EXPERIÊNCIAS INCLUSIVAS NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE ITATIAIA: ASPECTOS DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO PEDAGÓGICA CAROLINE V. DE C. G. DOS SANTOS [email protected] SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE ITATIAIA RESUMO A inclusão de pessoas com deficiência no cenário atual tem movimentado fortes discussões no campo educacional, pois pensar uma educação para todos baseada no princípio igualdade de direitos e de valorização das diferenças no espaço escolar ainda apresenta-se como um grande desafio. Reconhecendo a evolução da educação voltada a pessoas com deficiência e acentuando a importância de uma educação comprometida com o princípio de inclusão, organizar uma educação que atenda as necessidades específicas de cada aluno com deficiência requer uma gestão comprometida em aceitar a diversidade e que busque organização que favoreça o acesso, a participação e o sucesso escolar de todos os alunos. Porém, como organizar uma rede municipal de ensino comprometida com a inclusão? Que ações desenvolver? Que programas aderir? E como desenvolver uma proposta pedagógica que reconheça as especificidades dos alunos com deficiência? Como organizar um atendimento educacional especializado que ofereça suporte à inclusão destes alunos no ensino regular? Desta forma, este trabalho tem por objetivo apresentar experiências realizadas na Rede Municipal de Ensino de Itatiaia em seu aspecto de organização e gestão pedagógica para a concretização de uma educação inclusiva. PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva – Organização e Gestão Pedagógica – Experiências Inclusivas. 1 EXPERIÊNCIAS INCLUSIVAS NA REDE MUNICIPAL DE ITATIAIA: CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A inclusão de pessoas com deficiência no cenário atual tem movimentado fortes discussões no campo educacional, pois pensar uma educação para todos baseada no princípio igualdade de direitos e de valorização das diferenças no espaço escolar ainda apresenta-se como um grande desafio. Através de uma reflexão sobre o histórico da educação especial no Brasil e do conhecimento da legislação que norteia esse processo atualmente, é possível compreender a proposta de uma educação inclusiva e adquirir bases legais que fundamentam ações na inclusão de alunos com deficiência. Assim, partindo da história da educação especial, que inicialmente se organizava em atendimentos substitutivos ao ensino regular, é possível perceber a acentuada exclusão de alunos com deficiência em relação à educação, pois estes que só tinham direito educar-se em instituições especializadas, de apoio ou em associações, infelizmente, tal prática partia da tentativa de não abalar a sociedade com o diferente e com o que era complexo de ser entendido. Reconhecendo o direito a educação, buscou-se após este período, incentivar a educação destes alunos na escola regular, porém em classes especiais, onde a exclusão ainda permanecia, e continuava a pautar-se num pressuposto de seleção e segregação. Seguindo esse processo chegou-se ao movimento de integração, onde os alunos com deficiência podiam estar em classes regulares, porém tinham que se adequar às exigências da educação fortemente marcada pela homogeneidade. No contexto atual, a educação voltada para deficientes, deixa de ser especial e passa a ser simplesmente conhecida como “educação”, pautada nos princípios de inclusão, respeito ao próximo e de reconhecimento às diferenças como essência humana e onde, ao invés do aluno se adequar aos parâmetros institucionais da escola, a escola é que deve adequar-se para atender e respeitar suas especificidades, como instituído na Resolução nº 2 de 11 de setembro de 2001: Art 2º Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. [...] 2 Art. 4º Como modalidade da Educação Básica, a educação especial considerará as situações singulares, os perfis dos estudantes, as características bio-psicossociais dos alunos e suas faixas etárias e se pautará em princípios éticos, políticos e estéticos de modo a assegurar: I - a dignidade humana e a observância do direito de cada aluno de realizar seus projetos de estudo, de trabalho e de inserção na vida social; II - a busca da identidade própria de cada educando, o reconhecimento e a valorização das suas diferenças e potencialidades, bem como de suas necessidades educacionais especiais no processo de ensino e aprendizagem, como base para a constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos, habilidades e competências; III - o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capacidade de participação social, política e econômica e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres e o usufruto de seus direitos. Reconhecendo a evolução da educação voltada a pessoas com deficiência e acentuando a importância de uma educação comprometida com o princípio de inclusão, organizar uma educação que atenda as necessidades específicas de cada aluno com deficiência requer uma gestão comprometida em aceitar a diversidade e que busque organização que favoreça o acesso, a participação e o sucesso escolar de todos os alunos. Porém, como organizar uma rede municipal de ensino comprometida com a inclusão? Que ações desenvolver? Que programas aderir? E como desenvolver uma proposta pedagógica que reconheça as especificidades dos alunos com deficiência? Como organizar um atendimento educacional especializado que ofereça suporte à inclusão destes alunos no ensino regular. Desta forma, este trabalho tem por objetivo apresentar experiências realizadas na Rede Municipal de Ensino de Itatiaia em seu aspecto de organização e da gestão pedagógica para a concretização de uma educação inclusiva. ORGANIZAÇÃO DA PROPOSTA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA NA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE ITATIAIA A Secretaria Municipal de Educação de Itatiaia desenvolve seu trabalho na Perspectiva da Educação Inclusiva onde alunos com deficiência possuem sua matrícula garantida na Rede Municipal de Ensino e contam com o Atendimento Educacional Especializado. Este trabalho promove ações na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos e contando com profissionais 3 especializados (professores de AEE, professor de LIBRAS, professor de Braille, Soroban e Orientação e Mobilidade), capacitação de profissionais, materiais e recursos especializados e adesão a programas em parceria com MEC. Assim, o trabalho da Educação Inclusiva acontece em todas as modalidades de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos) e busca o atendimento das necessidades específicas desta demanda Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiências (física, auditiva, intelectual, visual e múltipla), para alunos com Transtornos (Autismo, Psicose Infantil e outros) e AEE – voltado à surdez, AEE – voltado à cegueira e AEE – domiciliar. DADOS SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA REDE MUNICIPAL DE 2009 A 2014 – INFORMAÇÕES DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E RELATÓRIO DE INDICADORES DO MEC Quantitativo de alunos atendidos na Rede Municipal de Educação 2009 79 alunos 2010 142 alunos 2011 168 alunos 2012 154 alunos 2013 161 alunos 2014 155 alunos Quantitativo de Unidades Escolares com o Atendimento Educacional Especializado 2009 11 UEs 2010 12 UEs 2011 14 UEs 2012 15 UEs 2013 15 UEs 2014 16 UEs Quantitativo de profissionais voltados ao Atendimento Educacional Especializado 2009 12 professores para atendimento em todas as modalidades e deficiências 2010 13 professores para atendiment o em todas as modalidade s e deficiências 2011 17 profissionais: 2012 20 profissionais: 2013 22 profissionais: 2014 28 profissionais: 15 professores para atendimento em todas as modalidades e deficiências 15 professores para atendimento em todas as modalidades e deficiências 15 professores para atendimento em todas as modalidades e deficiências 16 professores para atendimento em todas as modalidades e deficiências 1 professor 1 professor 2 professores 1 professor específico específico específicos específicos para alunos para alunos para alunos para alunos 4 com com com com deficiência deficiência deficiência deficiência – visual – visual – visual – visual cegueira cegueira cegueira cegueira 1 intérpreteem Libras 1 professora 1 professora 1 professora para curso de para ensino para ensino da Libras da Libras Libras 1 intérprete 1 intérprete 2 intérprete em Libras em Libras em Libras 2 cuidadores 3 cuidadores 8 cuidadores MATRÍCULA DE ALUNOS PÚBLICO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO EDUCACENSO Os alunos com deficiência possuem matrícula prioritária desde a educação infantil e contam com atendimento educacional especializado no mesmo turno e/ou no turno oposto ao da escolarização. 5 PROGRAMA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS/ KITS DE ATUALIZAÇÃO O Programa Sala de Recursos Multifuncionais disponibiliza as escolas públicas de ensino regular, conjunto de equipamentos de informática, mobiliários, materiais pedagógicos e de acessibilidade para a organização do espaço de atendimento educacional especializado. Cabe ao sistema de ensino, a seguinte contrapartida: disponibilização de espaço físico para implantação dos equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos de acessibilidade, bem como, do professor para atuar no AEE. PROGRAMA ESCOLA ACESSÍVEL O programa Escola Acessível promove a adequação de prédios escolares e a aquisição de materiais de tecnologia assistiva, visando promover um ambiente acessível para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Com o PDE o programa passa a ser executado por meio do PDDE. 6 PROGRAMA CAMINHO DA ESCOLA - TRANSPORTE ESCOLAR ACESSÍVEL Este programa ter por finalidade a promoção da inclusão escolar por meio da garantia das condições de acesso e permanência na escola de alunos com deficiência física, cadeirantes, desta forma, este transporte conta com rampa elevatória e porta adaptada para eliminação das barreiras que impedem a autonomia destes. ¹http://painel.mec.gov.br/painel/detalhamentoIndicador/detalhes/municipio/muncod/3302254, acesso em 07/09/2014, 10:24 7 3. GESTÃO PEDAGÓGICA – O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO COMO SUPORTE A INCLUSÃO ESCOLAR E EXPERIÊNCIAS INCLUSIVAS Considerando o princípio de inclusão, alunos com deficiência estão matriculados no ensino regular e contam com o atendimento educacional especializado. Para uma gestão pedagógica de qualidade, a rede municipal de ensino investe ainda, na formação dos profissionais, nos momentos de reuniões por setores e na busca de parcerias para experiências com outras realidades. ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO O Atendimento Educacional Especializado estrutura-se como suporte ao trabalho desenvolvido em sala de aula regular e é responsável pela disponibilização recursos e estratégias que visem a acessibilidade e autonomia do aluno no espaço escolar. Segundo o Decreto nº 6.571/ 2008, art.1º o Atendimento Educacional Especializado é definido como um “conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular”. Assim, o Atendimento Educacional Especializado tem por função a identificação, elaboração e organização de recursos pedagógicos e de acessibilidade que visam à eliminação de barreiras que possam impossibilitar a plena participação dos alunos com deficiência. Diferentes das atividades desenvolvidas em sala regular, este atendimento não substitui a escolarização do aluno, mas deve contribuir para a inserção do aluno na rotina da sala de aula e considerando sua singularidade para o estabelecimento de estratégias que rompam as barreiras que os limitam no seu processo de aprendizagem. Fazem parte do universo de trabalho voltado a Educação Inclusiva e ao fortalecimento do AEE na Rede Municipal de Ensino, as seguintes ações: • Reuniões com os professores de AEE e grupos de estudo As reuniões tem por objetivo a orientação e o acompanhamento das ações voltadas ao AEE e os grupos de estudo tem por objetivo o fortalecimento da bagagem pedagógica do professor 8 • Acompanhamento Escolar e reuniões com equipe diretiva e pedagógica de todos dos segmentos O acompanhamento escolar tem por objetivo a orientação sobre o trabalho de inclusão desenvolvido na rede e ainda, orientações à equipe escolares quanto a adaptações curriculares. • Promoção de cursos e capacitações Os cursos e capacitações são oferecidos pela SME (Programa de Formação Continuada da Rede Municipal), desenvolvidos em parceria com Institutos e ainda, oferecidos por universidades federais na modalidade à distância. • Participação de membro da Secretaria Municipal de Educação no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência Participação de membros da gestão no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Necessidades Especiais que tem por diretriz o Desenvolvimento de uma Política Pública Municipal voltada as pessoas com necessidades especiais no município de Itatiaia. • Desenvolvimento de Projetos que visem a inclusão – Projeto de Libras nas Escolas O Projeto tem por objetivo o ensino e a divulgação da LIBRAS nas escolas onde possuem demanda de alunos com surdez. O curso é ministrado por professora de AEE especializada na área de surdez e é formado por alunos surdos e ouvintes. As ações acima podem ser ilustradas nas fotos abaixo que apresentam algumas experiências realizadas na rede municipal, seja no espaço escolar ou em atividades desenvolvidas no município. 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensar nas possibilidades de inclusão para todos os alunos é necessário e a organização e gestão pedagógica para esta finalidade são essenciais a um trabalho de qualidade. Organizar uma rede municipal de ensino comprometida com a inclusão é possível, mas tal premissa somente se concretiza com o sentimento de colaboração de todos e na busca suportes necessários e investimentos que favoreçam tais ações. É fundamental que se tenham profissionais, recursos, programas e formação para todos os profissionais envolvidos no processo de inclusão. E, desta forma, é possível perceber a evolução do trabalho desenvolvido na Rede Municipal de Itatiaia e ainda, perceber como a inclusão favorece o processo pedagógico para todos os alunos. Mesmo com desafios, há uma forte defesa da diversidade no espaço escolar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007. Brasília/DF. _______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007. Brasília, D.F.: MEC/SEESP, 2007. _______. Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de Fevereiro de 2001. Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília/DF. _______. Resolução CNE/ CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília/ DF: 5 de outubro de 2009, Seção 1, p. 17. 10 Portal do MEC, Ações e Programas, Indicadores http://painel.mec.gov.br/ Acesso em 07/ 09/ 2014, 10:24. Proposta da Pedagógica da Rede Municipal de Itatiaia 2005. 11 das Ações do MEC.