Estimativa da evapotranspiração e de parâmetros ambientais com técnicas de sensoriamento remoto e dados de superfície Pedro Pereira Ferreira Júnior¹, Maria Isabel Vitorino² e Adriano Marlisom Leão Sousa³ 1 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais – UFPA/MPEG-EMBRAPA. Rua Augusto Correa, 01, CEP: 66075-110. Caixa postal 479, Tel: (91) 3201-8155. Belém, PA [email protected] 2 Docente da Universidade Federal do Pará – Faculdade de Meteorologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais. Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá, Belém-PA, CEP 66075-110, Caixa postal 479 [email protected] 3 Doutor em Recursos Hídricos – LBA/MPEG. Av. Perimetral, 1901, Terra Firme. CEP: 66.077-530. Tel: 913217-6056. Belém, PA – [email protected] ABSTRACT: Evapotranspiration and environmental parameters were estimated by Aqua/Modis to Caxiuanã, Melgaço-PA. We used also observational data of the LBA, collected in 2008 at the micrometeorological tower. Although the estimated ET having larger value in the dry season and lower value during the rainy season, it maintained a relatively high rate throughout the year, with an average value very similar to those reported in literature for the Amazon region. The ET was overestimated for the rainy season and underestimated for the dry season, but presenting also the maintenance of relatively high ET, as ET observed. The albedo and the speed of friction between three different surfaces showed significant differences between the different biomes of the region, showing seasonal variations (with higher values in dry season). The results also suggest that due to ET was higher in the dry season, the rainy season was vital, indicating that in the dry season, transpiration is the main source for the regional ET, which in turn is related to production primary forest. Keywords: Evapotranspiration, Heat flow, SEBAL, Remote sensing 1 - INTRODUÇÃO À superfície, os processos físicos globais e locais são representados pelas trocas de energia na interface vegetação-atmosfera que se dá por meio das componentes do balanço de radiação e dos fluxos de calor, sendo essenciais para modelagem climática. Na pequena escala a quantificação das perdas de água para a atmosfera pode ser obtida pela razão de Bowen, método das correlações turbulentas e outros, destinados à estimativa da evapotranspiração (ET). French et al., (2005) citam que a variabilidade espacial da ET é grande, e que até mesmo as maneiras mais avançadas de medi-la, em torres por meio de sistemas de covariância de vórtices turbulentos, não é freqüentemente o mais representativo da ET numa escala regional. Assim, a estimativa da evapotranspiração e outros elementos ambientais, em escala regional, têm sido amplamente estudados, combinando medições meteorológicas convencionais com dados de sensoriamento remoto. Além disso, as dificuldades em se obter medidas reais de radiação, albedo e outros elementos na floresta amazônica, têm levado muitos pesquisadores a usarem, em modelos climáticos, um valor único e constante para toda a área vegetada da Amazônia o que, na prática, não reflete a realidade, pois esta floresta é constituída de vários ecossistemas, com dosséis muito diferentes (Leitão, 1994). Neste sentido, considerando as dificuldades e carência de dados espaciais de ET para regiões de floresta nativa, e sabendo que os métodos convencionais necessitam de informações pontuais precisas, os quais inviabilizam o uso numa escala regional, este estudo visa estimar a evapotranspiração e alguns parâmetros ambientais para Caxiuanã-Pa, usando dados de sensoriamento remoto e superfície, aplicando o algoritmo Surface Energy Balance Algorithms for Land (SEBAL). 2 - MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 - ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está localizada na Floresta Nacional de Caxiuanã, município de Melgaço-Pa, cerca de 400 km a Oeste da cidade de Belém-PA. A floresta apresenta um dossel médio de 40 m de altura, com árvores a 50m. O clima é tropical quente e úmido, com temperaturas médias anual de 26° C. Tem período mais chuvoso de Jan-Mai e menos chuvoso de Set-Dez. A UR média anual é em torno de 80%. O vento predominante é de nordeste (Moraes et al., 1997). 2.2 - DADOS OBSERVACIONAIS Os dados observacionais fazem parte do Projeto de Grande Escala da BiosferaAtmosfera na Amazônia (LBA). As medições micrometeorológicas de fluxos de energia e concentração de vapor d’água foram obtidas através de um sistema eddy correlation. Foram calculadas as médias aritméticas horárias e diárias dos elementos meteorológicos para o período de estudo. As variáveis ambientais foram estimadas usando dados do sensor MODIS - Acqua e dados da torre micrometeorológica. O período do estudo compreende o ano de 2008, iniciando em 01 de janeiro até 31 de dezembro. De posse destas datas, foram coletadas as imagens MODIS - Acqua que estavam disponíveis para o estudo. As imagens utilizadas neste estudo são imagens composta de médias de oito dias para as variáveis Reflectância da Superfície (MOD09) Temperatura da Superfície (MOD11), e imagens de dezesseis dias do produto Índice de Vegetação (MOD13), onde estas imagens encontram-se disponíveis no sítio https://wist.echo.nasa.gov/wist-bin/api/ims.cgi?mode=MAINSRCH&JS=1. 2.3 - APLICAÇÃO DO MODELO SEBAL O balanço de energia foi determinado pelo algoritmo SEBAL, que necessita de poucas informações da superfície para estimar as componentes do balanço de energia através do sensoriamento remoto. A evapotranspiração é obtida pela divisão do fluxo de calor latente pelo calor latente de vaporização da água e foi estimado como o resíduo da equação do balanço de energia, contabilizando-se a diferença entre a radiação líquida, o fluxo de calor para o solo e o fluxo de calor sensível. A descrição do algoritmo SEBAL está descrita em (Sousa et al., 2007). 3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 - EVAPOTRANSPIRAÇÃO MENSAL No geral, a ET de janeiro a junho foi superestimada e de julho a dezembro foi subestimada. Esta superestimativa pelo modelo pode ter ocorrido devido às características pluviométricas do período chuvoso ter estado acima do normal, uma vez que esteve sobre uma forte influência do fenômeno La Niña. Esses resultados mostram não só uma ET maior no período chuvoso, mas também a manutenção de uma taxa tão elevada de ET pela floresta mesmo na estação seca. Durante a estação seca, quando o total de precipitação é mais baixo com relação à estação chuvosa, o armazenamento de umidade do solo disponível para absorção da raiz pode ser suficiente para manter a taxa de ET igual ou até mesmo maior do que na estação chuvosa, como já mostraram Malhi et al., (2002), Negrón Juárez et al., (2007), Sommer et al., (2002). Isto faz supor que na estação seca, a transpiração é a principal fonte para a ET da região, que por sua vez está ligada à produção primária da floresta. Segundo Li & Fu (2004) e Fu & Li (2004) esta manutenção desempenha papel central na determinação do início da estação chuvosa subseqüente que irá acontecer. Assim, uma melhor compreensão dos controles de ET da floresta, durante a estação seca é importante para predizer o calendário e a variabilidade do início da estação chuvosa. Variação Mensal do Fluxo de Calor (Evapotranspiração) em Caxiuanã-PA (2008) 5,5 5 4,5 4 ET 3,5 3 2,5 2 ET OBS (mm.dia-¹) 1,5 ET SR (mm.dia-¹) 1 0 1 2 3 4 5 6 Meses 7 8 9 10 11 12 Figura 1: Variabilidade Mensal da Evapotranspiração observada (pontos vermelhos) e ET estimada pelo sensoriamento remoto (linha azul), em Caxiuanã – PA, durante 2008. 3.2 - VARIABILIDADE ESPACIAL DE PARÂMETROS AMBIENTAIS A estimativa do albedo apresentou uma boa concordância com os dados de verdade terrestre para uma floresta primária. Através dos albedos estimados verifica-se a alta sensibilidade desta ferramenta em diferenciar os distintos biomas existentes na região, principalmente entre a floresta primária e as regiões desflorestadas. No geral, os resultados mostram valores de albedo para a floresta em torno de 18%, para a região de pastagem aproximadamente 33% e sobre a Baía de Caxiuanã valores de aproximadamente 4%. No caso de vegetação de floresta, como a folhagem é agrupada na copa, com picos e depressões organizados nas superfícies dos dosséis, grande quantidade de radiação solar incidente penetra antes de ser refletida e isso resulta numa acentuada captura de radiação solar e, conseqüentemente, numa baixa reflexão (Eck & Deering 1992). Além do que, as florestas apresentam diferença na coloração da vegetação existente, que por serem mais escuras refletem menos energia que a pastagem (Moura et al., 1999). Nota-se ainda uma acentuada diferença sazonal nos padrões de albedo sobre a floresta. O albedo na estação chuvosa mostrou-se menor 16%, em contrapartida ao dia da estação seca que apresenta 19%. Sobre as áreas de pastagens apresentaram 30% e 34%, período chuvoso e seco, respectivamente. Isto é outro fato que reafirma a qualidade das imagens orbitais combinados com o modelo SEBAL em estimar a mesma variável em épocas distintas, já que o albedo de uma superfície vegetada varia com o ângulo de elevação do sol, condições de umidade do ar e da superfície, umidade e tipo de solo, além da quantidade e do tipo de nuvens. Figura 2: Variação Espacial do albedo dos diferentes biomas da região. A figura 2a é referente ao dia Juliano 105 (14/04/2008) e 2b condiz ao dia 281 (07/10/2008) - período seco e chuvoso, respectivamente. Os ícones vermelhos referem-se à floresta nativa; azul à baía de Caxiuanã e os amarelos às pastagens. A velocidade de fricção mostra diferença entre os diferentes biomas da região. De um modo geral, os resultados mostram valores da Vvfric para a floresta em torno de 0,09 m.s-¹; para a região de pastagem aproximadamente 0,06 m.s-¹ e 0,04 m.s-¹ sobre a Baía de Caxiuanã. Na estação seca, a Vvfric é em torno de 0,12 m.s-¹ (floresta), 0,10 m.s-¹ (pastagem) e sobre a Baía de Caxiuanã é de 0,08 m.s-¹. Ou seja, sazonalmente esses valores mostram que a magnitude da Vvfric é maior no período seco, período este em que o vento está mais intenso. Figura 3: Variação Espacial da velocidade de fricção (Vvfric) dos diferentes biomas da região. A figura à esquerda (3a) é referente ao dia Juliano 105 (14/04/2008) e a figura à direita (3b) é condizente ao dia 281 (07/10/2008) - período seco e chuvoso, respectivamente. Os ícones vermelhos referem-se à floresta nativa; azul à baía de Caxiuanã e os amarelo às pastagens. 4 – CONCLUSÕES A evapotranspiração observada apresentou pouca variação entre as duas estações, apesar de ter sido maior no período seco do que no período chuvoso. Esta taxa alta de ET na estação seca pode ser devido à estação chuvosa ter experimentado um saldo positivo de PRP, possibilitando a manutenção de uma alta taxa da ET mesmo no período de pouca disponibilidade hídrica; O algoritmo SEBAL mostrou possuir uma grande capacidade de propiciar a variabilidade espacial da ET e alta sensibilidade em diferenciar distintas superfícies, demonstrando que se aplicado a dados temporal e espacial de alta resolução, esta técnica pode ser rotineiramente utilizada, tornando-se uma ferramenta fundamental no monitoramento de necessidades atmosféricas; Por fim, os resultados de uma maneira geral mostram que as taxas de ET estimadas foram muito semelhantes às relatadas na literatura para a Amazônia, concordando bem com ET observada. Isto revela a importância de se utilizar métodos que viabilizam análises em larga escala espacial e temporal, como as possibilitadas pelo sensoriamento remoto. 5 – REFERÊNCIAS ECK, T. F.; DEERING, D. W. 1992. Canopy albedo and transmittance in spruce-hemlock forest in mid-September. Agriculturaland Forest Meteorology, Amsterdam, v.59, n.3-4, p.237-248. FRENCH, A. N et al. 2005. Surface energy fluxes with the advanced spaceborne thermal emission and reflection radiometer (ASTER) at the Iowa 2002 SMACEX site (USA). Remote Sensing of Environment, v. 99, p. 55-65. FU, R; LI, W. 2004. The influence of the land surface on the transition from dry to wet season in Amazonia. Theoretical and Applied Climatology, v. 78, n. 1-3, p. 97-110. LEITÃO, M. M. V. B. R. 1994. Balanço de radiação em três ecossistemas da Floresta Amazônica: Campina, Campinarana e Mata Densa. 1994. 135f. Tese (Doutorado) - INPE, São José dos Campos. LI, W; FU, R. 2004. Transition of the large-scale atmospheric and land surface conditions from the dry to the wet season over Amazonia as diagnosed by the ECMWF Reanalysis. Journal of Climate, n. 17, p. 2637-2651. MALHI, Y. et al. 2002. Energy and water dynamics of a central Amazonian rain forest. Journal of Geophysical Research-Atmospheres, v. 107, n. D20, 8061, 10.1029/2001JD000623. MORAES, J. C. et al. 1997. Estudos hidrometeorológicos na bacia do rio Caxiuanã. In: Lisboa, P. L. B. (org). Belém: CNPQ/Museu Paraense Emílio Goeldi, p. 85-95. MOURA, M. A. L. et al. 1999. Variação do albedo em áreas de floresta e pastagem na Amazônia. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v. 7, n.2, p.163 -168. NEGRÓN JUÁREZ, R. I. et al. 2007. Control of dry season evapotranspiration over Amazonian forest as inferred from observations at a Southern Amazon forest. Journal of Climate, n. 20, p. 2827-2839. SOUSA, A. M. L. et al. 2007. Estimativa da evapotranspiração real derivada do sensor MODIS: aplicação no leste da Amazônia. In: SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS SUL-SUDESTE, 2. SOMMER, R et al. 2002. Transpiration and canopy conductance of secondary vegetation in the eastern Amazon. Agricultural and Forest Meteorology, v. 112, n.2, p. 103-121.