A Criação de Valor Económico e a Deslocalização da Produção: Concentração da Riqueza, Desemprego e Degradação Progressiva das Contas Externas Justino Manuel de Oliveira Marques1 1 Licenciado em Economia, pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (Província do Douro Litoral); Mestre em Gestão, pela Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (Província do Minho); Doutorando em “Nuevas Tendências en Dirección de Empresas”, na Universidade de Salamanca (Região Autónoma de Castela e Leão – Espanha). 1 Prefácio Mais premente que a actual crise financeira, de proporções que poderão vir a ser gigantescas, revela-se a necessidade de encontrar políticas económicas que apresentem soluções de desenvolvimento equilibrado e autosustentado, não só para cada País, para cada Continente e para todo o Mundo. Com efeito, a este nível, um trabalho ciclópico, de grande dimensão social e humana, resta ainda fazer nas próximas dezenas de anos, provavelmente séculos, onde a operacionalidade especulativa dos mercados financeiros como a irresponsabilidade e inexperiência de profissionais estupidamente direccionados apenas para o lucro fácil e demolidor só possam ser combatidos por actividades de regulação competentes, independentes de qualquer tipo de poder, com ligação ao sistema jurisdicional de cada País e com uma moldura penal categoricamente dissuasor. As políticas económicas, por si, nunca deverão ser consideradas e muito menos estimuladas como o elemento director da actividade política, dado que uma sociedade é muito, muito mais que os seus aspectos ou operações meramente económicas, financeiras ou orçamentais, para se estender por outros relacionados com as tradições, a cultura, as artes, o conhecimento, as tecnologias, o ordenamento territorial, a arquitectura tradicional regional, a gastronomia de base regional, a monumentalidade histórica, a própria história, o ambiente e o equilíbrio em que deve ser sempre preservado e a dignidade humana das populações de uma dada Região e do Povo de um País ou Nação, tudo isto consubstanciado em políticas de diferente natureza mas todas integralmente subordinadas ao primado da política sobre qualquer uma das suas componentes. É neste enquadramento político de base que devem desenvolver-se todas as iniciativas políticas onde os aspectos relacionados com a economia, ao terem uma importância decisiva na estrutura e dinâmica sociais, deverão privilegiar as acções políticas que se orientem para a criação de valor nos sectores produtivos de cada estrutura económica (agricultura, indústria de equipamentos, indústria de bens de consumo, pescas, energia de fonte ambiental, serviços de apoio directo aos sectores produtivos, etc.), tendo por alicerce fundamental o aproveitamento dos recursos próprios ou endógenos das Regiões de cada País, onde o saber fazer substitua o saber especular, a riqueza económica produzida substitua a riqueza financeira especulativa e a riqueza económica distribuída remunere adequadamente os factores produtivos utilizados na produção de bens e serviços, complementada por uma riqueza financeira subsidiária da economia e não especulativa. Tudo o que envolve a riqueza produzida está também relacionado com os fenómenos mais ou menos actuais da deslocalização da produção para Países que muitos deles não cumprem os requisitos mínimos da plataforma de respeito inequívoco pelos Direitos Humanos, tratando-se de pura exploração económica e refractária de populações, responsável por alguma riqueza económica produzida nas economias receptoras dessas indústrias deslocalizadas, na concentração de riqueza gerada nessas economias (numa minoria, por via da repatriação dos lucros), no aumento dos índices de desemprego e no empobrecimento de faixas crescentes das populações dos países ordenadores dessa deslocalização, para além de montantes crescentes a inundar os mercados de capitais, em ambos os tipos de Países. Os efeitos são mais devastadores sentem-se mais nos Países sem iniciativas empreendedoras de base nem empresariais, sem cobertura formativa ou investigadora alargada em conexão com as unidades de produção, sem sentido cívico das populações, sem sentido de serviço público dos organismos públicos e até das empresas privadas (sentido do cliente) e sem motivação para aproveitamento integral dos recursos próprios de cada Região e do País, tudo ainda agravado pela 2 inexistência de políticos-estadistas em benefício dos políticos-de-turno, num ambiente político generalizado e caracterizado pelo primado da economia sobre a política, no cumprimento fundamentalista das regras ditadas pelo actual pontificado do mais puro e brutal neo-liberalismo. 1 – Introdução A evolução da economia mundial tem-se caracterizado por uma busca permanente de melhores condições de competitividade internacional, tanto na essência de todo o processo económico de produção como na funcionalidade cada vez mais aperfeiçoada dos instrumentos operacionais utilizados. A este último nível, através das vantagens proporcionadas pela recente, permanente e profunda evolução das diferentes naturezas de tecnologias, sobretudo das tecnologias de informação e comunicação cada vez mais integradas e evoluídas a um nível nunca conseguido; relativamente ao nível anterior, através da afectação e remuneração de recursos produtivos em condições cada vez mais vantajosas do ponto de vista económico (crescimento) que não humano nem de desenvolvimento. O ambiente político tem proporcionado igualmente condições favoráveis ou mais que favoráveis, ao constatar-se a abdicação intencional e utilitária do primado da política sobre qualquer outra dimensão política, em especial a económica, onde as doutrinas liberais ou mais que liberais se entronizaram como o fio condutor de uma política económica homogénea e quase universal, especialmente depois de extinguida a maior federação de repúblicas socialistas existente em toda a História. Este movimento de homogeneização das políticas económicas de quase todos os Países do Mundo e de esbatimento, senão ignorância e desprezo, das disputas ideológicas dicotómicas que caracterizaram a segunda metade do século XX (direita e esquerda; capitalismo e comunismo, entre outras), conjugado com os processos de liberalização das trocas comerciais quase a nível planetário e de deslocalização da produção de bens e serviços, veio imprimir uma dinâmica invulgar ao crescimento da produção de bens e serviços e do comércio mundial, com critérios de localização industrial maioritária ou exclusivamente determinados por factores de aproveitamento, mesmo conjuntural e geográfico, dos elementos que permitem melhorar as condições de competitividade material internacional dos produtos (bens e serviços) e das empresas. Sempre se esperou que os resultados de uma política económica global com tais características proporcionasse condições de aprofundamento e sustentabilidade das exigências de desenvolvimento económico, social e cultural num número crescente de Países, com espectro mais alargado que nas épocas anteriores aos finais decisivos do século XX e à entrada expectante no século XXI, sem gerar factores de desequilíbrio político, ideológico ou religioso como justificativos dos desentendimentos inter-nações, ardilosa e criminosamente montados também com ofensa ostensiva e cínica das normas do Direito Internacional, tendo exclusiva e impiedosamente na sua génese a posse e o controlo de recursos económicos estratégicos relacionados com a energia. A produção económica de bens e serviços à escala mundial (produção massiva) sofreu uma mudança geográfica geradora também de outra mudança, não na forma nem substancialmente na sua estrutura, mas na localização das condições de remuneração dos recursos que permitiram a continuidade e a intensificação da criação de valor pós-deslocalização, numa sanha obsessiva de crescente e cega competitividade material internacional de produtos (bens e serviços) e de empresas. Esta riqueza económica produzida em condições promotoras de um consumo de bens quase 3 infinito, devido às extraordinárias condições de acessibilidade (redução quase contínua de preços, apesar dos gravíssimos e cíclicos surtos especulativos por excessivo envolvimento de capitais aplicados nos respectivos mercados financeiros, e facilidades crescentes de crédito bancário e de consumo) só foi possível assegurar com a deslocalização daquela produção, antes assinalada, para Países que passaram a beneficiar da distribuição dessa riqueza produzida (mesmo em condições políticas mais que conhecidas de ofensa dos Direitos Humanos) cuja consequência directa tem sido e continuará com a diminuição progressiva da riqueza e o aprofundamento do desequilíbrio insustentável entre grupos cada vez mais restritos e mais ricos e extractos crescentes das populações cada vez mais pobres ou paupérrimos, mesmo nos Países que tomaram a iniciativa dessa deslocalização. Complementarmente, verificouse um crescimento excepcional dos excedentes das contas externas, um crescimento económico intensivo, um progresso na concepção e na utilização das diferentes naturezas de tecnologias, uma melhoria das anteriores e muito limitadas condições de vida das populações daquelas economias emergentes, a par de uma concentração da riqueza de origem financeira por repatriação de lucros, enriquecimento intenso, desemprego nos sectores tradicionalmente industriais e deslocalizados, crescente empobrecimento de populações não deslocalizadas e degradação progressiva do perfil da balança externa de todos os Países que decidiram operar a deslocalização da produção. 2 – Deslocalização da Produção Os aspectos centrais que estão por detrás da deslocalização da produção de bens e serviços, à escala mundial, relacionam-se com a necessidade de dar resposta ao aumento da procura mundial desses produtos como consequência da abertura proporcionada por novos mercados no quadro do intenso movimento de liberalização das trocas comerciais de dimensão mundial, sob a égide da Organização Mundial do Comércio (OMC). A diversidade desses mercados, a sua adaptação progressiva às políticas neo-liberais, as características de funcionamento de cada um deles determinaram o aproveitamento dos recursos económicos (em especial, recursos humanos) que melhor se identificassem com o aprofundamento das condições de competitividade internacional num mercado global que minimamente favorecesse uma combinação preço/qualidade irrecusável não só para os produtores desses bens e serviços como para os respectivos consumidores. O aperfeiçoamento dos mercados financeiros especializados nas actividades bancária e parabancária creditícias, apresentando produtos financeiros sensíveis à concessão/obtenção de crédito facilitado, acabaram por impulsionar ou alavancar a actividade produtiva e de venda de bens e serviços a uma dimensão nunca antes historicamente conseguida, onde tem desempenhado e continuará a desempenhar um papel fundamental, central e exclusivo a tão badalada criação de valor económico (alguns até acrescentam, com algum intimismo próximo do cinismo: … “para o accionista”) foi, em termos gerais, intensificada na sua estratégia e pura, geográfica e refractariamente diferenciada na sua localização. É do conhecimento geral que todo o processo económico de criação de valor corresponde a um modelo de comportamento onde, num lado, temos o conjunto dos recursos utilizados e, no outro lado, o conjunto dos bens e serviços obtidos pela aplicação de uma determinada tecnologia (forma de fazer) nesse processo que tem de ser sempre dinâmico, inovador, eficaz e eficiente. O conjunto dos recursos é adquirido nos respectivos mercados onde se encontra disponível a um preço unitário que 4 procure optimizar a relação a qualidade/preço; o conjunto dos produtos (bens e serviços) é vendido nos mercados que se disponibilizam a comprá-lo de acordo com um preço unitário que procure também maximizar a relação qualidade/preço para o consumidor. O fluxograma seguinte poderá esclarecer os aspectos essenciais do processo económico de criação de valor, a partir do qual se consegue proceder à distribuição do rendimento através dos fluxos financeiros correspondentes: Fluxograma-Síntese da Produção de Bens e Serviços, Criação de Valor e Distribuição do Rendimento I Mercado de Factores Empresas Mercado de Produtos RH RP Bens RT Produção (1) Serviços RFI RFE Criação de Valor Distribuição Salários Lucros Recapitalização Significado da simbologia utilizada no fluxograma: RH = Recursos Humanos RP = Recursos Produtivos (consumíveis) RH = Recursos Tecnológicos (equipamentos) RFI = Recursos Financeiros Internos (capitais próprios) RFE = Recursos Financeiros Externos (empréstimos) (1) = Produção de Bens e Serviços não Financeiros 5 Juros Após a distribuição do valor criado pela actividade económica produtiva, os intervenientes seguintes em todo este processo (a população activa, pelos salários e outros rendimentos complementares; e as empresas, por meio dos lucros e outros rendimentos suplementares) irão proceder à aplicação do rendimento que obtiveram de acordo com as suas preferências ou estratégias de curto ou de médio ou longo prazo, de encontro às exigências da produção (empresas) e às exigências e/ou tentações do consumo (população) e/ou às recomendações da poupança (empresas e/ou população), para dinamização da actividade económica, uma vez cumpridas as formalidades de natureza fiscal que são sempre pecuniárias. Neste domínio, numa perspectiva dinâmica, entram em acção outros protagonistas que intervêm, com os seus comportamentos típicos, no andamento, caracterização e peso relativo de cada um dos sectores de actividade económica, por um lado, e nas condições de desenvolvimento, por outro: o Estado (Poder Político, Universidades, Escolas, Hospitais, Tribunais, Empresas Estatais e Municipais, Museus, Parques Naturais e Ambientais, etc., por meio de impostos directos, não incluindo aqui impostos indirectos como o IVA e outros) e o sector financeiro (pelo rendimento gerado da actividade financeira e creditícia); o primeiro como suporte político e de agenciamento privilegiado do desenvolvimento, o segundo como suporte funcional de toda a actividade económica e do desenvolvimento: Fluxograma-Síntese da Aplicação do Rendimento Distribuído II Salários Recapitalização Lucros Juros Investimentos Poupança Consumo Lucros Distribuíveis Impostos Dividendos Reservas Estado Consumo Investimento DESENVOLVIMENTO Poupança Actividades Financeiras Actividades Económicas 6 Do exposto nos fluxogramas-síntese criação de valor por meio da produção e da distribuição do rendimento gerado, sem incluir ainda a intervenção de outros tipos de organizações cujas missões se enquadram também na criação de valor (intelectual, científico, artístico, literário, desportivo, etc.) e essenciais não só ao crescimento económico como também ao desenvolvimento da sociedade, facilmente se pode concluir pela importância decisiva dos sectores de actividade produtiva para garantir taxas de crescimento e de criação de valor compatíveis com as necessidades de desenvolvimento económico e social e de convergência em relação a outras economias mais evoluídas, onde a estrutura de distribuição do rendimento não exerce uma intervenção neutra mas decisiva e activa na obtenção de um equilíbrio social desejável e imprescindível à sustentabilidade do crescimento económico e do próprio desenvolvimento. Complementarmente, verifica-se que as actividades financeiras exercem um papel importante na fixação das condições de desenvolvimento de cada economia, ao auxiliar directamente o financiamento das actividades económicas e indirectamente a melhoria das condições de desenvolvimento de uma determinada sociedade, depois de colectadas, remuneradas as poupanças originárias dos sectores produtivos da economia e aplicadas através da concessão de crédito de acordo com as regras de intervenção, compensação e supervisões monetária e financeira nos respectivos mercados de cada economia. Este importante sector de actividade “gera ou cria” também o seu próprio valor em condições de fluxos idênticas às verificadas em empresas de outros sectores de actividade económica mas sujeito às regras próprias e específicas dos sectores bancário e financeiro, onde as poupanças desempenham um importantíssimo papel na origem dos fundos necessários ao desenvolvimento das respectivas actividades. Fluxograma-Síntese da Produção de Serviços Financeiros, Criação de Valor e Distribuição do Rendimento III Mercado de Factores Instituições Financeiras Mercado de Produtos Produção (2) Serviços Financeiros RH RP RT RFI RFE Criação de Valor Distribuição Salários Lucros Recapitalização 7 Juros Significado da simbologia utilizada no fluxograma: RH = Recursos Humanos RP = Recursos Produtivos (consumíveis) RH = Recursos Tecnológicos (equipamentos) RFI = Recursos Financeiros Internos (capitais próprios) RFE = Recursos Financeiros Externos (empréstimos) (2) = Produção de Serviços Financeiros O sistema de distribuição do valor criado pelas actividades financeiras é, na sua essência, idêntico ao anterior: Fluxograma-Síntese da Aplicação do Rendimento Distribuído IV Salários Recapitalização Lucros Juros Investimentos Poupança Consumo Lucros Distribuíveis Dividendos Reservas Impostos Actividades Financeiras Internas Estado Investimento DESENVOLVIMENTO Consumo Poupança Actividades Económicas Actividades Financeiras Externas No âmbito da economia internacional, a deslocalização das empresas é quase predominante nos sectores de actividade industrial e dos serviços concomitantes e muito raramente se verifica noutros sectores de actividade económica, nomeadamente no da prestação de serviços bancários e financeiros correlacionados. A este nível, são mais frequentes operações de reajustamento nos respectivos mercados através de fusões, aquisições e mais raramente cisões do que transposição da instituição bancária 8 para outros países, como acontece com as unidades económicas industriais em busca de melhores condições de sustentação da sua competitividade internacional que são geralmente temporárias por demonstrarem alta sensibilidade a alterações da conjuntura económica, financeira, fiscal e até política locais. Então, no caso de deslocalização de empresas do sector produtivo todo o processo de criação de valor se deslocaliza para a economia do País de destino, sob controlo directo e total da estrutura de gestão da empresa ordenante da deslocalização; em termos de distribuição do valor criado, tanto pode acontecer a sua completa deslocalização (salários, juros, lucros e recapitalização) como apenas a verificação de parte dela (a repatriação dos lucros para a economia do País onde tem sede a empresa ordenante), razão pela qual apenas subsistiriam, na melhor das hipóteses, as relações seguintes: Fluxograma-Síntese da Aplicação do Rendimento Distribuído V Lucros Repatriados Lucros Distribuíveis Dividendos Reservas Impostos Estado Investimento DESENVOLVIMENTO Consumo Poupança Actividades Económicas Actividades Financeiras Em termos de produção e da respectiva criação de valor, a deslocalização opera uma desertificação empresarial e produtiva completa; em termos da distribuição do valor criado a economia do País da empresa ordenante beneficiará apenas da repatriação dos lucros, se assim for decidido, e de uma permanência mais competitiva nos 9 mercados, a nível global, até à verificação da próxima ou próximas deslocalizações, com efeitos multiplicadores nas actividades económicas e financeiras, de impacto muito inferior ao verificado antes, e de fragilização dos índices de desenvolvimento, para além de um maior enriquecimento e de uma mais elevada concentração da riqueza produzida transformada em capital financeiro. Caso as actividades financeiras tivessem optado por um movimento generalizado de deslocalização das respectivas actividades, a acompanhar o verificado nas actividades económicas, as consequências na distribuição do valor criado seriam as seguintes: Fluxograma-Síntese da Aplicação do Rendimento Distribuído VI Lucros Lucros Distribuíveis Dividendos Reservas Impostos Actividades Financeiras Internas Estado Investimento DESENVOLVIMENTO Consumo Poupança Actividades Económicas Actividades Financeiras Externas 3 – Concentração da Riqueza O fluxograma-síntese I constitui a representação genérica das operações de criação de valor baseadas na produção de bens e de serviços em qualquer sistema económico, essencial para a operacionalidade e funcionamento dos mercados de recursos (recursos humanos, recursos produtivos materiais, recursos tecnológicos e recursos financeiros) onde a sustentabilidade dos níveis de emprego exige sempre a necessidade de uma preparação e actualização contínuas de conhecimentos base e 10 especializados. O modelo de distribuição apresentado procura que todos os recursos utilizados na criação de riqueza sejam remunerados para se poder assegurar a sua reprodução como fonte de (re)alimentação do próprio processo produtivo mas terá de ser ponderado por mecanismos políticos de natureza social que evitem assimetrias distributivas destruidoras da coesão social. Com o mesmo fluxograma, num quadro de normalidade do processo de produção e de distribuição da riqueza produzida, procura abranger o mais alargado espectro dos factores produtivos e de garantir a sustentabilidade do modelo em termos de níveis de emprego e de limitação dos danos sociais causados pelo desemprego como principal factor de pauperização e de desarticulação da sociedade existente no território de um determinado País. A permanente articulação com uma política de formação base e profissional de quem tem responsabilidades assumidas no exercício de funções organizacionais, empresarias ou de outra natureza, acompanhada de estratégias de desenvolvimento de âmbito temporal baseado no médio e no longo prazo, a determinar investimentos produtivos compatíveis com exigências de sustentabilidade das melhores condições de concorrência em mercados adequada, competente, independente, responsável e sancionadamente regulados, só poderão aperfeiçoar as condições de produção da riqueza e de criação de valor para não se sentirem dificuldades inultrapassáveis nas condições da sua distribuição causadas por mentalidades mesquinhas, deformadas e/ou dependentes exclusivos da ganância e do poder por todas engendrado (como aconteceu recentemente com a crise das actividades económica – excesso de produção e de consumo - e financeira – insuficiências prudenciais, excesso de crédito e especulação desenfreada, como fuga para a frente). A procura incessante de condições de competitividade nos mercados internos e externos, imprimindo-lhe um cunho internacional ou global, implicou a tomada de decisões empresariais rápidas e de impacto quase imediato ou de curto prazo, procurando tomar as até agora vantajosas posições de mercado de “first mover” ao eleger a deslocalização da produção e de criação de valor, acompanhada de alterações na estrutura geográfica da distribuição do respectivo rendimento. As economias dos países de origem da deslocalização tiveram de confrontar-se com alterações à tipologia dos produtos baseadas num permanente “up-grading” em termos da sua qualidade, abandonar a produção de grandes quantidades para aproveitamento das economias de escala na fase de produção e privilegiar as marcas próprias em combinação com o domínio ou a influência das redes de distribuição dos produtos, onde as operações comerciais e de marketing assumiram uma importância decisiva na oportunidade, eficácia e eficiência do tratamento dos mercados internos e externos, onde o crescimento do volume de negócios e da sua rendibilidade tinha na conquista de quotas de mercado crescentes o seu grande suporte operacional. De todos, os mercados de factores foram os mais afectados com as políticas empresariais de deslocalização da produção, em toda a sua dimensão, especialmente nociva na parte relativa aos níveis de empregabilidade e fragilizadora na parte relativa aos restantes factores, com excepção na parte relativa à remuneração dos capitais próprios investidos através dos lucros repatriados (tanto pode ser para os Países decisores da deslocalização como para quaisquer outros sobre os quais tenha recaído a decisão de fixar a sede dos capitais próprios que detêm as estruturas produtivas deslocalizadas). Os mercados de produtos serão operados nas melhores condições de abastecimento e numa melhorada relação qualidade/preço como factor de crescente competitividade internacional e de rendibilidade dos negócios para os capitais investidos na concretização das políticas empresariais de deslocalização da produção. 11 Em termos da distribuição do rendimento gerado pela criação de valor numa produção deslocalizada, a componente que permanece tem a ver com os lucros, mas com lucros repatriados das economias dos Países de acolhimento dessas estruturas produtivas e jamais com os lucros gerados pela criação de valor da produção obtida nas economias dos Países decisores da deslocalização da produção de bens e serviços. O valor da repatriação desses lucros terá com elevada probabilidade uma maior dimensão (enriquecimento intenso) que na modalidade produtiva anterior à deslocalização e corresponderá, nas empresas do País decisor da deslocalização, a uma maior concentração da riqueza produzida e convertida em capitais genuinamente financeiros, com todas as implicações nas actividades económicas, financeiras, fiscais e de desenvolvimento esquematicamente mencionadas no fluxograma V de distribuição do rendimento, contrabalançadas com menor dinâmica do mercado de todos os factores e com níveis mais elevados de desemprego. 4 – Desemprego Nos capítulos anteriores tratou-se a deslocalização das actividades económicas suportadas por processos produtivos de bens e serviços do nosso para outro ou outros Países, de forma a combater as consequências de uma procura intensa e contínua de melhores condições de competitividade a nível global e procurar manter intactas (senão aumentar, até) as quotas de mercado, em termos internacionais, dos produtos nacionais. Por outro lado, a economia do nosso País também oferece condições de competitividade internacional em certos factores produtivos em melhores condições de competitividade que os das economias de outros Países (mão-de-obra incluída), razão pela qual tem conseguido atrair capitais financeiros cuja aplicação tem promovido o investimento directo estrangeiro, acedido à evolução tecnológica de mais recente geração, à afectação e dinamização dos nossos recursos próprios (nomeadamente a mão-de-obra cada vez mais qualificada), à intensificação dos índices de recapitalização das actividades, ao maior envolvimento dos mercados financeiros de crédito às empresas (actividades e investimentos), ao reforço do peso relativo dos sectores de actividade económica no conjunto das exportações e a uma contribuição positiva para o crescimento económico, como as consequências mais significativas. Como já foi anteriormente referido, as economias dos Países ordenadores da deslocalização das actividades económicas continuam a controlar os mercados onde continuam a vender os seus produtos (bens e serviços) com uma produção distribuída geograficamente pelas economias dos Países de destino da deslocalização daquelas actividades: Fluxograma-Síntese da Produção de Bens e Serviços e Criação de Valor VII Países de Destino da Produção Países Controlo dos Mercados País A País B Mercado 1 Produção País C Mercado 2 Mercado 3 Criação de Valor 12 Por seu turno, a distribuição do rendimento gerado terá a mesma estrutura mas com uma afectação geográfica diferenciada, de acordo com a dinâmica e condições de funcionamento das economias dos Países para onde se dirigiu a deslocalização das actividades económicas: Fluxograma-Síntese da Distribuição da Riqueza Criada VIII Distribuição Países de Destino da Produção Salários Juros Países Controlo dos Mercados Recapitalização Lucros Repatriados A deslocalização das actividades produtivas de bens e serviços para a economia de outros Países implica sempre uma fragilização da dinâmica associada à actividade económica em geral e da afectação dos recursos em particular (em especial o emprego e a criação de valor), se não for antecedida de um esforço de inventariação e de afectação de recursos próprios ociosos aos processos produtivos objecto de deslocalização, acompanhado por acções de renovação e inovação tecnológica e de formação dos recursos humanos, como forma de obter condições de competitividade internacional melhores que as que possam ser proporcionadas pelas economias dos Países destino dessa deslocalização. Complementarmente, também os projectos que contemplem a deslocalização das indústrias para a economia do nosso País deverão incluir obrigatoriamente a afectação dos nossos recursos próprios, com vista a diminuir a eventual dependência dos processos produtivos dessas indústrias de factores externos entre os quais o mais sensível de todos: a tecnologia, para se conseguir uma maior dinamização das actividades económicas, a intensificação da criação de valor, uma equilibrada remuneração dos factores produtivos e um maior contributo para o equilíbrio das contas externas com o crescimento das exportações e/ou a substituição de importações. Trata-se, em ambos os casos, da necessidade de implementar políticas económicas de valorização e de afectação mais intensa dos nossos recursos próprios (diferenciados e geograficamente distribuídos, no quadro da obtenção de melhores condições competitivas globais), não só aos projectos de deslocalização para o espaço da nossa economia como também aos projectos empresariais nacionais que prevejam ou venham a prever esse tipo de deslocalização para as economias de outros Países, de forma a contrariar tais decisões e sem prejuízo das acções de investimento nas economias desses Países que representem pura internacionalização no âmbito estratégico: (1) Da expansão de negócios e (2) De uma maior dimensão empresarial 13 As características de uma política económica de valorização de recursos próprios assim implementada teria como objectivos centrais, pelo menos, não debilitar a estrutura produtiva instalada na nossa economia e os factores da sua competitividade internacional (sem prejudicar também o esforço produtivo de substituição de importações) e, pelo mais, a dinamização e a melhoria qualitativa e quantitativa da sua afectação aos processos produtivos, a intensificação da criação de valor, uma distribuição do rendimento gerado mais equilibrada e de acordo com as reais capacidades demonstradas, o reforço dos índices de emprego e o equilíbrio progressivo das contas externas (aumento das exportações e/ou substituição progressiva das importações: por exemplo, bens energéticos, bens alimentares e outros bens de consumo, para que a riqueza própria criada tenha uma afectação interna cada vez mais significativa), tudo contribuindo para um maior desenvolvimento e uma mais consistente convergência real para com as economias mais evoluídas. Em ambos os casos, o que permanece tem a ver apenas com a necessidade de domínio e/ou de controlo dos mercados de destino de bens e serviços, salvaguarda a capacidade competitiva desses produtos no mercado global, e a repatriação dos lucros apurados no desenvolvimento da actividade produtiva no regime de deslocalização, transformados em capital genuinamente financeiro2, para além da degradação das contas externas. 5 – Contas Externas A degradação das contas externas opera-se por diminuição do volume de exportações igual ao da produção deslocalizada, por insuficiência crónica da produção própria e diferenciada na substituição de importações (casos mais paradigmáticos: alimentação e energia, entre outros) e pelo maior crescimento dos lucros expatriados para as economias de outros Países (remuneração do investimento directo desses ou de outros Países na nossa economia) em relação ao dos lucros expatriados das economias de outros Países (remuneração do nosso investimento directo nas economias desses Países) para a economia do nosso País ou de outros Países. A intensificação da concorrência internacional ou global e a eliminação das barreiras fiscais e outras implicaram a debilitação dos sectores tradicionais da indústria do nosso País mas exigiu também um esforço de deslocalização e de readaptação persistente às novas condições de competitividade, onde a permanência de paradigmas assentes na remuneração de mão-de-obra pouco qualificada, nos reduzidos coeficientes tecnológicos e de intervenção activa nos mercados com marcas próprias e na permanência de empreendedores com baixos índices de preparação e intervenção empresariais tiveram de ser definitivamente abandonados. As consequências dessa debilitação têm-se vindo a sentir no agravamento dos índices de desemprego e na debilitação da nossa produção própria, dinâmicas negativas que não foram nem podiam ter sido compensadas pela crescente dinamização de actividades económicas industriais e de serviços de nova geração como as tecnologias de informação e comunicação (estas apenas têm funcionado como instrumentos mais eficazes ao serviço de outras actividades de muito maior impacto económico), as 2 Seria interessante que se desenvolvessem estudos que permitissem relacionar a formação deste capital financeiro, proveniente da repatriação dos lucros obtidos com a estratégia de deslocalização das indústrias em buscas de melhores condições de competitividade global, com a multiplicação do seu valor através do incremento das operações puras nos mercados de capitais e com a intensificação especulativa das últimas duas dezenas de anos. 14 indústrias criativas, as indústrias de energias renováveis, a biotecnologia e outras actividades de investigação e os serviços de saúde, entre outros. No quadro da debilitação da produção própria assegurada pela nossa estrutura económica não está confirmado que tal produção corresponda a um aproveitamento eficaz e intenso dos nossos recursos próprios, valorizados e diferenciados, no quadro de uma orientação de política económica que privilegie o fortalecimento das condições de produção própria assente na utilização plena e diferenciada daqueles recursos, de acordo com as características de cada Região do nosso País e com o objectivo complementar de substituir importações (tanto de recursos produtivos como de bens e serviços) e com tal combater os défices crónicos das contas externas, factor de empobrecimento progressivo, em termos de médio e longo prazo. Neste enquadramento, não poderão ter lugar as unidades económicas que já demonstraram a sua inviabilidade crónica e sistémica, derivada da incapacidade manifesta dos seus dirigentes e trabalhadores em adaptarem-se às novas exigências da concorrência internacional e global, induzindo comportamentos empresariais titulados por distorção concorrencial e/ou por desvios estatutários desrespeitadores de todos ou quase todos os seus “stakeholders”, para além de funcionarem como elemento contagiante de outras unidades económicas que ainda são capazes de pôr em prática capacidades de adaptação e de intervenção nos seus próprios processos empresariais, produtos, tecnologias e factores, compatíveis com as mais exigentes condições concorrenciais globais e de operação e permanência tanto no mercado interno como externos com dinâmicas e marcas próprias ajustadas às suas exigências crescentes na melhor relação qualidade/preço. As orientações de política económica, antes referidas, terão de contemplar medidas ou acções mais dinâmicas, actualizadas, inovadoras e abrangentes de requalificação da mão-de-obra que vier a ficar disponível não só por decisões de deslocalização de indústrias como de falência de empresas, onde a dinamização do empreendorismo, relacionado com negócios de última geração e/ou de reduzida dimensão e de características locais ou regionais, poderá dar um contributo decisivo e cada vez mais intenso na fixação das populações às suas terras de origem ou naturalidade e no aumento da produção própria, dos índices de emprego e na redução dos défices externos crónicos ao dar preferência a produtos nacionais de melhor relação qualidade/preço comparada, pelo menos. Sem prejuízo de resultar num grande erro político e estratégico, as mesmas orientações de política económica nunca poderão negligenciar, em algum momento, nem o apoio nem a dinamização das empresas dos sectores ditos tradicionais da nossa economia (sem tiques de caixeiro-viajante) que têm revelado e continuam a revelar capacidade empresarial de: (a) Adaptação aos novos tempos de concorrência global e de abertura quase incondicional dos mercados, (b) Inovação tecnológica de processos produtivos e de produtos e/ou serviços do negócio principal, (c) Criação de marcas próprias e de implementação e controlo de redes de distribuição desses produtos e/ou serviços, (d) Exigência, qualidade e meritocracia como critérios na remuneração dos recursos humanos, (e) Eficácia na afectação dos recursos materiais ao processo produtivo, (f) Abertura aos benefícios do mercado de capitais, 15 (g) Partilha/complementaridade exigente de experiências empresariais bem sucedidas num ambiente de rede e de sustentabilidade económica, financeira, ambiental e social, (h) Intensificação das acções de formação que combinem o saber/saber com o saber/fazer e intervenção crescente da investigação aplicada. Relativamente à evolução do défice das contas externas, as estatísticas demonstram que não são as regiões do interior do nosso território as maiores responsáveis pela sua deterioração, ao longo das últimas décadas. A intensificação do consumo mobilizador da importação de bens e de serviços (para além da de capitais) tem-se situado nas regiões situadas no litoral do nosso território, exactamente onde se situam as unidades económicas e as populações que mais intensamente recorrem a bens importados; esta dinâmica económica, intensificada a partir de meados do século passado, só pôde contribuir para acentuar as assimetrias regionais mais de crescimento do que de desenvolvimento. Por isso, a implementação de uma política económica orientada para o desenvolvimento equilibrado e autosustentado, no qual tem de estar obviamente incluído o crescimento económico, só poderá privilegiar o crescimento da produção interna a partir da inventariação e da afectação dos recursos próprios a essa produção, no respeito pela sua diferenciação existente ao nível das regiões integradas no território continental do nosso País e com preferências ou opções cada vez menos infra-estruturantes. Em termos políticos, a implementação da regionalização, com a eleição de altos desígnios nacionais a prosseguir (soberania, desenvolvimento económico e social, conhecimento e tecnologia e equilíbrio social), num quadro de aproveitamento diferenciado e mobilizador das potencialidades jamais estimuladas de 7 Regiões Autónomas, dará um contributo decisivo para o crescimento económico com aperfeiçoamento em todas as componentes de desenvolvimento, região a região, reduzirá no tempo as actuais, ancestrais e escandalosas assimetrias de desenvolvimento, dinamizará o empreendorismo adaptado a cada região e interiorizado pelas populações, tudo com efeitos positivos no balanceamento progressivo das contas externas e na redução gradual do índice de endividamento nacional (actualmente, é de quase 100% do PIB). 6 – Conclusões A deslocalização da produção de bens e serviços para as economias de outros Países não contempla somente consequências positivas para as economias dos Países que a decidem favoravelmente, podendo gerar desemprego e pobreza na economia do País deslocalizante se não se verificar a existência e a aplicação de uma política económica que não inviabilize operações de idêntica natureza em sentido contrário e/ou acções de reconversão das actividades económicas tradicionais ou menos preparadas para enfrentar as exigências da competitividade global. De todo o modo, a esta fragilização da estrutura económica de um País e tendência para diminuição do crescimento económico (acentuação dos índices de pobreza?) corresponde o reforço da estrutura económica de outro e tendência para um crescimento económico (mesmo que seja temporário) e uma intensificação dos movimentos de repatriação de lucros, na vertente de capitais financeiros com tendência para uma crescente concentração da riqueza. As implicações sociais poderão conduzir a situações dramáticas decorrentes do aumento dos índices de desemprego nas economias dos Países que tomaram a iniciativa da deslocalização da produção, a par de outras consequências ao nível dos 16 mercados de capitais com o aumento do seu volume, por efeito dos movimentos de repatriação de lucros, a alimentar operações financeiras de natureza especulativa, obedientes a simples critérios de custo de oportunidade menos compensadores caso tais capitais fossem aplicados alternativamente em investimentos em estruturas económicas produtivas. Como os movimentos de deslocalização da produção entre as economias de diferentes Países nunca têm um efeito compensador absoluto, as consequências serão sempre maioritariamente negativas para uns (as economias dos Países emissores da deslocalização) e não integralmente positivas para outros (as economias dos Países receptores da deslocalização), razão pela qual na parte que interessa à economia do nosso País, como País emissor e historicamente indigente, é relevante que se afirme uma POLÍTICA ECONÓMICA que contemple acções que permitam: (1) A dinamização dos sectores tradicionais de actividade económica que ainda revelem fragilidades operacionais e de competitividade no mercado global (as fragilidades financeiras competem aos accionistas), (2) O impulsionamento de actividades económicas de nova geração, autosustentadas e de grande intensidade tecnológica, combinando o saber/saber com o saber/fazer e preferindo a meritocracia como método de avaliação de desempenho, (3) Intervencionismo crescente da investigação tecnológica aplicada, (4) Implementar a regionalização como plataforma ou instrumento político para diferenciar e impulsionar o crescimento económico potenciador do valor dos nossos recursos próprios regionais e diferenciados (subestimados e subafectados), praticar uma política de fixação das populações às suas terras de origem ou de naturalidade e reduzir as actuais e profundas assimetrias de desenvolvimento, (5) Intensificação das acções de apoio ao empreendorismo regional, (6) Redução progressiva do défice das contas externas e do nível de endividamento nacional. As propostas apresentadas não possuem a ambição de promover resultados políticos em termos de curto prazo nem de conceder facilidades ou benefícios antecipados aos seus intervenientes ou protagonistas, como também não pretendem dar continuidade aos métodos actuais de decisão casuística e de intervenção menos estruturada que a que se pretende implementar. Com efeito, o que se pretende tem a ver com a eliminação das fragilidades crónicas que têm caracterizado e condicionado dramaticamente a modernização, funcionalidade, eficiência e universalidade de sistema económico nacional, na sua diversidade e complementaridade regionais, para que possam ser atingidos objectivos mais amplos ao nível do desenvolvimento equilibrado e autosustentado: económicos, sociais, culturais, educacionais, ambientais, histórico-monumentais, ordenamento, etc. Mas também tem a ver, no âmbito da mesmo política económica, com a exigência moderna, ética, responsabilizadora e actuante de uma regulação de todos sectores de actividade económica e financeira que dissuada, através de uma moldura sancionatória séria sem ser sumária (a da comunicação social) e aplicável em tempo de lembrança útil e eficaz, as tentações individuais e/ou de grupos comprovadamente desviantes em relação aos objectivos estatutários das organizações (empresariais e outras) e de regulação vigentes, mesmo que por detrás sejam cinicamente reclamadas causas em possível relação com a eminência ou prevalência de crises políticas, financeiras, económicas, sociais ou até causas de outra natureza, sempre alinhadas como da exclusiva responsabilidade de terceiros e nunca dos seus verdadeiros autores faltosos. 17