TÍTULO / TÍTULO: O CONTEXTO CONTEMPORÂNEO DE PRODUÇÃO DE INDICADORES DE CIÊNCIA AUTOR / AUTOR: Renato José da Silva, Nair Yumiko Kobashi y Raimundo Nonato Macedo dos Santos INSTITUIÇÃO / INSTITUCIÓN: Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT CORREIO ELETRÔNICO / CORREO ELECTRÓNICO: [email protected], [email protected], [email protected] EIXO / EJE: Comunicación científica (eje 1) PALAVRAS-CHAVE / PALABRAS CLAVE: Políticas de ciência, indicadores, Relatório Weinberg RESUMO / RESUMEN O trabalho expõe as questões políticas subjacentes à produção de indicadores de Ciência e Tecnologia, procurando destacar aspectos dos esforços nacionais de produção desses indicadores. Nesse sentido, são abordados eventos que, após a Segunda Grande Guerra, contribuíram para produzir indicadores de ciência. São apresentados aspectos do Relatório Weinberg que serviram de modelo para a criação de uma burocracia para gestão de políticas de ciência e tecnologia e os reflexos dessa concepção no Brasil, tais como os tipos de instituições de planejamento e de financiamento da atividade científica criados e um breve histórico da criação das agências nacionais e estaduais de C&T. Finaliza-se o texto com uma abordagem crítica sobre alguns aspectos da realidade atual. Introdução No período posterior à Segunda Guerra Mundial, o conhecimento científico foi estreitamente associado à produção de bens e, em decorrência, a contornos mercantis e de poder político (BURKE, 2003). Com efeito, o saber científico passou a ser visto como fator necessário ao desenvolvimento econômico e ao poder político. Como já havia salientado Lyotard (1986), a partir daí, a competição econômico-política entre as nações se daria não apenas pela capacidade de produzir bens manufaturados, mas também pela produção de conhecimento técnico e científico incorporável ao processo de produção de mercadorias. Nesse contexto, promoveu-se uma nova percepção da ciência e a criação de infra-estruturas aptas a gerar indicadores de input e output das atividades de ciência. Esse processo ganha maior força quinze anos após Vannevar Bush ter publicado, em 1945, o relatório “Science: the endless frontier”, que recomendava a criação de uma agência especializada de apoio à investigação universitária, definindo, inclusive, a superioridade da ciência sobre as demais formas de conhecimento. Bush chegou a sugerir uma espécie de lei de Gresham, em que a pesquisa aplicada se sobreporia à pesquisa fundamental se as duas forem misturadas; isso porque a pesquisa básica seria realizada sem se pensar em sua utilidade prática (STOKES, 2005). Orientadas por semelhante concepção, a ciência e a tecnologia crescem em importância, sendo consideradas fatores necessários para alavancar o desenvolvimento econômico. Nessa medida, políticas específicas de ciência e tecnologia são incorporadas às políticas governamentais (VELHO 2001). O estímulo à instalação de centros nacionais de documentação e informação científicas, pela UNESCO, na década de 1950, é também um dos reflexos dessa concepção (LEMOS, 1986). A expansão de organizações, recursos humanos, materiais e financeiros, bem como a ênfase na produção e na coleta de informações estatísticas sobre a investigação científica e tecnológica, até meados de 1960, levou, sobretudo os países economicamente desenvolvidos, a criarem novos tipos de sistemas de armazenamento e de organização de documentos, bem como o estabelecimento de novos critérios para avaliar o mérito científico de uma dada área. Mostra Roy (1984) que uma série de artigos1 escritos por Michael Polanyi, Alvin Weinberg e outros, foi publicada pela Revista Minerva, abrindo a discussão sobre os critérios a serem incorporados à política de ciência e tecnologia do pós-guerra, as quais deveriam estar ligadas 1 “J Polanyi, Michael, "The Republic of Science: Its Political and Economic Theory", Minerva, I (Autumn 1962), pp. 54--73; Weinberg, Alvin M., "'Criteria for Scientific Choice", Minerva, I (Winter 1963), pp. 159171, and "Criteria for Scientific Choice II: The Two Cultures", Minerva, III (Autumn 1964), pp. 3-14; Maddox, John, "Choice and the Scientific Community," Minerva, II (Winter 1964), pp. 141-159; Carter, C. F., "The Distribution of Scientific Effort", Minerva, I (Winter 1963), pp. 172-190; Toulmin, Stephen, "'The Complexity of Scientific Choice: A Stocktaking", Minerva, II (Spring 1964), pp. 343-359” (ROY, 1984). aos projetos nacionais de segurança e desenvolvimento (VELHO, 2001; SALOMON, 1989; WENBERG, 1963). O primeiro banco de dados multidisciplinar de informação científica é lançado nos Estados Unidos, em 1961. Interessante observar que o Sciences Citation Index (SCI), surgiu no mesmo ano em que foi cunhada a expressão Big Science. Conforme González de Gómez: Trata-se de um novo modo de organização da produção dos conhecimentos, em grandes programas de pesquisa ‘orientados por missão’, os quais, para serem viabilizados, requerem a participação de mais de um grupo e instituição de pesquisa, assim como a coordenação efetiva entre o governo federal, a universidade e o setor privado, interagindo de modo cooperativo (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2003, p. 64). O físico e um dos ideólogos da Big Science, Alvin Weinberg, apresentou, em 1963, outro importante relatório intitulado "Ciência, Governo e Informação”, no qual recomendava o uso do SCI pelos setores científicos. Esse documento foi responsável pela definição do escopo e abrangência da nova política de informação científica e técnica, sob responsabilidade governamental. O Relatório de Weinberg, como ficou conhecido, forneceu também premissas para a constituição de uma nova burocracia de gestão da ciência pelas agências de Estado, tendo definido, desse modo, um novo papel para o cientista (WEINBERG, 1963; GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2003). Como conseqüência, para gerir a alocação de recursos de pesquisa pelo Estado, muitos países criaram agências de fomento, seguindo o modelo norte-americano. Nesse contexto, o sistema de julgamento por pares, tradição cuja origem remonta ao período de criação das primeiras revistas científicas2 ganha relevância. Passa a existir uma nova racionalidade de avaliação, baseada em matrizes de input e output da atividade de ciência. Conforme Brisolla, “os indicadores de ciência e tecnologia surgem, portanto, para subsidiar a avaliação institucional e permitir estudos sobre as atividades científicas e tecnológicas. Torna-se imprescindível a criação de indicadores relevantes e confiáveis para essa finalidade” (BRISOLLA, 1998, p.221). 2 “Desde Galileu na corte dos Médici em Florença, passando pelos editores de livros e periódicos do século XVII em diante, até os cientistas atuais tentando conseguir financiamento para seus projetos, os detentores do poder de decisão – príncipes, outros patronos, governos ou os próprios cientistas – sentiram necessidade de assessoria para tomar decisões. Desenvolveu-se, então, uma tradição em que tal assessoria seria solicitada aos ‘pares’, isto é, aos colegas daquele que estava em julgamento e que, por sua formação e experiência, fossem capazes de emitir opinião informada e confiável. Este processo tem sido, genericamente, denominado de ‘revisão por pares’ ou ‘julgamento por pares’ (peer review)” (DAVYT e VELHO 2000, p.2). Até meados da década de 1970, as iniciativas de uso das ferramentas bibliométricas e cientométricas se restringiram quase que exclusivamente à coleta e produção de informações e estatísticas relacionadas aos insumos ou input alocados para a C&T. Acreditava-se, no modelo da Big Science, que os indicadores de input fossem suficientes para identificar as demandas das políticas científicas. As informações sobre os produtos (output) das atividades de C&T ainda não haviam sido vistas como necessárias pelos analistas e planejadores da política de C&T (VELHO, 2001). Contudo, observava-se, na prática, que ao contrário do que afirmavam os dois cânones3 básicos da ciência do pós-guerra, “as descobertas científicas ocorrem com freqüência no contexto da aplicação, não sendo possível estabelecer limites precisos entre pesquisa básica e aplicada; da mesma forma, o conhecimento tácito e os avanços incrementais são mais importantes do que as descobertas e inovações científicas isoladas” (SCHWARTZMAN, 1993, p. 18). Em 1972 foi criado um segundo banco de dados multidisciplinar, denominado Social Science Citation Índex, numa clara manifestação da relevância atribuída ao conhecimento produzido por outros campos; tal importância foi novamente reafirmada em 1978, ao ser criado o terceiro banco, o Arts&Humanities Citation Índex. Nessa nova percepção, os indicadores bibliométricos de ligação, construídos por meio de técnicas de análise estatística, por acoplamento de co-ocorrências de autoria, citação e palavras, tornam-se de ampla relevância para a elaboração de mapas para identificar estruturas de conhecimento e redes de relacionamentos entre pesquisadores, instituições, países e outros retratos possíveis de uma área de conhecimento. Essas concepções e modelos tiveram ampla repercussão internacional, inclusive no Brasil. Desenvolvimento De Sistemas De Informação Científica E Técnica No Brasil O interesse governamental pelo desenvolvimento da informação científica surge, no Brasil, no início da década de 50, em decorrência da decisão da UNESCO de promover a instalação, num grupo de países em desenvolvimento, de centros nacionais de documentação. O desenvolvimento da Ciência brasileira e as formas de financiá-la não ficaram imunes às influências, tendências e transformações que caracterizavam as políticas de ciência do pósguerra, em nível mundial. Dessa forma, à medida que o aparelhamento do sistema científico nacional foi se constituindo, a política e a gestão de informação científica e técnica se conforma 3 O primeiro cânone determinava que a pesquisa básica é realizada sem se pensar em sua utilidade prática; sua contribuição reside no entendimento da natureza e suas leis. O segundo cânone dizia que aqueles que investirem em ciência básica obterão retorno em tecnologia na medida em que as descobertas forem convertidas em inovações. Bush chegou endossar uma espécie de lei da qual a pesquisa aplicada expulsa a pesquisa fundamental (STOKES, 2005). ao modelo de ciência e tecnologia propostas por Bush, Weinberg e outros (GONZALEZ DE GOMES, 2003). Contudo, o Brasil não consolidou uma infra-estrutura análoga, tal como foi levado a cabo nos Estados Unidos. Foi no bojo desse processo, que a idéia de criação de um Conselho Nacional de Pesquisa, que vinha sendo proposta pela Academia Brasileira de Ciência, desde 1931, torna-se realidade. Em 1951, a necessidade de organizar uma política atômica no país, movida pelos militares, autorizou a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível superior (CAPES) (GUIMARÃES, 1993), dando início à formação do sistema científico brasileiro. A proposta de uma fundação estadual de fomento à pesquisa ganha também substância nessa época, mais precisamente em 1947, mas somente em 18 de outubro de 1960 é que ocorre a criação da primeira Fundação de fomento estadual, pela Lei nº. 5.918. A FAPESP, conforme registrou Silva (1996), deu início a um importante processo político de fortalecimento da capacidade regional de pesquisa. A criação do Instituto Nacional de Bibliografia e Documentação (IBBD) em 1954 teria, de acordo com Lemos (1986), as seguintes finalidades: promover a criação e o desenvolvimento de serviços especializados de bibliografia; estimular o intercâmbio entre bibliotecas e centros de documentação, em âmbito nacional; incentivar e coordenar o melhor aproveitamento dos recursos bibliográficos e documentários do país. Após o golpe militar, de 1964, foi instituído o primeiro Fundo de Desenvolvimento Técnico Científico4. O FUNTEC teria “a incumbência de organizar o acesso à tecnologia universal de vanguarda, assim como aclimatá-la ao nosso solo nacional natural e sócio econômico” (FERRARI, 2001, p.32). Para financiar projetos e programas de desenvolvimento econômico foi criado, em 1965, o Fundo de Financiamento de Estudos de Projetos e Programas de Desenvolvimento Econômico - FINEP5. Afirma Ferrari (2002) que a inexistência de uma personalidade jurídica tornava as operações morosas e difíceis. Um novo decreto foi instituído em 1967, criando a empresa pública FINANCIADORA DE ESTUDOS DE PROJETOS S/A – FINEP6, com o fim de dar maior agilidade aos processos de financiamento. Apesar das importantes ações desenvolvidas pelo CNPq e por outras agências federais, no final da década de 1960, percebia-se a profunda carência de apoio para a criação de um sistema de pesquisas sincronizado com a revolução científica e tecnológica. Visando dar maior 4 FUNTEC - criado pelo Decreto nº 55.820 de 8 de março de 1964. O FINEP - criado pelo Decreto nº 55.820 de 8 de março de 1965. 6 A FINEP - criada pelo Decreto nº.61.056 de 24/07/1967. 5 apoio a programas e projetos prioritários, foi criado, em 1969, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico7 – FNDCT (FERRARI, 2002). A partir de então, três planos abrangentes, denominados de Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBCDT) pautaram as diretrizes para a formação da infra-estrutura de informação em C&T (GUIMARÃES, 1993). Nos primeiros anos da década de 1970, um grupo de estudos de nível governamental elaborou um amplo trabalho definindo a forma que teria o almejado Sistema Nacional de Informação (SNICT). Todavia, durante praticamente dez anos, de 1966 a 1975, o IBBD veio perdendo terreno, não conseguindo acompanhar a marcha dos acontecimentos (LEMOS, 1986). Mesmo assim, de acordo com Velho (2001), o Brasil foi um dos primeiros países em desenvolvimento a atender, no final dos anos 1970, as solicitações da UNESCO de elaboração de informações estatísticas sobre as atividades de C&T. O CNPq conseguira, nessa época, capacitar uma equipe responsável para compilar dados relativos aos dispêndios de C&T. Nessa década de 1970, segundo Guimarães (1993), houve uma forte articulação entre política científica e tecnológica e projeto desenvolvimentista. Foram criados cerca de 800 novos cursos de Mestrado e Doutorado no país, este número alcançou, no ano de 2004, cerca de 2000 programas de pós-graduação, sendo 1912 de mestrado e 988 de doutorado (VELHO, 2007, p. 24). Com a expansão do processo de industrialização, a modernização de estruturas de serviços públicos, o aumento do sistema educacional e a criação de novas instituições de pesquisa, cresceu também o número de unidades e fontes de informação primária. Porém, de acordo com Lemos (1986), a evolução do setor de informação não tinha relação com o conteúdo dos planos básicos. Estes não asseguravam a liberação automática de recursos; muitos dos projetos implantados eram elaborados apressadamente para se obter financiamentos extraorçamentários, havendo também inúmeras eram as críticas aos dois primeiros planos básicos. Entre a divulgação do texto, do primeiro plano em 1971 (período 1972-1974) e o terceiro (período 1980-1985), o SNICT foi caindo em esquecimento. Um novo espírito de mudanças manifesta-se de forma explicita em 1976, ao ser substituído o IBBD pelo atual Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. O IBCT deveria ser um órgão de fomento e coordenação, com a missão de promover a criação de um sistema nacional de informação em ciência e tecnologia. Para melhorar e consolidar a competência técnico-científica nacional e efetivar as ações, o Governo instituiu no ano de 1984, o I Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), financiado pelo Banco Mundial. A finalidade desse Programa era suprir as lacunas no atendimento de áreas prioritárias, reforçar a infra-estrutura de apoio e serviços, além de organizar as ações, em sua 7 FNDCT - criado, pelo Decreto lei nº. 719, em 31/07/1969. área de atuação, para a consolidação do Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (SNDCT) como um todo (LOPES, M, 2008). No terceiro PBDCT, há forte ênfase em setores aplicados, que colocou “em cheque o financiamento à pesquisa científica fundamental e às ciências sociais e humanidades, em beneficio da pesquisa tecnológica, aplicada e às ciências duras” (GUIMARÃES, 1993, p. 18). Na contra mão das mudanças e novas percepções que os indicadores de C&T começavam a proporcionar às políticas científicas de diferentes países, paradoxalmente, “ao longo da década de 1980, houve uma queda no interesse pela bibliometria, tanto no Brasil como no exterior” (ARAUJO, 2006, p.22). Dessa forma, a maioria das agências de fomentos, sobretudo as estaduais, criadas nos anos de 1980, não logrou edificar uma infra-estrutura eficaz, bem como metodologias adequadas que possibilitassem elaborar indicadores confiáveis. Considerações finais Há pelo menos trinta anos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) vêm desenvolvendo esforços consideráveis para sistematizar diversas fontes de informações concernentes à produção nacional de ciência e tecnologia. A Coleta de Dados Capes, os Diretórios dos Grupos de Pesquisa e a Plataforma Lattes, são exemplos de dispositivos importantes que permitem expressar quantitativamente alguns dos resultados desses esforços (MUGNAINI, 2006). Segundo nota disponível na página do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), as informações concernentes à produção científica nacional originam-se de duas bases de informações: a base National Science Indicators (NSI), do Instituto for Scientific Information (ISI) e a do Diretório dos Grupos de pesquisas no Brasil, que utiliza unidades de informações oriundas da base de Currículos Lattes do CNPq. Não obstante, em uma pesquisa recente, cujo objetivo foi discutir, avaliar e apresentar parâmetros para a organização de informação científica e tecnológica (ICT) brasileira em meio eletrônico, enfocando os problemas do acesso à informação em sistemas abertos, especificamente a Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Silva (2007) evidencia que as falhas de preenchimento dos currículos comprometem a obtenção de indicadores confiáveis. Afirma o autor que essas falhas desfavorecem tanto a utilização dos dados para formulação de indicadores de C&T, como prejudicam o processo de recuperação da informação quando se trata de, através da busca, identificar especialistas em determinada área ou então ter um espelho da trajetória de determinado especialista. Para a Fapesp (2002), o conjunto de informações quantitativas obtidas nas últimas décadas, sobre Brasil, seja na literatura científica publicada em periódicos (Leta e de Meis,1995; Garfield, 1995; Krauskopf, 1995; Targino e Garcia, 2000), seja em documentos e livros (de Meis e Leta, 1996; Czapski, 1997), ou na mídia (Avancini e de Nardi, 1998; FSP, 1999), foi produzida a partir de índices comercializados pelos Institute for Scientific Information –ISI, consultados via Web of Science. Nestas bases internacionais do ISI, estão representadas essencialmente a ciência do Primeiro Mundo, sendo que os códigos utilizados na representação estão voltados para a problemática desses países, como observou Sayão (1996). Em pesquisa recente, Mugnaini (2006) constatou que a predominância de revistas americanas atinge quase a metade da base do ISI, portanto, não há como ser consistente a medida de impacto de uma revista brasileira neste contexto. Para esse pesquisador é de vital importância que no caso dos países periféricos sejam utilizadas bases nacionais para que o contexto local possa ser representado. Na última serie de informações quantitativas publicada sobre a experiência paulista de construção de indicadores, a principal fonte de informação utilizada foi a base de dados do ISI (FAPESP, 2005). Nessa publicação, a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo destacou a inexistência de instâncias multiinstitucionais no Brasil, plenamente dedicadas à produção de indicadores. Apontou, também, quatro dos maiores obstáculos que têm inviabilizado a produção sistemática de indicadores nacionais e regionais, relacionadas ao setor de CT&I, a saber: 1- a ausência de critérios uniformes entre as diferentes fontes primárias; 2- a adoção, pelas diversas fontes, de diferentes temporalidades nas rotinas de atualização das suas bases e diretórios; 3- a descontinuidade ou inconstância na adoção dos procedimentos metodológicos de coleta, armazenamento e classificação dos dados; 4- a não disponibilidade ou a qualidade bastante desigual dos dados desagregados por região administrativa ou unidade da Federação. Pesquisas parciais sobre os metadados dos produtos resultantes de pesquisa revelam inconsistências, que comprometem a confiabilidade dos indicadores. Em investigação realizada sobre a produção científica em Ciência da Informação (CI) no Brasil, do período 1970 a 2000, cujo objetivo foi propor parâmetros de elaboração de indicadores aptos a gerar respostas às necessidades de planejamento, acompanhamento e análise da produção científica e tecnológica nacional, Santos e Kobashi (2005) constataram que os dados bibliográficos de dissertações e teses, contidos em bases de dados de diferentes instituições, não apresentam estruturas uniformes e consistentes para a produção de indicadores confiáveis. Esta realidade é também posta por Café e Brascher (2008), em outra pesquisa, que teve como objetivo identificar as dificuldades encontradas por pesquisadores quanto aos aspectos de organização da informação, na área de Bibliometria no Brasil. Apresentam, nesse trabalho, evidências suficientes quanto às dificuldades colocadas pela ausência de padronização da descrição bibliográfica das fontes de informação. O trabalho dessas pesquisadoras traz uma série de autores que também denunciam os problemas oriundos da ausência de padronização na descrição bibliográfica das fontes de informação nacional. Das 59 teses e dissertações analisadas, 30 apontaram algum tipo de problema quanto à descrição física ou de conteúdo das fontes. De maneira geral, as dificuldades se concentram, sobretudo, na padronização de títulos de periódicos, de nomes de autor (descrição física), como também na diversidade de formas de representação de assuntos (descrição de conteúdo). Por outro lado, conforme Regina Gusmão, “muitos dizem que no Brasil não existem dados confiáveis sobre a produção científica e tecnológica do País, o que é um engano. Existe sim uma variedade de sistemas de informação especializados, mas o que não se dispunha é de um tratamento inteligente e uma sistematização desses dados, que vêm de fontes as mais variadas” (Boletim FAPESP, 18 de Outubro, 2004). Kobashi e Santos (2008), formulam a hipótese de que as bases de teses e dissertações podem ser fontes confiáveis para conhecer a ciência produzida no país. Por outro lado, Mugnaini (2006) mostra que a mensuração da produção científica em escala nacional através de indicadores de impacto pode ser conduzida pelas agências de fomento. As agências de fomento nacionais, detentoras de importantes sistemas e fontes de informações, podem, desse modo, dar uso significativo aos dados acumulados, promovendo a produção de indicadores de input e output. Dessa forma, uma ação prática programada, a constituição de infra-estrutura de informação que permita produzir indicadores consistentes parece ser um dos requisitos para a formulação de novas políticas de ciência, que atendam às atuais demandas científicas universal, nacional e local. Da mesma forma, o investimento em formação de recursos humanos capacitados a analisar e produzir indicadores por meio de métodos bibliométricos, encontra-se na ordem do dia. NOTAS Renato José da Silva. Agradeço a equipe do Foro Ibero-americano de Comunicação e Divulgação Científica, pela concessão da bolsa para apresentação deste trabalho; aos meus orientadores pela ajuda e paciência; aos colegas e professores: Dinah Aguiar Población, Fernando Modesto, Rogério Mugnaini, pelas exposições, seminários e discussões realizados na disciplina Comunicação Científica, que muito contribuíram à configuração do problema de minha pesquisa. Obrigado. BIBLIOGRAFIA - ARAUJO, Carlos Alberto. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 11-32, jan./jun. 2006. - BRISOLLA, Sandra Negraes. Indicadores para apoio à tomada de decisão. Ciência da Informação, v. 27, n. 2, p, 221-125, mai / ago.1998. - BURKE, Peter. 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