O USO DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS POR MEIO DE ATIVIDADES ESTRUTURADAS Liceu Luís de Carvalho – UFRN [email protected] Wellinson Costa de Freitas – UFRN [email protected] Drª Liliane dos Santos Gutierre – UFRN [email protected] RESUMO Neste relato, expomos os resultados obtidos após a execução de um projeto voltado às atividades que utilizam a História da Matemática como um recurso pedagógico para a sala de aula, desenvolvido em uma escola pública na cidade de Natal (RN), nos níveis III e IV da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Objetivamos com a aplicação do referido projeto contribuir para a formação do sujeito crítico e reflexivo, averiguar a contribuição da História da Matemática para a aprendizagem do conteúdo matemático e relacionar o conhecimento da História e da Geografia com os conhecimentos da Matemática, de modo interdisciplinar, apresentado esta última como um conhecimento histórico e cultural, constituído pelas diversas civilizações ao longo do tempo e em contínuo desenvolvimento. Fizemos uso de atividades constituídas de conhecimentos históricos, geográficos e matemáticos extraídas de Gutierre (2003, p. 2008-261), denominadas de Atividades Estruturadas. Inicialmente, aplicamos a atividade diagnóstica (anexo A). Na sequência, desenvolvemos as demais atividades e, por fim, aplicamos um pós-teste, no qual constatamos uma evolução significativa na aprendizagem. Assim, avaliamos que os resultados obtidos foram satisfatórios, pois verificamos que houve uma evolução na aprendizagem, corroborando com o nosso entendimento de que a História da Matemática é um recurso pedagógico eficaz. Palavras-chaves: História da Matemática. Recurso Pedagógico. Ensino. Matemática. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Fundamentamos-nos teoricamente para justificar o uso da História da Matemática e sua aplicação na sala de aula em Nobre (2004), Brito (2009), Miguel (1993), Fossa (2008), Mendes (2009) e Gutierre (2003). Estes autores identificam potencialidades e obstáculos para o ensino da Matemática por meio da História da Matemática. Identificamos em Nobre (2004) reflexões muito importantes acerca da responsabilidade e atenção que precisamos considerar quando do estudo da História, pois, segundo ele, há diferentes formas de análise dos elementos que fornecem fatos históricos para a História das Ciências e da Matemática. Fossa (2008), além de defender a História como agente de cognição para o espaço da sala de aula, também ultrapassa o âmbito do espaço escolar, defendendo a História como importante ferramenta para tratar os conteúdos matemáticos, relacionando-os com a cultura do grupo social. Ele ainda destaca a Matemática como parte do patrimônio cultural da humanidade. Para Mendes (2009), no uso da História da Matemática em sala de aula tem que haver o compromisso fático do professor e aluno no sentido de assumirem a condição de investigadores, o que, em nossa opinião, exige de ambos uma mudança de paradigma, uma vez que se faz necessária uma construção coletiva do conhecimento, além da inovação nos papéis de professor e aluno, algo incomum na educação básica. Isto porque no atual contexto da dinâmica da sala de aula, não é comum professores e alunos assumirem atitude de pesquisadores, uma vez que, na concepção construtivista, o papel do professor é o de mediador do conhecimento, enquanto o do aluno é aquele que se apropria deste conhecimento. Miguel (1993) contribui com um importante aporte teórico apresentando categorias de análise para identificar os diversos modos de utilizar a História da Matemática, quais sejam: (i) Fonte de métodos adequados de ensino de matemática; (ii) Instrumento de conscientização epistemológica; (iii) Fonte de motivação; (iv) Instrumento de explicação dos porquês e como fonte de objetivos de ensino; (v) Formalização de conceitos e (vi) Instrumento de resgate cultural. Salientamos que em nossas atividades foram contempladas as categorias de três a seis. Por fim, Gutierre (2003) articula de modo interdisciplinar os conteúdos matemáticos por meio de Atividades Estruturadas, envolvendo a Geografia, a História Geral e a História da Matemática, as quais são objeto de análise do presente trabalho. CAMINHOS PERCORRIDOS Inicialmente, aplicamos aos nossos alunos da EJA a atividade denominada de ANEXO A por Gutierre (2003). Esta atividade trata de uma avaliação diagnóstica, contendo conteúdos pré-requisitos para o estudo sobre resolução de equações do primeiro e segundo graus. Nesta avaliação, a maioria dos nossos alunos não atingiu trinta por cento de acertos, embora esses conteúdos já tivessem sido trabalhados em níveis anteriores. Esse resultado nos levou a desenvolver com os alunos seis aulas de revisão de conteúdos. Após esta revisão, iniciamos as Atividades Estruturadas, seguindo a ordem proposta por Gutierre (2003) dos ANEXOS B ao G, que se constituem de Atividades Estruturadas de forma interdisciplinar, contendo conteúdos do conhecimento histórico, matemático e geográfico. O teor das Atividades Estruturadas está parcialmente exemplificado nas figuras 01 e 02, a seguir. No entanto, a totalidade destas pode ser consultada em Gutierre (2003). Figura 01: Parte do ANEXO A. Fonte: Arquivo pessoal dos Autores Figura 02: Parte do ANEXO B Fonte: Arquivo pessoal dos Autores Durante a execução das atividades, tivemos, à nossa disposição, diversos recursos pedagógicos, entre eles, citamos: data-show, mapa-múndi, globo terrestre e cópias das atividades, que foram entregues aos alunos. Alguns desses recursos podem ser observados nas figuras 03 e 04. Figura 03: Alunos desenvolvendo as Atividades Figura 04: Aplicação das Atividades Estruturadas Estruturadas Fonte: Arquivo pessoal dos autores Fonte: Arquivo pessoal dos autores No decorrer de nossa intervenção, fizemos algumas notas pessoais que nos ajudaram numa breve e posterior análise dos resultados obtidos. Em nossa análise, pudemos observar que o nosso projeto foi bem avaliado pelos professores da instituição, que nos cediam seus horários de bom grado, quando necessário. Observamos que os alunos deixaram de encarar as aulas de Matemática como algo cansativo ou monótono e passaram a encarar com entusiasmo e interesse, permanecendo em sala, mesmo após o término do horário. Observamos também o aumento da frequência dos alunos, fato este que consideramos importante, pois a baixa frequência é um grande problema da EJA. Ao final do nosso projeto, foi aplicado um pós-teste para verificar se houve ou não evolução no aprendizado dos alunos, comparando o resultado com o diagnóstico por nós realizado. Constatamos que todos os alunos, com exceção de um, evoluíram e obtiveram nota superior à do diagnóstico ANEXO A. Tal fato não nos surpreendeu, uma vez que, enquanto educadores, percebíamos o envolvimento e desenvolvimento dos alunos em cada atividade por nós aplicada. Esta evolução poderá ser observada na tabela a seguir: Tabela 01: Planilha comparativa entre os resultados de acertos na Atividade Diagnóstica e no Pós-Teste. NOME 01. LENILDO 02. PAULO HENRIQUE 03. JADSON 04. MARLON 05. DIANA 06. HIVANILTON 07. GEORGE 08. MILENE 09. ROSÂNGELA 10. ALIONE 11. RAFAELA 12. TIAGO 13. LINDOGERSON 14. FRANCIELE 15. JÉSSICA 16. DANIEL 17. CRISTIANE 18. LUCINDO NOTA ATIV DIAGNÓSTICA 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2 3 0 0 0 0 5 5 NOTA PÓS-TESTE 6,5 5,5 6,0 6,0 2,0 2,0 2,0 6,0 6,0 8,5 9,0 3,0 5,5 6,0 6,5 5,5 7,0 6,0 Também aplicamos um questionário aos alunos para averiguar a opinião deles sobre as nossas aulas. Todos responderam que aprenderam bastante e que a metodologia foi muito motivadora e envolvente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto e, principalmente, considerando os resultados alcançados do ponto de vista quantitativo e qualitativo apresentados no pós-teste e nas respostas abertas expressas no questionário, consideramos que os resultados foram satisfatórios, pois verificamos que apenas um aluno manteve o mesmo resultado apresentado na atividade diagnóstica, enquanto os demais evoluíram na aprendizagem, apesar de quatro não terem atingido a média para aprovação, ou seja, cinco (5,0). Por outro lado, é importante registrar que o uso da História da Matemática como metodologia de ensino tem seus limites, conforme enfatiza Brito (2009), uma vez que este recurso metodológico não seria conveniente para qualquer tema matemático, além da dificuldade de acesso e escassez das fontes históricas primárias. Ainda nos referindo às limitações da metodologia citada, convém ressaltar a pouca existência de Atividades Estruturadas que fazem uso da História da Matemática e o tempo escasso do professor para conhecer e elaborar estas atividades. No entanto, entendemos que os elementos positivos que corroboram com as potencialidades explicitadas no corpo deste trabalho nos possibilitam afirmar que fazer uso da História da Matemática como recurso pedagógico é mais que uma tendência do ensino atual, é de fato uma alternativa metodológica que contribui para aprendizagens com significado. REFERÊNCIAS BRITO, Arlete de Jesus; SANTOS, Keila Elaine Silva dos; TEIXEIRA, Moara Regina GRANDI. A História nos planos de ensino de futuros professores de Matemática. Revista Horizontes, v. 27, n.1, p. 115-120. 2009. Natal, 2008. FOSSA, John A. Matemática, História e Compreensão. Revista Cocar. UEPA. v.2. p. 715, 2008. GUTIERRE, Liliane dos Santos. Inter-relações entre a História da Matemática, a Matemática e sua aprendizagem. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2003. MENDES, Iran Abreu. Matemática e Investigação em Sala de Aula: tecendo redes de cognitivas na aprendizagem. Ed. Ver. e aum. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2009. MIGUEL, A. Três Estudos Sobre História. Campinas: Unicamp, tese de doutorado, 1993. NOBRE, Sergio. Leitura Crítica da História: Reflexões Sobre a História da Matemática. Ciência & Educação, v. 10, n. 3, p. 531-543, 2004.