II Congresso de Educação – UEG/UnU Iporá
A formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente
BENS CULTURAIS E SIMBÓLICOS E A EDUCAÇÃO EM PIERRE
BOURDIEU
SOUZA, Erisvaldo¹
Universidade Federal de Goiás – Programa de Pós Graduação em Sociologia
¹[email protected]
RESUMO
Um forte elemento presente na obra de Pierre Bourdieu é a sua análise da formação da gênese
dos campos, como é o caso do campo científico, campo artístico, campo literário, campo
religioso etc. Torna-se importante para a elaboração deste estudo inicialmente, analisar alguns
pontos fundamentais em relação à origem e a própria formação do campo literário e artístico
para relacionarmos com a escola, e como esta acaba produzindo e reproduzindo certos
comportamentos e estão interligados ao conjunto da produção material e simbólica. Então, a
proposta inicial é, portanto, trabalhar a formação do mercado de bens culturais e simbólicos
na concepção deste autor, e posteriormente inserir o nosso objeto de pesquisa em uma análise
educacional.
Palavras Chaves: Educação, Campo Intelectual, Bens Culturais e Simbólicos.
INTRODUÇÃO
A análise de Bourdieu nos mostra como se formou historicamente um mercado de
bens culturais e simbólicos desde a Idade Média, passando pela Idade Moderna, é quando a
produção cultural passa a ter uma autonomia relativa em relação a produção capitalista e a
própria sociedade. Um ponto importante discutido pelo autor em relação à formação deste
mercado é o forte avanço nas formas de produção que ocorrem com a Revolução Industrial,
possibilitando mudanças radicais nas formas de produzir mercadorias, até mesmo os produtos
que integram a cultura neste momento irão passar por estas mudanças, segundo ele, temos os
primeiros passos da chamada indústria cultural. Neste sentido, torna-se importante fazer uma
relação da produção destes produtos com o sistema de ensino que acaba reproduzindo
determinadas formas de comportamentos e de alguma forma estão ligadas não só a este
mercado, mas também ao conjunto da sociedade, tornando-se ponto fundamental na proposta
deste trabalho.
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Para fundamentar este trabalho utilizaremos algumas obras de Pierre Bourdieu,
caracterizando sua importância para esta análise, tais como: A Reprodução: Elementos Para
uma Teoria do Sistema de Ensino (2011); O Poder Simbólico (2007); A Economia das Trocas
Simbólicas (2005) e alguns de seus comentadores, como é o caso de Ortiz (1994) e Miceli
(2005) que contribuem de forma pontual para uma análise da sua obra. A produção teórica de
Pierre Bourdieu ao longo do século XX foi estudada por diversos pesquisadores, dentre eles:
sociólogos, historiadores, pedagogos, cientistas políticos, economistas etc, desenvolvendo
estudos sob perspectivas diversas sobre sua obra. A nossa proposta é compreender a partir da
obra deste autor e sua referência nos estudos sobre a origem e a formação de um mercado de
bens culturais e simbólicos, como o sistema de ensino acaba reproduzindo ideologicamente a
sociedade capitalista.
MATERIAIS E MÉTODOS
A abordagem desta temática parte de alguns pressupostos teóricos e metodológicos
da obra de Bourdieu e de autores que trabalharam suas obras tanto no sentido sociológico,
histórico, político, cultura, educacional e com o objetivo de compreendê-la. Bourdieu afirma
ser o sistema de produção e circulação de bens culturais e simbólicos define-se como o
sistema de relações objetivas entre diferentes instâncias definidas pela função que cumprem
na divisão do trabalho de produção, de reprodução e de difusão de bens simbólicos (Bourdieu,
2005, p. 105).
Vejamos alguns apontamentos sobre a educação para Bourdieu no sentido de
caracterizar melhor nossa concepção desta temática:
“Instrumento fundamental da continuidade histórica, a
educação considerada como processo através do qual se opera no
tempo a reprodução do arbitrário cultural, pela mediação da produção
do hábito produtor de práticas de acordo com o arbitrário cultural (isto
é, pela transmissão da formação como informação capaz de
“informar” duravelmente os receptores)” (Bourdieu & Passeron, 2011,
p. 54).
A educação é um elemento fundamental para a formação do indivíduo, na família, na
escola e demais instituições formadoras de um capital cultural ou social. Para Bourdieu
(2005), é preciso encarar a oposição entre os dois modos de produção de bens culturais e
simbólicos – só podem ser completamente definidos através de suas relações – como o
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produto de uma construção limite. São meios de produzir e consumir bens culturais e
simbólicos de forma distinta. Desta distinção entre os campos da indústria cultural e do
campo erudito, pode-se perceber uma infinidade de bens culturais e simbólicos, (música,
literatura, teatro, cinema etc), outro exemplo de produção bens simbólicos está ligado às
diversas doutrinas religiosas. O nosso objetivo principal são os bens culturais e simbólicos, a
escola também produz seus bens simbólicos, pois esta acaba reproduzindo determinadas
relações sociais da sociedade capitalista, produzindo um bem simbólico que também é
especifico a esta relação social, esta análise é proposta por Bourdieu & Passeron (2011), nesta
obra eles desenvolvem uma análise da questão do habitus de classe, do arbitrário cultural, do
capital cultural e social, contribuindo para uma compreensão destas relações sociais, em
relação ao habitus analisado pelo autor, este está ligado às práticas dos indivíduos na família e
na escola que é onde o indivíduo aprende a produzir e reproduzir a questão do habitus.
Bourdieu afirma desta forma, os indivíduos que receberam de sua família uma
iniciação precoce em arte aumenta bastante quando eleva-se o nível de instrução, este fato se
liga diretamente ao conceito de habitus bastante utilizado na obra de Bourdieu, este conceito
foi trabalhado pela primeira vez por ele na obra a Reprodução, escrita em conjunto com
Passeron, esta obra trata de questões voltadas para analisar o capital cultural, neste sentido,
torna-se fundamental uma análise mais pormenorizada deste conceito, no sentido de dar uma
sistematicidade para este trabalho. O habitus é utilizado neste trabalho como forma de
caracterizar sua relação com a família em um primeiro momento e posteriormente com a
escola, pois o indivíduo acaba reproduzindo o habitus familiar, normalmente o filho de um
burguês tende a ser mais estudioso do que um filho de um trabalhador, pois na perspectiva de
Bourdieu, este acaba acumulando maior capital cultural ao longo de sua vida, este acumulo de
capital cultural está ligado ao habitus de classe e da família, o gosto pela arte, conhecimento,
literatura etc, está ligado ao conceito de habitus. O habitus na concepção de Bourdieu pode ser
definido da seguinte forma:
“O habitus como indica a palavra, é um conhecimento
adquirido e também um haver, um capital (de um sujeito
transcendental na tradição idealista) o habitus, a hexis, indica a
disposição incorporada, quase postural -, mas sim o de um agente em
ação: tratava-se de chamar a atenção para o “primado da razão
prática” (Bourdieu, 2007, p. 61)
O habitus é formado historicamente e diz respeito ao acúmulo de informação
(conhecimento) nos seus diversos aspectos, social, artístico, político, literário etc., e
acompanha a vida tanto do indivíduo como do grupo no qual ele pertence. Bourdieu ainda
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coloca que: “os utilizadores da palavra habitus se inspiravam numa intenção teórica próxima
da minha, que era a de sair da filosofia da consciência sem anular o agente na sua verdade de
operador prático de construções de objeto” (Bourdieu, 2007, p. 62). Não se trata de fazer uma
história social do habitus, mas sim mostrar como este se reproduz a partir da ação dos agentes
no interior da sociedade, da classe social ou até mesmo do grupo social, assim, o autor
contribui para uma compreensão sistemática do que vem a ser o habitus. Mas segundo ele, é
reproduzindo ativamente os melhores produtos dos pensadores do passado pondo a funcionar
os instrumentos de produção, sendo a condição do acesso a um pensamento realmente
produtivo. Na compreensão de Miceli sobre o conceito de habitus ele estabelece o seguinte
conceito:
“O habitus vem a ser, portanto, um princípio operador que
leva a cabo a interação entre dois sistemas de relações, as estruturas
objetivas e as práticas. O habitus completa o movimento de
interiorização de estruturas exteriores, ao passo que as práticas dos
agentes exteriorizam os sistemas de disposições incorporadas”
(Miceli, 2005, p. 41)
Vimos nesta citação de Miceli, o seu conceito de habitus se aproxima do conceito de
Bourdieu, neste sentido ele ainda desenvolve mais alguns comentários sobre o conceito de
habitus:
“O habitus seria um conjunto de esquemas implantados desde
a primeira educação familiar, e constantemente repostos e
reatualizados ao longo da trajetória social restante, que demarcam os
limites à consciência possível de ser mobilizada pelos grupos e/ou
classes, sendo assim responsáveis, em última instância, pelo campo de
sentido em que operam as relações de força” (Miceli, 2005, p. 42).
O habitus está ligado a formação do indivíduo na família, mas este habitus segundo
ele deve ser constantemente atualizado, pois o indivíduo não pode perder esta prática que ele
adquiriu. Por outro lado, Miceli (2005) afirma, o habitus constitui a matriz de uma série de
estruturações e reestruturações, passando por diversas modalidades de experiências
diacronicamente determinadas dos agentes. Assim, como o habitus adquirido através da
inculcação familiar é condição primordial para a estruturação das experiências escolares, o
habitus transformado pela ação escolar constitui o princípio da estruturação de todas as
experiências ulteriores, incluindo desde a recepção das mensagens produzidas pela indústria
cultural até as experiências profissionais. Isto quer dizer que o habitus está ligado diretamente
ao processo educacional no qual o indivíduo tem ao longo de sua vida, este habitus possibilita
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ao indivíduo até mesmo fazer uma seleção das informações, imagens produzidas na sociedade
capitalista e na qual ele tem acesso a partir da indústria cultural, como é o caso das
informações da televisão, do rádio, das revistas, dos jornais, o conteúdo de um filme ou de
uma música, este indivíduo foi formado socialmente a partir deste habitus a fazer uma seleção
das informações recebidas pelos diversos meios tecnológicos de comunicação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra de Ortiz (1994) e Miceli (2005) nos possibilita uma compreensão da obra de
Pierre Bourdieu, estes autores buscam uma compreensão mais sistemática do seu pensamento.
Para Ortiz (1994) Bourdieu é um autor difícil de ser situado em relação a uma “escola”, pois
se apresenta como um pensador profundamente original. Em termos gerais, sua obra apresenta
influências diversas. Miceli (2005), afirma ser o trajeto deste autor, visa aliar o conhecimento
da organização interna do campo simbólico – cuja eficácia reside justamente na possibilidade
de ordenar o mundo natural e social através de discursos, mensagens e representações, estas
não passam de alegorias para simular a estrutura real de relações sociais – a uma percepção de
sua função ideológica e política legitimando uma ordem arbitrária que se funda o sistema de
dominação vigente. Desta forma o sistema educacional acaba reproduzindo determinadas
ideologias produzidas pela classe dominante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOUR DIEU, Pierre, A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo, Perspectiva, 2005.
BOURDIEU, Pierre, O Poder Simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007.
BOURDIEU, Pierre & PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução: Elementos Para uma Teoria
do Sistema de Ensino. Petrópolis, Vozes, 2011.
MICELI, Sérgio. A Força do Sentido. In: Bourdieu, Pierre. A Economia das Trocas
Simbólicas. São Paulo, Perspectiva, 2005.
ORTIZ, Renato. A Procura de uma Sociologia Prática. In: BOURDIEU, Pierre. Sociologia.
São Paulo, Ática, 1994.
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