CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Programa VI – Aspecto Religioso 1.1 Politeísmo Ou Paganismo - 1ª Parte 1.2 Politeísmo Ou Paganismo - 2ª Parte 1.3 Moises E O Povo Judeu 1.4 Moisés: Legislador E Missionário 1.5 O Advento De Jesus 1.6 Equipe Espiritual Da Missão De Jesus 1.7 A Missão De Jesus 1.8 A Missão Dos Apóstolos 1.9 Estudo Do Novo Testamento 1.10 A Moral Cristã 2.1 Amor A Deus, Adoração, Vida Contemplativa 2.2 A Fé E O Seu Poder 2.3 A Prece E Sua Eficácia 2.4 Sacrifícios, Mortificações E Promessas 3.1 A Caridade 3.2 Amor Materno E Amor Filial 3.3 Respeito Às Leis, Às Religiões E Aos Direitos Humanos 4.1 Os Caracteres Da Perfeição. Obstáculos À Perfeição 4.2 Cuidados Com O Corpo E Com O Espírito 4.3 Conduta Espírita: Vivência Evangélica CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Programa VI – Aspecto Religioso 1. Evolução do Pensamento Religioso 1.1 POLITEÍSMO OU PAGANISMO - 1ª parte A questão 667 de O Livro dos Espíritos nos esclarece sobre as origens do politeísmo: "(...) A concepção de um Deus único não poderia existir no homem, senão como resultado do desenvolvimento de suas idéias. Incapaz, pela sua ignorância, de conceber um ser imaterial, sem forma determinada, atuando sobre a matéria, conferiu-lhe o homem atributos da natureza corpórea, isto é, uma forma e um aspecto e, desde então, tudo o que parecia ultrapassar os limites da inteligência comum era, para ele, uma divindade. Tudo o que não compreendia devia ser obra de uma potência sobrenatural. (...)” Politeísmo é, pois, crença religiosa numa pluralidade de deuses ou a adoração de mais de um deus. Devemos, inicialmente, entender o significado de deus para que possamos alcançar o sentido das idéias politeístas. Recorramos à questão 668 da obra da codificação já citada: "(...) chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens tinham por deuses os Espíritos. Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações, pelo seu gênio, ou por um poder oculto que o vulgo não lograva compreender, se distinguia dos demais, faziam dele um deus e, por sua morte, lhe rendiam culto. A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade (...) Se estudarmos atentamente os diversos atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforços, todos os de que vemos dotados os Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos mundos superiores, todas as propriedades do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas da Terra. (...)” (02) “(...) Entre os vários fatores responsáveis pela criação e multiplicação dos deuses devemos salientar: a) a personificação das forças da natureza (mit. astral, deuses telúricos e subterrâneos, deuses da fecundidade) e a sua consequente elevação ao reino da divindade; b) a divinização de antepassados e heróis; c) a centralização política dos grandes Estados, provocando a fusão e a unificação de culturas e crenças (...).” Estes itens apontados podem, segundo o constante na Lello Universal, ser expressos nos três principais sistemas do politeísmo: “(...) a idolatria, adoração de muitos deuses personificados por ídolos grosseiros; o sabeísmo, culto dos astros e do fogo sem intermédio de emblemas representativos, e o feiticismo (*), adoração de tudo quanto impressiona a imaginação e a que se atribui poder; não é raro encontrar estas três formas estreitamente unidas (...).” Devemos fazer um parêntese nesta altura do nosso estudo: a palavra paganismo é comumente usada como sinônima de politeísmo. Em essência o é mesmo; mas do ponto de vista histórico e teológico, não. Quando Constantino cansagrou o Cristianismo como a nova religião do Império Romano os não-critãos eram chamados de pagãos: praticantes do paganismo. Neste aspecto, foram generalizados como pagãos tanto os politeistas propriamente ditos como os ateístas não-cristãos. Dai entender-se, apesar de não se justificar, a perseguição religiosa, que a História descreve, aos judeus, maometanos e outros povos. “Feiticistas (*) na sua origem, como o são ainda hoje entre os povos selvagens, as religiões da Antiguidade eram politeístas, com uma tendência mais ou menos acentuada para o antropomorfismo. Tais eram as religiões dos principais povos antigos: egípcios, assirios, 2 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” fenicios, persas, cartagineses, gregos e romanos, gauleses, germanos; tal é ainda atualmente a maior parte das religiões do extremo Oriente, na Índia, no Japão ou na China. Em geral o dogma era muito incerto, as crenças confusas e misturadas de lendas: o culto, nacional ou local, era concebido como uma espécie de contrato entre o homem e a divindade.” Segundo C. de Brosses, em Do Culto dos Deuses Fetiches, “(...) todas as religiões, à exceção (...) da dos hebreus, derivariam do fetichismo, o qual, por sua vez, se originaria do medo (...) Müller fixou definitivamente a ciência das religiões, ao aplicar o método histórico à interpretação dos mitos gregos. (...) O raio de alcance das pesquisas estendeu- -se à mitologia dos diversos povos indo-europeus, considerada como a mais antiga das manifestações religiosas. (...)” “(...) J. Lubbock dividiu em seis períodos a história religiosa da Humanidade: 1‘ – ateísmo; 2' – fetichismo (do português feitiço, sortilégio); 3‘ – culto da natureza; 4' – xamanismo (a religião dos xamãs, feiticeiros profissionais); 5' – antropomorfismo; 6' – crença em um deus criador e providencial (...). Já em 1767, o francês N. S. Bergier emitira um conceito segundo o qual o fetichismo explicava-se pela semelhança entre a mentalidade do primitivo e a da criança, que empresta uma alma e uma personalidade ativa a cada um dos objetos que a rodeiam. A etnologia comparada permitiu a E. B. Tylor retomar e desenvolver esse conceito. Segundo esse autor (Primitive Culture, 1872) (...) o homem pré-histórico (...) ter-se-ia formado de inicio uma determinada noção da própria alma a qual não tardaria a assimilar a alma dos animais e das plantas, para depois passar a concebê-la sob a forma de espíritos individuais disseminados por toda a natureza. Em resultado de uma lenta seleção, daí se teria originado o politeísmo. Em algumas raças superiores (civilizadas) o deus supremo se teria tornado deus único. (...)” Estudando as origens do politeísmo e do paganismo, Emmanuel, em A Caminho da Luz, nos faz importante alerta: que a gênese de todas as religiões da Humanidade tem origem no coração augusto e misericordioso do Cristo, devido, evidentemente, à circunstância de ser Ele o diretor espiritual do orbe terrestre. Para tanto, de tempos em tempos, envia mensageiros à Terra para ensinar e difundir as verdades evangélicas. (13)” (...) Fora erro crasso julgar como bárbaros e pagãos os povos terrestres que ainda não conhecem diretamente as lições sublimes do seu Evangelho de redenção, porquanto a sua desvelada assistência acompanhou, como acompanha a todo tempo, a evolução das criaturas em todas as latitudes do orbe. A história da China, da Pérsia, do Egito, da India, dos árabes, dos israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz dos seus poderosos emissários. E muitos deles tão bem se houveram, no cumprimento dos seus grandes e abençoados deveres, que foram havidos como sendo Ele próprio, em reencarnações sucessivas e periódicas do seu divinizado amor. No Manava-Darma, encontramos a lição do Cristo; na China encontramos Fo-Hi, LaoTsé, Confúcio; nas crenças do Tibete, está a personalidade de Buda e no Pentateuco encontramos Moisés; no Alcorão vemos Maomet. Cada raça recebeu os seus instrutores, como se fosse Ele mesmo (...).” Outro alerta que Emmanuel também nos faz, na obra citada, é sobre a unidade substancial das religiões: "(...) A verdade é que todos os livros e tradições religiosas da antiguidade guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento. Todas se referem ao Deus impersonificável, que é a essência da vida de todo o Universo, e no tradicionalismo de todas palpita a visão sublimada do Cristo, esperado em todos os pontos do Globo. No próximo roteiro estudaremos as principais religiões politeístas da Terra e a contribuição dessas idéias religiosas para a formação moral e social da Humanidade. Antes, porém, abordaremos algumas definições que julgamos importantes para a compreensão do assunto. 3 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” MITOLOGIA – É o estudo dos mitos. Nem toda religião está ligada a uma mitologia, ma: “(...) as religiões de caráter politeísta e antropomórfico oferecem, em princípio, à imaginação mítica, matéria própria. (...)” MITO – É uma narração poética referente ao nascimento, vida e feitos dos antigos deuses e heróis do paganismo. LENDA – Relato transmitido pela tradição. ORIGENS DOS MITOS – Guarda relação com a observação da natureza e seus variados e multiformes elementos. A imaginação humana personificou os fenômenos naturais e os imaginou como individualidades livres, independentes, cuja atuação estava submetida a invariáveis leis morais e dotados, também, de uma corporeidade muito próxima da forma humana (antropomorfismo). EVOLUÇÃO DOS MITOS – A mitologia grega era muito mais rica que a dos romanos e de outros povos, devido o espírito helênico ter sido altamente criador e o romano mais prático. FONTE DA MITOLOGIA – Baseia-se no legado dos poetas gregos e latinos. Merece destaque a obra deixada pelo grego Homero. COMO ERAM OS DEUSES – A aparência dos deuses era totalmente humana, porém melhorada, mais bela e majestosa; mais fortes, mais vigorosos. Possuíam todas as faculdades humanas em escala ampliada. Necessitavam, como os homens, do sono, da comida e da bebida. A comida não era igual a vulgar alimentação humana, mas se alimentavam do néctar e ambrósia. Necessitavam andar vestidos, sobretudo as deusas que escolhiam as vestes e os adornos com capricho. O nascimento era semelhante ao dos humanos, porém os deuses eram precoces e o período da infância bem reduzido. A mais importante vantagem dos deuses sobre os homens era o fato de serem imortais, nunca envelheciam, não eram atingidos por doença alguma. Moralmente, eram muito superiores aos mortais e como a maldade, a impureza e a injustiça os aborreciam não hesitavam em castigar as maldades e injustiças humanas. Apesar de toda superioridade física, moral e espiritual, os deuses estavam presos aos seus destinos, fixados desde a eternidade. Os deuses passavam a vida desocupados, num verdadeiro far niente (nada fazendo), por isto buscavam toda sorte de divertimentos e passatempos. Os deuses viviam numa grande comunidade, reunidos em torno do pai dos deuses e dos homens (o deus principal). A COSMOGONIA – (Mitos referentes às origens do mundo) era mais ou menos semelhante entre os diversos povos politeístas, apesar de que os romanos não se cuidaram de ter idéias próprias sobre tal coisa. De um modo geral, os antigos acreditavam que o mundo surgiu a partir do caos, ou seja, de um espaço infinito e tenebroso. A TEOGONIA – (Mitos que explicam o nascimento e descendência dos deuses), entre os diversos povos politeístas, também é similar, mudando, às vezes, nomes, locais e as lendas. SACRIFÍCIOS – Os povos primitivos e politeístas adoravam os deuses através de oferendas, cultos, rituais que, geralmente, comportavam sacrifícios de animais ou de seres humanos. Como nos esclarece a questão 669 de O Livro dos Espíritos, os sacrifícios existiam. “Primeiramente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro animais e, mais tarde, homens.” 4 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 1.2 POLITEÍSMO OU PAGANISMO - 2ª parte Religiões Politeístas Emmanuel, em A Caminho da Luz, nos informa que “As primeiras organizações religiosas da Terra tiveram, naturalmente, sua origem entre os povos primitivos do Oriente, aos quais enviava Jesus, periodicamente, os seus mensageiros e missionários. Informa-nos Emmanuel que, naquelas épocas longínquas, devido à ausência da escrita, as tradições se transmitiam de geração a geração através das palavras articuladas (tradição oral), acrescentando, no entanto, que com a cooperação dos exilados do sistema da Capela, os rudimentos das artes gráficas receberam os primeiros impulsos, começando a florescer uma nova era de conhecimento espiritual, no campo das concepções religiosas. Os vedas, que contam mais de seis mil anos, já nos falam da sabedoria dos Sastras, ou grandes mestres das ciências hindus, que os antecederam de mais ou menos dois milênios, nas margens dos rios sagrados da Índia. Vê-se, pois, que a idéia religiosa nasceu com a própria Humanidade, constituindo o alicerce de todos os seus esforços e realizações no plano terráqueo. Escreveremos, a seguir, sobre as principais religiões politeístas da Antiguidade e como elas influíram para a formação moral-intelectual da Humanidade. Para que nos situemos no tempo e no espaço, recordemos que as raças adâmicas (ou exilados da Capela) se reuniram, aqui na Terra, em quatro grandes grupos: os árías – que originaram os povos indo-europeus –, os egípcios, os israelitas e os hindus. CIVILIZAÇÃO DA ÍNDIA “Dos Espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se gruparam nas margens do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de uma sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande percentagem de ascendentes das coletividades do porvir. As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido da misericórdia do Cristo, de cuja palavra de amor e de cuja figura luminosa guardaram as mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos Upanishads. Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados.” Segundo o americano Thomas Bulfinch (The Age of Fable ou O Livro de Ouro da Mitologia) “A religião dos hindus foi fundada, segundo está expressamente admitido, pelos Vedas. Os hindus atribuem a maior santidade a esses livros, afirmando que o próprio Brama os escreveu. Indubitavelmente, os Vedas ensinam a crença em um Deus supremo. O nome dessa divindade é Brama. Seus atributos são representados pelos três poderes personificados da criação, conservação e destruição, que sob os nomes respectivos de Brama, Vixnu e Siva, formam a trimurte, ou trindade dos principais deuses hindus.” Além destes três deuses que formam a trindade dos atributos de Brama, há, no Bramanismo, deuses inferiores responsáveis por certos fenômenos da natureza, como: trovão, relâmpago, fogo, sol, regiões infernais, etc. “Brama é o criador do universo e a fonte de onde emanaram todas as divindades individuais e pela qual elas serão, finalmente, absorvidas.” Por este princípio do bramanismo observa-se, nitidamente, o caráter politeista e panteísta da religião dos hindus. É interessante destacar que “Os adeptos do bramanismo consideram Buda como uma encarnação ilusória de Vixnu (um dos deuses da trindade), assumida por ele a fim de induzir os Asuras, adversário dos deuses, a abandonar os ensinamentos sagrados dos Vedas, graças ao que eles perderiam sua força e supremacia. " 5 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Isto se explica por que "Os budistas negam inteiramente a autoridade dos Vedas e as observâncias religiosas neles prescritas e seguidas pelos hindus. Também não aceitam a separação dos homens em castas e proíbem todos os sacrifícios sanguinolentos e o uso de alimentos de origem animal. Seus sacerdotes são escolhidos em todas as classes; devem se sustentar mendigando; e, entre outras coisas, têm obrigação de procurar utilizarem-se de objetos jogados fora como inúteis por outros e descobrirem o poder medicinal das plantas.” Os brâmanes são idólatras e há divisões entre eles, formando seitas distintas, conforme os deuses que venerem. Dai existirem, ainda hoje, as seitas dos seguidores e adoradores de Vixnu (Deus que protege a Terra de perigos), de Siva (Deus do princípio destruidor e que conta, atualmente, com maior número de adeptos) e do deus principal, Brama. As influências do bramanismo são boas quando originam a formação dos Mahatmas e são negativas quando estabelecem o sistema de castas. É o que Emmanuel nos esclarece: “Os cânticos dos Vedas são bem uma glorificação da fé e da esperança, em face da Majestade Suprema do Senhor do Universo. A faculdade de tolerar, e esperar, aflorou no sentimento coletivo das multidões, que suportaram heroicamente todas as dores e aguardaram o momento sublime da redenção. Os mahatmas criaram um ambiente de tamanha grandeza espiritual para o seu povo, que, ainda hoje, nenhum estrangeiro visita a terra sagrada da Índia sem de lá trazer as mais profundas impressões acerca de sua atmosfera psíquica. Eles deixaram também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de esperança e de estoicismo resignado.” “O povo hindu, embora as suas tradições de espiritualidade, deixou crescer no coração o espinho do orgulho que, aliás, dera motivo ao seu exílio na Terra. Em breve a sua organização das castas separava as suas coletividades para sempre. Essas castas não se constituíam num sentido apenas hierárquico, mas com a significação de uma superioridade orgulhosa e absoluta.” Entre os missionários enviados por Jesus à Índia destacam-se as figuras de Buda e Crisna. CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA “Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a civilização egípcia foram os que mais se destacavam na prática do bem e no culto da verdade. Aliás, importa considerar que eram eles os que menos débitos possuíam perante o tribunal da Justiça Divina. Em nenhuma civilização da Terra o culto da morte foi tão altamente desenvolvido. Em todos os corações morava a ansiedade de voltar ao orbe distante, ao qual se sentiam presos pelos mais santos afetos. Foi por esse motivo que, representando uma das mais belas e adiantadas civilizações de todos os tempos, as expressões do antigo Egito desapareceram para sempre do plano tangível do planeta. Depois de perpetuarem nas Pirâmides os seus avançados conhecimentos, todos os Espíritos daquela região africana regressaram à pátria sideral.” A religião egípcia se caracterizava pelo duplo aspecto com que se manifestava: para a massa popular, ainda não suficientemente madura para receber os ensinamentos profundos, era politeísta. Para os sacerdotes e iniciados, era monoteísta. como nos explica Emmanuel: "Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e Absoluto, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres.” Entretanto, entre o povo, predominavam as idéias politeístas. “As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes festividades exteriores da religião.” E, conforme consta na Enciclopédia Delta Larousse, “Sem embargo da multiplicidade dos deuses egípcios – uma lista achada no túmulo de Tutmés Ill nomeia cerca de setecentos e 6 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” quarenta – a mitologia propriamente dita é bastante pobre ou pelo menos só chegaram até nós muito poucas lendas relativas às divindades.” O deus principal do povo egípcio era Amon ou Amon-Ra e havia outras divindades subalternas (Osiris, Set, Horus, Anúbis, e outros). Inegavelmente, a grande contribuição da religião egípcia repousa nos ensinamentos esotéricos, que não só transmitiam a existência de Deus uno, Pai e Criador de tudo,como também “O destino e a comunicação dos mortos e a pluralidade das existências e dos mundos eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos. Os iniciados sabiam da existência do corpo espiritual preexistente, que organiza o mundo das coisas e das formas. Seus conhecimentos, a respeito das energias solares com relação ao magnetismo humano, eram muito superiores aos da atualidade. Desses conhecimentos nasceram os processos de mumificação dos corpos. Como tão elevados ensinamentos eram vedados ao povo, originou-se o politeísmo. A saudade do mundo feliz e bom, a se expressar em reminiscências fragmentárias, e o culto da morte altamente desenvolvido, permitiram que este povo, degredado num mundo tão diferente do seu, sentisse como renascido em corpos de animais. "A metempsicose era o fruto da sua amarga impressão, a respeito do exílio penoso que lhe fora infligido no ambiente terrestre.” CIVILIZAÇÃO GREGA As experiências mais vastas no campo social ocorreram na Grécia, berço de filósofos, sábios e literatos famosos, sendo que, indiscutivelmente, o maior deles foi Sócrates. Os Gregos eram essencialmente politeístas e donos de uma mitologia inigualável. Nenhum povo os superou nesse ponto. Mas para compreendermos um pouco da mitologia grega, segundo palavras do autor do Livro de Ouro da Mitologia, “cumpre-nos, em primeiro lugar, conhecer as idéias sobre a estrutura do universo, aceita pelos gregos – o povo de quem os romanos, e as demais nações, por intermédio dele, receberam sua ciência e sua religião. Os gregos acreditavam que a Terra fosse chata e redonda, e que seu país ocupava o centro da Terra, sendo seu ponto central, por sua vez, o Monte Olimpo, residência dos deuses, ou Delfos, tão famoso por seu oráculo. O disco circular terrestre era atravessado de leste a oeste e dividido em duas partes iguais pelo Mar, como os gregos chamavam o Mediterrâneo e sua continuação, o ponto Euxino. Em torno da Terra corria o Rio Oceano). Era dele que o mar e todos os rios da Terra recebiam suas águas. A parte setentrional da Terra era supostamente habitada por uma raça feliz, chamada os hiperbóreos, que desfrutava uma primavera eterna e uma felicidade perene.” Na parte meridional da Terra morava um povo tão feliz e virtuoso como os hiperbóreos, chamado etíope. Na parte ocidental da Terra, ficava um lugar abençoado, os Campos Elíseos, para onde os mortais favorecidos pelos deuses eram levados, sem provar a morte, a fim de gozar a imortalidade da bem-aventurança.” Para os gregos havia um grande deus: Zêus. Era o deus supremo, personificava o céu, era o senhor do universo, pai dos demais deuses, deusas e da Humanidade.“(...) Zêus era eterno, onisciente, onipotente. Estava, contudo, submetido ao destino (a Moira). Dele emanavam, com o poder dos reis, as leis das sociedades, a propriedade, o casamento, a hospitalidade, a justiça.” 7 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Havia ainda outros deuses – os principais, os subalternos, as divindades infernais e os heróis ou semideuses. Evidenciam-se, na Grécia antiga, os papéis de duas cidades: Atenas – berço da democracia, onde o povo amava a liberdade e dedicava-se à cultura, às artes, à beleza. Desta cidade saíram grandes legisladores, como Sólon, filósofos, como Sócrates, Platão, Xenofonte, além de poetas. Esparta, ao contrário, representava o poder absoluto, ditatorial, onde se proibia o comércio, condenava a cultura, os seus filhos eram educados dentro de leis rígidas, que por severas em demasia abalavam os alicerces da família e favoreciam a corrupção. A mitologia grega, tão rica e fantasiosa como era, favoreceu que os gregos vivessem as experiências sociais necessárias à sua evolução, sendo que as conquistas sociológicas desenvolvidas em Atenas foram o que houve de mais positivo mesmo para os dias atuais. Com Esparta, contudo, as experiências no campo social não foram tão benéficas. É o que nos fala Emmanuel: "Esparta passou à história como um simples povo de soldados espalhando a destruição e os flagelos da guerra, sem nenhuma significação construtiva para a Humanidade.” CIVILIZAÇÃO ROMANA Foram, sobretudo, os etruscos que deram origem ao povo romano. Os etruscos se caracterizavam por ser “esforçados, operosos e inteligentes. Nas regiões da Toscana, possuíam largas indústrias de metais, marinha notável, destacado progresso no amanho da terra e, sobretudo, sentimentos evolvidos que os faziam diferentes das coletividades mais próximas. Acreditavam na sobrevivência e ofereciam sacrifícios às almas dos mortos, venerando os deuses cujas disposições, em cada dia, presumiam conhecer através dos fenômenos comuns da Natureza.” A história da fundação de Roma está envolvida na romântica lenda de Rômulo e Remo, heróis divinizados, que segundo se dizia eram filhos do deus guerreiro Marte e da Vestal Réia Sílvia (sacerdotisa da deusa do lar Vesta), foram amamentados por uma loba e fundaram Roma. Segundo o iluminado mentor espiritual Emmanuel, as influências do povo etrusco foram decisivas para as experiências que os romanos precisariam viver mais tarde. Neste sentido, vale "recordar a figura de Tarquinio Prisco, filho da Etrúria, que trouxe à cidade grandes reformas e inúmeras inovações em todos os departamentos da sua consolidação e do seu progresso. Seu sucessor, Sérvio Túlio, era igualmente da sua família. Este, dividiu todo o povo da cidade em classes e centúrias, segundo as possibilidades financeiras de cada um, desgostando os patrícios, a esse tempo já organizados, em virtude de essa reforma apresentarse dentro de características liberais, não obstante as suas finalidades militares. Onde, porém, mais se evidenciam as influências etruscas, nas organizações romanas, é justamente na alma popular, devotada aos gênios, aos deuses e às superstições de toda espécie. Cada família, como cada lar, possuía o seu gênio invisível e amigo, e, na sociedade, alastravam-se as comunidades religiosas. Os romanos, ao contrário dos atenienses, não procuravam muitas indagações transcendentes em matéria religiosa ou filosófica, atendendo somente aos problemas do culto externo, sem muitas argumentações com a lógica.” É por isso que, a despeito da numerosa quantidade de deuses existentes em Roma – O Panteão chegou a ter mais de trinta mil - a mitologia romana é pobre. O politeísmo romano contribuiu para que se desenvolvessem, na sociedade romana, grandes virtudes, entre as quais destacamos os deveres familiares, evidenciando o papel das matronas. 8 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Se por um lado o Direito Romano e a organização familiar passam para a posteridade como aquisições evolutivas deste poderoso povo, por outro lado, lamentavelmente, Roma deixou-se embriagar pela sede das conquistas e do expansionismo. Instalado o portentoso Império Romano, o tacão de César passa a subjugar povos e mais povos, até que a águia romana tomba ao chão revelando toda a decadência de quem prometia muito. Falamos das principais civilizações politeístas da Antiguidade, com a expansão dessas civilizações pelos quadrantes do planeta. A miscigenação entre os indivíduos gerou a formação de novos povos que tiveram influências maiores ou menores na história da civilização humana. Citamos, a título de exemplo, os assírios-babilônicos, os fenícios, os iranianos, os chineses, os celtas, os nórdicos, entre outros. 1.3 MOISES E O POVO JUDEU As origens do povo judeu estão repletas de narrações lendárias, sendo algumas fantasiosas e destituídas de uma certa lógica; outras, no entanto, são até coerentes e permitem que acompanhemos a evolução da nação israelita na face do Planeta. A história de Israel está, basicamente, contida no Velho Testamento. "(...) O antigo ou Velho Testamento abrange três conjuntos, discrimináveis pelo conteúdo e nem sempre uniformemente distribuídos. Aqui aceitaremos para esses três conjuntos os títulos sugeridos por Antônio Luís Sayão. (Elucidações Evangélicas) : a) Lei – livros históricos de legislação mosaica; b) Profetas – livros de inspiração mediúnica, intercaladas de passagens históricas; c) Escrituras Sagradas – livros hagiógrafos (de coisas santas), de poesia e de sapiência. a) – Lei abrange cinco livros iniciais, englobados em tradução grega sob o nome de Pentateuco: • Gênesis • Ëxodo • Levítico • Números • Deuteronômio Gênesis abrange a história simbólica das origens da Humanidade, posto em destaque o povo hebreu até sua entrada no Egito; Êxodo, as agruras desse povo, sua saída do Egito e aliança com o Senhor, através dos Dez Mandamentos, recebidos por Moisés no Monte Horeb, na cadeia do Sinai; Levítico, leis civis e religiosas, núcleo da legislação moisaica, destinada ao povo e especialmente a sacerdotes, isto é, levitas (descendentes de Levi, a serviço divino) ; Números, outras leis e prescrições, principalmente recenseamento do povo hebreu e enumeração das famílias; Deuteronômio, recapitulação de preceitos e episódios, inclusive morte de Moisés. (...) b) – Profetas corresponde predominantemente a livros de predições, espécie de história condicional do futuro. Classificam-se os profetas hebreus, com respeito à cronologia, em antigos e modernos; os chamados modernos subdividem-se em maiores e menores. (...)” (09). Os livros antigos são: Josué, Juízes, Rute e Reis. Os livros dos profetas modernos, 9 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” maiores, são: Isaias, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os menores: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. c) “(...) Escrituras Sagradas corresponde a livros hagiógrafos (de coisas santas), poéticos e de sapiência (...)”, são eles; Paralipômenos (livro das coisas deixadas de lado), Esdras (ou de Neemias), Ester, Job, Salmos (Cento e cinquenta poemas líricos). Provérbios (sentenças morais), Eclesiastes (poema didático sobre a inanidade (frivolidade das coisas humanas), Cântico dos Cânticos (história poética de uma fidelidade amorosa). Segundo tradição da Bíblia (no Velho Testamento) a Humanidade originou-se em Adão e Eva que tiveram, inicialmente, dois filhos Caim e Abel e, mais tarde, Seth. Cam matou Abel, afastou-se do convívio dos pais e, apesar da sua origem divina, ligou-se aos habitantes primitivos da Terra, casou-se e teve filhos. Mais tarde Seth, seu irmão veia fazer a mesma coisa; ou seja, Espíritos de origem divina associaram-se aos habitantes dos vales, ou filhos da Terra. Desse e de outros cruzamentos, veio a surgir, propriamente dito, o povo judeu, de acordo com a seguinte genealogia: Adão, Caim e Seth, Enoch (filho de Caim), Methusala, Noé, Sem e, da linhagem de Sem, nasceu Abrahão (ou Pai Abrahão) ; Abrahão gerou Isaac com Sarah, sua esposa, e Ismael com Hagar, sua escrava. Os dois filhos de Abraão dão origem a dois povos: de Isaac forma-se a nação judia; de Ismael, a nação árabe. Isaac casa-se com Rebeca (da família de Nahor, na Mesopotâmia), Deste casamento, nascem os gêmeos Jacob e Esaú. Jacob após vinte anos com Labão casa com Raquel e tem muitos filhos, entre eles José, que mais tarde foi para o Egito e tornou-se figura importante junto ao faraó. (Ver o livro Gênesis do Velho Testamento). Foi com José que, de fato, iniciou-se a "(...) emigração pacifica dos filhos de Israel para a terra do Nilo (...)” (06) durante aproximadamente quatrocentos anos. Ao final deste período, o rei do Egito é o Faraó Ramsés II, casado com uma princesa hitita.“(...) Pode-se avaliar o que era no Antigo Egito o trabalho escravo a que os filhos de Israel foram submetidos, também nas grandes construções das margens do Nilo, por um velho quadro dum túmulo de rocha a oeste da cidade de Tebas, descoberto por Percy A. Newberry (...). Nos muros duma espaçosa abóbada são representadas cenas da vida de um dignitário, o vizir Rekhmire (...). Uma cena mostra-o inspecionando obras públicas. Num detalhe do que representa a fabricação de tijolos chama a atenção a pele clara dos trabalhadores, coberta de uma simples tanga de linho. (...) Ele nos provê de pão, cerveja e todas as coisas boas, mas, malgrado o louvor pelos cuidados que lhes são ministrados, não resta dúvida que eles não estavam ali voluntariamente, mas eram forçados a trabalhar. O varapau está na minha mão, diz, num hieróglifo, um capataz egípcio.” Em Êxodo, encontramos a mesma referência ao trabalho escravo dos judeus no Egito. Os egípcios odiavam os filhos de Israel, e os afligiam com insultos; faziam-lhes passar uma vida amarga com penosos trabalhos de barro e tijolos.” “(...) O reinado de Ramsés II foi a época da opressão e da servidão de Israel, mas foi também a época em que surgiu o grande libertador desse povo – Moisés. (...)” O nome Moisés oferece diversas interpretações que merecem ser citadas aqui a título de informação. Em Êxodo, 02:10 é dito que “Esta lhe chamou Moisés, e disse: porque das águas o tirei (meshithi-hu). A maioria dos intérpretes identifica a palavra Esta com a filha de faraó, e isso tem levado muitos a suporem uma origem egípcia para o nome Mõsheh, em egípcio ms, criança ou nascido (...). Êxodo, 2:10 liga claramente o nome de Mõsheh com o fato de haver sido tirado da beira do rio (mãshã, retirar). Essa palavra simbólica poderia surgir naturalmente em lábios hebreus, mas não egípcios, fato esse que favorece o ponto de vista mencionado logo acima, de que foi a própria mãe de Moisés quem lhe deu o nome, e não a filha de faraó (...). " 10 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” O escritor Werner Keller afirma que “(...) Moisés era um hebreu nascido no Egito e criado por egípcios, com um nome tipicamente egípcio. Moisés é o nome Mãose, comum no país do Nilo. A palavra egípcia ms representa Mosu; a linguaguem escrita egípcia dispensava as vogais; significa simplesmente rapaz-filho. (...)” “(...) Moisés pertencia à tribo de Levi, ao clã de Coate, e à casa ou família de Aarão (Êx, 06:16 e segs.) (...).” A história de Moisés inicia-se quando ele assassina um egípcio por vê-la maltratar hebreus. Temendo a perseguição de faraó, foge para a terra de Madiã, ou seja, em direção do Oriente, a leste do Golfo de Akaba, para junto dos seus ancestrais. Nesta terra, chamada Terra dos forjadores de cobre, Moisés vivia vida tranquila, apascentado ovelhas, quando certo dia, passando pelo Monte Horeb teve uma visão, a se manifestar através de uma chama de fogo que saía do meio de uma sarça. Por meio desta visão, Moisés compreendeu que o povo judeu sofria no Egito, mesmo após a morte do faraó, e que deveria libertá-la do cativeiro. Moisés liberta seu povo às custas de enormes sacrifícios e amparado pelos prodigiosos dons mediúnicos que possuía. Conforme nos informa Césare Cantu, “(...) Deus multiplicou os prodígios para favorecer o povo escolhido e para confundir o faraó, que, apesar das suas reiteradas promessas, não consentia na partida dos israelitas e até os tinha dispersado pelo pais. Finalmente, Moisés, tendo convocado os anciãos de Israel, recordou-lhes o Deus único, no qual formavam uma só nação: O Deus, que prometia livrá-los pelo seu braço poderoso e fazer deles o seu povo; exortou-os então a sair com ele do Egito (...).” “Pelo deserto, “(...) Moisés conduzia seiscentos mil homens, em estado de pegar em armas, o que dava quase dois milhões de indivíduos e dirigia-os para a Palestina, pais perfeitamente escolhido, porque não poderiam resistir aos povos do Eufrates, nem ao poder dos fenícios. (...). O caminho que havia a percorrer podia ser de trezentas milhas: porém Moisés quis demorar o seu povo no deserto o tempo necessário, para que se despojasse completamente das idéias profanas, contraídas pela sua longa residência em país estrangeiro e nos hábitos aviltantes do cativeiro; a fim de que, tomando novamente a tradição nacional de Abraão e da sua aliança com Jeová (Deus) aprendesse a pôr toda a sua confiança no seu Deus, que se manifestava por continuados prodígios e se acostumasse à lei nova. (...) Moisés teve de lutar contra a obstinação de um povo agreste e inculto, que, enquanto o seu profeta lhe preparava em dez linhas as regras da vida, sacrificava ao boi Ápis e respondia aos benefícios com murmúrios. O patriarca morre antes de o introduzir na Terra Prometida, na idade de cento e vinte anos e nunca mais se levantou em Israel um profeta igual a ele (...).” “Moisés foi, com efeito, o maior homem que a história conhece. Foi conjuntamente poeta e profeta insigne, o primeiro dos historiadores, legislador, profundo político e libertador. As suas próprias leis supõem uma ciência de tal sorte antecipada, que pareceria um milagre. Sem ambição, não procurou o poder para si, nem para o seu irmão; porem quis, do estado de hordas vagabundas, elevar o seu povo ao grau de nação estável, constituindo-a nas três grandes unidades de Jeová, de Israel e do Tora, isto é, um Deus, um povo e uma lei. (...)” Cabe aos judeus o privilégio de transmitir ao Ocidente a idéia de Deus único, isto porque, “(...) todas as nações civilizadas tiveram a crença em um Deus Supremo, mestre dos deuses subalternos e dos homens. Os egípcios reconheciam um princípio primordial que eles denominavam knef, ao qual tudo o mais era subordinado. Os antigos persas adoravam o bom princípio chamado Oromase (.„). Os antigos brâmanes reconheciam um só Ser Supremo; os chineses não associavam um só subalterno à divindade (...). Os gregos e romanos, malgrado a multidão de seus deuses, reconheciam em Júpiter o soberano absoluto do Céu e da Terra. (...)” 11 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” No entanto, a idéia de um Deus único é mais completa e bem definida no povo judeu. Vejamos o que Emmanuel tem a dizer: “(...) Enquanto os cultos religiosos se perdiam na divisão e na multiplicidade, somente o judaísmo foi bastante forte na energia e na unidade para cultivar o monoteísmo e estabelecer as bases da lei universalista, sob a luz da inspiração divina. Por esse motivo, não obstante os compromissos e os débitos penosos que parecem perpetuar os seus sofrimentos, (...) o povo de Israel deve merecer o respeito e o amor de todas as comunidades da Terra, porque somente ele foi bastante grande e unido para guardar a idéia verdadeira de Deus, através dos martírios da escravidão e do deserto.” 1.4 Moisés: Legislador e missionário Moisés 2. Na lei moisaica, há duas partes distintas: a lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. A lei de Deus está formulada nos dez mandamentos seguintes: I. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão. Não tereis, diante de mim, outros deuses estrangeiros. - Não fareis imagem esculpida, nem figura alguma do que está em cima do céu, nem embaixo na Terra, nem do que quer que esteja nas águas sob a terra. Não os adorareis e não lhes prestareis culto soberano1. II. Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus. III. Lembrai-vos de santificar o dia do sábado. IV. Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará. V. Não mateis. VI. Não cometais adultério. VII. Não roubeis. VIII. Não presteis testemunho falso contra o vosso próximo. IX. Não desejeis a mulher do vosso próximo. X. Não cobiceis a casa do vosso próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu asno, nem qualquer das coisas que lhe pertençam. É de todos os tempos e de todos os países essa lei e tem, por isso mesmo, caráter divino. Todas as outras são leis que Moisés decretou, obrigado que se via a conter, pelo temor, um povo de seu natural turbulento e indisciplinado, no qual tinha ele de combater arraigados abusos e preconceitos, adquiridos durante a escravidão do Egito. Para imprimir autoridade às suas leis, houve de lhes atribuir origem divina, conforme o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos. A autoridade do homem precisava apoiar-se na autoridade 1 Allan Kardec cita a parte mais importante do primeiro mandamento, e deixa de transcrever as seguintes frases: “... porque eu, o Senhor vosso Deus, sou Deus zeloso, que puno a iniquidade dos pais nos filhos, na terceira e na quarta gerações daqueles que me aborrecem, e uso de misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos." - (ÊXODO, XX, 5 e 6.) Nas traduções feitas pelas Igrejas católica e protestantes, essa parte do mandamento foi truncada para harmonizá-la com a doutrina da encarnação única da alma. Onde está "na terceira e na quarta gerações", conforme a tradução Brasileira da Bíblia, a Vulgata Latina (in tertiam et quartam generationem), a tradução de Zamenhof (en la tria kaj kvara generacioj), mudaram o texto para "até à terceira e quarta gerações". Esses textos truncados que aparecem na tradução da Igreja Anglicana, na Católica de Figueiredo, na Protestante de Almeida e outras, tornam monstruosa a justiça divina, pois que filhos, netos, bisnetos, tetranetos inocentes teriam de ser castigados pelo pecado dos pais, avós, bisavós, tetravós. Foi uma infeliz tentativa de acomodação da Lei à vida única. - A Editora da FEB, 1947. 12 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” de Deus; mas, só a idéia de um Deus terrível podia impressionar criaturas ignorantes, em as quais ainda pouco desenvolvidos se encontravam o senso moral e o sentimento de uma justiça reta. E evidente que aquele que incluíra, entre os seus mandamentos, este: “Não matareis; não causareis dano ao vosso próximo", não poderia contradizer-se, fazendo da exterminação um dever. As leis moisaicas, propriamente ditas, revestiam, pois, um caráter essencialmente transitório. INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS A nova era 9. Deus é único e Moisés é o Espírito que Ele enviou em missão para torná-lo conhecido não só dos hebreus, como também dos povos pagãos. O povo hebreu foi o instrumento de que se serviu Deus para se revelar por Moisés e pelos profetas, e as vicissitudes por que passou esse povo destinavam-se a chamar a atenção geral e a fazer cair o véu que ocultava aos homens a divindade. Os mandamentos de Deus, dados por intermédio de Moisés, contêm o gérmen da mais ampla moral cristã. Os comentários da Bíblia, porém, restringiam-lhe o sentido, porque, praticada em toda a sua pureza, não na teriam então compreendido. Mas, nem por isso os dez mandamentos de Deus deixavam de ser um como frontispício brilhante, qual farol destinado a clarear a estrada que a Humanidade tinha de percorrer. A moral que Moisés ensinou era apropriada ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos que ela se propunha regenerar, e esses povos, semi-selvagens quanto ao aperfeiçoamento da alma, não teriam compreendido que se pudesse adorar a Deus de outro modo que não por meio de holocaustos, nem que se devesse perdoar a um inimigo. Notável do ponto de vista da matéria e mesmo do das artes e das ciências, a inteligência deles muito atrasada se achava em moralidade e não se houvera convertido sob o império de uma religião inteiramente espiritual. Era-lhes necessária uma representação semimaterial, qual a que apresentava então a religião hebraica. Os holocaustos lhes falavam aos sentidos, do mesmo passo que a idéia de Deus lhes falava ao espírito. O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélicocristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam. E a lei do progresso, a que a Natureza está submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca de que Deus se utiliza para fazer que a Humanidade avance. São chegados os tempos em que se hão de desenvolver as idéias, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir a mesma rota que percorreram as idéias de liberdade, suas precursoras. Não se acredite, porém, que esse desenvolvimento se efetue sem lutas. Não; aquelas idéias precisam, para atingirem a maturidade, de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção das massas. Uma vez isso conseguido, a beleza e a santidade da moral tocarão os espíritos, que então abraçarão uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e descerra as portas da felicidade eterna. Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá. - Um Espírito israelita. (Mulhouse, 1861.) 13 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 1.5 O advento de Jesus O povo judeu aguardava ansiosamente um Messias que o libertasse do jugo de Roma. "A verdade, porém, é que Jesus, chegando ao mundo, não foi absolutamente entendido pelo povo judeu. Os sacerdotes não esperavam que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para surgir na paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria chegar no carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à Terra pela legião dos seus Tronos e Anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo, conferindo a Israel o cetro supremo na direção de todos os povos do planeta; deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glória dos Césares.” Mas Jesus chega humilde entre os animais de uma manjedoura, vem filho de carpinteiro e, durante sua missão, busca os fracos, os oprimidos, os sofredores de toda sorte.“(...) O judaísmo, saturado de orgulho, não conseguiu compreender a ação do celeste emissário. ” Houve, porém, muitos que o reconheceram como o Messias anunciado pelos profetas da Antiguidade, pelos judeus. Entre eles destacam-se aqueles que se tornariam, mais tarde, seus discípulos, apóstolos e seguidores. O próprio Jesus, em diversas ocasiões, afirma ser ele o enviado de Deus. Vamos analisar algumas passagens bíblicas que tratam do assunto. “Quem quer me receba, recebe aquele que me enviou”. (Lucas, 9:48) "(...) Aquele que me despreza, despreza aquele que me enviou”. (Lucas, 10:16). “(...) Aquele que me recebe não me recebe a mim, mas recebe aquele que me enviou.” (Marcos, 9:37). “Jesus então lhes disse: Ainda estou convosco por um pouco de tempo e vou em seguida para aquele que me enviou”. (João, 7:33). Está bem caracterizado, nestas citações, que Jesus foi o mensageiro de Deus. Ele falava em nome do Pai. “(...) estas palavras, que Jesus tantas vezes repetiu: Aquele que me enviou, não só comprovam uma dualidade de pessoas, mas também, (...), excluem a igualdade absoluta entre elas, porquanto aquele que é enviado necessariamente está subordinado ao que envia. (...)” Esta explicação tem razão de ser por que há quem pense ser Jesus e Deus uma só pessoa. Em João, 14:28, Jesus não só esclarece a sua qualidade de mensageiro de Deus como também “(...) consagra o princípio da diferença hierárquica que existe entre o Pai e o Filho. (...) Se há uma diferença hierárquica entre o pai e o filho, Jesus, como filho de Deus, não pode ser igual a Deus. Ele confirma esta interpretação e reconhece a sua inferioridade com relação a Deus, em termos que não deixam lugar a dúvidas.” A citação de João é a seguinte: "Ouvistes o que foi dito: Eu me vou e volto a vós. Se me amásseis, rejubilaríeis, pois que vou para meu Pai, porque meu Pai é MAIOR DO QUE EU.” – (S. João, 14:28) Em outra oportunidade Jesus chega a afirmar que até a doutrina que ensinava não é dele mas que ela veio de Deus: – “Não tenho falado por mim mesmo, meu pai que me enviou, foi quem me prescreveu, por mandamento seu, o que devo dizer e como devo falar,– e sei que o seu mandamento é a vida eterna; o que, pois, eu digo é segundo o que meu Pai me ordenou que o diga.” – (João, 12:49 e 50). É preciso entender nestas palavras de Jesus uma profunda identidade com as verdades divinas. Ele é o grande Messias enviado pelo Pai ao planeta Terra, em missão de amor e renúncia, e, através da sua humildade revelou-nos a grandeza e elevação do seu Espírito. Os apóstolos acreditavam piamente ser Jesus o Messias aguardado. É o que interpretamos nas seguintes citações constantes de "Atos dos Apóstolos”: “(...) Que, pois, toda a Casa de Israel saiba, com absoluta certeza, que Deus fez Senhor e Cristo a esse Jesus que vós crucificastes”. (Atas dos Apóstolos, 2:36. Prédica de Pedro). 14 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “Moisés disse a nossos pais: O Senhor vosso Deus vos suscitará dentre os vossos irmãos um profeta como eu. Escutai-o em tudo o que ele disser. – Quem não escutar esse profeta será exterminado do meio do povo. Foi por vós primeiramente que Deus suscitou seu Filho e vo-lo enviou para vos abençoar (...)” (Atos dos Apóstolos, 3:22, 23 e 26. Prédica de Pedro). “Os reis da Terra se levantaram e os príncipes se uniram contra o Senhor e contra o seu Cristo – Herodes e Pôncio Pilatos com os gentios e o povo de Israel verdadeiramente se conluiaram contra o vosso santo Filho Jesus (...)”. (Atas dos Apóstolos, 4:26 a 28. Prece dos Apóstolos). “(...) Foi a ele que Deus elevou pela sua destra, como sendo o príncipe e o salvador, para dar a Israel a graça da penitencia e remissão dos pecados. (Atos dos Apóstolos, 5:31 Respostas dos Apóstolos ao sumo-sacerdote). "Mas estando Estevão cheio de Espírito Santo e elevando os olhos ao céu, viu a glória de Deus e a Jesus que estava de pé à direita de Deus (...)” (Atos dos Apóstolos, 7:55 Martírio de Estevão). É de se imaginar que a vinda do Cristo entre nós envolveu intenso trabalho por parte de todos aqueles Espíritos convocados a participar da sua gloriosa missão. Cada um desses Espíritos recebeu uma tarefa específica, de devotamento e amor, a fim de facilitar a vinda do diretor espiritual da Terra aos planos inferiores. Inicialmente Jesus envia “(...) às sociedades do globo o esforço de auxiliares valorosos, nas figuras de Ésquilo, Eurípides, Heródoto e Tucidides, e por fim a extraordinária personalidade de Sócrates (...)", entre os gregos.“(...) na China encontramos Fo-Hi, Lao Tsé, Confúcio; nas crenças do Tibete, está a personalidade de Buda e no Pentateuco encontramos Moisés; no Alcorão vemos Maomet. Cada raça recebeu os seus instrutores.” “(...) A família romana, cujo esplendor espiritual conseguiu atravessar todas as eras, (...) parecia atormentada pelos mais tenazes inimigos ocultos, que, aos poucos, lhe minaram as bases mais sólidas, mergulhando-a na corrupção e no extermínio de si mesma. (...) Os Gracos, filhos da veneranda Cornélia, são quase que os derradeiros traços de uma época caracterizada peia administração enérgica, mas equânime, cheia de honestidade, de sabedoria e de justiça.” A vinda do Cristo estava próxima e Roma, sede do mundo, parecia não se dar conta disso. Para tanto foi necessário que a república morresse e permitisse o nascimento do – Império Romano, com novas diretrizes. "(...) A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto (Júlio César Otaviano Augusto, ou simplesmente Otávio, primeiro imperador romano decorreu em grande tranqüilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do planeta. (...)” É então que se movimentam as entidades angélicas do sistema, nas proximidades da Terra, adotando providências de vasta e generosa importância. A lição do Salvador deveria, agora, resplandecer para os homens, controlando-lhes a liberdade com a exemplificação perfeita do amor. Todas as providências são levadas a efeito. Escolhem-se os instrutores, os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta, e, quando reinava Augusto, na sede do governo do mundo, viu-se uma noite cheia de luzes e de estrelas maravilhosas. Harmonias divinas cantavam um hino de sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e, enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se esqueceria o Natal, a “noite silenciosa, noite santa". 15 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 1.6 EQUIPE ESPIRITUAL DA MISSÃO DE JESUS “Os historiadores do Império Romano sempre observaram com espanto os profundos contrastes na gloriosa época de Augusto. Caio Júlio César Otávio chegara ao poder por uma série de acontecimentos felizes. Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas.” "(...) A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande numero de inteligências. É nessa época que surgem Vergílio, Horácio, Ovídio, Salústio, Tito Livio e Mecenas (...). É que os historiadores ainda não perceberam, na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da Terra, numa vibração profunda de amor e de beleza. Acercavam-se de Roma e do mundo não mais Espíritos belicosos, como Alexandre ou Aníbal, porém outros que se vestiriam dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos. (...)” Entre esses Espíritos, destaca-se a figura de Maria de Nazaré. Atendendo a solicitação de Jesus, durante a crucificação, Maria foi morar em companhia de João, “(...) ao sul de Éfeso, distando três léguas aproximadamente da cidade. A habitação simples e pobre demorava num promontório, de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os Espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciaram uma nova era de amor, na comunidade universal.” "A casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembléias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultuadas por Espíritos humildes e sinceros. Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso. Ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas úlceras e necessidades. Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de Casa da Santíssima. O fato tivera origem em certa ocasião, quando um miserável leproso, depois de aliviado em suas chagas, lhe osculou as mãos, reconhecidamente murmurando: "– Senhora, sois a mãe de nosso Mestre e a nossa Mãe Santíssima.” (...) E João consolidava o conceito, acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato, pois fora pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura." A elevação espiritual de Maria é vista, também, ao longo da permanência de Jesus entre nós, através de manifestações de humildade, dedicação e amor. Vale destacar, ainda, o valor espiritual de Maria quando da anunciação da vinda de Jesus, feita pelo anjo Gabriel: “(...) o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, disse-lhe: Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (...). O anjo (...) acrescentou:"Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis 16 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” que conceberás e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim. “Maria, porém, disse ao anjo: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” O anjo respondeu: O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. (...) Disse, então, Maria: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se. (...)” Sempre com esta submissão aos desígnios de,Deus, Maria mostrou-se humilde até os seus derradeiros momentos na Terra, quando, ainda naquela pequenina casa em Éfeso, Jesus aparece-lhe e a leva para as regiões elevadas da espiritualidade, dizendo-lhe: “(...) – Sim, minha mãe, sou eu!... Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos... (...)” Ao lado de Maria, esteve um Espírito sobre o qual temos poucas informações: é José. “(...) Muito pouco se diz de José. Foi com Maria a Belém e estava com ela quando Jesus nasceu, Lc 2:4,16. Com ela estava quando Jesus foi apresentado no Templo, Lc 2:33. Guiouos na fuga para o Egito e na volta para Nazaré, Mt 2:13, 19 a 23. Levou Jesus a Jerusalém quando Este tinha 12 anos, Lc 2:43,51 (...)”. Tudo indica que José não presenciou a crucificação de Jesus porque já houvera partido para o mundo espiritual. "(...) Maria (...) tinha que figurar como mãe, e José como pai de Jesus. (...)” “MÉDIUNS PREPARADORES – Para recepcionar o influxo mental de Jesus, o Evangelho nos dá noticias de uma pequena congregação de médiuns, à feição de transformadores elétricos conjugados, para acolher-lhe a força e armazena-la, de principio, antes que se lhe pudessem canalizar os recursos”. E longe de anotarmos ai a presença de qualquer instrumento psíquico menos seguro do ponto de vista moral, encontramos importante núcleo de medianeiros, desassombrados na confiança e corretos na diretriz. Informamo-nos, assim, nos apontamentos da Boa Nova, de que Zacarias e Isabel, os pais de João Batista, precursor do Médium Divino, “eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão, em todos os mandamentos e preceitos do Senhor, que Maria, a jovem simples de Nazaré, -que acolheria o Embaixador Celeste nos braços maternais, se achava "em posição de louvor diante do Eterno Pai”, que José da Galiléia, o varão que o tornaria sob paternal tutela, “era justo”, que Simeão, o amigo abnegado que o aguardou em prece, durante longo tempo, “era justo e obediente a Deus”, e que Ana, a viúva que o esperou em oração, no templo de Jerusalém, por vários lustros, vivia “servindo a Deus”. Nesse grupo de médiuns admiráveis, não apenas pelas percepções avançadas que os situavam em contacto com os Emissários Celestes, mas também pela conduta irrepreensível de que forneciam testemunho, surpreendemos o circuito de forças a que se ajustou a onda mental do Cristo, para dai expandir-se na renovação do mundo.” Uma outra referência a José, e que dá para compreender o seu valor espiritual, está em Mateus, 1:18 a 25. Nessa passagem um Anjo aparece em sonho a José, dissuadindo-o de abandonar Maria por estar ela grávida; explicando como e quem Maria gerou. Ao acordar, José aceita as exortações do Anjo e ampara Maria durante o tempo em que a acompanhou na Terra. É preciso que destaquemos também a figura espiritual de João Batista, filho de Isabel e Zacarias, também chamado O Precursor, porque foi ele quem preparou os passos de Jesus. A predição do nascimento de João Batista pode ser lida em Lucas, 1:5 a 25. É uma passagem evangélica de muita beleza. 17 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “(...) Quanto ao nascimento de João, como era preciso que este impressionasse o espírito público desde o seu aparecimento na Terra, deu-se em circunstâncias particularíssimas, quais a de já serem velhos os seus genitores e a da mudez temporária de seu pai. Importa, porém, se atenda a que, se bem já Isabel estivesse avançada em anos, sua idade não era tal que a impossibilitasse de conceber, de conformidade com as leis naturais (...).” “(...) João fora Elias, o grande profeta de que fala o livro Reis (3o vol. XVll), e como tal era tido pelos judeus. Precisamente porque o povo via em João a reaparição de Elias (08) Após o nascimento de João, “(...) Transcorridos alguns anos, vamos encontrar o Batista na sua gloriosa tarefa de preparação do caminho à verdade, precedente o trabalho divino do amor, que o mundo conheceria em Jesus-Cristo. João, de fato, partiu primeiro, a fim de executar as operações iniciais para grandiosa conquista. Vestindo de peles e alimentando-se de mel selvagem, esclarecendo com energia e deixando-se degolar em testemunho à Verdade, ele precedeu a lição da misericórdia e da bondade. Ele sentia, não há como duvidar, “ a voz que clama no deserto”, e preparava “ os caminhos do Senhor”. Fora assim mesmo que respondera aos judeus enviados pelos sacerdotes e levitas de Jerusalém, ao lhe indagarem se ele era o Cristo ou o Elias esperado. A personalidade de João Batista, classificado por Jesus como “o maior dos nascidos de mulher”, destaca-se solenemente pela sua austeridade no modo de anunciar o Grande Enviado, chegando a atrair multidões a si, que, convictas da sua superioridade moral e espiritual, e convertida para a vida superior, entravam no Jordão limpando-se das máculas gafeiras do homem velho e de lá saíam limpos de corpo para simbolizar a limpeza da alma a que aspiram, por uma vida de progresso e perfeição. Outros Espíritos fizeram parte da missão de Jesus e não nos será possível falar de todos, mas, a partir deste roteiro, tentaremos destacar o trabalho e missão de alguns. 1.7 A MISSÃO DE JESUS Jesus veio ao mundo para "(...) como profetizou Isaias, fazer raiar a Luz aos que se achavam na região da morte: dar crença aos que não a tinham, guiar os que se haviam perdido e se achavam desviados da Estrada da Vida (...) finalmente, apresentar-se a todos como o Modelo, o Paradigma, o Enviado de Deus, o único Mestre capaz de legar um ensino puro e perfeito, o verdadeiro representante da Verdade que redime e salva. Daí a sua sentença: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao Pai senão por mim.” (João, 14:06) (...)”. “(...) Descendo de Esfera Superior, em tal missão, Jesus surgiu à face da Terra, não entre sedas e alabastros2, mas em humílima e tosca estrebaria. Mal descerrara os olhos na penumbra deste mundo, foi constrangido a fugir, para resguardar-se da fúria sanguinolenta de Herodes. Apresentando-se como o Messias anunciado pelos profetas da Antiguidade (...) foi recebido com desconfiança, até por João Batista, o precursor, que (...) enviou dois emissários para saberem se era ele, realmente, o esperado Filho de Deus. Iniciando a pregação do Reino do Céu, não conseguiu o entendimento imediato nem mesmo de seus discípulos (...). 2 Alabastro - Pedra, branca ou clara, translúcida, macia, parecida com mármore, e empregada nos trabalhos de escultura. Antig gr e rom Pequeno vaso alongado para óleos, ungüentos e perfumes, de fundo arredondado e gargalo estreito com borda larga, originariamente feito de alabastro. 18 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” E foi assim que exerceu o seu ministério – entre incompreensão e desprezo, amargura e solidão (...)”. “(...) Antes de avançarmos outras considerações, reputamos de magna importância ressaltar aqui a extrema simplicidade, a completa humildade, a pobreza, o desatavio e a singeleza com que Jesus marcou (...) a sua presença e o seu messianato neste mundo. Ele não teve sequer onde reclinar a cabeça. Nada possuiu de material, nenhuma propriedade, nenhum dinheiro, nenhum bem. Cercou-se da gente mais inculta de um povo social e politicamente subjugado. Reuniu em torno de si amigos rudes e iletrados da região mais pobre do Império Romano. Falou sempre na linguagem mais simples que alguém jamais usou e, sem nada ter escrito com as suas próprias mãos, tudo deixou registrado no coração e na memória dos que lhe ouviram a palavra e testemunharam o exemplo. Peregrino paupérrimo, sem bolsa nem cajado (...) jamais ocupou qualquer cátedra (...), não possuiu qualquer diploma de escolaridade, foi coroado apenas com espinhos, publicamente açoitado (...) e finalmente pregado numa cruz infamante (...). Foi assim se apresentando e assim agindo que dividiu as eras terrestres em antes e depois d’Ele, como ninguém jamais o fez, permanecendo para sempre como a maior presença, o mais alto marco, a mais elevada e imorredoura expressão de toda a História Humana, em todas as épocas do mundo. (...)” (07) Há de se considerar que apesar da resistência dos judeus em reconhecer Jesus como o Cristo de Deus, o povo admirava a sua doutrina porque “(...) ele ensinava como quem tinha autoridade, e não como os escribas e fariseus”. (Mateus, 7:28 e 29) Estas palavras do Evangelho mostram que o ensino do Cristo havia impressionado fortemente os judeus que o foram ouvir na encosta da montanha, nas proximidades do lago de Genesaré. Isso porque os escribas e os rabinos do Moisaísmo (...) eram muito minudentes 3 na explanação dos formalismos cerimoniais e das observâncias exteriores do culto, mas nunca lhes expuseram verdades assim profundas, nem lhes sensibilizaram os corações com tão expressivos apelos à retidão de caráter, à brandura, à caridade, à misericórdia, ao perdão, à tolerância, ao desapego dos bens terrenos (...).” A respeito da missão de Jesus, “(...) assim se exprime o padre Vieira: “A Sabedoria divina descendo do céu à Terra a ser Mestre dos homens, a nova cadeira que instituiu nesta grande universidade do mundo e a ciência que professou foi só ensinar a ser santos, e nenhuma outra (...); e para si tomou só a ciência de ensinar o homem a ser bom e justo, honesto e amorável. (...)” “Jesus, como sábio educador, costumava recorrer frequentemente às parábolas a fim de melhor interessar e impressionar os seus ouvintes. (...)” (12) Isto foi um recurso que usou para que os seus ensinamentos atingissem diretamente as mentes e corações dos homens, além de permitir que os séculos não os tornassem esquecidos. “(...) Quantas verdades transcendentes e desconhecidas nos foram reveladas por Jesus e registradas no seu Evangelho Divino! (...) Jesus nos revelou a amorosa paternidade do Deus Eterno e Único, conscientizou-nos de sua onipotente bondade, de sua misericórdia e infalível justiça, de sua presença onímoda e perene, ensinando-nos a elevar até Ele a força do nosso pensamento e a confiar com filial devoção na sua infatigável Providência! (...)” E "(...) só o vero4 Cristianismo nos oferece a expressão da Justiça indefectível, proclamando com o Evangelho: A cada um será dado segundo suas obras. (...)” “(...) O Cristianismo é a doutrina da moralização dos hábitos e dos costumes. Encerra, em essência, a ética social sob os seus aspectos mais excelentes. Não é uma seita, nem um 3 Minudente - Em que há minudências; minucioso. Que se ocupa com minúcias. 2 Narrado com todos os pormenores; circunstanciado. 3 Feito com todo o escrúpulo e atenção. 4 Vero – verdadeiro. 19 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” partido. É o código de moral que abrange o direito de todos, estabelecendo, ao mesmo tempo, a responsabilidade de cada indivíduo segundo as condições em que se encontra e influência que exerce no seio da coletividade. (...)” Para ser cristão, no verdadeiro sentido da palavra,“(...) Acima de todas as coisas (...) é preciso ser fiel a Deus (...)” não só nos momentos de tranqüilidade mas sobretudo "(...) nas horas tormentosas, em que tudo parece contrariar e perecer. (...)” "(...) O divino legado de Jesus, que a Humanidade Terrena ainda não quis aceitar e não pôde receber, é o de um mundo feliz, de paz e amor, sem injustiças, em opróbrios, sem miséria, sem orfandade, sem crimes e sem ódios, sem fratricídios e sem guerras (...).” No exercício da sua missão de amor, Jesus operou fenômenos, como as curas, considerados até hoje, em vários departamentos do conhecimento humano, como milagrosos. Na realidade, Jesus não operou nenhum milagre. Esses fatos “(...) considerados milagrosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma (...)”. “(...) O principio dos fenômenos psíquicos repousa nas propriedades do fluido perispiritual, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da Natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como conseqüência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural.” Jesus, Espírito perfeito, profundamente sábio, operava prodígios aos olhos dos terricolas ainda ignorantes, sem derrocar nenhuma lei da natureza. Manipulava os fluidos como lúcido conhecedor das suas propriedades e qualidades. Dai, não existir milagres nas curas que proporcionava. E há mais: Jesus “(...) Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal (...).” O poder prodigioso de Jesus permitia promover curas, substituindo "(...) a molécula malsã por uma molécula sã (...).” (01) Isto porque, a elevada pureza dos seus fluidos, a energia da sua potente vontade e o seu imenso amor pelas criaturas permitiam que cegos adquirissem a visão, que paralíticos andassem, que leprosos se vissem limpos da lepra, que mudos falassem, que obsidiados se libertassem dos obsessores e que mortos aparentes retomassem à vida. O livro A Gênese, de Allan Kardec, traz no capítulo 15 uma série de relatos extraído do Evangelho, sobre curas realizadas por Jesus. Recomendamos sua leitura, valiosamente enriquecida pelos comentários do Codificador. Fontes de consulta: 1. Allan Kardec. A Gênese. FEB, 1995. Curas, item 31, pág 295; Os milagres do Evangelho, itens 01 e 02, pág 309- 311. 2. Rodolfo Calligaris. Páginas de Espiritismo Cristão. O Sublime idealista.. FEB, 1983, pág 172-173 3. Rodolfo Calligaris. O Semão da Montanha. Ele ensinava como quem tinha autoridade. FEB 1974, pág 209-210. 4. Hernani Sant´Anna. Universo e Vida. O Divino legado. Pelo espírito de Áureo. FEB, 1980. pág 118-124. 5. Cairbar Schutel. O Espírito do Cristianismo. Exclusivos intuitos de Jesus e seu pensamento íntimo. O Clarim. Pág 17. 6. Vinicius. Em torno do Mestre. FEB, 1979. A grande lição. pág 128; Jesus e suas parábolas, pág 229; Cristianismo e justiça, pág 235; Cristianização do mundo, pág 304. 20 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 7. 8. Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. Pelo Espírito de Humberto de Campos.. FEB, 1979. Fidelidade a Deus, pág 48. Francisco Cândido Xavier. A Caminho da Luz. Pelo Espírito de Emmanuel. A vinda de Jesus. FEB, 1995, pág 108; 1.8 A MISSÃO DOS APÓSTOLOS “(...) Congregou Jesus em torno de si doze discípulos diretos: 1 – André, irmão de Pedro. 2 – Bartolomeu (Natanael). 3 – Filipe. 4 - João (Boanerges) Evangelista, irmão de Tiago maior. 5 - Judas Iscariote 6 – Mateus (Levi), irmão de Tiago Menor. 7 – Pedro (Simão, Cefas). 8 – Simão Cananeu, o Zelador ou o Zeloso. 9 - Tadeu (Judas Tadeu). 10 - Tiago (Boanerges) ou Tiago maior, filho de Zebedeu 11 - Tiago menor, filho de Alfeu. 12 - Tomé (Didimo). Incumbidos de predicar o Evangelho ou Boa Nova, cada qual se imortalizou como enviado ou apóstolo (...).” (13) Esses Espíritos, chamados por Jesus para compor seu colégio apostolar “(...) seriam os intérpretes de suas ações e de seus ensinos. Eram eles os homens mais humildes e simples do lago de Genesaré. Pedro, André e Filipe eram filhos de Betsaida, de onde vinham igualmente Tiago e João, descendentes de Zebedeu. Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cleofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados os irmãos do Senhor, à vista de suas profundas afinidades afetivas. Tomé descendia de um antigo pescador de Dalmanuta e Bartolomeu nascera de uma família laboriosa de Caná da Galiléia. Simão, mais tarde denominado O Zelote, deixara a sua terra de Canãa para dedicar-se à pescaria, e somente um deles, Judas, destoava um pouco desse concerto, pois nascera em Iscariotes e se consagrara ao pequeno comércio em Cafarnaum, onde vendia peixes e quinquilharias. O reduzido grupo de companheiros do Messias experimentou a princípio certas dificuldades para harmonizar-se. Pequeninas contendas geravam a separatividade entre eles. Levi continuava nos seus trabalhos da coletoria local, enquanto Judas prosseguia nos seus pequenos negócios, embora se reunissem diariamente aos demais companheiros. Os dez outros viviam quase que constantemente com Jesus, junto às águas transparentes do Tiberiades (...).” A seguir, citaremos alguns dados biográficos dos doze apóstolos e também de Paulo de Tarso, procurando caracterizar a missão deles: André, assim mencionado em Mateus, 04:18; 10:02; Marcos, 03:18; Lucas, 06:14; João, 01:40; Atos dos Apóstolos, 01:13. (...)” “(...) A sua atitude, durante toda a vida de Jesus, foi de ouvir o Mestre, observar seus atas, estudar os seus preceitos, seguindo-O sempre por toda a parte. 21 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” A não ser certa vez que saiu com mais outro companheiro a pregar a Boa Nova ao mundo, segundo ordem que o Mestre deu aos doze, nenhuma outra ação aparece de André, enquanto Jesus se achava na Terra. (...). Há uma tradição que André, após a difusão do Espírito (Pentecostes), pregou em Patras, cidade da Grécia e em Achaia. (...)” Bartolomeu, assim mencionado em Mateus, 10:03; Marcos, 3:18; Lucas, 6:14; Atos dos Apóstolos, 1:13. (...) Não se comprova nitidamente que o apóstolo se chamasse Natanael Bartolomeu. O nome de Natanael aparece em João sem indicações (1:45 a 51) e como “discípulo”, originário de "Caná da Galiléia (...)”. “(...) De Bartolomeu (...) a notícia biográfica é resumida. Dizem ter ele nascido em Caná, na Galiléia, e haver depois pregado o Evangelho na Arábia, na Pérsia, na Etiópia e depois na Índia, onde regressou para a Liacônia, passando depois a outros países. Seja como for, é interessante saber que estes, como os demais Apóstolos, limitavam a sua missão a pregar o Evangelho e às curas e recepção de instruções espirituais para o bom andamento da sua tarefa. Nem cultos, nem ritos, nem exterioridades eram adotados pelo Cristianismo nascente.” Filipe, assim mencionado em Mateus, 10:03; Marcos, 3:18; Lucas, 6:14; João, 1:40; Atos, 1:13 (...)”. Após a crucificação de Jesus, Filipe “(...) ficou em Jerusalém até a dispersão dos Apóstolos, indo, segundo a tradição, pregar o Evangelho na Frígia, recanto da Ásia Menor, ao sul da Bitinia. Foi Filipe que apresentou Jesus a Natanael, um homem ilustre e de caráter lapidado que residia na Galiléia (...). Natanael, após esse encontro com o Mestre, O seguia, tornando-se um dos seus discípulos. Filipe morreu já muito velho, dizem que em Hierápolis. (...)” João, assim mencionado em Mateus, 4:21, 10:03; Marcos, 3:17; Lucas, 6:14; Atos, 1:13. A si próprio se define como discípulo "ao qual amava Jesus” (João, 13:23; 20:2, 26; 21:7, 20), perífrase admissível, se generalizada (...). (...) Indicou-o Jesus para cuidar de Maria, após o episódio do Calvário (João, 19:27). Pescador. Anotou em grego suas principais reminiscências, testemunho subjetivo, não meramente sumariado (...). Desterrado provisoriamente na ilha de Patmos pelo imperador Domiciano, admite-se haver composto nesse período o Apocalipse, livro de visões místicas (Apokalypsis, revelação). (...)” Samaria, Jerusalém e Ásia Menor foram sucessivamente teatro do seu apostolado. João desencarnou já bem velho. Judas Iscariote, assim mencionado em Mateus, 10:04; Marcos, 3:19; Lucas, 6:16; João, 12:4; Atos dos Apóstolos, 1:16, como Judas simplesmente. Filho de Simão Iscariote (João, 13:02), da cidade de Carioth (...). Tesoureiro ou caixa da comunidade apostólica, cujos escassos proventos se destinavam a esmolas. (...)” Segundo Humberto de Campos, Espírito, Judas era “um apaixonado” pelas idéias socialistas de Jesus, e entendia que a "política seria a única arma com a qual poderia triunfar”, além do mais não conciliava a "vitória com o desprendimento de riquezas”. Por isso entregou Jesus a Caifás, não imaginando, porém, que as coisas tomassem o rumo que tomaram e, em desespero, suicidou-se. 22 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Judas teve oportunidade de reparar seus erros, passando, inclusive, por uma “fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, foi traído, vendido e usurpado, nos idos anos do final do século XV. (Ver Joana D’arc, de Léon Denis). Mateus, assim mencionado por si próprio (10:03) e pelos Atos dos Apóstolos (1:13). Chamava-se antes Levi (ver Marcos, 2:14; 3:18; Lucas, 5:27; 6:15) (...). (...) Não era pescador, mas publicano. Denominavam-se publicanos, no império dos Césares, os empresários de rendas públicas, membros da poderosa ordem dos cavaleiros; dominada pelos romanos a Palestina, também nesta se intitularam publicanos os cobradores de impostos, destinados ao patrimônio do invasor (...).” “(...) Mateus era publicano e se tornou um dos doze Apóstolos, mas se conservou na obscuridade enquanto o Cristo estava na Terra. Só depois da ascensão e descida do Espírito no Cenáculo, ele entrou em ação: pregava na Judéia e nos países vizinhos, até a dispersão dos Apóstolos, aproveitando os momentos de folga para escrever o seu Evangelho. Depois, dizem haver partido para o Oriente, pregando a nova doutrina na Pérsia e na Etiópia (...).” Pedro, mencionado como “Simão que se chama Pedro” em Mateus, 4:18; 10:02; como Simão "a quem (Jesus) pôs o nome de Pedro” em Marcos, 1:16; 3:16; (ver também: Lucas, 6:14; 9:20; Atos dos Apóstolos, 1:13). Irmão de André (Mateus, 4:18; Lucas, 6:14; João, 1:40). Pescador. Integrante do grupo inicial e espécie de intérprete dos apóstolos, aparentemente o mais assíduo junto ao Mestre, por este singularizado como pedra sobre a qual edificaria sua Igreja (Mateus, 16:18) Pedro é a pedra da comunidade humana espiritualizada – apóstolo carnal, em missão de devotamento. Simão, mencionado como Simão Cananeu, em Mateus, 10:09 e Marcos, 3:18; como "Simão, chamado o Zelador”, em Lucas, 6:15; como Simão, o Zelador, em Atos dos Apóstolos, 1:13. (...)” Pouco se sabe acerca do apóstolo zelador ou zeloso, com base no Novo Testamento. Simão “(...) era galileu, parece que nascido em Caná, onde Jesus, nas bodas transformou a água em vinho. Lucas chama-o Zelote, o Zeloso, significação essa que, em grego (...) exprime a mesma idéia que “Cananeu.” (...) O historiador grego Nicéforo diz que ele percorreu o Egito, a Cirenaica e a África; que anunciou a Boa Nova na Mauritânia e em toda a Líbia e depois nas ilhas Britânicas, que fez muitos milagres, isto é, que era dotado de faculdades psíquicas, com o auxilio das quais produzia curas e outros fenômenos, que apoiavam suas prédicas (...)” Tadeu, assim mencionado em Mateus, 10:03 e Marcos, 3:18; como “Judas, não o Iscariote” em João, 14:22; como "Judas irmão de Tiago” em Lucas, 6:16 e Atos dos Apóstolos, 1:13. (...)” “(...) Judas Tadeu, diz Nicéforo e Isidoro, após a difusão do Espírito (Pentecostes), anunciou o Cristianismo aos povos da Líbia, aos da Pérsia e Armênia. Deixou uma epístola exortativa, que faz parte do Novo Testamento, em que convida seus discípulos a pelejarem pela fé e se armarem de obras boas que dêm sinal de purificação (...)”. Tiago (maior), mencionado como Tiago, filho de Zebedeu, em Mateus, 10:03 e Marcos, 3:17; como Tiago em Lucas, 6:14 e Atos dos Apóstolos, 1:13. Na prática, Tiago maior.” “(...) Participou de episódios culminantes, como a transfiguração no Tabor, agonia em Getsemani, aparição em Tiberíade (...)” 23 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Tiago (menor), mencionado como “Tiago, filho de Alfeu” em Mateus, 10:03; Lucas, 6:15; Atos dos Apóstolos, 1:13. Como “Jacob, filho de Alfeu” em Marcos, 3:18. Na prática Tiago menor. (...)” Chamado irmão de Jesus. Tomé, assim mencionado em Mateus, 10:03; Marcos, 3:18; Lucas, 6:15; Atos dos Apóstolos, 1:13; como Tomé... que se chama Dídimo em João (20:24; 21:02). (...)” Resta-nos citar dois discípulos de Jesus: Matias e Paulo de Tarso. Matias foi o “(...) substituto de Judas Iscariote (Atos dos Apóstolos, 1:23, 26). Após o primeiro e trágico desfalque, recompunha-se o número de doze, escolhido talvez por correlação com as tribos de Israel: – "(...) estareis assentados também vós sobre doze tronos, julgando as doze tribos de Israel (...)”. “(...) Nada sabemos nos primeiros tempos sobre Matias, senão que ele foi um dos setenta e dois discípulos que o Senhor designou e enviou, dois a dois, adiante de si a todas as cidades e lugares que pretendia visitar (...)” “(...) Uma tradição, confirmada entre os gregos, refere que, após o Pentecostes, ele pregou o Evangelho na Capadócia e para o lado do Ponto Euxino. (...)” A escolha de Matias foi através de sorteio, costume existente entre os Judeus da época. Paulo “(...) nasceu em Tarso, na Cilicia, e pertencia a uma família de judeus da seita farisaica. Foi educado em Jerusalém, sendo discípulo de Gamaliel, havendo também aprendido o oficio de tecelão, segundo o preceito da lei judaica, que impunha a todos os doutores da lei a obrigação de saberem um oficio (...)” Falar da missão de Paulo e da sua vigorosa personalidade não é tarefa fácil; recomendamos, a propósito, a leitura da excelente obra de Emmanuel Paulo e Estevão. Resumidamente, podemos dizer que a missão de Paulo de Tarso foi a de pregar a Boa Nova aos gentios, de universalizar o Cristianismo. Trabalho que realizou com verdadeiro devotamento e imensos sacrifícios. Antes de se converter ao Cristianismo, na estrada de Damasco, Paulo perseguia os cristãos e contribuiu enormemente para o suplício de Estevão – (anteriormente ao Cristianismo, Estevão se chamava Jesiel) – o primeiro mártir cristão. Prendeu Pedro, João (Evangelista) e Filipe. Na execução da sua gloriosa missão, Paulo fez três grandes viagens indo a Bitínia (próximo ao mar Negro), Capadócia, Cária (perto do rio Meandro), Cilícia (região do Mediterrâneo entre a Ásia Menor e a ilha de Chipre e terra Natal de Paulo), Frigia e Galácia (interior da Ásia Menor), Liacônia (centro-sul da Ásia Menor), Lícia (no Mediterrâneo, próximo ao mar Egeu), Lídia (no mar Egeu,) Mísia (entre o mar de Mármara e o mar Egeu), Paflagônia (ao norte, no mar Negro), Panfilia (entre o Egeu e o mar da Cilicia, no Mediterrâneo), Ponto (extremo nordeste da Ásia Menor), Psidia (ao sul da Ásia Menor). Na terceira viagem, o apóstolo foi, preso, até Roma, indo após à Espanha. Paulo se imortalizou, também, pelas suas Epistolas, em número de 14, enviadas, respectivamente, aos romanos, aos corintios (I e II), aos gálatas, aos efésios, aos filipenses, aos colossenses, aos tessalonicenses (I e II), a Timóteo (I e II), a Tito, a Filêmon e aos hebreus. Paulo morreu em Roma e não seria exagero afirmar que, se não fosse o trabalho realizado por esse apóstolo, dificilmente o mundo ocidental conheceria o Cristianismo. Fontes de consulta: 1. Cairbar Schutel. Vida e Atos dos Apóstolos. O Clarim, 1981. A Eleição de um Apóstolo em Jerusalém, pág 11; O discurso de Pedro=A Profecia de 24 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 2. 3. Joel, pág 20; A ação de João Evangelista, pág 76; Conversão de Paulo, pág 86; Os Apóstolos de Jesus, pág 242; Mateus, pág 253; André e Bartolomeu, pág 254-255; Filipe e Tomé, pág 256-257; Simão, Judas e Matias, pág 259262. Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. Os Discípulos. Pelo espírito de Humberto de Campos. FEB, 1979. pág 38-39. Francisco Cândido Xavier. Crônicas do Além-Túmulo. Judas Iscariote. Pelo espírito de Humberto de Campos. FEB, 1975, pág 41-42. 1.9 ESTUDO DO NOVO TESTAMENTO “(...) O Cristo nada escreveu. Suas palavras, disseminadas ao longo dos caminhos, foram transmitidas de boca em boca e, posteriormente, transcritas em diferentes épocas, muito tempo depois da sua morte. Uma tradição religiosa popular formou-se pouco a pouco, tradição que sofreu constante evolução até o século IV. (...)” "(...) Mateus e João, discípulos diretos, de contacto pessoal com o Mestre, escreveram respectivamente em hebraico e em grego; Marcos e Lucas, ambos em grego, o primeiro transmitindo reminiscências de Pedro apóstolo, o segundo investigando e recolhendo por via indireta. Harmonizam-se os quatro textos num todo orgânico, composto sem acomodações sob inspiração mediúnica, cujo influxo não derrogou a liberdade volitiva e os pendores psíquicos: – Mateus, menosprezado funcionário, atende ao aceno do novo chefe e Nele passa a vislumbrar o diretor supremo, o rei em nomenclatura humana, embora ao nível do“reino dos céus”; – Marcos, atemorizado quando jovem com a intensidade da tarefa, sublima depois em Jesus o servo incansável, paradigma da fraternidade a serviço divino; – Lucas, mais intelectualizado, pesquisador do pretérito e analista do futuro, apresenta Jesus como entidade imaculada, presa pela genealogia ao pai Adão, porém subtraída ao pecado pela redenção no Pai Criador; – João, mais espiritualizado, portanto mais próximo da essência, tem olhos de ver em Jesus a entidade celestial, o verbo mesmo de Deus, não apenas o rei, o servo, o homem, sinopses de biografia terrena.” “Somente as (epistolas) de Paulo se conhecem por título, conforme destinação: – aos romanos, aos coríntios (I, II), aos gálatas, aos efésios, aos filipenses, aos colossenses, aos tessalonicenses (I, II), a Timóteo (I, II), a Tito, a Filêmon, aos hebreus. As demais, dirigidas a todos os fiéis, são chamadas católicas ou universais”. Sem rigorismo de averiguação técnica, talvez assim possamos dispor as Epístolas, em ordem cronológica: – primeira de Pedro; – de Paulo aos tessalonicenses (I e II), coincidentes com a segunda viagem missioneira do Apóstolo dos gentios; – idem aos gálatas, coríntios (I e II), romanos, coincidentes com a terceira viagem missioneira; – única de Tiago menor; – de Paulo aos efésios, aos colossenses, aos filipenses, a Filêmon, aos hebreus, a Tito, a Timóteo (I e II), coincidentes com a prisão do Apóstolo dos gentios e viagem a Roma para final julgamento; – segunda de Pedro; – primeira, segunda e terceira de João Evangelista.” “(...) Ao lado desses evangelhos, únicos depois reconhecidos pela Igreja, grande número de outros vinha à luz. Desses, são conhecidos atualmente uns vinte; mas, no século Ill, Orígenes os citava em maior número. Lucas faz alusâo a isso no primeiro versículo da obra que traz o seu nome. Por que razão foram esses numerosos documentos declarados apócrifos e rejeitados? Muito provavelmente porque se haviam constituído num embaraço aos que, nos séculos II e 25 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Ill, imprimiram ao Cristianismo uma direção que o devia afastar, cada vez mais, das suas formas primitivas (...)”. “O Antigo Testamento é o livro sagrado de um povo – o povo hebreu; o Evangelho é o livro sagrado da Humanidade. As verdades essenciais que ele contém acham-se ligadas às tradições de todos os povos e de todas as idades. A essas verdades, porém, muitos elementos inferiores vieram associar-se (...)”. Quanto à sua verdadeira origem, admitindo-se que os Evangelhos canônicos sejam obras dos autores de que trazem os nomes, é preciso notar que dois dentre eles, Marcos e Lucas, se limitaram a transcrever o que lhes fora dito pelos discípulos. Os outros dois, Mateus e João, conviveram com Jesus e recolheram os seus ensinos. (...)” “(...) Dos quatro livros canônicos que narram a Boa Nova (sentido do Termo Evangelho) que Jesus Cristo veio trazer, os três primeiros apresentam entre si tais semelhanças que, muitas vezes, podem ser postos em colunas paralelas e abarcados com um só olhar, dai o seu nome de sinóticos”. A tradição eclesiástica, atestada desde o século II, atribui-os respectivamente a (São) Mateus, (São) Marcos e (São) Lucas. De acordo com ela, Mateus, o publicano pertencente ao colégio dos doze apóstolos, (...) escreveu o primeiro; redigiu-o na Palestina, para os cristãos convertidos do judaísmo, e sua obra, composta em língua hebraica, isto é, aramaico, foi depois traduzida para o grego. João Marcos, um discípulo de Jerusalém (AT 12, 12), que auxiliou no apostolado a Paulo, (...) a Barnabé, seu primo (...) e a Pedro, (...) do qual era intérprete, redigiu em Roma a catequese oral deste último. Um outro discípulo, Lucas, médico, (...) de origem pagã, (...) nascido em Antioquia, (...) companheiro de Paulo na sua segunda viagem apostólica (...) e na terceira, (...) bem como nas duas vezes que ele esteve preso em Roma (...), foi o terceiro a escrever um evangelho, que podia portanto apoiar-se na autoridade de Paulo (...), como o de Marcos se apoiava na de Pedro (...). A língua original do segundo e terceiro evangelhos é o grego. O evangelho de João também foi escrito em grego. “(...) Os três Evangelhos sinóticos, ou concordantes, (...) acham-se fortemente impregnados do pensamento judeu-cristão, dos apóstolos, mas já o evangelho de João se inspira em influência diferente.” No evangelho segundo Marcos “(...) suas grandes linhas denotam uma evolução que merece ser levada em conta, por causa de sua verdade histórica e de seu alcance teológico: primeiramente, Jesus é recebido favoravelmente pelas multidões, seu messianismo humilde e espiritual decepciona a expectativa do povo e o entusiasmo arrefece; então Jesus se afasta da Galiléia para se dedicar à formação do pequeno grupo dos discípulos fiéis (...). Assim é exatamente o paradoxo de Jesus, incompreendido e rejeitado pelos homens, mas por Deus enviado e triunfante (...). Preocupa-se menos (no evangelho de Marcos) em explanar o ensinamento do Mestre e refere poucas palavras suas. Seu tema essencial é a manifestação do Messias crucificado (...)”. O evangelho segundo Mateus pode-se caracterizar (... como um drama em sete atos sobre a vinda do Reino dos Céus 1. seus preparativos na pessoa do Messias menino; (...) 2. a promulgação do seu programa, diante dos discípulos e do povo no Sermão da Montanha; (...) 3. sua pregação por meio de missionários, cujos sinais – que vão confirmar sua palavra – são anunciados pelos milagres de Jesus e aos quais o Discurso da missão apresenta diretrizes; (...) 4. os obstáculos que deve encontrar da parte dos homens, segundo o plano humilde e oculto, desejado por Deus, o qual o Discurso das parábolas (11,1 – 13,52) ilustra; 5. seus começos num grupo de discípulos que têm Pedro coma chefe, primícias da Igreja, cujas normas de vida são esboçadas no Discurso comunitário (...) ; 6. a crise que prepara seu advento definitivo, 26 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” suscitada pela crescente oposição dos chefes judeus e anunciada pelo Discurso escatológico 5; (...) 7. enfim, o próprio advento, no sofrimento e no triunfo, pela paixão e pela ressurreição. (...)” “(...) O mérito particular do terceiro evangelho lhe vem da personalidade muito cativante do seu autor, que nele transparece continuamente. (São) Lucas é um escritor de grande talento e uma alma dedicada. Elaborou sua obra de modo original, com um esforço de informação e ordem (...). Isto não quer dizer que tenha podido dar ao material recebido da tradição um arranjo mais histórico que Mateus e Marcos (...)”. O estilo como Marcos escreve “(...) é áspero, cheio de aramaismo e muitas vezes incorreto, mas impulsivo e de uma vivacidade popular cheia de encanto. O de (São) Mateus é também aramaizante, porém mais trabalhado, menos pitoresco, mais correto. O de (São) Lucas é complexo: de qualidade excelente quando depende só de si próprio, (...) enfim ele gosta de imitar o estilo bíblico dos Setenta e o faz de modo admirável. (...)” O evangelho de João além de ser bem mais complexo é dirigido“(...) aos cristãos em geral (...)”. “(...) a obra joanina apresenta traços que lhe são próprios e a distinguem claramente dos evangelhos sinóticos. Seu autor parece ter sofrido influência bastante forte duma corrente de pensamento amplamente difundida em certos círculos do judaísmo, cuja expressão se redescobriu recentemente nos documentos essênios de Qumrã. Neles se atribuía importância especial ao conhecimento (...).” Mais ainda: o quarto evangelho, mais que os sinóticos, quer dar a entender o sentido da vida, dos gestos e das palavras de Jesus (...). Por outro lado, ele demonstra possuir, muito mais que os sinóticos, um caráter cultual e sacramental. (...)” “(...) O que antes de tudo interessa ao evangelista é manifestar o sentido de uma história, que é tão divina quanto humana: história, mas também teologia, que acontece no tempo, mas tem suas raízes na eternidade; quer narrar fielmente e propor à fé dos homens o acontecimento espiritual que se realizou no mundo com a vinda de Jesus Cristo: a encarnação do Verbo para a salvação dos homens. (...)” Com relação à redação do texto evangélico, podemos concluir com Emmanuel: “(...) As peças nas narrações evangélicas identificam-se naturalmente, entre si, como partes indispensáveis de um todo, mas somos compelidos a observar que, se Mateus e Lucas receberam a tarefa de apresentar, nos textos sagrados, o Pastor de Israel na sua feição sublime, a João coube a tarefa de revelar o Cristo Divino, na sua sagrada missão universalista.” “(...) Supuséramos sempre como impossíveis de concatenação adequada: a mente prática de Mateus, a descritiva, de Marcos, a artística, de Lucas, e a divina, de João (...)”. O Novo Testamento, revelação divina por instrumentos humanos, quais o foram os seus autores, apresenta-nos muitos degraus de revelação e conhecimento, somente acessíveis pela evolução com o tempo ou pela iluminação com o esforço próprio; uma só LUZ – por filtros diversos”. “Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatros primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos pódem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constitui matéria das disputas religiosas (...)” 5 Escatológico - (Escatologia) - 1. Doutrina sobre a consumação do tempo e da história. 2. Tratado sobre os fins últimos do homem. Discurso Escatológico - Pregação sobre os fins últimos do homem; sobre a finalidade da existência do homem. 27 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Além dos evangelhos, contém o Novo Testamento outros livros ou conjuntos: Atos dos Apóstolos, Epistolas e o Apocalipse. Atos dos Apóstolos é uma obra que possivelmente foi escrita pelo evangelista Lucas (02). Trata-se da “(...) continuação do Evangelho, após o episódio do Calvário. (...) Nela se destaca o papel de Pedro, mormente o de Paulo. (...)” (20) Lucas quis nos dar nessa obra, acima de tudo, (...) uma exposição da força de expansão espiritual do Cristianismo. (...)” Com relação às Epistolas, “(...) salvou-se do olvido pequeno acervo de cartas enviadas pelos apóstolos Paulo, Tiago (menor), Pedro, João (Evangelista) e Judas (Tadeu). Somente as de Paulo se conhecem por título, conforme destinação (...). As demais, dirigidas a todos os fiéis, são chamadas católicas ou universais. (...)” As epistolas de Paulo e Atos dos Apóstolos revelam a missão de Paulo e sua vigorosa personalidade, sendo que a Epístola aos romanos representa“(...) uma das mais belas sínteses da doutrina paulina. Todavia, não é uma síntese completa, nem é a doutrina toda. (...)” O Apocalipse, que significa revelação, foi escrito pelo apóstolo e evangelista João quando se encontrava desterrado na ilha de Patmos. O Apocalipse é um livro de visões místicas onde “(...) é difícil definir exatamente a fronteira que separa o gênero apocalíptico do profético; (...) mas enquanto os antigos profetas ouviam as revelações divinas e as transmitiam oralmente, o autor de um apocalipse recebia suas revelações em forma de visões, que ele consignava num livro. Por outro lado, tais visões não têm valor por si mesmas, mas pelo simbolismo que encerram. (...)” “(...) O Apocalipse de João tem singular importância para os Destinos da Humanidade terrestre (...)”. É o que nos fala Emmanuel. Só nos séculos XV e XVI a invenção de Gutemberg e a rebeldia de Lutero facilitariam traduções da Bíblia em idiomas nacionais, a começar pelo alemão. (...)” Conhece-se também “(...) a chamada Bíblia doa 70, corpo doutrinário traduzido ao que se diz por 72 sábios de Alexandria, do qual teriam sido tiradas 70 cópias. (...)” Recomendamos a leitura das partes essenciais do Novo Testamento, citadas nesta síntese, para maior entendimento do assunto aqui abordado. Segundo Emmanuel (Paulo e Estevão) Paulo de Tarso sempre alimentou a esperança de, um dia, escrever um Evangelho decalcado nas recordações de Maria, para que tudo ficasse bem claro sobre a vida e os feitos de Jesus. Complementaria as anotações de Levi (Mateus). Mas, não lhe sendo possível realizar pessoalmente o feito, designou Lucas para fazê-la, o qual ouviu tudo de Maria Santíssima, tendo ainda procurado diversos cristãos que testemunharam eventos da vida do Senhor, inclusive o próprio Mateus. Mais tarde, Lucas prosseguiria esse trabalho, complementando-o com o seu Atos dos Apóstolos, auxiliado nessa tarefa por Aristarco, um dos que espontaneamente partilharam da prisão de Paulo, em Roma. Quanto aos escritos e tradições orais envolvendo os fatos do Novo Testamento, há páginas valiosas no citado romance histórico-mediúnico Paulo e Estevão, psicografado por Francisco Cândido Xavier. O APOCALIPSE DE JOÃO Alguns anos antes de terminar o primeiro século, após o advento da nova doutrina, já as forças espirituais operam uma análise da situação amargurosa do mundo, em face do porvir. Sob a égide de Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a civilização, assinalando os traços iniciais dos países europeus dos tempos modernos. Roma já não representa, então, para o plano invisível, senão um foco infeccioso que é preciso neutralizar 28 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” ou remover. Todas as dádivas do Alto haviam sido desprezadas pela cidade imperial, transformada num vesúvio de paixões e de esgotamentos. O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava preso nos liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do invisível. Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos transmite aos seus discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse. Todos os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos. É verdade que freqüentemente a descrição apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não pôde copiar fielmente a expressão divina das suas visões de palpitante interesse para a história da Humanidade. As guerras, as nações futuras, os tormentos porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização ocidental, estão ali pormenorizadamente entrevistas. E a figura mais dolorosa, ali relacionada, que ainda hoje se oferece à visão do mundo moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma, simbolizada na besta vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos. A REDAÇÃO DOS TEXTOS DEFINITIVOS Nesse tempo, quando a guerra formidável da crítica procurava minar o edifício imortal da nova doutrina, os mensageiros do Cristo presidem à redação dos textos definitivos, com vistas ao futuro, não somente junto aos Apóstolos e seus discípulos, mas igualmente junto aos núcleos das tradições. Os cristãos mais destacados trocam, entre si, cartas de alto valor doutrinário para as diversas igrejas. São mensagens de fraternidade e de amor, que a posteridade muita vez não pôde ou não quis compreender. Muitas escolas literárias se formaram nos últimos séculos, dentro da critica histórica, para o estudo e elucidação desses documentos. A palavra apócrifo generalizou-se como o espantalho de todo o mundo. Histórias numerosas foram escritas. Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os sábios materialistas, no estudo das idéias religiosas, não puderam sentir que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras do Cristianismo. A grandeza da doutrina não reside na circunstância de o Evangelho ser de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal que se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os corações. Não há vantagem nas longas discussões quanto à autenticidade de uma carta de Inácio de Antioquia ou de Paulo de Tarso, quando o raciocínio absoluto não possui elementos para a prova concludente e necessária. A opinião geral rodopiará em torno do crítico mais eminente, segundo as convenções. Todavia, a autoridade literária não poderá apresentar a equação matemática do assunto. É que, portas adentro do coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos. 29 (história do advento do Cristo e suas repercussões).Novo Testamento CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Evangelho (boa nova) Epístolas Apocalipse (revelação de visões proféticas) • Segundo Mateus • Segundo Marcos • Segundo Lucas • Segundo João Atos dos Apóstolos (continuação) aos romanos aos conríntios (I e II) aos gálatas aos efésios aos filipenses de Paulo aos colossenses aos tessalonicenses (I e II) a Timóteo a Tito a Filêmon aos hebreus de Tiago menor de Pedro (I e II) a todos os fiéis de João (i, II e III) de Judas Tadeu as sete igrejas da Ásia Menor Fontes de consulta: 1. Allan Kardec. O Evangelho Segundo Espiritismo. Introdução. FEB 1995, pág. 25. 2. Novo Testamento e Salmos. A Bíblia de Jerusalém. Edições Paulinas, pag. 12, 13, 17-20, 163, 166, 288, 296, 482. 3. Leon Denis. Cristianismo e Espiritismo. Origem dos Evangelhos. FEB, 1978, pág. 25-28, 268-269. 4. Francisco Cândido Xavier. A Caminho da Luz. Pelo espírito de Emmanuel. FEB, 1995. pág. 124-129 5. Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Pelo espírito de Emmanuel. FEB, 1995. questão 284, pág. 168-169. 6. Mínimus. Síntese de o Novo Testamento. FEB, 1979, pág 31. 30 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 1.10 A MORAL CRISTÃ "(...) Jesus foi o maior revolucionário que apareceu no mundo. Espírito incomparável em sabedoria e em virtudes, foi Ele escolhido no Conselho Supremo para trazer a Lei da Reforma Social à Terra, para que possam imperar no lar, na sociedade, nas nações, os preceitos de amor recíproco em plena atividade para a evolução da Humanidade. (...)” “(...) A Revolução Cristã é a execração do ódio e a proclamação do Amor; é a bandeira da Fraternidade Universal, flutuando na Inteligência, sob a paternidade de Deus. (...)” Qual a verdadeira doutrina do Cristo? Os seus princípios essenciais acham-se claramente enunciados no Evangelho. É a paternidade universal de Deus e a fraternidade dos homens, com as conseqüências morais que dai resultam; é a vida imortal a todos franqueada e que a cada um permite em si próprio realizar o reino de Deus, isto é, a perfeição, pelo desprendimento dos bens materiais, pelo perdão das injúrias e amor ao próximo.” Para Jesus, numa só palavra, toda religião, toda a filosofia consiste no amor: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam (...)”. “(...) Sob a suave e meiga palavra de Jesus, toda impregnada do sentimento da natureza, essa doutrina se reveste de um encanto irresistível, penetrante. Ela é saturada de terna solicitude pelos fracos e pelos deserdados. É a glorificação, a exaltação da pobreza e da simplicidade. Os bens materiais nos tornam escravos; agrilhoam o homem à Terra. A riqueza é um estorvo; impede os vôos da alma e a retém longe do reino de Deus. A renúncia, a humildade, desatam esses laços e facilitam a ascensão para a luz. Por isso é que a doutrina evangélica permaneceu através dos séculos como a expressão máxima do espiritualismo, o supremo remédio aos males terrestres, a consolação das almas aflitas nesta travessia da vida, semeada de tantas lágrimas e angústias. (...)” “(...) A Boa Nova ressuma esperança, pois é a história do homem angustiado, batendo e Jesus respondendo, em forma de socorro lenificador incessante, como a dádiva de Deus para a libertação do ser”. “Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade (...) Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura. (...)" Sendo caridosos e humildes estaremos vivenciando o Cristianismo no seu sentido mais amplo que é a prática da lei do amor. A prática da caridade significa “(...) Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.” (...) A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados (...).” A moral cristã, ensinada e exemplificada por Jesus, tem por definição “(...) a aplicação dos princípios curativos e regeneradores do Médico Divino. Esses princípios começam na humildade da manjedoura, com escalas pelo serviço ativo do Reino de Deus, com o auxílio fraterno aos semelhantes, com a adaptação à simplicidade e à verdade, com o perdão aos outros, com a cruz dos testemunhos pessoais, com a ressurreição do Espírito, com o prosseguimento da obra redentora através da abnegação e da renúncia, da longanimidade e da 31 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” perseverança no bem até ao fim da luta, terminando na Jerusalém libertada, símbolo da Humanidade redimida. (...)” Jesus ensinava por parábolas. Isto porque nem todos possuíam evolução espiritual para apreender as verdades evangélicas em toda a sua profundidade. Se por um lado a doutrina cristã é clara e simples “(...) em seus princípios essenciais (...) Todavia, ela manifesta os sinais de um ensino oculto. Jesus fala muitas vezes por parábolas. Seu pensamento, de ordinário tão luminoso, mergulha por vezes em meia obscuridade. Não se percebem, então, mais que os vagos contornos de uma grande idéia dissimulada sob o símbolo. (...)” É o que ele próprio explica por estas palavras (...) : “Eu lhes falo por parábolas, porque a vós outros vos é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles (referindo ao povo em geral) não lhes é concedido”. (Mateus, XIII, 10 e 11) (...)” Mas, "(...) Sob o véu das parábolas e das ficções, ocultava concepções profundas. (...)” Devemos compreender também que “Jesus, como sábio educador, costumava recorrer freqüentemente às parábolas a fim de melhor interessar e impressionar os seus ouvintes”. Esse processo é eminentemente prático e pedagógico, pois supre as deficiências intelectuais do educando, sempre que se trata de assuntos transcendentes. Demais, na época em que o Mestre Divino predicava (...), os ensinamentos eram conservados e revividos por meio de tradição. Ora, é muito mais fácil reter na mente a lição ministrada através de um conto qualquer, onde há o enredo que auxilia as associações de idéias, do que quando ensinada de modo inteiramente abstrato. (...) (...) se o sapientíssimo Instrutor e Guia da Humanidade não tivesse envolvido seus sublimes preceitos no manto parabólico, eles não teriam chegado até nós. (...)” Finalmente, devemos considerar como conclusão desta síntese, que “(...) O sermão da montanha resume, em traços indeléveis, o ensino popular de Jesus. Nele é expressa a lei moral sob uma forma que jamais foi igualada”. Os homens aí aprendem que não há mais seguros meios de elevação que as virtudes humildes e escondidas. "Bem-aventurados os pobres de espírito (isto é, os Espíritos simples e retos), porque deles é o reino dos céus. – Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. – Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.– Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia. – Bem-aventurados os limpos de coração, porque esses verão a Deus. (...)” O Sermão da Montanha começa com as bem-aventuranças, ora citadas, e é completado com a comparação que Jesus faz do homem sensato que constrói a casa sobre a rocha, como sendo todo aquele que ouve as suas palavras e as põe em prática. Esse discurso evangélico pode ser lido em Mateus, a partir do capítulo 5º até o 7º versículo 29. No Sermão da Montanha "(...) temos cinco temas principais: 1. o espírito que deve animar os filhos do Reino (...); 2. o espírito com que devem eles cumprir as leis e as práticas do judaísmo (...); 3. o desprendimento das riquezas (...); 4. as relações com o próximo (...); 5. a necessidade de entrar no Reino por uma decisão corajosa que se traduza em atos (...)”. Deve-se perceber que o sermão pronunciado em uma das colinas próximas de Cafarnaum é um discurso inaugurai sobre o advento e o que representa o Reino dos Céus. No “(...) Sermão da Montanha (...), Jesus compôs, com a simplicidade da sabedoria autêntica e com a profundidade da verdade revelada, uma síntese das leis morais que regem a evolução humana”. 32 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Gandhi, o inesquecível líder hindu, dizia que o Sermão da Montanha é a mais bela página da Humanidade. Por si só preservaria os patrimônios espirituais humanos, ainda que se perdessem os livros sagrados de todas as religiões. (...)” Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Evangelho Segundo Espiritismo. A nova era (pág. 60); Fora da caridade não há salvação (pág. 246-247). FEB 1993, 2. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Caridade e amor do próximo. Questão 886, págs 407-408. FEB, 1995. 3. A Bíblia de Jerusalém. Novo Testamento e Salmos. As bem-aventuranças. Edições Paulinas. 1980, nota “d” pag. 1288. Mateus, 5 a 7. Nota “e”, pág. 1288. 4. Leon Denis. Cristianismo e Espiritismo. Sentido oculto dos Evangelhos. FEB, 1987, pág. 37-38, 43, 45-46. 5. Divaldo Pereira Franco. Luz do Mundo. Boa Nova. Pelo Espírio de Amélia Rodrigues. Salvador, Bahia.Alvorada, 1971. pág. 14. 6. Cairbar Schutel. O Espírito do Cristianismo. A Grande Revolução. Matão, SP. O Clarim, 1971. pág. 125, 127. 7. Richard Simonetti. A voz do monte. Medicina do FuturoRio de Janeiro. FEB, 1991. pág. 12. 8. Vinícius. Em torno do Mestre. Jesus e suas parábolas. FEB, 1979. pág. 229. 9. Francisco Cândido Xavier. Pontos e Contos. Pelo espírito Irmão X. FEB, 1979. pág. 21. 2. Relação da Criatura com o Criador 2.1 Amor a Deus, Adoração, Vida Contemplativa DEUS Anthero de Quental. Largos anos passei, aí no mundo, A pensar, meditando na existência De Deus – o Ser de paz e de clemência, Fonte de todo o amor puro e fecundo Eu fiz, na sua busca, estudo fundo Através toda a humana consciência, E dos ínvios caminhos da Ciência Pela Terra, no Mar, no Céu profundo. Bem desejava achá-lo, amá-lo e vê-lo, E servi-lo, adorá-lo e conhecê-lo, Em doce crença inalterável, viva. Mas não o vi jamais, porque, mesquinho, Enveredei aí por mau caminho: – O trilho da ciência positiva. II 33 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Eu devia buscá-lo onde Ele mora: Na suma perfeição da Natureza, E no esplêndido encanto e na beleza, Do Céu, do Mar, da Luz, da Fauna, e Flora. Eu podia encontrá-lo em cada hora Nessa vida: – no Amor, e na Pureza, Na Paz e no Perdão, e na Tristeza, E até na própria Dor depuradora. Mas eu andava cego e nada via; E a vaidade escolheu para meu guia A Ciência falaz, enganadora! Se o guia fosse a Fé ou a Bondade, Vê-lo-ia dai na Imensidade, Como, em verdade, O vejo em tudo agora. * * * Objetivo da adoração 649. Em que consiste a adoração? “Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma.” 650. Origina-se de um sentimento inato a adoração, ou é fruto de ensino? “Sentimento inato, como o da existência de Deus. A consciência da sua fraqueza leva o homem a curvar-se diante daquele que o pode proteger.” 651. Terá havido povos destituídos de todo sentimento de adoração? “Não, que nunca houve povos de ateus. Todos compreendem que acima de tudo há um Ente Supremo.” 652. Poder-se-á considerar a lei natural como fonte originária da adoração? “A adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes”. Adoração exterior 653. Precisa de manifestações exteriores a adoração? “A adoração verdadeira é do coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre vós o seu olhar”. a) - Será útil a adoração exterior? “Sim, se não consistir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo. Mas, os que somente por afetação e amor-próprio o fazem, desmentindo com o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam.” 654. Tem Deus preferência pelos que O adoram desta ou daquela maneira? “Deus prefere os que O adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-Lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes. “Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a Si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam. “É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento. 34 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão. “Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até Ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração.” 655. Merece censura aquele que pratica uma religião em que não crê do fundo d’alma, fazendo-o apenas pelo respeito humano e para não escandalizar os que pensam de modo diverso? “Nisto, como em muitas outras coisas, a intenção constitui a regra. Não procede mal aquele que, assim fazendo, só tenha em vista respeitar as crenças de outrem. Procede melhor do que um que as ridicularize, porque, então, falta à caridade. Aquele, porém, que a pratique por interesse e por ambição se torna desprezível aos olhos de Deus e dos homens. A Deus não podem agradar os que fingem humilhar-se diante Dele tão-somente para granjear o aplauso dos homens.” 656. À adoração individual será preferível a adoração em comum? “Reunidos pele comunhão dos pensamentos e dos sentimentos, mais força têm os homens para atrair a si os bons Espíritos. O mesmo se dá quando se reúnem para adorar a Deus. Não creias, todavia, que menos valiosa seja a adoração particular, pois que cada um pode adorar a Deus pensando Nele.” Vida contemplativa 657. Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram à vida contemplativa, uma vez que nenhum mal fazem e só em Deus pensam? “Não, porquanto, se é certo que não fazem o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Demais, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que o homem pense Nele, mas não quer que só Nele pense, pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra. Quem passa todo o tempo na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive uma vida toda pessoal e inútil à Humanidade e Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito.” Fonte de consulta 1. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Da Lei de Adoração. Questões 649 a 657. FEB 1994, pág. 316-318. 2. Rodolfo Calligaris. As Leis Morais. Como adorar a Deus? FEB 1983, pág. 46. 3. Leon Denis. O Grande Enigma. O grande enigma; pág. 25-28. Comunhão universal; pág. 41 a 43. Necessidade da idéia de Deus; pág. 69-70. FEB 1983. 4. Camille Flammarion. Deus na Natureza. Deus. FEB, 1987. pág. 392. 5. Pietro Ubaldi. Deus e Universo. Em busca de Deus. Lake. Pág. 292, 296, 316, 317. 6. Pietro Ubaldi. A Grande Síntese. Conceito de criação. FEB, 1939. pág 201. 35 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 2.2 A Fé e o seu Poder "Como se sabe, o vocábulo fé possui várias acepções. No sentido comum, corresponde à confiança em si mesmo porquanto quem a tenha será capaz de realizações que parecerão impossíveis aos que duvidem de si próprios. (...) Dá-se, igualmente, o nome de fé à crença nos dogmas desta ou daquela religião, caso em que recebe adjetivação específica: fé judaica, fé budista, fé católica, etc. (..;)” “(...) Existe, por fim, uma fé pura, não sectária, que se traduz por uma segurança absoluta no Amor, na Justiça e na Misericórdia de Deus. Dentre todas as espécies de fé, esta é a mais sublime, mas também a mais difícil de ser encontrada, por ser apanágio de poucas almas de escol, cujo aprimoramento vem de um longo passado. (...)” “(...) Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer:eu creio, mas afirmar eu sei, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido. Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do Espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor.” Por estas palavras se conclui que existem condições que caracterizam a fé verdadeira ou inabalável. Segundo Kardec, “Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. (...)” A principal condição da verdadeira fé é, pois, ser raciocinada. Outra condição é prender-se à verdade, não se compactuando, nunca, com a mentira. Fato digno de nota é que a fé verdadeira não se conquista de uma hora para outra. É trabalho do tempo, de experiências vivenciadas. Daí é que “(...) Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam (...); as segundas (...) estão com a educação por fazer (...)”. Neste sentido, Emmanuel faz uma distinção entre crer e ter fé: “(...) Acreditar é uma expressão de crença, dentro da qual os legítimos valores da fé se encontram embrionários”. O ato de crer em alguma coisa demanda a necessidade do sentimento e do raciocínio, para que a alma edifique a fé em si mesma. Admitir as afirmativas mais estranhas, sem um exame minucioso, é caminhar para o desfiladeiro do absurdo, onde os fantasmas dogmáticos conduzem as criaturas a todos os despautérios. Mas também interferir nos problemas essenciais da vida, sem que a razão esteja iluminada pelo sentimento, é buscar o mesmo declive onde os fantasmas impiedosos da negação conduzem as almas a muitos crimes.” “(...) Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. (...)” 36 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “(...) A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não a tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão á alma, ao passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta”. Em síntese, a “(...) Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade (...).” A passagem evangélica relatada em Mateus, 17:14 a 20; Marcos, 9:14 a 29 e Lucas, 9:37 a 43, é um exemplo do poder da fé. Contam os evangelistas que um certo pai procura Jesus pedindo-lhe para curar o seu filho obsidiado, já que os discípulos do Mestre Divino não conseguiram. Jesus cura o enfermo e “(...) Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio? Respondeu-lhe Jesus: por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível (...)” – Mateus, 17:14 a 20. (01) Nessa passagem evangélica, Jesus nos revela o quanto podemos fazer se tivermos fé, mesmo que esta fé seja do tamanho de um grão de mostarda."(...) A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação (...)”. No relato do evangelista Marcos, vale destacar certo trecho da conversa ocorrida entre Jesus e o pai do obsidiado, quando este último rola e se contorce pelo chão sob ação do obsessor: “(...) Perguntou Jesus ao pai dele: Há quanto tempo acontece-lhe isto? Respondeu ele: Desde a infância; e muitas vezes o tem lançado tanto no fogo como na água, para o destruir; mas se podes alguma coisa, compadece-te de nós e ajuda-nos. Disse-lhe Jesus: se tu podes crer; tudo é possível ao que crê. Imediatamente o pai do menino exclamou: Creio! Ajuda a minha incredulidade! (...)” – Marcos, 9:21 a 24. Este colóquio entre Jesus e o pai do menino, traz-nos preciosa lição. “(...) Belas palavras que enchem de esperança os desanimados e, ao mesmo tempo, nos ensinam que o impossível é termo sem significação, só pronunciado pelos ignorantes”. Quantos impossíveis têm caído ante a ação constante da boa vontade e do esforço! Quantos impossíveis se têm apresentado aos nossos olhos como esfinge devoradora e vão por terra, de um momento para outro, à ordem imperiosa da prece que parte de um coração aflito e crente na misericórdia do Céu! Quantas vezes todas as portas (...) parecem fechar-se duramente para não mais se abrirem, e, no dia seguinte, as dificuldades são resolvidas, as lutas afastadas (...)! Tudo é possível àquele que crê, e, quando a crença que nos mantém não bastar para removermos sicômoros6* e transportarmos montanhas, lembremo-nos da exclamação do pai do menino: Creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade! (...)” O assunto sobre a fé é vastamente encontrado na literatura espírita e, como não nos é possível citar trechos de todas essas obras, fazemos algumas referências, do número 13 a 21, nas fontes de consulta deste roteiro. Fontes de consulta 1. Allan Kardec. A fé transporta montanha. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB, 1995. Item 01, pág. 299; item 02, pág. 300; Item 06, pág. 301. (A fé religiosa. – Condição da fé inabalável); Item 07, pág. 302; 05; Item 07, pág. 303; 06. Item 11, pág. 305. (A fé: mãe da esperança e da caridade); Item 11, pág. 305. 6 Sicômoro: “É uma verdadeira figueira, e é ainda comum nos sítios quentes e abrigados da Palestina. (...) Crescem fácil e rapidamente, apresentando uma grande copa, largos ramos, e enormes raízes. Dá várias novidades de figos durante o ano, mas são pequenos e insípidos. São contudo, a principal alimentação para as classes mais pobres. Tanto nas flores como na folhagem assemelha-se muito à figueira comum. A madeira é macia, mas durável, é capaz de ser cortada em grossas tábuas. (...)” 37 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 2. Rodolfo Calligaris. Divagações em torno da fé. Páginas de Espiritismo Cristão. FEB, 1983. Pág. 38 e 39. 3. Cairbar Schutel,. A Cura de Um Epiléptico. O Espírito do Cristianismo. O Clarim. Pág. 311. 4. Francisco Cândido Xavier. Espiritismo. Fé. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. FEB, 1995. Questão 354, págs. 200-201; Questão 355, pág. 201. 5. Francisco Cândido Xavier A Fé Religiosa. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Págs. 51-53. 6. Francisco Cândido Xavier. Fé – Esperança – Caridade. Palavras de Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978. Págs. 93 -97. 7. Francisco Cândido Xavier Alterações na Fé. Ceifa de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Págs. 125-127; 139 –141. 8. Francisco Cândido Xavier. Se tens fé. O Espírito da Verdade. Por diversos Espíritos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1985. Págs. 75-76. 9. Francisco Cândido Xavier FÉ. In: . Dicionário da Alma. Por diversos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Págs. 172 - 175. 10. Léon Denis. Fé, Esperança, Consolações. Depois da Morte. Rio de Janeiro. FEB, 1994. Págs. 258-262. 11. Divaldo Pereira Franco. Desprezo à fé. Após a Tempestade. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Alvorada, 1974. Págs. 16-20. 12. Divaldo Pereira Franco Fé. Estudos Espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 6. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1995. Págs. 113-116. 2.3 A prece e sua eficácia Qualidades da prece 1. Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que, afetadamente, oram de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens. - Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. - Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a recompensa. Não cuideis de pedir muito nas vossas preces, como fazem os pagãos, os quais imaginam que pela multiplicidade das palavras é que serão atendidos. Não vos torneis semelhantes a eles, porque vosso Pai sabe do que é que tendes necessidade, antes que lho peçais. (S. MATEUS, cap. VI, vv., 5 a 8.) 2. Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados. - Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos céus, também não vos perdoará os pecados. (S. MARCOS, cap. XI, vv. 25 e 26.) 3. Também disse esta parábola a alguns que punham a sua confiança em si mesmos, como sendo justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu, publicano o outro. - O fariseu, conservando-se de pé, orava assim, consigo mesmo: Meu Deus, rendo-vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana; dou o dízimo de tudo o que possuo. O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, não ousava, sequer, erguer os olhos ao céu; mas, batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador. 38 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Declaro-vos que este voltou para a sua casa, justificado, e o outro não; porquanto, aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado. (S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 9 a 14.) 4. Jesus definiu claramente as qualidades da prece. Quando orardes, diz ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Oral, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau. (Cap. X, nº 7 e nº 8.) Eficácia da prece 5. Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes. (S. MARCOS, cap. XI, v. 24.) 6. Há quem conteste a eficácia da prece, com fundamento no princípio de que, conhecendo Deus as nossas necessidades, inútil se torna expor-lhas. E acrescentam os que assim pensam que, achando-se tudo no Universo encadeado por leis eternas, não podem as nossas súplicas mudar os decretos de Deus. Sem dúvida alguma, há leis naturais e imutáveis que não podem ser ab-rogadas ao capricho de cada um; mas, daí a crer-se que todas as circunstâncias da vida estão submetidas à fatalidade, vai grande distância. Se assim fosse, nada mais seria o homem do que instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a cabeça ao jugo dos acontecimentos, sem cogitar de evitá-los; não devera ter procurado desviar o raio. Deus não lhe outorgou a razão e a inteligência, para que ele as deixasse sem serventia; a vontade, para não querer; a atividade, para ficar inativo. Sendo livre o homem de agir num sentido ou noutro, seus atos lhe acarretam, e aos demais, conseqüências subordinadas ao que ele faz ou não. Há, pois, devidos à sua iniciativa, sucessos que forçosamente escapam à fatalidade e que não quebram a harmonia das leis universais, do mesmo modo que o avanço ou o atraso do ponteiro de um relógio não anula a lei do movimento sobre a qual se funda o mecanismo. Possível é, portanto, que Deus aceda a certos pedidos, sem perturbar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, subordinada sempre essa anuência à sua vontade. 7. Desta máxima: “Concedido vos será o que quer que pedirdes pela prece”, fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para nosso bem. É como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses. Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura. O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante idéias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que se ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: "Ajuda-te, que o Céu te ajudará"; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço. (Cap. XXV, nº 1 e seguintes.) 8. Tomemos um exemplo. Um homem se acha perdido no deserto. A sede o martiriza horrivelmente. Desfalecido, cai por terra. Pede a Deus que o assista, e espera. Nenhum anjo lhe virá dar de beber. Contudo, um bom Espírito lhe sugere a idéia de levantar-se e tomar um 39 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” dos caminhos que tem diante de si Por um movimento maquinal, reunindo todas as forças que lhe restam, ele se ergue, caminha e descobre ao longe um regato. Ao divisá-lo, ganha coragem. Se tem fé, exclamará: "Obrigado, meu Deus, pela idéia que me inspiraste e pela força que me deste." Se lhe falta a fé, exclamará: "Que boa idéia tive! Que sorte a minha de tomar o caminho da direita, em vez do da esquerda; o acaso, às vezes, nos serve admiravelmente! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me ter deixado abater!" Mas, dirão, por que o bom Espírito não lhe disse claramente: "Segue este caminho, que encontrarás o de que necessitas"? Por que não se lhe mostrou para o guiar e sustentar no seu desfalecimento? Dessa maneira tê-lo-ia convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que cada um deve ajudar-se a si mesmo e fazer uso das suas forças. Depois, pela incerteza, Deus põe a prova a confiança que nele deposita a criatura e a submissão desta à sua vontade. Aquele homem estava na situação de uma criança que cai e que, dando com alguém, se põe a gritar e fica à espera de que a venham levantar; se não vê pessoa alguma, faz esforços e se ergue sozinha. Se o anjo que acompanhou a Tobias lhe houvera dito: "Sou enviado por Deus para te guiar na tua viagem e te preservar de todo perigo", nenhum mérito teria tido Tobias. Fiando-se no seu companheiro, nem sequer de pensar teria precisado. Essa a razão por que o anjo só se deu a conhecer ao regressarem. Ação da prece. - Transmissão do pensamento 9. A prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus. 10. O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. E assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados. Essa explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar-lhe inteligíveis os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz. 11. Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustenta-lo em suas boas resoluções e a inspirar-lhe idéias sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao caminho reto, se deste se afastou. Por esse 40 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” meio, pode também desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, vê arruinada a sua saúde, em conseqüência de excessos a que se entregou, e arrasta, até o termo de seus dias, uma vida de sofrimento: terá ele o direito de queixar-se, se não obtiver a cura que deseja? Não, pois que houvera podido encontrar na prece a força de resistir às tentações. 12. Se em duas partes se dividirem os males da vida, uma constituída dos que o homem não pode evitar e a outra das tribulações de que ele se constituiu a causa primária, pela sua incúria ou por seus excessos (cap. V, n~ 4), ver-se-á que a segunda, em quantidade, excede de muito à primeira. Faz-se, portanto, evidente que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, às quais se pouparia, se sempre obrasse com sabedoria e prudência. Não menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas infrações às leis de Deus e que, se as observássemos pontualmente, seríamos inteiramente ditosos. Se não ultrapassássemos o limite do necessário, na satisfação das nossas necessidades, não apanharíamos as enfermidades que resultam dos excessos, nem experimentaríamos as vicissitudes que as doenças acarretam. Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos de temer a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos de recear a queda; se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido; se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos, nem ciosos, e evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém fizéssemos, não houvéramos de temer as vinganças, etc. Admitamos que o homem nada possa com relação aos outros males; que toda prece lhe seja inútil para livrar-se deles; já não seria muito o ter a possibilidade de ficar isento de todos os que decorrem da sua maneira de proceder? Ora, aqui, facilmente se concebe a ação da prece, visto ter por efeito atrair a salutar inspiração dos Espíritos bons, granjear deles força para resistir aos maus pensamentos, cuja realização nos pode ser funesta. Nesse caso, o que eles fazem não é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos a nós do mau pensamento que nos pode causar dano; eles em nada obstam ao cumprimento dos decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da Natureza; apenas evitam que as infrinjamos, dirigindo o nosso livre-arbítrio. Agem, contudo, à nossa revelia, de maneira imperceptível, para nos não subjugar a vontade. O homem se acha então na posição de um que solicita bons conselhos e os põe em prática, mas conservando a liberdade de segui-los, ou não. Quer Deus que seja assim, para que aquele tenha a responsabilidade dos seus atos e o mérito da escolha entre o bem e o mal. E isso o que o homem pode estar sempre certo de receber, se o pedir com fervor, sendo, pois, a isso que se podem sobretudo aplicar estas palavras: "Pedi e obtereis." Mesmo com sua eficácia reduzida a essas proporções, já não traria a prece resultados imensos? Ao Espiritismo fora reservado provar-nos a sua ação, com o nos revelar as relações existentes entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual. Os efeitos da prece, porém, não se limitam aos que vimos de apontar. Recomendam-na todos os Espíritos. Renunciar alguém à prece é negar a bondade de Deus; é recusar, para si, a sua assistência e, para com os outros, abrir mão do bem que lhes pode fazer. 13. Acedendo ao pedido que se lhe faz, Deus muitas vezes objetiva recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Daí decorre que a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus e sempre mais eficácia, porquanto o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que somente nascem do sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, do daquele que apenas de lábios ora, unicamente saem palavras, nunca os ímpetos de caridade que dão à prece todo o seu poder. Tão claramente isso se compreende que, por um movimento instintivo, quem se quer recomendar às preces de outrem fá-lo de preferência às daqueles cujo proceder, sente-se, há de ser mais agradável a Deus, pois que são mais prontamente ouvidos. 41 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 14. Por exercer a prece uma como ação magnética, poder-se-ia supor que o seu efeito depende da força fluídica. Assim, entretanto, não é. Exercendo sobre os homens essa ação, os Espíritos, em sendo preciso, suprem a insuficiência daquele que ora, ou agindo diretamente em seu nome, ou dando-lhe momentaneamente uma força excepcional, quando o julgam digno dessa graça, ou que ela lhe pode ser proveitosa. O homem que não se considere suficientemente bom para exercer salutar influencia, não deve por isso abster-se de orar a bem de outrem, com a idéia de que não é digno de ser escutado. A consciência da sua inferioridade constitui uma prova de humildade, grata sempre a Deus, que leva em conta a intenção caridosa que o anima. Seu fervor e sua confiança são um primeiro passo para a sua conversão ao bem, conversão que os Espíritos bons se sentem ditosos em incentivar. Repelida só o é a prece do orgulhoso que deposita fé no seu poder e nos seus merecimentos e acredita ser-lhe possível sobrepor-se à vontade do Eterno. 15. Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Pode-se, portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A influência do lugar ou do tempo só se faz sentir nas circunstâncias que favoreçam o recolhimento. A prece em comum tem ação mais poderosa, quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo, porquanto é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas, que importa seja grande o número de pessoas reunidas para orar, se cada uma atua isoladamente e por conta própria? Cem pessoas juntas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma mesma aspiração, orarão quais verdadeiros irmãos em Deus, e mais força terá a prece que lhe dirijam do que a das cem outras. (Cap. XXVIII, nº 4 e nº 5.) Fontes de consulta 1. 2. 3. 4. 5. 6. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Pedi e obtereis. FEB 1995. item 05, pág 370; item 7, pág 371; item 9, pág 373; item 11, pág 374; item 23, pág 383; Coletâneas de preces Espíritas, pág 386. Francisco Cândido Xavier. Cartas e Crônicas. As três orações. Pelo Espírito Irmão X. FEB 1974. pág 15. Francisco Cândido Xavier. Ceifa de Luz. Oraremos. Pelo espírito Emmanuel. FEB, 1980. pág 157. Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Ensinamentos. FEB, 1985. Questão 306. pág 179. Francisco Cândido Xavier. Missionários da Luz. A oração. Pelo espírito André Luiz. FEB, 1995. pág 64, 66 e 67. Francisco Cândido Xavier. Rumo Certo. Petição e Resposta. FEB, 1977. pág 71 e 73. 2.4 Sacrifícios, Mortificações e Promessas 718. A lei de conservação obriga o homem a prover às necessidades do corpo? “Sim, porque, sem força e saúde, impossível é o trabalho.” 719. Merece censura o homem, por procurar o bem-estar? “É natural o desejo do bem-estar. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação. Ele não condena a procura do bem-estar, desde que não seja conseguido à custa de outrem e não venha a diminuir-vos nem as forças físicas, nem as forças morais.” 720. São meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias, com o objetivo de uma expiação igualmente voluntária? 42 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “Fazei o bem aos vossos semelhantes e mais mérito tereis.” a) - Haverá privações voluntárias que sejam meritórias? “Há: a privação dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e lhe eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário para dar aos que carecem do bastante. Se a privação não passar de simulacro, será uma irrisão.” 721. É meritória, de qualquer ponto de vista, a vida de mortificações ascéticas que desde a mais remota antigüidade teve praticantes no seio de diversos povos? “Procurai saber a quem ela aproveita e tereis a resposta. Se somente serve para quem a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendam de colori-la. Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade cristã.” 722. Será racional a abstenção de certos alimentos, prescrita a diversos povos? “Permitido é ao homem alimentar-se de tudo o que lhe não prejudique a saúde. Alguns legisladores, porém, com um fim útil, entenderam de interdizer o uso de certos alimentos e, para maior autoridade imprimirem às suas leis, apresentaram-nas como emanadas de Deus.” 723. A alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza? “Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização.” 724. Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação? “Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa.” 725. Que se deve pensar das mutilações operadas no corpo do homem ou dos animais? “A que propósito, semelhante questão? Ainda uma vez: inquiri sempre vós mesmos se é útil aquilo de que porventura se trate. A Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo Lhe será sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam para Ele a alma. Obedecendo-Lhe à lei e não a violando é que podereis forrar-vos ao jugo da vossa matéria terrestre.” 726. Visto que os sofrimentos deste mundo nos elevam, se os suportarmos devidamente, darse-á que também nos elevam os que nós mesmos nos criamos? “Os sofrimentos naturais são os únicos que elevam, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Supões que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos7, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Por que de preferência não trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.” 727. Uma vez que não devemos criar sofrimentos voluntários, que nenhuma utilidade tenham para outrem, deveremos cuidar de preservar-nos dos que prevejamos ou nos ameacem? “Contra os perigos e os sofrimentos é que o instinto de conservação foi dado a todos os seres. Fustigai o vosso espírito e não o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo, que se assemelha a uma serpente a vos roer o coração, e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que já não são deste século.” 7 bonzo: monge budista, esp. das ordens religiosas budistas do Japão e da China; saí 43 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” * * * A palavra sacrifício, etimologicamente, tem o sentido de “fazer alguma coisa sagrada”. No sentido primitivo e unicamente religioso, representa uma oferenda que se faz à divindade, através de rituais. A oferenda pode ser representada por uma pessoa ou animal vivo, ou ainda produtos de colheita vegetal ou outros objetos. É importante que se faça uma diferença entre o conceito religioso que se tem do termo e sua concepção social ou popular. Assim, no aspecto religioso, além da característica do ritual, subentende-se que o sacrifício será consumido pela divindade. O fato de alguém exercer tarefas que certas ceitas ou religiões exigem dos adeptos, como, por exemplo, o pagamento do dízimo, não são sacrifícios, mas regras da prática religiosa. “(...) Raramente é usado em ciências sociais no seu significado popular de renúncia de qualquer coisa de valor em favor de qualquer autoridade superior ou objeto de respeito ou dever. (...) O propósito declarado do sacrifício varia muito entre as diferentes culturas. (...)” Por extensão, o sacrifício pode ser considerado como uma renúncia ou privação voluntária de alguma coisa. Neste sentido, o Espiritismo nos esclarece que as privações voluntárias meritórias seriam representadas pela "(...) privação dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e lhe eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário para dar aos que carecem do bastante (...)”. Portanto, para a Doutrina Espírita, o fazer o bem aos nossos semelhantes, é o maior mérito que as privações voluntárias podem proporcionar. As manifestações dos sacrifícios religiosos estão muito relacionados com as mortificações e penitências. Etnologicamente, mortificar é sinônimo de afligir-se, atormentar-se, inquietar-se ou, ainda, castigar, macerar o próprio corpo com penitências. A mortificação ocorreria devido o arrependimento ou dor do pecado cometido e, em função deste arrependimento, certas autoridades religiosas imporiam uma pena ao arrependido para remissão dos seus pecados. Esta pena poderia ser representada por jejuns, orações, macerações ao próprio corpo e outras tantas mortificações existentes nas manifestações de culto externo. Em Elucidações Evangélicas, Antônio Luiz Sayão ao abordar o tema penitência, traznos luz sobre o assunto que ora estudamos. Segundo Sayão“(...) todos (...) temos que fazer penitência, se não quisermos agravar as nossas culpas e tornar-nos passive! de maiores castigos. Mas, que vem a ser penitência? Pode ela dispensar a expiação e a reparação? (...)." "(...) A penitência, que Jesus aconselhou, não consiste, como se entendeu outrora, na reclusão em claustros, nos cilícios e outras tribulações materiais (...). A penitência a que aludia o divino Mestre é a que constitui meio de tornarmos cada vez menos ásperas, dificultosas e tormentosas as nossas existências na Terra (...). Ela, pois, consiste no arrependimento sincero, profundo, e no propósito firme em que a criatura se coloca de não tornar a cometer as faltas que a arrastaram à mísera condição humana e, ainda, no esforço decidido de as pagar de todo (...)". “(...) O Espírito penitente absorve-se todo na oração e na vigilância que Jesus recomendava e que formam um como antemural às ondas de paixões que nos lançam no abismo do infortúnio (...).” A respeito das mortificações, aconselham-nos os Espíritos da Codificação: “(...) Procurai saber a quem ela aproveita. (...) Se somente serve para quem a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendam de colori-la. Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade cristã. (...)” 44 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “(...) Não enfraqueçais o vosso corpo com privações inúteis e macerações sem objetivo, pois que necessitais de todas as vossas forças para cumprirdes a vossa missão de trabalhar na Terra. Torturar e martirizar voluntariamente o vosso corpo é contravir à lei de Deus, que vos dá meios de o sustentar e fortalecer. Enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. (...)” No intuito de obter favores ou mesmo agradar a Deus ou aos bons Espíritos, algumas pessoas executam determinadas ações ou se impõem certas privações, a que chamam de promessa. Vulgarmente, fazer uma promessa significa, pois, voto feito para obter alguma graça. Etimologicamente, promessa “(...) significa ação ou efeito de prometer; afirmativa de que se há de dar ou fazer alguma coisa (...).” As promessas tiveram uma razão de ser, devido à falta de esclarecimento espiritual das pessoas que as praticavam. “(...) Já vai distante o tempo das supersticiosas imposições da teocracia; (...) ao seu reinado sucedeu o império da inteligência e da razão (...) únicos fundamentos inabaláveis da fé esclarecida e ativa. Sim, passou o tempo da fé cega. Os crentes, os verdadeiros crentes, se formam (...) pelo exercício livre do pensamento, pelo estudo, pela observação, pela investigação, pela análise. (...)” Em suma, o que se conclui é que os sacrifícios, mortificações e promessas são manifestações materiais, de culto externo, exercidas por pessoas ainda distantes das verdades espirituais. Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Privações voluntárias. FEB 1994. Questão 720, 721 e 726, pág 343 e 344. 2. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. O Verdadeiro cilício. FEB, 1995. item 26, pág 121. 3. Antônio Luiz Sayão. Elucidações Evangélicas. FEB, 1983. Fazer penitência, pág 143, 144, 145. Escribas e fariseus hipócritas, pág. 465. 3. Amor ao próximo: 3.1 A Caridade "(...) em todos os tempos, há exércitos de criaturas que ensinam a caridade, todavia, poucas pessoas praticam-na verdadeiramente. Torquemada8, organizando os serviços da Inquisição, dizia-se portador da divina virtude. A caminho de terríveis suplícios, os condenados eram compelidos a agradecer os verdugos. Muitos deles, em plena fogueira ou atados ao martírio da roda, acicatados pela flagelação da carne, eram obrigados a louvar, de mãos postas, a bondade dos inquisidores que os ordenava morrer. Essa caridade religiosa era irmã da caridade filosófica da Revolução Francesa. (...)” Evidentemente que não é neste sentido que "Allan Kardec, depois de aprofundar a meditação em torno dos ensinos dos Espíritos Superiores, que se apoiavam nas claras lições do Evangelho, concluiu com sabedoria que “Fora da caridade não há salvação”, dando início a uma nova concepção religiosa. (...)” 8 Código da Torquemada = regras da Inquisição. 45 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “(...) na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. (...) Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. (...)” Para fim de estudo é preciso que se estabeleça a diferença entre caridade, esmola e filantropia. A resposta à questão 886 de O Livro dos Espíritos fala-nos a respeito do "(...) verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus (...)”, ou seja, “(...) Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. (...) A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer (...). O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa. (...)” A caridade sendo “(...) Virtude por excelência constitui a mais alta expressão do sentimento, sobre cuja base as construções elevadas do Espírito encontram firmeza para desdobrarem atividades enobrecidas em prol de todas as criaturas. Vulgarmente confundida com a esmola – essa dádiva humilhante do que sobeja e representa inutilidade – a caridade excede, sobre qualquer aspecto considerada, as doações externas com que se supõe em tal atividade encerrá-la. (...)” “(...) Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. (...) Não que a esmola mereça reprovação, “(...) mas a maneira por que habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão. (...)” Sem dúvida, valioso é todo gesto de generosidade, quando consubstanciado em dádiva oportuna ao que padece tal ou qual aflição (...). Entretanto, a caridade que se restringe às oferendas transitórias, não poucas vezes pode ser confundida com filantropia, esse ato de amor fraterno e humano que identifica certos homens ao destinarem altas somas que se aplicam em obras de incontestável valor, financiando múltiplos setores da Ciência, da Arte, da Higiene, do Humanismo... Henry Ford, John Rockefeller (...) foram filantropos eméritos a cuja contribuição a Humanidade deve serviços de inapreciável qualidade (...). Vicente de Paulo, Damien de Veuster, João Bosco e tantos outros, todavia, se transformaram em apóstolos da caridade, pois que nada possuindo entre os valores transitórios do dinheiro e do poder, ofertaram tesouros de amor e fecundaram, em milhões de vidas, o pólen da esperança, da saúde, da alegria de viver (...). Para a legítima caridade é imprescindível a fé (...). A caridade é sobretudo cristã (...). A filantropia, não obstante o valioso tributo de que se reveste, independe da fé, não se caracteriza pelo sentimento cristão, é irreligiosa, brotando em qualquer indivíduo (...)”. A caridade bem sentida e vivida estabelece verdadeira fraternidade entre os homens, visto que todos somos filhos de um mesmo Pai e, do mesmo jeito que os Espíritos superiores nos amparam e nos sustentam nas lutas humanas, devemos, por nossa vez, amparar aqueles nossos irmãos de humanidade, considerados criminosos. Devemos “(...) amar os desgraçados, 46 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” os criminosos, '*' como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos (...)”, mais cedo ou mais tarde, pelo Senhor, quando se arrependerem das suas faltas. Evitemos as ações cometidas por esses companheiros ajudando-os naquilo que nos for possível, porque a caridade que Jesus ensinou, e que o Espiritismo corrobora, deve ser impregnada de indulgência e benevolência para com as faltas do próximo. De conformidade com os ensinamentos evangélicos, devemos amar e orar pelos caídos, por aqueles que se embrutecem e retardam sua evolução espiritual às custas de atos criminosos. Finalmente, devemos ver os criminosos como doentes, que necessitam do nosso amor e da nossa piedade. Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Caridade e amor do próximo. FEB 1994. Questão 886 e comentário, 888, pág 407 e 408. 2. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Amar o próximo como a si mesmo. FEB, 1995. item 14, pág 193. Fora da caridade não há salvação. Item 10, pág 251. 3. Divaldo Pereira Franco. Dimensões da Verdade. Caridade e Doutrina Espírita. Pelo Espírito de Joanna de Angelis. Salvador, BA Alvorada 1977, pag 122. 4. Divaldo Pereira Franco. Estudos Espíritas. Caridade. Pelo Espírito de Joanna de Angelis. Rio de Janeiro, FEB 1995, pág 121-122. 5. Francisco Cândido Xavier. Pérolas do Além. Caridade. Rio de Janeiro. FEB, 1972. págs 40-41. 6. Francisco Cândido Xavier. Vinha de Luz. Caridade Essencial. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro. FEB, 1987. pág. 234. 3.2 Amor Materno e Amor Filial “O coração materno é uma taça de amor em que a vida se manifesta no mundo. Entretanto, quão grave é o oficio da verdadeira maternidade!... Levantam-se monumentos de progresso entre os homens e devemo-los, em grande parte, às mães abnegadas e justas, mas erguem-se penitenciárias sombrias e devemo-las, na mesma proporção, às mães indiferentes e criminosas.” “A Natureza deu à mãe o amor a seus filhos no interesse da conservação deles. No animal, porém, esse amor se limita às necessidades materiais; cessa quando desnecessário se tornam os cuidados. No homem, persiste pela vida inteira e comporta um devotamento e uma abnegação que são virtudes. Sobrevive mesmo à morte e acompanha o filho até no alémtúmulo.” Daí se compreender que o amor maternal está nas leis da natureza mas, sem sombras de dúvida, a missão materna nem sempre é um mar de rosas, sendo, ao contrário, tarefa espinhosa onde a renúncia e as lágrimas fazem moradia. Isto porque "Habitualmente, renascem juntos, sob os elos da consangüinidade, aqueles que ainda não acertaram as rodas do entendimento, no carro da evolução, a fim de trabalharem com o abençoado buril da dificuldade sobre as arestas que lhes impedem a harmonia. Jungidos à máquina das convenções respeitáveis, no instituto familiar, caminham, lado a lado, sob os aguilhões da responsabilidade e da convivência compulsória para sanarem velhas feridas imanifestas. 47 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Existem pais que não toleram os filhos e mães que se voltam contra os próprios descendentes. Há filhos que se revelam inimigos dos progenitores e irmãos que se exterminam dentro do magnetismo degenerado da antipatia congênita”. A missão materna reveste-se assim de encargos sublimes, sobretudo nesses lares onde Espíritos antagônicos, senão inimigos, se encontram temporariamente unidos pelos laços do parentesco físico. “A maternidade exige e desenvolve a sensibilidade, a ternura, a paciência, aumentando a capacidade do amor na mulher.” “(...) No ambiente doméstico, o coração maternal deve ser o expoente divino de toda a compreensão espiritual e de todos os sacrifícios pela paz da família. A missão materna resume-se em dar sempre o amor de Deus. Nos labores do mundo, existem aquelas que se deixam levar pelo egoísmo do ambiente particularista; contudo, é preciso acordar a tempo, de modo a não viciar a fonte da ternura. A mãe terrestre deve compreender, antes de tudo, que seus filhos, primeiramente, são filhos de Deus. Desde a infância, deve prepará-los para o trabalho e para a luta que os esperam. Desde os primeiros anos deve ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concertando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. Ensinará a tolerância mais pura, mas não desdenhará a energia quando seja necessária. Sacrificar-se-á de todos os modos ao seu alcance pela paz dos filhos, ensinando-lhes que toda dor é respeitável, que todo trabalho edificante é divino, e que todo desperdício é falta grave. Ensinar-lhes-á o respeito pelo infortúnio alheio. Será ela no lar o bom conselho sem parcialidade, o estímulo do trabalho e a fonte de harmonia para todos. Buscará na piedosa Mãe de Jesus o símbolo das virtudes cristãs.” Com relação à piedade filial lembramos que “O mandamento: "Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo; mas, o termo honrai encerra um dever a mais: o da piedade filial. Honrar a seu pai e a sua mãe, não consiste apenas em respeitá-los; é também assisti-los na necessidade; é proporcionar-lhes repouso na velhice; é cercá-los de cuidados como eles fizeram conosco, na infância.” Basicamente, duas causas determinam a ingratidão dos filhos para com os pais: aquelas devidas às imperfeições dos filhos e aquelas outras referentes às falhas dos pais. “Com a desagregação da família, que se observa generalizada na atualidade, a ingratidão dos filhos torna-se responsável pela presença de vários cânceres morais, no combalido organismo social, cuja terapia se apresenta complexa e difícil. Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério em relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo podem, se rebelam contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão. Muitos progenitores, igualmente, imaturos que transitam no corpo açulados pelo tormento de prazeres incessantes – que os fazem esquecer as responsabilidades junto aos filhos para os entregarem aos servos remunerados, enquanto se corrompem na leviandade –, respondem pelo desequilíbrio e desajuste da prole, na desenfreada competição da utópica e moderna sociedade. Todavia, filhos há que receberam dos genitores as mais proliferas demonstrações e testemunhos de sacrifício e carinho, aspirando a um clima de paz, de saúde moral, de equilíbrio doméstico, nutridos pelo amor sem fraude e pela abnegação sem fingimentos, e revelam-se, de cedo, frios, exigentes e ingratos.” 48 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Em suma, “a família é o núcleo de maior importância no organismo social. Santuário dos pais, escola dos filhos, oficina de experiências o lar é a mola mestra que aciona a humanidade.” Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Da lei de justiça, de amor e de caridade. FEB 1994. Questão 890, pág 410. 2. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Honrai o vosso pai e a vossa mãe. FEB, 1995. item 3, pág 233-234. 3. Divaldo Pereira Franco. Após a Tempestade. Filhos ingratos. Pelo espírito de Joanna de Angelis. Salvador, BA. Alvorada, 1974. pág 32-33. 4. Divaldo Pereira Franco. Luz Viva. Feminismo. Pelo espírito de Joanna de Angelis. Salvador, BA. Alvorada, 1984. pág 55. 5. Divaldo Pereira Franco. Terapêutica de Emergência. Criança e família. Por diversos espíritos. Salvador, BA. Alvorada, 1983. pág. 58. 6. Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Dever. Pelo espiritode Emmanuel. Rio de Janeiro. FEB, 1985. Questão 189, págs 114-115. 7. Francisco Cândido Xavier. Luz no Lar.. Por diversos espíritos. Rio de Janeiro. FEB, 1991. Angústia materna. pág 15. No reino doméstico. Pág 24. 3.3 Respeito às Leis, às Religiões e aos Direitos Humanos Falou-nos Jesus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” – João. Neste ensinamento está resumida a lei de Justiça, de Amor e de Caridade. Com a prática deste ensinamento evangélico, os homens se respeitariam mutuamente, os vínculos sociais entre as criaturas seriam mais consolidados, as leis mais justas, a convivência humana mais pacifica. Não haveria desrespeito algum entre os homens, cada qual compreenderia os seus direitos, os seus limites de liberdade, professariam a crença para a qual estivessem inclinados sem embargarem ou criticarem a crença dos demais, executariam as leis e normas que regem a vida em sociedade com precisão e naturalidade, ou seja, a lei de justiça estaria sendo aplicada em sua plenitude. Tudo isto ocorreria, e muitas outras coisas mais, se nos amássemos uns aos outros. Num sentido amplo, tal não acontece, infelizmente, e, por este motivo, ainda existe tanto desrespeito às leis e aos direitos humanos. Segundo os Espíritos da Codificação “A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais”, acrescentando que duas coisas determinam esses direitos: “a lei humana e a lei natural.” Isto porque "Tendo os homens formulado leis apropriadas a seus costumes e caracteres, eles estabeleceram direitos mutáveis com o progresso das luzes.” Uma lei aplicada à sociedade vivente, por exemplo, na Idade Média, pareceria, nos dias atuais, algo inconcebível, apesar de ser justa e natural naquela época. “Nem sempre, pois, é acorde com a justiça o direito que os homens prescrevem. Demais, esse direito regula apenas algumas relações sociais, quando é certo que, na vida particular, há uma imensidade de atos unicamente da alçada do tribunal da consciência.”Isto no que diz respeito à lei humana; com relação à lei natural disse-nos, igualmente, Jesus: "Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva 49 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.” Perante as leis, as religiões e demais direitos humanos devemos, sempre, agir cordialmente com respeito e fraternidade legitimas.“Respeitar as idéias e as pessoas de todos os nossos irmãos, sejam eles nossos vizinhos ou não, estejam presentes ou ausentes, sem nunca descer ao charco da leviandade que gera a maledicência. Quem reprova alguém conosco, decerto que nos reprova perante alguém.” “Suprimir toda critica destrutiva na comunidade em que aprende e serve”. A seara de Jesus pede trabalhadores decididos a auxiliar. “Perdoar sempre as possíveis e improcedentes desaprovações sociais à sua fé, confessando, quando preciso for, a sua qualidade religiosa, principalmente através da boa reputação e da honradez que lhe exornam9 o caráter. Cada Espírito responde por si mesmo. ” Cooperar com os poderes constituídos e as organizações oficiais, empenhando-se desinteressadamente na melhoria das condições da máquina governamental, no âmbito dos próprios recursos.” “Estimar e reverenciar os irmãos de outros credos religiosos.” Em nenhuma circunstância, pretender conduzir alguém ou alguma instituição, dessa ou daquela prática religiosa, à humilhação e ao ridículo.” Com relação à fé religiosa das pessoas “Ninguém pensa em lhes violentar a crença; concordem, pois, em respeitar a dos outros.” Podemos então concluir que as causas que geram os desrespeitos humanos são aquelas vinculadas à própria imperfeição humana. São aquelas que obstaculizam o progresso, como o orgulho e o egoísmo e todas as demais paixões e imperfeições características de Espíritos em vias de melhoria moral. À medida que o homem progride moralmente amplia sua liberdade e cresce-lhe o senso de responsabilidade, isto porque, “A responsabilidade resulta do amadurecimento pessoal em torno dos deveres morais e sociais, que são a questão matriz fomentadora dos lídimos direitos humanos.” Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Introdução. FEB 1994. Item 8, pág 31; Da lei do Progresso. Questão 785, pág 365; Da Lei da Justiça. Questão 874 a 876, pág 403 a 404. 2. Novo Testamento. A Bíblia Sagrada. João 13:35. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro. Imprensa Bíblica Brasileira, 1980. pág 125. 3. Divaldo Pereira Franco. Leis Morais da Vida. Direito de liberdade. Pelo espírito de Joanna de Ângelis. Salvador. Alvorada, 1994. pág. 184 4. Waldo Vieira. Conduta Espírita. Pelo espírito de André Luiz. Na Sociedade. Pág. 43-44; Perante os companheiros. Pág 77-79; Perante os profitentes de outras religiões. Pág 87-88; Perante a Pátria, pág 111. FEB 1991. 9 Exornar: Ornar muito; enfeitar, ataviar, engalanar. 50 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 4. A Perfeição Moral 4.1 Os caracteres da Perfeição. Obstáculos à Perfeição Caracteres da perfeição 1. Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. - Porque, se somente amardes os que vos amam que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos10? - Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? - Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial. (S. MATEUS, cap. V, vv. 44, 46 a 48.) 2. Pois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: "Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial", tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa nuança, pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar. Aquelas palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a Humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: "Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem." Mostra ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes. Com efeito, se se observam os resultados de todos os vícios e, mesmo, dos simples defeitos, reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou menos o sentimento da caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, que lhes são a negação; e isso porque tudo o que sobreexcita o sentimento da personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento. Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre, portanto, indício de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na 10 Publicanos. - Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavalheiros arrendatários das taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em Roma mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como os arrendatários gerais e arrematadores de taxas do antigo regímen na França e que ainda existem nalgumas legiões. Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se por vezes: “Ávido como um publicano, rico como um publicano", com referência a riquezas de mau quilate. De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram e o que mais irritação causou entre eles. Dai nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso uma questão religiosa, por ser considerada contrária à Lei. Constituiu-se, mesmo, um partido poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita, tendo por principio o não pagamento do imposto, Os judeus, pois, abominavam a este e, como consequência, a todos os que eram encarregados de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas as categorias, entre os quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham relações, os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque consideravam um comprometimento ter com eles intimidade. 51 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” razão direta da sua extensão. Foi por isso que Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que tem de mais sublime, lhes disse: "Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial." O homem de bem 3. O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem. Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas. Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais. Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar. Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça. Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa. O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus. Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam. Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor. Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado. É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: "Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado." Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal. Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera. Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros. Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado. Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicalo à satisfação de suas paixões. 52 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram. O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº 9.) Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus. Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz. Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Sede Perfeitos. FEB 1995, Capítulo 17, itens 1 a 3 e 8. 2. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. FEB, 1994. Questões 893, 895, 896, 907, 908 e 917. 3. Francisco Cândido Xavier. Religião dos Espíritos. Pelo Espírito de Emmanuel. O homem bom. FEB 1993. 9 ed. Pág. 123. 4.2 Cuidados com o Corpo e com o Espírito Freqüentemente ouvimos a expressão a carne é fraca, atribuindo ao corpo as atitudes infelizes que proporcionaram certas quedas morais. E, por este fato, há quem procure enfraquecer ou flagelar o corpo “(...) a pretexto de evitar tentações." Não constituirá na maceração do corpo a perfeição moral. Uma coisa não leva a outra, evidentemente. No entanto, sabe-se que o cuidado com o corpo, promovendo a saúde e evitando enfermidades, “influi de maneira muito importante sobre a alma. Para que essa prisioneira viva se expanda e chegue mesmo a conceber as ilusões da liberdade, tem o corpo de estar são, disposto, forte.” “No corpo humano, temos na Terra o mais sublime dos santuários e uma das supermaravilhas da Obra Divina. Da cabeça aos pés, sentimos a glória do Supremo Idealizador que, no curso incessante dos milênios, organizou para o Espírito em crescimento o domicílio de carne em que a alma se manifesta.” É verdade que “Isolado na concha milagrosa do corpo, o Espírito está reduzido em suas percepções a limites que se fazem necessário. Visão, audição, tato, padecem enormes restrições. O cérebro físico é gabinete escuro, proporcionando-lhe ensejo de recapitular e reaprender. Conhecimentos adquiridos e hábitos profundamente arraigados nos séculos ai jazem na forma estática de intuições e tendências. Dentro da grade dos sentidos fisiológicos, porém, o Espírito recebe gloriosas oportunidades de trabalho no labor de auto-superação." 53 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” Precisa-se compreender que o corpo é o instrumento de manifestação do Espírito. Não é o corpo que é fraco, quando das quedas morais e, sim, o Espírito. Para a psicologia antiga o ser pensante achava-se isolado do corpo. “A Psicologia moderna vai mais longe. A sua metodologia avançada estuda racionalmente todos os problemas da personalidade humana, unindo os elementos materiais e espirituais. O corpo nada mais é que o instrumento passivo da alma, e da sua condição perfeita depende a perfeita exteriorização das faculdades do Espírito. Da cessação da atividade deste ou daquele centro orgânico, resulta o término da manifestação que lhe é correspondente: dai provém toda a verdade da “mens sana” e o grande subsídio que a psicologia moderna fornece aos fisiologistas como guia esclarecedor da patogenia11. O corpo não está separado da alma; é a sua representação. As suas células são organizadas segundo as disposições perispiríticas dos indivíduos, e o organismo doente retrata um Espírito enfermo" “No que se refere ao carpo são, o atletismo tem papel importante e seria de ação das mais edificantes no problema da saúde física, se o homem na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia12 ou pelas competições estranhas dos grupos sectários, desviando de suas nobres finalidades um dos grandes movimentos coletivos em favor da confraternização e da saúde. Bastará essa observação para compreendermos que a mentalidade sadia somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.” “O homem tem o dever de velar pela conservação do seu ser. É esta urna lei absoluta, que não lhe é dado ab-rogar. Mas, não lhe assiste o direito de sacrificar ao supérfluo os cuidados que o Espírito requer. Disse Jesus: “Nem só de pão vive o homem”. Saibamos, portanto, aliar o cuidado de que necessita o nosso corpo aos que o nosso Espírito reclama. Uns e outros podem emparelhar, sem prejuízo algum, desde que sejam atendidos com critério.” Amemos, pois, a nossa alma, porém, cuidemos igualmente do nosso corpo, instrumento daquela. “Desatender as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus.” Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cuidar do corpo e do Espírito. FEB, 1993. Capítulo 17, item 11. 2. Antônio Luiz Sayão. Elucidações Evangélicas. Lucas (X, 38 - 43FEB, 1993. pág. 459. 3. Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Pelo Espírito de Emmanuel. Vida Aprendizado. FEB, 1995. Questão 127, pág. 81. 4. Francisco Cândido Xavier. Emmanuel. Pelo Espírito de Emmanuel. 9ed. FEB, 1981, pág. 184. 11 Patogenia – A parte da Patologia que estuda a origem das doenças. Patologia– Parte da medicina que tem por objeto o conhecimento da origem, sintomas e natureza das doenças. 12 Eugenia – É o conjunto de métodos que visam melhorar o patrimônio genético de famílias, populações ou da humanidade. 54 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 5. Francisco Cândido Xavier. Livro Esperança. Pelo Espírito de Emmanuel. 4 ed. CEC, 1973. pág. 49. 6. Francisco Cândido Xavier. Roteiro. Pelo Espírito de Emmanuel. 5ed. FEB, 1980. No plano carnal. pág 15-16 e O Santuário Sublime. pág. 20-21. 7. Eurípedes Kuhl,. Genética e Espiritismo. A Genética e as raças humanas. Rio de Janeiro: FEB, 1996. Pág. 63. 4.3 Conduta Espírita: Vivência Evangélica Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo” Mateus, 11 : 28 a 30 “O Espiritismo tem por escopo imediato e essencial a transformação moral do homem para melhor, porquanto lhe faculta uma identificação perfeita com os objetivos reais da vida, que se estendem alem dos frágeis limites orgânicos. Informado e convicto de que a vida, na Terra, constitui uma experiência evolutiva, por cujo meio aprimora os sentimentos, o homem lapida as arestas morais, ressarce os gravames decorrentes da invigilância, candidatando-se a futuros renascimentos abençoados, através da realização benéfica de um comportamento salutar e correto.” “O precioso legado com que Allan Kardec brindou a Humanidade em nome de Jesus, preparando um futuro melhor, deve ser preservado mesmo que sob o sacrifício dos verdadeiros espíritas.” “Estudar Kardec para conhecer e divulgar o Espiritismo, é o compromisso de hoje, que nos devemos impor os encarnados e os desencarnados. Doutrina Espírita, na visão de Allan Kardec, é compromisso superior para com a vida, mediante o respeito à vida, numa conduta viva e atuante quanto exemplar. Eis por que Espiritismo e Cristianismo são termos da mesma equação da vida. A investigação da imortalidade sem a filosofia estruturada na moral cristã, não vai além de quesito parapsicológico, destituído de ética, qual ocorreu com a pesquisa metapsíquica13 ora relegada a plano secundário. Por sua vez, a filosofia sem o apoio do fato mediúnico torna-se expressão espírita sem Espíritos, corpo sem alma... Conhecer, portanto, Allan Kardec para melhor se compreender Jesus.” Com a chegada de Allan Kardec e com o Espiritismo, renasceu o Cristianismo primitivo, restabeleceram-se as comunicações espirituais e a revelação estuou14 no mundo das letras, das artes, da filosofia, da ciência e da fé.” "O Espiritismo, dispõe de todos os elementos para repetir o Cristianismo, ao mesmo tempo avançar com a Ciência e a Tecnologia, numa extraordinária aliança da fé com a razão, com o conhecimento e a experiência de laboratório." 13 Metapsíquica - Ver parapsicologia. Parapsicologia - Estudo de certos fenômenos psíquicos de natureza especial e ditos ocultos (telepatia, previsão etc.); metapsíquica. 14 Estuar - 1 Agitar-se, ferver: No auge do entusiasmo, o sangue lhe estuava nas veias. Ao pé da cratera as lavas estuam. vint 2 Agitar-se como ondas: A enorme multidão estuava. vint 3 Agitar-se em ondas (o mar). 55 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” “A missão do espiritismo é a do Consolador, que permanecerá entre os homens de sentimento e de razão equilibrados, impulsionando a mentalidade do mundo para uma esfera superior.” “(...) O Espiritismo evangélico é o Consolador prometido por Jesus, que, pela voz dos seres redimidos, espalham as luzes divinas por toda a Terra, restabelecendo a verdade e levantando o véu que cobre os ensinamentos na sua feição de Cristianismo redivivo, a fim de que os homens despertem para a era grandiosa da compreensão espiritual com o Cristo.” “Grande contingente de estudiosos das teses espiritistas pleiteia agora uma situação especial de evidência para o Espiritismo estritamente científico, pugnando pelo esquecimento dos tesouros evangélicos. Alguns vão ao extremo de condenar a prática da prece. A invocação dos ensinamentos do Cristo provoca-lhes estranheza ao coração. São discípulos que esqueceram suas origens, olvidando o carinho das mãos dedicadas que lhes guiaram os passos vacilantes do princípio. Querem fenômenos e prosélitos.” “É certo que ninguém poderá excluir as características cientificas no exame transcendente do intercâmbio entre os vivos da Terra e os vivos do Infinito. Toda indagação séria é justa e toda análise conscienciosa produzirá os frutos doces da verdade. A grande questão de todos os tempos não é propriamente a de conhecer, mas a de entender a finalidade do conhecimento. O Espiritismo constitui a porta da esperança para um mundo melhor, Seus fenômenos representam chamamentos comuns para urna compreensão mais elevada dos valores da vida. (...) Sua expressão religiosa com o Cristo tem no Evangelho os primórdios eternos. Nada poderá realizar de substancialmente útil, sem aquele Divino Amigo dos homens.” “A realização cristã, que é o primeiro programa do Espiritismo santificante, não se conquista tão só com as rotulagens cientificas e deduções filosóficas, mais ou menos brilhantes. A inquietação tem sido um mal de todos os séculos. De nossos núcleos, temos de afirmar que, sem a sintonia com o Cristo, qualquer edificação será inútil.” O Espiritismo com Jesus representa “um socorro do Céu, uma ressurreição das coisas mortas e esquecidas. E uma nova floração do pensamento do Mestre, aformoseada, enriquecida, restituída à plena luz pelos cuidados dos Espíritos celestes”. Ao concluir o último roteiro deste Programa da Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, fica-nos a certeza de que ser espírita, na legitima acepção do termo, é ser cristão, entendendo e vivenciando os ensinos de Jesus. E neste instante, recordamos quão sábias e atuais são as palavras de O Espírito de Verdade: – “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade15.” Fontes de consulta 1. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Prefacio, Pág. 23.O Cristo Consolador, pág. 130, cap. VI, item 05. FEB, 1995. 2. Léon Denis. Cristianismo e Espiritismo. Renovação. FEB, 1978. pág. 256. 15 Impiedade - 1 Qualidade de ímpio. 2 Falta de piedade. 3 Ato ou expressão ímpia. 4 Irreligiosidade, descrença. 5 Crueldade, desumanidade. 56 CENTRO ESPÍRITA “CASA DO CAMINHO” GRUPO DE ESTUDOS ESPÍRITAS “RODOLPHO DOS SANTOS FERREIRA” 3. Divaldo Pereira Franco. Seara do Bem. Por diversos Espíritos. Salvador, BA. Alvorada, 1984.. Vitória do Espiritismo, pág 90 e 91. Jesus e Kardec sempre, pág 95 a 97. 4. Divaldo Pereira Franco. Sementes de Vida Eterna. Por diversos Espíritos. Grandeza do Espiritismo. Alvorada, 1978. pág. 113. 5. Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Pelo Espírito de Emmanuel. Espiritismo. Fé. FEB, 1995. Questão 352, pág 199. 6. Francisco Cândido Xavier. Dicionário da Alma. Por diversos autores. Espiritismo. FEB, 1979, pág 149. 7. Francisco Cândido Xavier. Palavras de Emmanuel. Por Emmanuel. Espiritismo – Espiritualismo e Evangelho. FEB, 1978.Pág. 84. 8. Francisco Cândido Xavier. Pontos e Contos. Pelo Espírito Irmão X. Espiritismo cientifico apenas? 1979. Pág. 141 a 144. 57