PREVALÊNCIA DE SINTOMAS OSTEOMUSCULARES EM PROFISSIONAIS
CABELEIREIROS DE POUSO ALEGRE
Juciana Michele Silva1; Vagmar Gonçalves Teixeira2; Ricardo Bernardes Cunha n;
Betânia Moraes Cavalcanti Rochan
1
Universidade do Vale do Sapucaí/Fisioterapia, Avenida Alfredo Custódio de Paula, 240,
[email protected], [email protected], [email protected],
[email protected]
Resumo- O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho (LER/DORT) em profissionais cabeleireiros por meio de relatos de sintomas, caracterizando as
regiões anatômicas mais acometidas, e identificando e analisando os fatores de risco para LER/DORT
existentes no trabalho. A pesquisa foi realizada por meio da aplicação do Questionário Nórdico de Sintomas
Osteomusculares e da Planilha RULA, em uma amostra extraída de um universo de 15 profissionais
atuantes em clientela feminina e que trabalham a maior parte da jornada de trabalho em atividades como:
embelezamento (secagem-escova) e tratamento capilar (lavagem de cabelo). De acordo com os resultados
constatou-se um alto índice de sintomas osteomusculares nestes indivíduos, evidenciado nas regiões dos
punhos/mãos/dedos e ocasionando um afastamento nos últimos 12 meses antecedentes ao estudo.
Palavras-chave: LER/DORT, salão de beleza, profissionais cabeleireiros,
Área do Conhecimento: Ciências da saúde
Introdução
O crescimento no setor de Higiene Pessoal e
Beleza, segundo dados da Associação Brasileira
de Higiene Pessoal, Perfumaria e CosméticosABIHPEC foi bem mais expressivo que o restante
das indústrias em geral, apresentando uma taxa
de 10,9% de crescimento nos últimos 12 anos. A
estética capilar é um processo produtivo que pode
envolver lavagem, cortes, escova, tinturas,
hidratação, penteados, ondulação, e outros
(ABIHPEC, 2008/2009).
De acordo com a Classificação Brasileira de
Ocupação - CBO, do Ministério do Trabalho em
2007, o profissional cabeleireiro trabalha em
horários extremamente irregulares, durante longos
períodos na posição em pé e em posturas
inadequadas, realizando as atividades com forte
componente estático em musculatura de MMSS e
MMII e manuseios de ferramentas e equipamentos
que incluem secadores, pranchas, tesouras,
pentes, escovas, pincéis, lâminas, grampos e
outros. Além disto, acumulam funções na atividade
laboral e fazem uma jornada dupla de trabalho em
casa.
Esses fatores podem determinar uma
sobrecarga ao sistema osteomuscular, que
inicialmente poderá se manifestar através de
queixas de desconforto, dor, dormência e outros
sintomas que apontam para a existência de
fatores agressores e, se não forem eliminados ou
controlados, poderão posteriormente desencadear
alterações estruturais como os Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho,
DORT (ASSUNÇÃO; ALMEIDA, 2003).
Neste sentido propusemos um estudo que teve
como
objetivo
identificar
alguns
fatores
relacionados às condições de trabalho de
cabeleireiros que pudessem indicar riscos, e
investigar junto a esse grupo de trabalhadores, os
sintomas osteomusculares mais freqüentes que
provavelmente tenham nexo causal com as
atividades laborais. E, a partir desses dados,
possam sugerir estratégicas para minimização da
sobrecarga.
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional de coorte
transversal, realizado em diversos salões de
cabeleireiros de Pouso Alegre/MG. Os sujeitos da
pesquisa foram 15 cabeleireiros, ambos os sexos,
extraídos de um universo de 25 profissionais, que
atuam junto à clientela feminina e que trabalham
em
atividades
como:
tintura;
corte;
embelezamento (secagem-escova); tratamento
capilar
(lavagem
de
cabelo)
e
alisamento/permanente.
Dentre
as
cinco
atividades mais freqüentes foram escolhidas duas:
embelezamento (secagem-escova) e tratamento
capilar (lavagem de cabelo). Foram inclusos os
profissionais alfabetizados que trabalhavam mais
de 6 h/dia durante no mínimo 4 dias da semana e
aqueles que trabalhavam há mais de 2 anos na
área; os excluídos foram aqueles que não
aceitaram participar da pesquisa. Para identificar a
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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freqüência
dos
sintomas
osteomusculares,
quantificar as regiões mais acometidas e levantar
dados pertinentes ao aparecimento de DORT foi
aplicado o Questionário Nórdico de Sintomas
Osteomusculares – QNSO (MELO, 2008). Para
avaliar os fatores biomecânicos das atividades
mais freqüentes utilizou-se a Planilha RULA Rapid Upper Limb Assessment, desenvolvida por
Mcatamney e Corlett (1993), A RULA avalia
número de movimentos, posição estática, força,
postura
de
trabalho
determinada
pelo
equipamento e tempo de trabalho sem
interrupção. Os dados foram analisados a partir
dos resultados obtidos pelos questionários em
relação às áreas de desconforto corporal referida
como auxílio do programa Excel® que foram
expostos em gráficos e discutidos. As
considerações éticas do presente estudo
respeitaram as diretrizes sobre pesquisas que
envolvem seres humanos e teve seu projeto
aprovado pelo Comitê de Ética da Univás em
27/04/2009 sob nº. protocolo 1091/09. Os autores
desta pesquisa se comprometeram a atuar com
respeito e responsabilidade garantindo o
anonimato e o sigilo de todas as informações
obtidas.
De acordo com a Figura 1, os resultados
evidenciaram nos últimos 12 meses uma maior
ocorrência de queixas em região de pescoço
(19%), seguida da região de ombro (28%) e
punhos/mãos/dedos com (22%). Nos últimos 7
dias em região de pescoço (18%), região de
ombro (29%) e punhos/mãos/dedos com (23%),
salientamos
que
os
sujeitos
avaliados
apresentaram queixas em mais de uma região
acelerando o seu afastamento. Em relação ao
afastamento nos últimos 12 meses obtivemos
como resultado de prevalência a região de
pescoço (15%), seguida pela região de ombro
(31%) e punhos/mãos/dedos com (54%).
Resultados preliminar
Figura 2- Análise de risco para a atividade:
secagem (escova)
Foram avaliados 15 sujeitos, com o objetivo de
identificar as queixas de desconforto, dor e
dormência nas regiões de pescoço, ombros,
cotovelos,
antebraços,
punhos/mãos/dedos
referentes aos últimos meses e dias.
Número de Queixas
Sintomatológicas por Região
Corporal e Consequentes
Afastamentos
12
10
8
6
4
2
0
Últimos 12
mees
Análise de risco para a atividade:
secagem (escova)
48%
52%
Lado esquerdo
A figura 2, representa os lados do corpo mais
acometidos, referentes aos riscos biomecânicos
causados pelo manuseio de equipamentos e
ferramentas, posturas inadequadas e sobrecarga
excessiva durante a jornada de trabalho
relacionado com atividade de secagem de cabelo
(escova).
Observa-se que 52% dos riscos foram mais
acometidos do lado direito comparado-se com o
outro lado.
Anáise de risco para a atividade:
lavagem de cabelo
Últimos 7 dias
54%
Pe
sc
oç
Om o
b
Co ros
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Pu An velo
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s
os bra
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ão s
s/
...
Lado direito
46%
Lado direito
Lado esquerdo
Afastamento
nos últimos 12
meses
Figura 1. Número de Queixas Sintomatológicas
por
Região
Corporal
e
Consequentes
Afastamentos
Figura 3- Análise de risco para a atividade:
lavagem de cabelo
A figura 3, representa os lados do corpo mais
acometidos, relacionados aos riscos biomecânicos
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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causados pela postura inadequada e sobrecarga
excessiva relacionado com a atividade de lavagem
de cabelo durante a jornada de trabalho.
Observa-se que 54% dos riscos foram do lado
esquerdo comparado-se com o outro lado.
Discussão
A relevância de uma pesquisa abordando os
aspectos inerentes à atividade dos profissionais
cabeleireiros se justifica pela escassez de estudos
na área e a conseqüente falta de dados que
fundamentem um aprofundamento nas principais
afecções relativas a esses profissionais, seus
fatores
predisponentes,
bem
como
um
embasamento adequado para um melhor
tratamento e acompanhamento de acordo com as
necessidades
específicas
dessa
classe
trabalhadora (AUGUSTO et al., 2008).
Dessa forma, optou-se por apresentar a
situação dessa síndrome e expor os resultados
obtidos na pesquisa realizada com os profissionais
cabeleireiros, assim como identificar trabalhos que
obtiveram resultados semelhantes (MUSSI, 2005).
Corroborando com esses dados, uma pesquisa
realizada por Régis Filho et al (2006) onde
avaliaram 771 sujeitos, através de questionários,
com o objetivo de estabelecer a associação das
variáveis com o fato de ter ou não ter
LERs/DORTs e indicando apenas quais as
variáveis de identificação e perfis associadas aos
níveis de gravidade ou tempo. Os resultados
evidenciaram uma maior ocorrência em região de
ombro/braço (39,40%), seguida da região do
punho/mão (18,30%), e pescoço com (17,20%).
Um estudo realizado por Mussi (2005), com o
objetivo de verificar a prevalência dos distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho e,
identificar e analisar os fatores de risco para
LER/DORT, que estudou 220 cabeleireiras, tendo
como resultado de prevalência a região de ombro
(48,6%), seguida pelo pescoço (47,3%%) e pela
coluna (38,6%).
Atualmente os Distúrbios Osteomusculares
Relacionados
ao
Trabalho
(LER/DORT)
representam um problema de saúde mundial
(MUSSI, 2005).
Conclusão
Considerando os
achados
preliminares,
verificou-se neste estudo, por meio de relatos de
sintomas, uma prevalência para os distúrbios
osteomusculares
relacionados
ao
trabalho
(LER/DORT).
Os resultados demonstraram que as regiões de
punhos/mãos/dedos foram os mais responsáveis
pelos afastamentos dos sujeitos analisados nos
profissionais cabeleireiros atuantes em Pouso
Alegre/MG.
Identificou-se, por meio de relatos de sintomas
e da análise de riscos biomecânicos, que os
fatores ocupacionais influenciam diretamente no
desenvolvimento de LER/DORT em profissionais
cabeleireiros; o que condiz com os dados
encontrados na literatura sobre outras atividades
de trabalho, estando esses relacionados,
especificamente, aos fatores biomecânicos
(posturas inadequadas e desconfortáveis), aos
fatores organizacionais (ausência de pausas,
jornada exaustiva de trabalho, exigências das
tarefas) e ao manuseio de instrumentos e
ferramentas de uso inadequado.
A partir dos resultados apresentados, mediante
essa prevalência elevada para LER/DORT,
considera-se importante a realização de novos
estudos com os profissionais cabeleireiros, assim
como com outros profissionais que exercem suas
atividades de trabalhos em empresas de beleza.
Referências
-ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HIGIENE
PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS.
Disponível em: http://www.abihpec.com.br. Acesso
em 15 maio 2009.
-ASSUNÇÃO, A.; ALMEIDA, I. M. Doenças
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membro superior e pescoço. In: Mendes R,
organizador. Patologia do trabalho: atualizada e
ampliada. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2003, p. 1539.
-AUGUSTO, V. G.; SAMPAIO, R. F.; TIRADO, M.
G. A.; MANCINI, M. C.; PARREIRA, V. F. Um olhar
sobre as LER/DORT no contexto clínico do
fisioterapeuta. Revista Brasileira de Fisioterapia,
São Carlos: v. 12, n. 1, p. 49-56, jan. - fev. 2008.
-CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÃO.
MINISTÉRIO DO TRABALHO. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br. Acesso em 15 maio
2009.
-MCATAMNEY, L.; CORLETT, E.N. RULA: a
survey method for the investigation of work-related
upper limb disorders. Applied Ergonomics,
Nottingham: v. 24, p. 91-99, 1993.
-MELO W. V. C. Avaliação ergonômica de
membro superior de operadores de trem
metropolitano:
Uma
investigação
de
sobrecargas no sistema osteomuscular.
Dissertação (Mestrado em Educação Física) Departamento de Educação Física e Esporte. São
Paulo: Universidade de São Paulo, 2008.
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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-MUSSI,
G.
Prevalência
de
Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(LER/DORT) em Profissionais Cabeleireiras de
Institutos de Beleza de dois Distritos da cidade
de São Paulo. Tese (Doutorado em Ciências) Departamento de Ciências da Faculdade de
Medicina. São Paulo: Universidade de São Paulo,
2005.
-REGIS FILHO, G. I.; MICHELS, G.; SELL, I.
Lesões por esforços repetitivos/ distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho em
cirurgiões-dentistas. Revista Brasileira de
Epidemiologia, Santa Catarina: p.346-359, 2006.
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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