Disputa por estágio é maior do que em vestibular O Estado de São Paulo 3 de junho de 2012 | 12h27 Márcia Rodrigues A estudante de administração de empresas Ingrid Carmo, de 21 anos, disputou com mais 124 mil universitários uma das 1.906 vagas para estágio na Vale, no último processo seletivo da companhia, que ocorreu no fim do ano passado. Dava a média de 65 candidatos por vaga. “Não é uma disputa fácil. É preciso se dedicar e se preparar muito para conquistar uma vaga, principalmente saber qual a atuação e quais são os princípios da empresa”, diz. A disputa pode ser ainda pior. Philippe de Brito Anselmo, de 23 anos, enfrentou uma verdadeira “prova de fogo” para conquistar o posto de estagiário da operadora de celular TIM. Foram 17 mil inscritos para apenas 123 postos. Uma média de 137 candidatos por vaga. Mais, inclusive, do que o curso mais concorrido do vestibular 2012 da Fuvest, que foi o de engenharia civil em São Carlos, com 52,27 candidatos por vaga. “Minha maior dificuldade foi na dinâmica de grupo. São muitos candidatos para interagir e o tempo é curto para mostrar o seu conhecimento e como ele contribuirá para o crescimento da empresa”, conta o jovem. Assim como Ingrid e Anselmo, os estudantes que buscam uma vaga de estágio para ingressar no mercado de trabalho estão enfrentando seleções cada vez mais acirradas. “Por causa da falta de mão de obra qualificada, muitas empresas estão optando por formar a sua força de trabalho”, conta o superintendente de operações do Centro de Integração Empresa- Escola (CIEE), Eduardo de Oliveira. A responsável pelo programa de estágio da Braskem, Daniela Panagassi, confirma. “O programa de estágio é a porta de entrada da empresa. Buscamos profissionais de várias áreas, não apenas do ramo de química como muitos pensam. Alunos de todas as engenharias são bem-vindos, além dos de administração, contabilidade, psicologia, relações internacionais, marketing etc.” O mesmo ocorre na Vale. Segundo a gerente de atração e seleção de pessoas, Renata Romeiro, o porcentual de efetivação de estagiários é grande. Chega a 70% do quadro do programa. “Os estagiários suprem as demandas que temos para cargos iniciais da Vale. Buscamos profissionais dinâmicos, com capacidade de relacionamento, alta performance e com ambição profissional.” Outro braço da Vale, a Vale Fertilizantes, também faz do programa de estágio uma seleção natural para cargos operacionais. De acordo com a gerente de processos de recursos humanos, Cíntia Magno, é uma forma de criar um banco de talentos para suprir a demanda do mercado. “Abrimos dois programas por ano e focamos, ao longo dos dois anos de estágio, limite determinado por lei, o aprendizado dos novos profissionais. Complementamos o conhecimento que eles adquirem na universidade com a prática do dia a dia.” O estagiário da Braskem Pedro Nardi Martines, de 21 anos, aprovou o programa. “A empresa é jovem e oferece bastante oportunidade para crescer. Ela investe muito, tanto no crescimento profissional como pessoal do estagiário.” Outra empresa que concentra no programa de estágio a formação de mão de obra para vários departamentos é a AmBev. A média de efetivação é de 80% dos estagiários. “Buscamos profissionais que se identifiquem com os nossos objetivos e que se sintam donos da empresa. E esses requisitos já observamos durante o processo seletivo. Por isso, mantemos a maioria no quadro de funcionários”, comenta a gerente de recrutamento e seleção da empresa, Isabela Garbers. O estagiário da companhia Renato Saghi, de 20 anos, sentiu na pele a exigência durante a seleção. “Os testes são bastante complexos. Somos analisados em todos os aspectos. Tanto técnicos quanto nas atitudes que teremos em determinadas situações. E quando começamos o estágio, entendemos o motivo de tantas exigências: aqui nós não somos tratados como estagiários. Já somos profissionais.” Outra empresa que valoriza o desenvolvimento dos estagiários e sua ascensão profissional é TIM. Cerca de 300 funcionários que trabalham atualmente na companhia começaram como estagiários. “Sempre abrimos as vagas disponíveis em todos os departamentos para eles se candidatarem, mesmo que o período de estágio não tenha sido finalizado. É uma prova de que os consideramos profissionais”, diz a gerente de serviços de desenvolvimento, Fernanda Abreu. Falar corretamente e dominar atuação da empresa contam ponto Naturalidade, domínio do português e conhecimento sobre a atuação da empresa são as características mais observadas durante os processos seletivos de estágio. A dica é da supervisora de recrutamento e seleção do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), Aline Gabriel Barroso, mas é compartilhada pela maioria dos responsáveis pelo recrutamento das empresas. “Claro que ter fluência no inglês ou conhecer mais outro idioma também conta ponto, mas ter o domínio sobre a atuação da empresa, falar corretamente e com segurança e trazer no currículo uma vasta bagagem de atividades extras, seja na universidade ou com trabalhos voluntários, são verdadeiros alicerces para conquistar até a vaga mais disputada de estágio”, comenta. Para o superintendente de operações do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), Eduardo de Oliveira, é importante o estudante já se sentir um profissional quando ingressa na universidade e procurar um estágio o quanto antes. “Eles entram muito jovens na universidade. Por isso, aconselho que complementem o conhecimento das aulas vendo a área na prática.” Na opinião dele, o estágio é uma forma de otimizar a decisão do estudante se ele realmente quer continuar ou não naquele curso. “Qualquer um pode apostar em uma área e, quando a conhece a fundo, perceber que não é o que queria. E não é preciso ter vergonha de reconhecer isso e mudar. Ao contrário. É muito mais saudável do que se manter em uma área que não lhe proporciona prazer. E quanto mais cedo isso ocorrer, mais chances se tem de atingir o sucesso.” A maioria das empresas abre seleção duas vezes por ano. Por isso, é importante acompanhar o site da companhia que se deseja ingressar no programa de estágio. No caso da AmBev, por exemplo, a inscrição pode ser feita durante todo o ano. Apenas as seleções têm mês certo: maio, agosto e outubro. A Brasken está com inscrições abertas até o dia 10 de junho. Para se inscrever basta acessar o site: www.jovensbraskem.com.br. O CIEE e o Nube mantêm um banco de vagas permanente. Basta se cadastrar nos sites: www.ciee.org.br e www.nube.com.br.