ANO 2 QUINZENA 2 “ Se quisermos alimentar as pesquisas do professor Heschel, diríamos que os presentes dos Magos trazem muito estremecimento à História Sagrada. Como é que o oiro, o incenso e a mirra, ofertas reais, iam cair nas mãos dum pobre carpinteiro, sem que ele ficasse completamente alterado? Por outro lado: se ele fosse rico, punha a render a dádiva ou distribuía-a pelos pobres, sem esquecer o Templo, a que era devido o dízimo ou como se chamava. Hão-de reparar que não tenho muito a veia de historiador e passo por alto arquivos e bancos de biblioteca. Penso que a História é uma causa perdida, nunca podemos assegurar a realidade que é o seu ponto de partida. O professor Heschel (…) punha sempre de remissa o que aprendia e que o obrigava a levantar questões muito interessantes, ainda que sacrílegas, algumas vezes. Mas Adoração, a irmã mais velha de Camila, não entendia como se podia contrariar a letra dos cronistas que eram uma espécie de profetas ungidos e consagrados. Para ela a vida dividia-se entre a vida real e a ficção, e esta era obra do demónio porque trazia muita confusão como obra de fantasia que era. No entanto, não havia pessoa mais irrealista do que Adoração e era vê-la com o seu chapéu cloche enfeitado com uma cordinha para realçar a sua despretensão, para a situar num mundo à parte: o mundo da mentira consentida. Trazia uns brincos de pérolas grandes como bagos de uvas e que balançavam furiosamente sobre os ombros dela. “ – Os Espaços em Branco, Trilogia O Princípio da Incerteza (pp. 125-126), Romance de 2003. AGUSTINA BESSA-LUIS 30 MAiO 2008_09 MARIA AGUSTINA FERREIRA TEIXEIRA BESSA-LUIS- 1922 -.... BIOGRAFIA Agustina Bessa-Luís nasceu no lugar do Paço, em Travanca, concelho de Amarante (região do Douro Litoral), em 15 de Outubro. Descendente de uma família abastada de raízes rurais, pelo lado materno é de ascendência espanhola, da cidade de Zamora. Foi ao tomar contacto com as obras dos melhores escritores franceses e ingleses da biblioteca dos avós maternos que Agustina cedo despertou para a criação literária, tendo escrito a primeira obra (romance) aos dezasseis anos, que nunca publicou. Em 1932 foi estudar para o Porto, em 1945 mudou-se para Coimbra, tendo casado nesse mesmo ano com Alberto de Oliveira Luís. Em 1950 regressou ao Porto onde fixou residência. Dedica-se inteiramente à escrita literária, tendo publicado a primeira novela Mundo Fechado em 1948. Publicou mais de cinquenta títulos de vários géneros: contos, novelas, romances, literatura de viagens, biografias, ensaios, peças de teatro, crónicas, traduções. O romance A Sibila (1954) consagrou-a como escritora. Tem representado as letras portuguesas em numerosos colóquios e encontros internacionais e tem realizado conferências em universidades um pouco por toda a parte. Em 196162 foi membro do Conselho Directivo da Comunità Europea degli Scrittori em Roma. Em 1986-87 foi Directora do Diário Primeiro de Janeiro. De 1990 a 1993 assumiu a Direcção do Teatro Nacional D. Maria II. Foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. É membro da Academia Europeia das Ciências, das Artes e das Letras (Paris), da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. Em 1954, foram-lhe atribuídos os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queirós; em 1966, o Prémio Ricardo Malheiro; em 1967, o Prémio Nacional de Novelística; em 1975, o Prémio “Adelaide Ristori” do Centro Cultural Italiano de Roma; em 1977, Prémio Ricardo Malheiros; em 1980, Prémio Pen Clube Português de Ficção e, no mesmo ano, Prémio D. Dinis, da Casa de Mateus; em 1982 e 1992 Prémio da Cidade do Porto e, por fim o maior galardão das Letras portuguesas: o Prémio Camões (2004). Foi distinguida com a Ordem da Espada (1980), a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) e com o grau de Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres (1989). Algumas das suas obras narrativas foram adaptadas ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, tais como: Fanny Owen no filme “Francisca”; Vale Abraão, As Terras do Risco no filme “O Convento”, A Mãe de um rio no filme “Inquietude”. Este realizou também filmes partindo da Biografia da autora, tais como “A Corte do Norte”, “Prazer e Glória” e “Party”. O romance As Fúrias, foi adaptado para teatro, encenado por Filipe La Féria e representado no Teatro Nacional D. Maria II em 1995. Elaborou também guiões para Televisão. Em 2007 foi protagonista num programa televisivo, constituído por uma série de conversas temáticas com a jornalista Maria João Seixas, intitulado: “Ela por Ela”. OBRA Ficção: Mundo Fechado (1948); ROMANCES: Os Super-Homens, (1950); A Sibila, (1954); Os Incuráveis, (1956); A Muralha, (1957); O Susto, (1958); O Manto, (1961); Trilogia das Relações Humanas; A Bíblia dos Pobres; Crónica do Cruzado Osb, (1976); As Fúrias, (1977); O Mosteiro, (1980); Os Meninos de Ouro, (1983); Prazer e Glória, (1988); Eugénia e Silvina, (1989); Ordens Menores, (1992); As Terras do Risco, (1994); O Concerto dos Flamengos, (1994); Memórias Laurentinas, (1996); Um Cão que Sonha, (1997); O Comum dos Mortais, (1998); A Quinta Essência, (1999); Trilogia: O Princípio da Incerteza, I Jóia de Família, (2001); II A Alma dos Ricos, (2002); III Os Espaços em Branco, (2003); Antes do Degelo, (2004); Doidos e Amantes, (2005); A Ronda da Noite, (2006); CONTOS: Contos Impopulares, (1951-1953); A Brusca, (1971); A Torre, (1988); Dominga, (1999); ROMANCES HISTÓRICOS: Adivinhas de Pedro e Inês, (1983); Um Bicho da Terra, (1984); A Monja de Lisboa, (1985); ENSAIOS: Um Presépio Aberto, (1984); Aquário e Sagitário, (1995); Antologia: Contemplação Carinhosa da Angústia, (2000); A Memória do Giz (1983); Contos Amarantinos (1987) Dentes de Rato (1987); Vento, Areia e Amoras Bravas (1990); O Dourado (2007). BE/CRE Escola Secundária Alexandre Herculano