estimação do modelo gravitacional,
espera-se encontrar as seguintes relações entre cada variável explicativa e a variável
explicada: distância entre o Brasil e o país importador, negativa; relação entre o PIB per
capita do país importador e o PIB per capita do Brasil, medidos pela Paridade do Poder de
Compra, positiva; taxa de câmbio real-moeda estrangeira, positiva.
Considerando-se a abordagem SUR por períodos, o modelo pode ser finalmente
especificado como a seguir:
ln Yit = βo + β1ln X1i + β2 lnX2it + β3 ln X3it + β4 X4it + β5 X5it + β6 X6it + ωit
Em que ωit = εit + µi.
Nesse caso, a hipótese de que é significativa a natureza específica de cada país
selecionado manifesta-se pelo termo µi. Portanto, as individualidades são incorporadas ao
termo ωit de perturbações sobre Yit.
4. RESULTADOS
Através da estimação realizada, o modelo gerou os resultados esperados, com
estatística R2 ajustado equivalente a 0,959689, significando que 95,97% das observações
podem ser explicadas pelo modelo, considerada como boa medida de qualidade do
ajustamento. Os coeficientes estimados e as estatísticas de desvio padrão e signifiância são
encontrados no Quadro 4.1.
Quadro 4.1 Estatísticas do Modelo Estimado
Variáveis
explicativas
CONSTANT
DIST
PIBX*
PIBBR
CAMBIO
Descrição da variável
Intercepto
Distância em quilômetros (Km)
do Brasil para o país i
PIB per capita (US$) do país
importador i multiplicado pelo
PIB per capita (US$) do Brasil
Taxa de Câmbio entre o Real
(R$) e a moeda do país
importador durante o ano
considerado
Coefic.
estimados
Desvio
padrão
Signific.
22,46258
5,754217
0,0002
-1,254389
0,670053
0,0650
0,196977
0,093257
0,0379
1,100928
0,271397
0,0001
D1
Variável Dummy de controle #1
-0,513023
0,104157
0,0000
D2
Variável Dummy de controle #2
3,084019
0,520500
0,0000
D3
Variável Dummy de controle #3
-1,612289
0,535604
0,0035
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Fonte: Elaboração própria.
Todos os coeficientes se mostraram significantes a 5% (exceto a variável
correspondente à distância, significativa a 6,5%). A estatística F, calculada em 330,3,
rejeita a hipótese nula de que todos os coeficientes sejam simultaneamente iguais a zero,
com probabilidade menor que 0,05. Quanto à estatística de Durbin-Watson, esta resultou
em 1,924884, cujos valores críticos são 1,5 (low) e 1,8 (up), indicando que não há presença
de erros autocorrelacionados. Realizou-se também o Teste de White, em que a estatística
calculada correspondeu a 29,03, mostrando-se inferior a 90,5 (valor crítico), o que rejeita a
hipótese de existência de heterocedasticidade.
Em relação aos sinais dos coeficientes e seus significados, cabe realizar alguns
comentários. Primeiramente, deve-se atentar ao fato de que os valores dos coeficientes de
cada variável trazem consigo a informação sobre a elasticidade em relação à variável
dependente (exceto no caso do coeficiente linear e das variáveis de controle, que dizem
respeito ao intercepto). Assim, os coeficientes correspondem à variação percentual das
importações à medida que, ceteris paribus, alguma variável explicativa varia.
A distância (medida em quilômetros) entre os países pode ser observada como uma
Proxy para os custos relativos ao transporte do produto ao seu destino. Portanto, como
esperado, indícios apontam para uma relação negativa entre o volume exportado de uvas
frescas e a distância entre o Brasil e o país importador. O valor -1,254389 do coeficiente
indica que a cada elevação de 1% na distância do importador corresponde a uma queda de
1,25% no volume exportado.
Por sua vez, a interação entre o PIB per capita do país importador e o PIB per
capita do Brasil, medidos pela Paridade do Poder de Compra, indicam existir duas forças
não visualizadas diretamente: uma de crescimento das exportações, dado o crescimento do
PIB per capita externo; e outra de decréscimo das exportações, dado o crescimento do PIB
per capita interno. Então, de acordo com o coeficiente estimado, a cada aumento de 1% na
interação do PIB per capita externo e PIB per capita do país (representado através da
multiplicação dessas grandezas), eleva-se, em média, 0,2% nas exportações de uvas.
No mesmo sentido, a taxa de câmbio entre o Real (R$) e a moeda local possui
variação positivamente correlacionada com as exportações de uvas frescas do Brasil para o
país em questão. As estimações realizadas indicam que uma desvalorização de 1% do Real
frente à moeda externa, deve aumentar o volume exportado médio em 1,1%.
Com relação às variáveis Dummies, conforme mencionado anteriormente, estas
devem ser analisadas sob a hipótese de que todas as demais variáveis são iguais entre os
países. Entretanto, como o modelo é log-linear, a interpretação do coeficiente estimado não
é direta, sendo necessário, para tanto, realizar o cálculo do anti-logaritmo de cada
coeficiente. Ainda assim, os valores encontrados não estão sujeitos à análise, visto que a
análise ceteris paribus fica impossibilitada pela incorrência da observação no termo ωit =
εit + µi. De toda forma, vale citar que: i) para D1, o anti-logaritmo é equivalente a 0,60 <
1,00, o que é lógico, pois as exportações brasileiras de uvas para i, no período t, devem ser
mesmo reduzidas quando se verifica uma queda de exportações de um ano para outro em
referido país i; ii) para D2, o anti-logaritmo é equivalente a 21,85 > 1,00, o que também é
lógico, pois as exportações brasileiras de uvas devem mesmo ser maiores para o grupo dos
cinco principais importadores do produto brasileiro; iii) para D3, o anti-logaritmo é
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equivalente a 0,20 < 1,00, o que significa que aqueles países que apresentaram
comportamento menos equilibrado tendem a reduzir suas importações.
Vale ainda destacar que o coeficiente estimado para βo é equivalente ao antilogaritmo de CONSTANT, que é equivalente a 5,6 bilhões (vale lembrar que Yit tem
valores da amostra em US$).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da estimação de um modelo econométrico, tornou-se possível apresentar os
principais fatores condicionantes às exportações brasileiras de uvas frescas. Previamente,
fez-se necessário discutir algumas questões teóricas acerca do comércio internacional em
geral, apresentando argumentos a favor e contra este assunto, bem como os principais
instrumentos de política comercial utilizados pelos países. Também se fez importante a
apresentação do quadro geral do comércio internacional de frutas, destacando a atividade
no Brasil, e associando-se aspectos relacionados com a viticultura. Nesse sentido,
verificou-se a importante participação da atividade no Vale do São Francisco, principal
polo exportador brasileiro de uvas frescas.
Para a formulação do modelo econométrico, por sua vez, aplicou-se o Modelo
Gravitacional, o qual assume que a distância relativa entre os países envolvidos e o PIB
destes são fatores fundamentais para a explicação do comércio entre diferentes regiões
estudadas. Além dessas, no modelo proposto no presente trabalho, adicionou-se a taxa de
câmbio como variável importante para explicar a alocação da produção para o caso das
uvas frescas no Brasil. Variáveis Dummies de controle também foram consideradas.
A equação estimada mostrou-se bem ajustada em relação à explicação do objetivo
proposto, tendo em vista que há indícios de que as variáveis escolhidas explicam cerca de
96% das exportações brasileiras de uvas frescas. Os resultados do modelo comportaram-se
como o esperado, conforme aponta o Modelo Gravitacional. Nesse sentido, existe uma
relação negativa entre a distância do Brasil ao país importador e as exportações de uvas
frescas do primeiro para este último (a cada aumento de 1% na distância, o valor exportado
é reduzido em 1,25%). Além disso, há uma relação positiva das exportações brasileiras de
uva e a interação entre o PIB per capita do país importador e o PIB per capita brasileiro (a
cada aumento de 1% no produto dessas grandezas, o valor exportado se eleva em 0,2%).
Por fim, também há uma relação positiva entre as exportações brasileiras de uva e a taxa de
câmbio entre o Real e a moeda de cada país estudado (a cada desvalorização cambial em
1%, o valor exportado é incrementado em 1,1%).
Esses resultados fornecem subsídios aos produtores brasileiros de uvas frescas, bem
como àqueles cuja atividade principal está relacionada à fruticultura em geral, no que
concerne à decisão de exportar sua produção. Além disso, poderá ser de relativa
importância às autoridades públicas desenvolverem políticas a fim da promoção da
atividade, seja através de medidas visando o mercado interno ou para atingir o mercado
externo, e é salutar, principalmente, aos formuladores de políticas públicas associadas ao
setor.
Vale ressaltar que, apesar de desenvolver um estudo acerca da viticultura, a análise
realizada pode estender-se, em certa medida, para a fruticultura em geral, visto que a
19
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produção de uvas frescas possui características bastante semelhantes às demais culturas de
frutas, principalmente nos perímetros irrigados na região do Vale do São Francisco.
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