O ESTÁGIO OBRIGATÓRIO NO CURSO DE FORMAÇÃO DEDOCENTES: O EIXO INTEGRADO ENTRE AS DISCIPLINAS ESPECÍFCAS E A PRÁTICA DOCENTE Edna Amancio de Souza Ramos1 - SEEDPR Maria Silvia Bacila Winkeler 2 - UTFPR Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente texto é resultado final de estudo realizado junto ao Curso de Formação de Docentes de um colégio da rede estadual do Paraná, do município de Curitiba, focado na problemática quanto à disciplina de Prática de Formação (estágio obrigatório) e seu papel articulador com as disciplinas específicas do curso. O presente texto está dividido em três partes: a primeira parte apresenta a disciplina de estágio nas legislações educacionais, seu formato atual, bem como um breve histórico de possiblidades e limitações da própria disciplina dentro do curso. Na segunda parte há a apresentação da metodologia do trabalho que foi qualitativa, utilizando-se da pesquisa-ação, por meio da aplicação da técnica de Grupo Focal, da aplicação de entrevistas com professoras do curso de Formação e do curso de Pedagogia e as referidas reflexões, que serviram para a coleta de dados e subsídio para elaboração do texto. Na terceira parte, o texto traz as considerações finais apresentando as limitações do estudo bem como suas possibilidades de continuidade da pesquisa e refletindo sobre a prática docente encontrada na escola de pesquisa; bem como a fragilidade do curso quanto à realização da articulação possível e necessária da disciplina de Prática de Formação. Apresenta também disputas internas no currículo de forma velada, mas contundente entre suas diferentes disciplinas específicas. A relação da ausência de participação e voz das alunas e a mesmice do trabalho pedagógico das docentes se expressa na ausência das mesmas nas possibilidades de discussão abertas pelo presente trabalho o que ressalta a importância do fazer pedagógico enquanto disciplina do curso. Palavras-chave: Formação de docentes. Estágio. Prática. 1 Mestre em Educação pela UFPR, Professora-Pedagoga da Rede Estadual de Educação do Paraná.E-mail: [email protected]. 2 Professora Doutora Maria Silvia Bacila Winkeler – UTFPR. E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 15091 Introdução O presente texto é resultado final de estudo realizado junto ao Curso de Formação de Docentes de uma escola da rede estadual do Paraná, do município de Curitiba, focado na problemática quanto à disciplina de Prática de Formação (estágio obrigatório) e seu papel articulador com as disciplinas específicas do curso e está dividido em três partes: a primeira parte apresenta a disciplina de estágio no Curso de Formação de Docentes ao longo dos anos e suas mudanças de nomenclatura, currículo e identidade. A segunda parte apresenta a metodologia utilizada na pesquisa, que foi qualitativa, utilizando-se da pesquisa-ação, por meio da aplicação da técnica de Grupo Focal, entrevistas e reflexões, para a coleta de dados que foram realizadas ao longo de um semestre junto às alunas e professoras do Curso de Formação de Docentes da escola estadual. A técnica do Grupo Focal foi aplicada e as falas transcritas e analisadas para este estudo. As entrevistas foram realizadas posteriormente à aplicação da técnica do grupo focal, buscando complementar as informações coletadas a fim de auxiliar a construção do documento orientador que o texto se propunha. A coleta de dados trouxe aspectos interessantes para as discussões dentro do curso, para além da disciplina de Prática de Formação, aponta também uma qualidade do curso que é percebida para além dele, no nível superior, qualificando as formandas para uma atuação mais crítica, mas principalmente, para uma atuação mais segura em relação à prática docente. Essa pesquisa buscou identificar os entraves no processo de organização da disciplina junto às professoras e alunas 3 que limitam a atuação de articuladora e, ainda, a partir desse diagnóstico, propôs ações de superação por parte das coordenações de curso e de Prática. Na terceira parte, traz as considerações finais aonde o trabalho apresenta suas limitações e possibilidades de continuidade da pesquisa e reflete sobre a prática docente encontrada na escola de pesquisa e a fragilidade do curso o qual está pouco articulado, com disputas internas entre disciplinas de forma velada, mas contundente. A relação da ausência de participação e voz das alunas e a mesmice do trabalho pedagógico das docentes se expressa na ausência das mesmas nas possibilidades de discussão abertas pelo presente trabalho. 3 Neste texto optamos pela generalização pelo feminino dada a realidade do curso possuir a maioria absoluta de mulheres. 15092 A disciplina de Estágio O curso de Formação de Docentes passou por diferentes momentos históricos e a sua disciplina de estágio sempre esteve presente de modo curricular. Segundo Pimenta (2010, p 21) por “estágio curricular entende-se as atividades que os alunos deverão realizar durante o curso de formação, junto ao campo futuro de trabalho.”. Portanto, o trabalho com o estágio sempre teve a intenção de ser a parte prática da formação no currículo do curso de Magistério. Ainda segundo a autora, a ideia de estágio profissional, como acontece com cursos como de Medicina, por exemplo, nunca aconteceram no magistério, já que a prática se limitava às regências em contra turno especificamente na disciplina de estágio. E de modo muito pontual, com algumas exceções nos estados que criaram suas escolas de aplicação que oportunizaram mais horas de prática às alunas. O relatório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, o INEP (1955) sugeria que o curso de preparação para professores deveria ser equilibrado entre teoria e prática, que a prática antecipa muitas das dificuldades do jovem professor. Ainda sim, as regências de classe eram raras (PIMENTA, 2010, p.40). Havia muitos modelos, métodos, técnicas para serem aprendidas e depois aplicadas. No entanto, tudo se referia ao aluno ideal, não o real. Interessante destacar isso, já que esta ainda é uma realidade muito presente na formação. Quando a criança não aprendia era culpa dela ou da família, da sua cultura, ou dos seus pais, porque os métodos foram testados e estavam certificados como eficientes, com seus casos de sucesso. Pimenta (2010) destaca que a maior expansão da escola normal acontece até o final dos anos de 1960. Porém esta escola traduz no seu interior, na sua organização e funcionamento, no seu currículo e nos programas, nos métodos de formação e nos seus professores o não compromisso com a formação do professor necessário à transformação qualitativa e quantitativa do ensino primário, isto é, a Escola Normal não estava sendo competente para formar professores capazes de contribuir com a educação das crianças na escola primária. Neste sentido a prática foi ficando cada vez mais teórica e, segunda a autora, distanciada da realidade (PIMENTA, 2010). Com o chamado golpe militar de 1964, se aprofunda a crise da Escola Normal. Em 1971 é lançada a Lei de Diretrizes e Bases nº 5692/71 (BRASIL, 1971a) que modificou a estrutura educacional, tornando o 2º Grau profissionalizante, ou seja, profissionalizou a Escola Normal. O curso passa a se chamar Magistério, com três anos de duração, o que na prática eram dois, já que o primeiro ano se restringia à formação geral. O Parecer nº 349/71 15093 (BRASIL, 1971b) do Conselho Federal de Educação descreve a prática no currículo de Habilitação do Magistério: A Didática fundamentará a Metodologia do Ensino, sob o tríplice aspecto de planejamento, de execução do ato docente-discente e de verificação da aprendizagem, conduzindo à Prática de Ensino e com ela identificando-se sob a forma de estágio supervisionado. Deverá a Metodologia responder as indagações que irão aparecer na Prática de Ensino, do mesmo modo que a Prática de Ensino tem que respeitas a Metodologia. Esta organização segue até a LDBEN nº 9394/96 (BRASIL, 1996), na verdade, até sua implementação na escola, meados de 1998. A partir da nova legislação se interpretou o artigo nº 62 literalmente, e acabou com o curso de Magistério. Em 1995 a Secretaria de Estado da Educação (SEED/PR4) dá prosseguimento à sua linha política para a educação iniciando um processo de enxugamento de diferentes atividades extracurriculares oferecidas nas escolas estaduais e, em 1996, determinou a adesão do Programa Extensão do Ensino Médio (PROEM) trazendo com isso a cessação dos cursos de magistério em toda a sua rede. Mas, no final de 1996, com base na legislação vigente e com apoio da comunidade escolar algumas escolas do estado decidem manter o curso de habilitação para o Magistério, em detrimento da imposição da SEED/PR. A matriz curricular neste período sofre alterações em função da nova LDBEN nº 9394/96 (BRASIL, 1996) adequando às novas nomenclaturas a partir de 1998. A cada ano letivo, havia a pressão da SEED/PR para o fechamento do curso. Mas em 1999 a continuidade do curso de Magistério foi oficialmente autorizada pela SEED/PR e as matrículas para primeira série asseguradas. Como ainda havia instituições particulares que também ofertavam o curso de Formação na Modalidade Normal, o Conselho de Educação Estadual do Paraná – CEE/PR teve que normatizar a oferta e neste processo de elaboração da legislação. Ocorreu a normatização oficial das diretrizes curriculares do Curso de Formação de Docentes – modalidade normal. A escola também se envolveu e do trabalho de discussão quando foi lançada a Deliberação nº 010/1999 – do CEE/PR5(PARANÁ,1999). Destas discussões foi elaborado um documento final que trouxe grade curricular única, com a formação específica e geral conjugadas, num curso de quatro anos de duração. Este cenário se manteve até o ano de 2002. No quadro abaixo, a nomenclatura do curso de 1993 a 2002: 4 5 Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Conselho de Educação Estadual do Paraná. 15094 Quadro 1 – Nomenclatura do curso de 1994-2009 na rede estadual do Paraná. Período Nomenclatura 1994 a 2001 Magistério (habilitação para as séries iniciais e pré-escolar) 2002-2004 Formação de Docentes – Anos Iniciais 2004-em diante Formação de Docentes – Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental Fonte: As autoras. No ano de 2003, segundo documentos da SEED, se assume uma proposta educacional contra o neoliberalismo numa perspectiva sócio histórica, com valorização dos profissionais da educação e a retomada da oferta dos cursos profissionalizantes pela rede estadual. Em 2004, foi implantado o curso de Formação de Docentes Subsequente para egressos do Ensino Médio. E com uma nova matriz curricular única para o Curso de Formação de Docentes Integrado em todo o estado. O curso chamado subsequente teve sua nomenclatura adequada às orientações do Ministério da Educação (MEC) segundo o catálogo de profissões, e passou a chamar-se Curso de Formação de Docentes para Educação Infantil e Anos Iniciais com Aproveitamento de Estudos, curso com data para acabar, segundo documentos da própria SEED. O estágio: legislação específica do estado do Paraná Para assumir aulas de estágio nos cursos de Formação de Docentes há alguns critérios que são determinados pela SEED/PR. Aqui faremos a descrição quanto às indicações relativas aos anos de 2012-2013 no Ofício Circular nº15/2011 (PARANÁ, 2011), com normativas baixadas orientando os estabelecimentos sobre a distribuição de aulas do curso de Formação, especialmente para a disciplina de estágio, como vemos a seguir: 2.1 Pertencer ao Quadro Próprio do Magistério (QPM), ser graduado com habilitação e qualificação específica e experiência na área do Curso. OBSERVAÇÃO: A documentação comprobatória deve ser analisada pelo NRE e enviada para avaliação e autorização, ao Departamento de Educação e Trabalho. Há uma única descrição sobre a articulação das disciplinas específicas e a disciplina de estágio, de forma pouco específica que fala de manter o Coordenador de Curso, professores e Equipe técnico-pedagógica, informados quanto ao processo de articulação teoria – prática. 15095 Há, também, pouca descrição sobre a articulação necessária da disciplina de estágio com as demais disciplinas, ou seja, como desenvolver o trabalho para além da disciplina em sala, pensando na formação integral desta aluna que sai com uma formação profissional e a certificação do curso em nível médio. Esta dificuldade de encontrar material específico sobre estes encaminhamentos da disciplina se expressa na limitação deste texto em aprofundar o tema. Metodologia Para o desenvolvimento desta pesquisa qualitativa, partiu-se de leituras que fundamentaram teoricamente a pesquisa. Esta pesquisa é qualitativa e pretendia primeiramente, por meio da aplicação da técnica de grupos focais, conhecer a realidade em que se insere a disciplina de estágio por meio da percepção de seus atores (docentes e discentes) buscando desenhar ações que possibilitem a criação espaços efetivamente articuladores dentro do curso de Formação de Docentes. Esta técnica de grupo focal 6, no entanto, não foi suficiente para a análise proposta inicialmente, gerando a necessidade da aplicação de entrevistas com professoras do curso e de Cursos de Pedagogia de Instituições de Ensino Superior – IES. Deste modo, a metodologia utilizada foi a pesquisa-ação que é um tipo de pesquisa participante, em oposição à pesquisa tradicional que busca unir a pesquisa à ação ou prática. A opção pelo uso desta metodologia teve a intenção de possibilitar a investigação da prática de uma forma crítica e reflexiva. O grupo focal foi gravado e suas falas e observações transcritas, estas falas foram parcialmente reproduzidas neste texto conforme ilustram ou corroboram com os estudos. As informações das entrevistas pontuais com profissionais do curso de formação de docentes e com professoras universitárias (uma de instituição pública e outra de instituição privada) possibilitaram complementar algumas questões levantadas pelo grupo focal. 6 Grupo Focal: O grupo focal trabalha um tema de uma maneira não estruturada o que permite a participação dos envolvidos de forma natural. Cada ideia lançada pelo grupo traz a possibilidade de uma nova discussão e ampliação da visão sobre o tema por parte de todos os envolvidos. Assim permite a expressão de ideias para além de impressões ou discursos prontos (ou oficiais). As vantagens desta técnica de natureza qualitativa (que gerou a opção por ela) são as possibilidades de envolvimento das pessoas com uma discussão focada que possibilitará qualidade na geração de dados para além de uma observação simples, além de permitir o desenvolvimento de planos de intervenção e gerar informações adicionais (IERVOLINO; PELICIONI, 2001). 15096 Aplicação do Grupo Focal e entrevistas: análise dos dados coletados Foi aplicado um grupo focal. A técnica foi aplicada conforme as recomendações em local organizado e com a filmagem e observação da fala e das expressões das participantes. Detalhes observados trazem complementação ao que foi falado (expressões faciais e corporais), estas, que falam o que as palavras calam. A técnica do grupo focal foi aplicada com oito participantes, sendo uma aluna do primeiro ano, três alunas do segundo ano, uma aluna do quarto ano do Curso de Formação de Docentes Integrado, mais uma aluna do 5º período do Curso de Formação de Docentes com Aproveitamento de Estudos e uma aluna egressa do Curso Integrado de 2013, que atualmente faz Pedagogia na UFPR; mais duas professoras sendo uma de disciplinas de metodologia e fundamentos e a outra que só trabalha com a disciplina de estágio. A orientadora do grupo foi uma professora universitária sem vínculo com o estado. Nesse encontro a conversa iniciou com o disparador sobre a importância da disciplina para o curso. A conversa fluiu com a concordância entre todas de que era importante para o conhecimento da prática, para a escolha e permanência no curso e para o direcionamento profissional. As alunas dos anos iniciais do curso disseram que gostavam da disciplina e que estavam aprendendo bastante, mas lamentavam o pouco contato com a escola, com a prática de verdade, segundo elas. Neste momento, as professoras fizeram suas intervenções no que nos pareceu uma defesa da organização do curso, argumentando a necessidade de localizar a profissão, a escola e o papel da disciplina, assim como explicando a disposição dos conteúdos da disciplina ao longo dos anos como um padrão do estado, porque a disciplina vem com estes itens já determinados no Plano de Curso aprovado pelo Conselho Estadual de Educação. Dessas falas é importante destacar que havia no início da conversa um clima de justificativa por parte das professoras e certa insegurança por parte das alunas do curso. A egressa sentia-se mais à vontade ao declarar suas opiniões, concordando com as colegas calouras de que se poderia trazer mais prática ao primeiro ano. Na entrevista com a egressa, ela argumentou mais sobre este aspecto: 15097 [...] O que me preocupa é o pouco contato com a sala de aula no primeiro ano, fui ter esse contato depois que já tinha cursado mais da metade do curso. Muitas estão lá porque os pais querem ou para ter currículo, muitas vezes nem tem sequer noção do que é ser professora, ou o que é estar na frente de uma turma, sei que é necessário ter uma determinada carga de conteúdo e também sei que jogar o primeiro ano seria assustador, mas ter um dia de observação seria interessante, como disse anteriormente trazer um pouco mais da realidade pra dentro do estágio, discutir não só sobre o texto, mas outras questões que também envolvem a prática como um todo (Egressa do Curso). A aluna do 5º período, justificando-se pela diferença do seu curso com o Integrado, já argumentava que esta ausência de prática imediata não se deu no seu caso, pois já de início tinham que desenvolver atividades práticas com observações em diferentes escolas. Nesse estudo, encontramos referências que corroboram com estas discussões de tempo específico de prática em sala de aula Pimenta (2010) e Piconez (1991) apresentam como pontos positivos a evolução que o curso de Magistério sofreu durante o tempo, mas relatam também as dificuldades de campo de estágio, limitações na formação dos professores atuantes e de se conseguir professores com formação específica para este trabalho com o estágio. O tempo minguado é queixa comum nos cursos de Licenciaturas, como vemos nas entrevistas com as professoras das Instituições de Superior - IES: O ideal seria um encontro semanal, durante todo o semestre letivo, possibilitando um contato maior do aluno com a prática, maior carga horária para o acompanhamento para a professora, bem como um menor número de alunas para conseguir efetivar tal acompanhamento (Professora da IES particular). A formação em nível superior tem se mostrado insuficiente. O currículo atual é academicista, longe da realidade da escola, os estágios de docência são pontuais, uma ou duas aulas são dadas pelas alunas no semestre! As alunas de final de curso se dizem pouco preparadas para o trabalho docente, e as que iniciam a vida profissional depois de formadas se mostram inseguras (elas dizem isso e procuram alguns professores que podem orientá-las). E isso acontece com ótimas alunas que foram dedicadas durante todo o curso. As que se sentem seguras são as que fizeram o curso de magistério e as que realizaram muitos estágios não curriculares em escolas (Professora da IES pública). No curso atual Integrado, a queixa é da experiência tardia em sala, que só acontece no segundo ano. As professoras durante o grupo focal acabaram explicando às alunas que elas teriam esta experiência no segundo semestre, e disseram que: “Vocês terão a prática no segundo semestre, setembro-outubro, consta no cronograma de vocês!” (Professora de estágio do colégio durante o grupo focal). O lamento das alunas se justifica pela ansiedade de encontrar-se com a prática e a justificativa das docentes, se justifica pela necessidade de preparar as alunas para este encontro. Este parece ser um ponto a ser considerado: o contato com a escola mais frequente, 15098 e dele se partir para a construção teórica. Mas a carga horária da disciplina se solidifica em 200 horas anuais com 10% de ações nas escolas nos dois primeiros anos e de 50% nos dois últimos, aproximadamente, segundo o plano de curso que traz a descrição da disciplina. No grupo focal as discussões se fixaram neste aspecto, avançando pouco. Já nas entrevistas foram mais a fundo, como na resposta da aluna do 4º ano do Integrado: A disciplina de estágio é necessária e essencial. Porém seria ainda mais eficaz se acontecesse um diálogo de todos os professores, ou pelo menos os das disciplinas específicas, se reunissem considerando um o trabalho do outro e até aproveitando, quando possível, dos mesmos materiais de estudo, como: livros; textos; oficinas e etc. Pois assim a relação de uma disciplina com a outa ficaria mais visível e valorizada. No seu modo de ver, o que falta para a disciplina de estágio ser eficiente ao que ela se propõe que é oportunizar a vivência com a realidade em sala de aula desde os primeiros anos, e consequentemente a discussão da prática que foi observada e realizada. Mesmo quando se tem a teoria, não basta apenas realizar a prática, mas sim rever os erros, acertos e melhorias, para potencializar as suas experiências. Para aulas mais ricas vale utilizar- se do diálogo na comparação da teoria e da realidade, apurando uma melhor compreensão e execução da práxis (Aluna do Curso do 4ºano). Quanto à queixa comum das alunas, Pimenta (2010) cita Contreras Domingo (1990) com o argumento de que esta argumentação de que a prática precede a teoria, na verdade, mantém a separação entre elas, pois se faria apenas uma teoria descritiva sobre assuntos sociais e acabaria se restringindo a conselhos sobre a realidade encontrada. Nós concordamos com o autor, pois a experiência demonstra que as alunas ao retornarem do campo mostram esta ânsia em querer resolver problemas pontuais, com situações singulares muitas vezes, ou de crítica a uma posição da regente observada, ou de apavoramento com casos de alunos bem específicos. Há sempre este risco de se limitar a teoria a receitas do que fazer quando se encontra determinados problemas, restringindo a teoria. Há sem dúvida uma dicotomia entre as disciplinas específicas do curso com a disciplina de prática de formação. Isso transpareceu em todos os relatos, de forma mais tímida no grupo focal, ou de modo mais específico, nas entrevistas. Pimenta (2010) já apontava isso quando na análise do curso de Magistério ainda sob a regência da LDB nº5692/71. A autora destaca que mesmo com os avanços das análises e avaliações realizadas nos cursos de Magistério de então, a fragilidade da articulação da disciplina era visível. No documento da escola, seu plano de curso, há indicativos de que a articulação entre o estágio nas escolas, as suas aulas teóricas e as disciplinas específicas se dá já no formato do currículo do curso que vá vem desenhado para toda escola. Esta articulação para o colégio, portanto, é natural. Mas 15099 em nenhum momento das discussões ou das entrevistas, as professoras falaram de encontros para discutir a disciplina ou encaminhamentos. A professora de metodologia, por exemplo, aponta uma crítica muito pontual à disciplina de prática: O fazer pedagógico é um exercício diário de aprendizagem mútua, entre todos os envolvidos, far-se-á necessário que o educador tenha essa consciência e seriedade quanto às exigências (coerentes e não coerentes). Especificamente o estágio, a grande falha que vejo é deste apresentar-se como o único repressor do aluno. A impressão do corpo discente é que não se pode faltar no estágio, não se pode deixar de fazer no estágio, ele é o único que não promove sozinho, isso merece uma revisão com muita urgência (Professora de metodologia do Colégio). Este aspecto citado pela professora na entrevista suscita um dado interessante: a disciplina de estágio reprova sozinha e por este aspecto é tomada pelas alunas como a única que deve ser cumprida na íntegra. Essa reflexão alerta que é um aspecto a ser discutido urgentemente pela escola e nossa inferência aqui é em relação a dois pontos: o primeiro é que a disciplina é sim obrigatória com cumprimento integral (100% de frequência), visto que é o estágio obrigatório do curso. As faltas são passíveis de reposição e devem ser repostas sempre. O segundo seria mais uma inferência no sentido de que há uma reflexão enquanto escola, de que todas as disciplinas são obrigatórias e fundamentais, e a ausência deste discurso parece ter repercussões desconfortáveis entre as disciplinas que não veem paridade de exigências aos discentes, ou se veem preteridas em relação à disciplina de Prática? Há, portanto, uma disputa interna velada entre os pares. Segundo Pimenta (2004, p. 45): [...] as escolas de formação de professores deverão propiciar a discussão da práxis, na tentativa de superar a dicotomia entre teoria e prática, fazendo com que todos tenham bem claro que o Estágio Curricular é a atividade teórica instrumentalizadora da práxis, contribuindo assim para a formação de um profissional historicamente capaz, crítico e reflexivo, transformador da realidade em que está inserido. Esta singularidade, no entanto, é sim vista por alguns como preciosidade, ou como disciplina mais fácil de ser ministrada, sem cobranças, provas a serem aplicadas já que trabalham mais com leitura e reflexão e a docência só acontece (na escola pesquisada) no 3º e 4ºano do Curso Integrado e no 4º e 5º do Curso com Aproveitamento de Estudos. Destes relatos, o destaque aqui é que há uma dicotomia no trabalho que aparece na ausência de unicidade do Curso e um número muito inconstante de professores concursados do quadro próprio do Magistério da rede. Na escola pesquisada este foi um aspecto de destaque, além da dificuldade da visão do todo do curso e da ausência quase que absoluta de 15100 reuniões. Todas as pessoas entrevistadas, e as que participaram do Grupo Focal, relataram a ausência de reuniões de planejamento específico, que acontecem de forma tão esporádica e com pautas muito diversas, que não se consegue pensar no curso como um todo, falasse de pontos muito específicos sem grandes avanços. Esse dado para a essa pesquisa foi fundamental para comprovar nossa hipótese da ausência de um trabalho pedagógico mais efetivo para realizar a função articuladora da disciplina de Prática de Formação. Esta ausência identificada se confirma também em relação às disciplinas do Núcleo Comum (Matemática, Física, Língua Portuguesa, etc.), demonstrando a fragilidade desta formação denominada integrada. Considerações Finais Esta pesquisa tinha por objetivo identificar os entraves no processo de organização da disciplina de Prática de Formação junto às outras disciplinas específicas do Curso de Formação de Docentes e os fatores que limitam a atuação articuladora da disciplina. Nossa hipótese de que a ausência de um trabalho orientador para o curso em relação às disciplinas específicas e o estágio sendo a disciplina articuladora do curso, se confirmou. Neste sentido, a necessidade do trabalho de pesquisa do tema também se configurou como uma necessidade urgente, não só na escola de pesquisa, mas em outras escolas, nas instituições de ensino superior, nas licenciaturas, principalmente, na Pedagogia. O trabalho aponta para uma fragilidade de construção de unidade no curso por meio de unidade de discurso e ações. Há, aparentemente, uma disputa interna entre as disciplinas quando se dá a conotação à disciplina de Prática de que é a única que reprova sozinha, o que não é uma verdade absoluta, haja vista que as discussões observadas em conselhos de classe mostram que há a cobrança de frequência, e esta sim, reprova a aluna que não a cumpriu, o que são casos raríssimos, pois há a possibilidade e cobrança imediata de reposição em todos os casos, faltas justificadas ou não, possibilidade remota nas demais disciplinas, dada sua organização. A proposta aqui será tímida a princípio e muito pontual na perspectiva de escola, pois as realidades com seus problemas parecem muito ser muito semelhantes, no entanto, o corpo docente e a realidade do corpo discente de cada colégio é fator determinante para a efetivação de qualquer orientação. Nosso desejo é deste texto servir como estopim para discussões e reflexões da práxis do Curso, nisso, acreditamos no êxito da pesquisa. 15101 A relação entre docentes e a possibilidade de maior participação das alunas nas discussões sobre o curso parecem ser fundamentais. Há poucos momentos de audição das alunas de aspectos sobre o desejo. Desejo de aprender, ver, vivenciar, experimentar a docência. Desejo de falar sobre os anseios da profissão na perspectiva da aluna que não consegue ver na prática de suas docentes a teoria ensinada. A reflexão observada na fala das alunas durante a aplicação do Grupo Focal se mostrou na linguagem corporal, onde o corpo das alunas expressava sua angústia em falar, mas calava pelo pouco exercício da crítica. Há a necessidade de construir uma prática baseada na teoria também para as diferentes disciplinas do curso, e isso, se faz urgente. Ensinar fazendo do jeito que se diz que tem quer ser feito. A construção de um conhecimento significativo para as alunas em todas as aulas foi um aspecto marcante desta pesquisa. Outra relação que a pesquisa aponta a partir das diferentes observações é que não há um discurso comum e uma linha pedagógica clara na atuação. Algumas leituras são rasas demais da realidade das escolas, com experiências de docência em anos iniciais das docentes do curso insuficientes. Um aprofundamento da realidade que cerca a escola, que existe enquanto a realização do estágio (CMEI’s e escolas de anos iniciais) para ser uma urgência não percebida. As docentes do curso têm pouco ou nenhum conhecimento dos campos de estágio das alunas, portanto, sem conseguir vislumbrar a sua prática nem seu campo de atuação futuro. A visão que o estágio traz sobre a realidade, é uma discussão necessária no âmbito da sala de aula da disciplina de Prática e nas salas de aula das demais disciplinas do curso. Esta articulação da realidade para além de preparação de planos de aula é que precisa ser ampliada, ou diria aqui, superada. O isolamento da disciplina hoje é inaceitável, mas real. A relação de atividades previstas para o estágio obrigatório e as reflexões a partir delas é útil para todo o curso. As possibilidades de interdisciplinaridade são muito abrangentes. O contato entre as docentes, com um fio condutor bem definido, uma necessidade que tem o curso e que é imediata e, sim, possível. A formação da maioria das professoras é Pedagogia com exceção das disciplinas de Núcleo Comum, no entanto, o fazer pedagógico está muito aquém da potencialidade do seu corpo docente. Esta reflexão de justifica pela baixa participação das docentes no Grupo Focal. Seria reflexo de uma baixa autoestima do curso? A ausência de unidade é evidente na prática, não no discurso. Os limites da nossa pesquisa estão na baixa participação das docentes e discentes nas discussões propostas, no entanto, estes limites tornaram-se objeto de análise também. A 15102 possibilidade de pensar numa ação pontual em relação a este dado coletado poderia ser apontado aqui como aspecto muito positivo e disparador de novas pesquisas. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 ago. 1971a. ______. Conselho Nacional de Educação. Parecer n. 371/1971. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1971b. ______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 12 abr. 2013 IERVOLINO, S. A.; PELICIONI, M. C. F. A utilização do grupo focal como metodologia qualitativa na promoção da saúde. Rev Esc Enf USP, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 115-121, jun. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v35n2/v35n2a03.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2013. PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Deliberação n. 010/1999. Diário Oficial do Estado, Curitiba, 1999. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=20>. Acesso em: 11 maio 2013. ______. Secretaria de Estado da Educação. Ofício Circular n. 15/2011. Diário Oficial do Estado, Curitiba, 2011. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=601>. Acesso em: 11 jun. 2013. PICONEZ, S. C. B. Prática de ensino e estágio supervisionado. São Paulo: Papirus, 1991. PIMENTA, S. G. (Org.). O estágio e a docência. São Paulo: Cortez, 2004. ______. O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática? São Paulo: Cortez, 2010.