ÉTICA APLICADA E ANIMAIS Anamaria Feijó CASO Foram contempladas com Bolsa de Iniciação Científica da Faculdade X, duas alunas: L.D. do 5º semestre e J.F. do 2º semestre, ambas do curso de Farmácia. Muito satisfeitas, compareceram à reunião marcada pelo orientador para conhecerem a pesquisa na qual iriam trabalhar. O professor doutor R. explicou às alunas que a pesquisa consistia em determinar a alteração ou não de hemogramas de ratos Wistar, pela administração intraperitonial de doses sub-letais da peçonha de uma serpente venenosa existente na região. Ao saberem que o sangue dos animais seria coletado por elas através de punção retro-ocular, as alunas questionaram sobre a anestesia pois sabiam que este era um procedimento doloroso, além de exigir uma certa experiência prática. O Dr. R respondeu que o anestésico indicado para roedores (como barbitúrico, por exemplo, as vezes até antecedido de pré-medicação como atropina) poderia causar a morte do agente biológico pois precisava ser administrado com muito esmero por profissional especializado. Isto seria um custo extra que acarretaria em um aumento substancial do orçamento do projeto podendo até implicar no cancelamento das bolsas das alunas. Disse que os animais seriam levemente sedados com éter mas que elas não se preocupassem, porque no Brasil a legislação oficial específica era recente e não havia ainda fiscalização do novo Comitê de Ética para o uso de animais. Isto permitia que os pesquisadores utilizassem livremente os animais da maneira que entendessem ser a melhor, sem preocupação com conseqüências de seus atos. Este fato deixou a aluna L.D. mais tranqüila. Perguntado sobre o número de animais a serem utilizados, Dr. R. explicou que seriam retirados do Biotério da Instituição e trazidos para o laboratório, 200 ratos Wistar, machos para esta pesquisa. Inicialmente, a idéia do pesquisador era utilizar em torno de 100 ratos mas como as condições do laboratório não eram muito boas (muita variação de temperatura e umidade, dificuldade de cuidado dos animais nos finais de semana) e já haviam morrido 70% dos animais de um outro experimento pela variação destes fatores, ele entendia que era seguro ter um número mais elevado de animais a disposição no laboratório. Esta sobra poderia ser utilizada para a aquisição de prática no procedimento da punção retro-orbital pelas bolsistas e os ratos restantes, não utilizados, seriam sacrificados pois não poderiam voltar ao biotério. Ao saber que não havia um desenho estatístico prévio da pesquisa, a aluna J.F. se retirou do projeto abrindo mão da Bolsa de Iniciação Científica. Que considerações de caráter ético esse caso te sugere?