IMPLICAÇÕES DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO NA PRÁTICA DA
AVALIAÇÃO DE UM COLÉGIO ESTADUAL
CASTELEINS, VERA LÚCIA – PUCPR
Mestre em Educação e Professora do Curso de Pedagogia,
Licenciaturas e Curso Superior de Formação
de Professores para Educação Infantil
e Séries Iniciais do Ensino Fundamental
[email protected]
KADLUBITSKI, LIDIA – PUCPR
Aluna do 6º Período do Curso de Pedagogia
[email protected]
VEIGA, JOYCE ELISA - PUCPR
Aluna do 6º Período do Curso de Pedagogia
[email protected]
RESUMO
“Implicações do Projeto Político Pedagógico na Prática de Avaliação num Colégio Estadual”
foi o tema desta pesquisa, a qual visou investigar a implicação do Projeto Político Pedagógico
na prática da avaliação em um Colégio Estadual. Buscou-se fundamentar a pesquisa com
bibliografias atuais de educadores relevantes na área, os quais apontam que a avaliação deve
acompanhar todo o processo de ensino-aprendizagem, com a finalidade de refletir sobre o
nível da qualidade da educação. O processo de levantamento de dados foi realizado pela
leitura do Projeto Político Pedagógico da instituição e de questionários aplicados à pedagoga,
alunos da 8ª série do Ensino Fundamental e aos professores desta turma. Os resultados
apontam que a Instituição propõe no Projeto Político Pedagógico uma teoria de avaliação
processual formativa, com o objetivo de formar integralmente o aluno e desafiá-lo para o
conhecimento, acontecendo em três momentos: no início do processo ensino-aprendizagem;
durante e ao final do processo. O objetivo desta pesquisa foi atingido em parte, enquanto
verificou-se que os resultados apontam que a prática avaliativa da Instituição Estadual parece
estar voltada ainda para os paradigmas conservadores, de acordo com a metodologia tecnicista
e nessa concepção avalia e mede o conhecimento do aluno ao final do processo ensino
aprendizagem. Para que haja uma integração entre a prática e teoria de avaliação, a Instituição
poderá realizar o trabalho na formação continuada dos professores, desta forma estará
cumprindo o artigo 13° da LDB n° 9394/96, parágrafos primeiro e segundo que propõem a
elaboração dos documentos escolares por toda a equipe pedagógica do colégio de acordo com
a realidade dos alunos e dos professores e na prática a avaliação consiga cumprir o seu papel
de instrumento de melhoria, inclusão, democratização e agente de transformação da educação
e da sociedade, ultrapassando além da função meramente técnica, como propõe o Projeto
Político do Colégio.
Palavras chave: Avaliação; Projeto Político Pedagógico; ensino-aprendizagem.
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1 Introdução
Estamos diante de um mundo que transforma-se rápida e profundamente.
Para realizar bem seu trabalho nesta nova configuração de sociedade o professor precisa
entender essas mudanças nas dimensões política, econômica, social e cultural, para poder
realizar um trabalho que contemple a formação de verdadeiros cidadãos, sintonizados com o
seu tempo.
Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico de uma escola permite orientar
a prática pedagógica dos professores e à determinação dos propósitos para realizá–lo o mais
efetivamente possível, pelo estabelecimento de compromissos individuais e coletivos,
clarificação de intenções, estabelecimentos rumos e direcionamento da prática educativa.
Nessa perspectiva, o projeto político pedagógico vai além de um simples
agrupamento de planos de ensino e atividades diversas. Como projeto, este deve ser
construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo
educativo da escola.
Nesse sentido, surgiu o interesse em analisar a influência do Projeto Político
Pedagógico numa prática de avaliação da aprendizagem, a partir de estudos já realizados
sobre este tema no curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
A partir da análise do projeto pedagógico de um colégio estadual da cidade
de Curitiba, pretendeu-se descrever a proposta de Avaliação contida neste projeto, as suas
implicações para o cotidiano escolar bem como analisar como realiza-se a prática avaliativa
nessa Instituição Estadual.
2 Projeto Político Pedagógico do Colégio: Linhas Gerais
O Projeto Político Pedagógico de uma escola é o plano global que norteia
toda a educação no concreto da Instituição. Trata-se de um instrumento teórico metodológico
que tem como ponto de partida, auxiliar no enfrentamento dos desafios do cotidiano da
escola, de uma forma refletida, consciente e participativa. O principal objetivo deste
documento é repensar a escola, enquanto escola pública brasileira e integrada num contexto
maior (PPP DO COLÉGIO, 2004, p.6).
O Projeto Pedagógico deste Colégio foi construído de forma participativa,
representando a síntese de um trabalho que procurou envolver na sua realização, a
participação de todos os segmentos da comunidade escolar através de seminários, palestras,
reuniões, questionários. Foi o resultado de reflexões realizadas pelos envolvidos com o
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colégio, mas que não está e não pretende ser definitivo e acabado. (PPP DO COLÉGIO, 2004,
p. 6)
2.1 A Proposta da Avaliação do Colégio
Na proposta do Projeto Político Pedagógico do Colégio, avaliar não é
somente medir, comparar ou julgar, mas é uma ação qualitativa que serve como instrumento
para se obter informações para se atingir os objetivos da educação, que é o desenvolvimento
integral do aluno.
Ao se dispor dessas informações, é possível adotar procedimentos para
correções e melhorias no processo planejado e redirecionar o trabalho pedagógico e o Projeto
Educativo da Escola, bem como também desafiar os alunos ao conhecimento, levá-los a
refletir, interagir e mobilizar os educandos e educadores para a construção e socialização do
conhecimento.
A instituição pesquisada propõe que os instrumentos e técnicas gerais de
avaliação sejam os testes de aproveitamento orais e escritos, questionários, tarefas específicas,
trabalho de criação, observações espontâneas ou dirigidas e discussões e deve ser realizada
em três momentos (PPP DO COLÉGIO, 2004, p. 145)
No primeiro momento será o da avaliação como observação sistemática, sendo
realizada através do acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos,
utilizando alguns instrumentos, como registro em tabelas, listas de controle, diário
de classe e outros.
Este primeiro momento de avaliação corresponde a avaliação diagnóstica da
avaliação processual formativa, que se realiza ao início do processo ensino-aprendizagem,
com o objetivo de observar se o aluno possui os pré-requisitos necessários para avançar na
aprendizagem.
O segundo momento é a análise das produções dos alunos: considerar a variedade de
produções realizadas pelos alunos, para que possa ter um quadro real das
aprendizagens conquistadas. Por exemplo, se a avaliação se dá sobre a competência
dos alunos na produção de textos, deve-se considerar a totalidade dessa produção
que envolve desde os primeiros registros das atividades de outras áreas e das
atividades realizadas especificamente para esse aprendizado.
A consideração da variedade de produção realizada durante o processo de
ensino-aprendizagem realizada no segundo momento avaliativo, corresponde ao processo da
avaliação formativa da avaliação processual, que tem a função de verificar o progresso na
aprendizagem a respeito do início do processo.
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O terceiro momento são as atividades específicas para a avaliação: os alunos devem
ter objetividade ao expor sobre um tema, ao responder um questionário. Para isso, é
importante, em primeiro lugar garantir que sejam semelhantes às situações de
aprendizagem comumente realizadas em sala de aula; em segundo lugar, deixar
claro para os alunos o que se pretende avaliar, pois inevitavelmente, estarão mais
atentos a esses aspectos.
O terceiro momento corresponde ao o que se chama avaliação somativa na
avaliação processual, que tem a função de classificar o aluno.
Constatou-se, pela análise dos documentos, que a processo avaliativo que o
Colégio propõe é processual, passando pelas etapas que a avaliação processual requer.
2.2 Avaliação Escolar
Na escola contemporânea, é clara a rotina da prática de avaliações aplicadas
sem quaisquer critérios, ou com procedimentos meramente técnicos, refletindo os fracassos
cotidianos dos alunos, caracterizados por um trabalho escolar que perdeu o sentido de sua
finalidade principal, o de ensinar e o de aprender significativamente, passando a ser o da
compra e venda de uma mercadoria, sem especificações de suas qualidades e propriedades.
Avaliação não é somente aplicação de provas e atribuição de notas. É a
reflexão sobre o nível da qualidade do trabalho escolar da parte dos alunos e da parte do
professor. É entendida então como uma componente do processo ensino-aprendizagem que
visa determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e ajuda a tomar decisões
referentes às atividades didáticas. Na visão de Libâneo (1990a, p. 196), as tarefas da avaliação
são:
Verificação: coleta de dados sobre o aproveitamento dos alunos, através de provas,
exercícios e tarefas ou de meios auxiliares, como de observação de desempenho,
entrevistas, etc.; Qualificação: comprovação dos resultados alcançados em relação
aos objetivos e, conforme o caso, atribuição de notas ou conceitos; Apreciação
qualitativa: avaliação propriamente dita dos resultados, referindo-os a padrões de
desempenho esperados.
Desta forma, a avaliação não é um componente da educação meramente
técnico, ou mecânico, mas sim, necessário para que uma educação de qualidade seja realizada.
O ato de avaliar torna-se algo de suma importância para o controle e acompanhamento do
processo educativo, sendo necessária nos organismos escolares, no currículo e,
imprescindivelmente, nas aulas. Os alunos devem ter a oportunidade de dizer e de manifestar
como estão se sentindo em relação as suas aprendizagens. Sendo assim a avaliação escolar
deve ser um acompanhamento contínuo no decorrer do processo de ensino-aprendizagem,
tendo a finalidade de comparar os resultados em relação aos objetivos propostos, e fazer
correções necessárias.
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Libâneo (1990a, p. 195) descreve as finalidades do processo avaliativo:
A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que
deve acompanhar passo a passo o processo de ensino aprendizagem. Através dela, os
resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e
dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar
progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias.
A avaliação, como descrita acima por Libâneo, é um meio que permeia todo
o processo de ensino-aprendizagem, tendo como objetivo principal, o ensino de qualidade e
aprendizagem significativa.
2.3 Avaliação Processual Formativa
A avaliação processual deverá acompanhar todo o projeto. Sua finalidade é
aprimorar o processo e a qualidade dos comportamentos das pessoas nela envolvidas,
verificando como estão os resultados, fornecendo o nível de excelência, e as informações
sobre quais decisões deverão ser tomadas em relação às deficiências apresentadas pelos
alunos em suas aprendizagens, ou pelo professor em relação ao ensino (POSSETI, 1994, p.
48).
Quando existe um planejamento e este é cumprido, a avaliação contínua das
atividades permite a constatação dos acertos e das deficiências ou bloqueios, facilitando assim
que ocorram os reajustes necessários. Desta maneira, os comportamentos esperados e
considerados durante o processo de ensino-aprendizagem, poderão ser efetivados no final do
mesmo, conforme esperado.
Segundo Posseti (1994, p. 48) “o mestre deve sempre estar averiguando as
competências obtidas pelos alunos, apurando até que ponto os alvos pré-estabelecidos estão
sendo atingidos”. Portanto, a avaliação processual deve ser desenvolvida ao longo do
processo ensino aprendizagem, sendo necessário realizar a avaliação antes do processo, para
diagnosticar o que os alunos conhecem do conteúdo a ser trabalhado, durante o
desenvolvimento dos temas e ao final do processo. Estas três etapas avaliativas, avaliação
diagnóstica, avaliação formativa e a avaliação somativa, serão descritas a seguir.
2.3.1 Avaliação Diagnóstica
A avaliação diagnóstica é realizada no início e tem a função de classificar cada
aluno antes de começar o ensino, se este possui as qualificações iniciais necessárias, em que
nível se encontra quanto a situação desejada, apurar as causas das dificuldades de
aprendizagem. O educador poderá verificar através de provas de avaliação formativa,
700
somativa de cursos anteriores, provas especiais feitas para verificar aspectos básicos nas áreas
cognitiva, sócio-afetiva e psicomotora ou técnicas de observação e de auto avaliação. Eyng
(2003, p. 122) descreve a importância da avaliação diagnóstica no processo ensinoaprendizagem:
Por meio da avaliação diagnóstica o educador realiza o registro individual por
escrito dos conceitos, (as representações individuais que os aprendizes já trazem
presentes). Essa é realizada cada vez que se inicia uma idéia nova no decorrer do
projeto, funciona como atividade mobilizadora, e é quando o aprendiz toma
consciência de suas dúvidas e da bagagem de conhecimentos prévios que possui
acerca do objeto de reflexão.
A avaliação diagnóstica é de suma importância não somente ao início de um
curso ou processo de ensino-aprendizagem, mas também durante todo o processo, quando se
aborda um novo conceito, para saber como proceder e do qual ponto se deve iniciar. Este
procedimento de diagnóstico também funciona para mobilizar e despertar o interesse pelo
conteúdo a ser estudado durante o processo pelo aluno. O aluno ao constatar o que sabe ou
não do assunto se conscientizará que deve ir à busca do que lhe falta, no caso de não conhecer
o conteúdo e quando conhece pode despertar o interesse em ir além.
2.3.2 Avaliação Formativa
A etapa da avaliação formativa pode ser praticada com êxito, tendo
realizado a primeira etapa da avaliação processual, ao contrário não será possível constatar as
mudanças cognitivas dos alunos, ocorre ao longo do processo do ensino-aprendizagem e tem
o objetivo de verificar as mudanças e o progresso que cada aluno está realizando, esta
modificação somente é possível a partir do registro inicial. (PERRENOUD, 1999, p.154).
A avaliação formativa tem a função de manter o aluno e o professor
informados quanto ao resultado obtido em cada etapa do ensino-aprendizagem e dar
seqüência, localizando dificuldades e deficiências, visando estabelecer o melhor ritmo de
trabalho. Podendo ser verificado através de provas, observações e outros instrumentos.
2.3.3 Avaliação Somativa
A avaliação somativa tem aspecto classificatório e sua função é verificar a
presença de comportamentos mais amplos, atribuir nota final ou fornecer certificados de
competências em determinadas áreas, prever o rendimento em cursos subseqüentes indica ao
professor do curso seguinte o melhor nível para começar o ensino e comparar resultados de
701
diferentes turmas de alunos. Podendo ser verificada através de exames finais para verificação
de objetivos mais amplos (Saviani, 2005).
Dentro de uma concepção construtivista a avaliação somativa busca a
verificação das sínteses do conhecimento efetivamente construído individualmente ou pelo
grupo de estudantes, não baseando-se em provas aonde o aluno precisa decorar muitos dados,
privilegiando muito mais a sua capacidade de memorização do que a capacidade de
desenvolver o raciocínio ou a criatividade.
2.4 A Busca de uma Forma de Avaliação Compreendendo o Ser Humano
Na tentativa de descrever as técnicas e meios de avaliação escolar,
praticadas no processo de ensino-aprendizagem nos últimos tempos, focalizando a avaliação
processual formativa, verifica-se que a tarefa de avaliar na perspectiva da avaliação
processual, que não é julgamento dos resultados, mas sim do processo como um todo. Exige
dos sujeitos sociais, conscientização para uma educação integral do ser humano.
A concepção tradicional quantitativa poderá ser re-aproveitada, o que tem
de bom a oferecer indo além nesse processo, de maneira tal que a avaliação consiga cumprir o
seu papel de instrumento de melhoria, inclusão, democratização e transformação da educação
e da sociedade, ultrapassando a função meramente técnica. Para se criar um modo de avaliar
com eficácia, é necessário compreender o ser humano como ele é, uma “unidade na
diversidade” e considerar os traços do ser, do pensar, do agir e do ver do ser humano.
Ter fé na humanidade, na capacidade do homem em promover, construir o
bem comum, como sujeito capaz de desenvolver suas próprias ações é condição primeira para
se pensar instrumentos e sistemas de avaliação eficientes, sem, por isso, deixarem de ser
justos, democráticos, éticos, coerentes e comprometidos com a condição humana individual e
social.
4 A Proposta de Avaliação no Projeto Político Pedagógico do Colégio e as suas
Implicações para a Prática
“A avaliação não é somente realizar provas para atribuir notas aos alunos, é
um meio no ensino-aprendizagem que visa determinar a correspondência destes com os
objetivos propostos para ajudar a tomar decisões referentes às atividades didáticas.”
(LIBÂNEO, 1990a, p. 196).
Partindo da teoria, sobre o que vem a ser a avaliação, a proposta do Colégio
na qual foi realizada a pesquisa, é coerente com as teorias da atualidade. Propõe no Projeto
702
Político Pedagógico da escola pesquisada que a avaliação não deve ser baseada somente na
aplicação de provas e atribuição de notas, mas sim deve ser uma reflexão sobre o nível da
qualidade do trabalho escolar da parte dos alunos e dos professores.
Verifica-se, que esta proposta de avaliação do Colégio tem a função
mediadora no processo de ensino-aprendizagem, como também, se propõe a desafiar os
alunos ao conhecimento, levá-los a refletir, interagir e mobilizar os educandos e educadores
para a construção e socialização do conhecimento.
A avaliação do Colégio pesquisado pretende ser processual com os três
momentos como requer a teoria processual formativa (2.3): no primeiro momento indica que
seja realizada a avaliação como observação sistemática, através do acompanhamento do
processo de aprendizagem dos alunos, utilizando o registro em tabelas, listas de controle,
diário de classe e outros; no segundo momento propõe a análise das produções dos alunos,
considerando a variedade de produções, para ter um quadro real das aprendizagens
conquistadas; no terceiro momento propõe a realização de atividades específicas para a
avaliação.
Os instrumentos e técnicas gerais de avaliação propostos no Projeto Político
Pedagógico do Colégio, são os testes de aproveitamento orais e escritos, questionários, tarefas
específicas, trabalho de criação, observação espontânea ou dirigida e discussões (PPP DO
COLÉGIO, 2004, p. 145).
4.1 Influência da Proposta na Prática da Avaliação do Colégio
A proposta sobre a avaliação descrita no Projeto Político Pedagógico carece
de vínculo com a prática.
A proposta considera a avaliação uma tarefa didática necessária e
permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino
aprendizagem, para, por meio dela verificar os resultados que vão sendo obtidos no decorrer
do trabalho conjunto do professor e dos alunos e compará-los com os objetivos propostos, a
fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções
necessárias. Já na pratica não ocorre esse processo.
A incoerência da teoria com a prática pode-se verificar por meio das
respostas obtidas no questionário aplicado aos professores do Colégio pesquisado que
lecionam na turma da 8ª série do período da manhã e à Pedagoga do Colégio.
703
Quando perguntado à Pedagoga, como a proposta de avaliação do Projeto
Político Pedagógico do Colégio influência a prática de avaliação dos professores deste
colégio, esta assim se posiciona:
A dificuldade enfrentada pelos professores para o exercício da prática avaliativa
descrita no Projeto Político Pedagógico, se dá pela falta de reflexão coletiva sobre
esta teoria, centrando-se numa prática individualista, baseada na sua experiência
tradicional, também porque, os professores compreendem o processo avaliativo
somente como a atribuição de notas.
Pela resposta da Pedagoga, percebe-se que os professores demonstram
resistência para inovar o processo avaliativo, por estarem habituados a realizar as suas
avaliações de forma tradicional. O Colégio carece de um trabalho de formação continuada,
para realizar um estudo da proposta teórica de avaliação, conscientizando-os desta e
atualizando-os nas novas teorias e práticas, onde a avaliação da aprendizagem deve perpassar
todo o processo com o objetivo de realizar um ensino de qualidade.
Analisando as respostas dos professores indagados de como a proposta de
avaliação do Projeto Político Pedagógico do Colégio influência a prática de avaliação dos
professores deste colégio, estes não comentaram se seguem na prática a proposta indicada no
Projeto Político Pedagógico, como pode-se perceber nas respostas abaixo:
Professor A: No caso de artes, a avaliação deveria ser diferenciada,
depende muito do aluno para aluno. Mas eu avalio o fazer e não o produto final.
Professor B: Influencia no aprendizado.
Com estas respostas pode-se perceber que os professores não
demonstram conhecer o projeto pedagógico da escola a qual estão inseridos, bem
como não são conhecedores da proposta de avaliação que o documento contém.
A construção do projeto político-pedagógico deve ser fruto de sujeitos que
estejam envolvidos no processo educativo, obtendo e procurando resultados em debates, em
que a reflexão e a aprendizagem coletiva estejam inseridas. Aí então, justifica-se o importante
fato do professor estar participando da elaboração do projeto, por estar intimamente ligado ao
processo educativo. Devido a sua posição, o professor consegue, às vezes, perceber mais do
que ninguém o que é importante para o crescimento de seus alunos, quais são as necessidades
e dificuldades dos alunos e da escola como um todo, como também, pode detectar quais são
as falhas do sistema de ensino, da escola e de sua própria prática educativa.
704
4.2 O Relato dos Alunos sobre a Prática da Avaliação do Colégio
No questionário aplicado para 21 alunos da turma da 8ª série do período da
manhã do Colégio pesquisado, percebeu–se, pelas respostas dos alunos, que a prática de
avaliação da aprendizagem que realmente se realiza no colégio, não é a avaliação processual
formativa descrita na proposta, que acompanha todo o processo: avaliação diagnóstica,
avaliação formativa e avaliação somativa. Esta proposta de avaliação tem por objetivo
verificar o que o aluno sabe no início do processo, o que aprendeu durante este processo e
qual é o seu desempenho ao final.
Os alunos ao serem indagados sobre como os professores avaliam a
aprendizagem, estes responderam que os professores avaliam com provas (12), trabalhos (10),
testes orais e provas (12), atividades realizadas no caderno (8) e por meio das discussões em
sala de aula (4).
Pode-se constatar a forma de avaliação dos professores pelas respostas
abaixo elencadas:
ALUNO 12: Os professores avaliam a nossa aprendizagem através de
provas, trabalhos apresentados para a turma, correção oral das tarefas, mais isto varia de
cada professor.
ALUNO 8: A maioria dos professores aplica provas e trabalhos.
ALUNO 1: Através da pesquisa.
Observa-se pelas respostas acima, que os alunos citam os tipos de
instrumentos que os professores utilizam para realizar a avaliação da aprendizagem deles, os
quais são propostos no Projeto Político Pedagógico, porém estes e os professores não a
realizam a partir dos três momentos de avaliação, proposto pelo Projeto Político Pedagógico
da escola: avaliação como observação sistemática, análise das produções dos alunos e as
atividades específicas para a avaliação, visando aprimorar o processo e a qualidade dos
comportamentos das pessoas nela envolvidas, verificando como estão os resultados,
fornecendo o nível de excelência, e as informações sobre quais decisões deverão ser tomadas
em relação às deficiências apresentadas pelos alunos em suas aprendizagens, ou pelo
professor em relação ao ensino. (PPP DO COLÉGIO, 2004, p. 145).
Um dos grandes desafios da instituição ou do sujeito é chegar a uma ação que seja
eficaz, inovadora. O que nos interessa, enquanto instituição é chegar a uma ação
transformadora. Ação prática temos o tempo todo. A questão é ter prática adequada,
fazer a “coisa certa”; momento, conteúdo e forma adequados (o quê, como, para
quê). (VASCONCELLOS. 2002, p. 99)
705
Nesse sentido, verificou-se que o processo de avaliação pelo qual os alunos
passam, é uma avaliação mais técnica que tem o objetivo de conceder notas por meio do
instrumento principal que é a prova.
Outra questão proposta aos alunos referia-se em saber a opinião destes sobre
a avaliação aplicada pelos professores.
Nesse item percebeu-se que houve divergência em algumas respostas, e
convergência em outras, ou seja: a avaliação aplicada pelos professores é boa (7); poderia ser
melhor (1); poderia ter mais trabalho e menos prova (1); algumas avaliações são boas, outras
complicadas (1); poderia ser melhor (1); as provas com questões são normais (1); a avaliação
é rígida (1); as avaliações são confusas (1); são bem planejadas (1); alguns professores
avaliam questões não trabalhadas (1).
A avaliação da aprendizagem possibilita ao professor tomada de decisão e a
melhoria da qualidade de seu ensino, informando as ações em desenvolvimento e a
necessidade de regulações constantes, inclusive por meio do processo avaliativo.
A resposta de um dos alunos reflete que a avaliação aplicada pelos
professores está mais para uma avaliação formativa que, conforme Haydt (1995) permite
constatar se os alunos estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando a
compatibilidade entre tais objetivos e os resultados efetivamente alcançados durante o
desenvolvimento das atividades propostas. Representa o principal meio através do qual o
estudante passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo para um estudo
sistemático dos conteúdos.
Aluno 9: Tem professores que passam avaliação com questões que eles não
explicaram por isso fica mais difícil fazer a avaliação e tirar uma boa nota.
Percebe-se, portanto, que grande parte dos alunos está satisfeita com as
avaliações realizadas pelos professores. Porém, alguns alunos questionam o tipo de
instrumento utilizado e gostariam que a qualidade das avaliações melhorasse bem como que
esses professores fossem mais acessíveis e claros em sua proposta de avaliação, pois um deles
cita que alguns professores avaliam conteúdos não explicados em sala (sic) uma vez que o
projeto político pedagógico da escola propõe:
Nas atividades específicas para a avaliação: os alunos devem ter objetividade ao
expor sobre um tema, ao responder um questionário. Para isso, é importante, em
primeiro lugar garantir que sejam semelhantes às situações de aprendizagem
comumente realizadas em sala de aula; em segundo lugar, deixar claro para os
alunos o que se pretende avaliar, pois inevitavelmente, estarão mais atentos a esses
aspectos. (PPP DA ESCOLA, p. 145)
706
Para desenvolver uma cultura da avaliação os professores e a escola
necessitam de praticar a avaliação e essa prática realimentará novos estudos e
aprofundamentos de tal modo que um novo entendimento e um novo modo de ser vai
emergindo dentro de um espaço escolar. O que vai dar suporte à mudança é a prática refletida,
investigada.
Na expressão de Libâneo (1999a, p. 169), “na escola contemporânea, é clara
a rotina da prática de avaliações aplicadas sem quaisquer critérios, ou com procedimentos
meramente técnicos, refletindo os fracassos cotidianos dos alunos”, é percebida na prática
avaliativa do Colégio, descrita até então.
Em relação à questão referente a opinião destes sobre os instrumentos
avaliativos utilizados pelos professores, verificou-se que são ótimos (1); só prova não
adianta é necessário conversar sobre o assunto do conteúdo em sala (1); poderia ter outros
instrumentos além da prova (1); os instrumentos são normais (2); são bons (4); são horríveis
e péssimos (2); poderia ser através de lição de casa ou pesquisa (2); poderia ter mais provas
(1).
As respostas acima demonstram que os alunos não estão satisfeitos com os
instrumentos utilizados pelos professores, mas eles mesmos não têm clareza quanto ao tipo de
instrumentos que os professores poderiam utilizar para melhor avaliá-los.
Percebeu-se também que, a maior parte dos alunos compreende a avaliação
como instrumento para ganhar nota e não como meio para refletir e melhorar a qualidade do
processo ensino-aprendizagem, conforme resposta do aluno 18:
“Eu acho que alguns professores usam alguns instrumentos legais e fáceis
de tirar uma boa nota mais alguns usam um jeito mais difícil e complicado.”
Nesse ponto, pode-se perceber que os alunos não têm conhecimento da
proposta de avaliação do Projeto Político Pedagógico do Colégio, como também não têm
noção do aspecto avaliativo como meio para melhorar o processo formativo. Para eles a
avaliação consiste em atribuição de notas para a promoção á série seguinte.
O que falta para muitos professores é compreender a avaliação como uma
prática subsidiária da construção de resultados satisfatórios; notas e/ou conceitos são modos
sintéticos de registrar a qualidade desses resultados.
4.3 Relato dos Professores sobre a Prática da Avaliação
Os questionários foram entregues para 12 professores, porém apenas 4
responderam o mesmo.
707
Analisando as respostas obtidas todos foram unânimes em relatar que
conhecem a proposta avaliativa descrita no Projeto Político Pedagógico do Colégio. Destacase aqui o relato de uma delas quando explica que a proposta do colégio foi discutida em
reuniões pedagógicas, ressaltando que a escola forneceu cópias para o corpo docente, para que
estes pudessem fundamentar os seus exercícios escolares diários a partir do que eles mesmos
propuseram.
O professor D aponta não conhecer o Projeto Político Pedagógico da escola,
pois está no colégio há pouco tempo.
Para os professores A, B, C a proposta avaliativa descrita no Projeto Político
Pedagógico direciona a prática avaliativa, criando diversas formas de avaliação. Apenas o
professor “A” relata que avalia todo o processo de ensino-aprendizagem, não atribuindo notas
somente a provas.
Os professores “A” e “C” acreditam que os resultados das avaliações
contribuem para a melhoria da aprendizagem de seus alunos. Para o professor “B” “A atenção
dos alunos é o que influencia na melhoria da aprendizagem e que nos dias de hoje não há
muito compromisso com os estudos.”
Conforme relatado na maioria dos questionários, os professores conhecem a
proposta do colégio, porém não exercitam a prática avaliativa descrita nos documentos
institucionais. Aponta-se a necessidade de uma formação continuada para os professores do
colégio, fundamentada nos reais objetivos da avaliação processual, incentivando desta
maneira os professores a vincularem a teoria descrita no Projeto Político Pedagógico com a
sua prática avaliativa.
5 Considerações Finais
Por meio da pesquisa realizada no colégio aponta-se a falta da prática
avaliativa dos professores descrita no Projeto Político Pedagógico do colégio pesquisado. Para
que este quadro seja revertido torna-se necessário que seja elaborado o Projeto Político
Pedagógico conforme propõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Art. 12°,
parágrafo primeiro) “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu
sistema de ensino, terão a incumbência de: elaborar e executar sua proposta pedagógica”.
E para que a proposta seja integrada teoria e prática é necessário o
cumprimento do artigo 13º da LDB, descrito abaixo:
Os docentes incumbir-se-ão de:
708
I - Participar da elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino;
II - Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta
pedagógica do estabelecimento de ensino;
A proposta de avaliação sendo integrada poderá ajudar a avaliar os alunos
de acordo com os Paradigmas Inovadores, que propõem a avaliação processual formativa de
forma diagnóstica, contínua, permanente, cumulativa e formativa, acompanhando o processo
ensino-aprendizagem.
Para um verdadeiro processo de avaliação importa que o professor
trabalhe com uma proposta de avaliação que esteja voltada para a aprendizagem do
aluno e, consequentemente, o seu crescimento; daí ela ser diagnóstica, permitindo a
tomada de decisões para a melhoria; e, consequentemente, ser inclusiva, enquanto não
descarta, não exclui, mas sim convida para a melhoria. Dentro dessa perspectiva, o que
caracteriza o ato de avalizar é ele ser um ato de investigar e, consequentemente, de
intervir.
REFERÊNCIAS
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Champagnat, 1999.
BRASIL/MEC. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL, Lei n.º
9394, de 20 de dezembro de 1996.
COLL, César. Construtivismo na Sala de Aula. São Paulo: Ática, 1996.
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IMPLICAÇÕES DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO