Tratamento do
tabagismo
em idosos
Dr Sérgio Ricardo Santos
PrevFumo – Núcleo de
apoio à prevenção e
cessação do tabagismo
Pneumologia - Unifesp
Tratamento do tabagismo em idosos
Introdução – visão global
Prevalência do tabagismo entre idosos: variável conforme
estágio da epidemia tabagística (modelo epidemiológico
de López). 1
Maior levantamento mundial: 26% (40% entre homens e
12% entre mulheres). 2
1. Lopez et al, Tobacco Control 1994, 3:242-247.
2. Jha P, Ranson M, Nguyen S, Yach D. Estimates of global and regional smoking
prevalence by age and sex. Am J Public Health 2002;92:1002–1006.
Tratamento do tabagismo em idosos
Introdução – modelo epidemiológico de López
Estágio 1
70
Estágio 2
Óbitos de Homens
Óbitos de Mulheres
Estágio 3
Estágio 4
40
% de adultos fumantes
60
30
50
40
20
30
20
10
10
0
0
0
10
20
Estágio 1
África
Sub-Saariana
30
40
Estágio 2
China, Japão,
Sudeste Asiático,
América Latina,
Norte da África
50
60
70
Estágio 3
Sul e Leste da
Europa, América
Latina
80
90
Estágio 4
Oeste Europeu,
América do Norte,
Austrália
Lopez et al, Tobacco Control 1994, 3:242-247 (adaptado)
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100
Anos
% de mortes devido ao tabagismo
Homens Fumantes
Mulheres Fumantes
Introdução – visão nacional
O envelhecimento da população brasileira acompanha
uma tendência internacional impulsionada pela queda da
taxa de natalidade e pelos avanços da biotecnologia. 1
No Brasil, acontece em um contexto econômico distinto do
dos países ricos. 2
As condições sócio-econômicas determinam um número
maior de idosos doentes e/ou inválidos, em conseqüência
de má nutrição e más condições de educação, trabalho e
assistência. 3
1. Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil. Estudos e pesquisas –
Informação Demográfica e Socioeconômica – número 9. IBGE 2000.
2. Halty LS. Diretrizes para cessação do tabagismo; capítulo 8.3 - Abordagem de
grupos especiais: idosos. Jornal Brasileiro de Pneumologia 30 (Supl 2) – Agosto
2004.
3. Projeto IBGE/Fundo de População das Nações Unidas UNFPA/BRASIL
(BRA/98/P08), Sistema Integrado de Projeções e Estimativas Populacionais e
Indicadores Sociodemográficos, Projeção preliminar da população do Brasil por
sexo e idade 1980-2050, revisão 2000.
Tratamento do tabagismo em idosos
Projeção de crescimento da proporção da
população de 60 anos ou mais de idade, segundo
o sexo – Brasil 2000-2020
Projeto IBGE/Fundo de População das Nações Unidas UNFPA/BRASIL
(BRA/98/P08), Sistema Integrado de Projeções e Estimativas Populacionais e
Indicadores Sociodemográficos, Projeção preliminar da população do Brasil por
sexo e idade 1980-2050, revisão 2000.
Tratamento do tabagismo em idosos
Média de anos de
estudo dos idosos,
segundo as Unidades
da Federação – Brasil
2000
Analfabetismo funcional:
menos de 4 anos de
estudo.
Entre os idosos
brasileiros, 54,4% não
passaram do terceiro ano
de estudo.
Projeto IBGE, Censo Demográfico 2000.
Tratamento do tabagismo em idosos
O tabagismo em idosos no Brasil
Prevalência inferior à população geral
Faixas etárias
(anos)
14-15
16-17
18-24
25-34
35-44
45-59
> 60
Total
Fumantes
(%)
3,6
8,7
15,9
20,2
24,4
24,8
17,3
19,3
Prevalência de fumantes no Brasil – Santa Casa de Misericórdia RJ e Unifesp, 2006.
Estudo censitário, 3007 domicílios entrevistados. Dados ainda não publicados.
Tratamento do tabagismo em idosos
O tabagismo em idosos
Benefícios que o parar de fumar podem trazer ao idoso
1,2
- Reduzir o risco de desenvolver doenças.
- Diminuir ou deter a progressão de doença já existente.
- Melhorar a qualidade e a quantidade de vida.
1. Abordagem e tratamento do fumante – Consenso 2001. Ministério da Saúde,
Instituto Nacional de Câncer – INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância
(CONPREV). Rio de Janeiro: INCA, 2001.
2. Doll R, Peto R, Boreham J, Sutherland I. Mortality in relation to smoking: 50
years’ observations on male British doctors. BMJ 2004;328:1519–1533.
Tratamento do tabagismo em idosos
Perfis de adaptação dos idosos ao
envelhecimento
Adaptação exitosa ao envelhecimento:
- O construtivo: bem integrado, respeitado, estável, que
desfruta daquilo que a vida lhe proporciona.
- O dependente: é passivo, voluntariamente desengajado
e satisfeito, senhor da cadeira de balanço, pois enfim
pode descansar.
- O defensivo: ativo, rígido, disciplinado, individualista,
que se dedica a muitas atividades por não conseguir ficar
parado.
Garcia L, Nebreda O, Perlado F. Enfermedad mental em el anciano. Ed Diaz de
Santos, 1-12, 1993.
Tratamento do tabagismo em idosos
Perfis de adaptação dos idosos ao
envelhecimento
Adaptação desajustada ao envelhecimento:
- O colérico: culpa o mundo e as pessoas pelos insucessos
pessoais, tem pouca ambição quanto ao futuro, vida social
instável, luta contra as manifestações do envelhecimento.
- O pessimista: constante decréscimo do nível sócioeconômico, sem história de vida, odeia a si mesmo, é
deprimido e isolado, geralmente exagerando na sua falta
de capacitação física e psicológica, fazendo-se de vítima.
Aceita a triste velhice, mas tem a morte como a sua
libertação desta existência insatisfatória.
Garcia L, Nebreda O, Perlado F. Enfermedad mental em el anciano. Ed Diaz de
Santos, 1-12, 1993.
Tratamento do tabagismo em idosos
O tabagismo em idosos
Quais as posturas possíveis do idoso frente ao tabagismo?
- Subestimar os riscos, acreditando ser imune aos
malefícios do tabagismo.
- Demonstrar-se pouco motivado a deixar de fumar ou
achar que não é capaz de fazê-lo; frustração, descrédito e
resignação.
- Negar os sintomas já existentes.
Importante: o doente geriátrico é mais suscetível ao
aconselhamento médico que o paciente jovem, porém, é
menos otimista quanto à possibilidade de sucesso nas
intervenções propostas.
Abordagem e tratamento do fumante – Consenso 2001. Ministério da Saúde,
Instituto Nacional de Câncer – INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância
(CONPREV). Rio de Janeiro: INCA, 2001.
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento do tabagismo
As situações especiais merecem ser abordadas com
enfoque diferenciado. 1
População com mais co-morbidades (doenças tabacorelacionadas). 2
Maior risco de interações medicamentosas.
2
Depressão é a principal co-morbidade associada nesta
população e pode também se desenvolver durante a
tentativa de cessação – situações que reduzem taxas de
sucesso e predispõem à recaída. 3
1. Abordagem e tratamento do fumante – Consenso 2001. Ministério da Saúde,
Instituto Nacional de Câncer – INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância
(CONPREV). Rio de Janeiro: INCA, 2001.
2. Treating tobacco use and dependence. US Department of Health and Human
Services, 2000.
3. Tsoh JY, Humfleet GL, Munoz RF, Reus VI, Hartz DT, Hall SM. Development of
major depression after treatment for smoking cessation. Am J Psych
2000;157:368-74
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento do tabagismo
Rotina de abordagem
1
- Avaliação do grau de dependência.
- Avaliação da prontidão para mudanças comportamentais
(Modelo Transteórico Comportamental de Prochaska e
DiClemente).
- Preparar para próximos passos, com base na motivação.
- Quando motivado, propor tratamento, escolhendo
melhor opção farmacológica (se indicada) e discutindo
preferência por abordagem individual ou em grupo.
Portanto: o rotina é igual.
2
1. Abordagem e tratamento do fumante – Consenso 2001. Ministério da Saúde,
Instituto Nacional de Câncer – INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância
(CONPREV). Rio de Janeiro: INCA, 2001.
2. Lantz SM. Smoking cessation in the older. Clin Geriatrics 2002;10:26-32.
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento do tabagismo
Mudanças na abordagem comportamental do idoso
1
- Preferir sempre a abordagem em grupo, pois amplifica
laços sociais, cria novos vínculos afetivos e estabelece
relações de inter-dependência. Resistência é comum.
- Senescência x senilidade: mudar enfoque
comportamental.
- Idosos costumam ter maior auto-estima (ao contrário do
que a maioria imagina), pela menor exigência social.
Consideram-se mais aptos que os jovens, mas falta-lhes
“a entrega” aos novos desafios: romper barreiras às
mudanças.
- O aprendizado é mais lento: as habilidades precisam ser
melhor reforçadas, detalhadas e treinadas em conjunto.
Lantz SM. Smoking cessation in the older. Clin Geriatrics 2002;10:26-32.
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento medicamentoso do idoso fumante
Considerar antes da prescrição de TRN
1
- A utilização de TRN por meio de adesivos transdérmicos,
em pacientes com doença vascular coronariana, muito
prevalente nessa faixa etária, não aumenta o risco de
complicações cardíacas.
- O rodízio do local de aplicação de adesivos deve ser
reforçado, pois é mais comum o relato de lesões cutâneas
em idosos (pele ressecada e inelástica).
1. Tzivoni D, Keren A, Meyler S et al. Cardiovascular safety of transdermal nicotine
patches in patients with coronary artery disease who try to quit smoking.
Cardiovasc Drugs Ther 1998;12:239-44.
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento medicamentoso
do idoso fumante
Considerar antes da prescrição de
TRN 1,2
- Próteses dentárias podem
dificultar uso de gomas.
- A farmacodinâmica da nicotina
não difere nos idosos saudáveis dos
pacientes mais jovens, porém, a
eliminação está prejudicada nos
doentes com insuficiência
renal; nesses, considerar
ajuste de dose.
1. Abordagem e tratamento do fumante – Consenso 2001. Ministério da Saúde,
Instituto Nacional de Câncer – INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância
(CONPREV). Rio de Janeiro: INCA, 2001.
2. West R. Assessment of dependence and motivation to stop smoking. BMJ
2004;328:338-39.
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento medicamentoso do idoso fumante
Considerar antes da prescrição de bupropiona
1,2
- Muito cuidado com co-morbidades e interações
medicamentosas.
- Em caso de insuficiência renal, considerar ajuste de
dose.
“Dos, aproximadamente 5600 pacientes que participaram
nos estudos clínicos com os comprimidos de bupropiona
de liberação prolongada, 391 pacientes tinham 60 anos ou
mais. A experiência com estes pacientes foi similar à dos
pacientes mais jovens.”
1. Abordagem e tratamento do fumante – Consenso 2001. Ministério da Saúde,
Instituto Nacional de Câncer – INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância
(CONPREV). Rio de Janeiro: INCA, 2001.
2. Zyban – Monografia do produto.
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento medicamentoso do idoso fumante
Considerar antes da prescrição de vareniclina
1
- Nenhum ajuste de dose é necessário em pacientes com
insuficiência renal leve a moderada.
- Para pacientes com insuficiência renal moderada que
experimentarem eventos adversos não toleráveis, a dose
pode ser reduzida a 1mg uma vez ao dia.
- Em pacientes com insuficiência renal dialítica, o
tratamento não é recomendado.
1. Gillian M. Keating and M. Asif A. Siddiqu. CNS Drugs 2006; 20 (11): 945-960.
Tratamento do tabagismo em idosos
Resultados no tratamento do idoso fumante
As taxas de sucesso no tratamento são iguais às dos mais
jovens, oscilando entre 23 e 32% após 1 ano. 1-6
Após admissão hospitalar, doença tabaco-relacionada e
idade >60 anos predizem sucesso (curto e longo prazos).
7
1. Appel DW, Aldrich TK. Smoking cessation in the elderly. Clin Geriatr Med
2003;19:77–100.
2. Boyd N. Smoking cessation: a four-step plan to help older patients quit.
Geriatrics 1996;51:52–57.
3. Morgan GD, Noll EL, Orleans CT, Rimer BK, Amfoh K, Bonney G. Reaching midlife
and older smokers: tailored interventions for routine medical care. Preventive Med
1996;25:346–354.
4. Kviz F, Clark M, Crittenden K, Freels S, Warnecke R. Age and readiness to quit
smoking. Preventive Med 1994;23:211–222.
5. Ossip-Klein D, Carosella A, Krusch D. Self-help interventions for older smokers.
Tob Control 1997;6:188–193. [PubMed: 9396102]
6. Orleans CT, Resch N, Noll E, et al. Use of transdermal nicotine in a state-level
prescription plan for the elderly. A first look at ‘real-world’ users. JAMA
1994;271:601–607.
7. Lando H, Hennrikus D, McCarty M, Vessey J. Predictors of quitting in hospitalized
smokers. Nicotine Tob Res 2003;5:215–222.
Tratamento do tabagismo em idosos
Tratamento do tabagismo
“A motivação do idoso
fumante para parar de
fumar poderá reforçar a
conscientização sobre a
importância do seu papel
sadio na família como
reservatório de sabedoria e
refúgio afetivo para crianças
e jovens, assumindo, assim,
a função de modelo de
conduta para o futuro
adulto”
Halty LS. Diretrizes para cessação do tabagismo; capítulo 8.3 - Abordagem de
grupos especiais: idosos. Jornal Brasileiro de Pneumologia 30 (Supl 2) – Agosto
2004.
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